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Ética e Responsabilidade Profissional Ética e Responsabilidade Profissional Igor Roberto Borges Maria Claudia Rodrigues Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Editora da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº .610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. ISBN 978-85-7528-408-7 Projeto Gráfi co: Humberto G. Schwert Editoração: Roseli Menzen Capa: Juliano Dall’Agnol Coordenação de Produção Gráfi ca: Edison Wolf Impressão: Gráfi ca da ULBRA Setembro/2011 Dados técnicos do livro Fontes: Minion Pro, Offi cina Sans Papel: off set 90g (miolo) e supremo 240g (capa) Medidas: 15x22cm Setor de Processamento Técnico da Biblioteca Martinho Lutero - ULBRA/Canoas Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B732e Borges, Igor Roberto. Ética e responsabilidade profi ssional / Igor Roberto Borges, Maria Claudia Rodrigues. – Canoas : Ed. ULBRA, 2011. 134p. 1. Ética profi ssional. 2. Ética empresarial. 3. Responsabilidade social. I. Rodrigues, Maria Claudia. II. Título. CDU: 174 Conselho Editorial EAD Dóris Cristina Gedrat (coordenadora) Mara Lúcia Machado Astomiro Romais Andréa Eick André Loureiro Chaves Cátia Duizith Igor Roberto Borges é graduado em Administração de Empresas e especialista em Gestão Empresarial pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA). Atualmente, é mestrando em Engenharia de Produção e Sistemas pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) e professor dos Cursos Superiores Tecnológicos, modalidades EAD e presencial. Maria Claudia Rodrigues é graduada em Turismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), especialista em Gestão Empresarial e mestra em Educação pela Universidade Luterana do Brasil. Professora dos Cursos Superiores Tecnológicos, modalidades EAD e presencial. Sumário Apresentação .............................................................. 7 1 | Introdução à ética e à moral ......................................... 9 2 | Conceitos fundamentais ............................................. 25 3 | Ética e profi ssão ....................................................... 37 4 | Ética e empresa ........................................................ 55 5 | Por uma cultura organizacional ética ............................ 63 6 | Por que ética nos negócios? ........................................ 79 7 | Contextualização histórica da responsabilidade social ..... 89 8 | Atuação da responsabilidade social: interna e externa ..... 97 9 | Marketing e responsabilidade social .............................105 10 | Responsabilidade social e o retorno social ....................115 Referências .............................................................129 Apresentação Ao iniciarmos nossos estudos sobre a disciplina Ética e Responsabilidade Profissional, faz-se importante compreendermos alguns aspectos históricos que contribuíram para o estudo da ética nas organizações. Pretendemos abordar o estudo da ética no contexto corporativo, nas relações entre colegas de trabalho, entre empregados e empregadores, clientes internos e externos e na atuação das empresas em relação à responsabilidade social e ambiental. Este livro divide-se em dez capítulos. Assim, no primeiro capítulo, “Introdução à ética e à moral”, abordaremos um breve histórico sobre a ética e a moral, apontando a sua evolução. No segundo capítulo, trata-se de introduzir os conceitos de ética, moral e valor, com o objetivo de diferenciá-los e servir de arcabouço para nossos estudos. No terceiro capítulo, apresenta-se o estudo da ética aplicada à profissão. Trata-se, também, da atuação ética e da responsabilidade do indivíduo em relação à sua profissão e ao ambiente de trabalho. Já no quarto capítulo, abordaremos a relação entre os indivíduos e as organizações. Apresentam-se situações em que o funcionário deve tomar decisões que podem envolver dilemas éticos. No quinto capítulo, trataremos da cultura organizacional, conceitos e funções, e apontaremos algumas práticas para a constituição de uma cultura organizacional mais ética. No sexto capítulo, abordaremos a ética nos negócios, e pretende-se apresentar as vantagens e desvantagens da ética nas relações negociais. O capítulo 7 apresenta a contextualização histórica da responsabilidade social, abrangendo a evolução da responsabilidade social na empresa e no Brasil e seus conceitos fundamentais. O oitavo capítulo apresenta a atuação da empresa em relação à 8 Apresentação responsabilidade social e seus stakeholders, sua influência em relação à empresa. Também se trata da responsabilidade social direcionada ao público interno da organização, seus empregados e os dependentes destes, e o desenvolvimento de ações sociais responsáveis que beneficiem a comunidade. No capítulo 9, tratamos do tema marketing social, como ferramenta para divulgar e comunicar as organizações que atuam com responsabilidade social. Nesse sentido, iremos apresentar os tipos de marketing social, a fim de diferenciá-los em relação às suas atuações específicas. Assim, apresentaremos o marketing filantrópico, marketing das campanhas sociais, marketing de patrocínio de projetos sociais, marketing de relacionamento com base em ações sociais, marketing de promoções sociais. E, finalmente, o último capítulo refere-se às vantagens e aos benefícios que as empresas socialmente responsáveis usufruem, entre eles o retorno social. 1 Introdução à ética e à moral Maria Claudia Rodrigues Neste capítulo, trata-se de apresentar um breve histórico da ética. Espera- se que ao fim deste estudo o aluno tenha uma visão mais ampla da evolução histórica da ética e compreenda que a ética se refere a um estudo da moral e dos comportamentos morais. Portanto, a ética refere-se ao comportamento do ser humano, estuda suas crenças, seus princípios e valores em um indivíduo, grupo, comunidade ou empresa. Espera-se que o estudo contribua para um melhor entendimento do estudo da ética no contexto atual nas organizações. A ética revisitada Atualmente, a expressão ética é utilizada em vários contextos. Não é raro ouvirmos: “aquele profissional não foi ético em relação a seu colega de trabalho”; “aquela empresa não é ética”; “aquele funcionário é extremamente ético”. A expressão é usada corriqueiramente pelas pessoas, sem se pensar muito no sentido ou significado da palavra. Fala-se de ser ético, ou não ser ético, ética na empresa, ética na universidade, ética médica. Trata-se, muitas vezes, de confundir os termos ética e moral como, quando dizemos “pessoas sem ética”. Conforme formos estudando, veremos que há uma distinção entre estes dois termos: a ética e a moral. 10 Introdução à ética e à moral A ética trata do estudo da moral. Conforme Srour (2005, p.306), o objeto de estudo da ética é a “moralidade, os fenômenos morais, os fatos sociais regulados por normas morais ou submetidos a avaliações morais”. Neste sentido, o autor assinala que “tanto as regras de comportamento como os juízos sobre o bem o mal, o certo e o errado, o justo e o injusto, o virtuoso e o vicioso, o legítimo e o ilegítimo, são socialmente convencionados e partilhados” (SROUR, 2005, p.306). Portanto, segundo este autor, estas formas de pensar e agir socialmente constituem-se de padrões morais que “correspondem a fenômenos históricos que distinguem os bons dos maus costumes” (SROUR, 2005, p.306). Assim,as crenças e os valores de uma pessoa conduzem a um determinado comportamento, que pode ser moral ou imoral, dependendo do contexto, grupo social, cultura em que está inserido. As ações de um indivíduo, de um grupo ou de funcionários em uma organização buscam respaldo em um sistema de normas e regras morais para pautar uma determinada decisão ou comportamento. Neste sentido, busca-se em códigos de conduta, ou códigos de ética que norteiam os modos de agir e de pensar em uma empresa ou sociedade, como atuar em uma determinada situação, ou que comportamento está adequado ou não, a fim de decidir se foi uma ação moral, amoral, ou imoral. A partir destas normas ou regras de conduta, decide-se se uma determinada decisão foi correta ou condenável. Mas, afinal, quando surgiu a ética enquanto ciência da moral? Segundo vários autores, a ética tem suas raízes na Grécia antiga. A ética, enquanto ciência da moral, ou seja, estudo do comportamento moral das pessoas, surge com o filósofo grego Sócrates, a quem se atribui as célebres frases: “conhece-te a ti mesmo” e “quanto mais sei, mais percebo que nada sei”. Lembra? Esse filósofo empenhou-se em constituir um método denominado Maiêutica, cujo objetivo é buscar dentro do homem a verdade. Nascido em Atenas, o filósofo percorria as ruas e perguntava aos atenienses qual o significado para os valores em que acreditavam e que respeitavam na sua prática diária. A essência da ética socrática está na felicidade, a partir de conceitos que são instituídos como lei universal com o intuito de alcançar o bem supremo. Neste sentido, Sócrates levava as pessoas a se questionarem sobre os seus valores, sobre a qualidade das virtudes, sobre o que era o “bem”. Assim, a ética socrática nasce desta busca da essência das virtudes e do bem. 11Introdução à ética e à moral Também Platão segue a linha de Sócrates, de uma ética da felicidade, e submete a moral à luz da razão. Já para Aristóteles a moral era entendida como um conjunto de qualidades que definia o modo de vida e de relacionamento entre as pessoas. Conforme Gonçalves e Wyse (1997), com origem na Grécia antiga, o termo ética compreendia que os juízos sobre o bem, a verdade, a justiça deveriam ser ditados e decididos de maneira livre e racional em praça pública, na pólis. Nesta sociedade, as decisões a respeito da coisa pública ou do bem comum eram debatidas por homens livres e iguais em praça pública. Vale lembrar que na sociedade grega antiga os escravos, as mulheres e as crianças não tomavam partido das decisões. Portanto, os debates a respeito do que se entendia por certo ou errado, bom ou mau era debatido pelos homens, os “senhores”. Neste sentido, compreende-se que a ética abrange valores socialmente vigentes, dentro de um contexto histórico. Já na sociedade medieval, ocorre um rompimento do vínculo entre ética e política. Segundo os autores citados, a partir do poder exercido pela Igreja, as normas passam a ser reguladas pelo princípio do cristianismo. O cristianismo tem como virtudes a fé e a caridade, que se traduzem “nas boas intenções e no desejo em alcançar o bem para atender a vontade divina” (GONÇALVES e WYSE, 1997, p.21). Nesta perspectiva, na qual Deus é o juiz das ações humanas, passa a ser avaliada a consciência do que é considerado bem ou mal. Assim, a culpa funciona como um mecanismo de controle, que age como um “juiz, implacável na avaliação, que tira a paz dos indivíduos, fazendo como que eles paguem por suas faltas” (GONÇALVES e WYSE, 1997, p.21). Para estes autores, esta mudança de finalidade da ética, da Antiguidade para a sociedade medieval, constitui-se da desvalorização da autonomia e deliberação humana, fragilizando a responsabilidade pessoal, ou seja, “se acreditamos que tudo está predeterminado por uma ordem superior, divina, limitamos nossa possibilidade de escolha, de decisão. E se não escolhemos, como podemos ser responsáveis?” (GONÇALVES e WYSE, 1997, p.21). Vale lembrar que esta sociedade estava fundamentada em um modelo de produção feudal, ou seja, “as relações sociais caracterizavam-se por rígida hierarquia entre os senhores (proprietários das terras) e os servos, aqueles que 12 Introdução à ética e à moral as cultivavam” (GONÇALVES e WYSE, 1997, p.22). O papel da Igreja era da manutenção do princípio da obediência que regulava as relações entre senhores e servos. Com a sociedade moderna nasce a burguesia, uma classe social fundamentada em virtudes como a “laboriosidade, honradez, puritanismo, amor à pátria e à liberdade, em contraponto aos vícios da aristocracia: desprezo ao trabalho, ociosidade, libertinagem” (GONÇALVES e WYSE, 1997, p.23). O trabalho passa a ser visto como uma expressão de liberdade, uma forma capaz de contribuir com a prosperidade dos negócios. Estes autores destacam que em outras sociedades o trabalho era visto de forma negativa, como, por exemplo, na Grécia antiga, onde era desvalorizado por se tratar de uma função dos escravos e servos. Conforme Gonçalves e Wyse (1997), na sociedade moderna o trabalho passa a ser associado a valores materiais, como fator econômico, salário e poder aquisitivo. Por outro lado, o trabalho também é identificado com as necessidades psicológicas do indivíduo, determinando o status e o sentimento de realização pessoal e pertencimento a um grupo social. Ainda segundo estes autores, é na sociedade moderna que se desenvolve o estudo da ética no contexto do trabalho, ou “ética do trabalho”: A ética do trabalho consiste em entender essa atividade, o trabalho, como fator fundamental à construção da identidade e da realização pessoal ao estabelecimento de uma ordem social, onde prevaleçam relações fundadas na dignidade, na liberdade e na igualdade entre os homens. (GONÇALVES e WYSE, 1997, p.24) Sobre a sociedade moderna, Saldanha (1998) alerta para as diversas mudanças sociais que colocam em reflexão temas sociais sobre os limites da tecnologia e da ciência, que influenciam a vida do ser humano. Segundo este autor, passamos de um mundo científico para o da tecnologia; assistimos a duas guerras mundiais e diversas guerras menores continuam ocorrendo em nossos dias; questionamentos sobre as energias atômicas; debates acerca da racionalidade e do relativismo; a ecologia e as relações do homem com a natureza são temas que fizeram o ser humano questionar sua conduta social. 13Introdução à ética e à moral A ética é uma construção social, portanto alguns princípios éticos que valiam para uma determinada época estão em desuso em nossos dias, ou seja, os princípios valem enquanto a sociedade tiver a possibilidade de ser norteada por eles. Na atualidade, Leonardo Boff (2009) assinala algumas reflexões sobre um comportamento ético e moral responsável e à altura dos desafios de nosso tempo. Vivemos em uma economia globalizada. A globalização, segundo este autor: trouxe, entre outras coisas, a planetarização da condição humana e a consciência de que Terra e humanidade possuem destino comum. Por isso devemos enfrentar juntos o futuro como um sujeito único. Isso nos obriga a elaborar um projeto planetário solidário e uma gestão coletiva dos problemas, visando conferir sustentabilidade à vida do planeta. (BOFF, 2009, p.81-82) Neste sentido, é preciso pensar em um ética global, ou seja, a ética e a responsabilidade social por parte das organizações deve ser pensada de forma global. Assim, dentro desta perspectiva, as empresas devem estar voltadas para os temas globais, pois sua forma de atuação pode influenciar a sociedade e o meio ambiente. Nesta perspectiva, também Morin (2011) aponta para uma ética planetária, pois a partir da globalização é necessário pensar em uma ética da comunidade humana, que respeite e integre as éticas nacionais. Assim, Morin (2011) assinala a necessidade de uma antropolíticaque integre os imperativos da ética planetária. Em A Carta da Terra, aprovada na Unesco em Paris, no ano 2000, quando trata do “meio ambiente global com seus recursos finitos”, assinala que deve ser uma preocupação comum de todas as pessoas, pois é necessário pensar “em uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente”. A seguir, apresenta-se A Carta da Terra: 14 Introdução à ética e à moral A Carta da Terra PREÂMBULO Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro reserva, ao mesmo tempo, grande perigo e grande esperança. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio de uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos nos juntar para gerar uma sociedade sustentável global fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade de vida e com as futuras gerações. TERRA, NOSSO LAR A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, é viva como uma comunidade de vida incomparável. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade de vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todos os povos. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado. A SITUAÇÃO GLOBAL Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, esgotamento dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos equitativamente e a diferença entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e são causas de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana 15Introdução à ética e à moral tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis. DESAFIOS FUTUROS A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais em nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que, quando as necessidades básicas forem supridas, o desenvolvimento humano será primariamente voltado a ser mais e não a ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos no meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados e juntos podemos forjar soluções inclusivas. RESPONSABILIDADE UNIVERSAL Para realizar estas aspirações, devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com a comunidade terrestre como um todo, bem como com nossas comunidades locais. Somos, ao mesmo tempo, cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual as dimensões local e global estão ligadas. Cada um compartilha responsabilidade pelo presente e pelo futuro bem-estar da família humana e de todo o mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo dom da vida e com humildade em relação ao lugar que o ser humano ocupa na natureza. Necessitamos com urgência de uma visão compartilhada de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à comunidade mundial emergente. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, interdependentes, visando a um modo de vida sustentável como padrão comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas, governos e instituições transnacionais será dirigida e avaliada. 16 Introdução à ética e à moral PRINCÍPIOS I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA 1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade. a. Reconhecer que todos os seres são interdependentes e cada forma de vida tem valor, independentemente de sua utilidade para os seres humanos. b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade. 2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor. a. Aceitar que, com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais, vem o dever de prevenir os danos ao meio ambiente e de proteger os direitos das pessoas. b. Assumir que, com o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder, vem a maior responsabilidade de promover o bem comum. 3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas. a. Assegurar que as comunidades em todos os níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada pessoa a oportunidade de realizar seu pleno potencial. b. Promover a justiça econômica e social, propiciando a todos a obtenção de uma condição de vida significativa e segura, que seja ecologicamente responsável. 4. Assegurar a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações. a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras. b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apoiem a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra a longo prazo. 17Introdução à ética e à moral II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA 5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial atenção à diversidade biológica e aos processos naturais que sustentam a vida. a. Adotar, em todos os níveis, planos e regulamentações de desenvolvimento sustentável que façam com que a conservação e a reabilitação ambiental sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento. b. Estabelecer e proteger reservas naturais e da biosfera viáveis, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural. c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas ameaçados. d. Controlar e erradicar organismos não nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas e ao meio ambiente e impedir a introdução desses organismos prejudiciais. e. Administrar o uso de recursos renováveis como água, solo, produtos florestais e vida marinha de forma que não excedam às taxas de regeneração e que protejam a saúde dos ecossistemas. f. Administrar a extração e o uso de recursos não renováveis, como minerais e combustíveis fósseis de forma que minimizem o esgotamento e não causem dano ambiental grave. 6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução. a. Agir para evitar a possibilidade de danos ambientais sérios ou irreversíveis, mesmo quando o conhecimento científico for incompleto ou não conclusivo. b. Imporo ônus da prova naqueles que afirmarem que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que as partes interessadas sejam responsabilizadas pelo dano ambiental. c. Assegurar que as tomadas de decisão considerem as consequências cumulativas, a longo prazo, indiretas, de longo alcance e globais das atividades humanas. 18 Introdução à ética e à moral d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas. e. Evitar atividades militares que causem dano ao meio ambiente. 7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário. a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos. b. Atuar com moderação e eficiência no uso de energia e contar cada vez mais com fontes energéticas renováveis, como a energia solar e a do vento. c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência equitativa de tecnologias ambientais seguras. d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar os consumidores a identificarem produtos que satisfaçam às mais altas normas sociais e ambientais. e. Garantir acesso universal à assistência de saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável. f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e subsistência material num mundo finito. 8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover o intercâmbio aberto e aplicação ampla do conhecimento adquirido. a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento. b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano. c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, permaneçam disponíveis ao domínio público. 19Introdução à ética e à moral III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA 9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental. a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, alocando os recursos nacionais e internacionais demandados. b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma condição de vida sustentável e proporcionar seguro social e segurança coletiva aos que não são capazes de se manter por conta própria. c. Reconhecer os ignorados, proteger os vulneráveis, servir àqueles que sofrem e habilitá-los a desenvolverem suas capacidades e alcançarem suas aspirações. 10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma equitativa e sustentável. a. Promover a distribuição equitativa da riqueza dentro das e entre as nações. b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e liberá-las de dívidas internacionais onerosas. c. Assegurar que todas as transações comerciais apoiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas trabalhistas progressistas. d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas consequências de suas atividades. 11. Afirmar a igualdade e a equidade dos gêneros como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de saúde e às oportunidades econômicas. a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas. 20 Introdução à ética e à moral b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiras plenas e paritárias, tomadoras de decisão, líderes e beneficiárias. c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e o carinho de todos os membros da família. 12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, com especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias. a. Eliminar a discriminação em todas as suas formas, como as baseadas em raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social. b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas com condições de vida sustentáveis. c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os a cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis. d. Proteger e restaurar lugares notáveis pelo significado cultural e espiritual. IV. DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ 13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e prover transparência e responsabilização no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões e acesso à justiça. a. Defender o direito de todas as pessoas receberem informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que possam afetá-las ou nos quais tenham interesse. b. Apoiar sociedades civis locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações interessados na tomada de decisões. c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de reunião pacífica, de associação e de oposição. 21Introdução à ética e à moral d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos judiciais administrativos e independentes, incluindo retificação e compensação por danos ambientais e pela ameaça de tais danos. e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas. f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes, e atribuir responsabilidades ambientais aos níveis governamentais onde possam ser cumpridas mais efetivamente. 14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável. a. Prover a todos, especialmente a crianças e jovens, oportunidades educativas que lhes permitam contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável. b. Promover a contribuição das artes e humanidades, assim como das ciências, na educação para sustentabilidade. c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massa no aumento da conscientização sobre os desafios ecológicos e sociais. d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma condição de vida sustentável. 15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração. a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e protegê-los de sofrimento. b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento extremo, prolongado ou evitável. c. Evitar ou eliminar ao máximo possível a captura ou destruição de espécies não visadas. 16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz. a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações. 22 Introdução à ética e à moral b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para administrar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até o nível de uma postura defensiva não provocativa e converter os recursos militares para propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica. d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa. e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico ajude a proteção ambiental e a paz. f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte. O CAMINHO ADIANTE Como nunca antes na História, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa destes princípios de A Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da carta. Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável nos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global que gerou a Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca conjunta em andamento por verdade e sabedoria. A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Entretanto, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade tem um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não governamentais e os governos são todos chamados 23Introdução à ética e à moral a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva. Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacionalmente legalizado e contratual sobre o ambiente e o desenvolvimento. Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação dos esforços pela justiça e pela paz e a alegre celebração da vida. (Fonte: BOFF, Leonardo. Ética e Moral a busca dos fundamentos, 2009, p.109-125.) Desde os povos antigos debate-se a respeito da moral e da ética. Em cada época e sociedade a ética fez parte dos estudos de pensadores, com o objetivo de compreender o comportamento do ser humano. Vimos que o comportamento moral se difere conforme o contexto histórico, cultural e social em que se inserem os grupos. Portanto um comportamento moral em uma determinada época pode não ser considerado ético nos tempos atuais e vice versa. Nos moldes atuais, as empresas tendem a preocupar-se com questões globais, pois estão inseridas em uma economia globalizada, assim também a ética possibilita tal reflexão: pensar em um ética planetária. Reflexão Atualmente, vive-se em um mercado caracterizado pela flexibilidade, inovação tecnológica, rapidez na comunicação, mercados globalizados. Os conceitos de ética e de moral nos ajudam a entender e a se posicionar frente a esse mundo complexo e aos novos tempos. No mundo dos negócios, onde as mudanças ocorrem com tanta rapidez e em que os profissionais devem estar preparados para atuar sobre forte pressão, podemos nos sentir inseguros frente a nossas antigas “certezas”. Tendo em vista que a ética e a moral se transformam 24 Introdução à ética e à moral de acordo com a cultura, traga um exemplo do mundo do trabalho que aponte como o que era considerado outrora ético hoje se modificou. Traga uma das inúmeras temáticas que envolvem o mundo do trabalho hoje e problematize. O que caracteriza hoje uma empresa socialmente responsável? O que mudou na postura das empresas quanto a esses aspectos? 2 Conceitos fundamentais Maria Claudia Rodrigues Este capítulo apresenta os principais conceitos sobre ética e moral com o objetivo de introduzir ao aluno alguns conceitos fundamentais e esclarecer a diferença entre estes dois termos. Trata-se, também, de apresentar o conceito de valor e a diferença entre ética, moral e direito. Espera-se que estas noções sirvam de fundamento para a compreensão do estudo da ética aplicada às organizações. 2.1 Ética e moral Etimologicamente, o termo ética tem sua origem na palavra grega ethos, que significava, inicialmente, paradeiro ou residência comum. Mais tarde, o termo passou a ser entendido como hábito, temperamento, caráter, mentalidade. Para Boff (2009) existe uma confusão entre os termos ética e moral. Para este autor, no senso comum não há uma distinção entre os dois termos, que são tratados como sinônimos. No entanto, o autor destaca que a ética refere-se a parte da filosofia, enquanto a moral diz respeito a parte da vida concreta. Assim, a partir deste autor, pode-se conceituar ética como: A ética é parte da filosofia. Considera concepções de fundo acerca da vida, do universo, do ser humano e de seu destino, estatuído 26 Conceitos fundamentais princípios e valores que orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter e boa índole. (BOFF, 2009, p.37) Já a moral, termo latino oriundo de mos, mores, adquiriu na modernidade sentido de dever. Conforme Boff, o termo moral é compreendido como: na morada, os moradores têm costumes, tradições, hábitos, maneira e usos de organizar as refeições, os encontros, as festas, os estilos de relacionamento, que podem ser tensos e competitivos, ou harmoniosos e cooperativos. (BOFF, 2009, p.39) Segundo este autor, os gregos chamavam esse fenômeno de ethos (costumes, hábitos, comportamentos concretos das pessoas), já os latinos vão chamar de mores, de onde surge a palavra moral. Conforme Boff (2009, p.39), o processo formador da ética começa no ethos, ou seja, na “morada”, que segundo o autor pode ser “a casa concreta das pessoas ou a [empresa], a comunidade, a cidade, o Estado e o planeta Terra. As pessoas que moram nela têm valores, princípios, motivações inspiradoras para o comportamento [moral]”. Nesta visão, segundo Boff, a moral significa: A moral é parte da vida concreta. Trata da prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos e valores culturalmente estabelecidos. Uma pessoa é moral quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados. Estes podem, eventualmente, ser questionados pela ética. Uma pessoa pode ser moral – segue os costumes até por conveniência –, mas não necessariamente ética – obedece a convicções e princípios. (BOFF, 2006, p.37) Conforme Nelson Saldanha, “a ética corresponde ao conjunto de todas as formas de normativas vigentes nas agrupações humanas” (SALDANHA,1998, 27Conceitos fundamentais p.7). Para o autor, a ética existe em cada contexto, seja cultural, social ou temporal, como segue: um conjunto de estruturas – inclusive institucionais – e de ideais de comportamento, que se ligam a um ideal do ser humano: o que se chama de ética, em seu sentido historicamente efetivo, é um plano de relações entre aqueles ideais de comportamento e avaliação efetiva dos comportamentos ocorridos. (SALDANHA, 1998, p.9) Nesta perspectiva, a ética constitui-se deuma disciplina teórica que tem como objeto de estudo a moral. Neste sentido, trata de um processo de reflexão sobre “a moral, os fenômenos morais, os fatos sociais regulados por normas morais ou submetidos a avaliações morais” (SROUR, 2005, p.306). Segundo Srour, a moral representa “um conjunto de valores e regras de comportamento, um código de conduta que coletividades adotam, que seja uma nação, uma categoria social, uma comunidade religiosa ou uma organização” (SROUR, 2000, p.29). A moral constitui-se da prática real das pessoas que se expressam por costumes, hábitos cotidianos e valores consagrados. Neste sentido, uma pessoa pode apresentar um comportamento moral, porém não necessariamente ético. Nesta direção, Srour destaca que os fatos sociais podem ser neutros ou amorais, como, por exemplo, o fato de ir ao trabalho, assistir a um filme, ou o de ler um livro. Para este autor, estes exemplos tornam-se fatos passíveis de serem avaliados moralmente, a partir do momento em que afetam outras pessoas, transgredindo “normas que regem o que é considerado socialmente bom ou mau” (SROUR, 2005, p.306). Consideremos o exemplo anterior “assistir a um filme”. Quando o fato de “assistir a um filme” passa a ser submetido a uma avaliação moral? Vejamos o exemplo, destacado pelo autor: Assistir a um filme pornográfico no computador da empresa, ao lado de colegas do sexo feminino, não é amoral, é imoral. Por quê? Por que fere regras de caráter moral, que são corporativa e socialmente estabelecidas. No tocante à empresa trata-se do uso inapropriado 28 Conceitos fundamentais de equipamentos; quanto às colegas, elas podem se sentir constrangidas, para não dizer ofendidas e até mesmo assediadas moralmente. (SROUR, 2005, p.356) As relações humanas podem conter diversas situações em que as escolhas podem repercutir em um fato moral, amoral ou imoral. Pode-se considerar uma situação moral quando o indivíduo age de forma considerada positiva em uma determinada sociedade. No entanto, em outro exemplo, em que um superior expõe uma funcionária a uma situação humilhante, constrangedora, repetidas e prolongadas vezes durante sua jornada de trabalho que a leva a pedir demissão de seu emprego. Neste caso, a situação é imoral, caracterizando em assédio moral, o que provavelmente levará a funcionário a procurar os seu direitos. Vejamos a situação seguinte, apontada por Srour: “empurrar uma pedra com o pé, brincando com um colega, não tem implicações morais, mas arremessá-la contra veículos em movimento tem. Além do delito, o ato recebe a desaprovação moral da coletividade”(SROUR, 2000, p.28) Uma outra situação relatada por este autor, no contexto organizacional: em uma empresa, conduzir uma reunião de trabalho considera-se um ato amoral, ou seja, é um fato neutro sem caráter moral. No entanto, para ter caráter moral, o fato de conduzir uma reunião deve ser qualificado, ou seja, deve ser algum juízo. Assim, conduzir uma reunião de trabalho e aproveitar a situação para apresentar exemplos edificantes de conduta ética aos participantes (funcionários, colaboradores, gerentes) considera-se um fato moral, de caráter positivo, tanto para os clientes internos como para os clientes externos, pois certamente esta ação irá repercutir e trazer aspectos positivos para a organização. Por outro lado, se esta reunião foi utilizada para fins fraudulentos, imprime-se um fato imoral, de caráter negativo. A fim de exemplificar a diferença entre o fato, moral, amoral e imoral, apresenta-se, no quadro a seguir, exemplos em que se busca comparar estas relações sociais. Assim, no quadro, apresentam-se situações moral (positivo), amoral (neutro) e imoral (negativo), apontados por Srour (2000, p.27), segundo os padrões de moral da integridade brasileira contemporânea: 29Conceitos fundamentais Relação Moral Relação Amoral Relação Imoral Tirar fotocópias de documentos próprios para ensinar alguém. Tirar fotocópias de documentos próprios. Tirar fotocópias de livro alheio sem o respectivo pagamento de direitos autorais. Estudar e esforçar-se para fazer uma boa prova, não esbanjando o dinheiro das mensalidades e não desperdiçando o seu próprio tempo e o do professor. Submeter-se a uma prova escolar. Colar durante a prova. Produzir produtos respeitando especificações técnicas, utilizando energias e matérias-primas que não degradem o meio ambiente e satisfaçam às necessidades dos clientes. Fabricar produtos para uso próprio. Piratear bens, ou adulterar sua composição. Utilizar o computador da organização em que trabalha, o mais eficientemente possível, para agregar valor a mesma. Utilizar o computador da organização em que trabalha. Utilizar o computador da organização em que trabalha, para usos pessoais, sem autorização. Quadro 1 – Padrões de moral e da integridade brasileira. Fonte: adaptado de SROUR, Robert Henry. Ética empresarial. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p.27. Partindo-se da visão de que ética é uma construção social, constituída dentro de um determinado universo de tempo, podemos afirmar que se baseia sobre as normas morais dos indivíduos, portanto, a ciência da moral. Neste sentido, ética constitui-se de um saber íntimo, que busca aprofundar seus estudos nos princípios gerais que orientam a conduta de uma sociedade ou grupo, objetivando alcançar o bem comum, ocupando-se da coletividade. Seu papel é o de conciliar os interesses individuais com os interesses sociais; estabelece princípios gerais e, como tal, não pode oferecer regras de condutas para cada ação que execute. Neste sentido, é orientadora, mesmo quando é expressa pela palavra “não”, ou seja, ela é normativa. 30 Conceitos fundamentais Atualmente, podemos pensar em “éticas” e não apenas um uma ética, pois vivemos num mundo multidimensional, onde somos multifacetados quanto aos vários princípios éticos. Ética, por sua amplitude, podemos agrupar nas seguintes definições: a) Pesquisa da natureza moral do ser humano com a finalidade de se descobrir quais são suas responsabilidades e quais os meios para cumpri-las. b) Ética, enquanto ciência ou filosofia da moral, é uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o significado dos valores morais. c) Ética é a busca pela verdade e o que o homem deve fazer à luz desta verdade descoberta d) Ética refere-se a princípios gerais que orientam a conduta das pessoas com o objetivo de alcançar o bem comum. e) Ética é a ciência da conduta humana, que visa a uma atuação social responsável. Já o sujeito moral é construído pela vida intersubjetiva e social, precisando ser educado para os valores morais e para as virtudes. Este sujeito age conforme seu entendimento sobre o que é o bem e o mal, o certo e o errado. Por outro lado, o direito trata-se da via jurídica, fundamenta-se em regras sociais positivas, expressas num código, zelado pelo Estado. Neste sentido, o direito usa a lei como instrumento coercitivo exterior para determinar quais ações são boas e quais são más. No quadro a seguir, apresenta-se a diferença entre moral, ética e direito. MORAL Lida com o Certo X Errado ÉTICA Lida com o Certo X Errado DIREITO Lida com o Certo X Errado Modo pessoal de agir Modo social de agir Modo legal de agir Normas e regras pessoais Normas e regras sociais Normas e regras legais Individual Grupal e/ou coletivo Estatal e jurídico É prática, ação É teórica, avaliativa É aplicativo 31Conceitos fundamentais MORAL Lida com o Certo X Errado ÉTICA Lida com o Certo X Errado DIREITO Lida com o Certo X Errado É adquirida e formada ao longo da vida, por experiências... Implica adesão íntima, já que a mesma existe previamente na sociedade, religião, cultura, profissão,implica adesão íntima. É imposta aos cidadãos; exige cumprimento, pois as leis já estão estabelecidas em códigos jurídicos (civil, penal). Implica obediência. É guiada pela consciência. Guiada pela cultura Guiada pelas instituições políticas Orienta e pune. Orientadora Punitiva Matéria-prima da ética Constrói-se a partir do consenso de várias “morais”. Estatiza (torna lei) um pensamento geral ou suprime a lei pela mudança de costumes Preventiva e saneadora Preventiva Corretiva e saneadora Quadro 2 – Diferença entre moral, ética e direito. Fonte: elaborado pelo professor Dr. Honor Neto. 2.2 Valor Como determinar o que é bom ou ruim, certo ou errado? Você saberia dizer: É certo roubar para matar a fome? Incentivar o desarmamento no Brasil é uma decisão correta ou errada para o país? Instituir a pena de morte em nosso país é bom ou ruim para nossa sociedade? Estas são questões que exigem pensar sobre juízos de valores. Envolve argumentar contra ou a favor, posicionar-se frente a debates sociais, crenças, princípios e valores. Outro conceito relevante para nosso estudo refere-se ao termo “valor”. Para Santos, atualmente a crise de valores em nossa sociedade atinge todas as áreas do saber humano. Segundo a autora, enquanto, no século XVIII, observou-se uma ruptura entre a casa e o local de trabalho, atualmente “a moral familiar é que se aparta da moral do trabalho” (SANTOS, 2003, p.98). Assim, segundo a autora, nas empresas o homem terá flexibilizar-se moralmente: 32 Conceitos fundamentais Ele terá que construir um “sistema aberto” e habitar a desordem, mostrando a capacidade de administrar os riscos. O termo “emprego” é substituído por projetos temporários e o remanejamento do pessoal é constante, resultando em convivência efêmera (SANTOS, 2003, p.98). Boff (2009) também aponta que atualmente vivemos uma “grave crise de valores”. Conforme este autor, “é difícil para a grande maioria da humanidade saber o que é correto e o que não é” (BOFF, 2009, p.27). Para Boff: Esse obscurecimento do horizonte ético redunda numa insegurança e numa permanente tensão nas relações sociais que tendem a se organizar mais ao redor de interesses particulares do que ao redor do direito e da justiça. (BOFF, 2009, p.27) O autor assinala que a crise de valores é agravada pela lógica da competição estabelecida pelo mercado que gera exclusão e a falta de cooperação entre os seres humanos. Boff alerta para o que constatou Eric Hobsbawm, na obra Era dos Extremos: “houve mais mudanças na humanidade nos últimos 50 anos do que desde a Idade Média” (BOFF, 2009, p.27). Com todas as mudanças que ocorreram em nosso planeta, em que se discute desde clonagem de animais e humana, uso ético da internet no ambiente empresarial, pedofilia, terrorismo, homossexualismo, entre outros temas atuais, como pensar em um discurso único sobre a ética? Neste sentido, Boff identifica duas vertentes que orientam a ética e a moral nas sociedades, até a atualidade: as religiões e a razão. Para Boff (2009), “as religiões continuam sendo os nichos de valor privilegiados para a maioria da humanidade” (BOFF, 2009, p.28). Já a razão, para este autor, “tentou estatuir códigos éticos universalmente válidos”: A fundamentação racional da ética e da moral (ética autônoma) representou um esforço admirável do pensamento humano desde os mestres gregos Sócrates, Platão, Aristóteles, Santo Agostinho, 33Conceitos fundamentais Tomás de Aquino, Immanuel Kant até os modernos Henri Bergson, Martin Heidegger, Hans Jonas, Jürgen Habermas, Enrique Dussel e, entre nós, Henrique de Lima Vaz e Manfredo Oliveira. (BOFF, 2009, p.29) Nesta perspectiva, Boff assinala que “a crise cria a oportunidade de irmos às raízes da ética e nos convida a descermos àquela instância na qual se formam continuamente valores” (BOFF, 2009, p.29). Boff (2009, p.30) assinala que a razão, “não é o primeiro nem o último momento da existência”. Na perspectiva apontada por este autor, da razão emerge a afetividade. Assim, a razão abre-se para o espírito, “que é o momento em que a consciência se sente parte de um todo e que culmina na contemplação e na espiritualidade” (BOFF, 2009, p.30). Neste sentido, Boff destaca que “a experiência de base não é: ‘penso, logo existo’, mas ‘sinto, logo existo’. Na raiz de tudo não está a razão (logos), mas a paixão (pathos)” (BOFF, 2009, p.30). Boff aponta que é pela paixão (pathos), que captamos o valor das coisas. Assim, segundo este autor, “o valor é o caráter precioso dos seres, aquilo que os torna dignos de serem e os faz apetecíveis. Só quando nos apaixonamos vivemos valores. E é por valores que nos movemos e somos” (BOFF, 2009, p.30). Para Nelson Saldanha (1998, p.41) todos os valores são políticos ou nascem da politicidade. Para este autor, a politicidade é “como um conjunto de concepções e de estruturas institucionais que circundam o ser humano e que dão sentido ao seu comportamento”. Neste sentido, o autor assinala que, “de certo modo, as religiões fazem parte deste conjunto, com o que os valores que têm raiz religiosa se fundam também naquelas estruturas” (SALDANHA, 1998, p.42). Assim, para este autor: a interpretação entre religião e moral se revela quando observamos o caráter ao mesmo tempo religioso e ético de certas noções ascese, pecado, culpa, fraternidade, comunidade. A referência a algo sagrado que penetra tais noções e lhes dá fundamento é correlata de seu cunho normativo e vinculante. (SALDANHA,1998, p.42) 34 Conceitos fundamentais Para Stephen Robbins (2004) os valores possuem “um elemento de julgamento baseado naquilo que o indivíduo acredita ser correto, bom ou desejável” (ROBBINS, 2004, p.16). Para este autor os valores são “identificados nos termos da importância relativa que atribuímos a valores como liberdade, prazer, autorrespeito, honestidade, obediência e justiça” (ROBBINS, 2004, p.16). Robbins (2004) destaca a relevância em compreender que os valores individuais variam entre si, desta forma esta constatação nos ajuda a entender, explicar e prever certos comportamentos dos indivíduos dentro de uma organização. Vejamos no quadro a seguir, alguns tipos de valores: Valores Características existenciais São aqueles que têm uma relação com a nossa permanência como seres humanos e também com a possibilidade da vida no planeta Terra. Representam a dignidade e a igualdade entre os seres humanos. Podem ser vitais ou econômicos. estéticos Estabelecem relação com a subjetividade e a manifestação do eu do indivíduo na construção de sua personalidade e de seu autoconceito. Os valores estéticos podem ser sensoriais ou artísticos. intelectuais Podem ser científicos ou culturais. Demonstram todo o potencial do ser humano em relação aos meios de transformação e de trabalho, produzindo a cultura, ou seja, eles compõem a capacidade do ser humano de produzir sua própria forma de sobrevivência. Essa tarefa de construção por meio do trabalho e da técnica produz o conhecimento científico. morais Podem ser éticos ou sociais e são ligados à formação do indivíduo e da comunidade, pois envolvem os princípios morais, os contextos sociais e as necessidades do indivíduo como membro de um grupo social. religiosos Esses valores estão relacionados com as formas de crenças, fé e esperança que temos para que possamos nos realizar como seres humanos à medida que realizamos os princípios de Deus na Terra. Os valores religiosos podem ser divinos ou profanos. Quadro 3 – Tipos de valores. Fonte: MATTOS, Airton Pozo. Ética e responsabilidade profi ssional, 2007, p.14. 35Conceitos fundamentais Reflexão Pesquise em uma organização os seus princípios ou valores e verifique como se posiciona em relação à ética e à responsabilidade social e ambiental.3 Ética e profissão Maria Claudia Rodrigues Neste capítulo é tratado o tema ética aplicado ao campo profissional. Trata-se, também, da atuação ética e da responsabilidade do indivíduo em relação à sua profissão e ao ambiente de trabalho. Espera-se que no final deste capítulo o aluno compreenda os desafios da construção de um sujeito ético, responsável para com a sua classe profissional, comunidade, clientes e ambiente de trabalho. 3.1 A ética e a responsabilidade profissional Para Morin (2011, p.19) “ser sujeito é se autoafirmar situando-se no centro do seu mundo, o que é literalmente expresso pela noção de egocentrismo”. Para este autor, o sujeito carrega consigo o princípio da inclusão e o da exclusão, enquanto um comanda o altruísmo, o outro comanda o egoísmo. Neste sentido, segundo Morin, “ser sujeito é associar egoísmo e altruísmo”. Assim, para Morin: todo olhar sobre a ética deve perceber que o ato moral é um ato individual de religação; religação com um outro, religação com uma comunidade, religação com uma sociedade e, no limite, religação com a espécie humana. (MORIN, 2011, p.21-22) 38 Ética e profi ssão Com a evolução dos estudos da ética, expandiu-se devido às mais diversas interpelações e começou a atuar em diferentes áreas, como, por exemplo, na área médica, na área da economia, na política, na comunicação, entre outras. Desta forma, passou a ser conhecida como “éticas aplicadas”: bioética, ética da informação, ética econômica e empresarial, ética dos negócios, ética da ciência e da tecnologia e ética das profissões. A expressão profissão significa “ato ou efeito de professar”1, ou, ainda, “atividade ou ocupação especializada, da qual se podem tirar os meios de subsistências”2. Para Lopes de Sá, na atualidade, o conceito de profissão significa: “trabalho que se pratica com habitualidade a serviço de terceiros, ou seja, prática constante de um ofício” (LOPES DE SÁ, 2001, p.130). Ao escolher uma profissão, um conjunto de deveres profissionais passa a fazer parte da rotina deste profissional. Ao completar a sua formação profissional, o indivíduo faz um juramento e compromete-se com sua categoria profissional onde irá ingressar. Conforme Glock e Goldim, este ato “caracteriza o aspecto moral da chamada ética profissional, esta adesão voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais adequadas para o seu exercício” (GLOCK e GOLDIM, 2005, p.2). Para Antonio Lopes de Sá (2001) a profissão tem utilidade para o indivíduo, e constitui-se de uma expressão social e moral. Na perspectiva deste autor a profissão “como exercício habitual de uma tarefa, a serviço de outras pessoas, insere-se no complexo da sociedade como uma atividade específica”. Esta ação traz benefícios para quem pratica a profissão e para quem recebe os frutos do trabalho. Neste sentido, as relações de trabalho devem conter uma conduta condizente com os princípios éticos da classe social a que pertence o profissional. Para Lopes 1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. | Miniaurélio: o minidicionário da língua portuguesa. Curitiba: Ed. Positivo, 2008. 2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. | Miniaurélio: o minidicionário da língua portuguesa. Curitiba: Ed. Positivo, 2008. 39Ética e profi ssão de Sá (2001, p.137) o comportamento dos profissionais pode ser observado em diversas modalidades em que se processa, tais como: • perante o conhecimento; • perante o cliente; • perante o colega; • perante a classe; • perante a sociedade; • perante a pátria; • perante a própria humanidade como conceito global. 3.2 Ética aplicada Para Antonio Lopes de Sá os deveres do profissional são “todas as capacidades necessárias ou exigíveis para o desempenho eficaz da profissão” (SÁ, 2001, p.148). Neste sentido, a ética profissional refere-se a algo mais amplo, enquanto “a ética profissional aplicada a determinada profissão, como algo mais restrito” (SÁ, 2001, p.148). Assim, podemos falar de uma ética aplicada à contabilidade, ou à gestão financeira. Segundo este autor, após a escolha por uma profissão, “inicia- se um compromisso entre o indivíduo e o trabalho que se propõe a realizar. Tal compromisso, essencial, está principalmente volvido para a produção com qualidade” (SÁ, 2001, p.149). O autor também aponta que o profissional tem o dever de conhecer a sua profissão e a tarefa que irá realizar, e, além de saber executá-la com qualidade, é necessário a prática de uma conduta lastreada em valores. Assim, a escolha pela profissão envolve deveres: de conhecer a profissão (conhecimento); dever de executar a profissão de forma adequada (qualidade). Segundo este autor, após a eleição de uma profissão, a pessoa se compromete “com todo um agregado de deveres éticos, pertinentes e compatíveis com a escolha da tarefa a ser desempenhada” (SÁ, 2001, p.148). Assim, o autor aponta que se deve “consultar a consciência”, para sabermos se a tarefa nos agrada e se temos condições de realizá-la. Sá assinala que não basta escolher a profissão, é preciso estar estimulado a exercer as tarefas e identificar-se com a profissão escolhida. Sá destaca um trecho da vida de Mozart, para exemplificar a eleição 40 Ética e profi ssão de uma tarefa habitual, que para este autor deve ser natural, “precisa fluir como algo que traz bem-estar, e não uma obrigação imposta que se faz pesada e da qual se deseja logo se livrar” (SÁ, 2001, p.150). No quadro a seguir, destaca-se um trecho que ilustra o pensamento de Sá (2001), em relação à capacidade de escolha: Capacidade de escolha Esta saga didática, sobre a capacidade de escolha, atribui-se à vida de Mozart e à de um aluno que lhe perguntava sempre o que deveria compor, ao que o mestre respondia: “É preciso esperar”. Um dia, o aluno, impaciente, retrucou afirmando que ele, Mozart, já compunha aos cinco anos de idade, ao que o gênio da música respondeu: “Mas eu nunca perguntei a ninguém sobre o que deveria compor”. Quadro 4 – Capacidade de escolha. Fonte: SÁ, Antonio Lopes de. Ética profi ssional, 2001, p.150. O autor assinala: “Quando a seleção da tarefa está de acordo com uma consciência identificada com a escolha, dificilmente ocorrem as transgressões éticas, porque estas seriam violações da vontade, contrárias ao próprio ser” (SÁ, 2001, p.150). Para este autor, o dever da execução de tarefas também deve estar atrelado às virtudes exigíveis, que envolvem “as virtudes do ser aplicadas ao relacionamento com pessoas, com a classe, com o Estado, com a sociedade, com a pátria” (SÁ, 2001, p.153). Este autor assinala como virtudes básicas de um profissional o zelo, a honestidade, o sigilo e a competência. Complementares a estas virtudes estão: a virtude de orientação e assistência ao cliente, que deve ser realizada de forma ética; a virtude do coleguismo, que se fundamenta na fraternidade profissional, baseada nos preceitos da moral e do direito; a ética classista, que busca difundir o conhecimento, incluindo a atuação do profissional em funções de pesquisas de literatura, de magistério, entre outras; a ética e remuneração; a ética da resposta. Sá também assinala o dever com o micro e o macrossocial, pois é necessário ter uma visão de toda a sociedade que nos cerca: 41Ética e profi ssão Quando a consciência profissional se estrutura em um trígono, formado pelos amores à profissão, à classe e à sociedade, nada existe a temer quanto ao sucesso da conduta humana; o dever passa a ser uma simples decorrência das convicções plantadas nas áreas recônditas do ser, ali depositadas pelas formações educacionais sadias. (SÁ, 2001, p.159) Conforme o autor, “os deveres impõem-se e passam a governar a ação do indivíduo perante seu cliente, seu grupo, seus colegas, a sociedade, o Estado e especialmente perante sua conformação metal e espiritual” (SÁ,2001, p.148). 3.3 O profissional no ambiente de trabalho Para Sá, “o profissional, como empregado, tem sua ética voltada ao compromisso com as finalidades empresariais ou institucionais específicas, em geral, e, em especial, dentro dos limites de sua responsabilidade e autoridade” (2001, p.168). Conforme Srour (2000), citando Max Weber, existem duas teorias éticas: a ética da convicção e a ética da responsabilidade. A ética da convicção, também entendida como deontologia, diz respeito ao cumprimento de obrigações. Segundo Srour, esta é uma teoria em que a ética “se pauta em valores e normas previamente estabelecidos, cujo efeito primeiro consiste em moldar as ações que deverão ser praticadas” (SROUR, 2000, p.51). Segundo este autor, a deontologia, divide-se em duas vertentes, a do princípio e a da esperança: A do princípio, que se atém rigorosamente às normas estabelecidas, num deliberado desinteresse pelas circunstâncias, e cuja máxima sentencia: “Respeite as regras haja o que houver”. A da esperança, que se ancora em ideais, moldada por uma fé capaz de mover montanhas, e cuja máxima preconiza: “Os sonhos antes de tudo”. (SROUR, 2000, p.51) 42 Ética e profi ssão Conforme o autor, essas duas vertentes “correspondem a modulações de deveres, preceitos, dogmas ou mandamentos introjetados pelos agentes ao longo dos anos” (SROUR, 2000, p.51). Neste sentido, o autor assinala que, “embora as obrigações se imponham aos agentes, estes não perdem seu livre-arbítrio e, portanto, podem escolher seguir outros caminhos, diferentes daqueles dos imperativos morais. Por outro lado, o autor destaca que “os códigos morais traduzem valores, normas e vão sendo aplicados pelos agentes a situações concretas (...), que servem como manuais de instruções a seguir nas mais diversas ocorrências” (SROUR, 2000, p.51). Vejamos, no quadro a seguir, o exemplo dado por este autor para a ética da convicção: O cônsul português Aristides de Souza Mendes, lotado no porto francês de Bordeaux, preferiu ter compaixão a obedecer cegamente a seu governo e regeu seu comportamento pela ética da convicção. Priorizou a seus riscos e custos um valor em relação ao outro. Diante do avanço do exército alemão, em junho de 1940, salvou a vida de 30 mil pessoas, entre as quais 10 mil judeus, ao emitir vistos de entrada em Portugal a qualquer um que pedisse, num ritmo frenético. Quadro 5 – Ética da convicção. Fonte: SROUR, 2000, p.51. Já a ética da responsabilidade, conhecida como teleologia, diz respeito a nossa responsabilidade por tudo que fazemos. Neste sentido, Srour assinala que “os agentes avaliam os efeitos previsíveis que uma nação produz; contam obter resultados positivos para a coletividade; e ampliam o leque de escolhas” (SROUR, 2000, p.52). Nesta abordagem decisões de ordem política e financeira são tomadas, a fim de evitar um mal maior para uma coletividade. No quadro a seguir, duas situações em que se preconizou a ética da responsabilidade, destacada por Srour: 43Ética e profi ssão A) Diante da queda acentuada das receitas, um dos cenários possíveis é o da forte redução das despesas com o consequente corte de pessoal. O que fazer? Manter o dispêndio representado pela folha de pagamento e agravar a crise (talvez até pedir concordata), ou diminuir o desembolso e devolver à empresa o fôlego necessário para tentar ficar à tona na tormenta? Vale dizer, cabe ou não sacrificar alguns tripulantes para tentar assegurar sobrevida ao resto da tripulação e ao próprio navio? E o que mais interessa do ponto de vista social? Uma empresa que feche as portas ou uma empresa que gere riquezas? B) Acossada por uma dívida de cerca de 250 milhões de dólares, a Arisco – uma das mais importantes empresas de alimentos do país, sediada em Goiânia, vendeu fábricas velhas e terrenos. Desfez a sociedade com a Visagis (dona da Visconti) e, com ela, sua participação na Fritex. Interrompeu um acordo de distribuição dos inseticidas SBP, mantido com a Clorox, e reduziu o número de funcionários de 8.200 para 5.800. Às vésperas de alcançar seu primeiro bilhão de reais em vendas anuais, a Arisco estava se preparando para acolher um novo sócio e virtual controlador. Por isso teve de aliviar o excesso de carga e ficar enxuta. Em fevereiro de 2000, a empresa foi comprada pelo grupo norte-americano Bestfoods, um dos maiores do mundo no setor de alimentos, por US$ 490 milhões. A Bestfoods também assumiu o passivo de US$ 262 milhões. Ao transferir o controle para uma companhia mundial, a família Queiroz explicou que a Bestfoods poderia dar sustentação aos planos de expansão da Arisco, além de guardar simetria e coincidência de métodos em relação à estratégia empresarial adotada pelo grupo goiano. Quadro 6 – Ética da responsabilidade. Fonte: SROUR, 2000, p.51. As duas situações descritas referem-se à ética da responsabilidade, que, segundo Srour (2000, p.54), busca analisar “as situações concretas e antecipa as repercussões que uma decisão pode provocar” em relação à coletividade. Conforme o autor, a ética da responsabilidade divide-se em utilitarista e da finalidade. Segundo Srour (2000, p.54), a vertente utilitarista “exige que as ações produzam o máximo de bem para o maior número (...), que possam combinar o critério da eficácia com a maior abrangência populacional (equidade)”. Já na vertente da finalidade, segundo este autor, trata de “determinar que a bondade dos fins justifica as ações empreendidas e dispõe que todas as medidas necessárias serão tomadas” (SROUR, 2000, p.54). 44 Ética e profi ssão No quadro a seguir, apresentam-se as duas teorias assinaladas por Srour: Ética da convicção Ética da responsabilidade Decisões decorrem da aplicação de uma tábua de valores preestabelecidos. Decisões decorrem de deliberação, em função de uma análise das circunstâncias. Máxima: “Faça algo porque é um mandamento”. Máxima: “Somos responsáveis por aquilo que nossos atos provocam”. Vertente de princípio: “Respeite as regras haja o que houver”. Vertente da finalidade: “Alcance os objetivos custe o que custar”. Vertente da esperança: “Os sonhos antes de tudo”. Vertente utilitarista: “Faça o maior bem para mais gente”. Quadro 7 – Ética da convicção e da responsabilidade. Fonte: SROUR, 2000, p.55. A partir destas duas teorias, a ética da convicção e a da responsabilidade fundamentam-se nas tomadas de decisões. Vejamos situações destacadas por Srour (2000), na perspectiva destas duas teorias. No quadro a seguir, apresentamos alguns exemplos assinalados por Srour (2000), em que a tomada de decisão se dá a partir da ética da convicção: Como sou mãe, devo cuidar dos meus filhos e tenho de dedicar-me à família. Como sou brasileiro, sinto-me obrigado a amar a minha pátria e defendê-la se ela for agredida. Como sou empregado, tenho de vestir a camisa da empresa. Como sou aluno, cumpre-me respeitar os meus mestres e seguir as orientações de minha escola. Como tenho compromisso marcado, não posso me atrasar. Quadro 8 – Ética da convicção. Fonte: SROUR, 2000, p.58. Para Srour, os imperativos na teoria da convicção referem-se à hipótese de que uma autoridade superior avalizou tais preceitos, no que tange às “revelações divinas, sagradas escrituras, ensinamentos da Igreja ou dos mais velhos, costumes imemoriais que definem o que é apropriado fazer e o que não é apropriado fazer, credos organizacionais” (SROUR, 2000, p.58). 45Ética e profi ssão Por outro lado, na perspectiva de quem se orienta por uma ética da responsabilidade, Srour (2000) assinala algumas situações comparativas com a ética da convicção, conforme o quadro 9, a seguir: • Como tenho um compromisso marcado, vale a pena não me atrasar; caso contrário, irei comprometer a atividade que me confiaram, posso prejudicar a firma que me empregae isso pode afetar minha carreira. • Como sou aluno, é sensato não perturbar as aulas, concentrar-me nos estudos e respeitar as regras vigentes; caso contrário, isso vai atrapalhar os outros e, por extensão, pode me criar problemas. • Como sou motorista, é de interesse – meu e dos demais – que existam regras de trânsito e que sejam obedecidas, para circular em paz, evitar acidentes e não correr riscos de vida. • Como sou empregado, é importante me empenhar com seriedade para não atrapalhar o serviço dos outros, comprometer os resultados a serem alcançados e minha promoção, ou provocar sem pensar minha própria demissão. • Como sou brasileiro, faz sentido ser patriota, principalmente se minha conduta puder contribuir para o país e me fizer sentir fazendo parte da mesma identidade com meus conterrâneos. Quadro 9 – Ética da responsabilidade. Fonte: SROUR, 2000, p.59. 3.4 Códigos de ética profissional Em nossa sociedade existem diversos códigos de ética profissional, que servem para reger um grupo social. Seja de administradores, médicos, jornalistas, arquitetos, engenheiros, funcionários públicos, entre outros. Neste sentido, é possível falarmos de uma moral profissional na medida em que ocorrem relações entre os profissionais de hierarquias diferentes (dirigentes e subalternos) ou de mesmas hierarquias. Assim, é necessário um código de ética que reja uma profissão. Os códigos de ética profissionais são organizados pelos Conselhos Regionais Profissionais que estabelecem seus próprios códigos. No caso de profissionais que trabalham como empregados, estes devem seguir tanto seus códigos de ética profissional regional como o código de ética da empresa em que atuam. A seguir, apresenta-se o código de ética do profissional administrador de empresas. 46 Ética e profi ssão Código de Ética Profissional do Administrador3 (Aprovado pela Resolução Normativa CFA n. 353, de 9 de abril de 2008) PREÂMBULO I – De forma ampla a ética é definida como a explicitação teórica do fundamento último do agir humano na busca do bem comum e da realização individual. II – O exercício da profissão de administrador implica compromisso moral com o indivíduo, cliente, empregador, organização e com a sociedade, impondo deveres e responsabilidades indelegáveis. III – O Código de Ética Profissional do Administrador (CEPA) é o guia orientador e estimulador de novos comportamentos e está fundamentado em um conceito de ética direcionado para o desenvolvimento, servindo simultaneamente de estímulo e parâmetro para que o administrador amplie sua capacidade de pensar, visualize seu papel e torne sua ação mais eficaz diante da sociedade. CAPÍTULO I – DOS DEVERES Art. 1º São deveres do administrador: I – exercer a profissão com zelo, diligência e honestidade, defendendo os direitos, bens e interesse de clientes, instituições e sociedades sem abdicar de sua dignidade, prerrogativas e independência profissional, atuando como empregado, funcionário público ou profissional liberal; II – manter sigilo sobre tudo o que souber em função de sua atividade profissional; III – conservar independência na orientação técnica de serviços e em órgãos que lhe forem confiados; 3 Disponível em: http://www.cfa.org.br/arquivos/selecionaitem.php?p=selecionaitem. | php&coditem=63, acessado em: 20/6/2011, às 19h47in. Aprovado na 5ª reunião plenária do CFA, realizada no dia 4 de abril de 2008. Adm. Roberto Carvalho Cardoso – presidente do CFA – CRA/ SP n. 097. 47Ética e profi ssão IV – comunicar ao cliente, sempre com antecedência e por escrito, sobre as circunstâncias de interesse para seus negócios, sugerindo, tanto quanto possível, as melhores soluções e apontando alternativas; V – informar e orientar o cliente a respeito da situação real da empresa a que serve; VI – renunciar, demitir-se ou ser dispensado do posto, cargo ou emprego, se, por qualquer forma, tomar conhecimento de que o cliente manifestou desconfiança para com o seu trabalho, hipótese em que deverá solicitar substituto; VII – evitar declarações públicas sobre os motivos de seu desligamento, desde que do silêncio não lhe resultem prejuízo, desprestígio ou interpretação errônea quanto à sua reputação; VIII – esclarecer o cliente sobre a função social da organização e a necessidade de preservação do meio ambiente; IX – manifestar, em tempo hábil e por escrito, a existência de seu impedimento ou incompatibilidade para o exercício da profissão, formulando, em caso de dúvida, consulta ao CRA no qual esteja registrado; X – aos profissionais envolvidos no processo de formação do administrador, cumpre informar, orientar e esclarecer sobre os princípios e normas contidas neste Código. XI – cumprir fiel e integralmente as obrigações e os compromissos assumidos, relativos ao exercício profissional; XII – manter elevados o prestígio e a dignidade da profissão. CAPÍTULO II – DAS PROIBIÇÕES Art. 2º É vedado ao administrador: I – anunciar-se com excesso de qualificativos, admitida a indicação de títulos, cargos e especializações; II – sugerir, solicitar, provocar ou induzir divulgação de textos de publicidade que resultem em propaganda pessoal de seu nome, méritos ou atividades, salvo se em exercício de qualquer cargo ou missão, em nome da classe, da profissão ou de entidades ou órgãos públicos; 48 Ética e profi ssão III – permitir a utilização de seu nome e de seu registro por qualquer instituição pública ou privada onde não exerça pessoal ou efetivamente função inerente à profissão; IV – facilitar, por qualquer modo, o exercício da profissão a terceiros, não habilitados ou impedidos; V – assinar trabalhos ou quaisquer documentos executados por terceiros ou elaborados por leigos alheios à sua orientação, supervisão e fiscalização; VI – organizar ou manter sociedade profissional sob forma desautorizada por lei; VII – exercer a profissão quando impedido por decisão administrativa do Sistema CFA/CRAs transitada em julgado; VIII – afastar-se de suas atividades profissionais, mesmo temporariamente, sem razão fundamentada e sem notificação prévia ao cliente ou empregador; IX – contribuir para a realização de ato contrário à lei ou destinado a fraudá- la, ou praticar, no exercício da profissão, ato legalmente definido como crime ou contravenção; X – estabelecer negociação ou entendimento com a parte adversa de seu cliente, sem sua autorização ou conhecimento; XI – recusar-se à prestação de contas, bens, numerários, que lhes sejam confiados em razão do cargo, emprego, função ou profissão, assim como sonegar, adulterar ou deturpar informações, em proveito próprio, em prejuízo de clientes, de seu empregador ou da sociedade; XII – revelar sigilo profissional, somente admitido quando resultar em prejuízo ao cliente ou à coletividade, ou por determinação judicial; XIII – deixar de cumprir, sem justificativa, as normas emanadas dos Conselhos Federal e Regionais de Administração, bem como atender às suas requisições administrativas, intimações ou notificações, no prazo determinado; XIV – pleitear, para si ou para outrem, emprego, cargo ou função que esteja sendo ocupado por colega, bem como praticar outros atos de concorrência desleal; 49Ética e profi ssão XV – obstar ou dificultar as ações fiscalizadoras do Conselho Regional de Administração; XVI – usar de artifícios ou expedientes enganosos para obtenção de vantagens indevidas, ganhos marginais ou conquista de contratos; XVII – prejudicar, por meio de atos ou omissões, declarações, ações ou atitudes, colegas de profissão, membros dirigentes ou associados das entidades representativas da categoria. CAPÍTULO III – DOS DIREITOS Art. 3º São direitos do administrador: I – exercer a profissão independentemente de questões religiosas, raça, sexo, nacionalidade,