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FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS Gabriele Campos Zara RA: 2397828 COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA IMOBILIÁRIA São Paulo, 02 de outubro de 2019 COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA IMOBILIÁRIA 1) Breve histórico: No século passado, com o êxodo rural e o intenso fluxo de pessoas nos centros urbanos, surge-se a necessidade da compra e venda de imóveis, realizada a longo prazo, em parcelas e por um contrato preliminar que permitia tanto ao comprador quanto ao vendedor, exercerem o direito de arrependimento, conforme artigo 1.088 do antigo Código Civil de 1916: “Art. 1.088. Quando o instrumento público for exigido como prova do contrato, qualquer da partes pode arrepender-se, antes de o assinar, ressarcindo à outra as perdas e danos resultantes do arrependimento, sem prejuízo do estatuído nos arts. 1.095 a 1.097.” Em conformidade com o disposto no Código, não havia qualquer segurança jurídica às partes, podendo a qualquer momento resolverem o negócio e ressarcirem a parte contrataria por perdas e danos. Essa disposição mostrava-se vantajosa ao vendedor, que poderia, sem qualquer ônus, a não ser pelas perdas e danos, revender o lote a um terceiro que pagaria uma quantia mais satisfatória. Muito tempo depois, após a vigência de leis que versavam sobre a compra e venda parcelada por meio do compromisso, entra em vigência a Lei 6.766/79, que expressamente vedava o exercício do direito de arrependimento pelos compromissários compradores e vendedores, dando a característica de irrevogabilidade que o atual compromisso de compra e venda possui. Finalmente com o advento do novo Código Civil, em 2002, o compromisso de compra e venda passou a integrar o quadro de direitos reais, tendo requisitos contratuais, cláusulas de irretratabilidade e maior segurança jurídica ao compromissário comprador. Além disso, a Ação de Adjudicação Compulsória passou a ser utilizada para tutelar o direito de aquisição da propriedade. 2) Definição: O compromisso de compra e venda é uma espécie de contrato preliminar no qual o objeto é a celebração de outro contrato, ou seja, ao pactuarem o compromisso, as partes vinculam-se juridicamente a firmarem, posteriormente, o contrato definitivo. Nos contratos de compromisso de compra e venda, diferentemente dos contratos definitivos, não se transmite a propriedade, entretendo há a possibilidade de transmitir-se a posse do imóvel. O que ocorre na celebração do contrato preliminar de compromisso é a transmissão do direito real de aquisição do promissário vendedor ao compromissário comprador. Existem particularidades acerca do compromisso, uma delas é a característica irretratável e irrevogável do contrato, havendo cláusulas que vedam o exercício do direito de arrependimento, tornando impossível a resilição unilateral do contrato, conforme artigo 25 da Lei 6.766/79: “Art. 25. São irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões e promessas de cessão, os que atribuam direito a adjudicação compulsória e, estando registrados, confiram direito real oponível a terceiros.” Além disso, para que haja direito real de aquisição pelo compromissário comprador, faz-se necessário que o compromisso de compra e venda tenha sido devidamente registrado por meio de escritura pública ou instrumento particular sendo facultativo às partes decidirem qual será o meio de registro utilizado. 3) Diferenças entre Promessa e Compromisso: A promessa de compra e venda consiste em contrato preliminar em que se cria a obrigação de comprar ou vender determinado bem, estando às partes livres para desistirem do negócio a qualquer momento, portanto, não há restrição ao exercício do direito de arrependimento ao promitente vendedor, nem tampouco ao promissário comprador. Em que pese não haver requisito para que a promessa de compra e venda seja registrada por instrumento particular ou escritura pública, depreende-se que tal espécie de contrato preliminar não é passível de gerar direito real de aquisição, diferentemente do compromisso de compra e venda que, ao ser registrado importa em direito real de aquisição pelo compromissário comprador, conforme artigo 1.417 do Código Civil de 2002: “Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.” Ademais, as promessas são retratáveis, enquanto os compromissos irretratáveis e por isso, nas hipóteses de cumprimento integral do contrato de compromisso pelo compromissário comprador através da quitação, havendo negativa do vendedor a outorgar-lhe a escritura de compra e venda do respectivo imóvel, poderá exigi-lo por via judicial, através da adjudicação compulsória do imóvel, o que não seria possível em caso de promessa pactuada com direito de arrependimento: “Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.” 4) Dos requisitos e forma: Os contratos de compromisso de compra e venda a serem registrados por instrumento particular ou escritura pública devem conter alguns requisitos, dentre eles, a qualificação das partes, certidão da matrícula do imóvel, existência de ônus reais sobre o imóvel, descrição do bem, localização, existência ou não de condomínio, prazo, preço, local e forma de pagamento, existência de sinal ou arras, desde que confirmatórias, certidões negativas, outorga conjugal (caso necessário) e assinatura das partes. No que diz respeito aos requisitos retro mencionados, tratando-se de contrato preliminar, seguir-se-á os mesmos requisitos do contrato definitivo, ou seja, o compromisso de compra e venda deve conter todos os requisitos legais de um contrato definitivo de compra e venda, pois só possuirá efeitos vinculantes, oponíveis a terceiros, à medida que abranger todos, ou pelo menos a maioria dos requisitos essenciais do contrato definitivo, assim, estará apto a produzir o resultado esperado no momento da quitação. Concernente à forma dos contratos preliminares, nos termos do artigo 462 do Código Civil, é dispensável que seja firmada de acordo com o contrato definitivo, entretanto em atenção ao artigo subsequente (artigo 463 do Código Civil), depreende-se que nos casos em que há cláusula de irrevogabilidade, vedando o direito de arrependimento, existe a necessidade de que a forma seja escrita. 5) Do registro: Tendo em vista que os contratos de compromisso de compra e venda são instrumentos particulares pactuados entre as partes, o registro por meio de escritura pública concede ao compromisso a característica de um documento dotado de fé pública, atribuindo ao compromissário comprador o direito real de aquisição sobre a propriedade. Igualmente, o registro do compromisso no Cartório de Registro de Imóveis produzirá o mesmo efeito erga omnes e garantirá o direito real de aquisição que a escritura pública lavrada por um Tabelião concede ao compromissário comprador. Diante disso, a escritura ou registro permitem ao compromissário comprador que exerça determinados poderes decorrentes do direito de propriedade, como por exemplo, uso, fruição e disposição sobre a coisa. Assim, detém o domínio útil da propriedade, enquanto o promissário vendedor torna-se o nu proprietário do imóvel até o momento da quitação. A diferenciação entre compromisso registrado no cartório de Imóveis para escritura pública recai sobre a incidência dos impostos e emolumentos decorrentes da transferência da propriedade, o que geralmente acontece em contratosdefinitivos de compra e venda, sem que haja qualquer contrato preliminar. Desse modo, tratando-se de aspectos exclusivamente financeiros, as partes são beneficiadas ao firmarem um compromisso de compra e venda, registrado pelo Cartório de Imóveis, não arcando com impostos de transmissão de posse, nem tampouco com as custas decorrentes da lavratura de escritura pública pelo Tabelião. Entretanto, vale ressaltar que as custas também existem no registro de compromisso pelo Cartório, porém muito inferiores ao valor da escritura pública, sendo a opção mais vantajosa no aspecto econômico. 6) Da adjudicação compulsória: A princípio a quitação do compromisso gera um dever ao promissário vendedor a outorgar a escritura pública ao compromissário vendedor, de forma voluntária. Contudo, nos casos em que o promissário vendedor não o faz de forma voluntária ou recusa-se a outorgar a escritura, o compromissário comprador tem o direito de ajuizar Ação de Adjudicação Compulsória, visando a receber uma tutela jurisdicional que o entregue a propriedade do bem compromissado. Na ação de adjudicação compulsória, a Sentença configurar-se-á em escritura pública de transmissão de propriedade, tornando o compromissário comprador definitivamente proprietário do bem a partir da averbação no Cartório de Registro de Imóveis, conforme previsão legal no artigo 1.418 do Código Civil, já elucidada anteriormente. Não recai contra o compromissário comprador qualquer prazo de prescrição ou decadência, pois a ação cabível é imprescritível. Dessa maneira, não haverá impedimento, salvo se houver direito contrário, como por exemplo, a usucapião, meio originário de aquisição da propriedade, conforme ementa abaixo: “PROMESSA DE COMPRA E VENDA. Escritura definitiva. Adjudicação. Prescrição. Não prescreve o direito de a promissária compradora obter a escritura definitiva do imóvel, direito que só se extingue frente ao de outrem, amparado pela usucapião. Recurso não conhecido.” (REsp 369206 / MG – Relator Min. CESAR ASFOR ROCHA; Relator p. Acórdão Min. RUY ROSADO DE AGUIAR – T4 – QUARTA TURMA). CONCLUSÃO Após a breve exposição acerca do tema de “Compromisso de Compra e Venda Imobiliária” depreende-se que apesar de ser definido na espécie de contratos preliminares, ambas as partes tem direitos e deveres a serem cumpridos. Note-se que é obrigação do compromissário comprador arcar com o pagamento das parcelas, chegando ao momento da quitação do bem, adquirindo assim a propriedade por meio da outorga da escritura pelo compromissário vendedor. Logo, faz saber que em caso de descumprimento ou recusa da outorga da escritura, o compromissário comprador poderá propor a Adjudicação Compulsória em face do vendedor, tutelando judicialmente seu direito de aquisição da propriedade, que foi garantido inicialmente no compromisso irretratável de compra e venda. Dessa maneira, conclui-se que ao registrar o compromisso, o compromissário comprador já adquire o direito real de aquisição da propriedade, havendo assim, segurança jurídica no negócio firmado, podendo tutelar posteriormente seu direito, averbando o dispositivo da decisão judicial e tornando-se proprietário do bem. REFERENCIAS TEIXEIRA, Tarcísio. Compromisso e promessa de compra e venda: distinções e novas aplicações dos contratos preliminares. 2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2015. GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume 4: contratos/ Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 1. ed. unificada. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018. BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Compromisso de Compra e Venda em face do Código Civil de 2002: Contrato Preliminar e Adjudicação Compulsória – Revista dos Tribunais | vol. 843/2006 | p. 58 - 84 | Jan / 2006 – Doutrinas Essenciais de Direito Registral | vol. 3 | p. 819 - 856 | Dez / 2011 | DTR\2006\820. BRASIL. Legislativo. Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979 – Lei parcelamento do solo. BRASIL. Legislativo. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil. STJ – Resp 369.206 – MG | DJ 30/06/2003
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