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FARMACOTÉCNICA DE SEMISSÓLIDOS E LÍQUIDOS: FORMULAÇÕES PARA USO INTERNO E EXTERNO Patricia da Silva Melo Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir sistemas transdérmicos e seus principais componentes. � Identificar a aplicabilidade dos sistemas transdérmicos. � Reconhecer métodos de preparação de sistemas transdérmicos. Introdução Usualmente, as vias de administração dos fármacos são oral, nasal, retal, ocular ou parenteral, sendo a oral a mais utilizada. Cada via tem suas vantagens e desvantagens. Entre as desvantagens da via oral, por exemplo, podemos citar os intervalos de administração, os quais podem ser incon- venientes para o paciente, reduzindo a adesão ao tratamento. Além disso, alguns fármacos podem ser parcialmente inativados ou neutralizados no trato gastrointestinal antes de chegarem à corrente sanguínea, diminuindo a biodisponibilidade do fármaco e aumentando a necessidade de doses mais elevadas, o que induz a um incremento nos riscos de ocorrência de efeitos adversos. A via transdérmica é considerada uma via segura, cômoda e eficiente na administração de fármacos, sendo uma alternativa viável às outras citadas, incluindo a oral e a injetável. Ela oferece diversas vantagens, como o fato de não ser invasiva e de ter menor frequência de administração, levando a um aumento na adesão do paciente ao tratamento. Apesar das vantagens desse sistema, seu desenvovimento requer o conhecimento de diversos fatores ligados a essa via, destacando-se as propriedades da barreira epidémica, a absorção cutânea, a estabilidade e a dosagem dos princípios ativos. Neste capítulo você será apresentado aos principais tipos de sistemas transdérmicos. Também estudará as técnicas para aumentar a perme- ação transdérmica e verá os principais fármacos utilizados na indústria farmacêutica. Sistemas transdérmicos: características gerais e principais componentes Os sistemas de liberação de fármacos transdérmicos permitem a passagem facilitada de fármacos através da pele em quantidades consideradas terapêu- ticas, com o objetivo de alcançar a circulação sanguínea e apresentar efeitos sistêmicos. O primeiro sistema transdérmico aprovado pela FDA (Food and Drug Administration) foi denominado como Transderm-Scop (Baxter) e tinha como objetivo a utilização em pessoas que realizavam viagens marítimas, pois prevenia a ocorrência de náuseas e vômitos. Os sistemas transdérmicos são conhecidos como patches (adesivos) e necessitam de alguns cuidados para que sejam terapeuticamente eficazes. Esses sistemas devem ser aplicados sobre a pele saudável e, como forma de reduzir a possibilidade de irritação cutânea, um novo adesivo não deve ser aplicado antes da retirada do adesivo anterior. A eficácia terapêutica pode ser mensurada por análise comparativa entre os níveis plasmáticos do fármaco em conjunto com a resposta do paciente ao tratamento. O desenvolvimento dos sistemas transdérmicos envolve equipes multidisci- plinares, visto que necessita da escolha de um fármaco, do desenvolvimento e da adequação do sistema, observando as características físico-químicas desse fármaco, assim como investigações sobre a permeação tanto in vitro quanto in vivo, estudos relativos à estabilidade e ao aspecto final do adesivo. Nesses testes, há a necessidade da execução de ensaios microbiológicos, assim como a realização de ensaios de fases I, II e III, e vigilância no mercado pós-aprovação. O ideal, neste tipo de administração de fármacos, é que o princípio ativo migre através das camadas cutâneas, alcançando a corrente sanguínea sem permanência na pele. A pele constitui uma barreira natural à penetração de substâncias externas e apresenta as seguintes camadas: estrato córneo, que é a camada mais externa; epiderme; e derme. Para que o fármaco seja absorvido pela pele, há necessidade da penetração direta através do estrato córneo, o qual contém diversas camadas de células Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos2 achatadas e mortas de 10 a 15 µm de espessura, constituindo uma barreira para proteger os tecidos subjacentes contra lesões e infecções. As bicamadas fosfolipídicas são os constituintes desta barreira do estrato córneo e são com- postas de ceramidas, ácidos graxos e colesterol, além de 40 % de proteínas (em sua maioria queratina) e 40% de água. Devido a essa constituição química, a presença de substâncias lipídicas na formulação dos sistemas transdérmicos é determinante na primeira etapa de absorção do fármaco no estrato córneo. Após ultrapassado o estrato córneo, a molécula permeia a camada dérmica, que é vascularizada, sendo absorvida na circulação sistêmica. Acompanhe esse processo na Figura 1. Figura 1. Fases da liberação transdérmica de fármacos. Fonte: Dias (2013, p. 9). 3Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos Vantagens e desvantagens dos sistemas transdérmicos Vale a pena ressaltar as vantagens e desvantagens dos sistemas transdérmi- cos, tendo em vista o exposto até o momento. O Quadro 1 sumariza essas características. Fonte: Adaptado de Serafim et al. (2013). Vantagens Desvantagens � Rota controlada e não invasiva de administração de medicamentos, propiciando concentração plasmática mais constante. � Pode ser aplicada pelo próprio paciente, sem dores durante a aplicação, evitando traumas associados à terapia parental. � Para adesivos e microagulhas, há a possibilidade de interromper a liberação do medicamento em casos de superdosagem. � Aumenta a tolerabilidade e a eficácia de alguns medicamentos que, ao serem administrados por via oral, sofrem excessiva degradação na primeira passagem no metabolismo. � Pode aumentar a adesão do paciente em função da reduzida frequência de administração. � Nem todas as substâncias são passivas de administração pela via transdérmica. � A aplicação a médio e longo prazo pode causar irritação cutânea. � Em alguns casos, a metabolização pelas enzimas da pele evita que o medicamento alcance a região vascularizada. � As doses de medicamentos liberadas são quantitativamente menores quando comparadas com os injetáveis. Quadro 1. Vantagens e desvantagens do uso de medicamentos transdérmicos Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos4 Allen Jr., Popovich e Ansel (2013) e Dias (2013) destacam e acrescentam as seguintes desvantagens: � possibilidade de irritação no local de aplicação do adesivo, devido ao desenvolvimento de dermatite de contato em alguns pacientes; � elevados custos de produção desses sistemas; � nem todos os fármacos podem ser utilizados, devido à impermeabilidade da pele, assim como há limitações relativas a doses terapêuticas. Características ideais dos fármacos para sistemas transdérmicos Nem todas as moléculas apresentam propriedades adequadas à liberação transdérmica — por exemplo, é necessário que a substância seja solúvel tanto em óleo quanto em água para que a absorção transdérmica seja efetiva. Allen Jr., Popovich e Ansel (2013) ressalta que, entre os fatores que interferem na absorção cutânea de uma substância, estão as propriedades físico-químicas, destacando-se a massa molecular do fármaco, a solubilidade, o coeficiente de dissociação e o coeficiente de partição (logP) entre 1.0 e 4.0. Além disso, o tipo de veículo utilizado na formulação e as condições individuais da pele também interferem na absorção transdérmica (a hidratação da pele tende a favorecer a absorção cutânea). Nesse sentido, o fármaco deve apresentar solubilidade adequada tanto em lipídeos quanto em água, permitindo a permeação cutânea, além de propriedades farmacocinéticas e farmacodinâmicas que induzam a uma liberação constante do fármaco por um período de tempo adequado (DIAS, 2013). Sendo assim, a via transdérmica apresenta restrições relativas às pro-priedades físico-químicas dos fármacos. No desenvolvimento de sistemas transdérmicos, o tamanho da molécula é inversamente proporcional à sua difusão cutânea, ou seja, moléculas menores tendem a ter melhor difusão, por isso o peso molecular não deve exceder os 400 Da (ALLEN JR.; POPOVICH; ANSEL, 2013). O coeficiente de partição é um dos parâmetros mais importantes no desenvolvimento desses sistemas, visto que o fármaco tem que apresentar características lipofílicas e hidrofílicas, permitindo a partição entre o estrato córneo e as outras camadas cutâneas. Nesse sentido, fármacos muito hidrofí- licos, quando incorporados em formulações transdérmicas, terão dificuldades em permear o estrato córneo; em contraste, fármacos muito lipofílicos apre- sentarão tendência a ficar retidos na bicamada lipídica. 5Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos Outro parâmetro importante é a velocidade de permeação, que estima a velocidade com que o fármaco consegue permear a pele. Esse parâmetro é influenciado pela formulação e pela área de superfície cutânea. Dessa forma, quanto maior a área de aplicação, maior será a quantidade absorvida, e, de maneira geral, quanto mais tempo o fármaco permanece aplicado sobre a pele, maior será a quantidade absorvida. A solubilidade da molécula no estrato córneo é influenciada pelo ponto de fusão, desta forma um ponto de fusão mais baixo induz um aumento no fluxo percutâneo de fármacos (o ideal é que o fármaco em sistemas transdérmicos apresente ponto de fusão inferior a 200°C). Aplicabilidade dos sistemas transdérmicos Fármacos A escopolamina transdérmica foi o primeiro sistema transdérmico aprovado pela FDA, usada para prevenir o enjoo induzido por movimentos associados a viagens. Ele foi denominado como sistema Transderm-Scop. O adesivo deve ser aplicado em regiões sem pelos, usualmente atrás da orelha; como tem um tamanho reduzido, o adesivo tem boa aceitabilidade por parte dos pacientes. Deve ser aplicado quatro horas antes para que o efeito antiemético seja efetivo, podendo permanecer no local durante três dias. Outros fármacos foram desenvolvidos posteriormente, tendo uma gama de aplicações terapêuticas, como descrito em Allen Jr., Popovich e Ansel (2013): � Nitroglicerina transdérmica: diversos sistemas transdérmicos utili- zando nitroglicerina foram desenvolvidos Minitran (3M Pharmaceu- ticals), Nitro-dur (Key), Nitrodise (Roberts). Todas essas formulações mantêm a liberação sustentada da nitroglicerina por 24h após a aplica- ção. A nitroglicerina é usada como tratamento profilático da angina e apresenta efeitos secundários quando administrada por via sublingual. Nesta via, a nitroglicerina apresenta metabolismo de primeira passagem, situação não observada pela administração em sistemas transdérmicos. Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos6 As diversas formulações transdérmicas contendo nitroglicerina são produzidas por meio de uma membrana e/ou a partir da matriz ou do reservatório. Quando o sistema transdérmico é aplicado sobre a pele, a nitroglicerina é absorvida, atingindo os órgãos-alvo (coração e membros) antes de ser inativada pelo metabolismo hepático. O tipo de sistema influencia na velocidade da liberação do fármaco, dessa forma, sistemas com diferentes áreas de superfície e conteúdo de nitro- glicerina se ajustam a diferentes necessidades dos pacientes. Existem sistemas que liberam 0,02 mg de nitroglicerina por hora e centíme- tro quadrado, enquanto outros liberam cerca de 0,013 mg por hora. Alguns cuidados devem ser observados pelos pacientes, como aplicar o adesivo em local livre de pelos, evitando áreas com lesões, as quais interferem na velocidade de absorção da nitroglicerina. Além disso, o paciente deve se atentar a práticas de exercícios físicos e uso de saunas, pois essas situações levam a um incremento na absorção da nitroglicerina. � Clonidina transdérmica: a clonidina é um bom fármaco para ser utilizado em sistemas de liberação transdérmicos devido à sua lipos- solubilidade e eficácia terapêutica em concentrações plasmáticas consi- deradas baixas comparativamente a outros fármacos. Este sistema tem uma formulação baseada em uma estrutura contendo quatro camadas, e a liberação controlada de clonidina ocorre por sete dias. A quantidade de fármaco liberada é proporcional à área do adesivo, por isso esse sistema apresenta diferentes tamanhos, com o intuito de se adequar às necessidades dos pacientes. O sistema utilizado é do tipo reservatório, dessa forma, logo após a aplicação, o fármaco contido no adesivo satura a região da pele em contato com o sistema. Em seguida, o conteúdo começa a fluir através da membrana, permeando a pele e alcançando a circulação sistêmica. A concentração plasmática terapêutica ocorre cerca de 2 ou 3 dias após a aplicação inicial. � Nicotina transdérmica: os sistemas de liberação transdérmica contendo nicotina são usados como adjuvantes em situações que preconizam o tabagismo. Formulações contendo nicotina em sistemas transdérmicos são Nicoderm CQ (GlaxoSmithKline) e Nicotrol (McNeil Consumer Pro- ducts). Esses sistemas propiciam a redução dos sintomas de abstinência, auxiliando os pacientes na remissão do vício de fumar. Comercialmente, os adesivos contêm entre 7 a 21 mg de nicotina e devem ser aplicados diariamente, sendo recomendado o tratamento entre 6 a 12 semanas e a redução gradual da dose de nicotina durante o tratamento. 7Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos � Estradiol transdérmico: o hormônio estrogênico estradiol pode ser absorvido na forma de sistema transdérmico. O Estraderm (Novartis) libera continuamente o estradiol através da membrana, quando aplicado na pele. É recomendado para o tratamento de sintomas associados à menopausa, incluindo os vasomotores, no hipogonadismo feminino, entre outras condições que levam à redução desse hormônio. Quando o estradiol é administrado por via oral, ele é metabolizado no fígado, produzindo estrona e seus conjugados, reduzindo a quantidade de es- tradiol circulante. A administração transdérmica de estradiol produz níveis plasmáticos terapêuticos de estradiol em doses menores do que a terapia oral. A terapia é usualmente realizada em esquemas cíclicos, três semanas de terapia intercalados com intervalos de uma semana, sendo aplicados em regiões limpas e secas do tronco, da região abdo- minal ou das nádegas. � Sistemas transdérmicos liberando hormônios: o Ortho Evra é um sistema adesivo transdérmico contraceptivo contendo norelgestromina e etinilestradiol, sendo do tipo matricial. A testosterona transdérmica está disponível em diferentes velocidades de liberação, que são utilizadas em terapia de reposição hormonal masculina nos casos de ausência ou depleção de testosterona (Testoderm, da Alza, e Androderm, da Watson). Esses sistemas têm modos de aplicação diferenciados: ■ Testoderm: é aplicado sobre a pele do escroto, pressionando-se o adesivo por cerca de 10 segundos pela manhã, com o intuito de simular a liberação do hormônio de forma endógena. ■ Androderm: sistema com cinco camadas, deve ser aplicado à noite em uma área das costas que esteja limpa e sem ferimentos. Os níveis séricos ótimos da testosterona são detectados cerca de duas a quatro horas após a administração transdérmica. O Quadro 2 apresenta os principais transdérmicos existentes atualmente no mercado. Há pesquisas sobre outros fármacos que poderão ser veiculados em sistemas terapêuticos transdérmicos, podendo ser citadas substâncias cardiovasculares (diltiazem, dinitrato de isosorbida, propranolol, nifedipina, mepindolol e verapamil), assim como associação de hormônios contraceptivos (levonorgestrol e estradiol), fármacos usados no tratamento de Alzheimer, ansiolíticos e para o tratamento da dependência química, entre outros. Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos8 Fonte: Adaptado de Chorilli etal. (2007). Fármaco Especialidade Fabricante Duração (Dias) Escopolamina Transderm-Scop® Alza Corp./Novartis 3 Nitroglicerina Nitro-Disc® Minitran® Nitrodur® Deponid® Transderm-Nitro® Searle 3M Pharm Key Schawarz Pharm Summit 1 1 1 1 1 Clonidina Catapress TTS® Alza Corp./Boehringer Ingelhein 7 Estradiol Estraderm® Alora® Fematrix® Nuvelli Tsâ® Fem7â® Fem Patchâ® Alza Corp./Novartis Alza/Procter&Gamble Ethical Pharm/Solvay Ethical/Schering H. Merk Cygnus 3 3 3 3 7 7 Estradiol/ progesterona Estraderm® Alza Corp./Novartis 3 Testosterona Testoderm® Androderm® Alza Corp. SmithKline Beecham 1 Fentanil Duragesic® Janssen Pharm 3 Flurbiprofeno Targus Lat® Knol Nicotina Nicoderm® Nicotrol® Marion Merrel Dow Parke-Davis 1 Quadro 2. Principais sistemas transdérmicos presentes no mercado O guia da Anvisa (BRASIL, 2019), que você pode acessar pelo link a seguir, dá orientações e recomendações ao setor farmacêutico sobre os requisitos de qualidade para o registro de medicamentos tópicos e transdérmicos novos, genéricos e similares. https://qrgo.page.link/Qz5j7 9Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos Sistemas transdérmicos de uso dermatológico Vejamos alguns sistemas transdérmicos de uso dermatológico: � Anestesia: existe um sistema transdérmico para ser utilizado durante procedimentos superficiais usando anestesia cutânea tópica. A for- mulação contém lidocaína e epinefrina em um sistema transdérmico iontoforético, cujo efeito anestésico se inicia em cerca de dez minutos. Estudos clínicos conduzidos em mais de uma centena de adultos e crianças avaliaram a segurança e eficácia dessa formulação. Este sis- tema transdérmico anestésico está aprovado para pacientes a partir dos cinco anos de idade. Além disso, existe o Ultrapeel® Transderm® Ionto System, um sistema que aplica a tecnologia de dermoeletroporação para a administração de soluções iônicas. Nesse método, a formulação contém o anestésico lidocaína (2%) e epinefrina (1:100.000). � Acne: tem sido desenvolvido um sistema transdérmico com microagu- lhas para o tratamento da acne, contendo um gel composto por ácido ascórbico, peróxido de benzoila e carboximetilcelulose. Em estudos prévios, este sistema transdérmico, quando utilizado, resultou em uma redução significativa da severidade da acne, sendo bem toleradas as sensações induzidas pelas microagulhas e sem efeitos adversos. Também foram desenvolvidos adesivos de hidrogel com triclosan incluído em uma matriz polimérica, com atividade antibacteriana contra a Propio- nibacterium acnes. Outras substâncias incluídas em adesivos antiacne são o ácido salicílico, a glicerina e a alantoína. � Cosmética: foi utilizada a dermoeletroporação para a terapia foto- dinâmica com ALA a 20% e dermoestética com ácido hialurônico e derivados do colágeno. Estão em desenvolvimento, em fases de pesquisa, adesivos cosméticos microeletrônicos, ultrafinos, flexíveis para resti- tuir a elasticidade e hidratação da pele. Esses sistemas podem incluir umectantes, branqueadores, terapias antienvelhecimento, redutores de celulite. A tecnologia transdérmica também pode ser empregada em peelings. Existem adesivos com ácidos lático e glicólico, assim como outros contendo ácido mandélico combinado com umectantes para o tratamento de unhas quebradiças. Os adesivos despigmentantes contêm ácido glicólico, ácido kójico e hidroquinona, mel e extratos botânicos; entre os que se destacam estão o pepino e a calêndula. Existem sistemas Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos10 transdérmicos com efeito lifting para olhos cansados e antirrugas, revi- talizantes e rejuvenescedores, contendo uma diversidade de substâncias, como vitaminas E C, isoflavonas, hidratantes, colágeno, entre outras. No link a seguir você encontra um estudo muito interessante sobre métodos de avaliação da liberação e da permeação in vitro de produtos transdérmicos. https://qrgo.page.link/gtF7P Métodos de preparação de sistemas transdérmicos O Quadro 3 esquematiza as características gerais relacionadas à organização estrutural dos sistemas transdérmicos, destacando as propriedades relativas à camada de revestimento, adesivo sensível à pressão (utilizado em sistemas transdérmicos que liberam testosterona), matriz ou membrana polimérica, características inerentes ao fármaco e a camada de suporte dos sistemas adesivos (DIAS, 2013). Camada de revestimento � Protege o sistema durante seu armazenamento, sendo removida e descartada antes da aplicação do adesivo. � Tipos de materiais: polímeros de silicone, teflon, lâminas metalizadas ou de poliéster. Adesivo sensível à pressão � Mantém o contato entre o sistema e a superfície da pele. � Requisitos: o material deve ser capaz de se deformar quando aplicada pressão e, quando removido, não deve deixar resíduo sobre a pele. � Tipos de materiais: poliacrilatos, poliisobutileno, silicone, borracha. Quadro 3. Organização estrutural dos sistemas transdérmicos: características gerais (Continua) 11Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos Fonte: Adaptado de Dias (2013). Quadro 3. Organização estrutural dos sistemas transdérmicos: características gerais Matriz ou membrana polimérica � Polímeros utilizados para controlar a liberação do fármaco. � Biocompatíveis e com compatibilidade física e química com o fármaco e excipientes. � Polímeros para formar a matriz: polietilenoglicol, ácidos acrílicos, etilcelulose, polivinilpirrolidona, hidroxipropilmetilcelulose. � Polímeros utilizados para a membrana: etileno vinil de acetato (EVA), silicone, poliuretano. Fármacos � Fármacos que sofrem um extenso efeito de primeira passagem hepático, com uma estreita margem terapêutica e curto tempo de meia-vida. Camada de suporte � Quimicamente inerte (adere à matriz/reservatório do fármaco). � Confere flexibilidade e oclusividade adequadas. � Tipos de materiais: poliéster, poliestileno. (Continuação) Tipos de sistemas transdérmicos Um sistema transdérmico é constituído de três partes fundamentais: adesivo, princípio ativo e potenciadores. A Figura 2 apresenta as camadas que compõem um sistema transdérmico. Figura 2. Esquema das camadas de um adesivo transdérmico. Fonte: Serafim et al. (2013, p. 155). Papel protetor Matriz com medicamento Filme oclosivo Dorso adesivo hipoalergênico Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos12 Com o objetivo de controlar a velocidade de liberação e a permeação transdérmica de fármacos, foram desenvolvidos sistemas com diferentes perfis de liberação (DIAS, 2013): � Sistemas de reservatório ou sistema controlado de permeação com membrana: no sistema de reservatório, o fármaco está contido em um reservatório e é liberado através de uma membrana polimérica porosa de permeabilidade seletiva, que cria um sistema de liberação controlada. Um dos excipientes normalmente utilizado é um promotor da permeação, que tem por objetivo aumentar a permeabilidade da pele ao fármaco. Neste tipo de sistema pode ocorrer o que é denominado “efeito burst”, que ocorre devido à ruptura da membrana polimérica responsável por controlar a liberação do fármaco, levando à liberação “explosiva” de uma grande quantidade do princípio ativo, causando um aumento da toxicidade. � Sistemas matriciais (controlados por matriz): estes sistemas são constituídos por um disco polimérico hidrofílico ou hidrofóbico, no qual o fármaco se encontra dissolvido ou disperso de forma homogênea em uma matriz polimérica inerte. A constituição polimérica controla a liberação de acordo com os excipientes utilizados na formulação. Ao contrário do sistema de reservatório, a velocidade de libertação é assegurada pelos componentes da matriz. Devido à inexistência de membrana controladora, a velocidade de liberação diminui com o tempo por causa do aumento progressivo da via de difusão. Atualmente, este tipo de sistema é o mais comercializado, porseu reduzido custo de pro- dução quando comparado ao sistema reservatório, assim como por suas menores dimensões, o que acarreta maior aceitação entre os usuários. � Sistema de difusão controlada mediante microrreservatórios: o fármaco está suspenso em uma solução aquosa, a qual está homogenei- zada em um polímero lipofílico, formando microesferas. A liberação dos princípios ativos é controlada pelos compartimentos do fluido e do polímero. Em relação aos excipientes utilizados com o objetivo de melhorar a per- meação cutânea, quando presentes em uma formulação transdérmica, os promotores de permeação são constituintes farmacologicamente inativos que devem permear o estrato córneo ou realizar interações químicas com moléculas presentes no estrato córneo, com o intuito de reduzir a resistência da pele à difusão do princípio ativo. Além da utilização dessas substâncias 13Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos como excipientes, podem ser utilizados sistemas mais modernos, que levam a um incremento na permeação de fármacos por via transdérmica, como as nanopartículas, as micro e as nanoemulsões e os lipossomas. Além disso, podem ser utilizados os métodos físicos, como microagulhas, microdermoabrasão e a iontoforese, que modificam diretamente a pele, induzindo a permeação dos fármacos. Allen Jr., Popovich e Ansel (2013) descreve que os sistemas de adesivos transdérmicos devem ser planejados quanto ao seu desenvolvimento, tendo por base as seguintes situações: � Liberar o fármaco em níveis terapêuticos em um fluxo regular. � Propiciar a oclusão da pele de forma a garantir um fluxo unidirecional do fármaco ao estrato córneo. � Não produzir dermatite de contato. � Aderir adequadamente à pele, além de apresentar aspectos como ta- manho, cor e local indicado para aplicação do adesivo que favoreçam a adesão do paciente. Alencar et al. (2018) descrevem que os polímeros são materiais versáteis e podem ser utilizados como excipientes farmacêuticos para a formulação de cosméticos e medicamentos, incluindo os de liberação modificada. Se quiser saber mais, acesse o link a seguir. https://qrgo.page.link/jLJvn ALENCAR, G. de O. et al. Liberação prolongada de fármacos e suas aplicações farma- cológicas: revisão sistemática. Revista e-ciência, v. 6, n. 1, p. 5 –10, 2018. Disponível em: http://www.revistafjn.com.br/revista/index.php/eciencia/article/download/09/PDF%20 -%20317. Acesso em: 7 dez. 2019. Preparo e indicação de sistemas farmacêuticos transdérmicos14 ALLEN JR, L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. Formas farmacêuticas e sistemas de liberação de fármacos. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Guia sobre requisitos de qualidade para o registro de produtos tópicos e transdérmicos. Brasília, DF, 2019. Disponível em: http:// portal.anvisa.gov.br/documents/10181/5516542/Guia+20+v1+Requisitos+Qualidade +Produtos+T%C3%B3picos+e+Transd%C3%A9rmicos.pdf/68ff3097-fb5d-4c99-9bd2- 2dc50eb4fc3e. Acesso em: 7 dez. 2019. CHORILLI, M. et al. Aspectos gerais em sistemas transdérmicos de liberação de fárma- cos. Revista Brasileira de Farmácia, v. 88, n. 1, p. 7–13, 2007. Disponível em: http://www. rbfarma.org.br/files/PAG07a13_ASPECTOS.pdf. Acesso em: 7 dez. 2019. DIAS, A. R. P. Sistemas transdérmicos. 2013. 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