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Seção 3 ESPELHO DE CORREÇÃO DIREITO CIVIL 2 Conforme demonstrado na situação problema apresentada, após a proposição de Ação de Interdição por Tommen e Joffrey, a Sra. Myrcella apresentou sua contestação, alegando matérias preliminares e, quanto ao mérito, o pleno gozo de suas faculdades mentais. Quando da proposição da mencionada ação, o autor requereu a concessão dos benefícios da gratuidade da justiça, os moldes dos artigos 98 a 102 c/c art. 5º, LXXIV da CRFB, sendo esta concedida de plano. Ocorre que na quinta-feira, 9 de setembro de 2021, foi proferida decisão interlocutória que, além de receber a contestação apresentada e rejeitar a preliminar de nulidade de citação, revogou a gratuidade de justiça, sob o fundamento de que os autores são empresários, proprietários de uma vinícola, podendo, desta forma, arcar com as custas e demais despesas processuais. Ocorre que, conforme apontado na situação fática, em que pese serem proprietários de vinícola no sul do pais, a empresa está paralisada e sem qualquer faturamento há mais de 5 anos, em decorrência de uma grave crise financeira, não sendo fonte de renda para qualquer dos irmãos. A fim de identificar a peça processual adequada a defesa dos interesses dos irmãos Joffrey e Tommen, o(a) aluno(a) deve identificar que o pronunciamento realizado pelo magistrado se trata de decisão interlocutória, ou seja, decisão proferida durante o curso processual que não põe fim ao processo, nos termos do art. 202, §2º do Código de Processo Civil. Com a correta identificação da espécie de pronunciamento, deve-se observar qual o teor da decisão no que se refere a pretensão dos autores, ou seja, a revogação da gratuidade de justiça. Em se tratando de decisão interlocutória que acolhe a revogação da gratuidade de justiça, o art. 1.015, V é claro ao impor o cabimento do Agravo de Instrumento. Seção 3 DIREITO CIVIL Na prática! 3 Antes de atacar diretamente a decisão, indispensável a observação do art. 1.016 e 1.017 do Código de Processo Civil, posto que o primeiro traz os requisitos formais da peça processual, como a necessidade de constar da petição, especificamente: I - os nomes das partes; II - a exposição do fato e do direito; III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão e o próprio pedido e; IV - o nome e o endereço completo dos advogados constantes do processo. O art. 1.017, por sua vez, descreve a documentação que deve acompanhar a petição de agravo, quais sejam: I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado; II - com declaração de inexistência de qualquer dos documentos referidos no inciso I, feita pelo advogado do agravante, sob pena de sua responsabilidade pessoal; III - facultativamente, com outras peças que o agravante reputar úteis. Quanto ao teor da decisão agravada, em que pese Joffrey e Tommen serem proprietários de uma vinícola, a empresa não possui qualquer faturamento, tendo passado por seria crise financeira, não se afastando, desta forma, a hipossuficiência alegada, sendo possível à concessão de gratuidade até mesmo para a própria pessoa jurídica, conforme posicionamento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça: “Súmula nº 481 - Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais. É importante que o agravo seja fundamentado no art. 98 do Código de Processo Civil, apontando que toda pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios e ainda, demonstrando que, se é possível a concessão de gratuidade de justiça para empresas em dificuldade, é plenamente possível a concessão para seus proprietários, principalmente ante a inexistência de faturamento. O(a) aluno(a) deve fundamentar ainda que a concessão da gratuidade de justiça é medida indispensável à garantia do acesso à justiça, frisando que, caso não seja concedido o benefício, o autor restará impossibilitado de buscar sua pretensão junto ao judiciário. Por fim, deve ser requerido o conhecimento e provimento do recurso, com a finalidade de reformar a decisão atacada, concedendo-se ao agravante os benefícios da gratuidade de justiça. 4 EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) DESEMBARGADOR(A) PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. JOFFREY LANNISTER, holandês, casado, desempregado, inscrito no cadastro de pessoas físicas sob o nº ..., e-mail ..., residente à rua ..., nº..., Dorne-SP e TOMMEM LANNISTER, brasileiro, (estado civil), desempregado, inscrito no cadastro de pessoas físicas sob o nº ..., e-mail ..., residente à rua ..., nº..., Dorne-SP, por meio de seu advogado regularmente constituído, e-mail ..., cuja qualificação e indicação do escritório constam na procuração anexa, onde ali aponta o endereço para receber notificações e intimações, vêm respeitosamente à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 1.015, V do CPC, interpor AGRAVO DE INSTRUMENTO contra decisão interlocutória que revogou os benefícios da Justiça Gratuita dos ora Agravantes, proferida pelo juízo da 3ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Porto Real – Estado da Bahia, nos autos da Ação de Interdição, distribuída sob o nº..., que pugna pela interdição de sua irmã MYRCELA LANNISTER. Os agravantes deixam de efetuar o preparo relativo ao presente agravo, requerendo neste ato a concessão da gratuidade de justiça. Neste ato de interposição os agravantes juntam a documentação obrigatória constante do art. 1.017, I do CPC, requerendo seja o presente recurso recebido e distribuído, lhe sendo dado efeito suspensivo e, ao final, seja a decisão do juízo a quo reformada, deferindo aos agravantes os benefícios da justiça gratuita previstos no art. 98 e seguintes do Código de Processo Civil. Nestes termos, Pugna pelo deferimento. Bahia, 22 de setembro de 2021. Nome, assinatura, advogado e OAB. Questão de ordem! 5 RAZÕES DE AGRAVO Processo nº ... Origem: 3ª Vara de Família e Sucessões da Comarca de Porto Real - BA Agravante: JOFFREY LANNISTER e TOMMEM LANNISTER EGRÉGIO TRIBUNAL, COLENDA CÂMARA A Respeitável decisão interlocutória agravada merece integral reforma posto que proferida em franco confronto com que determina o Art. 5°, Inciso LXXIV da Magna Carta e art. 98 do Código de Processo Civil (Lei 13.105/15). Nos termos em que foi proferida, a r. Decisão Interlocutória, consubstanciará para o Agravante uma situação de flagrante e inaceitável injustiça, se não for de imediato objeto de reforma. DA SÍNTESE FÁTICA Os ora agravantes propuseram Ação de Interdição em face de sua irmã Myrcella Lannister, visando a proteção da interditanda e de seu patrimônio, principalmente porque a requerida está internada em uma clínica de recuperação na cidade e comarca de Porto Real, Estado da Bahia, devido a problemas psiquiátricos e vício em substâncias tóxicas, desde o ano de 2004, ou seja, há mais de 15 anos vem lutando contra seus infortúnios. Frise-se que a requerida possui histórico recorrente de prodigalidade, com episódios em que gastou fortunas em uma única noite com drogas. A fim de garantir seu acesso à justiça, o autor que não possui condições financeiras de arcar com custas e demais despesas processuais, pugnou pela concessão dos benefícios da gratuidade de justiça, o que foi deferido de plano pelo juízo de primeiro grau. Ocorre que, em sede de contestação,foi apresentada preliminar pugnando pela revogação do benefício, sob o argumento de que os autores seriam empresários bem-sucedidos, proprietários de uma vinícola, o que foi acatado pelo douto magistrado. No que tange as condições financeiras dos agravantes, insta consignar que a empresa está paralisada e sem qualquer faturamento há mais de 5 anos, em decorrência de uma grave crise financeira, não sendo fonte de renda para qualquer dos irmãos. 6 Inconformado com a decisão interlocutória proferida, que negou o acesso dos agravantes à justiça, não restou alternativas aos proponentes senão a interposição do presente Agravo de Instrumento. DO REQUERIMENTO DE GRATUIDADE DE JUSTIÇA Ao tratamos de gratuidade de justiça, é importante frisar que a Lei Federal nº 7.115 de 29 de agosto de 1983, em seu art. 1º, foi enfática ao dar presunção de veracidade às declarações de hipossuficiência, in verbis: Art. 1º - A declaração destinada a fazer prova de vida, residência, pobreza, dependência econômica, homonímia ou bons antecedentes, quando firmada pelo próprio interessado ou por procurador bastante, e sob as penas da Lei, presume-se verdadeira. Está ainda o procedimento do Agravante em perfeita consonância com as devidas disposições legais, quando confrontado o seu requerimento junto com os documentos que disponibiliza no processo, e as disposições do Código de Processo Civil, em especial do art. 98, que funciona tanto como regulamentação quanto dispositivo que pacifica o entendimento do Inciso LXXIV do Art. 5° da Constituição Federal, em relação ao requisito da comprovação de insuficiência de recursos. Não há na legislação pátria nenhum parâmetro que possa medir o nível de pobreza do cidadão, e que determine quem deve receber o benefício e a quem deve ser este negado. Em que pese os agravantes, conforme exposto na exordial, serem proprietários de uma vinícola, tal condição não demonstra a existência de recursos financeiros ou indícios de riqueza, até porque, a empresa não possui qualquer faturamento, tendo passado por séria crise financeira, não se afastando, desta forma, a hipossuficiência alegada, sendo possível à concessão de gratuidade até mesmo para a própria pessoa jurídica, conforme posicionamento sumulado pelo Superior Tribunal de Justiça: “Súmula nº 481 - Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais. Nestes termos vêm decidindo os Tribunais: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REINVINDICATÓRIO. GRATUIDADE DE JUSTIÇA. PESSOA JURÍDICA. SITUAÇÃO FINANCEIRA PRECÁRIA COMPROVADA. DECISÃO REFORMADA; PROVIMENTO DO RECURSO. 1. Interposição de recurso contra decisão que indeferiu a gratuidade de justiça à pessoa jurídica. 2. Tratando=se de entidade sem fins lucrativos sob comprovada situação financeira precária, justifica-se a concessão da gratuidade de justiça, de modo a 7 garantir o direito fundamental de pleno acesso à Justiça. 3. Provimento do recurso, nos termos do art. 557, §1º-a do CPC. (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro TJ-RJ - AGRAVO DE INSTRUMENTO: AI 0033727-57.2014.8.19.0000 RIO DE JANEIRO BANGU REGIONAL 3 VARA CIVEL) Assim, se é possível a concessão de gratuidade de justiça para empresas em dificuldade, é plenamente possível a concessão para seus proprietários, principalmente ante a inexistência de faturamento já noticiada. Desta forma, verifica-se que a decisão do juízo é arbitrária, uma vez que a própria legislação atinente a matéria, bem como o pensamento uníssono da jurisprudência pátria, converge para a orientação de que para o deferimento do benefício da gratuidade de justiça basta a simples afirmação da parte requerente. Desse Modo, o Agravo deve ser provido, para reformando a r. decisão, deferir aos agravantes o benefício pleiteado. DO PEDIDO Realizados todos os apontamentos pertinentes em relação a r. decisão atacada, crédulo no aguçado senso de justiça deste Tribunal, requer o agravante: a) A concessão dos benefícios da justiça gratuita nos termos do art. 98 e seguintes do CPC por serem os agravantes pobres da acepção jurídica do termo, não tendo condições de efetuar o preparo do presente agravo sem prejuízo de seu próprio sustento; b) A reforma da decisão no que tange a revogação de concessão dos benefícios da justiça gratuita, posto que reunidas todas as condições necessárias; Nestes termos, Pugna pelo deferimento. Bahia, 22 de setembro de 2021. Nome, assinatura, advogado e OAB. 8 1. Qual a peça processual cabível em face de decisão que inadmite intervenção de terceiros? 2. Qual o prazo para interposição de Embargos de Declaração? 3. No que importa a ausência de juntada de cópias do Agravo de Instrumento, devidamente acompanhado do comprovante de sua interposição e da relação de documentos que o instruíram, nos autos do processo principal, em se tratando de processo físico? 4. Qual a peça processual cabível quando há intenção de atacar decisão interlocutória cuja matéria não esteja no rol do art. 1.015? 5. Qual a peça processual cabível em face de decisão que extingue o feito com base no art. 485, I do CPC? Resolução comentada
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