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Problema 1 – Vômito Discutir o conceito, a fisiopatologia (central e periférico) e as características semiológicas do vômito e seus principais estímulos desencadeantes. Náusea é um sintoma. É uma sensação desagradável e subjetiva, referida na faringe e abdome superior, associado ao desejo de vomitar. Pode ser breve ou prolongada, geralmente em ondas e precede o vômito ou ocorre isoladamente. Acompanhada da perda do tono gástrico, contração duodenal e refluxo do conteúdo intestinal para o estômago. O vômito é um sinal. É uma expulsão forçada do conteúdo gástrico através da boca e é precedido de vômitos secos. Acompanhado por forte e sustentada contração dos músculos abominais, abaixamento do diafragma e abertura da cárdia. Mecanismo de reflexo de proteção contra a ingestão acidental de toxinas ou alimentos contaminados. Fisiopatologia O vomito é um reflexo complexo, com muitas aferências, mas uma única eferência. É composto por componentes motores, respiratórios, salivares e vasomotores. O centro do vômito localiza-se no bulbo. O nervo vago é o principal aferente dos estímulos eméticos produzidos no TGI, seguido do aferente simpático. Mecanorreceptores: localizados a parede muscular do intestino, podendo ser ativados por contração ou distensão do aparelho gastrointestinal. Quimiorreceptores: localizados na mucosa da parte mais alta do intestino, monitorando as alteracões intraluminais. Os estimulos do TGI são transmitidas através dos eferentes do nervo vago para o núcleo do trato solitário e para a àrea postrema do SNC. A área postrema fica na porção caudal do 4º ventriculo, sendo altamente vascularizada e possui capilaes fenestrados que permitem a penetração de substâncias do cérebro. Diversos estímulos ativam células da área postrema, denominada Zona Quimiorreceptora de Gatilho (ZQG). O aparelho vestibular é importante na indução de vomitos por estímulos de movimento, denominadas cinetoses. Distúrbios orgânicos, tais como grave hipotensão, cefaleia (enxaqueca), hipóxia, elevação da pressão intracraniana, são capazes de estimular a via aferente cortical. Do mesmo modo, determinados estímulos, como movimento, otite média, alterações vasculares do labirinto e tumores, são capazes de promover impulsos vestibulares que passam através do nervo auditivo para o cerebelo e então para a ZQG e finalmente para o centro do vômito. Estímulos visuais, olfativo e proprioceptivos podem também estimular a via aferente cortical desencadeando vômitos. Esses estímulos aferentes ativam, então, o centro do vomito. O centro do vômito na formação reticular bulbar coordena efetores somáticos e viscerais em conformidade com o tipo de informação sensorial que recebe do NTS e da área postrema. Os estímulos eferentes deixam o centro do vômito através do V, VII, IX, X e XII pares cranianos até o trato gastrointestinal superior e, através dos nervos espinhais, até o diafragma e músculos abdominais. Importantes funções são controladas pelos NTS, além de sua participação como centro de integração de aferências do vômito. Destacam-se: Regulação da salivação; Sabor; Deglutição; Respiração; Tosse; Pressão sanguínea e FC; Motilidade gastrointestinal e secreções; Estado de alerta; Secreção hormonal; Balanço hídrico; e Regulação da glicemia Fases do Vomito O vomito é composto por 3 fases: pré-ejeção, ejeção e pós-ejeção. Pré-ejeção É caracterizada pela sensação de náusea, juntamente com sinais autonômicos parassimpáticos e simpáticos (vasomotores e respiratórios) Salivação; Deglutição; Palidez; e Taquicardia. Inicia-se o peristaltismo reverso. Ejeção Representada pelo vômito seco e pelo vomito propriamente dito Os espasmos e a peristalse reversa do intestino delgado quando chegam no duodeno de sencadeiam a ânsia de vomitar (vomito seco) por meio da seguinte sequencia de eventos: Inspiração profunda e fechamento da glote, com consequentes diminuição da pressão intratorácica (contração/abaixamento do diafragma); Aumento da pressão intra-abdominal por contração dos músculos abdominais, determinando gradiente de pressão do abdome para o tórax acima de 20mmHg; Contração do antro e flacidez do corpo do estomago que conduzem o conteúdo gástrico para o esôfago; Se o esfíncter esofágico superior se mantem fechado, não há passagem do conteúdo esofágico para a faringe e a boca; Em se guida, a diminuição da pressão intra-abdominal e o relaxamento do diafragma permite o retorno do conteúdo do esôfago para o estomago. Esse ciclo pode repetir-se varias vezes. Durante o período de ânsia para vomitar há diminuição da secreção gástrica ácida e aumento da produção de muco. O vomito prorpiamente dito ocorre quando, devido ao aumento da contração dos músculos abdominais, o diafragma é pressionado contra o tórax, determinando o aumento da pressão intratorácica, de modo que ela se torne suficientemente alta para abrir o esfíncter esofágico superior, com consequente expulsão de parte ou totalidade do conteúdo gástrico para a boca. Concomitante à abertura do esfíncter, ocorre elevação do véu palatino que impede a passagem do material eliminado para as coanas. Pós-ejeção Consiste de respostas autonômicas e viscerais que promovem o retorno do organismo a uma fase quiescente com ou sem náuseas residuais. Vomitos Central e Periférico São casos de vomito resultante da estimulação das vias aferentes viscerais. Os estímulos são conduzidos a partir do órgão comprometido (pelo nervo vago e troncos esplânicos) até o centro emético, no bulbo. Vomito Periférico É caracterizdo pela expulsão de conteúdo gástrico acompanhado por náuseas e sintomas marcados. No ato o vômito o paciente apresenta os seguintes sintomas: tontura, ansiedade, vazio epigástrico com sudorese, taquicardia, arritmia respiratória, a realização de contrações abdominais que determinam a saída violenta através da boca do conteúdo gástrico. Os vômitos podem ocorrer uma ou várias vezes para esvaziar o estômago, ou até persistr após o fenômeno de esvaziamento do mesmo. Náuseas e vômitos anteriores, podem persistir e continuar por algum tempo com algidez e, às vezes, com desmaio. Vômitos periféricos podem ser vistos, principalmente em várias digestivopatias: úlceras gástricas e duodenais com alteração do piloro, doença da vesícula biliar, doença hepática, pancreatopatias, gastroduodenite, apendicite, obstrução intestinal, discinesia gastrointestinal e psicoendocrinas neurovegetativas, etc. Observa-se também em outros sistemas e condições em movimento (cinetose); esta relação é interminável, como qualquer irritativa espinho, em maior ou menor distância, pode causar vômitos reflexo ou periférico, sempre sujeita à lei da distância. Aqui se enquadra, ainda, vômito secundário à congestão das vísceras abdominais na insuficiência cardíaca congestiva grave, no infarto do miocárdio e no pós-operatório geral. Vômito Central (vômito em jato - sem N) Depende do estímulo direto no centro bulbar. Portanto, como causas temos os processos que irritam diretamente os centros emetizantes. Exemplos: meningoencefalite e hipertensão intracraniana. Por ser consequente ao aumento da pressão intracraniana, o vômito ocorre súbita e agudamente, sem relação com a alimentação. Pode parecer mais comumente pela manhã e, um fato importante: não é precedido por náusea. Os quimiorreceptores do centro do vômito podem, ainda, receber estímulos diretos por via hematogênica, sendo, por esse motivo, enquadrados nesta classificação. Como exemplo citam-se as intoxicações (opiáceos, apomorfina, digitálicos etc.), enfermidades endócrino-metabólicas (diabetes mellitus, hipercalcemia, hiponatremia, vômitos gravídicos) e uremias. Receptores do Centro Emético O circuito do reflexo emético envolve múltiplos receptores. Estimulação do Receptor de serotonina 5-hidroxitriptamina (5-HT3) Provoca a liberação dedopamina que, por sua vez, estimula os receptores da dopamina D2 no centro emético, ativando a sequência emética. Essa sequencia é a base para ação farmacodinâmca dos agentes antieméticos. Receptores histamínicos H2 e os Muscarínicos M1 São abundantes no centro vestibular e no núcleo solitário, constituem os objetivos farmacológicos preferidos para inibir o enjoo, a náuse a vestibular e os vômitos relacionados à gravidez. Receptores Canabinoides CB1 Do complexo vagal dorsal inibem o reflexo emético. Os agonistas canabinoides também modulam os canais iônicos 5- HT3. Assi m, o CB e os sistemas receptores 5-HT3 se localizam e interagem no tronco ce rebral. Receptores de Neuroquinina 1 (NK- 1) Localizados na área postrema e no núcleo solitário vinculam-se à substância P e fazem parte das vias eméticas terminais. Os antagonistas NK-1 reduzem a êmese induzida por ação central e periférica. Características Semiológcas Vomito de origem no Tubo Gastrintestinal As causas mais comuns de vômitos no tubo gastrintestinal são gastrite, dilatação aguda do estômago e obstruções mecânicas do tubo gastrintestinal. Nessa última, o vomito é um sintoma primordial. Resulta da distensão da luz intestinal que ativa os receptores mecânicos da parede gástrica e intestinal, provocando vômito através de reflexos víscero-viscerais ou ativação do centro bulbar do vômito pelas vias nervosas. O vômito é mais comumente observado na obstrução gastrintestinal alta, ou seja, ao nível do estômago e intestino delgado. A náusea e o vômito consequentes à obstrução ao nível do piloro são usualmente observados logo após a alimentação, sendo que o material vomitado quase sempre contém alimentos não digeridos. Quando a bile está presente indica que a obstrução é incompleta e há regurgitação do conteúdo intestinal. No caso de obstrução intestinal baixa com incontinência da válvula ileocecal, pode ocorrer vômito de substância fecaloide. Como exemplo de patologias que ocasionam a obstrução intestinal, citam-se: tumores, volvo, invaginação, trombose mesentérica, íleo paralítico, megacolon, parasitoses. Vomito de Origem Reflexa ou Periférico Nessa circunstância, o vômito é resultante da estimulação das vias aferentes viscerais. Os estímulos são conduzidos a partir do órgão comprometido, pelos nervos vagos e troncos aferentes esplâncnicos, para o centro do vômito no bulbo. As patologias que ocasionam este tipo de estimulação são: apendicite aguda, hepatite a vírus, colecistopatias, obstruções das vias urinarias, inflamações peritoneais, pancreatites, etc. Aqui se enquadra, ainda, o vômito secundário à congestão das vísceras abdominais na insuficiência cardíaca congestiva grave, no infarto do miocárdio e no pós-operatório geral. Vomito de Origem Central Depende do estímulo direto no centro bulbar. Portanto, como causas temos os processos que irritam diretamente os centros emetizantes. Exemplos: meningo encefalite e hipertensão intracraniana. Por ser consequente a aumento da pressão intracraniana, o vômito ocorre súbita e agudamente, sem relação com a alimentação. Pode aparecer mais comumente pela manhã e, um fato importante, não é precedido por náusea. Os quimiorreceptores do centro do vômito podem, ainda, receber estímulos diretos por via hematogênica, sendo, por este motivo, enquadrados nesta classificação. Como exemplo citam- se as intoxicações (opiáceos, apomorfina, digitálicos, etc), enfermidades endócrino-metabólicas (diabetes mellitus, hipercalcemia, hiponatremia, vômitos gravídicos), uremias. Quanto ao aspecto e conteúdo, os vômitos classificam-se em: Vômitos alimentares: são constituídos por restos alimentares. Quando os alimentos estão mal digeridos ou inalterados, pode significar obstrução alta, acima da cárdia, ou sua curta permanência no estômago; Vômitos aquosos: são compostos de saliva deglutida ou de secreção esofagiana. Em geral, resultam de afecções do esôfago; Vômitos biliosos: quando são tingidos de bile. Variam sua tonalidade do verde-claro ao verde- musgo. Quando decorrem de processo obstrutivo, indicam obstrução situada abaixo da ampola de Vater. Ocorrem, também, nos casos de íleo adinâmico dos pacientes sépticos e nos casos de vômitos prolongados após a eliminação completa do conteúdo gástrico; Vômitos mucosos: são ricos em muco e de aspecto gelatinoso. São encontrados em certos tipos de gastrite e nos distúrbios respiratórios acompanhados de grande produção e deglutição de secreção – como nas sinusites e bronquites; Vômitos porráceos: são constituídos de massas de aspecto herbáceo, resultante da mistura de secreção gástrica, biliar, duodenal e, também, de matéria fecal. Ocorrem nas obstruções intestinais, nas peritonites e nos íleos adinâmicos; Vômitos fecaloides: são verdes ou escuros e têm cheiro de fezes. Indicam obstrução baixa do íleo ou do colo ou peritonite; Vômitos de sangue: vão desde os vômitos com “raias de sangue” até as hematêmeses. Decorrem do sangramento discreto a intenso do esôfago, estômago ou duodeno. Vômitos de sangue vermelho vivo indicam que o sangue teve pouco contato com o suco gástrico e que o ponto de origem do sangramento se situa na cárdia ou acima dela, podendo ocorrer, também, nos casos de hemorragia gástrica volumosa. Vômitos em “borra-de-café” indicam que o sangue sofreu alterações pelo suco gástrico e sugerem sangramento lento. Vômito em jato: é súbito, inesperado, às vezes violento e não precedido por náuseas. É encontrado não apenas nos quadros de hipertensão craniana, mas também nos quadros obstrutivos e semiobstrutivos do trato intestinal e nas intoxicações, como a estenose hipertrófica de piloro. Estímulos Desencadeantes Dor, Visão e Odor Repulsivos, Fatores Emocionais Enviam aferências sensitivas para centros mais altos (ZGQ) que estimulam o centro do vômito (por receptores mAch) e enviam eferências pelos nervos para receptores somáticos e viscerais, causando o vômito. Cinetose Enviam aferências que estimulam receptores no labirinto, e os núcleos vestibulares (por meio de receptores H1 e mAch), enviam impulsos para a ZGQ depois para o centro do vômito (por meio de receptores mAch), enviam eferências pelos nervos para receptores somáticos e viscerais, causando o vômito. Toxinas Endógenas e Fármacos Do sangue vão para a ZGQ, interagem com o centro do vômito (receptores mAch), enviam eferências pelos nervos para receptores somáticos e viscerais, causando o vômito. A liberação de agentes emetogênicos promovem tudo isso, vai para a ZGQ e assim por diante. Estímulos da Faringe e do Estômago Enviam aferências viscerais (por meio de receptores 5- HT3) que integram com núcleos do trato solitário (tem receptores H1 e mAch), enviam impulsos para o centro do vômito (receptores mAch), enviam eferências pelos nervos para receptores somáticos e viscerais, causando o vômito. Estabelecer diagnósticos diferenciais de vômitos (de acordo com a idade, intraperitoenais, extraperitoneais e outros). As manifestações associadas são dependentes da etiologia das náuseas e vômitos. Alguns fatores ajudam a fazer o diagnóstico diferencial, pacientes com quadro de vômitos agudos (1-2 dias de manifestação) são, na maioria das vezes, causados por quadros infecciosos, medicações e acúmulo de toxinas, já em pacientes com história crônica; maior que 1 semana; resulta comumente de condições médicas crônicas ou condições psiquiátricas. De acordo com a Idade 1º Mês de Vida Técnica alimentar inadequada; refluxo gastroesofágico fisiológico; DRGE – doença do refluxo gastroesofágico/Hérnia de hiato; quadros obstrutivos; quadros inflamatórios; doenças metabólicas; doenças endocrinológicas. Lactente Erro de técnica alimentar; RGE; DRGE/Hérnia Hiatal; quadros obstrutivos; doenças inflamatórias; enteroparasitoses; distúrbios metabólicos; alergia gastrintestinal.Pré-Escolar Cinetose (enjoo de movimento); síndrome do vômito cíclico; vômitos psicogênicos; suboclusão/oclusão por áscaris; hepatite viral; gastrite erosiva secundária; úlcera péptica secundária. Escolar Vômitos psicogênicos; enxaqueca; síndrome do vômito cíclico; gastrite/úlcera. Adolescentes Anorexia nervosa/bulimia; gravidez; enxaqueca; gastrite/úlcera. Em Qualquer Idade Aparelho respiratório (infecções/tosse/gotejamento retronasal/secreção faríngea); aparelho gastrintestinal (GECA – gastroenterocolite aguda/hérnia inguinal encarcerada/intoxicação alimentar/esofagite/pancreatite/colecistite); aparelho geniturinário (litíase/pielonefrite/IRC – insuficiência renal crônica/tubulopatias); SNC (meningite/encefalite); sistema endocrinológico (cetoacidose diabética); miscelânea (intoxicação exógena/alterações nos intervalos – QT/RT). Intraperitoneais Distúrbios obstrutivos: podem ser por obstrução mecânica – bloqueio físico, hérnias, tumores, fezes compactadas, corpos estranhos, aderências pós-operatórias, intussuscepção, volvo – intestino dá voltas ao redor de si; ou não mecânica – íleo paralítico; infecção intraperitoneal; isquemia mesentérica; cirurgias intra-abdominais; alterações metabólicas. Exemplos: obstrução intestinal; obstrução pilórica; obstrução do intestino delgado; obstrução colônica. Infecções entéricas e doenças inflamatórias: por vírus e bactérias; por apendicite; colecistite; pancreatite; hepatite. Funções sensoriais e motoras alteradas: gastroparesia; DRGE, cólica biliar; pseudo- obstrução intestinal; síndrome dos vômitos cíclicos; Extraperitoneais: Doença Cardiopulmonar – miocardiopatia; IAM: causam reação sobre o diafragma e estimulação dos receptores 5-HT3 no estômago e intestino. Desordens Vestibulares – cinetose; tumores; labirintite: causam rápidas mudanças de direção do movimento do corpo, estimulando os receptores M1 e H1. Distúrbios Corticais – tumores; AVC; edema cerebral; ansiedade; estresse; dor: estimulam os receptores GABA e 5-HT3. Causas Medicamentosas e Distúrbios Metabólicos Causam irritação ou ativação de receptores no TGI e/nos receptores da área postrema – os quimioterápicos, antibióticos, AINES, hipoglicemiantes. Além disso, a gravidez, uremia, cetoacidose, doenças tireoidianas e da paratireoide também são causadores dos vômitos. Conhecer o princípio do tratamento dos vômitos, as drogas antieméticas e seu mecanismo de ação. Princípios Gerais O tratamento dos vômitos visa à correção de anormalidades clínicas ou cirurgicamente remediáveis, quando possível. A hospitalização deve ser considerada nos casos de desidratação grave, especialmente se a reposição com líquidos orais não puder ser mantida. Uma vez que a ingestão oral seja tolerada, os alimentos devem ser reiniciados com líquidos pobres em gorduras, pois os lipídios retardam o esvaziamento gástrico. Os alimentos com alto teor de resíduos não digeríveis devem ser evitados porque também prolongam a retenção gástrica. Medicamentos Existem duas categorias principais de medicações para o manejo destes pacientes, que são os pró-cinéticos e os antieméticos. Pós-cinéticos As medicações pró-cinéticas são uma das classes mais utilizadas para tratamento de náuseas e vômitos. No Brasil, a mais conhecida é a metoclorpramida que age via receptor serotoninérgico 5HT-4 e via receptor dopaminérgico D2 antagonizando seus efeitos. O grande problema da medicação são seus efeitos colaterais, que ocorrem em até 20% dos pacientes, entre eles agitação, nervosismo, tonturas, distonias e raramente discinesia tardia, mas embora pouco citada na literatura internacional, a experiência com a medicação em nosso país é satisfatória. Outras medicações pró-cinéticas incluem a domperidona e a bromoprida. A eficácia das drogas para quadros de gastroparesia é comparável à da metoclorpramida e a dose habitual de ambas as medicações é de 10 mg três a quatro vezes ao dia. Antieméticos - Agentes antieméticos centrais Antagonistas de receptores dopaminérgicos D2 Benzamidas O principal efeito é exercido no centro emético através do antagonismo aos receptores de dopamina D2. Esses agentes também estimulam os receptores periféricos 5-HT, facilitando a liberação de acetilcolina e atuando como agentes procinéticos antroduodenais. O principal fármaco é a metoclopramida (contraindicada em menores de 1 ano) As indicações mais comuns para esses medicamentos são náusea e vômitos da gravidez, pós- cirurgias, e náuseas e vômitos induzidos por radioterapia e quimioterapia. Devido à sua ação pro-cinética gástrica associada, os fármacos podem ser usada para a gastroparesia relacionada ao diabetes mellitus, a vagotomia prévia e a gastrectomia parcial prévia. A dose-padrão de metoclopramida é de 10-20 mg, 3-4 vezes ao dia VO ou IV. Derivados de Benzimidazóis A domperidona é o principal representante. O fármaco cruza a barreira hematoencefálica e atua principalmente como antagonista periférico do receptor de dopamina D2. Ela bloqueia os receptores centralmente na área postrema (que está parcialmente fora da barreira hematoencefálica) e no estômago, onde a inibição do receptor D2 diminui o relaxamento gástrico proximal e facilita o esvaziamento gástrico. Embora a domperidona seja um antiemético mais fraco do que a metoclopamida, ela pode ser particularmente útil para o tratamento de náuseas e vômitos secundários ao tratamento com levodopa na doença de Parkinson, pois antagoniza os efeitos colaterais da levodopa sem interferir em sua ação antiparkinsoniana nos centros cerebrais protegidos pela barreira hematoencefálica. A dose habitual é de 10-20 mg, 3-4 vezes ao dia por via oral. Fenotiazinas e Butirofenonas As fenotiazinas (clorpromazina, perfenazina, proclorperazina, prometazina, tietiperazina) e as butirofenonas (droperidol e haloperidol) também bloqueiam os receptores dopaminérgicos D2, além de bloquear o receptor muscarinico M1. As fenotiazinas também bloqueiam os receptores da histamina H. Esses fármacos tendem a induzir o relaxamento e a sonolência, e geralmente são usadas parenteralmente ou como supositórios em pacientes com vômito agudo intenso de origem central, como ocorre na vertigem, na enxaqueca e no enjoo. Elas também são úteis para pacientes com vômitos secundários à exposição a agentes tóxicos e quimioterapia e após cirurgia. O droperidol também tem sido utilizado como complemento para a sedação-padrão durante os procedimentos endoscópicos e, em combinação com a morfina, é usado para reduzir a dor pós- operatória, além das náuseas e vômitos. Agentes anti-histamínicos e antimuscarínicos Agem principalmente bloqueando os receptores de histamina H, (ciclizina, difenidramina, cinarizina, meclizina, hidroxizina) e os receptores muscarínicos Ml (escopolamina - buscopam) em nível central. A dose-padrão do antiemético ciclizina é de 50 mg, administrada três vezes ao dia por via oral ou em supositório de 100 mg. A principal indicação é náusea e vômito associados a enjoo e doença vestibular. A ciclizina é útil no pós-operatório e em outras formas de vômito agudo. Antagonista de Serotonina Antagonistas dos receptores da serotonina 5-HT 3 (ondansetrona - vonau, granissetrona, dolassetrona, tropissetrona) são antieméticos potentes que bloqueiam seletivamente os receptores 5-HT 3 no centro emético e nos receptores da parede gástrica que transmitem impulsos aferentes eméticos através do nervo vago. Além de seu efeito antiemético, eles têm modesta ação procinética gástrica. A indicação principal para essa classe de fármacos é a náusea e o vômito associados a quimioterapia ou radioterapia ou após cirurgia. A ondansetrona pode ser adm em dose única de 8-32mg IV , na dose de 0,15mg/kg de 8/8h ou por VO em dose de 12- 24 mg a cada 24h, em 3 doses divididas. Glicocorticoide O mecanismo antiemético dos glicocorticoides não é bem compreendido.Pode estar relacionado à inibição da sintese da prostaglandina central, liberação de endorfinas ou síntese alterada ou liberação de serotonina. A principal indicação é o tratamento de náuseas e vômitos no período pós-operatório ou como resultado da quimioterapia ou radioterapia. Os glicocorticoides também podem ser usados para reduzir o edema cerebral e, consequentemente, aliviar vômitos secundários ao aumento da pressão intracraniana. A dexametasona é a fonulação utilizada de forma aguda, em doses variando de 8-20 mg por via intravenosa e 4 mg a cada seis horas por via oral. Na prática, a dexametasona é usada frequentemente em combinação com outro agente antiemético, como a metoclopranúda ou o antagonista 5-HT3. Canabinoides Duas formulações orais estão disponíveis: a nabilona e o dronabinol. Usado em terapêutica refrataria a tratamento antiemético convencional na quimioterapia. Antagonista do receptor de neuroquinina-1 Inibem a substância P/NK-1 e são potentes agentes antieméticos. Duas formulações estão disponíveis: o aprepitante (oral) e o fosaprepitante (parenteral); usado em pós-operatorio e quimioterapia. - Agentes procinéticos gástricos Agonista do receptor 5-Htdelta de serotonina Cisaprida e cinitaprida são fármacos da classe benzamidas que compartilham o efeito agonista 5-HT, de ação periférica da metoclopramida (também uma benzamida) sem ação antagonista da dopamina D2. A cisaprida é um potente agente procinético gástrico em doses de 5-20 mg, 3- 4 vezes ao dia em adultos, porem foi tirada do mercado porque é cardiotoxica. Agonistas dos receptores da mitilina Os agonistas do receptor da motilina incluem o antibiótico eritromicina. Em células musculares lisas e nervos entéricos. Pode ser usada para tratar náuseas e vômitos agudos associados à gastroparesia (diabética, pós-cirúrgica ou idiopática) e para limpar o estômago de alimentos retidos, secreções e sangue antes da endoscopia. A eritromicina pode ser administrada por via intravenosa em bólus de 200-400 mg a cada 4 -5 horas. As doses mais baixas são mais apropriadas para pacientes com pseudo-obstrução, o que está associado à reduzida atividade motora interdigestiva no intestino delgado.
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