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VADINHO_2022_1_DEFENSORIA_PÚBLICA_LEI_10_216_2001_LEI_ANTIMANICOMIAL

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CURSO RDP 
 
 
 
Código identificador 
ANTIMANICOMIAL 
Direito Penal 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Lei Antimanicomial 
(Lei nº 10.216/2001) 
VADINHO 
Direito Penal 
ANTIMANICOMIAL 
Direito Penal 
CURSO RDP 
Código identificador 
 
 
LEI Nº 10.216/2001 – LEI 
ANTIMANICOMIAL 
 
A LUTA ANTIMANICOMIAL 
O Movimento Nacional da Luta Antimanicomial se 
iniciou na década de 1970, a partir da discussão 
acerca das características da assistência psiquiátrica 
oferecida nos manicômios às pessoas com transtorno 
mental no Brasil. Importante ressaltar que, naquele 
momento, diversos setores da sociedade brasileira se 
mobilizavam em torno da redemocratização do país.1 
 
A estrutura manicomial se apresenta como 
desumana e ineficiente por seus resultados 
desastrosos, constituindo-se um lugar de sofrimento 
e dor, onde os pacientes, sem direito à defesa, são 
submetidos a maus tratos, privação de sua liberdade, 
de seu direito à cidadania e à participação social2. 
 
Para Goffman, as instituições totais de nossa 
sociedade podem ser, grosso modo, enumeradas em 
alguns agrupamentos. Há instituições criadas para 
cuidar de pessoas que, segundo se pensa, são 
incapazes e inofensivas (ex: nesse caso estão as casas 
para cegos, idosos, órfãos e indigentes). 
 
Ludmila estabelece que “Isso ocorreu a partir do 
golpe militar de 1964, quando a assistência à saúde 
foi caracterizada por uma política de privatização 
maciça. No campo da assistência psiquiátrica, 
fomentou-se o surgimento das “clínicas de repouso”, 
denominação dada aos hospitais psiquiátricos de 
então, além de métodos de busca e internamento de 
pessoas. Dessa forma, alguns segmentos da 
sociedade passaram a se manifestar sobre os efeitos 
nocivos das práticas manicomiais”. 
 
Os integrantes do Movimento Antimanicomial se 
mobilizaram durante anos, até que em 2001 foi 
aprovada a Lei nº 10.2016, instituindo diretrizes 
sobre saúde mental e proibindo diversas práticas. 
Art. 1o Os direitos e a proteção das pessoas acometidas 
de transtorno mental, de que trata esta Lei, são 
assegurados sem qualquer forma de discriminação 
quanto à raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, 
opção política, nacionalidade, idade, família, recursos 
 
 
 
 
1 Artigo: “O movimento antimanicomial: movimento social de luta pela garantia 
e defesa dos direitos humanos” de autoria de Ludmila Correia, disponível em: 
https://www.researchgate.net/publication/28156050_O_movimento_antimani 
comial_movimento_social_de_luta_pela_garantia_e_defesa_dos_direitos_hu 
manos. Acesso em 25 de setembro de 2020. 
econômicos e ao grau de gravidade ou tempo de 
evolução de seu transtorno, ou qualquer outra. 
 
Art. 2o Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer 
natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis 
serão formalmente cientificados dos direitos 
enumerados no parágrafo único deste artigo. 
 
Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de 
transtorno mental: 
 
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de 
saúde, consentâneo às suas necessidades; 
 
II - ser tratada com humanidade e respeito e no 
interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando 
alcançar sua recuperação pela inserção na família, no 
trabalho e na comunidade; 
 
III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e 
exploração; 
2 
IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; 
 
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, 
para esclarecer a necessidade ou não de sua 
hospitalização involuntária; 
 
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação 
disponíveis; 
 
VII - receber o maior número de informações a respeito 
de sua doença e de seu tratamento; 
 
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios 
menos invasivos possíveis; 
 
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços 
comunitários de saúde mental. 
 
Art. 3o É responsabilidade do Estado o desenvolvimento 
da política de saúde mental, a assistência e a promoção 
de ações de saúde aos portadores de transtornos 
mentais, com a devida participação da sociedade e da 
família, a qual será prestada em estabelecimento de 
saúde mental, assim entendidas as instituições ou 
unidades que ofereçam assistência em saúde aos 
portadores de transtornos mentais. 
 
 
 
2 GOFFMAN, Ervin. Manicômios, prisões e conventos. 7 ed. São Paulo: 
Perspectiva, 2003. 
https://www.researchgate.net/publication/28156050_O_movimento_antimanicomial_movimento_social_de_luta_pela_garantia_e_defesa_dos_direitos_humanos
https://www.researchgate.net/publication/28156050_O_movimento_antimanicomial_movimento_social_de_luta_pela_garantia_e_defesa_dos_direitos_humanos
https://www.researchgate.net/publication/28156050_O_movimento_antimanicomial_movimento_social_de_luta_pela_garantia_e_defesa_dos_direitos_humanos
ANTIMANICOMIAL 
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Art. 4o A internação, em qualquer de suas modalidades, 
só será indicada quando os recursos extra-hospitalares 
se mostrarem insuficientes. 
 
CASO DAMIÃO XIMENES LOPES – CORTE IDH 
Não há como falar sobre saúde mental e não 
mencionar o primeiro caso envolvendo violações de 
direitos humanos de pessoa com deficiência mental: 
o Caso Ximenes Lopes vs Brasil. Esse caso, além de ser 
o primeiro envolvendo violações de direitos humanos 
de pessoa com deficiência mental, também foi a 
primeira condenação sofrida pelo Brasil na Corte IDH. 
 
Em resumo, Damião Ximenes Lopes, que à época dos 
fatos possuía 30 anos, desenvolveu uma deficiência 
mental. Narram Caio Paiva e Thimotie Aragon (2020, 
p. 366/367) que “Damião Ximenes foi admitido em 
uma clínica particular chamado “Casa de Repouso 
Guararapes”, em Sobral-CE, como paciente do SUS, 
estando em perfeito estado físico, sem sinais de 
agressividade. Contudo, após dois dias teve uma crise 
de agressividade, tendo que ser retirado do banho 
por um auxiliar de enfermaria e por outros pacientes. 
Na noite do mesmo dia, Ximenes Lopes teve outro 
episódio de agressividade e voltou a ser contido. No 
dia seguinte sua mãe for visitá-lo, e encontrou 
sangrando, sujo, com hematomas, com as mãos 
amarradas para trás, gritando e pedindo socorro. 
Damião faleceu no mesmo dia, sem qualquer 
assistência médica no momento de sua morte”. 
 
Em 2006, o Brasil foi responsabilizado pela violação 
do direito à vida e à integridade pessoal de Ximenes 
Lopes (CADH, arts. 4.1, 5.1 e 5.2); direito à 
integridade pessoal dos familiares, inclusive pela 
ausência do estado brasileiro em investigar e punir os 
responsáveis pelos maus-tratos e óbito da vítima. 
 
Também foi nesse caso que a Corte IDH declarou a 
responsabilidade do Estado por atos cometidos por 
particulares (no caso, uma clínica particular). 
 
§ 1o O tratamento visará, como finalidade permanente, 
a reinserção social do paciente em seu meio. 
 
§ 2o O tratamento em regime de internação será 
estruturado de forma a oferecer assistência integral à 
pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo 
serviços médicos, de assistência social, psicológicos, 
ocupacionais, de lazer, e outros. 
§ 3o É vedada a internação de pacientes portadores de 
transtornos mentais em instituições com 
CARACTERÍSTICAS ASILARES, ou seja, aquelas 
desprovidas dos recursos mencionados no § 2o e que 
não assegurem aos pacientes os direitos enumerados 
no parágrafo único do art. 2o. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Art. 5o O paciente há longo tempo hospitalizado ou para 
o qual se caracterize situação de grave dependência 
institucional, decorrente de seu quadro clínico ou de 
ausência de suporte social, será objeto de política 
específica de alta planejada e reabilitação psicossocial 
assistida, sob responsabilidade da autoridade sanitária 
competente e supervisão de instância a ser definida 
pelo Poder Executivo, assegurada a continuidade do 
tratamento, quando necessário. 
 
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada 
mediante laudo médico circunstanciado que caracterize 
os seus motivos. 
 
Parágrafoúnico. São considerados os seguintes tipos de 
internação psiquiátrica: 
 
I - internação voluntária: aquela que se dá com o 
consentimento do usuário; 
 
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o 
consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e 
 
III - internação compulsória: aquela determinada pela 
Justiça. 
 
 
 
 
3 Goffman, E. (1987). Manicômios, prisões e conventos. 2ª ed. São Paulo: 
Perspectiva. 
IMPORTANTE IMPORTANTE 
INSTITUIÇÕES TOTAIS SEGUNDO GOFFMAN 
Segundo Goffman (1987)3, as instituições totais se 
caracterizam por serem estabelecimentos fechados 
que funcionam em regime de internação, onde um 
grupo relativamente numeroso de internados vive 
em tempo integral, como é o caso dos Manicômios, 
prisões e conventos. Nós, pessoas livres, 
trabalhamos, em regra, em lugares que não as nossas 
casas, estudamos em outro (escola, faculdade, 
cursinhos, etc), nos divertimos em outro (praia, 
barzinhos, praças, etc), e fazemos nossas refeições 
por vezes em restaurantes, hotéis, etc. Nas 
instituições totais tudo acontece em um único lugar: 
prisão, convento ou manicômio. 
 
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Art. 11. Pesquisas científicas para fins diagnósticos ou 
terapêuticos não poderão ser realizadas sem o 
consentimento expresso do paciente, ou de seu 
representante legal, e sem a devida comunicação aos 
conselhos profissionais competentes e ao Conselho 
Nacional de Saúde. 
 
 
 
 
Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua 
internação, ou que a consente, deve assinar, no 
momento da admissão, uma declaração de que optou 
por esse regime de tratamento. 
Art. 12. O Conselho Nacional de Saúde, no âmbito de sua 
atuação, criará comissão nacional para acompanhar a 
implementação desta Lei. 
 
Art. 13. Esta Lei entra em vigor na data de sua 
publicação. 
 
Parágrafo único. O término da internação voluntária 
dar-se-á por solicitação escrita do paciente ou por 
determinação do médico assistente. 
Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente 4 
será autorizada por médico devidamente registrado no 
Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde 
se localize o estabelecimento. 
§ 1o A internação psiquiátrica involuntária deverá, no 
prazo de 72 horas, ser comunicada ao Ministério Público 
Estadual pelo responsável técnico do estabelecimento 
no qual tenha ocorrido, devendo esse mesmo 
procedimento ser adotado quando da respectiva alta. 
 
§ 2o O término da internação INVOLUNTÁRIA dar-se-á 
por solicitação escrita do familiar, ou responsável legal, 
ou quando estabelecido pelo especialista responsável 
pelo tratamento. 
 
Art. 9o A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA é determinada, 
de acordo com a legislação vigente, pelo juiz 
competente, que levará em conta as condições de 
segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do 
paciente, dos demais internados e funcionários. 
 
Art. 10. Evasão, transferência, acidente, intercorrência 
clínica grave e falecimento serão comunicados pela 
direção do estabelecimento de saúde mental aos 
familiares, ou ao representante legal do paciente, bem 
como à autoridade sanitária responsável, NO PRAZO 
MÁXIMO DE 24 HORAS DA DATA DA OCORRÊNCIA. 
IMPORTANTE 
IMPORTANTE 
IMPORTANTE 
INTERNAÇÃO PSIQUIÁTRICA 
Internação 
voluntária 
Aquela que se dá com o 
consentimento do usuário; 
Internação 
involuntária 
Aquela que se dá sem o 
consentimento do usuário e a 
pedido de terceiro; 
Internação 
compulsória Aquela determinada pela Justiça. 
 
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