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UNIVERSIDADE ZAMBEZE FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÓMICA E FLORESTAL DEPARTAMENTO DE ECONOMIA AGRÁRIA E DESENVOLVIMENTO RURAL CURSO DE LICENCIATURA EM ECONOMIA AGRÁRIA ______________________________________________________________________ APOSTILA DIDÁCTICA DA DISCIPLINA DE MARKETING NO AGRONEGÓCIO Elaborada por: Eng.ª Ricardina António Janeque (MSc.) Mocuba, 2022 2 Sumário Apresentação .............................................................................................................................. 4 UNIDADE 1: INTRODUÇÃO A DISCIPLINA DE MARKETING NO AGRONEGÓCIO .................................................................................................................................................... 5 1.1 GENERALIDADES SOBRE AGRONEGÓCIOS .................................................. 5 1.2 CONCEITOS CENTRAIS E PARTICULARIDADES DO MARKETING AGRÁRIO ............................................................................................................................. 8 1.3 ORIENTAÇÕES DA EMPRESA COM RELAÇÃO AO MERCADO OU FILOSOFIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING ............................................ 10 1.4 OS 4Ps DO MIX DE MARKETING ...................................................................... 13 1.5 TAREFAS NECESSÁRIAS PARA UMA ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING EFICAZ ..................................................................................................... 14 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 16 UNIDADE 2: CAPTAÇÃO DE OPORTUNIDADES DE MARKETING ........................ 18 Introdução ........................................................................................................................... 18 2.1 ANÁLISE DO AMBIENTE DE MARKETING ........................................................ 18 2.1.1 MICROAMBIENTE DA EMPRESA ...................................................................... 19 2.1.2 MACROAMBIENTE DA EMPRESA .................................................................... 21 2.2 CONDUÇÃO DE PESQUISA DE MARKETING .................................................... 23 2.2.1 ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISA DE MARKETING ............................. 23 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 26 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 26 UNIDADE 3: CONEXÃO COM OS CLIENTES ............................................................... 27 Introdução ........................................................................................................................... 27 3.1 ANÁLISE DE MERCADOS CONSUMIDORES ................................................. 27 3.1.1 COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR - FACTORES DETERMINANTES 29 Factores culturais ..................................................................................................... 29 Factores sociais ......................................................................................................... 30 Fatores pessoais ........................................................................................................ 32 Factores psicológicos ................................................................................................ 33 3.1.2 Informações e decisão de compra ............................................................................. 35 Percepção da necessidade ou desejo ....................................................................... 35 Busca de informações .............................................................................................. 35 Avaliação de alternativas ........................................................................................ 36 Decisão de compra ................................................................................................... 36 Avaliação (sensação) de pós-compra ...................................................................... 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERENTES A ANÁLISE DO MERCADO CONSUMIDOR .................................................................................................................... 36 3.2 ANÁLISE DOS MERCADOS ORGANIZACIONAIS ........................................ 37 3.2.1 Características os mercados organizacionais ................................................. 39 3.2.2 Situações de compra ......................................................................................... 40 3.2.3 Participantes do processo de compra organizacional ................................... 41 3.2.4 Seleção de empresas e centros de compra ...................................................... 42 3.2.5 O processo de decisão de compra/procurement .............................................. 43 3.2.6 Mercados institucional e governamental ........................................................ 45 3.3 IDENTIFICAÇÃO DE SEGMENTOS DE MERCADO E SELEÇÃO DE MERCADOS-ALVO .......................................................................................................... 46 3.3.1 Bases para segmentação de mercados consumidores .................................... 48 Segmentação geográfica .......................................................................................... 48 Segmentação demográfica ....................................................................................... 49 3 Segmentação psicográfica ....................................................................................... 50 Segmentação comportamental ................................................................................ 51 3.3.2 Bases para segmentação organizacional ......................................................... 51 3.3.3 Avaliação e seleção de segmentos de mercado ............................................... 52 3.3.3.1 Níveis de segmentação ...................................................................................... 53 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE SEGMENTAÇÃO DO MERCADO ....................... 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 56 UNIDADE 4: CONSTRUINDO MARCAS FORTES ......................................................... 57 Introdução ........................................................................................................................... 57 4.1 DESENVOLVIMENTO E ESTABELECIMENTO DE UM POSICIONAMENTO DE MARCA ......................................................................................................................... 57 4.2 ESTRATÉGIAS DE DIFERENCIAÇÃO .................................................................. 60 4.2.1 Meios de diferenciação ........................................................................................... 61 4.3 POSICIONAMENTO E BRANDING DE PEQUENOS NEGÓCIOS ..................... 62 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 63 UNIDADE 5: DESENVOLVIMENTO DAS OFERTAS DE MERCADO ....................... 63 Introdução ........................................................................................................................... 63 5.1 CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTOS ................................................................. 64 5.2 TIPOS DE PRODUTOS AGROALIMENTARES .................................................... 65 5.3 DIFERENCIAÇÃO DE SERVIÇOS .......................................................................... 66 5.4 EMBALAGEM, ROTULAGEM E GARANTIAS .................................................... 675.5 DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS E ESTRATÉGIAS DE DETERMINAÇÃO DE PREÇOS ..................................................................................... 69 5.5.1 Factores determinantes do preço .......................................................................... 70 5.5.2 Adequação do preço ............................................................................................... 72 5.5.3 Iniciativas e respostas a mudanças de preços ...................................................... 75 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 78 UNIDADE 6: ENTREGA DE VALOR ................................................................................ 79 Introdução ........................................................................................................................... 79 6.1 CANAIS DE MARKETING ........................................................................................ 79 6.1.1 Funções dos canais de distribuição ....................................................................... 81 6.1.2 Serviços prestados pelo canal de distribuição ...................................................... 82 UNIDADE 7: COMUNICAÇÃO DE MARKETING ........................................................... 83 Introdução ........................................................................................................................... 83 7.1 O MIX DE COMUNICAÇÃO DE MARKETING ...................................................... 84 7.2 O DESENVOLVIMENTO DE UMA COMUNICAÇÃO EFICAZ .................... 86 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 90 4 Apresentação Caros Estudantes, Sejam bem-vindos à disciplina de Marketing no Agronegócio. O marketing é um excelente tema para se estudar, pois estamos expostos aos seus conceitos em todo momento, seja como empresário rural, definindo o que iremos produzir, ou como consumidores. O actual contexto competitivo em que as organizações estão inseridas exige dos gestores o desenvolvimento de habilidades e competências que possibilitem a integração das diversas fontes que, por sua vez, permitem a construção de vantagem competitiva. Inseridas neste cenário competitivo, cada empresa precisa tentar obter excelência operacional, e para tanto, busca utilizar as mais diversas ferramentas administrativas aplicáveis a cada situação. A obtenção e a criação de relações sustentáveis com os clientes tornaram-se os principais objetivos das empresas, visto que as opções entre concorrentes e as vantagens oferecidas por eles são múltiplas, tornando a fidelidade do consumidor, uma característica muito difícil de alcançar e manter ao longo do tempo. Nesse contexto, a disciplina Marketing no Agronegócio apresenta uma base teórica e metodológica para se compreender a contribuição do marketing no sucesso dos empreendimentos agrários, pois, para toda organização, o marketing facilita e estimula as negociações tornando as relações mais próximas com o consumidor e também dá maior velocidade às adaptações necessárias para o sistema agroindustrial, às mudanças do ambiente tanto internas como externas. Não se limite as informações contidas neste material, busque leituras complementares, pesquise em sites especializados e entidades. Se possível, visite e conheça outras empresas rurais, feiras e exposições. Essas iniciativas serão também importantes na sua formação. Bons estudos! 5 UNIDADE 1: INTRODUÇÃO A DISCIPLINA DE MARKETING NO AGRONEGÓCIO 1.1 GENERALIDADES SOBRE AGRONEGÓCIOS A internacionalização da economia induz as organizações a buscarem vantagens competitivas que possam diferenciar suas ofertas dos concorrentes. Esta condição exige que as organizações desenvolvam estratégias que garantam sua sobrevivência e também o seu crescimento, dentro de um ambiente de incertezas e de constantes mudanças. Este cenário global expõe as empresas locais diante de atores externos, intensificando as atividades concorrenciais e ressaltando a importância de se obter uma grande quantidade de informações a respeito do mercado. Agrega-se a isso o fato de que o consumidor está demandando produtos de melhor qualidade a preços menores, o que obriga as empresas participantes do agribusiness a aumentar seus esforços no sentido de atender a essas demandas. O termo agribusiness surgiu em 1957, através do trabalho pioneiro dos pesquisadores da Universidade de Harvard, John Davis e Ray Goldberg. Eles acreditavam que o conceito de agricultura como indústria, em 1957, já existia há mais de 150 anos – quando uma família típica não só produzia alimentos, mas também produzia e usava os meios necessários para essa produção, ou seja, máquinas e equipamentos, Fertilizantes, processamento, varejo, etc. Para Davis e Goldberg (apud Batalha, 1997), a agricultura não poderia ser abordada de maneira indissociada dos outros agentes responsáveis pelas actividades que garantiriam a produção, transformação, distribuição e consumo de alimentos. As actividades agrícolas fazem parte de uma extensa rede de agentes econômicos que vão desde a produção de insumos, transformação industrial até armazenagem e distribuição de produtos agrícolas. Então, definiram o agribusiness como sendo "a soma total de todas as operações envolvidas no fabrico e distribuição de insumos agrícolas, operações de produção na unidade de 6 produção, até o armazenamento, processamento e distribuição e consumo dos produtos agropecuários 'in natura' ou industrializados". O termo agribusiness espalhou-se e foi adoptado pelos diversos países, mas atravessou praticamente toda a década de 1980 sem tradução para o português e foi adoptado de forma generalizada, inclusive por alguns jornais, que mais tarde trocaram o nome de cadernos agropecuários para agribusiness. Não eram raras as discussões sobre a utilização do termo em inglês ou a tradução literalmente para o português para agronegócios, ou ainda os termos complexo agroindustrial, cadeias agroeconômicas e sistema agroindustrial. Todos com a intenção de um mesmo significado. Somente a partir da segunda metade da década de 1990, o termo agronegócios começa a ser aceito e adoptado nos livros-textos e nos jornais, culminando com a criação dos cursos superiores de agronegócios. Para melhor entender a organização dos agentes do agronegócio e as transações entre os segmentos que formam as diversas cadeias produtivas é necessário o uso de uma abordagem sistêmica. Através desta abordagem é possível criar uma visão completa da forma que os agentes trabalham e se relacionam entre si. De acordo com Farina (2000), adoptar uma abordagem sistêmica dos negócios agroindustriais, enfatizando as relações entre os segmentos constituintes da cadeia produtiva, pressupõe o conhecimento da organização e dinâmica interna de cada segmento. A visão contemporânea de agribusiness coloca novos desafios para o sector agroindustrial. O aumento da integração da produção de insumos, da produção agropecuária, da agroindústria e da distribuição, bem como as constantes mudanças nos hábitos dos consumidores, tornam cada vez mais complexa a gestão das unidades de produção pertencentes ao sistema agroindustrial (Batalha, 1995). Figura 1 - Visão sistêmica do agronegócio 7 A concepção de sistemas agroindustriais ou de cadeias produtivas, ou de cadeias de valor, visualiza o agronegócio de forma integrada e inter-relacionada entre os diversos agentes que o compõem, bem como as atividades efetuadas entre si. Podemos dividi-los em segmentos "antes da porteira", "dentro da porteira" e "após a porteira". Os segmentos antes da porteira compreendem: O sector de insumos agrários (tais como: máquinas, implementos, equipamentos e complementos, água, energia,corretivos de solos, fertilizantes, agroquímicos, compostos orgânicos, materiais genéticos, hormônios, inoculantes, rações, sais minerais e produtos veterinários) e seus agentes indústrias (de máquinas, adubos etc.), as empresas produtoras de materiais genéticos e os distribuidores de insumos (atacadistas, varejistas e seus representantes). Serviços agropecuários: pesquisas agropecuárias; fomento, extensão rural e assistência técnica; elaboração de projetos; análises laboratoriais; crédito e financiamentos; vigilância e defesa agropecuária; proteção e defesa ambiental; incentivos fiscais; comunicações; infra-estrutura; treinamento de mão-de-obra. Os segmentos que se realizam "dentro da porteira" constituem a produção agropecuária propriamente dita, os quais são divididos em subsegmentos distintos: agricultura (ou produção agrícola), pecuária (ou criação de animais) e florestal. "Dentro da porteira" significa dentro das fazendas, desde as actividades iniciais de preparação para começar a produção até a obtenção dos produtos agropecuários in natura prontos para a comercialização. Os segmentos depois da porteira são constituídos basicamente pelas etapas de processamento e distribuição dos produtos agropecuários até atingir os consumidores, envolvendo diferentes 8 tipos de agentes econômicos, como comércio, agroindústrias, prestadores de serviços, governo e outros. Isto posto, verifica-se que o agronegócio possui uma competitividade mundial e para se tornar competitivo nesse sector é necessário uma gestão mais eficiente dos seus negócios. É assim que entra o marketing, trazendo vantagens para o empreendimento em relação ao mercado. Através do marketing as empresas do agronegócio apresentam interação com o público-alvo, estreitando um vácuo enorme que antes existia entre o produtor e o consumidor na agricultura, melhorando o relacionamento com o cliente, aumentando as vendas, a partir de uma exploração melhor da marca ou dos produtos para com os potenciais consumidores (CONTENT, 2017). O pensamento do marketing sugere que as empresas, por meio de pesquisas, percebam o que os consumidores demandam e, com base nesses dados, lancem produtos visando sua completa satisfação. 1.2 CONCEITOS CENTRAIS E PARTICULARIDADES DO MARKETING AGRÁRIO Marketing é uma função organizacional e um conjunto de processos destinados a criar, comunicar e entregar valor para os clientes e administrar as relações com eles de forma que beneficie a organização e seus stakeholders. O marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais. Por isso que uma das mais sucintas e melhores definições de Marketing é a de “suprir necessidades gerando lucro”. Administração de marketing – a arte e a ciência de selecionar mercados-alvo e captar, manter e fidelizar clientes por meio da criação, entrega e comunicação de um valor superior para o cliente. Mercado-alvo – Refere-se ao segmento do mercado que uma empresa identificou como contendo um grupo de clientes com necessidades similares aos quais ela deseja atender. Necessidades são os requisitos básicos do ser humano, como aqueles por ar, comida, água, roupas e abrigo. Essas necessidades tornam-se desejos quando direcionadas a objectos específicos que possam satisfazê-las. Para conquistar vantagem competitiva, as empresas devem ajudar os clientes a descobrir o que querem. Demandas são desejos por produtos específicos sustentados pela capacidade de comprá-los. 9 Valor – é a relação entre a somatória dos benefícios tangíveis e intangíveis proporcionados pelo produto e a somatória dos custos financeiros e emocionais envolvidos na aquisição desse produto. O valor pode ser considerado como uma combinação de qualidade, serviço e preço, denominada tríade do valor para o cliente. As percepções de valor aumentam com a qualidade e o serviço, mas diminuem com o preço. Satisfação – reflete os julgamentos comparativos de uma pessoa sobre o desempenho percebido de um produto em relação as suas expectativas. Se o desempenho não atinge as expectativas, o cliente fica decepcionado. Se o desempenho alcança as expectativas, o cliente fica satisfeito. Se o desempenho supera as expectativas, o cliente fica encantado. Custo – é o valor monetário dos recursos envolvidos na produção de um bem ou serviço. Troca – transferência de algo; substituição de algum elemento. Transação: operação comercial que consiste em trocar bens ou serviços por uma determinada quantidade de dinheiro. Um dos principais objectivos do marketing é, cada vez mais, desenvolver relacionamentos profundos e duradouros com todas as pessoas ou organizações que podem, directa ou indirectamente, afectar o sucesso das actividades de marketing da empresa. O marketing de relacionamento tem como objectivo construir relacionamentos de longo prazo mutuamente satisfatórios com seus componentes-chave, a fim de conquistar ou manter negócios com eles. O marketing de relacionamento resulta no desenvolvimento de um activo insubstituível da empresa chamado rede de marketing. Essa rede se compõe da empresa e dos parceiros de apoio (clientes, funcionários, fornecedores, distribuidores e varejistas, entre outros) com quem ela construiu relacionamentos comerciais mutuamente compensadores. O conceito de marketing holístico se baseia em desenvolvimento, estruturação e implementação de programas, processos e atividades de marketing, com o reconhecimento da amplitude e das interdependências de seus efeitos. Ele reconhece que em marketing “tudo é importante” e que muitas vezes se faz necessária uma perspectiva abrangente e integrada. Nem todos gostam do mesmo cereal, restaurante, curso ou filme. Por isso, os profissionais de marketing começam o seu trabalho pela divisão do mercado em segmentos. Após examinar 10 diferenças demográficas, psicográficas (estudo do estilo de vida, atividades, interesses, etc.) e comportamentais entre os consumidores, eles identificam e descrevem grupos distintos, que podem preferir ou exigir vários mixes diferentes de produtos. Depois de identificar os segmentos de mercado, os profissionais decidem quais apresentam maior oportunidade — quais são seus mercados-alvo. Para cada mercado-alvo escolhido, a empresa desenvolve uma oferta de mercado, que é posicionada na mente dos consumidores- alvo como algo que fornece um ou mais benefícios centrais. Para atingir um mercado-alvo, os profissionais de marketing usam três tipos de canal de marketing. Entre os canais de comunicação que enviam e recebem mensagens dos consumidores-alvo estão jornais, revistas, rádio, televisão, correio, telefone, outdoors, cartazes, folhetos, CDs, arquivos de áudio digital e a Internet. Além dessas mídias, a comunicação se dá por intermédio da aparência das lojas e dos sites, entre outros meios. As empresas usam canais de distribuição para apresentar, vender ou entregar bens ou serviços ao comprador ou usuário. Fazem parte desses canais os distribuidores, os atacadistas, os varejistas e os agentes que actuam como intermediários. Para realizar transações com compradores potenciais, a empresa também utiliza canais de serviços - entre os quais estão os armazéns, as transportadoras, os bancos e as companhias de seguros - e é claro que ela pode enfrentar um desafio de concepção na escolha do melhor mix de canais de comunicação, distribuição e serviços para suas ofertas. O ambiente de marketing é constituído pelo microambiente e pelo macroambiente. O microambiente inclui os participantes imediatos envolvidos na produção, na distribuição e na promoção da oferta. O macroambiente é formado por seis componentes: ambiente demográfico, ambiente económico, ambiente sociocultural, ambiente natural, ambiente tecnológico e ambiente político-legal. Os profissionais de marketing devem prestar muita atenção às tendências e evoluções dessesambientes e realizar ajustes oportunos em suas estratégias de marketing. 1.3 ORIENTAÇÕES DA EMPRESA COM RELAÇÃO AO MERCADO OU FILOSOFIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING 11 Na maior parte das empresas, o marketing ocupava, há 50 anos, apenas um lugar modesto no organograma, o de um serviço comercial, composto por alguns vendedores e empregados e muitas vezes estavam subordinados ao director de produção ou director administrativo, mas aos poucos, essa função foi-se alargando progressivamente e colocada no mesmo plano das outras direcções de produção, financeira e de recursos humanos. Actualmente, pode-se ver a mesma empresa praticando diferentes filosofias de marketing ao redor do mundo e ver empresas usando filosofias diferentes do marketing em um mesmo mercado: orientação para produção, produto, venda, cliente e sociedade, podendo-se identificar na evolução do marketing as seguintes filosofias para sua administração: Orientação para Produção É um dos conceitos mais antigos nos negócios. Ela sustenta que os consumidores dão preferência a produtos fáceis de encontrar e que sejam de baixo custo. Os gerentes das empresas orientadas para a produção se concentram em alcançar alta eficiência de produção, baixos custos e distribuição em massa. Esse tipo de orientação faz sentido nos países em desenvolvimento, onde as empresas se aproveitam da enorme quantidade de mão-de-obra barata para dominar o mercado. É também um conceito utilizado quando uma empresa deseja expandir mercado. A grande questão para as empresas, é produzir e não vender. O papel do marketing é, essencialmente, entregar produtos em locais onde possam ser comprados. Orientação para Produto Considera que os consumidores preferem os produtos de melhor qualidade, desempenho e aspectos inovadores. Portanto, as organizações esforçam-se para aprimorar seus produtos permanentemente. As vezes as empresas não se preocupam em fazer marketing do seu produto porque acreditam que oferecem de melhor qualidade e que os consumidores vão em busca. Isso faz com que as empresas caiam em armadinha, pois um produto novo ou aperfeiçoado não será necessariamente bem-sucedido, a menos que tenha o preço certo e seja distribuído, promovido e vendido de forma adequada. Orientação para Vendas Parte do princípio de que os consumidores e as empresas não vão, espontaneamente, comprar os produtos de uma organização em quantidade suficiente. Essa orientação é praticada de maneira mais agressiva com produtos pouco procurados - aqueles que os consumidores dificilmente pensam em comprar, como seguros e jazigos - e quando uma 12 empresa que dispõe de excesso de capacidade visa vender aquilo que fabrica, em vez de fabricar aquilo que o mercado quer. Ele pressupõe que clientes persuadidos a comprar um produto não vão devolvê-lo nem falar mal dele, tampouco reclamar a um órgão de defesa do consumidor, e talvez até voltem a comprá-lo. Orientação para o Marketing A orientação para marketing surgiu em meados da década de 1950 como uma filosofia de “sentir-e-responder”, centrada no cliente. A tarefa não é mais encontrar os clientes certos para seu produto, mas sim os produtos certos para seus clientes. A orientação para marketing afirma que a chave para atingir os objectivos organizacionais consiste em à empresa ser mais eficaz que os concorrentes na criação, na entrega e na comunicação de um valor superior (na opinião do cliente) aos mercados-alvo escolhidos. Theodore Levitt, de Harvard, elaborou uma comparação perspicaz entre as orientações de vendas e de marketing: “a venda está voltada para as necessidades do vendedor; o marketing, para as necessidades do comprador. A venda se preocupa com a necessidade do vendedor de converter seu produto em dinheiro; o marketing, com a ideia de satisfazer as necessidades do cliente por meio do produto e de todo um conjunto de fatores associado a sua criação, entrega e, finalmente, consumo.” Vários pesquisadores descobriram que as empresas que adoptaram a orientação de marketing no período pesquisado alcançaram um desempenho superior. Orientação para o Marketing Holístico Sem dúvida, as tendências e as forças que definiram a primeira década do século XXI estão levando as empresas a um novo conjunto de crenças e práticas. O conceito de marketing holístico se baseia em desenvolvimento, estruturação e implementação de programas, processos e actividades de marketing, com o reconhecimento da amplitude e das interdependências de seus efeitos. Ele reconhece que em marketing “tudo é importante” e que muitas vezes se faz necessária uma perspectiva abrangente e integrada. Nesta abordagem a empresa deve tentar compreender e administrar toda a complexidade envolvida na gestão de marketing de uma empresa. 13 1.4 OS 4Ps DO MIX DE MARKETING McCarthy classificou várias actividades de marketing em ferramentas de mix de marketing de quatro tipos amplos, os quais denominou os quatro Ps do marketing: produto, preço, praça (ou ponto de venda) e promoção (do inglês, product, price, place e promotion) (Figura 2). Figura 2 – os 4Ps do mix de marketing No entanto, em virtude da abrangência, complexidade e riqueza do marketing - como exemplifica o marketing holístico - claramente esses quatro Ps não representam mais todo o cenário. Se os actualizarmos para que reflitam o conceito de marketing holístico, obteremos um conjunto mais representativo que envolverá as realidades do marketing moderno: pessoas, processos, programas e performance. As pessoas refletem, em parte, o marketing interno e o facto de que os funcionários são fundamentais para o sucesso do marketing. Este será tão bom quanto as pessoas dentro da organização. Também refletem o fato de que as empresas devem ver os consumidores como pessoas e compreender suas vidas em toda sua amplitude, e não apenas como alguém que compra e consome produtos. 14 Os processos refletem toda a criatividade, a disciplina e a estrutura incorporadas à administração de marketing. As empresas devem evitar planeamento e tomada de decisão ad hoc e assegurar que ideias e conceitos avançados de marketing desempenhem o devido papel em tudo o que fazem. Somente com a instauração do conjunto certo de processos a orientar actividades e programas uma empresa pode se envolver em relacionamentos de longo prazo, mutuamente benéficos. Outro importante conjunto de processos leva a empresa a gerar de forma criativa insights e inovações em bens e atividades de marketing. Os programas refletem todas as actividades da empresa direcionadas aos consumidores. Eles englobam os antigos 4Ps e também uma gama de outras atividades de marketing que podem não se encaixar perfeitamente à antiga visão de marketing. Independentemente de serem on- line ou off-line, tradicionais ou não, essas actividades devem ser integradas de tal forma que seu todo seja maior do que a soma de suas partes e que realizem múltiplos objetivos para a empresa. Definimos que performance, assim como o desempenho no marketing holístico, captura o leque de possíveis indicadores de resultado que tenham implicações financeiras e não financeiras (lucratividade, bem como brand equity e customer equity) e implicações que transcendem a própria empresa (responsabilidade social, no contexto jurídico, ético e comunitário). Por fim, na verdade, esses novos quatro Ps se aplicam a todos os sectores dentro da empresa, e, pensando assim, os gerentes ficam mais intimamente alinhados com o restante da companhia. 1.5 TAREFAS NECESSÁRIAS PARA UMA ADMINISTRAÇÃO DE MARKETING EFICAZ Tendo a filosofia do marketing holístico como pano de fundo, podemos identificar um conjunto específico de tarefas que compõem uma administração e uma liderança de marketing eficazes. Desenvolvimento de estratégias e planos de marketing A primeira tarefaé identificar suas oportunidades reais de longo prazo, dadas sua experiência de mercado e suas competências essenciais. Qualquer que seja a direcção escolhida, deve 15 desenvolver planos de marketing concretos que especifiquem as estratégias e táticas de marketing capazes de fazê-la avançar. Captação de oportunidades de marketing É necessário um sistema de informações de marketing confiável para monitorar de perto seu ambiente de marketing, avaliar continuamente o potencial de mercado e prever a demanda. Conexão com os clientes Deve estudar qual a melhor maneira de criar valor para seus mercados-alvo selecionados e desenvolver relacionamentos de longo prazo, fortes e lucrativos com os clientes. É necessário segmentar o mercado, avaliar cada um deles e se concentrar naqueles que a empresa pode atender melhor. Construindo marcas fortes A empresa precisa conhecer as forças e as fraquezas da sua marca entre os clientes e também deve prestar muita atenção nos concorrentes, antecipar suas ações e saber como reagir de maneira rápida e decisiva. Ela pode querer partir para ações surpreendentes; neste caso, deve tentar prever como seus concorrentes reagirão. Desenvolvimento das ofertas de mercado No cerne do programa de marketing está o produto - a oferta tangível da empresa ao mercado, que inclui qualidade, design, recursos e embalagem. Para conquistar uma vantagem competitiva, a empresa pode proporcionar vários serviços, como leasing, entrega, manutenção e treinamento como parte de sua oferta de produto. Uma decisão crucial de marketing relaciona-se ao preço. A empresa tem de tomar decisões quanto a preços no varejo, descontos, bonificações e condições de crédito. Seu preço deve ser proporcional ao valor percebido da oferta; caso contrário, os clientes podem optar por produtos concorrentes. Entrega de valor A empresa também deve determinar como entregar adequadamente ao mercado-alvo o valor representado por esses produtos. As actividades de canal são aquelas que a empresa executa para tornar o produto acessível e disponível a clientes-alvo. A empresa precisa identificar, recrutar e interligar vários facilitadores de marketing que possam levar seus produtos com eficiência ao mercado-alvo. Ela precisa conhecer os vários tipos de varejista, atacadista e distribuidor e como eles tomam suas decisões. 16 Comunicação do valor A empresa também precisa comunicar adequadamente ao mercado-alvo o valor agregado a seus produtos, além de desenvolver um programa de comunicação integrada de marketing que maximize a contribuição individual e colectiva de todas as actividades de comunicação. Deve ainda instaurar programas de comunicação em massa compostos por propaganda, promoção de vendas, eventos e relações públicas, e estabelecer comunicações mais pessoais na forma de marketing directo e interactivo, assim como contratar, treinar e motivar os profissionais de vendas. Obtenção de um crescimento de longo prazo Com base em seu posicionamento de produto, a empresa deve iniciar o desenvolvimento, o teste e o lançamento de produtos. A estratégia deverá levar em conta as oportunidades e as ameaças globais, em constante mudança. Por fim, a ela deve construir uma organização de marketing capaz de implementar o plano de marketing. Uma vez que sempre pode haver surpresas e decepções durante a implementação desse plano, a empresa precisará de feedback e controlo para entender a eficiência e a eficácia de suas actividades de marketing e como melhorá-las. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta primeiro capítulo, foi possível conhecer aspectos conceituais iniciais do conteúdo que iremos abordar nesta disciplina. Tais conceitos tornam-se essenciais para que os demais tópicos programados sejam assimilados de forma mais fácil e clara. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KOTLER, Philip & KELLER, Lane, “Administração de Marketing”, 12ª Edição. Printice Hall, São Paulo, 2006. ROUSSENQ, Matheus. Marketing aplicado ao agronegócio: “a percepção da geração y diante do meio rural, dos produtos rurais e dos agricultores”. Trabalho de conclusão de 17 curso do curso de Graduação em Agronomia da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis – SC, Novembro de 2015. VELOSO, Helmer Soares; ALMEIDA, João Luiz de. Marketing em Agronegócio. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes, Escola Técnica Aberta do Brasil. Montes Claros – MG, 2011. ZAMBERLAN, Luciano; SPAREMBERGER, Ariosto; BÜTTENBENDER, Pedro Luís; WAGNER, Adriano. Relações de marketing na cadeia do agronegócio. Ed. Unijuí, 2009 – 122 p. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto). 18 UNIDADE 2: CAPTAÇÃO DE OPORTUNIDADES DE MARKETING Introdução Tomar decisões de marketing é tanto uma arte quanto uma ciência. Para criar o clima de entendimento e inspiração necessário ao processo de tomada de decisão de marketing, as empresas devem possuir informações abrangentes e actualizadas sobre as tendências macroambientais e os efeitos microambientais específicos ao seu negócio. Os profissionais de marketing holístico reconhecem que o ambiente de marketing apresenta constantemente novas oportunidades e ameaças e entendem a importância de continuamente monitorar, analisar e se adaptar a esse ambiente. As empresas estão ajustando a forma de fazer negócios por outras razões, além das económicas. Praticamente todos os sectores foram afectados por transformações radicais nos ambientes tecnológico, demográfico, sociocultural, natural e político-legal. Nesta unidade, examinaremos como as empresas podem desenvolver processos para identificar e rastrear tendências. Também delinearemos como elas podem desenvolver boas previsões de vendas. 2.1 ANÁLISE DO AMBIENTE DE MARKETING Sabemos que a empresa rural não existe de forma isolada. Assim como todas as empresas, ela está em um sistema aberto, onde factos que acontecem ao seu redor influenciam em como serão as decisões e, como consequência, em qual pode ser o possível desempenho. A compreensão dessa realidade que cerca todas as empresas é denominada análise ambiental. A análise ambiental é a avaliação das forças externas que actuam sobre a empresa e seus clientes, e que proporcionam o aparecimento de ameaças e oportunidades. Caracteriza-se pelo estudo dos diferenciais e todas as demais informações dos concorrentes, das políticas 19 governamentais que influenciam os produtos e serviços, dos fornecedores, das expectativas dos clientes e das condições de operação da empresa. O objectivo é fornecer a base para a definição da estratégia de marketing a ser implementada. A administração do marketing começa com a análise ambiental, visando à identificação de oportunidades. Isso ocorre porque as actividades de marketing desenvolvem-se no limite entre a organização e seus clientes, fornecedores, intermediários, concorrentes, entidades públicas e privadas. Tais actividades acontecem num cenário em que as mudanças são constantes, e a realidade altera-se em todo momento. Para Churchill, “análise ambiental é a prática de rastrear as mudanças do ambiente que possam afectar a organização e seus mercados”. O ambiente de marketing de uma empresa compreende os agentes e as forças externas que afectam a sua habilidade em desenvolver e manter transações e relacionamentos bem-sucedidos com o mercado-alvo (Figura 1). Figura 1: Diagrama representativo do ambiente de marketing. A análise ambiental é sugerida por diversos autores com o intuito de identificar oportunidades, ameaças e questões estratégicas que afectarão os factores-chave de sucesso da empresa ou terão influência estratégica. Portanto, é necessário que os profissionais de marketing identifiquem os factores que possam modificar o ambiente (KOTLER; ARMSTRONG, 2000). Na percepção de Kotler e Keller (2006), o ambiente de marketing divide-se em Macro e Microambiente.2.1.1 MICROAMBIENTE DA EMPRESA O microambiente é composto pelas forças mais próximas da empresa e influenciam na capacidade de atrair clientes e de se relacionar com eles. Os principais agentes do 20 microambiente são: a empresa, os fornecedores, os intermediários de mercado (distribuidores), os clientes, os concorrentes e a legislação. Empresa A integração entre os diversos departamentos de uma empresa é essencial para que os profissionais de marketing possam oferecer o produto/serviço na hora certa. Fornecedores Compreendem os indivíduos e/ou firmas que suprem as empresas de matéria-prima e insumos necessários para a produção. No caso de empresas rurais, tem relevante importância, uma vez que a qualidade dos produtos depende, muitas vezes, de um insumo de qualidade. A escolha dos fornecedores tem grande importância no planeamento da empresa. É preciso descobrir quem são, onde se localizam os fornecedores e quais são os mais adequados para o seu negócio. Por outro lado, obter boas condições de compras depende de negociação permanente com os fornecedores e ter atenção às oportunidades. Intermediários de mercado (distribuidores) Os intermediários de mercado são agentes que ajudam a empresa rural a promover, distribuir e vender seus produtos aos compradores finais. Clientes Por definição, considera-se como cliente de uma entidade todo aquele que decide a compra de determinado bem ou serviço oferecido por essa mesma entidade. Assim, pode-se distinguir o cliente directo (aquele que compra directamente à entidade e que poderá ser um intermediário ou distribuidor) e o cliente final (aquele que compra para satisfação de uma necessidade sua ou de alguém a quem oferece o bem) (NUNES, 2009). Concorrentes Compreendem as outras empresas que oferecem produtos e/ou serviços semelhantes aos de uma empresa e que podem disputar clientes e os recursos necessários. A concorrência quanto a saídas ou entrada provoca alterações no mecanismo de ofertas e procura do mercado, interferindo nas disponibilidades, nos preços, na qualidade e na relativa facilidade ou dificuldade na obtenção dos recursos indispensáveis às operações da empresa (CHIAVENATO, 2007). Órgãos Reguladores 21 Como, por exemplo, entidades governamentais, sindicatos, associações de classe, opinião pública, que interferem nas actividades e operações da empresa, quase sempre para vigiá-las e provocar restrições e limitações, reduzindo o grau de liberdade no processo de tomada de decisão da empresa. Em casos de hostilidade neste sector do ambiente de tarefa, a empresa precisa adoptar estratégias bem planeadas e implementadas para reduzir ou neutralizar as coações e ameaças externas (CHIAVENATO, 2007). De acordo com Ribeiro e Picinin (2012), os factores microambientais são intensamente conectados entre si sendo os clientes, o elemento central. 2.1.2 MACROAMBIENTE DA EMPRESA O microambiente está contido em um conjunto maior de forças, o chamado macroambiente, que oferece oportunidades e impõe ameaças para a empresa. Para Kotler (2000), o macroambiente é composto por variáveis incontroláveis, às quais as empresas se adaptam por meio da utilização dos factores controláveis: a sua estratégia de segmentação, o posicionamento e os elementos do composto de marketing (produto, preço, praça e promoção). Os principais componentes do macroambiente estudados pelas empresas são as variáveis tecnológicas, governamentais (ou políticas), econômicas, demográficas e culturais. a. Variáveis demográficas As mudanças demográficas representam uma força fundamental e poderosa no mercado, das quais podem surgir oportunidades e ameaças importantes para a empresa rural. Os desdobramentos demográficos costumam ocorrer em um ritmo previsível. O principal deles, também monitorado por profissionais de marketing, é a população, que abrange o tamanho e a taxa de crescimento populacional de diferentes cidades, regiões e países; a distribuição das faixas etárias e sua composição étnica; os graus de instrução; os padrões familiares, e as características das diferentes regiões; o sexo; a renda; etc. Os profissionais de marketing devem estar cientes do crescimento populacional mundial; das mudanças na faixa etária, na composição étnica e nos níveis de instrução; do aumento do número de famílias não tradicionais; e das grandes migrações populacionais. b. Variáveis económicas O poder de compra em uma economia depende da renda, dos preços, da poupança, do endividamento e da disponibilidade de crédito. Como a recente crise económica demonstrou, 22 as tendências que afectam o poder de compra podem ter um forte impacto nos negócios, especialmente no caso de produtos dirigidos a consumidores de alto poder aquisitivo e aos sensíveis a preço. É necessário focalizar a distribuição de renda e os níveis de poupança, endividamento e disponibilidade de crédito. c. Variáveis socioculturais As variáveis socioculturais, como estilo de vida, moda, novos padrões de consciência social, novos formadores de opinião, definem o perfil do consumidor. Importante ressaltar que a busca por uma alimentação saudável tem provocado grandes alterações nos hábitos de consumo de alimentos, e isto influencia directamente a empresa rural. A partir do ambiente sociocultural, os profissionais de marketing devem compreender as visões que as pessoas têm de si próprias, das outras, das organizações, da sociedade, da natureza e do universo. Eles precisam colocar no mercado produtos que correspondam aos valores centrais e secundários da sociedade, assim como abordar as necessidades das diferentes subculturas existentes dentro dessa sociedade. d. Ambiente natural Regulamentações ambientais atingiram duramente certos sectores. O ambientalismo corporativo reconhece a necessidade de integrar as questões ambientais aos planos estratégicos das empresas. Elas precisam se conscientizar das ameaças e oportunidades associadas a quatro tendências do ambiente natural: a escassez de matérias-primas, especialmente de água, o custo mais elevado de energia, os níveis mais altos de poluição e a mudança no papel dos governos. Grandes oportunidades aguardam aqueles que forem capazes de conciliar prosperidade e proteção ambiental. e. Variáveis tecnológicas A tecnologia pode ser definida como determinado tipo de conhecimento que, a despeito de sua origem, é utilizado no sentido de transformar a realidade; e é uma das forças que mais afectam a vida das pessoas e, consequentemente, as empresas. Os profissionais de marketing devem levar em consideração a aceleração do ritmo das mudanças tecnológicas, as oportunidades ilimitadas para inovação, as variações nos orçamentos de P&D e a regulamentação mais rigorosa das inovações tecnológicas. f. Ambiente políticas-legal É formado por leis, órgãos governamentais e grupos de pressão que influenciam várias organizações e indivíduos. Às vezes, essas leis criam novas oportunidades de negócios. No caso das empresas rurais, a influência governamental começa com as políticas de crédito rural, passa 23 pela questão tributária e chega até os procedimentos de controlo e inspeção. Deve-se trabalhar respeitando as muitas leis que regulamentam as práticas de negócio e em harmonia com os vários grupos de interesses especiais. 2.2 CONDUÇÃO DE PESQUISA DE MARKETING Os profissionais de marketing competentes precisam de insights para ajudá-los a interpretar o desempenho passado e planear actividades futuras. Informações oportunas, precisas e práticas sobre os consumidores, a concorrência e suas marcas são imprescindíveis para que, da melhor maneira possível, eles possam tomar decisões táticas em curto prazo e estratégicas em longo prazo. Nos dias de hoje, o mercado representa uma realidade complexa para as empresas rurais, e o sucesso de suas estratégias depende, fundamentalmente, do conhecimentoque elas possuem sobre os desejos, as necessidades e as expectativas dos consumidores. A pesquisa é importante porque não é mais viável produzir e, depois, vender, como normalmente é feito, acreditando que os clientes aceitarão qualquer produto. Antes de mais nada, é necessário conhecer as motivações psicológicas e económicas do mercado, para saber, com exatidão, o que os consumidores precisam e quanto estão dispostos a gastar; depois, inicia- se a produção. Trata-se de colocar em prática a orientação para o mercado. São chamadas pesquisas de marketing as atividades sistemáticas de concepção, coleta, análise e edição de relatórios de dados e conclusões relevantes sobre uma situação específica de marketing enfrentada por uma empresa. 2.2.1 ETAPAS DO PROCESSO DE PESQUISA DE MARKETING O processo de pesquisa de marketing consiste em cinco etapas, conforme descrito a seguir. 1. Definição do problema, das alternativas de decisão e dos objetivos da pesquisa 24 Identificação do problema que se pretende resolver com o auxílio de uma pesquisa mercadológica. É preciso formular/explicitar a pergunta que se quer responder, as hipóteses/premissas e as decisões que permeiam a demanda de informações. A pesquisa pode ser exploratória - cuja meta é demonstrar a real natureza do problema e sugerir possíveis soluções ou novas ideias. Pode ser descritiva - quando procura determinar certas dimensões, por exemplo, quantas pessoas comprariam um serviço ou produto a determinado preço. E pode ser causal - cujo propósito é testar relações de causa e efeito. Mais detalhes ver Gil (2007). 2. Desenvolvimento do plano de pesquisa Esta etapa refere-se à elaboração de um projeto de pesquisa que auxilie no cumprimento dos objectivos e no teste das hipóteses anteriormente levantadas. Compreende, entre outras, as seguintes definições: qual o público-alvo, a construção do instrumento de colecta de dados (questionário), a definição do cronograma de trabalho etc. Para elaborar um plano de pesquisa, também é preciso tomar decisões sobre fontes de dados, metodologia de pesquisa, instrumentos de pesquisa, plano de amostragem e métodos de contato. Relativamente a fontes de dados, o pesquisador pode reunir dados secundários, dados primários ou ambos. Dados secundários são aqueles que já foram colectados para outra finalidade e podem ser encontrados em algum lugar. Dados primários são os novos dados que serão colectados para uma finalidade específica ou para um projecto específico de pesquisa. Normalmente, os pesquisadores começam sua investigação examinando a rica gama de dados secundários, de baixo custo e prontamente disponíveis, para verificar se o problema pode ser resolvido parcial ou totalmente sem o custo da colecta de dados primários. Quanto a abordagem de pesquisa, os dados primários podem ser coletados de cinco maneiras: por observação, focus groups (grupos de foco), survey, dados comportamentais e experimentação. Relativamente aos instrumentos de pesquisa, para a colecta de dados primários, os pesquisadores de marketing dispõem de três importantes instrumentos de pesquisa: questionários, pesquisa qualitativa e instrumentos mecânicos. Com relação ao plano de amostragem, após decidir sobre o método e os instrumentos da pesquisa, o pesquisador de marketing deve elaborar um plano de amostragem. Esse plano requer três decisões: Unidade de amostragem: quem será pesquisado? Tamanho da amostra: quantas pessoas devem ser entrevistadas? Procedimento de amostragem: como os entrevistados devem ser selecionados? 25 Uma vez determinado o plano de amostragem, o pesquisador de marketing deve decidir como entrar em contato com os entrevistados: por e-mail, telefone, entrevistas pessoais ou redes sociais. 3. Execução da pesquisa/ Coleta de informações É a etapa que envolve a realização da pesquisa propriamente dita. Subdivide-se em: a. Validação do instrumento de coleta; b. Trabalho de campo (coleta das informações); c. Digitação e conferência dos dados; d. Validação e análise da consistência dos dados. 4. Análise e interpretação dos dados/informações A etapa quase final no processo de pesquisa de marketing envolve tirar conclusões a partir da tabulação dos dados e do desenvolvimento de indicadores. Médias e medidas de dispersão são computadas para cada uma das principais variáveis. Os pesquisadores também aplicam algumas técnicas estatísticas e modelos de apoio à decisão avançados, na expectativa de obterem conclusões adicionais. Eles podem testar diversas hipóteses e teorias ao aplicar a análise de sensibilidade para verificar as premissas e a força das conclusões. 5. Apresentação de resultados Na etapa final, o pesquisador apresenta suas conclusões relevantes às principais decisões de marketing com as quais a direção da empresa se depara. Cada vez mais, os pesquisadores devem desempenhar um papel mais proativo, de consultoria, ao traduzir dados e informações em novas oportunidades e recomendações. Eles também analisam como apresentar resultados de pesquisa da maneira mais compreensível e convincente possível. 6. Tomada de decisão Algumas empresas utilizam sistemas de apoio a decisões de marketing para auxiliar seus gerentes de marketing a tomar decisões melhores. John Little, define um sistema de apoio a decisões de marketing como um conjunto coordenado de dados, sistemas, ferramentas e técnicas com software e hardware de apoio, por meio do qual uma empresa colecta e interpreta informações relevantes provenientes dos negócios e do ambiente e as transforma em uma base para a acção de marketing. 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta unidade, foi possível aprender a respeito de factores presentes no ambiente da empresa rural que determinam aspectos estratégicos ligados ao mercado que pretende alcançar; condições micro e macroambientais que influenciam as actividades na empresa. Ademias, abordaram-se aspectos importantes relacionados à pesquisa de mercado. Compreender que, na empresa rural, ou em qualquer tipo de empresa, é importante conhecer o mercado que se espera atender, e não somente produzir em função do que todos estão produzindo ou simplesmente “achar” que vai dar certo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS KOTLER, Philip & KELLER, Lane, “Administração de Marketing”, 12ª Edição. Printice Hall, São Paulo, 2006. ROUSSENQ, Matheus. Marketing aplicado ao agronegócio: “a percepção da geração y diante do meio rural, dos produtos rurais e dos agricultores”. Trabalho de conclusão de curso do curso de Graduação em Agronomia da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis – SC, Novembro de 2015. VELOSO, Helmer Soares; ALMEIDA, João Luiz de. Marketing em Agronegócio. e-Tec Brasil/CEMF/Unimontes, Escola Técnica Aberta do Brasil. Montes Claros – MG, 2011. ZAMBERLAN, Luciano; SPAREMBERGER, Ariosto; BÜTTENBENDER, Pedro Luís; WAGNER, Adriano. Relações de marketing na cadeia do agronegócio. Ed. Unijuí, 2009 – 122 p. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto). 27 UNIDADE 3: CONEXÃO COM OS CLIENTES Introdução Uma vez realizada a pesquisa de mercado, passamos a dispor de informações sobre o consumidor que precisam ser devidamente analisadas. Para tanto, precisamos saber qual o comportamento dos consumidores; conhecendo, por exemplo, qual tipo de alimentos as pessoas estão consumindo, pode-se adequar a oferta de produtos. Actualmente, as empresas têm enfrentado uma concorrência jamais vista. Se forem capazes, porém, de passar de uma orientação de vendas para uma orientação de marketing, poderão ter um desempenho melhor que o das rivais. E a essência de uma orientação de marketing bem concebida é o forte relacionamento com os clientes. Os profissionais de marketing devem se conectar com os clientes - informá-los, engajá-los e talvez até fazer com que participem activamente do processo. Empresas centradasnos clientes conseguem desenvolver relacionamentos, e não apenas produtos; são hábeis em engenharia de mercados, e não apenas em engenharia de produtos. As empresas de sucesso são aquelas que administram cuidadosamente sua base de clientes. Nesta unidade, descreveremos detalhadamente como elas conseguem atrair clientes e derrotar a concorrência. Grande parte do segredo está em satisfazer ou exceder as expectativas do cliente melhor do que os outros. 3.1 ANÁLISE DE MERCADOS CONSUMIDORES A natureza dinâmica do mercado de consumo é reflectida em sua distribuição, por um determinado espaço, e as características da população envolvida, conhecidas através de um conjunto de estatísticas vitais que descrevem uma população. 28 Nenhum plano de marketing direcionado ao mercado consumidor, por melhor que tenha sido a sua elaboração, poder-se-á almejar níveis satisfatórios de sucesso, caso as variáveis relacionadas com os objectivos da compra (por que compra), com a operação de compra (quem compra), com o objecto da compra (o que compra), e como compra (organização da operação de compra) não tenham ficado claramente definidos. Do pleno conhecimento do comportamento dessas variáveis, será possível o desenvolvimento de um composto de marketing eficaz, com o perfeito posicionamento de produtos (bens e serviços), para que possam atender, de forma mais precisa, necessidades e desejos manifestados pelos consumidores. Devido à grande importância do conhecimento do comportamento do consumidor, os estudiosos do comportamento humano procuram desenvolver modelos e teorias diversas que possam auxiliar na interpretação de diferentes necessidades e desejos dos diversos grupos de consumidores, que compram por diferentes razões e formas. O objectivo do marketing é atender e satisfazer as necessidades e os desejos dos clientes-alvo melhor do que os concorrentes. Os profissionais de marketing devem ter plena compreensão de como os consumidores pensam, sentem e agem para oferecer um valor adequado a cada consumidor-alvo. Na prática dos pressupostos e ferramentas de marketing, em qualquer tipo de negócio, conhecer o consumidor possui relevância estratégica. Os consumidores são variados e seu comportamento de compra também. O estudo do comportamento do consumidor é fundamental para satisfazer suas necessidades. É importante conhecer como ele compra, usa e disponibiliza dos produtos. Há muito tempo, existe a preocupação com o comportamento do consumidor e seus hábitos de compra, desde os primórdios do comércio e mesmo com a evolução da tecnologia e também das cidades. A migração de feiras livres tradicionais para os grandes supermercados. Isto é um reflexo das mudanças constantes pelas quais passamos. Ciências como Economia, Sociologia, Psicologia e Antropologia, ao longo dos últimos anos, têm fornecido subsídios ao marketing, na tentativa de se conhecer tais comportamentos. Até recentemente, o pessoal de marketing podia compreender mais facilmente os consumidores, por meio da experiência diária e do contato direto de venda, já que o vendedor atendia ao cliente no cliente. Porém, as empresas e o mercado cresceram, e o pessoal de marketing praticamente perdeu o contato físico com os seus clientes. 29 Nos dias actuais, as grandes organizações gastam consideráveis volumes de recursos financeiros para tentar entender padrões de comportamento dos seus clientes, conhecer suas necessidades, seus desejos, suas expectativas e, assim, poder encantá-los cada vez mais e atendê-los cada vez melhor, antes que outros o façam. A grande dúvida a conhecer é: quem, como, quando, onde e, acima de tudo, por que compra? A questão central é conhecer, nos mínimos detalhes, como os consumidores respondem aos vários estímulos mercadológicos que as organizações utilizam. Organizações que realmente compreenderem como os consumidores irão reagir às diferentes características do produto, dos preços, dos sistemas de distribuição e dos apelos da propaganda terão maiores chances de vantagens sobre os concorrentes. Empresas e pesquisadores têm procurado estudar a fundo a relação entre estímulos mercadológicos e as reações do consumidor. 3.1.1 Comportamento do consumidor - factores determinantes O comportamento do consumidor é o estudo de como indivíduos, grupos e organizações selecionam, compram, usam e descartam bens, serviços, ideias ou experiências para satisfazer suas necessidades e desejos. Os profissionais de marketing devem conhecer plenamente o comportamento de compra do consumidor tanto na teoria como na prática. O que influencia o comportamento do consumidor? O comportamento de compra do consumidor é influenciado por factores culturais, sociais e pessoais. Entre eles, os fatores culturais exercem a maior e mais profunda influência. Factores culturais Os factores culturais exercem a mais ampla, profunda e, portanto, duradoura das influências no comportamento do consumidor. O profissional de marketing precisa conhecer o papel exercido por esses fatores sobre as decisões de compra. A cultura é o principal determinante dos desejos e do comportamento de uma pessoa. Sob influência da família e outras importantes instituições, uma criança cresce exposta a valores como realização e sucesso, disposição, eficiência e praticidade, progresso, conforto material, individualismo, liberdade, bem-estar, humanitarismo e juventude. O pessoal envolvido com o Marketing de Consumo, inclusive na empresa rural, deve estar sempre atento para detectar mudanças culturais e, assim, projetar novos produtos que poderiam ser desejados pelos consumidores. 30 A “onda” criada pelos que buscam saúde e beleza física criou uma importante indústria, que projeta, fabrica e vende equipamentos destinados à modelagem de corpos; tudo isto sem contar com as indústrias de alimentos, o que afecta diretamente a empresa rural, por exemplo, com os produtos orgânicos. Recentemente, a introdução de alimentos produzidos a partir de sementes modificadas geneticamente tem acendido os debates sobre o uso de novas tecnologias, geradas com os avanços da Engenharia Genética, chegando-se mesmo a questionar os aspectos éticos dessa prática. Ao mesmo tempo, tem-se dado espaço também para o uso da Engenharia Genética na “modificação” de animais. Cada cultura é composta de subculturas que fornecem identificação e socialização mais específicas de seus membros. Entre as subculturas estão as nacionalidades, as religiões, os grupos raciais e as regiões geográficas. Quando essas subculturas crescem e se tornam influentes o bastante, as empresas geralmente elaboram programas de marketing específicos para atendê-las. Por exemplo, em Moçambique, encontram-se grupos como chineses, somalianos, nigerianos, italianos, alemães e outros, dentro de comunidades maiores e possuem gostos, padrões de comportamento e interesses etnicamente distintos dos adoptados pelas demais pessoas (nesse caso, moçambicanos). Praticamente todas as sociedades humanas apresentam estratificação social, com mais frequência na forma de classes sociais, divisões relativamente homogêneas e duradouras de uma sociedade, que são hierarquicamente ordenadas e cujos integrantes possuem valores, interesses e comportamentos similares. As classes sociais apresentam preferências nítidas por produtos e marcas em diversas áreas, como alimentos, vestuário, móveis para o lar, atividades de lazer e automóveis. Podem ser identificadas as seguintes classes sociais: classe alta-alta, classe alta, classe média-alta, classe média, classe operária, classe pobre e classe miserável. Factores sociais Além dos fatores culturais, o comportamento de compra do consumidor é influenciado por factores sociais, como grupos de referência, família, papéis sociais e status. Sabendo dessa realidade, as empresas que estão orientadas para o mercado devem terem mente esse facto quando projetam suas estratégias mercadológicas. Os grupos de referência são aqueles que exercem alguma influência directa (face to face) ou indireta sobre as atitudes ou o comportamento de uma pessoa. Os grupos que exercem 31 influência directa são chamados grupos de afinidade. Alguns deles são grupos primários, como família, amigos, vizinhos e colegas de trabalho, com os quais se interage de modo contínuo e informal. As pessoas também pertencem a grupos secundários, como grupos religiosos e profissionais ou associações de classe, que costumam ser mais formais e exigir menos interação contínua. As pessoas são significativamente influenciadas por seus grupos de referência de, pelo menos, três maneiras distintas. Os grupos as expõem a novos comportamentos e estilos de vida, influenciam atitudes e autoimagem, além de fazer pressões por aceitação social que podem afectar as escolhas reais de produto e marca. As pessoas também se deixam influenciar por grupos aos quais não pertencem. A família é a mais importante organização de compra de produtos de consumo na sociedade, e seus membros constituem o grupo de referência primário mais influente. Podemos distinguir dois tipos de família na vida do comprador. Primeiro, a família de orientação, que consiste nos pais e irmãos. Dos pais, uma pessoa adquire determinada orientação em relação a religião, política e economia, além de uma noção de ambição pessoal, autoestima e amor. Ainda que o consumidor não interaja mais com seus pais com tanta frequência, a influência deles sobre seu comportamento pode continuar sendo significativa. Uma influência mais directa no comportamento de compra diário é a chamada família de procriação - o cônjuge e os filhos. De modo geral, a esposa vem actuando como o principal agente de compras da família, sobretudo no que se refere a alimentação, artigos diversos e vestuário. Agora os papéis tradicionais de compra estão mudando, e seria inteligente por parte dos profissionais de marketing considerar tanto homens quanto mulheres como possíveis alvos. Outra mudança nos padrões de compra é o aumento da quantia gasta por crianças e adolescentes e da influência directa e indirecta que eles exercem. Por influência directa entendam-se as indicações, os pedidos e as exigências das crianças: “Eu quero ir ao Mega-Sabor”. A influência indirecta significa que os pais conhecem as marcas, escolhas e preferências de seus filhos sem indicações ou pedidos directos por parte deles: “Eu acho que Pedro e Emma gostariam de ir ao Mega-Sabor”. Um indivíduo participa de muitos grupos, tais como família, clubes, associações, organizações etc. Dentro de cada um desses grupos, a posição do indivíduo pode ser definida em termos de papéis e posição social. No seio do grupo familiar, um indivíduo pode ser filho (em relação aos pais), irmão e, muitas vezes, pai (em relação aos filhos), dentre outros papéis. Na empresa, ele desempenha outros papéis, como chefe, supervisor, gerente, proprietário etc. 32 Fatores pessoais As decisões do comprador também são influenciadas por características pessoais, como idade e estágio no ciclo de vida, ocupação e circunstâncias económicas, personalidade e autoimagem, estilo de vida e valores. Visto que muitas dessas características exercem impacto directo sobre o comportamento do consumidor, é importante que os profissionais de marketing as conheçam bem. Idade e ciclo de vida. Ao longo de suas vidas, os indivíduos não compram/consomem sempre os mesmos produtos. Os alimentos consumidos pelos recém-nascidos diferem em muito dos que são consumidos pelos adultos, o mesmo acontecendo com as roupas e os demais itens de consumo. A ocupação de um indivíduo orienta-o para o consumo e a posse de determinados produtos. Um trabalhador rural comprará roupas mais simples, nas quais a resistência seja um factor de maior importância do que a grife, talvez. Ele procurará diversões mais simples, o mesmo acontecendo com a alimentação e outros itens do seu dia a dia. Os profissionais de marketing tentam identificar os grupos de ocupação que possuem interesses acima da média por seus produtos, chegando até a customizar produtos para certos grupos ocupacionais. A situação socioeconómica de um indivíduo é outro factor que pode determinar o seu comportamento de compra. Indivíduos possuidores de melhor poder de compra, geralmente, optam por produtos mais sofisticados e mais caros. Nesse caso, os profissionais de marketing de produtos, cuja aquisição esteja directamente relacionada aos rendimentos, controlam cuidadosamente as tendências da renda pessoal, da poupança e das taxas de juros. Indicadores económicos apontando para períodos de recessão aconselham medidas para reprojectar preços dos seus produtos. Indivíduos originários de uma mesma subcultura, classe social ou ocupação podem ter estilos de vida bem diferentes. Estilo de vida é o padrão de vida expresso em actividades, interesses e opiniões de um determinado indivíduo. Ele define todo um padrão de agir e de interagir com o mundo, de forma bastante particular. Cada um de nós tem características de personalidade que influenciam nosso comportamento de compra. Ao falar em personalidade, referimo-nos a um conjunto de traços psicológicos distintos, que levam a reações relativamente coerentes e contínuas a um estímulo do ambiente (inclusive o comportamento de compra). De modo geral, a personalidade é descrita em termos 33 de características como autoconfiança, domínio, autonomia, submissão, sociabilidade, postura defensiva e capacidade de adaptação. É comum o consumidor escolher e usar marcas com personalidades coerentes com a sua autoimagem real (como essa pessoa se vê), embora em alguns casos a personalidade possa corresponder a sua autoimagem ideal (como essa pessoa gostaria de se ver), ou mesmo a sua autoimagem de acordo com os outros (como ela pensa que os outros a veem). Esses efeitos podem ser mais marcantes no caso de produtos consumidos em público do que no daqueles consumidos na vida particular. Por outro lado, consumidores com excesso de “autocobrança” - sensíveis à como os outros os veem - estão mais propensos a escolher marcas cuja personalidade corresponda à situação de consumo. Factores psicológicos São elementos psicológicos que interferem no comportamento do consumidor a motivação, a percepção, o processo de aprendizado, as crenças, as atitudes, etc. influenciam a reação do consumidor aos vários estímulos de marketing. Motivação. É a força interna que dirige o comportamento das pessoas. Pessoas que se sentem motivadas a comprar, em grande parte, fazem-no impulsionadas pela proteção de si próprias. Essa força interna que faz com que as pessoas adquiram produtos poderá ser tanto de ordem psicológica como fisiológica. Uma pessoa que sente fome (necessidade de alimentação) tende a procurar um local onde consiga o alimento de que necessita. No entanto, ela poderá evitar entrar em determinados locais que vendam alimentação, nos quais poderá, por exemplo, encontrar pessoas indesejáveis, por saber que o local não preza pela higiene, ou mesmo por temer que a sua reputação fique abalada se for vista naquele local. Ela poderá optar por procurar um determinado local onde, mesmo pagando mais caro pela refeição, poderá ser vista. Kotler (2000) cita que, de todos os estudos efetuados com o objetivo de coordenar a hierarquia das necessidades, o estudo efetuado por Abraham Masslow é o mais aceito pelos profissionais de marketing que lidam com a complexidade do comportamento humano nas compras. A teoria de Masslow, conhecida como Teoria da Hierarquização das Necessidades, ou simplesmente Pirâmide de Masslow, tem como fundamento a busca pelo indivíduo da autorrealização. Segundo Masslow, existem vários níveis de necessidade, até se chegar ao objectivo de 34autorrealização. Assim que um nível de necessidade é satisfeito, logo surge outro para ser satisfeito. Segundo Masslow, na base da pirâmide, estão as necessidades fisiológicas, básicas para a vida dos indivíduos, tais como: necessidade de alimentação, de mitigar a sede, da procriação (Figura 2). Enquanto essas necessidades não estiverem plenamente satisfeitas, elas serão predominantes na mente do indivíduo, que procurará satisfazê-las. Somente depois de havê-lo feito, ele irá preocupar-se com as demais que, por enquanto, eram irrelevantes. Nesse ponto é que se enquadram os produtos do agronegócio, pois, de uma forma geral, eles atendem às necessidades fisiológicas das pessoas. Figura 2 - Hierarquia das necessidades de Maslow Aprendizagem. Outro factor que tem preocupado bastante os mercadizadores é a forma como as pessoas aprendem a se comportarem diante de um produto, incluindo a aprendizagem em relação ao consumo/uso e como retirar o máximo de benefícios. Conhecendo os principais motivos que levam as pessoas a utilizarem de determinados produtos, o marketing poderá promovê-los, de forma a facilitar aos compradores o estabelecimento de preferências pelos produtos de uma empresa, deixando de lado os da concorrência. O aprendizado deve ser visto como sendo uma alteração no comportamento, de duração relativa, oriunda da prática, ou seja, as informações sobre os produtos servem para modificar os hábitos em relação ao seu uso ou consumo. 35 Percepção. É o processo pelo qual um indivíduo seleciona, organiza e interpreta a informação, para dar significado ao mundo. É a maneira como percebemos as coisas ao nosso redor, o que varia de indivíduo para indivíduo, de acordo com experiências anteriores, crenças, atitudes, valores, personalidade, etc. À medida que adquirimos maiores conhecimentos e experiências, nossa estrutura interna, cognitiva, vai alterando-se, ou seja, a percepção muda com o nível de conhecimento e com a familiaridade que se tem com os assuntos. É uma afirmativa, porém, de difícil constatação. Crenças e atitudes. Atitudes consistem no conhecimento e sentimentos positivos ou negativos a respeito de algo. Atitudes são, normalmente, adquiridas no convívio do indivíduo com grupos sociais que frequenta. Dessa forma, vamos encontrar, num mercado, pessoas com atitudes favoráveis ou desfavoráveis a determinados assuntos, ou mesmo produtos. Atitudes são geralmente estáveis, e não mudam muito repentinamente. Mudar uma atitude desfavorável em relação a um produto, por exemplo, é um trabalho difícil, que requer, muitas vezes, grandes investimentos. O conhecimento das atitudes dos consumidores é importante para os estudiosos do marketing, em relação aos seus produtos. Este conhecimento poderá auxiliar na adoção de medidas que tenham como objectivo mudar ou manter alguma situação do mercado. Normalmente, as atitudes são determinadas através de pesquisas que procuram identificar a opinião dos consumidores. 3.1.2 Informações e decisão de compra Percepção da necessidade ou desejo Esta etapa tem início quando o indivíduo percebe a necessidade ou o desejo de possuir ou usar os benefícios de um determinado bem ou serviço. A percepção da necessidade é geralmente precedida por um estado de ansiedade, que somente desaparece após a compra e o sentimento de que esta trouxe a solução do problema. Esse estado de ansiedade será directamente proporcional ao valor do produto e à sua complexidade. Busca de informações Nesta fase, a percepção da necessidade ou do desejo já está mais forte, o que leva o indivíduo à busca de maiores informações a respeito do produto pretendido. Nesta etapa do processo, o 36 estado de ansiedade persiste e, em alguns casos, tende a aumentar, quanto mais desencontradas forem as informações recebidas. Avaliação de alternativas Tendo já reunido um determinado volume de informações sobre o bem ou serviço, o indivíduo parte para avaliar todas essas informações, comparando-as, inclusive, com seus valores internalizados. Em muitos casos, dependendo do valor do produto, o indivíduo pode, ao final da avaliação das informações, partir para a busca de outras que confirmem a sua decisão de compra ou uso. O estado de ansiedade persiste e, quanto maior for o número de alternativas ou o seu grau de dificuldade (complexidade) para a avaliação, tende a aumentar mais ainda. O perfil do consumidor será de muita importância nessa avaliação. Consumidores indecisos travam autênticas batalhas para avaliarem alternativas e, muitas vezes, buscam auxílio com pessoas que tenham comprado o produto ou com outras, tais como os vendedores etc. Decisão de compra Nesta etapa, o indivíduo, já tendo reunido todas as informações necessárias à sua decisão, parte para efectivar a aquisição ou o aluguel do produto. Aqui, ainda são válidas informações adicionais, que poderão levá-lo a definir a compra em função de modelos específicos etc. Decidindo pela compra, o indivíduo terá inda muitas dúvidas, principalmente no tocante à veracidade do que está sendo prometido pelo equipamento/vendedor e o que ele irá receber realmente. Dependendo do valor da compra, o estado de ansiedade aumenta mais ainda. Avaliação (sensação) de pós-compra Nesta etapa, já tendo adquirido o bem ou serviço, o estado de ansiedade do indivíduo estará no seu grau máximo. A compra foi efetuada. O volume de expectativa do indivíduo em relação aos benefícios proporcionados pelas características de um produto, se atendidas, determinarão o fim do estado de ansiedade e o início de um estado de harmonia, já que as expectativas foram suficientemente atendidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERENTES A ANÁLISE DO MERCADO CONSUMIDOR Neste subcapítulo, foi possível conhecer alguns conceitos iniciais importantes, relacionados ao comportamento do consumidor. Importante compreender que esses conhecimentos são necessários na empresa rural, no sentido de direcionar esforços para ter, na propriedade, sempre produtos adequados ao padrão de consumo do mercado de actuação da empresa. Igualmente, 37 detalhou-se todos os fatores que influenciam o comportamento dos consumidores, sobretudo numa perspectiva cultural, social, pessoal e psicológica. Este conjunto de aspectos influi e determina a decisão de compra dos indivíduos. Para tanto, é importante que o profissional imbuído da gestão do marketing analise o processo de decisão de compra dos consumidores de modo a entender e dar subsídios à atuação da empresa visando influenciar esse processo. A pesquisa de todos esses factores pode fornecer sugestões sobre como atingir e atender os clientes de maneira mais efectiva. Segundo Batalha (1997) um fator importante, que não deve ser desconsiderado, é a identificação de quem toma a decisão de compra de um produto: se é quem vai consumi-lo, se é alguém responsável pelas compras da família ou se é um comprador institucional. No caso de produtos agroalimentares, quem adquire é um chefe de família ou um gestor de uma fábrica de produtos alimentares ou de um restaurante, por exemplo. Os critérios podem ser preço, embalagem ou facilidade de preparação. Se for o próprio consumidor, questões como sabor, diversidade de pratos e ambiente (no caso de alimentação fora de casa) tomam a dianteira. 3.2 ANÁLISE DOS MERCADOS ORGANIZACIONAIS As organizações não se limitam a vender; elas também compram vastas quantidades de matérias-primas, componentes manufaturados, instalações e equipamentos, suprimentos e serviços empresariais. Para criar e capturar valor, os vendedores precisam entender as necessidades, os recursos, as políticas e os procedimentos de compra dessas organizações. Algumas das marcas mais valiosas do mundo pertencem a empresas que vendem para o mercado organizacional, tais como Caterpillar, DuPont, Hewlett-Packard, IBM, Intel e Siemens, etc. Muitos princípios
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