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Introdução à interpretação de texto . . . A interpretação não se resume à mera leitura de um texto. . . Introdução à interpretação de texto Interpretar um texto não é tão simples quanto parece. Ao contrário do que muitos pensam, essa tarefa vai além da mera leitura , pois envolve como pré-requisito o domínio dos seguintes conceitos: Texto? Signo? Código? Língua? Linguagem? Decodificar? Compreender? Interpretar? Reter informações? Verbal Não verbal Misto O que é Signo e código linguístico De acordo com Saussure (1975)* , s igno é uma unidade l inguística constituída de dois elementos indissociáveis : o significante e o significado. Este diz respeito ao conteúdo, ao conceito do objeto referenciado pelo signo, e aquele, por sua vez, refere-se à imagem acústica , à forma de expressão do signo, sendo representado por meio de sons e letras. Sendo assim, signo é, por exemplo, a imagem (o símbolo) que criamos em nossa mente para representar a letra “a ” e fazer referência ao som /a/ . Mais um exemplo: ao escutarmos a palavra “cachorro” , reconhecemos a sequência de sons e letras que formam seu significante: Tal significante, por conseguinte, identifica-se com a imagem que está em nossa memória . Ou seja , quando escuta a palavra “cachorro” , cada pessoa pensa em um tipo, que pode ser grande, pequeno, peludo, com pouco pelo, da raça pastor alemão, dobermann, shih tzu, basset , pit bull , etc. C + A + C + H + O + R + R + O = CACHORRO A a a * SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. 7. Ed. São Paulo, SP: Cultrix, 1975. Por outro lado, o significado é o conceito da palavra . Por exemplo: cachorro é um animal irracional , de quatro patas , com pelos , olhos , orelhas , etc. Dessa forma, quando olhamos um signo, ocorre o seguinte processo: Ao conjunto de signos damos o nome de código l inguístico. Trata-se de um sistema de sinais convencionado socialmente que se destina a representar e a transmitir a informação entre o emissor e o receptor. Vale ressaltar que o código comparti lhado entre emissor e receptor deve ser o mesmo, do contrário, não haverá comunicação. No caso do Brasi l , por exemplo, o código util izado pela maioria dos interlocutores é a l íngua portuguesa. Olhar signo Reconhecer significante som / palavra / imagem conceito Depreender significado Emissor código receptor A língua é um código verbal característico, um conjunto de sinais , baseado em palavras e combinações específicas (regras gramaticais) , que é comparti lhado por um determinado grupo para que haja interação entre seus membros , podendo ser oral ou escrita . O conceito de l íngua pode ser relacionado ao termo idioma, que nada mais é do que um código criado para facil itar a construção e a transmissão de uma mensagem. A l íngua portuguesa , por exemplo, é o código usado pela maioria dos falantes brasi leiros; a l íngua inglesa , pela maioria dos norte-americanos , e assim por diante. A util ização da l íngua denomina-se fala , que se refere à a emissão de determinados sons combinados de modo a estabelecer comunicação entre pessoas. Por ser um uso individual da l íngua, a fala é aberta à criatividade e ao desenvolvimento da l iberdade de expressão e compreensão. L inguagem, em sentido amplo, é qualquer mecanismo que util izamos para que haja a transmissão de conceitos , ideias , sentimentos , etc. Ou seja , trata-se de um processo de interação, podendo designar um vocabulário específico (l inguagem científica) , um meio pelo qual certos indivíduos se comunicam (gestos) , ou qualquer outro conjunto de signos , por exemplo: • l inguagem verbal – palavras. • l inguagem não verbal – imagens, sons , etc. Língua e linguagem O que é texto? Segundo Ingedore G. V. Koch (2009)* , texto é “[ . . . ] um construto histórico e social , extremamente complexo e multifacetado, cujos segredos é preciso desvendar para compreender melhor esse ‘mila gre’ que se repete a cada nova interlocução [ . . . ] ” . Em outras palavras , texto é toda e qualquer sentença que estabeleça comunicação, uma mensagem (falada ou escrita) que forma um todo significativo, independente de sua extensão. De acordo com a l inguagem util izada , o texto pode ser verbal , não verbal ou misto. • Texto verbal : construção baseada apenas no uso de palavras (faladas ou escritas) para que se estabeleça comunicação. Exemplo: “Que um ser humano civi l izado não soubesse que a Terra se movia ao redor do Sol , era pra mim um fato tão extraordinário que mal podia compreendê-lo. – Você parece espantado – disse ele, sorrindo da minha expressão de surpresa. – Agora que já sei essa informação, farei o possível para esquecê-la . – Esquecê-la ! – Veja – explicou –, acho que o cérebro do homem é originalmente como um pequeno sótão vazio, que temos que abastecer com a mobíl ia que escolhemos. [ . . . ] ” ( T recho d e She r l o c k Ho lme s em : Um E s tudo em Ve rme l ho , d e A r t hur Con an Doy l e ) * KOCH, I. G. V. A possibilidade de intercâmbio entre Linguística Textual e o ensino de língua materna. In: Veredas, revista de estudos linguísticos, Juiz de Fora, 2009, v. 5, n. 2, p. 85-94. • Texto não verbal : uso de imagens, figuras , fotografias , desenhos, sons , símbolos , dança , tom de voz, postura corporal , pintura , música , mímica , escultura e gestos como meio de comunicação. Exemplo: • Texto misto: uso simultâneo das l inguagens verbal e não verbal como meio de comunicação. Exemplo: • Texto misto: uso simultâneo das l inguagens verbal e não verbal como meio de comunicação. Exemplo: Etapas da interpretação de texto – Decodificação A interpretação de texto é um processo. Por isso, é necessário que o leitor siga as quatro etapas a seguir para garantir uma leitura eficaz: decodificação, compreensão, interpretação e retenção. A decodificação é a primeira etapa da interpretação de texto. Nela , o leitor transforma os símbolos que compõem as letras em sons oral izados ou numa imagem mental do som. Por exemplo: • identificar quando a letra “c ” tem som de /k/ . • perceber que a junção das letras “c ” + “a ” forma “ca ” . • reconhecer que o significante “cachorro” tem como significado “um animal irracional , de quatro patas , com pelos , olhos , orelhas” , etc. “Na decodificação, há a l igação entre o reconhecimento do material l inguístico com o significado que ele fornece. No entanto, ‘muitas vezes a decodificação não ultrapassa um nível primário de simples identificação visual ’ , pois se relaciona a uma decodificação fonológica , mas não atinge o nível do significado pretendido” (MENEGASSI , 1995 , p. 87)* . Apesar de ser uma leitura superficial , desde o início da alfabetização, uma interpretação fluente depende de uma decodificação bem feita . Por isso, ela deve ser um momento em que o leitor possa identificar palavras desconhecidas para transformá-las em sinônimos já conhecidos , configurando-se em um passo importante para a etapa de compreensão do que foi l ido. * MENEGASSI, R. J. Compreensão e interpretação no processo de leitura: noções básicas ao professor. Revista Unimar, Maringá, 1995. v.17, n. 1, p. 85-94. Etapas da interpretação de texto – Compreensão X Interpretação A segunda etapa para uma interpretação de texto efetiva é a compreensão, que consiste em reconhecer e captar os tópicos principais do que foi l ido para que se chegue ao entendimento do seu sentido. É importante ressaltar que a compreensão se l imita ao que l iteralmente está escrito no texto, sendo possível coletar seus dados de maneira explícita . Sendo assim, quando um exercício pedir a compreensão de um texto por parte do leitor , terá em seu enunciado frases como: Após a compreensão, a terceira etapa é a interpretação. Nela , o leitor passa a util izarsua capacidade crít ica , pois deverá fazer inferências (conclusões) acerca do que está escrito no texto, extrapolando-o. Nesse momento, o leitor deverá interpretar a sequência de ideias que estão implícitas no texto. Por isso, nos enunciados dos exercícios de interpretação, aparecerão comandos como: • Segundo o texto. . . • O autor do texto diz que. . . • O texto informa que. . . • No texto é possível observar que. . . • Tendo em vista o texto. . . • De acordo com o texto. . . • O autor afirma que. . . • Na opinião do autor do texto. . . • Depreende-se/infere-se/conclui-se do texto que. . . • O texto permite deduzir que. . . • É possível subentender-se a partir do texto que. . . • Qual a intenção do autor quando afirma que. . . • O texto possibi l ita o entendimento de que. . . • Com o apoio do texto, infere-se que. . . • O texto encaminha o leitor para… É possível compreender um texto sem interpretá-lo, porém, o leitor não será capaz de interpretá-lo se não o compreender efetivamente. Portanto, vale a pena estabelecer a comparação a seguir : Compreensão O que é? Informação Análise Interpretação É a análise do que está escrito no texto, a compreensão das frases e ideias presentes nele. É o que podemos concluir a partir do texto, é o modo como interpretamos seu conteúdo. A informação está presente no texto. A informação está fora do texto, mas tem conexão com ele. Trabalha com a objetividade, com as frases e palavras que estão escritas no texto. Trabalha com a subjetividade, com o que o leitor entendeu sobre o texto. Etapas da interpretação de texto – Retenção textual Finalmente, a interpretação do texto parte para sua última etapa , a retenção, que representa a absorção das informações trabalhadas nos três momentos anteriores. Para reter o conteúdo de um texto, o leitor deverá estabelecer analogias ou comparações com o próprio dia a dia , com situações já vivenciadas por ele ou por outras pessoas , etc. Além disso, deverá ser capaz de reconhecer o sentido das l inguagens util izadas no texto, percebendo se estão no sentido conotativo ou denotativo, bem como a presença de informações subjetivas ou objetivas. Isto posto, a partir do momento em que o leitor retém as informações de um texto, torna-se capaz de apl icá-las em outros contextos de sua vida , de refletir sobre a importância do que foi l ido, de estabelecer paralelos com o cotidiano e, o mais relevante, de fazer suas próprias anál ises e desenvolver o pensamento crít ico. Enfim, devemos ter em mente o que afirmou Mônica Garcia Barros no artigo As h a b i l i d a de s de l e i tur a : mu i to a l ém de uma s imp le s decod i f i c aç ão : “ [ . . . ] a leitura serve para formar leitores pensantes e crít icos que saibam resolver problemas novos e jamais vividos. Não basta copiar o que o autor disse, tem que formular suas próprias ideias para defender ou crit icar o autor , ou apl icar o novo conhecimento ao seu cotidiano. ”
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