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Introdução - 04 Classificação das células - 05 Estrutura da membrana plasmática - 07 Citoplasma e sistemas de endomembranas - 16 Núcleo e a expressão gênica - 23 Sinalização celular - 31 Comunicação por junções celulares - 35 SUMÁRIO Disciplina 1 Introdução à fisiologia celular - Células procarióticas - 05 - Células eucarióticas - 06 - Lipídeos de membrana - 08 - Proteínas de membrana - 09 - Transporte de solutos - 10 - Compartimentos intracelulares - 16 - Sistema de endomembranas - 17 - Transporte de proteínas para o retículo endoplasmático - 19 - Transporte de proteínas do retículo endoplasmático para o aparelho de golgi - 21 - Estruturas do núcleo celular - 23 - Expressão gênica - 27 - Mensageiros intercelulares - 31 - Tipos de sinalização - 32 - Receptores celulares - 33 FUNDAMENTOS DA BIOQUÍMICA Todos os sistemas biológicos são isotérmicos e necessitam de energia química para induzir os processos que mantem a vida. Neste sentido, é valido comentar também que, ao contrário do que se é constantemente interpretado, os organismos vivos não estão em equilíbrio (homeostase). Do ponto de vista físico (e que neste caso se aplica a bioquímica também), é observado a necessidade de um influxo contínuo de energia livre para manter a ordem em um universo que sempre tende a desordem. QUADRO 1.1 Em uma visão evolucionista, alguns órgãos desenvolveram adaptação que hoje são chamadas de sentidos. Os olhos captam energia eletromagnética, enquanto a audição e o tato funcionam interpretando a energia mecânica imposta sobre, respectivamente, tímpano e pele. A olfação e a gustação tem como característica a percepção de estímulos químicos. O sistem sensorial e a energia Assim, os macronutrientes carboidratos, proteínas e gorduras possuem papel fundamental neste processo, tanto para transferir energia quanto na formação endógena de polímeros específicos (por exemplo a formação do polímero de glicogênio através de moléculas de glicose). Os micronutrientes, por outro lado, não exercem papel direto na aquisição e utilização de energia, e sim na otimização do funcionamento do organismo através da participação nos processos como cofatores e coenzimas. Micronutrientes Vitaminas, minerais, fitoquímicos e outros Macronutrientes Carboidratos, gorduras e proteínas Doenças Variações genéticas Drogas Toxinas VIAS DE SINALIZAÇÃO ESTADO DE SAÚDE FISILÓGICO E PSICOLÓGICO Energia (ATP) Reparo tecidual Moléculas bioativas Detoxificação Dentro do que foi exposto incialmente, é válido expor a importância da compreensão das vias metabólicas que regem o metabolismo. As vias metabólicas são descritas como uma série de reações enzimáticas consecutivas, que produzem produtos específicos. Controle fisiológico ALIMENTAÇÃO Dentro do que foi exposto incialmente, é válido expor a importância da compreensão das vias metabólicas que regem o metabolismo. As vias metabólicas são descritas como uma série de reações enzimáticas consecutivas, que produzem produtos específicos. Nesta disciplina será abordado os conceitos que envolvem as vias de sinalização celular, construindo a base necessária para a compreensão dos mecanismos bioquímicos que envolvem as reações metabólicas. Aqui, é possível afirmar que as vias de sinalização são alterações bioquímicas responsáveis por direcionar o funcionamento celular, visando a adaptação ao contexto. As células possuem a necessidade de ditar e receber e responder a comandos. Os comandos essenciais das células envolvem a sobrevivência (estímulos para que sobrevivam e continuem funcionais) crescimento, divisão, diferenciação e até a morte (apoptose). COMUNICAÇÃO CELULAR E SEGUNDOS MENSAGEIROS A B C A B C D E A B C F G So br ev iv er Cr es ce r e se d iv id ir D ife re nc ia r- se M or re r Célula apoptótica TIPOS DE COMUNICAÇÃO Na disciplina anterior os conceitos sobre comunicação celular foram abordados de forma aprofundada. Aqui, cabe ainda uma pequena revisão sobre os conceitos já mencionados, visando a consolidação do aprendizado sobre os tipos de sinalização que envolvem as células. Assim, os tipos de sinalização celular são dividios, de maneira didática, de acordo com o local de ação. Uma sinalização dita como autócrina ocorre quando a célula emite um sinal que é direcionada para a própria célula, ou em suas células vizinhas idênticas. Por outro lado, se uma célula atua secretando um mensageiro para células próximas, porém distintas, é descrito uma sinalização do tipo parácrina. Uma comunicação do tipo neuronal ocorre na liberação de neurotransmissores, enquanto uma endócrina é caracterizada por substâncias químicas liberadas na corrente sanguínea, atingindo alvos distantes. A sinalização neuroendócrina ocorre quando um neurônio produz um hormônio, que é rapidamente liberado na corrente sanguínea. Vale destacar que estas classificações são didáticas. Portanto, não existem substâncias que atuem exclusivamente por um único tipo de comunicação. TRANSDUÇÃO DE SINAL Outro conceito muito bem abordado na disciplina anterior é a transdução de sinal, que pode ser descrita como a capacidade das células de receberem e realizarem a tradução do sinal (estímulo) - recebido da interação ligante-receptor - em um efeito (resposta bioquímica) equivalente visando a adaptação e homeostase. A função da transdução de sinal é detectar e quantificar um estímulo específico em uma região da célula e gerar uma resposta equivalente no tempo certo e na medida certa em outra região. Respostas bioquímicas rápidas Com relação à velocidade de resposta da sinalização celular, podemos dividir entre rápidas e lentas. As repostas rápidas geram alterações na atividade ou função de enzimas específicas e outras proteínas já existentes no interior da célula, como canais e transportadores. Este tipo de resposta normalmente ocorre através de fosforilação ou ligação de segundos mensageiros, ou seja, alterando o nível de atividade enzimática através de modificações alostéricas. Receptores são macromoléculas (ou parte desta) que possui a capacidade de reconhecer e interagir com uma substância química, interpretar o sinal gerado pela substância e desencadear uma cadeia de eventos que leve a alterações bioquímicas e/ou fisiológicas. Respostas bioquímicas lentas São mudanças nas quantidades de proteínas específicas que visam adaptações a longo prazo, e não à sobrevivência imediata a situações pontuais. Normalmente ocorrem por meio de modificação de fatores de transcrição que estimulam ou reprimem a expressão gênica. RECEPTORES Acoplados a proteína G Associados a enzimas Ativadores de vias de sinalização Canais iônicos Transportador RECEPTORES Receptores acoplados à proteína G Os receptores acoplados à proteína G realizam uma grande parte das transduções de sinais que ocorrem na célula. Esses receptores representam uma família grande e complexa de proteínas que estão localizados na membrana. Em termos mais aprofundados, essas proteínas complexas atravessam completamente a bicamada lipídica em 7 pontos. AMPc Proteína G Proteína cinase A Proteína fosforilada Resposta celular Adenilato ciclaseA molécula sinalizadora liga-se ao receptor acoplado à proteína G (GPCR), que ativa a proteína G A proteína G ativa a adenilato-ciclase, uma enzima amplificadora A adenilato-ciclase converte ATP em AMP cíclico O AMPc ativa a proteína-cinase A A proteína-cinase A fosforila outras proteínas, levando, por fim, a uma resposta celular Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 1 2 3 4 5 O nome "proteína G" vem da intrínseca característica que esta família tem em se ligar aos nucleotídeos de guanosina. IP3 Fosfolipídeos de membrana DAG PKC Ca²+ Ca²+Estoquesde cálcio Proteína Pi Resposta celular Proteína fosforilada 1 2 3 4 5 A molécula sinalizadora ativa receptor acoplado a proteína G A proteína G ativa a fosfolipase C (PLC)A PLC converte fosfolipídeos de membrana em DAG e IP3 O DAG ativa a proteína- cinase C (PKC) O IP3 estimula a liberação de Ca²+ do retículo Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3 Etapa 4 Etapa 5 O mecanismo de sinalização desta família de receptores é baseado em ativar proteínas amplificadoras, como a a adenilato- ciclase (por meio da isoforma de proteína Gs) e a fosfolipase C (através da isoforma de proteína Gq). Outras isoformas famosas de proteína G são a Gi (inibe a fosfodiesterase) e a G12,13 alfa. PLC + Receptor Guanilato Ciclase Receptor Serina/ Treonina Quinase Receptor Tirosina quinase Receptor Associado à quinase Dá-se o nome de segundos mensageiros a moléculas sinalizadoras intracelulares com baixo peso molecular, as quais são responsáveis por transmitir e amplificar os sinais dos receptores de membrana para outras proteínas. Isso ocorre através da ligação destas moléculas a estas proteínas específicas, levando à modificação de sua atividade. É importante deixar claro que esta classificação é arbitrária, ou seja, a molécula em questão pode ter diversas funções que vão além de servir como segundos mensageiros. Receptores associados a enzimas Os principais receptores desta classe incluem os associados à guanilato-ciclase, serina/treonina-quinase, tirosina-cinase e outros receptores associados a quinases. Receptores intracelulares Dentro desta classe de encontram-se os receptores presentes no citoplasma e os presentes no núcleo. SEGUNDOS MENSAGEIROS Mensageiro 1 Mensageiro 1 Mensageiro 2 Mensageiro 2 QUADRO 1.2 Além de um íon, o cálcio atua também como cofator de reações enzimáticas. Atua também em ligantes para receptores, participante em atividades de exocitose, contração muscular e abertura de canais. A versatilidade do cálcio A seguir, estão relacionadas as moléculas sinalizadoras e suas respectivas informações a respeito do papel transdução de sinal. AMPc GMPc IP3 DAG Ca²+ Segundo mensageiro Nucleotídeos Sintetizado a partir de Enzima amplificadora Ação e efeitos ATP GTP Fosfolipídeos de membrana Adenilato-ciclase (membrana). Guanilato-ciclase (membrana). Guanilato-ciclase (citosol). Fosfolipase C (membrana). Ativa proteínas-cinase (ex. PKA). Liga-se a canais iônicos Ativa proteínas, como aPKG. Liga-se a canais iônicos. Libera Ca²+ no citosol Ativa proteína-cinase C Liga-se à calmodulina e outras proteinas, alterando a atividade enzimática. Exocitose, contração muscular, movimento do citoesqueléto, abertura de canais. Nucleotídeos Íons Divergência Um ligante pode possuir mais de um subtipo de receptor, o qual por sua vez pode gerar mais de um efeito celular. Assim, um mesmo ligante, ao se ligar em receptores diferentes pode exercer efeitos diferentes. Esta adaptação nos permite exercer respostas diferentes em regiões diferentes. Como por exemplo, durante uma atividade física os vasos sanguíneos do músculo esquelético devem responder com vasodilatação em resposta à adrenalina para que seja aumentada a oferta de oxigênio e nutrientes para esta região. Já nas artérias renais, a resposta à adrenalina deve ser contrária neste contexto, para que seja “desviado” o sangue para os órgãos mais necessários no momento (músculo e cérebro). ACETILCOLINA Músculo esquelético Receptor nicotínico N M Contração muscular Músculo cardíaco Receptor muscarínico M2 Relaxamento muscular ADRENALINA Vaso sanguíneo Receptor α Adrenérgico1 Contração muscular Vaso sanguíneo Receptor β Adrenérgico2 Relaxamento muscular Convergência Ao contrário do que acontece na divergência, a convergência é quando mais de um ligante atua nos seus receptores gerando o mesmo padrão de resposta (efeito). As vantagens dessa adaptação envolvem a realização de uma determinada resposta em contextos fisiológicos diferentes - como é o caso da glicogenólise nos hepatócitos na presença de glucagon (liberado por situações de falta de energia - glicose) e adrenalina (liberada em decorrência de situações de luta ou fuga). Além disso, existe uma redundância fisiológica , pois serve para proteger o funcionamento do organismo na falta e/ou falha nas respostas de um determinado ligante. Um exemplo de quão ruim seria se não houvesse a redundância pode ser observado no efeito hipoglicemiante da insulina. Sendo este o único hormônio com essa função, sua ausência e/ou falha na sinalização leva à hiperglicemia, cuja qual o organismo não é capaz de compensar por meio de outros hormônios, desencadeando o que conhecemos como Diabetes Mellitus. GLUCAGON ADRENALINA AC ACAMPC AMPCGLICOGÊNIO FOSFORILASE GLICOGENÓLISE A partir do exemplo acima, nota-se também que a resposta para ligantes convergentes pode possuir velocidades diferentes. No caso do hepatócito, a adrenalina desencadeia respostas muito mais rápidas que o glucagon, devido à necessidade potencialmente extrema de aporte rápido de energia (independente dos níveis de glicemia). Cascatas de amplificação As vias de transdução geradas pelo estímulo do ligante no seu receptor formam uma cascata de amplificação deste sinal, otimizando a comunicação celular. Tal amplificação permite que uma resposta expressiva seja realizada em função de pequenas quantidades de sinalização. É através deste mecanismo que é possível realizar grandes efeitos com uma baixíssima concentração de hormônio. Modulação A modulação enzimática nos processos de sinalização consiste na ativação e desativação das vias, podendo ser realizada principalmente por duas formas distintas, as quais envolvem a fosforilação de proteínas ou ligação a GTP. Assim, é válido comentar também que o termo quinase (ou cinase) se refere a enzimas que transferem grupamento fosfato para outras proteínas, permitindo sua ativação. Ao passo que o termo fosfatase representa a situação oposta, removendo o grupamento fosfato e inativando a proteína como consequência. Molécula sinalizadora liga-se ao receptor de membrana Essa ligação leva à ativação de moléculas sinalizadoras intracelular (segundos mensageiros) Estas moléculas irão alterar as proteínas alvo Ocorre a resposta referente ao processo da sinalização. Sintetizando as informações oferecidas até então, é possível organizar resumidamente uma sequência de sinalização celular da seguinte forma: 1. 2. 3. 4. Cross-Talk Termo referente à interação entre vias de sinalização distintas. Estas ocorrem de forma natural quando na presença de mais de um hormônio atuando no mesmo tecido simultaneamente. Esta interação - a depender do contexto - pode levar a efeitos somáticos ou antagônicos (por exemplo: insulina e cortisol). ORGANIZAÇÃO GERAL À soma de uma vasta variedade de transformações químicas que ocorrem a nível celular, bem como dos tecidos a qual pertencem as células, dá-se o nome de metabolismo. Neste sentido, o metabolismo do ser vivo é representado pela soma de todas as rotas metabólicas catalisadas por enzimas, com a finalidade de gerar padrões constantes de energia a fim de produzir trabalho de forma eficiente e otimizada. Entende-se por catabolismo o conjunto das rotas que tem como finalidade a degradação de nutrientes em produtos finais simples para que assim sejam extraídas quantidades de energia que serão convertidas em formas úteis à célula. Este estado é mais expresso em condições de jejum, para a degradação de moléculas maiores com intuito de obter energia. CATABOLISMO Triacllgliceróis Glicogênio Intestinos (vazios) Glicose Ácidos graxos Corpos cetônicos PRINCÍPIOS GERAIS DO METABOLISMO Todas as células Neurônios ANABOLISMO O anabolismo pode ser conceituado como o conjunto de rotas metabólicas responsáveis pela conversão progressiva de moléculas menores em moléculas maiores e mais complexas, representando as fases de biossíntese. Este estado é mais expressivo durante o período prandial e pós-absortivo agudo. Triacllgliceróis Glicogênio Fígado Nutrientes absorvidos Ácidos graxosCorpos cetônicos Glicose Todas as células Neurônios Glicogênio Músculo METABOLISMO INTERMEDIÁRIO Atividades combinadas de todas as vias metabólicas de todas as células que interagem. Tanto o anabolismo quanto o catabolismo ocorrem simultaneamente, não possuindo exclusividade independente do contexto, sendo o ATP o principal elo entre os dois. Neste ponto cabe ressaltar também que o ATP é uma molécula produzida sob demanda (sua produção varia de acordo com a necessidade imediata) não sendo possível armazenar naturalmente na sua forma. AMPK (proteína-quinase dependente de AMP) É um grande sensor energético intracelular responsável por indicar os níveis de energia disponíveis na célula. Esse complexo proteico atua estimulando fortemente as vias metabólicas de cunho catabólico, proprocionando um aumento de substrato para a produção de ATP. As vias anabólicas, por outro lado, são atenuadas, levando a uma "economia" do uso de ATP no ambiente celular. α2 γ β ATP Adenosina trifosfato ADP Adenosina difosfato Assim, a produção em excesso (maior energia disponível para um menor consumo) é armazenada na forma de outras moléculas complexas, sendo elas glicogênio, ácido graxo e proteínas estruturais. Assim, sua utilização e armazenamento possuem relação direta com os mecanismos de catabolismo e anabolismo. VIAS DE SINALIZAÇÃO IMPORTANTES PARA O METABOLISMO AMP Adenosina monofosfato Catabolismo Consumo de ATP Adenilato quinase A AMPK é fortemente ativada pelas baixas concentrações de ATP no ambiente intracelular. A utilização de ATP como moeda energética funciona através da quebra das ligações de fosfato de alta energia. Dentro deste contexto, a hidrólise destas ligações transforma um ATP (trifosfato de adenosina) em ADP (difosfato de adenosina). O ATP pode ser rapidamente regenerado por meio de duas moléculas de ADP. A enzima adenilato quinase atua transferindo o grupamento fosfato de um ADP para outro ADP, gerando um ATP e um AMP (monofosfato de adenosina). AMPk CaMKKβ α γ β M O 25 ST RA D LKB1 α γ β AMP AMPK (inativa) AMPK (ativa)AMP AMP ATP ADP Essa troca de fosfatos permite uma manutenção aguda dos níveis de ATP, porém, as custas de um aumento nas concentrações de AMP. O AMP, portanto, atua como um sinalizador de elevado uso de ATP no ambiente da célula, gerando a necessidade mecanismos compensatórios que possam favorecer as vias de catabolismo e geração de mais ATP. Ativação de quinases Ativação de fosfatases P Captação de glicose Lipóise Glicólise β-Oxidação Metabolismo mitocondrial Biogênese mitocondrial Autofagia Síntese de ácidos graxos Síntese de triacilgliceróis Síntese de esteróides Síntese de glicose e glicogênio Síntese de RNAr Síntese de proteínas ATP Síntese de fosfolipídeos Vias catabólicas Vias anabólicas Apesar de ser uma via catabólica, a via da lipólise é inibida pela atividade da AMPK. Isso pode ser explicado por um mecanismo evolutivo de preservação de energia e integração das diferentes respostas metabólicas à curto e médio prazo. Neste ponto, cabe um raciocínio metabólico mais aprofundado sobre a AMPK e o contexto ao qual ela está inserida, visto que a inibição da lipólise parece, ao menos um primeiro momento, uma situação paradoxal, que vai contra a própria natureza de ativação da via da AMPK. Em situações de rápida necessidade energética, o sistema nervoso simpático, por meio da liberação de adrenalina e noradrenalina, proporciona uma rápida ativação da lipólise no tecido adiposo. Essa ativação ocorre através da ligação do mensageiro químico ao receptor beta adrenérgico, um receptor acoplado a proteína Gs, que exerce um forte efeito de ativação da adenilato ciclase, aumentando as concentrações de AMPc dentro da célula. Esse segundo mensageiro ativa a via da PKA (que será descrita mais a frente), estimulando a HSL (lipase hormônio sensível) e assim dando início a lipólise. Dentro deste contexto estimulatório das catecolaminas (e de outros hormônios de caráter catabólico), a AMPK exercer o seu efeito catabólico (nos tecidos) de favorecimento das vias de produção de ATP, ao passo que inibe as vias de gasto de ATP. Contudo, esse complexo proteico também atua como uma espécie de "freio" da lipólise frente ao forte estímulo exercido pelos hormônios catabólicos. Essa peculiar característica pode ser explicada, também, pela ótica evolutiva de preservação e otimização do uso de energia pelas células/tecidos. α γ β AMPK Cérebro (hipotálamo) ↑Ingestão de alimento Coração Oxidação de AG Captação de glicose Glicólise Tecido adiposo Síntese de AG Lipólise Fígado Síntese de AG colesterol Síntese de glicose Pâncreas (células β) Secreção de insulina Músculo esquelético Captação e oxidação de AG Captação de glicose Biogênese mitocondrial Leptina Adiponectina ↑[AMP] ↓[ATP]Exercício PKA (Proteína-quinase dependente de AMPc) A via da PKA (proteína-quinase dependente de AMPc) possui uma ação semelhante, ao menos em parte, com a AMPK. Aqui, seguindo a linha de raciocínio do tópico anterior, a diferença fica por conta dos hormônios. PKA inativa + Subunidade reguladora Subunidade catalítica inativa Complexo de AMP cíclico e subunidades reguladoras Complexo de AMP cíclico e subunidades reguladoras AMP cíclico A PKA é uma via de sinalização ativada por meio do aumento das concentrações de AMPc dentro da c Assim, é válido ter o um conceito lógico de que a PKA é sensível a alterações sistêmicas e hormonais (sendo ativada por catecolaminas, por exemplo), enquanto a AMPK é sensível a alterações em contexto celular de nível energético. ativação da pka Tecido alvo Hormônio Resposta principal Tireoide Córtex supra renal Ovário Músculo Osso Coração Fígado Rim Tecido adiposo Síntese e secreção de T3 e T4 Secreção de cortisol Secreção de progesterona Degradação de glicogênio Reabsorção óssea Aumento da FC e contração Degradação do glicogênio Reabsorção de água Regradação de triacligliceróis TSH ACTH LH Epinefrina Paratohomônio Epinefrina Glucagon Vasopressina Epinefrina, ACTH, Glucagon, TSH mTORC1 Glicólise Captação de glicose Vias das pentoses-fosfato Pentoses ATP Síntese de nucleotídeos Biogênese de ribossomos HIF-1 Síntese proteica Síntese de membranas PGC-1a PPAR mTOR (Proteína alvo da rapamicina em mamíferos) A via do complexo mTOR (proteína alvo da rapamicina em mamífero) é ativada através do fornecimento abundante de nutrientes, promovendo o ambiente ideal de disponibilidade energética para as reações de anabolismo. Em específico, a leucina, um aminoácido de cadeia ramificada, atua ativando diretamente o complexo mTOR, por uma via diferente dos outros nutrientes (que sinalizam "apenas" a disponibilidade de energia). O ambiente hormonal também ativa a mTOR (em especial os fatores de crescimento). Ao ser ativada, o complexo atua fosforilando diversos fatores transcricionais que levam ao aumento da expressão gênica de enzimas da síntese de lipídeos e proliferação mitocondrial, e da biogênese de ribossomos. Pr od uç ão d e en er gi a Angiogênese Metabolismo mitocondrial (acetil-CoA) Adipogênese (esteróis, AG) Nutrientes Fatores de crescimento NADPH PPAR (Receptores ativados por proliferadores de peroxissomos) São os responsáveis pela coordenação da massa corporal com o fornecimento de energia. Esta classe de receptores envolvem fatores de transcrição ativados por ligantes que respondem por lipídios da dieta e no microambiente tecidual com a alteração da expressão genética do metabolismo de gordura e carboidratos. PPAR (Receptores ativados por proliferadores de peroxissomos) São os responsáveis pela coordenação da massa corporal com o fornecimento de energia. Esta classe de receptores envolvem fatores de transcrição ativados por ligantes que respondem por lipídios da dieta e no microambiente tecidual com a alteração da expressão genética do metabolismo de gordura e carboidratos. PPARα PPARγPPARδ Fígado Tecido adiposo Oxidação de ácidos graxos Síntese e armazenamento de gordura Síntese e armazenamento de gordura Produção de adipocinas Oxidação de ácidos graxos Termogênese Músculo Oxidação de ácidos graxos Sensibilidade à insulina Oxidação de ácidos graxos Termogênese Com a utilização da glicose pela célula são diversas as rotas bioquímicas relacionadas a oxidação e metabolização da molécula no interior celular. No qual dentro do cenário oxidativo, a via glicolítica ,também conhecida como Glicólise, representa uma das principais vias bioquímicas, consistindo em um processo responsável pela conversão da molécula de Glicose em 2 moléculas idênticas de piruvato. Como iremos ver, a via glicoítica é composta por 10 reações diferentes, onde apresentamos principalmente 3 enzimas regulatórias. Ainda, durante o funcionamento da rota são reduzidas coenzimas oxidadas (NAD+) pela liberação de prótons de Hidrogênio (H+) e mediadas fosforilações a nível de substrato. INTRODUÇÃO A GLICÓLISE Piruvato Gli-6-fosfato Entretanto, cabe comentar que cerca de 80% a 90% da energia contida na molécula de glicose segue conservada nos piruvatos sintetizados. GLICÓLISE Glicólise Hexoquinase GLUT Exógena EndógenaGlicose Entretanto, cabe comentar que cerca de 80% a 90% da energia contida na molécula de glicose segue conservada nos piruvatos sintetizados. Dessa forma, é no Ciclo do ácido cítrico que a molécula de glicose realmente irá ser oxidada de maneira otimizada. Ao observar os links entre vias metabólicas anabólicas e catabólicas, podemos destacar carreadores de elétrons, os quais por meio de reações de redução e oxidação transportam energia no cenário celular. No cenário da glicólise, as primeiras reações são caracterizadas pelo investimento energético em forma de moléculas de ATP, que são utilizadas para fosforilar intermediários glicolíticos até o momento em que a estrutura apresente condições ideais para fornecer energia via coenzimas reduzidas ou ATPs. Em reações energeticamente favoráveis, conhecidas como exotérmicas, ocorre liberação de energia para o meio, o qual é capitada via coenzimas como NAD e FADH. Por sua vez, essa energia armazenada poderá ser utilizada para alimentar reações energéticamente desfavoráveis (endotérmicas). Os principais agentes responsáveis pela transferência de energia entre vias metabólicas são: NAD+ TRANSPORTADORES DE ELÉTRONS Principais representantes NADP+ FADH Fosfato de Nicotinamida Adenina dinucleotídeo e seu análogo reduzido (NADHP). Nicotinamida Adenina dinucleotídeo e seu análogo reduzido (NADH). Dinucleótido de flavina e adenina e seu análogo reduzido (FADH2). Ainda que semelhantes, os papeis fisiológicos dos transportadores de elétrons são totalmente diferentes. Por exemplo, enquanto o NAD+ pode ser compreendido como o principal agente oxidante para o catabolismo, ou seja, aquele responsável por captar a energia de reações católicas, o NADPH é visto como o agente redutor para o anabolismo, ou seja, aquele quem irá doar energia para reações de anabolismo. Ainda neste cenário, é importante comentar sobre a presença de vitaminas como cofatores de coenzimas, no qual ao analisar a nomenclatura das moléculas, o termo flavina em FADH faz referência ao micronutriente Riboflavina (vitamina B2) enquanto "nicotinamida" relaciona-se com a Niacina (vitamina B3). PRINCIPAIS VIAS METABÓLICAS DOS CARBOIDRATOS Antes de conversamos afundo sobre a fisiologia da via glicolítica e suas particularidades, é essencial compreender os possíveis destinos da glicose e outros carboidratos dentro da célula. Dessa forma, sob o cenário de hepatócitos (fígado), a glicose poderá ser convertida em glicogênio, oxidada pela via glicolítica, também pela via glicólise, a glicose pode levar a produção de Acetil-CoA e ser c- Ribose-5- Fosfato Ácidos graxos onvertida em ácidos graxos pela lipogênese. Fora isso, o fígado possui papel central no processamento e distribuição de substrato para outros tecidos, sendo isso só ser possível devido a seu arsenal de enzimas especializadas. DESTINOS DE CHO Hepatócito Glicose-6- Fosfato Glicogênio Ciclo do Ácido Cítrico Piruvato Acetil-CoA Glicose NADPH Em relação aos transportadores de glicose (GLUTs do inglês Glucose transporters), os hepatócitos expressam GLUT2 em sua membrana, uma isoforma de alta capacidade. Por sua vez, esse transportador de glicose permite difusão rápida e abundante de glicose, tornando possível ao fígado apresentar alta sensibilidade quanto as concentrações de glicose na corrente sanguínea. Ainda nesse cenário, no fígado também ocorre a expressão de uma isoforma da Hexoquinase (primeira enzima da via glicolítica responsável por fosforilar a molécula de glicose em Glicose-6- Fosfato) conhecida como glicoquinase, a qual apresenta alto KM (constante de Michaelis), ou seja, baixa afinidade pela glicose. Dessa forma, a baixa afinidade da glicoquinase com a glicose garante a distribuição do metabólito pelo organismo humano, tendo em vista que se ao contrário, devido ao fato do fígado ser um dos primeiros órgãos a ter contato com os carboidratos abso- Agora aprofundando-se nas particularidades e aspectos da via glicolítica em si, devemos ter claro em mente primeiramente que está ocorrerá no citosol celular, sendo um conjunto de 10 reações que produzem 4 moléculas de ATPs, 2 piruvatos e 2 moléculas de NADH. Assim diferentemente da queima direta de açúcar em organismos não vivos, os quais podem diretamente combinar glicose com oxigênio e liberar toda energia na forma de calor imediatamente, em organismos vivos, essa energia será liberada gradativamente e armazenada em moléculas carreadoras ativadas, onde a perda de energia na forma de calor é mínima. Agora ao analisar reação por reação, a primeira delas é a conversão de glicose em glicose-6-fosfato mediada pela hexoquinase, como já previamente discutido. O objetivo da fosforilação da glicose consiste em aprisionar a molécula dentro do ambiente celular, sendo que dessa forma não ocorre comunicação entre glicose e transportador. Ainda, cabe comentar aqui da presença do magnésio como cofator enzimático, sendo a deficiência do micronutriente prejudicial para funcionamento da via. -rvidos, grande parte da quantidade total de glicose que entrasse nos hepatócitos seria fosforilada e permaneceria retida no órgão. Assim sendo, a baixa afinidade do fígado pela glicose desempenha um papel essencial na fisiologia glicídica do metabolismo humano, onde devido a essa característica, em situações de grandes concentrações de glicose o fígado permanece fosforilando glicose favorecendo sua redução e preserva seu consumo quando a glicemia estiver mínima. VIA GLICOLÍTICA PROPRIAMENTE DITA Glicose Gli-6-Fosfato Fru-6-Fosfato Fru-1,6-Bifosfato Gliceraldeído-3- Fosfato 1,3-difosfoglicerato 3-fosfoglicerato 2-fosfoglicerato Di-Hidroxifosfato Fosfoenolpiruvato Piruvato Hexoquinase Fosfofrutoquinase-1 Piruvato-quinase ADP ATP ADP GLICÓLISE Enzima regulatória Enzima regulatória Enzima regulatória FASE DE INVESTIMENTO FASE DE RENDIMENTO ATP NAD NADH ADP ATP ADP ATP 2x 2x 2x Por sua vez, a isomerização da glicose-6-fosfato em frutose-6- fosfato consiste a 2° reação da via glicolítica, favorecendo maior estabilidade e simetria da molécula a fim de preparar a estrutura molecular para a próxima reação, sendo a atividade dessa enzima também dependente da presença de magnésio. A 3°reação é a fosforilação da frutose-6-fosfato em frutose-1,6- bifosfato, no qual marca propriamente o destino da molécula de glicose para a via glicolítica, bem como é um dos principais pontos regulatórios da atividade glicolítica. Dando continuidade, a 4° Reação consiste na quebra da molécula de Fru-1,6-bifosfato em 2 trioses fosfatadas pela aldolase (di-hidroxiacetona-fosfato e glicer- aldeído-3-fosfato), marcando o fim da fase de investimento. Logo após essa etapa, a próximareação é definida pela isomerização da Di-hidroxiacetona fosfato em outra molécula idêntica de Gliceraldeído-3-fosfato (mais reativo nas reações subsequentes). Como primeiro intermediário de alta energia, o gliceraldeído-3- fosfato é convertido em 1,3-bifosfatoglicerato acarretando na redução de NAD em NADH. Nesse ponto, o 1,3-bifosfatoglicerato apresenta instabilidade no grupo fosfato, favorecendo sua doação para uma molécula de ADP, assim pela 7° reação ocorre síntese de ATP e conversão da 1,3-bifosfatoglicerato em 3-fosfoglicerato. O processo de doação de um grupo fosfato diretamente para uma molécula de ADP é conhecido como fosforilação a nível de substrato. Em seguida, o 3-fosfoglicerato sofre atividade da enzima fosfoglcierato-mutase a qual realiza a troca do grupo fosfato do carbono 3 para o carbono 2, reduzindo sua estabilidade. Dessa forma, na 9° reação a enolase retira uma molécula de água por reação de desidratação do 3-fosfoglicerato convertendo-a fosfoenolpiruvato, reduzindo ainda mais a estabilidade do grupo fosfato na molécula. Enfim, a ultima reação da via glicolítica consiste em mais uma fosforilação a nível de substrato pela transferência do grupo fosforil do fosfoenolpiruvato para ADP sintetizando ATP e piruvato. Por fim, deve-se comentar que outros carboidratos como frutose, manose e demais monossacarídeos podem fazer parte da glicólise por síntese de intermediários. Bem como ao uso de glicogênio como substrato para a glicólise ocorre preservação de um ATP por não necessitar da fosforilação da hexoquinase na primeira etapa da via, tendo em vista que o glicogênio irá liberar Glicose-1-fosfato, a qual já está fosforilada.
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