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Beatriz Martins - 92 Ortodontia Preventiva I Aula 12 - Mordida Cruzada Posterior Mordida Cruzada Posterior Situação em que um ou mais dentes ocupam posições anormais no sentido vestíbulo-lingual. A posição pode ser lingual ou vestibular com relação aos dentes antagonistas. Prevalência 8% dentição decídua 23% dentição mista 10% dentição permanente A prevalência indica que a mordida cruzada posterior não se autocorrige, não vai corrigir com o crescimento e necessita de intervenção assim que diagnosticada. Tipos de mordida cruzada posterior Mordida cruzada posterior lingual: (mais prevalente) Dente superior está ocluindo para lingual em relação ao dente inferior. Pode ser mais sutil ou mais acentuada (próximo de um cruzamento total, completo). Mordida cruzada posterior vestibular: Dente superior oclui muito para vestibular em relação ao inferior, fora do encaixe de uma oclusão normal. Etiologia Retenção prolongada de decíduos: gera mudança na posição dos germes dos permanentes (que acabam irrompendo em posição errada). Pode ocasionar também sequência de erupção inversa - dente superior acaba erupcionando antes que inferior, e perde a guia que o inferior proporciona, podendo interferir na mordida. O desvio na trajetória (ectópica) também pode favorecer MCP. Discrepância ósseo dental (falta de espaço no arco): não tem espaço para que os dentes se acomodem de forma correta, podendo levar a MCP. Discrepância esquelética ântero-posterior (maxila e mandíbula): Situações em que a maxila fica posicionada ‘dentro’ da mandíbula completamente. Hábitos parafuncionais -Sucção de polegar: prende a língua no assoalho bucal, e ela deixa de exercer a força lateral no palato. O músculo bucinador por sua vez faz a força contrária, para dentro, e sem resistência gera a contração do palato, que favorece MCP. *Pode causar também mordida aberta, palato profundo, etc. -Dormir com a mão embaixo do rosto: geralmente é de um lado específico, e com o tempo gera contração da maxila no sentido transversal - MCP -Respiração bucal: contração da maxila pela má posição da língua. Deve ser tratada sendo só um hábito ou tendo um problema relacionado (rinite, adenóide) Fissuras lábio palatinas: geralmente necessitam de cirurgias precoces, que formam cicatrizes e podem favorecer o hipodesenvolvimento; dificultam o crescimento transversal e anteroposterior da maxila - favorece MCP. Classificação Dentária, funcional ou esquelética. A MCP dentária envolve apenas dentes, a funcional tem relação com alteração muscular e geralmente desvio funcional de mandíbula e a esquelética geralmente quando o osso maxilar é mais estreito que a mandíbula. Beatriz Martins - 92 O diagnóstico envolve exame extra oral, exame intra oral e exame funcional Exame extra oral Observar se há deficiência zigomática (geralmente apresenta achatamento do terço médio da face), e se sim, é provável que a MCP seja esquelética. Importante também observar assimetrias. Geralmente assimetria pode ser estar ligada a desvio funcional de mandíbula, o que indica MCP funcional. Exame intra oral Observar o número de dentes envolvidos na mordida cruzada posterior. Quando apenas um ou dois dentes tem mordida cruzada é provável que seja dentária. Alinhamento e rebordo vestibular - se dentes estão todos alinhados e ainda assim existe uma MCP, o mais provável é que seja esquelética. Quanto ao rebordo, olhar o posicionamento dos dentes nele. Linhas medianas também podem indicar alteração de desvio funcional da mandíbula. Exame funcional Envolve a manipulação da mandíbula. Observar possíveis interferências oclusais que possam causar desvio funcional da mandíbula. Observar alterações musculares e articulares. Observação de modelos Quando tem-se linha média desviada, tentar colocar em posição alinhada no modelo e observar se corrige a MCP. Se sim, provavelmente a MCP é funcional. Exames de imagem Radiografia frontal (PA) demonstra se o problema que envolve a MCP é ósseo, se existe assimetria. A tomografia também pode ser utilizada para estudo, e fornece mais precisão. *Importante sempre observar se a MCP é uni ou bilateral. Mordida Cruzada Posterior Dentária Geralmente apresenta padrão de erupção defeituoso, inclinação incorreta de um ou mais dentes (máximo de 3) e não afeta o tamanho ou formato do osso basal. Mordida Cruzada Posterior Funcional Manifesta-se unilateralmente quando em MIH. É bastante prevalente e tem algumas características: -Linha média geralmente não coincide -Tem-se desvio da mandíbula envolvido (geralmente um contato prematuro faz com que haja alteração da oclusão buscando uma posição mais confortável, e isso geralmente envolve o desvio mandibular). Para saber se existe esse desvio é necessário fazer a manipulação da mandíbula, tentando levá-la em RC. Pode ser necessário fazer uma desprogramação muscular por alguns minutos para tentar levar em cêntrica. Se for possível alinhar as linhas médias, provavelmente a mordida fica topo a topo dos dois lados, o que indica mordida cruzada posterior funcional, que necessita correção de ambos os lados. *Do lado da MCP, em MIH, o côndilo pressiona a cavidade para cima e para trás e do lado oposto tem-se o côndilo para frente e para baixo, se afastando da cavidade articular. Pode estar associado à assimetria facial. Beatriz Martins - 92 Mordida Cruzada Posterior Esquelética Discrepância estrutural entre maxila e mandíbula, levando à desarmonia em dente na largura dos arcos. Maxila geralmente é em V e palato profundo. Essa condição pode estar associada a displasia no sentido ântero-posterior. Pode haver deficiência transversal da maxila ou aumento transversal da mandíbula ou as duas situações juntas. Importante observar distância entre molares pelo ponto mais cervical da palatina de cada molar, distâncias igual ou menores que 30mm podem indicar atresia esquelética da maxila, o que pode causar MCP esquelética. Tratamento É importante salientar que cada caso é um caso, e existem diversas possibilidade de tratamento, podendo até mesmo coincidir entre tratamento de MCP dentária, funcional ou esquelética Tratamento MCP dentária -Elásticos intermaxilares: geralmente usados para movimentação de ou ou dois dentes, quando o antagonista também está fora de posição. Elástico na vestibular de um dente e na palatina do antagonista a depender do movimento necessário. Ocorre movimento recíproco, portanto se o intuito é movimentar ou só superior, ou só inferior, é necessário reforço de ancoragem no arco que não precisa movimentação (botão de nance ou arco lingual por exemplo). Correção rápida 2-3 meses. Uso deve ser contínuo, retira elásticos para refeições e troca todos os dias. Força de 50/60gr. -Aparelho removível com molas: molas ativadas movimentam o dente para vestibular. O parafuso tem o mesmo intuito. Às vezes precisa ancoragem do lado que não quer mexer. *Splint oclusal: evita oclusão e facilita a movimentação ao mesmo tempo que gera desprogramação muscular. Não ativa já na primeira consulta, só instala e ativa na próxima. 1 a 2 quartos de volta por consulta. Avaliar a colaboração do paciente a cada consulta - se estiver justo no retorno significa que não houve movimentação dentária, ou seja, o paciente usou pouco. Tratamento de aproximadamente 12 meses (6 para correção e 6 manutenção) Tratamento MCP funcional -Aparelho removível Com expansor encapsulado, com parafuso expansor, com mola Coffin. -Aparelhos fixos Arco em W de porter, bihélice, quadrihélice. *Quanto mais fio no aparelho, mais leve, mais fisiológico o ajuste. -Ajustes oclusais Tratamento MCP esquelética Podem ser utilizados disjuntores (haas, hyrax, McNamara), disjunção cirúrgica e MARPE Disjuntor Haas - protocolo de ativação até 14 anos (sutura ainda não está calcificada) -4 quartos de volta na instalação do aparelho (15 minutos de intervalo entre cada; 1mmtotal) Beatriz Martins - 92 -2 quartos de volta por dia (de manhã e de noite) -2 a 4 quartos de volta no retorno semanal -Duração aproximada de 2-3 semanas de tratamento e uso de contenção por 6 meses. Em cada retorno verificar o andamento, se está sendo eficaz. Quando alcança a expansão necessária e um pouquinho a mais, para de ativar. Mas mantém para que novo osso se forme. É importante realizar radiografias oclusais em 3 momentos -Antes da cimentação do aparelho (verificar se a sutura não está fusionada) -Após 2-3 semanas de uso do disjuntor (para ver o quanto separou) -Após 6 meses de contenção ( para ter certeza que formou osso). *A sutura palatina mediana abre em ‘V’ e também ocorre inclinação das paredes no processo. O diastema é um sinal clínico de sucesso. Além de corrigir a MCP, o disjuntor pode fornecer espaço no arco para melhor posicionamento dos dentes. Disjuntor McNamara: Splint impede giro da mandíbula para baixo e para trás, mas precisa muito a cimento para cimentação e sua remoção é difícil. Em adultos, quando a sutura já está fusionada pode ser indicado a SARPE ou ERMAC (expansão rápida da maxila auxiliada de cirurgia), em que o cirurgião quebra as áreas de resistência para permitir a ação do aparelho. Indicações: homens acima de 18 anos e mulheres acima de 16; adultos com deficiência transversal maxilar, largo corredor bucal, apinhamento superior ou falha na expansão rápida da maxila. MARPE - microimplant assisted rapid palatal expansion Funciona muito bem em pacientes entre 18-25 anos. São colocados mini implantes inseridos na sutura palatina mediana e há ativação do aparelho e consequente quebra da sutura palatina mediana. Conclusão É importante identificar a causa e tipo de MCP para estabelecer tratamento adequado e imediato.
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