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Leucoplasia x ceratose friccional Leucoplasia Leucoplasia é definida como: (leuko=placa; plakia=patch), representando “uma mancha branca ou placa que não pode ser caracterizada clinica ou patologicamente como qualquer outra doença”. Caracterizada por uma placa branca não destacável a raspagem. Termo estritamente clínico e não implica uma alteração histopatológica específica do tecido. O seu diagnóstico depende não apenas da aparência clínica, como também da exclusão de outras doenças que se manifestam como manchas brancas na mucosa oral. Lesões como: líquen plano, mosicatio buccarum (mordiscar a bochecha constantemente), queratose friccional, queratose da bolsa de tabaco, estomatite nicotínica, leucoedema e nevo branco esponjoso precisam ser excluídos, antes de um diagnóstico de leucoplasia. Tal como acontece na maioria das lesões brancas orais, a manifestação clínica ocorre devido ao espessamento na camada superficial de queratina que exibe uma coloração branca quando úmida, ou por acantose (espessamento do epitélio espinhoso), que mascara a vascularização normal *vermelhidão* do tecido conjuntivo. Embora a leucoplasia não constitua um diagnóstico histopatológico específico, considera- se uma lesão potencialmente maligna, cuja frequência de transformação maligna é a maior do que a mucosa normal. Incidência e prevalência É a lesão potencialmente maligna mais comum, representando 85% das lesões. Mais de um terço dos carcinomas apresentam leucoplasia em sua estreita proximidade. Existe predileção pelo sexo masculino (70%), exceto em populações em que as mulheres usam os produtos do tabaco com maior frequência. Causas A causa da leucoplasia permanece desconhecida, embora existam várias hipóteses; 1. Tabaco: O tabagismo parece ser o mais associado à leucoplasia Mais de 80% dos pacientes com leucoplasia são fumantes e estes têm mais propensão a desenvolver leucoplasia do que os não fumantes; Fumantes inveterados têm lesões maiores e em maior número do que os fumantes ocasionais, especialmente depois de anos de uso do tabaco. Além disso, a leucoplasia pode desaparecer ou se tornar menor no primeiro ano após cessão do tabagismo. O uso de tabaco sem fumaça, frequentemente causa uma placa branca clinicamente distinta, denominada queratose da bolsa de tabaco, provavelmente não é uma leucoplasia verdadeira. 2. Álcool: O álcool exerce um forte efeito sinérgico com tabaco no desenvolvimento do câncer oral. No entanto, existem evidências conflitantes se apenas o uso do álcool está relacionado com leucoplasia. As pessoas que fazem uso excessivo dos enxaguantes bucais com teor alcóolico superior a 25% podem apresentar placas acinzentadas na mucosa oral, entretanto essas lesões não podem ser consideradas leucoplasias verdadeiras. 3. Radiação ultravioleta A radiação UV é um fator causal para leucoplasia do vermelhão do lábio inferior. Tais lesões são representadas como queilite actínica. Pessoas imunocomprometidas, tais como pacientes transplantados, são especialmente propensas a desenvolverem leucoplasia e Maria Eduarda Noronha Tavares carcinoma epidermóide no vermelhão do lábio inferior. 4. Microrganismos: Vários microrganismos foram implicados na etiologia da leucoplasia. Treponema pallidum, por exemplo, produz uma glossite na fase tardia da sífilis, com ou sem a terapia popular com arsênico antes do advento dos antibióticos modernos – a língua enrijecida e - muitas vezes extensa leucoplasia dorsal. A sífilis terciária é rara hoje em dia, entretanto, a infecção oral por Candida Albicans é frequente. C. Albicans pode colonizar a camada de queratina da mucosa oral, produzindo uma placa espessa granular com coloração vermelha ou branca. A biópsia pode mostrar hiperplasia ou displasia epitelial. Não se sabe se essa levedura produz displasia ou secundariamente infecta epitélio anteriormente alterado; Algumas dessas lesões podem desaparecer, encolher, ou se tornar menos displásica após a terapia anti-fúngica. Em alguns casos, o fumo do tabaco pode causar a leucoplasia e também predispor o paciente a desenvolver candidíase. O potencial papel do HPV no desenvolvimento das leucoplasias permanece incerto. Os pesquisadores detectaram um aumento do DNA do HPV em cerca de duas vezes mais nas leucoplasias do que na mucosa oral clinicamente normal. 5. Trauma Várias lesões queratóticas que até recentemente tinham sido encaradas como variantes de leucoplasias, não são agora consideradas potencialmente malignas. A estomatite nicotínica é uma lesão generalizada de cor branca no palato, que parece ser uma hiperqueratose em resposta ao calor gerado pelo fumo do tabaco (geralmente cachimbo) em vez de uma resposta aos carcinógenos do fumo. O seu potencial de malignização é o mesmo da mucosa normal do palato. Além disso, a irritação mecânica crônica pode produzir uma lesão branca com uma superfície queratótica rugosa, denominada ceratose friccional. Embora o aspecto clínico dessa lesão se assemelhe com leucoplasia, tal lesão é atualmente compreendida como uma resposta hiperplásica reativa (semelhante a um calo sobre a pele). Estas formas de queratose são reversíveis após eliminação do trauma e não há relatos de transformação maligna de lesões traumáticas como linha alba, morsicatio e abrasão gengival da escovação. (linha alba) (morsicatio) (queratose) Além disso, a presença de próteses ou dentes ausentes e quebrados não demonstrou evidencias do aumento do câncer. Lesões queratóticas no rebordo alveolar envolvendo o trígono retromolar ou rebordo alveolar desdentado representam outra forma de queratoses friccionais causadas por função mastigatória ou trauma por prótese. Hiperplasia da camada superficial de queratina e geralmente apresenta-se bilateral. As superfícies mais acometidas são aquelas sujeitas a traumatismos como lábios, bordas laterais de língua, mucosa jugal e cristas alveolares edêntulas. Camada fina e translúcida, que posteriormente altera-se para uma camada Maria Eduarda Noronha Tavares densa e branca, e eventualmente apresenta- se um halo eritematoso. Se apresentar aspecto verrucoso, deve ser acompanhada visto que o seu histopatológico pode trazer características de displasia. O paciente deve eliminar o hábito causador da lesão para que ela desapareça por completo. Características clínicas A leucoplasia afeta pessoas acima de 40 anos A prevalência aumenta rapidamente com a idade, em especial para homens, sendo afetados 8% dos homens com mais de 70 anos. A idade média (60 anos) é semelhante à pacientes com carcinoma oral, no entanto, alguns estudos mostram que a leucoplasia ocorre cerca de 5 anos mais cedo do que o carcinoma epidermoide oral. Aproximadamente 70% das leucoplasias orais são encontradas no vermelhão do lábio, mucosa bucal e gengiva. Lesões na língua, vermelhão do lábio (lábio inferior) e assoalho de boca representam mais de 90% das leucoplasias que mostram displasia ou carcinoma. Lesões únicas podem ter aparência clínica variada e tendem a mudar ao longo do tempo. Leucoplasia leve No início, a leucoplasia leve ou delgada aparece como uma placa branca ou acinzentada, plana ou ligeiramente elevada, podendo ser translúcida, fissurada ou enrugada É geralmente macia com bordas bem delimitadas, mas ás vezes gradualmente se mesclar com a mucosa normal. Leucoplasias finas podem desaparecer ou continuar inalteradas e raramente exibem displasia na biópsia. Para os tabagistas que não reduzem o hábito, dois terços das lesões tendem a aumentar emtamanho e a progredir para uma fase chamada leucoplasia homogênea ou espessa. Leucoplasia homogênea ou espessa Placas brancas espessas e bem delimitadas com fissuras profundas. A maioria permanece indefinidamente nessa fase. No entanto, um terço dela regride ou desaparece. Possuem pequenos sulcos. Algumas lesões desenvolvem aumento de irregularidades de superfície e são chamadas de leucoplasia granular ou nodular ou lesões com projeções afiadas, rombas ou verruciformes chamadas de leucoplasia verrucosa ou verruciforme. Leucoplasia granular ou nodular Leucoplasia verrucosa ou verruciforme Um exemplo de leucoplasia de alto risco é a leucoplasia verrucosa proliferaliva (LVP), é caracterizado pelo desenvolvimento lento de múltiplas placas queratóticas com projeções rugosas de superfície. A gengiva frequentemente está envolvida, mas outros sítios podem ser afetados. Embora, as lesões iniciem como hiperceratoses planas, indistinguíveis da leucoplasia comum, a LVP exibe crescimento persistente, podendo se tornar exofítica e verrucosa. Com a progressão, as lesões podem passar por uma fase indistinguível do carcinoma verrucoso, Maria Eduarda Noronha Tavares podendo tardiamente apresentar displasia e transformar-se em um carcinoma epidermoide (muitas vezes 8 anos após o diagnóstico de LVP). Essas lesões raramente regridem, independente da terapia. Entre as leucoplasias, a LVP é incomum, apresentando uma forte predileção pelo sexo feminino (1:4) sem associações com uso de tabaco. A leucoplasia pode ser tornar displásica ou maligna, sem qualquer alteração em sua aparência clínica. No entanto, algumas lesões podem apresentar manchas vermelhas dispersas, denominadas eritroplasias. Essas áreas representam locais nos quais as células epiteliais são imaturas ou atróficas impossibilitando a produção de queratina. Esta lesão com a mistura de áreas brancas e vermelhas denominada eritroleucoplasia ou leucoplasia mosqueada, frequentemente existe displasia epitelial no exame histopatológico. Muitas lesões leucoplásicas são uma mistura das fases e subtipos anteriormente mencionados. A figura a seguir fornece uma representação clínica e gráfica de tal lesão. A biópsia deve ser feita na área da lesão que mais propensa a apresentar displasia ou carcinoma, ou seja, áreas com uma aparência clínica semelhante as da direita na figura acima. Características histopatológicas Microscopicamente, a leucoplasia é caracterizada por um espessamento da camada de queratina (hiperqueratose), com ou sem aumento da camada espinhosa (acantose). Algumas leucoplasias demonstram hiperqueratose e atrofia epitelial. Variável infiltrado inflamatório crônico é observado no tecido conjuntivo adjacente. A camada de queratina pode ser paraqueratina (hiperparaqueratose), ortoqueratina (hiperortoqueratose), ou uma combinação de ambas. Na paraqueratina não há camadas de células granulares e os núcleos das células epiteliais são mantidos na camada de queratina. Na ortoqueratina, há uma camada de células granulares no epitélio, e não existem núcleos da camada de queratina. Na leucoplasia verrucosa exibe projeções papilares, pontiagudas e cristas epiteliais rombas, largas na superfície e espessura variável de Maria Eduarda Noronha Tavares queratina. Pode ser difícil de diferenciar de um carcinoma verrucoso inicial. A aparência microscópica de uma LVP varia de acordo com os estágios da lesão. LVPs iniciais aparecem como uma hiperqueratose indistinguível da leucoplasia convencional. Com o tempo a doença progride para uma proliferação exofítica, papiplar semelhante às lesões localizadas da leucoplasia verrucosa. Em estágios mais avançados, essa proliferação papilar exibe invaginação do epitélio pavimentoso bem diferenciado, com amplas cristas epiteliais sendo quadro indistinguível do carcinoma verrucoso. Nos estágios finais, o epitélio se torna francamente invasivo e menos diferenciado, transformando-se em carcinoma epidermoide. Displasia epitelial, ou carcinoma, é encontrada em cerca de 5% a 25% das leucoplasias orais. Alterações displásicas começam nas porções basais e parabasais do epitélio. Quanto mais displásico o epitélio, maior a chance das atipias celulares se estenderem em toda a espessura do epitélio. As alterações histopatológicas das células epiteliais displásicas são semelhantes às dos carcinomas epidermoides e podem incluir o seguinte: 1. Núcleos e células aumentados 2. Nucléolos grandes e proeminentes 3. Aumento da relação núcleo-citoplasma 4. Hipercromatismo (coloração escura excessiva nos núcleos) 5. Núcleos e células pleomórficas (forma anormal) 6. Disqueratose (queratinização prematura individual das células) 7. Aumento da atividade mitótica (número excessivo de mitoses) 8. Figuras de mitose anormais (mitoses tripolares ou em forma de estrela ou figuras mitóticas acima da camada basal) Além disso, alterações histomorfológicas do epitélio displásicos são evidentes em menor aumento, incluindo os seguintes: 9. Cristas epiteliais bulbosas ou em formato de lágrima 10. Perda de polaridade (falta da maturação progressiva para a superfície) 11. Pérolas de queratina (coleções focais, redondas e concêntricas de células queratinizadas) 12. Perda de coesão típica das células epiteliais. O grau de displasia epitelial se relaciona à sua gravidade ou intensidade. Displasia epitelial leve – não costuma ter displasia, mas se houver, se relaciona com alterações limitadas a camada basal e parabasal. Displasia epitelial moderada – mostra envolvimento da camada basal até a porção média da camada espinhosa. Displasia epitelial intensa – mostra alterações a partir da camada basal até o ponto médio do epitélio. Algumas vezes, a displasia pode estender-se pelo ducto de uma glândula salivar menor, especialmente em lesões do assoalho bucal – maior risco de ocorrência. Maria Eduarda Noronha Tavares Carcinoma in situ – definido como uma displasia que envolve a espessura total do epitélio (estende-se da camada basal até a superfície). Pode ou não existir uma fina camada de queratina na superfície. O epitélio pode ser hiperplásico ou atrófico. Algumas autoridades consideram o carcinoma in situ uma lesão potencialmente maligna enquanto outras acreditem que ele represente uma neoplasia verdadeira, descoberta antes da invasão. Independente disso, uma importante característica do carcinoma in situ é a ausência de invasão, e, sem invasão, metástases não ocorrem. Por este prisma, a formação de pérolas córneas é rara no carcinoma in situ e sua presença pode indicar um carcinoma epidermoide invasivo. Tratamento e prognóstico Devido a leucoplasia representar apenas um termo clínico, uma biópsia é necessária para obter um diagnóstico histopatológico e orientar o tratamento adequado. As biópsias devem ser realizadas nas áreas clinicamente mais “graves”. Múltiplas biópsias podem ser necessárias em lesões grandes e multifocais. Leucoplasias exibindo displasia epitelial moderada ou intensa, devem, se possível, ser removida completamente. O tratamento da leucoplasia demonstrando displasia leve ou moderada é guiado pelo tamanho da lesão e a resposta aos tratamentos mais conservadores, como cessar o hábito de fumar. Algumas leucoplasias associadas ao tabaco sem displasia ou com displasia leve, podem desaparecer ou diminuir o tamanho dentro de três meses após cessadoo hábito de fumar. Remoção completa pode ser realizada com igual efetividade por excisão cirúrgica, eletrocauterização, criocirurgia ou ablasão a laser. Uma vantagem da excisão cirúrgica é que ela permite a preservação tecidual para análise histopatológica, enquanto outros métodos podem ser preferíveis em alguns quanto outros métodos podem ser preferíveis em alguns casos, para limitar a morbidade relacionada ao procedimento. Mesmo após a remoção, as taxas globais de recorrências relatadas, variam de 10% a 35%, e o desenvolvimento de leucoplasias adicionais é comum. Em particular, as leucoplasias verruciforme e granular exibem uma taxa de recorrência de 83%, portanto necessitam com frequência de reintervenção. No entanto, não é claro se a excisão cirúrgica da leucoplasia reduz o risco de desenvolvimento de malignidade. Portanto, após a remoção e o acompanhamento, a longa duração é de suma importância. Embora a leucoplasia sem displasia frequentemente não seja removida, uma avaliação clínica a cada seis meses é necessária, pois há possibilidade de progressão da doença. Biópsias adicionais são recomendadas em se continuando o tabagismo ou se as alterações clínicas exibirem alterações significamente mais graves. As taxas de transformação malignas relatadas ocorrem de dois a quatro anos após o início da leucoplasia, mas pode ocorrer dentro de meses ou décadas. Cada fase clínica da leucoplasia tem um potencial de transformação maligna diferente. Leucoplasias delgadas raramente tornam-se malignas sem demonstrar alterações clínicas. Em contraste, a transformação maligna ocorre em aproximadamente 1% a 7% das leucoplasias espessas e homogêneas, e 4% a 15% das leucoplasias granulares e verruciformes. Eritroleucoplasia apresenta um potencial médio de malignização de 28%, mas as taxas relatadas variam de 18% a 47%. O potencial de transformação das diferentes fases da leucoplasia está relacionado estritamente com o grau de displasia presente. Lesões com displasia moderada e intensa tem potencial de malignização de 4% a 11% e 20% a 43%, respectivamente. Fatores adicionais associados ao aumento do risco de transformação maligna são: gênero feminino, idade avançada, não fumar, lesão persistente por vários anos, extensão da lesão e envolvimento Maria Eduarda Noronha Tavares ventrolateral da língua e assoalho de boca, pois essas regiões apresenta de 16% a 39% de transformação maligna, sendo 47% dos casos em mulheres. Maria Eduarda Noronha Tavares
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