AD2 - filosofia

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1. “— Não duvido – disse Micrômegas, – pois no nosso globo temos cerca de mil sentidos, e resta-nos ainda não sei que vago desejo, não sei que inquietação, que incessantemente nos adverte do pouco que nós somos e de que existem seres muito mais perfeitos.”
“Tenho viajado um pouco; vi mortais muito abaixo de nós; vi-os muito superiores; mas a nenhum vi que não tivesse mais desejos que verdadeiras necessidades, e mais necessidades que satisfação”
“ — Exatamente como entre nós – disse o siriano, vivemos sempre a nos queixar do pouco. Deve ser uma lei universal da natureza.”
“— Se o amigo não fosse filósofo – respondeu Micrômegas, – eu temeria afligi-lo dizendo-lhe que a nossa vida é setecentas vezes mais longa que a sua.”
2. Através do estudo da história e refletindo sobre a própria história como disciplina científica podemos perceber que ao longo do tempo o ser humano esteve sempre interessado em compreender como os outros enxergam sua realidade. Este é um fato observável em muitas culturas, nos levando a pensar que este interesse é intrínseco ao que nos torna quem somos, nos levando a imaginar as razões pelas quais nós somos desse jeito e o que podemos refletir sobre isso. Seria uma condição biológica que nos permite aprendermos sobre o mundo e assim nos adaptarmos melhor as condições do meio ambiente e do meio social? Ou seria então um fator construído socialmente? Seja como for, esta curiosidade pelo olhar do outro existe e vem ao longo do tempo auxiliando nossas ações e nos ajudando a construir nosso próprio olhar em relação ao mundo. Ao analisarmos as ações humanas vemos que muito do que foi construído hoje pode ser atribuído ao interesse humano em buscar compreender o outro, não somente guiando nossas ideias, mas efetivamente auxiliando na construção de uma sociedade nova. Os ramos da ciência como a antropologia, a história, a arqueologia e outras estão diretamente relacionados com a busca de um melhor entendimento do outro, nos demonstrando a importância de compreendermos os diferentes olhares dos povos ao decorrer do tempo e assim também compreendermos melhor quem nós somos. Aí então podemos relacionar a história como disciplina científica e a curiosidade pelo olhar do outro, pois a história só existe porque nós somos curiosos em relação a como os outros enxergam o mundo, demonstrando novamente a importância deste fator.
3. Micrômegas se espanta diante do fato de criaturas tão minúsculas e relativamente sem recursos materiais serem dotadas de razão e possuírem a mesma capacidade de outros seres de relativa superioridade biológica e material. Ao se deparar com essas criaturas abre-se um novo modo de enxergar o mundo para o gigante, pois ele passa a conceber a ideia de que a vida pode se manifestar em diferentes proporções e que nenhuma destas deve ser julgada por sua materialidade. O riso inextinguível e a ironia deste se dão pelo fato de criaturas tão diminutas serem capazes de pensar que tudo o que existe no mundo foi feito para o homem, como afirma um dos homens que se encontravam no grupo dos pensadores. 
REFERÊNCIAS:
VOLTAIRE. Micrômegas. Ed. Ridendo Castigat Mores, 2001. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/micromegasN.html>