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Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 6° fase Medicina Fisiopatologia UCXVII Choque E CIVD Fluxo sanguíneo O fluxo sanguíneo pelo vaso pode ser calculado pela seguinte formula (lei de Ohm): ∆P – gradiente de pressão (diferença de pressão entre as duas extremidades do vaso) R – resistência vascular No humano adulto, o fluxo sanguíneo é de aproximadamente 100ml/segundo. O fluxo sanguíneo total na circulação de um adulto, em repouso, é de aprox. 5,0L/minuto. Isto é denominado Debito cardíaco. Débito cardíaco Débito cardíaco: é o volume de sangue sendo bombeado pelo coração (para a aorta) a cada minuto. É a medida de desempenho do coração. O débito cardíaco é igual à frequência cardíaca multiplicada pelo volume sistólico, em uma fração de tempo (1 minuto) DC = FC X Vol. Sistólico Frequência cardíaca: número de batimentos cardíacos /minuto (70 a 74 batimentos/minuto). Volume sistólico: quantidade de sangue que sai do coração durante a sístole (70 ml). O debito cardíaco normal de um homem, jovem e saudável é em média 5L Fatores determinantes do débito cardíaco: Frequência cardíaca Pré-carga Pós-carga Contratilidade Conceitos Volume sistólico final: quantidade de sangue que permanece no ventrículo após o batimento cardíaco anterior 40 a 50 mL (nunca está vazio) Volume diastólico final: durante a diástole, o enchimento normal dos ventrículos aumenta o volume de cada um deles para 100-120 mL. Esse volume é chamado de volume diastólico final. Volume sistólico ou Débito Sistólico: o volume de sangue ejetado por cada câmara ventricular durante uma sístole: 70 mL (ou fração de ejeção) Pré-carga: Tensão exercida na parede ventricular após a contração atrial. A pré-carga é geralmente considerada como a pressão diastólica final quando o ventrículo está cheio → ou seja é a pressão de sangue presente no ventrículo do coração, após seu enchimento passivo e contração do átrio Depende do retorno venoso Determina o grau de estiramento do sarcômero no final da diástole. Quanto maior o estiramento, maior o número de sítios onde haverá́ acoplamento actina-miosina (até um limite) → Depois de um limite, a capacidade contrátil passa a declinar. Pós-carga: A carga contra a qual o músculo exerce a sua força contrátil durante a sístole. Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 6° fase Medicina A pós-carga do ventrículo é a pressão na artéria à saída do ventrículo. Depende da complacência da artéria e da resistência que determina a pressão arterial. Na prática clínica, a PA pode ser usada como parâmetro para estimar a pós-carga (sem que haja estenose de aorta). Em muitas condições funcionais anormais do coração a pré-carga, pós-carga, ou ambas, podem estar alteradas. Pressão arterial Usando a lei de Ohm podemos calcular também a PA: PA = Fluxo Sanguíneo x RVP Como usamos o débito cardíaco como o equivalente ao fluxo sanguíneo total, a equação para cálculo da PA é: PA = Debito cardíaco (DC) x Resistência Vascular Periférica (RVP) Choque Choque ou colapso cardiovascular é uma condição clinica que resulta de uma redução profunda e disseminada da perfusão tissular efetiva. O choque é um estado de hipoperfusão de órgãos, com resultante disfunção celular e morte. Os mecanismos podem envolver: Volume circulante diminuído Débito cardíaco diminuído Vasodilatação, às vezes com derivação do sangue para não passar pelos leitos capilares de troca. É a via final comum a uma série de distúrbios clínicos que se não corrigidos levam o paciente a óbito. A queda da pressão arterial (PA) leva ao quadro de hipoxemia e incapacidade de retirada de resíduos do metabolismo celular, acidose metabólica e coma, passando por mecanismos compensatórios (para tentar elevar a PA) que acabam contribuindo para o agravamento do quadro, se a causa primária não for corrigida Fisiopatologia: Durante o choque, as cadeias inflamatória e de coagulação podem ser ativadas em áreas de hipoperfusão Células hipóxicas do endotélio vascular ativam leucócitos, que se ligam ao endotélio e liberam substâncias diretamente lesivas (espécies de oxigênio reativas, enzimas proteolíticas) e Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 6° fase Medicina mediadores inflamatórios (citocinas, leucotrienos, fator de necrose tumoral) Alguns desses mediadores se ligam a receptores da superfície celular e ativam o fator nuclear kapa B (FNκB), que leva à produção de citocinas adicionais e também de óxido nítrico (NO), um potente vasodilatador Fases: 1. Fase não progressiva: marcada pelos mecanismos compensatórios para elevar a PA, ocorre vasoconstrição periférica generalizada (exceção dos vasos coronários e cerebrais) e a pele fica fria, pálida (choque séptico, neurogênico e anafilático a pele é vermelha e quente pela vasodilatação), taquicardia, ativação de hormônios antidiuréticos (oligúria-diminuição do volume urinário). 2. Fase progressiva: início da hipoperfusão e da acidose metabólica pela hipóxia tecidual disseminada. O paciente fica confuso e o déficit urinário cai, a função respiratória e cardíaca diminuem. O sangue se acumula na periferia e começa a se coagular. 3. Fase irreversível: quando mesmo que os defeitos hemodinâmicos fossem corrigidos, a sobrevivência seria impossível. Ocorre ruptura dos lisossomos e morte celular maciça. Parada da função contrátil do miocárdio e respiratória, isquemia intestinal com entrada da flora intestinal na circulação, necrose renal aguda, coma e morte. Diagnóstico: é clínico, incluindo mensuração de pressão arterial e, às vezes, marcadores de hipoperfusão tecidual (lactato sanguíneo, déficit de base). Hipovolêmico (DC) o Hemorrágico o Queimadura o Poliúria Distributivo (RVP) o Séptico o Anafilático o Neurogênico o Endócrino o Queimadura Obstrutivo (DC + RVP) o Pneumotórax hipertensivo o Tamponamento cardíaco o Embolia pulmonar Cardiogênico (DC) o Iam o Miocardite o Arritmia o Valvar Choque hipovolêmico No choque hipovolêmico, a queda da PA ocorre devido a diminuição do volume intravascular. O retorno venoso (pré-carga) diminuído resulta em diminuição do preenchimento ventricular e redução do volume de ejeção. Se não for compensado por aumento da frequência cardíaca, o débito cardíaco diminui. As principais causas de choque são hemorragia (trauma, intervenções cirúrgicas, úlcera péptica, varizes esofágicas ou aneurisma da aorta rompido), desidratação, queimadura grave, traumatismos extensos Perda de sangue ou fluidos → Redução do volume sanguíneo circulante → Redução das pressões e volumes de enchimento diastólico. Hemorrágico: trauma, sangramento do TGI, retroperitoneal Não hemorrágico: desidratação, perdas renais (diurese osmótica na cetoacidose diabética), diarreias Venodilatação: sepse, anafilaxia, toxinas/ medicamentos, inflamação Os sintomas incluem: Estado mental alterado Taquicardia (>100 bpm) Hipotensão (<90 mmHg) ou queda de 30 mmHg da pressão arterial inicial) Oligúria (debito urinário < 0,5 mL/kg/hora) A Síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (SDMO) também ocorre em >10% dos pacientes com lesão traumática grave e é a causa primária de morte daqueles que sobrevivem durante 24 horas. A coagulação pode estar prejudicada, com sua manifestação mais grave, coagulopatia intravascular disseminada Choque distributivo O choque distributivo resulta de uma relativa inadequação do volume intravascular causada por vasodilatação arterial ou venosa; o volume de sangue Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 6° fase Medicina circulante é normal. O distúrbio fisiológica primário é uma redução na resistência vascular sistêmica. O choque distributivo pode ser causado por: Anafilaxia (choque anafilático) Infecção bacteriana (choque séptico) Lesão grave da medula espinal, habitualmente acima de T4 (choque neurogênico) Queimaduras graves Alterações endócrina Frequentemente, os choques anafilático e séptico têm também um componente de hipovolemia Choque séptico No Choque séptico, a presença de endotoxinas microbianas (principalmente bactérias gram negativas), causa vasodilatação generalizada, queda da PA pelo processo inflamatório sistêmico que se estabelece. Pode ser provocado por qualquer microorganismo (bactérias gram negativas gram positivos, fungos, vírus e protozoários) Reação inflamatória/ imunológica: Vasodilatação Aumento da permeabilidade vascular /perda de líquido para o extravascular Redução resistência vascular sistêmica No choque séptico, a dilatação dos vasos de capacitância (circulação venosa) ocasiona represamento de sangue e hipotensão em decorrência de hipovolemia “relativa” (volume demais para ser preenchido pela quantidade existente de sangue). A vasodilatação localizada pode derivar o sangue que passaria pelos leitos capilares de troca, causando hipoperfusão focal a despeito de débito cardíaco e pressão arterial normais. Além disso, o excesso de óxido nítrico é convertido em peroxinitrito, um radical livre que lesa mitocôndrias e diminui a produção de ATP.) Choque neurogênico Choque neurogênico é classificado como choque distributivo e pode ser causado por trauma raquimedular, compressão da medula espinal, anestesia geral, anestesia raquidiana, anestesia peridural, lesão no sistema nervoso e hipoglicemia. A lesão medular leva à interrupção do estímulo vasomotor → perda do tônus simpático e vasodilatação periférica → diminuição do retorno e queda do debito cardíaco. Sinais e sintomas: Pele seca e quente Hipotensão Bradicardia Arreflexia (paralisia), com paciente orientado. Choque obstrutivo O choque obstrutivo se caracteriza pela redução no transporte de O2 relacionada a uma redução do débito cardíaco, mas nesse caso a etiologia é um processo extracardíaco que prejudica o fluxo de sangue. Esses processos incluem pneumotórax hipertensivo, tamponamento cardíaco e pericardite restritiva. Processos que obstruem o fluxo de saída do coração podem ser: embolia pulmonar (coração direito) ou dissecção aórtica (coração direito). Choque cardiogênico Choque cardiogênico é uma redução relativa ou absoluta do débito cardíaco, decorrente de um distúrbio cardíaco primário. Acometimento de 40% ou mais do miocárdio por lesão miocárdica direta ou anormalidade mecânica do coração. Pode ser causado por: Lesão cardíaca direta: IAM, trauma, miocardite, cardiomiopatia, toxicidade por drogas Lesão mecânica: Anormalidade valvar importante, cardiomiopatia hipertrófica, CIV Arritmias: Bradicardia, taquicardia Sinais e sintomas: Pressão arterial baixa Elevação da frequência cardíaca Palidez Extremidades frias e úmidas Diminuição do estado de consciência Sonolência, fraqueza Redução da quantidade de urina. Nos casos onde há acúmulo de líquido nos pulmões ou edema pulmonar, o paciente também pode apresentar falta de ar e sons anormais na ausculta dos pulmões. Coagulação intravascular disseminada A coagulação intravascular disseminada envolve geração anormal e excessiva de trombina e fibrina no sangue circulante. Durante o processo, ocorre aumento da agregação plaquetária e consumo de fatores de coagulação. Maria Eduarda Zen Biz – ATM 2025.1 6° fase Medicina CID que se desenvolve lentamente (por semanas ou meses) causa manifestações primariamente trombótica venosa e embólica CID que se desenvolve rápido (em horas ou dias) ocasiona primariamente sangramento. Na CID de evolução rápida, locais de picadas (p. ex., punções intravenosas ou arteriais) sangram persistentemente, as equimoses se formam nos locais de injeções parenterais e podem ocorrer sangramentos gastrintestinais sérias Etiologia da CID: A CID normalmente resulta da exposição do fator tecidual ao sangue, iniciando a cascata da coagulação. Além disso, a via fibrinolítica é ativada na CID: a plasmina cliva a fibrina em dímeros-D e outros produtos de degradação da fibrina. A CIVD pode portanto, causar trombose e sangramento (se o consumo de plaquetas e/ou de fatores de coagulação for excessivo) As principais causas de CID são: Complicações obstétricas: descolamento prematuro da placenta, feto morto ou produtos de concepção retidos, embolismo do líquido amniótico. O tecido placentário com atividade do fator tecidual entra ou é exposto à circulação materna. Infecção, em particular com microrganismos Gram-negativos: a endotoxina Gram-negativa provoca geração ou exposição da atividade do fator tecidual em células fagocíticas, endoteliais e teciduais. Câncer: células cancerígenas expressam e expõem (ou liberam) o fator tecidual. Choque por qualquer condição que causa lesão tecidual isquêmica e exposição ou liberação de fator tecidual Outras causas: queimaduras extensas, venenos de cobra, aneurismas de aorta. Diagnóstico da CID: diagnostica-se CID grave que evolui rapidamente detectando: Trombocitopenia Tempo de tromboplastina parcial e tempo de protrombina elevados Níveis séricos aumentados de Dímero D (ou de produtos da degradação de fibrina no soro) Diminuição nos níveis séricos de fibrinogênio. Dímero-D: Os fragmentos da fibrina em desintegração são chamados produtos da degradação de fibrina (PDF). Um dos PDF produzidos é o dímero D, formado por pedaços de fibrina ligados de diversos tamanhos. O Dímero D normalmente é indetectável no sangue e é produzido apenas quando há formação de coágulo e ele se encontra em processo de quebra. A dosagem do Dímero D revela se há um aumento nos mecanismos de coagulação para um valor acima do normal.
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