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DIREITOS HUMANOS 
 
SUMÁRIO 
 
Direitos Humanos e Responsabilidade do Estado* ..... 1 
 
Direitos Humanos na CRFB/88* .................................. 2 
 
Política Nacional de Direitos Humanos ....................... 3 
 
Violências de gênero ................................................... 3 
 
Violência doméstica .................................................... 5 
 
Lei Maria da Penha* .................................................... 6 
 
Racismo / Racismo Institucional ................................ 14 
 
Estatuto da Igualdade Racial* ................................... 16 
 
Estatuto da Pessoa com Deficiência* ........................ 24 
 
Direito das pessoas moradoras de favelas ................ 24 
 
Direito das vítimas de violência de Estado ................ 24 
 
Diversidade sexual .................................................... 25 
 
Direito das pessoas LGBTQIA+* ............................... 25 
 
Homofobia, discriminação por orientação sexual e 
identidade de gênero e o crime de racismo ............... 27 
 
Tortura* ..................................................................... 29 
 
As Garantias Judiciais e os direitos pré-processuais 
................................................................................... 30 
 
Direito a não ser torturado ......................................... 30 
 
População em situação de rua .................................. 31 
 
Conceito e Princípios das Políticas Públicas ............. 31 
 
Recolhimento Compulsório ....................................... 32 
 
 
* Conteúdos prioritários 
 
 
DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIDADE DO 
ESTADO 
 
Atenção! Este é um conteúdo prioritário! 
Para promover a solução de conflitos no que 
diz respeito aos direitos humanos e ao bem-estar entre 
os Estados, criaram-se muitos tratados em busca da 
proteção de direitos e dissolução de controvérsias, 
mas, ainda assim, houve a necessidade da criação de 
sistemas jurídicos, ou seja, das Cortes Internacionais. 
Essas Cortes foram e são criadas em conjunto pelos 
Estados, que, por sua vez, estabelecem suas regras e 
competências - o que se poderá julgar e quem poderá 
julgar. Vale mencionar, também, que entre estas Cortes 
não há hierarquia, pois cada sistema possui a sua 
própria hierarquia. 
Ainda no que diz respeito à criação de 
mecanismos para a proteção internacional da pessoa 
humana, houve a criação da CIJ - Corte Internacional 
de Justiça, também conhecida como Corte de Haia, por 
estar situada em Haia nos Países Baixos. A CIJ foi 
criada em 1945, no mesmo contexto da criação da ONU 
e tem como objetivo promover a manutenção da paz. 
Nessas circunstâncias de proteção e manutenção da 
paz, surgem outros sistemas de atuação conjunta à da 
ONU, com o mesmo propósito de proteção dos direitos 
humanos, os chamados “sistemas regionais de 
proteção”, que procuram dar estabilidade aos direitos 
humanos nos planos regionais, como na Europa, 
América e África. 
No que tange à responsabilização dos Estados 
frente à violação de direitos humanos e entre outras 
regras de Direito Internacional, vale reiterar que dentro 
do Direito Internacional Público não existe estrutura 
hierarquizada que detenha o completo monopólio da 
força. Não existe tratado que regulamente como se 
deverá proceder para aplicar uma sanção a um Estado 
que viole os direitos humanos, porém, existem regras 
costumeiras gerais, que envolvem a observância de 
três requisitos para que um país seja penalizado: i) Se 
o ato ou omissão é passível de responsabilização, ii) Se 
causou dano e iii) Se há nexo de causalidade. Além 
disso, observa-se também se o dano causado é ilícito 
ou escusável e se viola dois princípios basilares, como 
o Princípio da Prevenção – princípio consolidado do 
Direito Internacional, que se refere ao conhecimento do 
risco e da escolha de assumir causar o dano - e o 
Princípio da Precaução – princípio que ainda está em 
consolidação, mas se refere a suspeita fundada de 
risco, em que se solicita que o Estado busque conhecer 
dos riscos de sua atuação sob pena de 
responsabilização. 
Os meios para pressionar um Estado a 
modificar sua atuação frente à violação de direitos 
humanos e tratados são utilizando dos mecanismos de 
Contramedidas (retorsão e represália) ou Guerras. A 
retorsão é um mecanismo de pressão não armada, um 
ato que, embora lícito, é considerado descortês ou 
desproporcional, pois se utiliza da ideia de fazer com 
que o Estado repense suas atitudes sem a utilização da 
força, como por exemplo, expulsando nacionais do 
Estado infrator de seu Estado ou decretando 
suspensão de emissão de vistos. Já a represália pode 
utilizar do uso da força armada contra um ato ilícito, – 
não vale para violação de direitos humanos - fazendo 
com que o Estado infrator retome a obrigação dele. 
Esse mecanismo deve ser proporcional, principalmente 
se for armado. Para que a represália com uso de força 
armada seja lícita é necessário que se tenha tentado 
dialogar com o Estado infrator anteriormente. No caso 
do uso da força armada, que seria a própria Guerra, 
vale mencionar que o Direito Internacional proíbe esse 
mecanismo, mas pode ser utilizado em duas situações: 
 
i. Legítima defesa; 
ii. Segurança coletiva. 
 
Com relação às sanções aplicadas pelo 
sistema regional sobre violação de direitos humanos, 
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trataremos do sistema regional da América ou Sistema 
Interamericano de Proteção aos Direitos Humanos, 
aplicável ao Brasil. Sendo assim, é indispensável 
mencionar que, um dos Tratados que regem a essência 
deste sistema é o Tratado de São José da Costa Rica 
(1969), pois foi durante a conferência deste Tratado 
que o Sistema Interamericano foi criado. O Tratado de 
São José da Costa Rica foi constituído com o intuito de 
alicerçar um acordo entre os países do Continente 
Americano, dentro do rol de países de instituições 
democráticas, para reafirmar os direitos humanos. 
Dessa forma, houve a necessidade de se criar um 
sistema jurídico que pudesse resolver as controvérsias 
em nosso Continente. 
O Sistema Interamericano de Proteção aos 
Direitos Humanos é composto por dois órgãos 
autônomos da OEA – Organização dos Estados 
Americanos, sendo eles a Corte Interamericana de 
Direitos Humanos e a Comissão Interamericana de 
Direitos Humanos. A Corte Interamericana é composta 
por sete juízes eleitos pela OEA, com mandato de seis 
anos, havendo a possibilidade de recondução por uma 
vez. Além dos seis juízes tem-se a possibilidade de se 
nomear um juiz ad hoc. A Corte Interamericana possui 
competência Contenciosa e Consultiva em matéria de 
direitos humanos, em que a competência Contenciosa 
diz respeito às demandas litigiosas, em que os Estados 
membros da OEA devem reconhecer a competência da 
corte para que se possa decidir sobre os litígios. Já a 
competência Consultiva diz respeito às demandas de 
interpretação sobre os dispositivos contidos em 
Tratados em que os países membros da OEA fazem 
parte. 
Sobre a violação de direitos humanos e com 
base no Sistema Interamericano de Direitos Humanos, 
é possível dizer que tanto um Estado Americano, OI – 
Organizações Internacionais, como um cidadão 
americano, podem buscar pela tutela do Sistema 
Interamericano. Sendo assim, o processamento de um 
agente infrator – que, normalmente, será um Estado - 
se dá com uma denúncia escrita, que deve obedecer a 
alguns requisitos, como: 
a) Quando houver esgotamento dos recursos 
internos; 
b) Ser enviada após o prazo de até seis meses da 
notificação do último recurso. A denúncia é 
recebida, primeiramente, pela Comissão 
Interamericana de Direitos Humanos, que irá 
analisar a admissibilidade do litígio e se possui 
a competência para solucioná-lo. 
 
Se a Comissão aceita a denúncia passa a 
buscar por esclarecimentos por parte do agente 
infrator, feito isso, a Comissão emite um relatório ou 
carta contendo recomendações para solucionar o 
determinado conflito.Por último, caso o infrator não 
tome as devidas providências para solucionar o 
problema, o caso passa a ser analisado pela Corte 
Interamericana de Direitos Humanos, em que apenas 
os Estados possuem acesso. Vale mencionar que, a 
Corte Interamericana julga demandas que se referem 
às violações de direitos humanos e sua tomada de 
decisões são públicas e as deliberações são sigilosas, 
com fundamento no Pacto de São José da Costa Rica, 
sendo este o processo para penalizar um país que 
tenha praticado violação de direitos humanos. A título 
de curiosidade, os países sujeitos ao Sistema 
Interamericano são: a Argentina, Barbados, Bolívia, 
Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, 
Equador, Grenada, Guatemala, Haiti, Honduras, 
Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, 
República Dominicana, Suriname, Saint Kitts e Nevis, 
Trinidad e Tobago, Uruguai e Venezuela. 
 
 
DIREITOS HUMANOS NA CRFB/88 
 
Atenção! Este é um conteúdo prioritário! 
A dignidade da pessoa humana pode ser 
considerada como o fundamento último do Estado 
brasileiro. Ela é o valor-fonte a determinar a 
interpretação e a aplicação da Constituição, assim 
como a atuação de todos os poderes públicos que 
compõem a República Federativa do Brasil. Em 
síntese, o Estado existe para garantir e promover a 
dignidade de todas as pessoas. É nesse amplo alcance 
que está a universalidade do princípio da dignidade 
humana e dos direitos humanos. 
Como valor-fonte, é da dignidade da pessoa 
humana que decorrem todos os demais direitos 
humanos. A origem da palavra dignidade ajuda-nos a 
compreender essa ideia essencial. Dignus, em latim, é 
um adjetivo ligado ao verbo decet (é conveniente, é 
apropriado) e ao substantivo decor (decência, decoro). 
Nesse sentido, dizer que alguém teve tratamento digno 
significa dizer que essa pessoa teve tratamento 
apropriado, adequado, decente. 
Se pensarmos em dignidade da vida humana 
ou o que é necessário para se ter uma vida digna, 
começaremos a ver com mais clareza como todos os 
direitos humanos decorrem da dignidade da pessoa 
humana. Para que uma pessoa, desde sua infância, 
possa viver, crescer e desenvolver suas 
potencialidades decentemente, ela precisa de 
adequada saúde, alimentação, educação, moradia, 
afeto; precisa também de liberdade para fazer suas 
opções profissionais, religiosas, políticas, afetivas, etc. 
Esse conjunto de necessidades e capacidades nada 
mais é que o conteúdo dos direitos humanos, 
reconhecidos, por essa razão, como princípios e 
direitos fundamentais na Constituição Brasileira. 
A dignidade é atributo essencial do ser 
humano, quaisquer que sejam suas qualificações. Em 
última instância, a dignidade humana reside no fato da 
existência do ser humano ser em si mesma um valor 
absoluto, ou como disse o filósofo alemão Kant: “o ser 
humano deve ser compreendido como um fim em si 
mesmo e nunca como um meio ou um instrumento para 
a consecução de outros fins”. 
O Estado deve ser instrumento a serviço da 
dignidade humana e não o contrário. Por essas razões, 
o princípio da dignidade da pessoa humana exige o 
firme repúdio a toda forma de tratamento degradante 
(indigna) do ser humano, tais como a escravidão, a 
tortura, a perseguição ou o mau trato por razões de 
gênero, etnia, religião, orientação sexual ou qualquer 
outra. 
É em decorrência do princípio da dignidade da 
pessoa humana que a Constituição de 1988, no seu 
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Título II, “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, 
afirma uma extensa relação de direitos individuais e 
coletivos (Capítulo I, Artigo 5o), de direitos sociais 
(Capítulo II, Artigos 6o a 11), de direitos de 
nacionalidade (Capítulo III, Artigos 12 e 13) e de direitos 
políticos (Capítulo IV, Artigos 14 a 16). 
 
 
Prevalência dos Direitos Humanos nas Relações 
Internacionais 
 
A Constituição de 1988, em seu Artigo 4o, 
inciso II, é a primeira em nossa história a estabelecer a 
prevalência dos direitos humanos como princípio do 
Estado brasileiro em suas relações internacionais. 
Se a dignidade da pessoa humana, com todos 
os direitos humanos dela decorrentes, deve orientar a 
atuação do Estado no âmbito nacional, seria 
contraditório renegar esses princípios no âmbito 
internacional. Afinal, não são apenas os brasileiros que 
devem ter sua dignidade humana respeitada e 
promovida, mas todas as pessoas, todos os seres 
humanos, pelo fato único e exclusivo de serem 
pessoas. Negar a prevalência desse princípio nas 
relações internacionais seria negar a humanidade dos 
que não são brasileiros. 
Assim, ao afirmar esse princípio, o Estado 
brasileiro compromete-se a respeitar e a contribuir na 
promoção dos direitos humanos de todos os povos, 
independentemente de suas nacionalidades. 
A prevalência dos direitos humanos nas 
relações internacionais ganha maior relevância no 
momento histórico em que vivemos, no qual, em virtude 
do desenvolvimento tecnológico, as distâncias entre as 
nações tendem a se encurtar cada vez mais e todas as 
pessoas tendem a se tornar verdadeiras cidadãs do 
mundo. 
Um estado regido pelo princípio fundamental 
da dignidade da pessoa humana não pode desprezar 
as violações dos direitos humanos praticadas por ou 
em outros estados. Com a adoção desse princípio, o 
Brasil une-se à comunidade internacional, assumindo 
com ela e perante ela a responsabilidade pela 
dignidade de toda pessoa humana. 
A Carta de 1988 é a primeira constituição 
nacional a consagrar um universo de princípios que 
guiam o Brasil no cenário internacional, fixando valores 
que orientam a agenda internacional do País. Essa 
orientação internacionalista se traduz nos princípios da 
prevalência dos direitos humanos, da 
autodeterminação dos povos, do repúdio ao terrorismo 
e ao racismo e da cooperação entre os povos para o 
progresso da humanidade, nos termos do artigo 4o, 
incisos II, III, VIII e IX. O artigo 4o, como um todo, 
simboliza a reinserção do Brasil na arena internacional. 
Essa inovação em relação às Constituições 
anteriores consagra a prioridade do respeito aos 
direitos humanos como a principal referência para a 
atuação do País no cenário internacional. Isso implica 
não apenas o engajamento do Brasil no processo de 
elaboração de normas internacionais de direitos 
humanos, mas também a busca da plena incorporação 
de tais normas no direito interno. Implica ainda o 
compromisso de adotar uma posição política contrária 
aos Estados em que os direitos humanos sejam 
gravemente desrespeitados. 
Ao reconhecer a prevalência dos direitos 
humanos em suas relações internacionais, o Brasil 
também reconhece a existência de limites e 
condicionamentos à soberania estatal. Isto é, a 
soberania do Estado fica submetida a regras jurídicas, 
tendo como padrão obrigatório a prevalência dos 
direitos humanos. Rompe-se com a concepção 
tradicional de soberania estatal absoluta, relativizando-
a em benefício da dignidade da pessoa humana. Esse 
processo condiz com o Estado Democrático de Direito 
constitucionalmente pretendido. 
Se para o Estado brasileiro a prevalência dos 
direitos humanos é princípio a reger o Brasil no cenário 
internacional, está-se, consequentemente, admitindo a 
ideia de que os direitos humanos são tema de legítima 
preocupação e interesse da comunidade internacional. 
Nessa concepção, os direitos humanos surgem para a 
Carta de 1988 como tema global. Tudo isso tem levado 
o Brasil a adotar os mais relevantes tratados 
internacionais de direitos humanos. 
Também é de extrema importância o alcance 
da previsão do Artigo 5o, parágrafo segundo da Carta 
de 1988, ao determinar que os direitos e garantias 
expressos na Constituição não excluem outros 
decorrentes dos tratados internacionais em que o Brasil 
seja parte. Isto é, ao aderir a um tratado internacional 
de direitos humanos, o Brasil não apenas assume 
compromissos perante a comunidade internacional, 
mas também amplia o catálogo de direitos humanos 
previstos emnossa Constituição. 
 
POLÍTICA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS 
 
Clique no link abaixo para ler o Decreto nº 7.037, de 21 
de dezembro de 2009 (Programa Nacional de Direitos 
Humanos - PNDH-3) 
 
Decreto nº 7.037, de 21 de dezembro de 2009 
(Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3) 
 
 
VIOLÊNCIAS DE GÊNERO 
 
Alcançar a igualdade entre os gêneros é um 
dos 17 objetivos na Agenda 2030 da Organização das 
Nações Unidas (ONU), da qual o Brasil é signatário. No 
entanto, o nosso país ocupa o 5° lugar no ranking de 
homicídio de mulheres e, somente no ano de 2017, 
foram registradas mais de 260 000 agressões a 
pessoas em razão de sua identidade de gênero. 
A violência de gênero é um mal que afeta a 
dignidade e o bem-estar das vítimas bem como de toda 
a sociedade. Enfrenta-la é um compromisso que 
devemos assumir para garantir que todos tenham 
direitos essenciais. 
Antes de tudo, você sabe conceituar e 
estabelecer as diferenças entre Gênero, Identidade de 
gênero, sexualidade e sexo? É inegável que diante de 
tantos conceitos que buscam explicitar tanto a 
identidade como a expressão sexual e comportamental 
humana, às vezes, pode surgir uma certa confusão na 
hora de defini-los. 
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De modo geral, para as ciências sociais, o 
gênero se refere a um conjunto de atributos particulares 
da masculinidade e da feminilidade. Nesse sentido, 
entende-se que o gênero é uma construção social que 
não decorre de aspectos naturais. 
Em outras palavras, as características sociais 
entre homens e mulheres, que definem os seus papéis 
e responsabilidades dentro de uma sociedade, não são 
estabelecidas pelo sexo – como determinação biológica 
– mas influenciadas pela cultura. Ou seja, gênero é um 
elemento subjetivo não estático que refere a ser menino 
ou menina, homem ou mulher em uma determinada 
cultura. 
Dessa maneira, as pessoas podem se 
identificar com gêneros diferentes dos que lhes foram 
atribuídos em seu nascimento, isso é conhecido como 
identidade de gênero. Já o sexo é definido pelas 
características biológicas congênitas que diferenciam 
homens e mulheres. Por fim, temos a sexualidade a 
qual corresponde a como o indivíduo pode, ou não, ser 
atraído de maneira sexual, ou romântica pelos gêneros. 
A violência de gênero se define como qualquer 
tipo de agressão física, psicológica, sexual ou simbólica 
contra alguém em situação de vulnerabilidade devido a 
sua identidade de gênero ou orientação sexual. De 
acordo com a estimativa global publicada pela OMS 
(Organização Mundial da Saúde) em 2017, uma em 
cada três mulheres em todo o mundo, especificamente 
35%, já foram vítimas de violência física ou sexual 
durante a sua vida. Dessa forma, constata-se que as 
mais atingidas por essa coerção são pessoas do sexo 
feminino. Contudo, vale lembrar que homens e minorias 
sexuais e de gênero também podem ser alvos dessas 
agressões. 
No plano do Direito Internacional dos Direitos 
Humanos não existe uma definição precisa do que é 
violência de gênero, pois, por muito tempo, o conceito 
de gênero foi considerado como sinônimo de sexo. Por 
isso, a ONU (Organização das Nações Unidas) adota 
uma concepção amplificada da definição de violência 
contra mulher em alguns tratados internacionais que 
versam sobre o tema. 
 
Violência física 
 
Dentre todas as formas de violência, esta é 
provavelmente uma das mais comuns. Nela o agressor 
faz uso da força física ou de objetos para ferir 
fisicamente a vítima, isso pode lhe causar cicatrizes e 
até levar a morte. Neste último caso, quando o crime 
ocorre contra uma mulher por conta da condição de 
sexo feminino, fala-se em feminicídio. Este crime 
hediondo é tipificado no art. 121 do Código Penal 
brasileiro. 
Segundo levantamento feito pela organização 
Gênero e Número, em 2017, foram registrados 225 
casos de violência por dia contra a população LGBT+ e 
nas agressões físicas protocolizadas 67% das vítimas 
eram mulheres. Em outra pesquisa realizada no mesmo 
ano pela Transgender Europe (TGEU), observou-se 
que o país foi responsável por mais da metade das 
mortes por assassinato de pessoas trans em todo o 
mundo. 
Além disso, o Índice de Vulnerabilidade Juvenil 
à Violência e Desigualdade Racial, de 2017, revelou 
que uma jovem negra é duas vezes mais suscetível a 
sofrer coação que uma jovem branca. 
 
Violência Sexual 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define 
violência sexual como: 
 
“todo ato sexual, tentativa de consumar um ato sexual ou 
insinuações sexuais indesejadas; ou ações para 
comercializar ou usar de qualquer outro modo a 
sexualidade de uma pessoa por meio da coerção por outra 
pessoa, independentemente da relação desta com a vítima, 
em qualquer âmbito, incluindo o lar e o local de trabalho”. 
 
Assim, pode ser praticada por qualquer pessoa 
independentemente desta manter vínculo com a vítima. 
No âmbito nacional, os conceitos desta conduta são 
expostos no artigo 180 do Código Penal e no art. 7°, III 
da Lei 11.340 (Lei Maria da Penha). 
No cenário brasileiro, conforme dados do 
Fórum de Segurança Pública, nos casos de violência 
sexual registrados em 2018, mais de 80% das vítimas 
eram do sexo feminino. Em geral, no país, ocorrem 
cerca de 180 estupros por dia. 
Uma outra pesquisa da organização Gênero e 
Número evidenciou ainda que estes ataques também 
visam a comunidade LGBT+. Em média, 6 mulheres 
lésbicas foram estupradas por dia em 2017. Na maior 
parte desses casos, o agressor é motivado pela 
insatisfação com a sexualidade da vítima, por 
considerá-la uma transgressão às regras morais, 
sociais ou biológicas. Este delito é definido como 
estupro corretivo e tipificado no artigo 226, alínea b, do 
Código Penal. 
Ademais, o abuso sexual infantil tem altos 
índices no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, 
42% de crianças e adolescentes que sofrem abuso 
sexual são vítimas recorrentes e 72% das pessoas 
estupradas são menores de idade. 
 
Práticas culturais nocivas 
 
Existem algumas práticas culturais que ferem 
os direitos universais do indivíduo e são classificadas 
como violência de gênero. De acordo com o Fundo de 
População das Nações Unidas (UNFPA, sigla em 
inglês) esses costumes “violam os Direitos Humanos 
relacionados à igualdade, segurança da pessoa, saúde 
e autonomia na tomada de decisões”. 
O casamento infantil, por exemplo, entra neste 
ponto. O Fundo das Nações Unidas para Infância 
(UNICEF) define o casamento infantil como qualquer 
união formal ou informal em que uma das partes é 
menor de 18 anos. Segundo o órgão, esta prática 
constitui uma violação dos direitos humanos das 
crianças e dos adolescentes. 
Globalmente, mais de 650 milhões de mulheres 
são vítimas dessa realidade. Como alerta o relatório do 
UNFPA, o Brasil apresenta uma média maior que a 
global de casos de casamento infantil. Aqui, 1 em cada 
4 meninas se casa antes dos 18 anos. 
O infantícidio é outra prática que afeta a 
proteção a vida. Essa prática é comum em alguns 
países asiáticos devido políticas públicas de 
reprodução e culturas nacionais. Conforme relatório 
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publicado pelo Centro Asiático de Direitos Humanos, 
China e Índia lideram a lista mundial de morte de bebês 
do sexo feminino. 
 
Violência virtual 
 
Existem várias manifestações online que 
intimidam e causam constrangimento às pessoas 
devido a sua identidade de gênero. Uma delas é a 
prática de Revenge Porn, ou pornografia de vingança 
em tradução literal. Neste o ato, a vitima é intimidada a 
ter seus videos ou fotos intimas compartilhadas. 
Nesta prática, o objetivo de publicar o material 
íntimo de caráter erótico ou sexual é de privar o 
indivíduo, principalmente mulheres heterossexuais e 
LGBT+, de exercer a sua sexualidade livremente. Vale 
lembrar que o compartilhamento de nudes da ex-
namorada, da blogueira, da conhecida ou da ficante é 
crime tipificado no art.218-C do Código Penal queprevê 
pena de reclusão de 1 a 5 anos. 
Outras formas bem conhecidas de violência 
online são o Cyberstalking e o Discurso de ódio. O 
primeiro se define pelo monitoramento e vigilância 
constante das atividades de uma pessoa, da vida 
cotidiana ou de informações pessoais públicas ou 
privadas, por meio da internet. Este tipo de perseguição 
obsessiva pode gerar sérias consequências 
psicológicas à vítima. Das pessoas que buscaram 
assistência no Helpline em 2019, canal que oferece 
orientação sobre segurança na internet, 
aproximadamente 85% eram do sexo feminino. 
Por fim, o discurso de ódio que se refere a 
palavras, símbolos ou falas proferidos com a intenção 
de instigar a violência, o ódio e a discriminação contra 
outras pessoas devido a sua raça, cor, etnicidade, 
sexo, religião ou nacionalidade. Nas denúncias 
registradas no SaferNet Brasil, entre os anos de 2006 e 
2019, o racismo corresponde a 28% dos crimes de ódio 
e 68% das vítimas que procuram ajudam no Helpline 
são mulheres. 
 
Violência simbólica 
 
Essa expressão foi criada pelo sociólogo 
francês Pierre Bourdieu e se refere a uma forma de 
violência “imperceptível” praticada através de 
comportamentos, pensamentos e até mesmo modelos 
de organização das instituições sociais. Este conjunto 
de mecanismos criam uma estrutura simbólica que 
impõe concepções transmitidas como legítimas e que 
visam dissimular o pensamento da vítima 
estabelecendo a dominação do agressor. 
O “manterrupting” é um exemplo desse tipo de 
violência de gênero. A prática ocorre quando um 
homem, com intuito de calar ou impedir a participação 
da mulher em uma conversa, não a deixa se expressar 
ou interrompe a fala dela. Existe ainda o “mansplaining” 
que é quando o indivíduo do sexo masculino busca 
menosprezar o conhecimento da mulher julgando-a 
como incapaz ou desqualificada. 
 
 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA 
 
Violência doméstica é todo tipo de violência 
que é praticada entre os membros que habitam um 
ambiente familiar em comum. Pode acontecer entre 
pessoas com laços de sangue (como pais e filhos), ou 
unidas de forma civil (como marido e esposa ou genro 
e sogra). 
A violência doméstica pode ser subdividida em 
violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. 
Também é considerada violência doméstica o abuso 
sexual de uma criança e maus tratos em relação a 
idosos. 
Toda violência doméstica é repudiável, mas os 
casos mais sensíveis são a violência doméstica infantil, 
porque as crianças são mais vulneráveis e não têm 
meios de defesa. Mesmo quando a violência doméstica 
não é dirigida diretamente à criança, esta pode ficar 
com traumas psicológicos. 
Muitos casos de violência doméstica ocorrem 
devido ao consumo de álcool e drogas, mas também 
podem ser motivados por ataques de ciúmes. 
A maioria dos casos verificados são de 
violência doméstica contra a mulher, mas também há 
casos de violência doméstica contra o homem. 
Como em muitos problemas na nossa 
sociedade, a prevenção é muitas vezes a melhor 
solução. Muitos especialistas indicam que no caso da 
violência doméstica, o acompanhamento dos casais 
antes que o problema aconteça é crucial. Além disso, é 
importante que haja uma atuação imediata por parte de 
várias entidades quando aparecem os primeiros sinais 
de violência doméstica. 
 
Tipos de Violência Doméstica e Familiar 
 
Violência contra a mulher – é qualquer conduta – ação 
ou omissão – de discriminação, agressão ou coerção, 
ocasionada pelo simples fato de a vítima ser mulher e 
que cause dano, morte, constrangimento, limitação, 
sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, 
político ou econômico ou perda patrimonial. Essa 
violência pode acontecer tanto em espaços públicos 
como privados. 
 
Violência de gênero – violência sofrida pelo fato de se 
ser mulher, sem distinção de raça, classe social, 
religião, idade ou qualquer outra condição, produto de 
um sistema social que subordina o sexo feminino. 
 
Violência doméstica – quando ocorre em casa, no 
ambiente doméstico, ou em uma relação de 
familiaridade, afetividade ou coabitação. 
 
Violência familiar – violência que acontece dentro da 
família, ou seja, nas relações entre os membros da 
comunidade familiar, formada por vínculos de 
parentesco natural (pai, mãe, filha etc.) ou civil (marido, 
sogra, padrasto ou outros), por afinidade (por exemplo, 
o primo ou tio do marido) ou afetividade (amigo ou 
amiga que more na mesma casa). 
 
Violência física – ação ou omissão que coloque em 
risco ou cause dano à integridade física de uma 
pessoa. 
 
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Violência institucional – tipo de violência motivada por 
desigualdades (de gênero, étnico-raciais, econômicas 
etc.) predominantes em diferentes sociedades. Essas 
desigualdades se formalizam e institucionalizam nas 
diferentes organizações privadas e aparelhos estatais, 
como também nos diferentes grupos que constituem 
essas sociedades. 
 
Violência intrafamiliar / violência doméstica – acontece 
dentro de casa ou unidade doméstica e geralmente é 
praticada por um membro da família que viva com a 
vítima. As agressões domésticas incluem: abuso físico, 
sexual e psicológico, a negligência e o abandono. 
 
Violência moral – ação destinada a caluniar, difamar ou 
injuriar a honra ou a reputação da mulher. 
 
Violência patrimonial – ato de violência que implique 
dano, perda, subtração, destruição ou retenção de 
objetos, documentos pessoais, bens e valores. 
 
Violência psicológica – ação ou omissão destinada a 
degradar ou controlar as ações, comportamentos, 
crenças e decisões de outra pessoa por meio de 
intimidação, manipulação, ameaça direta ou indireta, 
humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que 
implique prejuízo à saúde psicológica, à 
autodeterminação ou ao desenvolvimento pessoal. 
 
Violência sexual – acão que obriga uma pessoa a 
manter contato sexual, físico ou verbal, ou a participar 
de outras relações sexuais com uso da força, 
intimidação, coerção, chantagem, suborno, 
manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo 
que anule ou limite a vontade pessoal. Considera-se 
como violência sexual também o fato de o agressor 
obrigar a vítima a realizar alguns desses atos com 
terceiros. 
 
Consta ainda do Código Penal Brasileiro: a 
violência sexual pode ser caracterizada de forma física, 
psicológica ou com ameaça, compreendendo o 
estupro, a tentativa de estupro, o atentado violento ao 
pudor e o ato obsceno. 
 
Exemplos de Situações de Violência 
 
A Lei Maria da Penha não contempla apenas 
os casos de agressão física. Também estão previstas 
as situações de violência psicológica, sexual, 
patrimonial e moral. 
 
1. Humilhar, xingar e diminuir a autoestima 
Condutas como humilhação, desvalorização moral ou 
deboche público em relação a mulher constam como 
tipos de violência emocional. 
 
2. Tirar a liberdade de crença 
Um homem não pode restringir a ação, a decisão ou a 
crença de uma mulher. Isso também é considerado 
como uma forma de violência psicológica. 
 
3. Fazer a mulher achar que está ficando louca 
Há inclusive um nome para isso: o gaslighting. Uma 
forma de abuso mental que consiste em distorcer os 
fatos e omitir situações para deixar a vítima em dúvida 
sobre a sua memória e sanidade. 
 
4. Controlar e oprimir a mulher 
Aqui o que conta é o comportamento obsessivo do 
homem sobre a mulher, como querer controlar o que 
ela faz, controlar o que ela vestirá, 
não a deixar sair, isolar sua família e amigos ou 
procurar mensagens no celular ou e-mail. As condutas 
descritas podem caracterizar violência psicológica. 
 
5. Expor a vida íntima 
Falar sobre a vida do casal para outros é considerado 
uma forma de violência moral, como, por exemplo, 
vazar fotos íntimas nas redes sociais como forma de 
vingança. 
 
6. Atirar objetos, sacudir e apertar os braços 
Nem toda violência física é o espancamento. São 
considerados também como abuso físico a tentativa de 
arremessar objetos com a intenção de 
machucar,sacudir e segurar com força uma mulher. 
 
7. Forçar atos sexuais desconfortáveis 
Não é só forçar o sexo que consta como violência 
sexual. Obrigar a mulher a fazer atos sexuais que 
causam desconforto ou repulsa, como a 
realização de fetiches, também é violência. 
 
8. Impedir a mulher de prevenir a gravidez ou obrigá-la 
a abortar 
O ato de impedir uma mulher de usar métodos 
contraceptivos, como a pílula do dia seguinte ou o 
anticoncepcional, é considerado uma prática 
da violência sexual. Da mesma forma, obrigar uma 
mulher a abortar também é outra forma de abuso. 
 
9. Controlar o dinheiro ou reter documentos 
Se o homem tenta controlar, guardar ou tirar o dinheiro 
de uma mulher contra a sua vontade, assim como reter 
documentos pessoais da mulher, 
isso é considerado uma forma de violência patrimonial. 
 
10. Quebrar objetos da mulher 
Outra forma de violência ao patrimônio da mulher é 
causar danos de propósito a objetos dela, ou objetos 
que ela goste. 
 
LEI MARIA DA PENHA 
 
Atenção! Este é um conteúdo prioritário! 
LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006 
 
Cria mecanismos para coibir a violência 
doméstica e familiar contra a mulher, nos 
termos do § 8º do art. 226 da Constituição 
Federal, da Convenção sobre a 
Eliminação de Todas as Formas de 
Discriminação contra as Mulheres e da 
Convenção Interamericana para Prevenir, 
Punir e Erradicar a Violência contra a 
Mulher; dispõe sobre a criação dos 
Juizados de Violência Doméstica e 
Familiar contra a Mulher; altera o Código 
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de Processo Penal, o Código Penal e a 
Lei de Execução Penal; e dá outras 
providências. 
 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o 
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte 
Lei: 
 
TÍTULO I 
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES 
 
Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir 
a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos 
termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da 
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de 
Violência contra a Mulher, da Convenção 
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a 
Violência contra a Mulher e de outros tratados 
internacionais ratificados pela República Federativa do 
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de 
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e 
estabelece medidas de assistência e proteção às 
mulheres em situação de violência doméstica e familiar. 
 
Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, 
raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível 
educacional, idade e religião, goza dos direitos 
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe 
asseguradas as oportunidades e facilidades para viver 
sem violência, preservar sua saúde física e mental e 
seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social. 
 
Art. 3º Serão asseguradas às mulheres as condições 
para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, 
à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à 
moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao 
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao 
respeito e à convivência familiar e comunitária. 
 
§ 1º O poder público desenvolverá políticas que visem 
garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito 
das relações domésticas e familiares no sentido de 
resguardá-las de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e 
opressão. 
 
§ 2º Cabe à família, à sociedade e ao poder público 
criar as condições necessárias para o efetivo exercício 
dos direitos enunciados no caput. 
 
Art. 4º Na interpretação desta Lei, serão considerados 
os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, 
as condições peculiares das mulheres em situação de 
violência doméstica e familiar. 
 
TÍTULO II 
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA 
A MULHER 
 
CAPÍTULO I 
DISPOSIÇÕES GERAIS 
 
Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência 
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou 
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, 
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano 
moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 
150, de 2015) 
 
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida 
como o espaço de convívio permanente de pessoas, 
com ou sem vínculo familiar, inclusive as 
esporadicamente agregadas; 
 
II - no âmbito da família, compreendida como a 
comunidade formada por indivíduos que são ou se 
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por 
afinidade ou por vontade expressa; 
 
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o 
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, 
independentemente de coabitação. 
 
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas 
neste artigo independem de orientação sexual. 
 
Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher 
constitui uma das formas de violação dos direitos 
humanos. 
 
CAPÍTULO II 
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E 
FAMILIAR CONTRA A MULHER 
 
Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar 
contra a mulher, entre outras: 
 
I - a violência física, entendida como qualquer conduta 
que ofenda sua integridade ou saúde corporal; 
 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer 
conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da 
autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno 
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar 
suas ações, comportamentos, crenças e decisões, 
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, 
manipulação, isolamento, vigilância constante, 
perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de 
sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação 
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe 
cause prejuízo à saúde psicológica e à 
autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 
13.772, de 2018) 
 
III - a violência sexual, entendida como qualquer 
conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a 
participar de relação sexual não desejada, mediante 
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a 
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, 
a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer 
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à 
gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, 
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou 
anule o exercício de seus direitos sexuais e 
reprodutivos; 
 
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer 
conduta que configure retenção, subtração, destruição 
parcial ou total de seus objetos, instrumentos de 
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos 
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ou recursos econômicos, incluindo os destinados a 
satisfazer suas necessidades; 
 
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta 
que configure calúnia, difamação ou injúria. 
 
TÍTULO III 
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
 
CAPÍTULO I 
DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO 
 
Art. 8º A política pública que visa coibir a violência 
doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio 
de um conjunto articulado de ações da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de 
ações não-governamentais, tendo por diretrizes: 
 
I - a integração operacional do Poder Judiciário, do 
Ministério Público e da Defensoria Pública com as 
áreas de segurança pública, assistência social, saúde, 
educação, trabalho e habitação; 
 
II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e 
outras informações relevantes, com a perspectiva de 
gênero e de raça ou etnia, concernentes às causas, às 
conseqüências e à freqüência da violência doméstica e 
familiar contra a mulher, para a sistematização de 
dados, a serem unificados nacionalmente, e a 
avaliação periódica dos resultados das medidas 
adotadas; 
 
III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos 
valores éticos e sociais da pessoa e da família, de 
forma a coibir os papéis estereotipados que legitimem 
ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de 
acordo com o estabelecidono inciso III do art. 1º , no 
inciso IV do art. 3º e no inciso IV do art. 221 da 
Constituição Federal ; 
 
IV - a implementação de atendimento policial 
especializado para as mulheres, em particular nas 
Delegacias de Atendimento à Mulher; 
 
V - a promoção e a realização de campanhas 
educativas de prevenção da violência doméstica e 
familiar contra a mulher, voltadas ao público escolar e 
à sociedade em geral, e a difusão desta Lei e dos 
instrumentos de proteção aos direitos humanos das 
mulheres; 
 
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, 
termos ou outros instrumentos de promoção de 
parceria entre órgãos governamentais ou entre estes e 
entidades não-governamentais, tendo por objetivo a 
implementação de programas de erradicação da 
violência doméstica e familiar contra a mulher; 
 
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e 
Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e 
dos profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas 
enunciados no inciso I quanto às questões de gênero e 
de raça ou etnia; 
 
VIII - a promoção de programas educacionais que 
disseminem valores éticos de irrestrito respeito à 
dignidade da pessoa humana com a perspectiva de 
gênero e de raça ou etnia; 
 
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os 
níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos 
direitos humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou 
etnia e ao problema da violência doméstica e familiar 
contra a mulher. 
 
CAPÍTULO II 
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR 
 
Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência 
doméstica e familiar será prestada de forma articulada 
e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei 
Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de 
Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre 
outras normas e políticas públicas de proteção, e 
emergencialmente quando for o caso. 
 
§ 1º O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da 
mulher em situação de violência doméstica e familiar no 
cadastro de programas assistenciais do governo 
federal, estadual e municipal. 
 
§ 2º O juiz assegurará à mulher em situação de 
violência doméstica e familiar, para preservar sua 
integridade física e psicológica: 
 
I - acesso prioritário à remoção quando servidora 
pública, integrante da administração direta ou indireta; 
 
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando 
necessário o afastamento do local de trabalho, por até 
seis meses. 
 
 III - encaminhamento à assistência judiciária, quando 
for o caso, inclusive para eventual ajuizamento da ação 
de separação judicial, de divórcio, de anulação de 
casamento ou de dissolução de união estável perante 
o juízo competente. (Incluído pela Lei nº 13.894, 
de 2019) 
 
§ 3º A assistência à mulher em situação de violência 
doméstica e familiar compreenderá o acesso aos 
benefícios decorrentes do desenvolvimento científico e 
tecnológico, incluindo os serviços de contracepção de 
emergência, a profilaxia das Doenças Sexualmente 
Transmissíveis (DST) e da Síndrome da 
Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e outros 
procedimentos médicos necessários e cabíveis nos 
casos de violência sexual. 
 
§ 4º Aquele que, por ação ou omissão, causar lesão, 
violência física, sexual ou psicológica e dano moral ou 
patrimonial a mulher fica obrigado a ressarcir todos os 
danos causados, inclusive ressarcir ao Sistema Único 
de Saúde (SUS), de acordo com a tabela SUS, os 
custos relativos aos serviços de saúde prestados para 
o total tratamento das vítimas em situação de violência 
doméstica e familiar, recolhidos os recursos assim 
arrecadados ao Fundo de Saúde do ente federado 
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responsável pelas unidades de saúde que prestarem os 
serviços. (Vide Lei nº 13.871, de 2019) (Vigência) 
 
§ 5º Os dispositivos de segurança destinados ao uso 
em caso de perigo iminente e disponibilizados para o 
monitoramento das vítimas de violência doméstica ou 
familiar amparadas por medidas protetivas terão seus 
custos ressarcidos pelo agressor. (Vide Lei nº 
13.871, de 2019) (Vigência) 
 
§ 6º O ressarcimento de que tratam os §§ 4º e 5º deste 
artigo não poderá importar ônus de qualquer natureza 
ao patrimônio da mulher e dos seus dependentes, nem 
configurar atenuante ou ensejar possibilidade de 
substituição da pena aplicada. (Vide Lei nº 13.871, 
de 2019) (Vigência) 
 
§ 7º A mulher em situação de violência doméstica e 
familiar tem prioridade para matricular seus 
dependentes em instituição de educação básica mais 
próxima de seu domicílio, ou transferi-los para essa 
instituição, mediante a apresentação dos documentos 
comprobatórios do registro da ocorrência policial ou do 
processo de violência doméstica e familiar em curso. 
(Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) 
 
§ 8º Serão sigilosos os dados da ofendida e de seus 
dependentes matriculados ou transferidos conforme o 
disposto no § 7º deste artigo, e o acesso às 
informações será reservado ao juiz, ao Ministério 
Público e aos órgãos competentes do poder público. 
(Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) 
 
CAPÍTULO III 
DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL 
 
Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de 
violência doméstica e familiar contra a mulher, a 
autoridade policial que tomar conhecimento da 
ocorrência adotará, de imediato, as providências legais 
cabíveis. 
 
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste 
artigo ao descumprimento de medida protetiva de 
urgência deferida. 
 
Art. 10-A. É direito da mulher em situação de violência 
doméstica e familiar o atendimento policial e pericial 
especializado, ininterrupto e prestado por servidores - 
preferencialmente do sexo feminino - previamente 
capacitados. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) 
 
§ 1º A inquirição de mulher em situação de violência 
doméstica e familiar ou de testemunha de violência 
doméstica, quando se tratar de crime contra a mulher, 
obedecerá às seguintes diretrizes: (Incluído pela 
Lei nº 13.505, de 2017) 
 
I - salvaguarda da integridade física, psíquica e 
emocional da depoente, considerada a sua condição 
peculiar de pessoa em situação de violência doméstica 
e familiar; (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) 
 
II - garantia de que, em nenhuma hipótese, a mulher em 
situação de violência doméstica e familiar, familiares e 
testemunhas terão contato direto com investigados ou 
suspeitos e pessoas a eles relacionadas; (Incluído 
pela Lei nº 13.505, de 2017) 
 
III - não revitimização da depoente, evitando sucessivas 
inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, 
cível e administrativo, bem como questionamentos 
sobre a vida privada. (Incluído pela Lei nº 13.505, 
de 2017) 
 
§ 2º Na inquirição de mulher em situação de violência 
doméstica e familiar ou de testemunha de delitos de 
que trata esta Lei, adotar-se-á, preferencialmente, o 
seguinte procedimento: (Incluído pela Lei nº 13.505, 
de 2017) 
 
I - a inquirição será feita em recinto especialmente 
projetado para esse fim, o qual conterá os 
equipamentos próprios e adequados à idade da mulher 
em situação de violência doméstica e familiar ou 
testemunha e ao tipo e à gravidade da violência sofrida; 
(Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) 
 
II - quando for o caso, a inquirição será intermediada 
por profissional especializado em violência doméstica e 
familiar designado pela autoridade judiciária ou policial; 
(Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) 
 
III - o depoimento será registrado em meio eletrônico ou 
magnético, devendo a degravação e a mídia integrar o 
inquérito. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) 
 
Art. 11. No atendimento à mulher em situação de 
violência doméstica e familiar, a autoridade policial 
deverá, entre outras providências: 
 
I - garantir proteção policial, quando necessário, 
comunicando de imediato ao Ministério Públicoe ao 
Poder Judiciário; 
 
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de 
saúde e ao Instituto Médico Legal; 
 
III - fornecer transporte para a ofendida e seus 
dependentes para abrigo ou local seguro, quando 
houver risco de vida; 
 
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para 
assegurar a retirada de seus pertences do local da 
ocorrência ou do domicílio familiar; 
 
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta 
Lei e os serviços disponíveis, inclusive os de 
assistência judiciária para o eventual ajuizamento 
perante o juízo competente da ação de separação 
judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de 
dissolução de união estável. (Redação dada pela 
Lei nº 13.894, de 2019) 
 
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, 
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os 
seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles 
previstos no Código de Processo Penal: 
 
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I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e 
tomar a representação a termo, se apresentada; 
 
II - colher todas as provas que servirem para o 
esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; 
 
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, 
expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, 
para a concessão de medidas protetivas de urgência; 
 
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de 
delito da ofendida e requisitar outros exames periciais 
necessários; 
 
V - ouvir o agressor e as testemunhas; 
 
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar 
aos autos sua folha de antecedentes criminais, 
indicando a existência de mandado de prisão ou 
registro de outras ocorrências policiais contra ele; 
 
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou 
posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, 
juntar aos autos essa informação, bem como notificar a 
ocorrência à instituição responsável pela concessão do 
registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 
10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do 
Desarmamento); (Incluído pela Lei nº 13.880, de 
2019) 
 
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito 
policial ao juiz e ao Ministério Público. 
 
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela 
autoridade policial e deverá conter: 
 
I - qualificação da ofendida e do agressor; 
 
II - nome e idade dos dependentes; 
 
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas 
solicitadas pela ofendida. 
 
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser 
pessoa com deficiência e se da violência sofrida 
resultou deficiência ou agravamento de deficiência 
preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019) 
 
§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento 
referido no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de todos 
os documentos disponíveis em posse da ofendida. 
 
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos 
ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e 
postos de saúde. 
 
Art. 12-A. Os Estados e o Distrito Federal, na 
formulação de suas políticas e planos de atendimento 
à mulher em situação de violência doméstica e familiar, 
darão prioridade, no âmbito da Polícia Civil, à criação 
de Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher 
(Deams), de Núcleos Investigativos de Feminicídio e de 
equipes especializadas para o atendimento e a 
investigação das violências graves contra a mulher. 
 
Art. 12-B. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, 
de 2017) 
 
§ 1º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.505, de 
2017) 
 
§ 2º (VETADO. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 
2017) 
 
§ 3º A autoridade policial poderá requisitar os serviços 
públicos necessários à defesa da mulher em situação 
de violência doméstica e familiar e de seus 
dependentes. (Incluído pela Lei nº 13.505, de 2017) 
 
Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou 
iminente à vida ou à integridade física da mulher em 
situação de violência doméstica e familiar, ou de seus 
dependentes, o agressor será imediatamente afastado 
do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida: 
(Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) 
 
I - pela autoridade judicial; (Incluído pela Lei nº 
13.827, de 2019) 
 
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não 
for sede de comarca; ou (Incluído pela Lei nº 
13.827, de 2019) 
 
III - pelo policial, quando o Município não for sede de 
comarca e não houver delegado disponível no 
momento da denúncia. (Incluído pela Lei nº 13.827, 
de 2019) 
 
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste 
artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24 
(vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre 
a manutenção ou a revogação da medida aplicada, 
devendo dar ciência ao Ministério Público 
concomitantemente. (Incluído pela Lei nº 13.827, 
de 2019) 
 
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida 
ou à efetividade da medida protetiva de urgência, não 
será concedida liberdade provisória ao preso. 
(Incluído pela Lei nº 13.827, de 2019) 
 
TÍTULO IV 
DOS PROCEDIMENTOS 
 
CAPÍTULO I 
DISPOSIÇÕES GERAIS 
 
Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das 
causas cíveis e criminais decorrentes da prática de 
violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-
se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e 
Processo Civil e da legislação específica relativa à 
criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem 
com o estabelecido nesta Lei. 
 
Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com 
competência cível e criminal, poderão ser criados pela 
União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos 
Estados, para o processo, o julgamento e a execução 
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das causas decorrentes da prática de violência 
doméstica e familiar contra a mulher. 
 
Parágrafo único. Os atos processuais poderão 
realizar-se em horário noturno, conforme dispuserem 
as normas de organização judiciária. 
 
Art. 14-A. A ofendida tem a opção de propor ação de 
divórcio ou de dissolução de união estável no Juizado 
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. 
(Incluído pela Lei nº 13.894, de 2019) 
 
§ 1º Exclui-se da competência dos Juizados de 
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher a 
pretensão relacionada à partilha de bens. (Incluído 
pela Lei nº 13.894, de 2019) 
 
§ 2º Iniciada a situação de violência doméstica e 
familiar após o ajuizamento da ação de divórcio ou de 
dissolução de união estável, a ação terá preferência no 
juízo onde estiver. (Incluído pela Lei nº 13.894, de 
2019) 
 
Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os 
processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado: 
 
I - do seu domicílio ou de sua residência; 
 
II - do lugar do fato em que se baseou a demanda; 
 
III - do domicílio do agressor. 
 
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à 
representação da ofendida de que trata esta Lei, só 
será admitida a renúncia à representação perante o 
juiz, em audiência especialmente designada com tal 
finalidade, antes do recebimento da denúncia e ouvido 
o Ministério Público. 
 
Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência 
doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta 
básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a 
substituição de pena que implique o pagamento isolado 
de multa. 
 
CAPÍTULO II 
DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA 
 
Seção I 
Disposições Gerais 
 
Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da 
ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e 
oito) horas: 
 
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre 
as medidas protetivas de urgência; 
 
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão 
de assistência judiciária, quando for o caso, inclusive 
para o ajuizamento da ação de separação judicial, de 
divórcio,de anulação de casamento ou de dissolução 
de união estável perante o juízo competente; 
(Redação dada pela Lei nº 13.894, de 2019) 
 
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as 
providências cabíveis. 
 
IV - determinar a apreensão imediata de arma de fogo 
sob a posse do agressor. (Incluído pela Lei nº 
13.880, de 2019) 
 
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser 
concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério 
Público ou a pedido da ofendida. 
 
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser 
concedidas de imediato, independentemente de 
audiência das partes e de manifestação do Ministério 
Público, devendo este ser prontamente comunicado. 
 
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas 
isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas 
a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre 
que os direitos reconhecidos nesta Lei forem 
ameaçados ou violados. 
 
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público 
ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas 
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, 
se entender necessário à proteção da ofendida, de 
seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério 
Público. 
 
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da 
instrução criminal, caberá a prisão preventiva do 
agressor, decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento 
do Ministério Público ou mediante representação da 
autoridade policial. 
 
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão 
preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de 
motivo para que subsista, bem como de novo decretá-
la, se sobrevierem razões que a justifiquem. 
 
Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos 
processuais relativos ao agressor, especialmente dos 
pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem 
prejuízo da intimação do advogado constituído ou do 
defensor público. 
 
Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar 
intimação ou notificação ao agressor . 
 
Seção II 
Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam 
o Agressor 
 
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz 
poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto 
ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de 
urgência, entre outras: 
 
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, 
com comunicação ao órgão competente, nos termos da 
Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ; 
 
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência 
com a ofendida; 
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12 
 
III - proibição de determinadas condutas, entre as 
quais: 
 
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das 
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre 
estes e o agressor; 
b) contato com a ofendida, seus familiares e 
testemunhas por qualquer meio de comunicação; 
c) freqüentação de determinados lugares a fim de 
preservar a integridade física e psicológica da ofendida; 
 
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes 
menores, ouvida a equipe de atendimento 
multidisciplinar ou serviço similar; 
 
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios. 
 
VI – comparecimento do agressor a programas de 
recuperação e reeducação; e (Incluído pela Lei nº 
13.984, de 2020) 
 
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por 
meio de atendimento individual e/ou em grupo de apoio. 
(Incluído pela Lei nº 13.984, de 2020) 
 
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a 
aplicação de outras previstas na legislação em vigor, 
sempre que a segurança da ofendida ou as 
circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser 
comunicada ao Ministério Público. 
 
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-
se o agressor nas condições mencionadas no caput e 
incisos do art. 6º da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro 
de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão, 
corporação ou instituição as medidas protetivas de 
urgência concedidas e determinará a restrição do porte 
de armas, ficando o superior imediato do agressor 
responsável pelo cumprimento da determinação 
judicial, sob pena de incorrer nos crimes de 
prevaricação ou de desobediência, conforme o caso. 
 
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas 
de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer 
momento, auxílio da força policial. 
 
§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no 
que couber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 
461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código 
de Processo Civil). 
 
Seção III 
Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida 
 
Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo 
de outras medidas: 
 
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a 
programa oficial ou comunitário de proteção ou de 
atendimento; 
 
II - determinar a recondução da ofendida e a de seus 
dependentes ao respectivo domicílio, após 
afastamento do agressor; 
 
III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem 
prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos 
e alimentos; 
 
IV - determinar a separação de corpos. 
 
V - determinar a matrícula dos dependentes da 
ofendida em instituição de educação básica mais 
próxima do seu domicílio, ou a transferência deles para 
essa instituição, independentemente da existência de 
vaga. (Incluído pela Lei nº 13.882, de 2019) 
 
Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da 
sociedade conjugal ou daqueles de propriedade 
particular da mulher, o juiz poderá determinar, 
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras: 
 
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo 
agressor à ofendida; 
 
II - proibição temporária para a celebração de atos e 
contratos de compra, venda e locação de propriedade 
em comum, salvo expressa autorização judicial; 
 
III - suspensão das procurações conferidas pela 
ofendida ao agressor; 
 
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito 
judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da 
prática de violência doméstica e familiar contra a 
ofendida. 
 
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório 
competente para os fins previstos nos incisos II e III 
deste artigo. 
 
Seção IV 
(Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) 
 
Do Crime de Descumprimento de Medidas Protetivas 
de Urgência 
Descumprimento de Medidas Protetivas de Urgência 
 
Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que defere 
medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei: 
(Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) 
 
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos. 
(Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) 
 
§ 1º A configuração do crime independe da 
competência civil ou criminal do juiz que deferiu as 
medidas. (Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) 
 
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a 
autoridade judicial poderá conceder fiança. 
(Incluído pela Lei nº 13.641, de 2018) 
 
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de 
outras sanções cabíveis. (Incluído pela Lei nº 
13.641, de 2018) 
 
CAPÍTULO III 
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO 
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13 
 
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não for 
parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da 
violência doméstica e familiar contra a mulher. 
 
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo de 
outras atribuições, nos casos de violência doméstica e 
familiar contra a mulher, quando necessário: 
 
I - requisitar força policial e serviços públicos de saúde, 
de educação, de assistência social e de segurança, 
entre outros; 
 
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e 
particulares de atendimento à mulher em situação de 
violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as 
medidas administrativas ou judiciais cabíveis no 
tocante a quaisquer irregularidades constatadas; 
 
III - cadastrar os casos de violência doméstica e familiar 
contra a mulher. 
 
CAPÍTULO IV 
DA ASSISTÊNCIAJUDICIÁRIA 
 
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e 
criminais, a mulher em situação de violência doméstica 
e familiar deverá estar acompanhada de advogado, 
ressalvado o previsto no art. 19 desta Lei. 
 
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de 
violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de 
Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária 
Gratuita, nos termos da lei, em sede policial e judicial, 
mediante atendimento específico e humanizado. 
 
TÍTULO V 
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO 
MULTIDISCIPLINAR 
 
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar 
contra a Mulher que vierem a ser criados poderão 
contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, 
a ser integrada por profissionais especializados nas 
áreas psicossocial, jurídica e de saúde. 
 
Art. 30. Compete à equipe de atendimento 
multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem 
reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por 
escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria 
Pública, mediante laudos ou verbalmente em 
audiência, e desenvolver trabalhos de orientação, 
encaminhamento, prevenção e outras medidas, 
voltados para a ofendida, o agressor e os familiares, 
com especial atenção às crianças e aos adolescentes. 
 
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir 
avaliação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a 
manifestação de profissional especializado, mediante a 
indicação da equipe de atendimento multidisciplinar. 
 
Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua 
proposta orçamentária, poderá prever recursos para a 
criação e manutenção da equipe de atendimento 
multidisciplinar, nos termos da Lei de Diretrizes 
Orçamentárias. 
 
TÍTULO VI 
DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS 
 
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de 
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as 
varas criminais acumularão as competências cível e 
criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes 
da prática de violência doméstica e familiar contra a 
mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, 
subsidiada pela legislação processual pertinente. 
 
Parágrafo único. Será garantido o direito de 
preferência, nas varas criminais, para o processo e o 
julgamento das causas referidas no caput. 
 
TÍTULO VII 
DISPOSIÇÕES FINAIS 
 
Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência 
Doméstica e Familiar contra a Mulher poderá ser 
acompanhada pela implantação das curadorias 
necessárias e do serviço de assistência judiciária. 
 
Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os 
Municípios poderão criar e promover, no limite das 
respectivas competências: 
 
I - centros de atendimento integral e multidisciplinar 
para mulheres e respectivos dependentes em situação 
de violência doméstica e familiar; 
 
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos 
dependentes menores em situação de violência 
doméstica e familiar; 
 
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços 
de saúde e centros de perícia médico-legal 
especializados no atendimento à mulher em situação 
de violência doméstica e familiar; 
 
IV - programas e campanhas de enfrentamento da 
violência doméstica e familiar; 
 
V - centros de educação e de reabilitação para os 
agressores. 
 
Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios promoverão a adaptação de seus órgãos e 
de seus programas às diretrizes e aos princípios desta 
Lei. 
 
Art. 37. A defesa dos interesses e direitos 
transindividuais previstos nesta Lei poderá ser 
exercida, concorrentemente, pelo Ministério Público e 
por associação de atuação na área, regularmente 
constituída há pelo menos um ano, nos termos da 
legislação civil. 
 
Parágrafo único. O requisito da pré-constituição 
poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que 
não há outra entidade com representatividade 
adequada para o ajuizamento da demanda coletiva. 
 
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14 
Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e 
familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de 
dados dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e 
Segurança a fim de subsidiar o sistema nacional de 
dados e informações relativo às mulheres. 
 
Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública 
dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas 
informações criminais para a base de dados do 
Ministério da Justiça. 
 
Art. 38-A. O juiz competente providenciará o registro 
da medida protetiva de urgência. (Incluído pela Lei 
nº 13.827, de 2019) 
 
Parágrafo único. As medidas protetivas de urgência 
serão registradas em banco de dados mantido e 
regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, 
garantido o acesso do Ministério Público, da Defensoria 
Pública e dos órgãos de segurança pública e de 
assistência social, com vistas à fiscalização e à 
efetividade das medidas protetivas. (Incluído pela 
Lei nº 13.827, de 2019) 
 
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios, no limite de suas competências e nos 
termos das respectivas leis de diretrizes orçamentárias, 
poderão estabelecer dotações orçamentárias 
específicas, em cada exercício financeiro, para a 
implementação das medidas estabelecidas nesta Lei. 
 
Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não excluem 
outras decorrentes dos princípios por ela adotados. 
 
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica 
e familiar contra a mulher, independentemente da pena 
prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de 
setembro de 1995. 
 
Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de 
outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a 
vigorar acrescido do seguinte inciso IV: 
 
“Art. 313. ................................................. 
 
................................................................ 
 
IV - se o crime envolver violência doméstica e 
familiar contra a mulher, nos termos da lei 
específica, para garantir a execução das 
medidas protetivas de urgência.” (NR) 
 
Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-Lei 
nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), 
passa a vigorar com a seguinte redação: 
 
“Art. 61. .................................................. 
 
................................................................. 
 
II - ............................................................ 
 
................................................................. 
 
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se 
de relações domésticas, de coabitação ou de 
hospitalidade, ou com violência contra a mulher 
na forma da lei específica; 
 
........................................................... ” (NR) 
 
Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de 
dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com 
as seguintes alterações: 
 
“Art. 129. .................................................. 
 
.................................................................. 
 
§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente, 
descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, 
ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, 
ainda, prevalecendo-se o agente das relações 
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: 
 
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) 
anos. 
 
.................................................................. 
 
§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena 
será aumentada de um terço se o crime for 
cometido contra pessoa portadora de 
deficiência.” (NR) 
 
Art. 45. O art. 152 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 
1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a 
seguinte redação: 
 
“Art. 152. ................................................... 
 
Parágrafo único. Nos casos de violência 
doméstica contra a mulher, o juiz poderá 
determinar o comparecimento obrigatório do 
agressor a programas de recuperação e 
reeducação.” (NR) 
 
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) 
dias após sua publicação. 
 
Brasília, 7 de agosto de 2006; 185º da Independência e 
118º da República. 
 
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA 
Dilma RousseffRACISMO / RACISMO INSTITUCIONAL 
 
Há 131 anos, o Brasil foi o último país do 
hemisfério ocidental a abolir legalmente a escravidão. 
Diante da pressão internacional e da força dos 
quilombos e movimentos abolicionistas, a Lei Áurea foi, 
enfim, assinada em 13 de maio de 1888. Este foi o 
último projeto de lei aprovado durante o regime 
imperial, após um processo de escravização de povos 
africanos que perdurou por mais de três séculos. 
No entanto, a lei assinada pela Princesa Isabel 
não foi capaz de libertar o país da mancha histórica que 
o racismo representa para a sociedade brasileira. 
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15 
Alforriadas, as vítimas da escravidão foram 
abandonadas à própria sorte, em condições 
desumanas, para viverem à margem de um sistema 
que os têm colocado em desvantagem social desde 
então. 
Nesse contexto, diversas violências e violações 
aos direitos humanos passaram a ser normalizadas. De 
abuso policial até discriminação em lojas e entrevistas 
de emprego, o preconceito racial engloba uma série de 
agressões sistêmicas contra negros no Brasil. 
Dados de 2017 publicados no Atlas da 
Violência, divulgado pelo IPEA – Instituto de Pesquisa 
Econômica Aplicada, indicam que a cada cem pessoas 
assassinadas no Brasil, 71 são negras. Ainda segundo 
a pesquisa, negros têm 23,5% mais chances de serem 
assassinados em comparação com brasileiros de 
outras cores (descontando os efeitos de idade, 
escolaridade, sexo, estado civil e bairro). 
Em 2018, o IBGE apurou que, embora a 
população preta ou parda seja maioria no Brasil, esse 
grupo representa apenas 27,7% entre as 10% mais 
ricas. Em contrapartida, entre os 10% mais pobres, o 
mesmo grupo abarca 75,2% dos indivíduos. 
Além disso, o rendimento médio domiciliar per 
capita entre pessoas brancas supera em quase duas 
vezes o da população negra ou parda; por outro lado, a 
proporção de pessoas pretas ou pardas abaixo da linha 
da pobreza é maior do que o dobro da proporção 
verificada entre pessoas brancas. 
Outro índice que reforça os efeitos nocivos do 
preconceito racial no Brasil diz respeito à população 
carcerária. De acordo com o Departamento 
Penitenciário Nacional (Depen), em 2014, 61% dos 
encarcerados são pretos ou pardos. O 14º Anuário 
Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2020, 
revela a mesma tendência. Segundo o documento, a 
cada três presos, dois são negros. Os dados ainda 
indicam que, em quinze anos, a proporção de negros 
encarcerados cresceu 14%, enquanto a de brancos foi 
reduzida em 19%. 
A seguir alguns conceitos importantes ligados 
à noção de racismo. 
 
Racismo estrutural 
 
Sistema no qual políticas públicas, práticas 
institucionais, representações culturais e outras normas 
funcionam de maneira a perpetuar desigualdades 
sociais. A análise do racismo estrutural permite 
identificar dimensões da história e cultura que 
permitiram que privilégios associados à branquitude e 
desvantagens associadas à “raça” perdurassem e se 
adaptassem ao longo do tempo. 
O racismo estrutural não é algo que algumas 
pessoas ou instituições optam por praticar. Em vez 
disso, tem sido uma característica dos sistemas sociais, 
econômicos e políticos que compartilhamos. O Brasil, 
por exemplo, é um país estruturalmente racista. 
Lembre-se de que esse conceito diz respeito à 
coletividade, não a indivíduos específicos. Por isso, 
ainda que você particularmente não se considere uma 
pessoa racista, pequenas atitudes do seu cotidiano 
podem refletir, sim, o racismo estrutural. 
 
Equidade racial 
 
Equidade racial é o fim a que se destina a luta 
antirracista. Esse conceito define como seria uma 
sociedade sem racismo. Em uma sociedade 
racialmente justa, a distribuição dos benefícios e 
encargos da sociedade não seria distorcida pela cor da 
pele. Em outras palavras, a equidade racial 
corresponde a um cenário em que as pessoas não têm 
mais ou menos chance de experimentar privilégios ou 
desvantagens sociais em razão da cor da pele. 
Essa realidade-fim contrasta com o atual 
estado de coisas, em que uma pessoa preta tem maior 
probabilidade de viver na pobreza, ser presa, 
abandonar os estudos, enfrentar o desemprego e sofrer 
discriminação em lojas ou nas ruas do que uma pessoa 
branca. 
A equidade racial mantém a sociedade em um 
padrão mais elevado. Ela exige que prestemos atenção 
não apenas à discriminação em nível individual, mas 
também aos resultados sociais gerais. 
 
Racismo institucional e racismo sistêmico 
 
Em muitos aspectos, racismo 
sistêmico/institucional e racismo estrutural são 
sinônimos. Se há uma diferença entre os termos, pode-
se dizer que ele reside no fato de que uma análise do 
racismo estrutural dá mais atenção aos aspectos 
psicológicos, históricos, culturais e sociais de uma 
sociedade racializada. 
Um exemplo de racismo sistêmico ou 
institucional está na diferença de tratamento 
dispensada a pessoas brancas e pretas por parte de 
órgãos públicos, corporações privadas, universidades, 
Sistema Judiciário e outros. 
 
Privilégio branco 
 
Privilégio branco, ou “privilégio branco 
historicamente acumulado”, como passamos a chamá-
lo, refere-se às vantagens históricas e contemporâneas 
dos brancos no acesso a educação de qualidade, 
empregos decentes, salários dignos, bens e 
propriedades, dignidade humana, benefícios de 
aposentadoria, acumulação de riquezas e assim por 
diante. 
 
Racismo individual 
 
O racismo individual pode incluir ações face a 
face ou encobertas contra uma pessoa que expressam 
intencionalmente preconceito, ódio ou preconceito com 
base na cor. A legislação brasileira faz uma 
diferenciação entre os crimes de racismo e injúria 
racial. 
A injúria racial consiste em ofender a honra de 
um indivíduo com base em raça, cor, etnia, religião ou 
origem. Já o crime de racismo se aplica à discriminação 
contra uma coletividade de indivíduos, ou seja, a um 
grupo racial, étnico ou religioso como um todo, e, ao 
contrário do primeiro, é inafiançável e imprescritível. 
 
Etnia 
 
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Engloba características sociais que as pessoas 
podem ter em comum, como idioma, religião, origem 
regional, cultura, alimentação etc. A etnia é revelada 
pelas tradições seguidas, pela língua nativa de um 
grupo e assim por diante. 
 
Representação cultural e representatividade 
 
Representação cultural refere-se a 
estereótipos, imagens, molduras e narrativas populares 
que são popularizadas e reforçadas pela mídia, 
linguagem e outras formas de comunicação de massa. 
As representações culturais podem ser positivas ou 
negativas. 
No entanto, da perspectiva do 
desmantelamento da análise do racismo estrutural, 
muitas vezes as representações culturais retratam 
minorias de maneira desumanizante, perpetuando 
estereótipos imprecisos. Já a representatividade 
reivindica a retomada legal dos ambientes por parte 
dessas minorias, que querem se ver representadas na 
arte, na televisão, na política e em outros espaços de 
poder por seus semelhantes. 
 
 
ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL 
 
Atenção! Este é um conteúdo prioritário! 
LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010. 
 
Institui o Estatuto da Igualdade Racial; 
altera as Leis nos 7.716, de 5 de janeiro de 
1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, 
de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de 
novembro de 2003. 
 
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o 
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte 
Lei: 
 
TÍTULO I 
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES 
 
Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial, 
destinado a garantir à população negra a efetivação da 
igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos 
étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à 
discriminação e às demais formas de intolerância 
étnica. 
 
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, 
considera-se: 
 
I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção, 
exclusão, restrição ou preferência baseada