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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE TECNLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL SISTEMA DE CAPTAÇÃO, TRATAMENTO, RESERVAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA. DISCIPLINA: SANEAMENTO II -2586 SÚMARIO CAPÍTULO 2 - A ÁGUA E O SANEAMENTO 3 CAPÍTULO 3 - IMPORTÂNCIA DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA 10 CAPÍTULO 4 - QUALIDADE DA ÁGUA 15 CAPÍTULO 5 - CONSUMO DE ÁGUA 24 CAPÍTULO 6 - CAPTAÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS 43 CAPÍTULO 7 - CAPTAÇÃO DE ÁGUA SUBTERRÂNEA 71 CAPÍTULO 8 - SISTEMA DE TRATAMENTO DE ÁGUA 94 CAPÍTULO 9 - RESERVATÓRIOS DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA 148 CAPÍTULO 10 - REDES DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA 181 3 CAPÍTULO 2 - A ÁGUA E O SANEAMENTO 2.1. A ÁGUA SOLVENTE UNIVERSAL Quase todas as substâncias, em maior ou menor concentração podem ser dissolvidas pela água. Essas substâncias conferem-lhe características peculiares, que a tornarão própria ou imprópria para o consumo humano ou industrial. NO MUNDO A falta de água para o consumo humano deve ser o principal problema ambiental do milênio. O planeta possui aproximadamente 1,4 bilhões de km3 de água, onde 97% desse total está sob a forma de água salgada (oceanos) e apenas 3% são de água doce (figura 2.1). Figura 2.1 - Porcentagens de água doce e salgada no mundo. Dos 3% da água doce, temos: 77% em forma de gelo (regiões polares e alto das montanhas) 22% em águas subterrâneas (96% do total aproveitável) 1% em águas superficiais (rios, lagos). Figura 2.2 - Porcentagens de água doce aproveitável e não aproveitável. 97% (Água salgada) 3% (Água doce) 4 A água consumida no mundo é destinada para: 70% para agricultura (irrigação) 20% para a indústria 10% para o consumo doméstico (residências). Para debater os recursos hídricos do planeta, foi realizado na Holanda o II Fórum Mundial de Água, com a finalidade de “garantir” a disponibilidade da água no século XXI. Aprovaram sete desafios que devem ser superados, sendo eles: � Atendimento das necessidades básicas da população. � Garantia do suprimento de alimentos. � Proteção dos ecossistemas. � Gerenciamento de riscos. � Valorização da água. � Compartilhamento dos recursos hídricos. � Administração desses recursos. Sabe-se que 80 países, com 40% da população mundial sofrem com a falta de água. A ONU estima que em 25 anos dois terços da população mundial sofrerão com a falta de água. Segundo a ONU, até 2020 o consumo de água aumentará em 40% e 2,7 bilhões de pessoas não terão água para as suas necessidades básicas. Cerca de 60% dos 227 maiores rios da Terra são fragmentados por represas e canais, e 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e 2,4 bilhões não dispõem de saneamento básico. A bacia Amazônica, a mais extensa rede hidrográfica da Terra, ocupa uma área total de 6.925.000 km2, desde suas nascentes na cordilheira dos Andes até sua foz no oceano Atlântico, abrangendo territórios de sete países sul-americanos: Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru e Venezuela, sendo que 63% desta bacia ficam no Brasil. Um dos grandes problemas é que boa parte da água doce encontra-se longe das áreas mais populosas. A Amazônia e seus imensos rios são exemplos disso. A água subterrânea vem sendo acumulada no subsolo há séculos e somente uma fração desprezível é acrescentada anualmente através de chuvas ou retirada pelo homem. Em compensação, a água dos rios é renovada cerca de 31 vezes, anualmente. NO BRASIL O Brasil tem cerca de 15% das reservas de água doce do mundo e de 30% dos mananciais subterrâneos. O Amazonas é o rio com maior volume de água do planeta. A figura 2.3 mostra as percentagens correspondentes ao uso da água no Brasil. Figura 2.3 - Uso de água no Brasil 5 2.2. O SANEAMENTO ALGUNS NÚMEROS RELATIVOS AO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL Figura 2.4 – O Saneamento no Brasil 6 A CARÊNCIA DE SANEAMENTO BÁSICO. O desafio é elevar o nível geral de riqueza e qualidade de vida da população em sintonia com a eficiência econômica, a equidade social e a conservação dos recursos naturais. A seguir, temos um quadro mostrando o déficit na oferta de saneamento básico no Brasil (1998). Área Nº de Domicílios ( em mil ) Domicílios não atendidos por Rede Geral de Água Domicílios não atendidos por Coleta de Esgoto Sanitário Em mil % Em mil % Urbana 33.994 3.891 11,4 16.608 48,49 Rural 7.846 6.489 82,7 6.609 84,2 Total 41.840 10.380 24,8 23.217 55,5 Fonte: PNAD 1998, IBGE. Nota: na área rural, o déficit em esgoto é determinado pela inexistência de rede coletora e fossa séptica. Quadro 2.1 – O Déficit Sanitário no Brasil ÁGUA X ESGOTO Os problemas decorrentes da falta de um sistema de coleta, tratamento e disposição final do esgoto sanitário, agravam-se quando existe fornecimento de água tratada à população. Cada m3 de água utilizada produz, aproximadamente, outro m3 de esgoto sanitário, portanto todos os 41,8 milhões de domicílios brasileiros produzem esgoto sanitário. Números do IBGE indicam que há no Brasil 12,8 milhões de domicílios atendidos por redes de abastecimento de água, mas desprovidos de sistemas de coleta de esgoto sanitário produzido pela utilização dessa água, portanto despejando diariamente a céu aberto. SAÚDE BUCAL NO BRASIL A cada 4 brasileiros que completam 60 anos, 3 não tem um dente na boca (São Paulo – 1998). Aproximadamente 30 milhões de brasileiros jamais tinham visto a “cara” do dentista (IBGE – 1998). Sabemos que o Brasil tem o maior número absoluto de dentistas do mundo (187,2 mil). 60% dos municípios brasileiros ainda não têm o “flúor” na água consumida por sua população (Lei obrigatória: em 1973). Foi constatado que a aplicação do “flúor” na água pode reduzir em até 60% os índices de dentes cariados, perdidos e obturados. A cobertura populacional da fluoretação no país não passa de 70 milhões de pessoas (56,4% da população do país). Acre, Amazonas, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte não tiveram fluoretação até os tempos atuais (2002). 7 O uso do flúor tem resultados positivos nas populações de menor renda, onde estudos feitos pela USP mostram que as crianças de municípios com águas fluoretadas possuem uma redução de até 30% de dentes cariados, em relação aos municípios que não aplicam o produto nas águas de abastecimento. NÃO HÁ SAÚDE SEM SANEAMENTO. No Brasil. � 65% das internações hospitalares de crianças menores de 10 anos estão associadas à falta de saneamento básico (BNDES, 1998). � A falta de saneamento básico é a principal responsável pela morte por diarréia de menores de 5 anos no Brasil (Jornal da Folha de São Paulo – FSP, 17/dez/99). � Em 1997, morreram 50 pessoas por dia no Brasil vitimadas por enfermidades relacionadas à falta de saneamento básico. Destas, 40% eram crianças de 0 a 4 anos de idade (DATASUS). � A eficácia dos programas federais de combate à mortalidade infantil esbarra na falta de saneamento básico (FSP, 17/dez/99); os índices de mortalidade infantil em geral caem 21% quando são feitos investimentos em saneamento básico (FSP, 17/dez/99). � A utilização do soro caseiro, uma das principais armas para evitar a diarréia, só faz o efeito desejado se a água utilizada no preparo for limpa (FSP, 17/dez/99). No Mundo. � 1 bilhão de pessoas não dispõem de água potável. � 1,8 bilhão não têm acesso a sanitários e esgoto. � 8 milhões de crianças morrem anualmente em decorrência de enfermidades relacionadas à falta de saneamento. EFEITOS POSITIVOS DO SANEAMENTO BÁSICO. Os investimentos em água tratada e sua distribuição, coleta, tratamento e a disposição ambientalmente adequada do esgoto sanitário tem um forte impacto positivo sobre a economia dos municípios. • Valorização dos imóveis residenciais e comerciais. • Viabilização da “abertura” de novos negócios nos bairros beneficiados, que passam a reunirrequisitos básicos para certos tipos de empreendimento. • Crescimento de negócios já instalados. • Crescimento da atividade de construção civil para atender ao aumento da procura por imóveis residenciais e comerciais num bairro mais “saudável”. • Criação de novos empregos a partir da dinamização da construção civil, da abertura de novos negócios ou do crescimento daqueles já existentes. • Aumento da arrecadação municipal de tributos. • Redução dos gastos públicos com serviços de saúde. 8 A SITUAÇÃO EM OUTROS PAÍSES. A seguir, temos alguns exemplos da população beneficiada com serviços de saneamento. CANADÁ EUROPA ESTADOS UNIDOS CHICAGO SAN DIEGO MIAMI Tratamento de água 100 % 100 % 100 % 100 % 100 % Coleta, tratamento e disposição do esgoto sanitário. 100 % Aprox. 100% 99% (1% - fossas sépticas) 93% (7% - fossas sépticas) 85% (15% - fossas sépticas) Quadro 2.2 – O Saneamento no Mundo 2.3. ABASTECIMENTO DE ÁGUA E COLETA DE ESGOTO DE AL GUMAS CIDADES DO PARANÁ A seguir, temos a percentagem da população beneficiada com o serviço de abastecimento de água e do serviço de coleta de esgoto sanitário fornecido pela Companhia de Saneamento – SANEPAR, das seguintes cidades: CIDADES ABASTECIMENTO DE ÁGUA ( % ) COLETA DO ESGOTO SANITÁRIO ( % ) MARINGÁ 99 67 PONTA GROSSA 98 52 CASCAVEL 99 44 FOZ DO IGUAÇU 93 42 Quadro 2.3 – O Saneamento em algumas cidades do Paraná Considerações: a) A população atendida corresponde ao número de economias residenciais (taxa de ocupação). b) O índice de atendimento é igual ao número que corresponde a população atendida dividido pelo número referente à população urbana, vezes 100. 2.4. ÁGUA VIRTUAL A água virtual é uma realidade pelo menos em Kyoto, no Japão. Nos debates que aconteceram no III Fórum Mundial da Água, um número cada vez maior de governos, agências internacionais e ONGs utiliza o conceito de água virtual. A quantidade utilizada na 9 produção de alimentos e bens – para debater a economia dos recursos hídricos, o planejamento agrícola e industrial. “Quando você consome um quilo de arroz, de certo modo também está usando os mil litros de água que foram necessários para cultivar aquela quantia do cereal. Quando come um quilo de carne, gasta os 13 mil litros de água que foram necessários para produzi-la. Esta é a água escondida, ou virtual”, explicou Daniel Zimmer, diretor do Conselho Mundial da Água, durante uma mesa-redonda sobre comércio e geopolítica. Na prática, a noção de virtualidade já fundamenta estudos e diretrizes políticas. Por causa da grande quantidade de água utilizada na produção do arroz, por exemplo, ganha força a idéia de substituir seu cultivo e consumo por trigo e soja. A proposta é rejeitada por grupos ambientalistas, já que só o trigo geneticamente modificado seria comercialmente viável em países tropicais, onde a rizicultura está concentrada. Outro argumento contra a simples substituição de cultivos é o grande contraste entre continentes, em relação ao uso agrícola da água. Europa e Estados Unidos consomem diariamente quatro mil litros per capita de água virtual. Na Ásia, onde grande parte do arroz do mundo é produzido, o gasto diário per capita é de 1400 litros. Globalmente, a agricultura e a pecuária são responsáveis por 70% do consumo de água no mundo. O conceito de água virtual pode se tornar importante para calcular o verdadeiro gasto de água dos países, já que a simples adoção de políticas públicas avançadas, em relação à exploração de recursos hídricos pode não ser suficiente. Um grande importador virtual poderá indiretamente provocar desastres em países pobres, exportadores de alimentos, onde a gestão ambiental dos recursos naturais seja deficiente. As estimativas sobre o comércio de água virtual divulgada pela primeira vez em Qyoto, apontam para trocas internacionais de água, em forma de alimentos, correspondentes a 20% do consumo hídrico do planeta. O cálculo foi apresentado pelo engenheiro Arjen Hoekstra, do Instituto de Infra-estrutura em Hidráulica e Engenharia Ambiental (IHE) de Amsterdã (Holanda). O Brasil é considerado um dos principais exportadores de água virtual, juntamente com Estados Unidos, Canadá, Argentina, Índia, Tailândia e Vietnã. Entre os grandes importadores estão China, Japão, Coréia do Sul, Alemanha, Itália e Espanha. 2.5. REUTILIZAÇÃO DA ÁGUA (CURITIBA). Foi aprovada em 18/09/2003 a lei que obriga aos novos prédios (edifícios, não as casas) de Curitiba a serem construídos com sistemas de reutilização da água do chuveiro (com a possibilidade também de reaproveitamento de águas servidas das torneiras de pias) no vaso sanitário e com hidrômetros individuais por apartamento. A lei também prevê a obrigatoriedade de os edifícios terem sistemas de captação da água da chuva, para ser usada na lavagem de calçadas e rega de jardins. O objetivo é impedir que a cidade passe por colapso no abastecimento de água dentro de uns 30 anos. 10 CAPÍTULO 3 - IMPORTÂNCIA DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA 3.1. INTRODUÇÃO O Sistema de Abastecimento Público de Água constitui-se no conjunto de obras, instalações e serviços, destinados a produzir e distribuir água a uma comunidade, em quantidade compatíveis com as necessidades da população, para fins de consumo doméstico, serviços públicos, consumo industrial e outros usos. Os sistemas individuais são soluções precárias para os centros urbanos, embora indicados para as áreas rurais onde a população é dispersa e, também, para as áreas periféricas de centros urbanos, para comunidades urbanas com características rurais ou, ainda, para as áreas urbanas, como solução provisória, enquanto se aguardam soluções mais adequadas. Mesmo para pequenas comunidades e para áreas periféricas, a solução coletiva é, atualmente, possível e economicamente interessante, desde que se adotem projetos adequados. 3.2. IMPORTÂNCIA DA ÁGUA E DOS SISTEMAS PÚBLICOS DE ABASTECIMENTO NECESSIDADE DA ÁGUA O homem tem necessidade de água de qualidade adequada em quantidade suficiente para todas as suas necessidades, não só para proteção de sua saúde, como também para o seu desenvolvimento econômico. IMPORTÂNCIA SANITÁRIA DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA A importância sanitária do abastecimento de água é das mais ponderáveis; a implantação ou melhoria dos serviços de abastecimento de água traz como resultado uma rápida e sensível melhoria na saúde e nas condições de vida de uma comunidade, principalmente através do controle e prevenção de doenças, da promoção de hábitos higiênicos, do desenvolvimento de esportes, como a natação e da melhoria da limpeza pública. IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DO ABASTECIMENTO DE ÁGUA A importância econômica do abastecimento de água é também de grande relevância. Sua implantação se traduz num aumento de vida média da população servida, numa diminuição da mortalidade em geral e, em particular, da infantil, numa redução do número de horas perdidas com diversas doenças. estes fatos se refletem, portanto num aumento sensível do número de horas de trabalho dos membros de uma comunidade, e com isto aumento de produção. A influência da água, do ponto de vista econômico, faz-se sentir mais diretamente no desenvolvimento industrial, por constituir, ou matéria-prima em muitas indústrias, como as de bebida, ou meio de operação, como água para caldeiras, etc. 11 APROVEITAMENTO DOS RECURSOS HÍDRICOS NATURAIS Tendo em vista que as águas naturais se destinam a diversos usos, tais como, abastecimento de populações, fins industriais, produção de energia elétrica, fins recreacionais, navegação e fins agropecuários, torna-se necessário haver uma adequada utilização dos recursos hídricos de uma região, de modo a se procurar satisfazer a estas variadas finalidades, com planejamento e projetos ambientais. O principal problema sanitário decorrente de abastecimentode água inadequado no Brasil, encontra-se nas grandes cidades que tem nas suas periferias, áreas da mais extrema pobreza e densamente habitadas, desprovidas de sistemas de água e de esgotos sanitários públicos. São áreas praticamente sem defesas contra ocorrência de epidemias de doenças como cólera, tifo, esquistossomose, etc. 3.3. A ÁGUA NA TRANSMISSÃO DE DOENÇAS USOS DA ÁGUA • Água utilizada como bebida ou na preparação de alimentos. • Água utilizada no asseio corporal ou a que, por razões profissionais ou outras quaisquer, venha a ter contato direto com a pele ou mucosas do corpo humano: ex.: trabalhadores agrícolas em cultura por inundações, lavadeiras, atividades recreativas (lagos, piscinas, etc.). • Água empregada na manutenção da higiene do ambiente e, em especial, dos locais, instalações e utensílios usados no manuseio, preparo e ingestão de alimentos (domicílio, restaurantes, bares, etc.). ÁGUA COMO VEÍCULO O sistema de abastecimento de água de uma comunidade desde a captação, adução, tratamento, recalque e distribuição, inclusive reservação, bem como dos domicílios e edifícios em geral, deve ser bem projetado, construído, operado, mantido e conservado, para que a água não se torne veículo de transmissão de diversas doenças. ÁGUA E DOENÇAS As principais doenças veiculadas ou originadas em águas paradas ou contaminadas são as seguintes, podendo ser contraídas de diversas maneiras, segundo a SANEPAR (2000). A) Pela ingestão de água contaminada pode-se contra ir: • Cólera – causada pelo Vibrio cholerae, eliminado pelas fezes e vômito dos doentes. • Disenteria Amebiana ou Amebíase – causada pelo protozoário Endamoeba histolytica, transmitida pelas fezes contendo os cistos da ameba. • Disenteria Bacilar – causada por bacilos do gênero Shigella, encontrados em alimentos, água e leite contaminados por dejetos, através das moscas. • Febre Tifóide – causada pelas bactérias Salmonella tiphy, pela ingestão de alimentos e águas poluídas por fezes e/ou urina do doente. Também pelo contato doente-portador, através das mãos. • Febre Paratifóide – causada pelas bactérias Salmonellas paratyhi, schottmuelleri e hirshjeldi, através do contato doente-portador, dos alimentos 12 contaminados, inclusive a água, que transporta o germe patogênico, eliminado pelas fezes e urina dos doentes. • Gastroenterite – causada por bactérias, vírus e certos parasitas encontrados no solo, em animais, em alimentos crus e nos seres humanos. O contágio ocorre: diretamente através do contato pessoal íntimo ou contato com as fezes da pessoa contaminada. indiretamente ao tocar-se superfícies contaminadas tais como torneiras, descargas de latrina, brinquedos e fraldas infantis. ao ingerir alimentos contaminados. ao beber água contaminada. pelo ar através de vômitos, tosse e espirros (principalmente os vírus): ao mexer com animais (de estimação e outros). • Giardiase – gastroenterite moderada a severa do homem e dos animais, causada pelo parasita Giardia lamblia, cuja transmissão ocorre também através de águas contaminadas. • Hepatite infecciosa – doença contagiosa transmitida por um vírus que faz com que o fígado aumente de volume. • Leptospirose – doença infecciosa grave, causada por uma bactéria, Leptospira, que é eliminada principalmente pela urina dos ratos. • Paralisia infantil – inflamação da medula espinhal pelo vírus da poliomielite. Em alguns casos, o doente apresenta paralisia em um ou vários membros ou grupos de músculos, com posterior atrofia. • Salmonelose – as causas de transmissão são as fezes do homem ou animal infectados. alimentos indevidamente preparados, feitos com ovos de galinha ou pata, mal cozidos. leite e lacticínios não pausterizados. Observação: a Febre Tifóide, Paratifóide e Cólera são as doenças mais freqüentemente ocasionadas por águas contaminadas. Os agentes patogênicos penetram no organismo por via cutânea (pele) ou pela mucosa (via oral). B) Por contato com água contaminada, podemos destac ar as seguintes doenças: • Escabiose – doença parasitária cutânea, vulgo sarna. • Esquistossomose – causada por 3 espécies de vermes, Shistosomas: haematobium, mansoni e japonicum, que se alimentam do sangue humano. Os ovos eliminados pelas fezes e urina do doente atingem os rios, lagos e canais. libertam as larvas que se hospedam em certos tipos de caramujo, gerando as cercarias que, ao passarem para a água, contaminam o homem através da pele. • Tracoma – ataca os olhos e pode causar cegueira. mais freqüente nas zonas rurais. • Verminoses – transmitidas por vermes que tem na água um dos estágios do ciclo. C) Além destas doenças, podemos citar as causadas p or insetos que se desenvolvem na água: • Dengue – transmitida geralmente pelo Aedes aegypti que, pela picada inocula o vírus da doença. • Febre Amarela – transmitida por algumas espécies de mosquitos, inclusive o Aedes aegypti, principal responsável pela propagação da doença nas cidades e no campo. 13 • Filariose ou Elefantíase – causada pelos parasitos: Wuchereria bancrofti, Onchochercinae volvulus, Mansonella ozzardi. É endêmica em várias regiões tropicais. • Malária – conhecida também por impaludismo; causada por protozoários específicos, injetados na corrente sangüínea por certos mosquitos anofelinos. DOENÇAS CAUSADAS POR AGENTES QUÍMICOS a) Poluentes naturais (alguns): Substâncias minerais e orgânicas, dissolvidas ou em suspensão. Gases provenientes da atmosfera. b) Poluentes artificiais: Substâncias empregadas no tratamento da água: sulfato de alumínio, cal, etc.. Herbicidas, inseticidas, raticidas, etc.. Despejos industriais. Esgotos. “Gases” das chaminés das fábricas. MEDIDAS GERAIS DE PROTEÇÃO O perigo da transmissão de doenças infecciosas pela água, refere-se, na prática, às doenças infecciosas intestinais e a profilaxia gira em torno das seguintes medidas: � Proteção dos mananciais, inclusive medidas de controle de poluição das águas. � Tratamento adequado da água, com operação continuamente satisfatória. � Sistema de distribuição da água bem projetado, construído, mantido e operado. Deve-se manter a água na rede com pressão adequada. � Controle permanente da qualidade bacteriológica e química da água na rede de distribuição, ou, preferivelmente, na torneira do consumidor. � Solução sanitária para o problema da coleta e da disposição dos esgotos, e, em particular dos dejetos humanos, tendo sempre como uma das finalidades a proteção do abastecimento de água potável. � Observar, na zona rural, as medidas indicadas para a proteção de poços, nascentes e mananciais de superfície, inclusive a construção de sistemas mais aconselháveis para o destino satisfatório dos dejetos, evitando a poluição direta da superfície, do solo ou das coleções líquidas. � Melhoria da qualidade da água suprida às pequenas comunidades, auxiliando- as técnica e financeiramente a utilizarem métodos simples e poucos dispendiosos de tratamento, inclusive desinfecção, quando necessário. Observações: 1) A quantidade insuficiente de água também causa doença pela falta de higiene corporal, das habitações e dos locais públicos. 2) Uma grande preocupação é com os metais pesados (chumbo, zinco, mercúrio, cromo) que não são eliminados pelo organismo. 3) A ausência ou quantidades insuficientes como por exemplo, do iodo, pode causar o bócio. 14 4) Embora na desinfecção possuirmos uma eficiência garantida para o combate de animais e vegetais, o mesmo não podemos garantir em relação aos vírus. 15 CAPÍTULO 4 - QUALIDADE DA ÁGUA 4.1. CICLO HIDROLÓGICO A água existe em forma de vapor, na atmosfera, e é proveniente da evaporação de todas as superfícies líquidas (oceanos, mares, rios, lagos, lagoas) ou das superfícies umedecidas com água, como a superfície dos solos. Parte da água que se encontra na atmosfera resulta de fenômenoshidrológicos e também de fe0nômenos vitais, como a respiração e transpiração (observar a figura 4.1). Figura 4.1 – Ciclo Hidrológico Na precipitação, a água absorve os gases e vapores normalmente presentes na atmosfera, como o oxigênio, o nitrogênio e o gás carbônico. A umidade atmosférica provém da evaporação da água das camadas líquidas superficiais, por efeito da ação térmica das radiações solares. O resfriamento desses vapores condensados, em formas de nuvens, leva à precipitação pluvial, sobre a superfície do solo e dos oceanos. A parcela da água precipitada sobre a superfície “sólida” pode seguir duas vias distintas que são: escoamento superficial e infiltração. As principais formas de precipitação são: chuva, granizo, orvalho ou neve. É a água de chuva que, atingindo o solo, corre sobre as superfícies do terreno, preenche as depressões, fica retida em obstáculos e, finalmente, atinge os córregos, rios, 16 lagos e oceanos. Na grande superfície exposta dos oceanos ela entra em processo de evaporação e condensação, formando as nuvens que voltam a precipitar sobre o solo. É por meio da infiltração que a água de chuva penetra por gravidade nos interstícios do solo, chegando até as camadas de saturação, constituindo assim aqüíferos subterrâneos, ou lençol freático. Estes depósitos são provedores de água para consumo humano e também para a vegetação terrestre. Dependendo do modo como esteja confinada, essa água pode afluir em certos pontos em forma de nascentes. A água acumulada pela infiltração é devolvida à atmosfera, por meio da evaporação direta do próprio solo e pela transpiração dos vegetais através das folhas. A este conjunto de evaporação e transpiração, chamamos evapotranspiração. Convém ressaltar, que a maior ou menor proporção do escoamento superficial, em relação à infiltração, é influenciada fortemente pela ausência ou presença de cobertura vegetal, uma vez que esta constitui barreira ao rolamento livre, além de tornar o solo mais poroso. Esse papel da vegetação, associado à função amortecedora do impacto das gotas de chuva sobre o solo, é, pois, de grande importância na prevenção dos fenômenos de erosão, provocados pela ação mecânica da água sobre o solo. Observações: 1) Solos sobre os quais desenvolvem-se atividades agrícolas intensivas, tais como aragem, fertilização artificial (adubos, correção do solo), plantio, herbicidas, inseticidas e com a colheita (solo exposto), com o tempo a água na bacia ficará comprometida para abastecimento público. Por outro lado, águas provenientes de bacias hidrográficas cobertas de vegetação nativa e permanente serão sempre de boa qualidade para o tratamento. 2) A impermeabilização do solo nas cidades (pavimentação – ruas, calçadas, pisos e prédios) aumenta o escoamento das águas superficiais (águas pluviais) e diminui a infiltração das águas das chuvas, conseqüentemente, reduz a vazão dos lençóis freáticos e artesianos. 4.2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS Água pura, no sentido rigoroso do termo, não existe na natureza, pois, sendo a água um ótimo solvente, nunca é encontrada em estado de absoluta pureza. A água possui uma série de impurezas, que vão imprimir suas características físicas, químicas e biológicas. A qualidade da água depende dessas características. As características físicas, químicas e biológicas das águas naturais, bem como as que deve ter as águas fornecidas ao consumidor, vão influir no grau de tratamento que venha a se dar às águas naturais, o qual também depende do uso que se pretende dar à água. Portanto, o conceito de impureza de uma água tem significado relativo. Assim, uma água destinada ao uso doméstico deve ser desprovida de gosto, ao passo que numa água destinada ao resfriamento de caldeiras, esta característica não tem importância. Portanto, a qualidade que se deseja na água natural e a que se necessita na água de consumo, entre outros aspectos, vão influir na escolha do manancial e no processo de tratamento a ser adotado, sem se deixar também de levar em conta o aspecto econômico-financeiro deste tratamento, CETESB, V.1 (1978). 17 4.3. POLUIÇÃO DAS ÁGUAS POSSIBILIDADES • Na precipitação atmosférica, onde as águas das chuvas podem arrastar impurezas. • Escoamento superficial em que as águas lavam a superfície do solo e carregam as impurezas existentes, tais como lixo, inseticidas, herbicidas, etc.. • Infiltração no solo, que dependendo das características geológicas, muitas impurezas podem ser adquiridas pelas águas, através, por exemplo, da dissolução de compostos solúveis. Nesta fase pode haver uma certa filtração de impurezas. • Despejos “diretos” de águas residuárias e de lixo, esgotos sanitários, resíduos líquidos industriais, etc, que são lançados nas águas de rios, lagos e outros. • Represamento onde as impurezas sofrem alterações devido ao repouso das águas, falta da ação dos raios solares, favorecendo o aparecimento, principalmente, de algas. O repouso pode ajudar na sedimentação das partículas maiores. • Desde a captação, adução, tratamento, distribuição, reservação, até o momento de ser utilizada pelo consumidor. MEDIDAS PARA PREVENIR A ALTERAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA. � Proteção dos mananciais superficiais nos locais de captações e à montante das mesmas contra lançamentos de resíduos domésticos, industriais e outros. � Controle do uso do solo para atividades agrícolas evitando que resíduos de inseticidas, pesticidas e adubos cheguem aos corpos d’água dos mananciais. � Controle da qualidade dos mananciais subterrâneos e dos fatores que possam vir a modifica-la. � Proteção contra água de enxurradas devido às chuvas e contra inundações de instalações de captações. � Proibição da entrada de pessoas e animais às áreas das captações e a montante da mesma. � Projeto e construção e operação adequados. � Controle sistemático da qualidade da água em pontos estratégicos. Mesmo com todas essas providências, as águas dos mananciais superficiais em geral não têm qualidade tal que possa ser utilizada para consumo. Para corrigir essa qualidade a água passa por processos de tratamento em instalações chamadas “estações de tratamento de água”, que dependem da qualidade da água bruta. 4.4. IMPUREZAS Podem ser de origem natural ao percorrer o ciclo hidrológico ou artificial, decorrentes das atividades humanas. As principais impurezas são: 18 o Em suspensão : bactérias, algas, protozoários, areia, silte, argila, lodos. o Estado coloidal : substâncias vegetais, sílica, vírus. o Dissolvidas : sais de cálcio e magnésio (carbonatos, bicarbonatos, sulfatos, cloretos), sais de sódio e potássio (carbonatos, bicarbonatos, sulfatos, fluoretos, cloretos), sais de ferro e manganês. o Dissolvidos provenientes de atividades industriais : fenóis. o Dissolvidos provenientes do escoamento superficial por terras de lavouras : composto organo-clorados, nitratos e fosfatos. 4.5. CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA CARACTERÍSTICAS FÍSICAS As principais características físicas, no que diz respeito à qualidade da água de abastecimento são: cor, turbidez, sabor, odor e temperatura. • Cor : devido às substâncias dissolvidas, em grande maioria de natureza orgânica vegetal. • Turbidez : característica devido à presença de materiais em suspensão, sólidos finos, colóides e microorganismos. • Sabor e Odor : geralmente são considerados em conjunto, causados por substâncias orgânicas em decomposição, resíduos industriais, gases, algas, quantidades excessivas de sais, etc. De um modo geral, as características físicas não apresentam problemas sanitários. Os problemas são de ordem estética, considerando-se que a água boa para o abastecimento deve ser cristalina (aspecto agradável, pessoal), incolor, sem odor ou sabor e de temperatura refrescante. CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS � Salinidade : devido a bicarbonatos, cloretos, sulfatos. � Dureza : devidaà presença de sais de cálcio e magnésio sob forma de carbonatos, bicarbonatos e sulfatos. A dureza é dita temporária (sais de cálcio, magnésio), quando desaparece com o calor, e permanente, quando não desaparece com o calor. Normalmente, reconhece-se que uma água é mais ou menos dura, pela maior ou menor facilidade que se tem em obter, com ela, espuma de sabão ou detergentes, que são muito utilizados em lavagem e limpeza, tanto no lar como em estabelecimentos comerciais e industriais. A água dura tem uma série de inconvenientes: é desagradável ao paladar, gasta muito sabão para formar espuma, dá lugar a depósitos perigosos nas caldeiras e aquecedores, deposita sais em equipamentos, mancha louças. 19 A remoção ou redução da dureza é denominada de abrandamento ou amolecimento e existem os processos da cal-soda, dos zeólitos e da osmose inversa. o Alcalinidade : presença de bicarbonatos, carbonatos e hidróxidos. Em geral, não constituem problema além de efeitos laxativos. Quando muito excessiva, pode tornar a água corrosiva e incrustante. o Agressividade : tendência de corroer os metais (causada por ácidos, oxigênio, CO2 e H2S). o Ferro e Manganês : o ferro, com certa freqüência, associado ao manganês, confere à água um sabor, ou melhor, uma sensação de adstringência e coloração avermelhada, decorrente da precipitação do mesmo. As águas ferruginosas mancham as roupas, durante a lavagem, os aparelhos sanitários e podem provocar deposições em tubulações. O manganês é semelhante ao ferro, porém menos comum, e a sua coloração característica é marrom, e, quando na forma oxidada, é preto. A remoção depende da forma como as impurezas se apresentam. o Impurezas orgânicas, nitratos e nitritos : a matéria orgânica ao se oxidar tem o nitrogênio presente se transformando na seqüência nitrogênio orgânico – nitrogênio amoniacal (NH4), nitrogênio nitroso (NO2), nitrogênio nítrico e NO3 nitratos de maneira que a análise da forma em que se encontra o nitrogênio na água pode levar a algumas conclusões em relação à fonte de poluição. Por outro lado, a amônia constitui substância poluidora, uma vez que reage com o cloro usado no tratamento reduzindo em muito sua eficiência. Outras substâncias orgânicas são as decorrentes do contato com a água com inseticidas, herbicidas e fertilizantes. o Toxidez : compostos tóxicos, geralmente resíduos das atividades humanas (agrícolas e industriais, principalmente). É o caso de cianetos cromo hexavalente (cromatos), arsênico, cobre, chumbo, zinco, mercúrio, etc. o Fenóis e detergentes : combinados com o cloro produzem gosto e cheiro desagradável. o Acidez e basicidade : medida de fator pH. o Características benéficas : determinados minerais devem estar nas águas de alimentação, dentro de certos teores, abaixo dos quais haverá problemas de saúde. Exemplo: 2 mg de cobre e 6 a 10 mg de ferro, são necessários diariamente ao homem. Os teores de iodo e de flúor, porém, têm tomado a atenção dos sanitaristas, pois a deficiência em iodo nas águas de alimentação de certas regiões tem sido responsabilizada pela maior influência do bócio, e a presença de flúor tem se mostrado fator de redução da cárie dentária. CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS Organismos vivos em suspensão, que também constituem impurezas, tais como: bactérias, algas, protozoários, fungos, vermes, etc. Observação: Quando se quer conhecer as características físicas, químicas e biológicas da água, deve-se retirar amostras com técnica tal que represente o melhor possível o universo. 20 4.6. PADRÕES DE POTABILIDADE Para cada tipo de uso (doméstico, industrial, pecuária, etc) a água deverá ter sua qualidade caracterizada pelos valores dos parâmetros descritos no capítulo anterior, variando dentro de determinadas faixas. Assim as exigências para água de abastecimento são diferentes das para irrigação de jardins, por exemplo. Padrões de potabilidade: são as quantidades limites dos diversos elementos, que podem ser tolerados nas águas de abastecimento. O padrão de Potabilidade da água é estabelecido pelo Ministério da Saúde, através da Portaria 1469, de 29 de dezembro de 2000. Ela define uma série de parâmetros físicos, químicos e bacteriológicos, cujos níveis devem ser respeitados e controlados, sistematicamente. Toda a água destinada ao consumo humano deve obedecer ao padrão de potabilidade e está sujeita à vigilância da qualidade da água. Esta norma não se aplica às águas envasadas e a outras, cujos usos e padrões de qualidade são estabelecidos em legislação específica. Estabelece, também, as freqüências desses controles, a serem mantidos pelos sistemas públicos e particulares de abastecimento, para se ter garantida a qualidade da água. Na verdade, segundo a SANEPAR (2.000), o Padrão de Potabilidade da água de consumo humano abrange cinco importantes aspectos da qualidade, como segue: a) Padrão Microbiológico - este grupo de bactérias está presente em vários meios, tais como: solo, águas de rios, na pele humana, entre outros e, sempre presente em grandes quantidades, nas fezes de animais de sangue quente (homeotermos). São bons indicadores de poluição por sua manifestação em vários meios, pela facilidade de reprodução em laboratório e relativa resistência ao cloro. A ausência de homeotermos indica uma água bacteriologicamente potável. ÁGUA TRATADA NO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO (Reservatório e Rede) Coliformes Fecais Ausência em 100ml Coliformes Totais Apenas uma amostra positiva em 100ml/mês (Sistema acima de 40 amostras/mês) Ausência de 100ml p/ 95% das amostras mensais. (Sistema com até 40 amostras/mês) Quadro 4.1 – Presença de Coliformes na Água b) Padrão de Turbidez – a turbidez refere-se a partículas sólidas maiores ou coloidais em suspensão na água. Estas partículas podem abrigar em seu interior microorganismos causadores de doenças, os quais, devido à barreira física da partícula, permanecem protegidos da ação desinfetante do cloro. 21 TRATAMENTO DA ÁGUA VALOR MÁXIMO PERMITIDO (VPM) Desinfecção (água subterrânea) 1,0 UT em 95% das amostras Filtração rápida (tratamento completo ou filtração direta) 1,0 UT Filtração lenta 2,0 UT em 95% das amostras UT = Unidade de Turbidez Quadro 4.2 – Valores da qualidade da água tratada c) Padrão para Substâncias Químicas – as substâncias a seguir, metais, metais pesados, agrotóxicos e toxinas, agem prejudicando vários processos bioquímicos em organismos vivos. Os valores máximos permissíveis para estas substâncias foram determinados por estudos científicos e dados estatísticos e são constantemente revistos pelos órgãos competentes. As fontes destes poluentes são as atividades industriais, agropecuárias, poluição orgânica em rios e fontes de água, bem como, desequilíbrios ecológicos que resultem em grande proliferação de algas. SUBSTÂNCIAS INORGÂNICAS – (VPM) Antimônio (0,005 mg/l). Arsênio (0,01 mg/l). Bário (0,7 mg/l). Cádmio (0,005 mg/l). Cianeto (0,07 mg/l). Chumbo (0,01 mg/l). Cobre (2 mg/l). Cromo (0,05 mg/l). Fluoreto (1,5 mg/l). Mercúrio (0,001 mg/l). Nitrato (como N) (10 mg/l). Nitrito (como N) (1 mg/l) e Selênio (0,01 mg/l) SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS – (VPM) Acrilamida (0,5 µg/l). Benzeno (5 µg/l). Benzo[a]pireno (0,7 µg/l). Cloreto de Vinila (5 µg/l). 1,2 Dicloroetano (10 µg/l). 1,1 Dicloroeteno (30 µg/l). Diclorometano (20 µg/l). Estireno (20 µg/l). Tetracloreto de Carbono (2 µg/l). Tetracloroeteno (40 µg/l). Triclorobenzenos (20 µg/l). e Tricloroeteno (70 µg/l) AGROTÓXICOS – (VPM) Alaclor (20,0 µg/l). Aldrin e Dieldrin (0,03 µg/l). Atrazina (2 µg/l). Bemtazona (300 µg/l). Clordano (isômeros) (0,2 µg/l). 2,4 D (30 µg/l). DDT (isômeros) (2 µg/l). Endossulfan (20 µg/l). Endrin (0,6 µg/l). Glifosato (500 µg/l). Heptacloro e Heptacloro epóxido (0,03 µg/l). Hexaclorobenzeno (1,0 µg/l). Lindano (g-BHC) (2,0 µg/l). Metacloro (10 µg/l). Metoxicloro (20 µg/l). Molinato(6 µg/l). Pendimetalina (20 µg/l). Pentaclorofenol (9 µg/l). Permetrina (20 µg/l). Propanil (20,0 µg/l). Simazina (2 µg/l) e Trifluralina (20 µg/l) CIANOTOXINAS – (VPM) Microcistinas (1,0 µg/l) DESINFETANTES E PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA DESINFECÇÃO – (VPM) Bromato (0,025 mg/l). Clorito (0,2 mg/l). Cloro livre (0,7 mg/l). Monocloramina (3 mg/l). 2,4,6 Triclorofenol (0,2 mg/l) e Trihalometanos Total (0,1 mg/l) VPM: Valor Mais Provável Quadro 4.3 – Quantidade de VPM de algumas substâncias d) Padrão de radioatividade – a existência de radiação ionizante proveniente de fontes naturais ou artificiais é causa de incidência de câncer. Naquelas regiões onde ocorrem minerais radioativos ou existam indústrias que manipulem produtos emissores de radiação, a investigação é obrigatória. 22 PARÂMETRO VMP Radioatividade alfa global 0,1 Bq/l Radioatividade beta global 1,0 Bq/l Quadro 4.4 – Parâmetros radioativos para a água tratada e) Padrão de Aceitação para o Consumo Humano – a presença de uma ou várias destas substâncias na água, em valores acima do estabelecido é causa de repulsa de aceitação, por conferirem gosto, odor ou cor à água. Por exemplo: sódio em excesso, sabor salgado. surfactantes, formação de espuma. ferro, cheiro de ferrugem e cor marrom. PARÂMETRO VMP PARÂMETRO VMP Alumínio Não objetável Odor 0,2 mg/l Amônia (como NH3) Não objetável Gosto 1,5 mg/l Monoclorobenzeno 500 mg/l Dureza 0,12 mg/l Sódio 5 UT Turbidez 200 mg/l Sulfato 15 uH Cor Aparente 250 mg/l Sulfeto de Hidrogênio 1.000 mg/l Sólidos Dissolvidos totais 0,05 mg/l Surfactantes 250 mg/l Cloreto 0,5 mg/l Tolueno 0,2 mg/l Etilbenzeno 0,17 mg/l Zinco 0,3 mg/l Ferro 5 mg/l Xileno 0,1 mg/l Manganês 0,3 mg/l Quadro 4.5 – Parâmetro x VPM 4.7. CONTROLE DA QUALIDADE DA ÁGUA Há necessidade de uma constante observação da qualidade da água nos pontos estratégicos dos sistemas e mananciais, com isso garantir a saúde da população. O controle da qualidade deverá abranger os corpos d’água aproveitados como mananciais. Qualquer irregularidade apontada pelo controle deverá ser imediatamente sanada. Esse controle se traduz em um verdadeiro monitoramento da qualidade da água, feito por coletas de amostras nos locais estratégicos com determinadas freqüências, análises das amostras e comparação dos resultados com os padrões de qualidade da água. Em um sistema de água, a principal obra para o controle de qualidade é a estação de tratamento, que tem por objetivo a modificação das características da água bruta de maneira a torná-la potável. Existem diversos processos de tratamento para serem utilizados de acordo com as características da água bruta. O processo chamado convencional é o que deve ser utilizado para águas turvas e ou coloridas e consiste em uma decantação acelerada por um processo de floculação e precedida por filtração. A desinfecção da água pelo cloro é obrigatória em qualquer caso, mesmo que não haja necessidade de nenhum tratamento. A estação convencional reduz a cor, turbidez, ferro. os microorganismos são eliminados pela cloração, desde que a água efluente tenha baixa turbidez (< 1 mg/l). Hoje se sabe que para garantia contra a presença de vírus na água a turbidez deve ser menor que 0,1 mg/l. Tem pouca influência no que diz respeito à quantidade de sais e compostos orgânicos decorrentes de inseticidas e herbicidas. 23 EXERCÍCIOS 1 ) Qual a diferença entre consumo, desperdício e vazamento? 2 ) Como saber se existem vazamentos internos registrados pelos hidrômetros? 3 ) Represente graficamente o quadro abaixo, no eixo das abscissas o uso da água no domicílio (economia doméstica) e no eixo das ordenadas o consumo em litros por dia. USOS COMUNS EM VOLUME (litros/economia dia) BAIXO MÉDIO ALTO Bebidas 8 10 12 Outros Usos 5 17 56 Limpeza em Geral 14 24 35 Preparo de Alimentos 24 36 60 Lavagem Roupas 61 75 95 Vasos Sanitários 82 130 242 Higiene Pessoal 83 160 347 Lavagem Utensílios 40 173 373 Banho 100 209 447 4 ) Em relação ao exercício anterior (03), passe os dados em percentagem e responda quem são os 4 principais vilões do consumo de água em uma residência. Juntos, qual a percentagem do total? 5 ) Se num vazamento a água não aflora, para onde ela pode estar indo? 6 ) Qual a explicação para uma água com aspecto esbranquiçado? 7 ) A água “encanada” (tratada) é confiável? Por quê? 8 ) A água sem tratamento, como por exemplos, poços, bicas em rodovias, etc. são confiáveis? Por quê? 9 ) Ao abrir uma torneira, às vezes você percebe que uma água ficou turva. Qual a explicação? 10 ) Que medidas devem ser adotadas para reduzir o consumo em torneiras, vasos sanitários e chuveiros? CONSULTA: Manual do Cliente - Mitos, verdades e informações úteis SANEPAR (2000). 24 CAPÍTULO 5 - CONSUMO DE ÁGUA 5.1. INTRODUÇÃO A vazão de dimensionamento de um sistema de abastecimento de água (Q) é determinada multiplicando-se a população atendida (P) por esse sistema, pela quantidade média de água consumida por cada habitante ( qm ). mqPQ .= Equação 5.1 A seguir se resume o estudo que devem ser elaborados para o cálculo das vazões de dimensionamento de cada parte do sistema de abastecimento: 5.2. CONSUMO MÉDIO POR HABITANTE USOS DA ÁGUA NAS CIDADES, SEGUNDO A ESCOLA POLITÉCNICA (1996, p.41) � Doméstica : (bebida, asseio corporal e das habitações, preparo de alimentos, lavagem de roupas, lavagem de utensílios, limpeza de bacias sanitárias, etc) 50 a 90 l/hab. dia. � Comercial ou industrial : (escritórios, restaurantes, hotéis e pensões, pequenas indústrias disseminadas na cidade): cerca de 50 l/hab. dia; � Público : irrigação de jardins, lavagem de ruas, fontes e edifícios públicos: cerca de 25 l/hab.dia; � Perdas : água perdida por vazamentos e em problemas operacionais: cerca de 40 l/hab. dia; O consumo médio anual por habitante dia, levando em conta todos esses fatores, é da ordem de 200 litros. Nas cidades do Norte e Nordeste do país, de renda “per capita” muito baixa, têm sido adotados valores de até 100 litros. Esse valor varia entretanto de região para região conforme os seguintes fatores: • Clima : quanto mais quente e seca a região, maior o consumo; • Hábitos e nível de vida da população : o consumo aumenta com a renda “per capita” e com a educação sanitária; • Natureza da cidade : (comercial, industrial, turística): as cidades industriais são as que apresentam maior consumo: • Tamanho da cidade : o consumo “per capita” tende a aumentar à medida que aumenta a população da cidade; • Pressão da rede : quanto maior a pressão, maiores serão as perdas através de vazamentos e também o consumo direto. • Custo da água . • Sistema de medição e tarifa . 25 • Disponibilidade de água : a demanda reprimida reduz o consumo por habitante. • Qualidade da água : (sabor, odor, cor). Um medidor instalado na saída do reservatório de distribuição que atende à rede de distribuição registra o volume consumido no ano. Esse volume, dividido pelo número de habitantes atendidos representa o consumo médio por habitante por dia qm , ou o consumo “per capita” por dia (qm) nesse período. É um número que engloba todos os tipos de consumo da cidade, menos os dos “grandes consumidores”. abeneficiadPopulação anualodistribuídVolume qm .365 = Equação 5.2 ALGUNS VALORES MÉDIOS DO CONSUMO ESPECÍFICO A) Consumo Doméstico Bebida: 1 l/hab.dia Preparo de alimentos: 6 l/hab.dia Lavagem de utensílios: 2 a 9 l/hab.dia Higiene pessoal: 15 a 40 l/hab.dia Lavagem de roupas: 10 a 15 l/hab.dia Bacias sanitárias: 9 a 10 l/hab.dia Perdas: 6 a 13 l/hab.dia Quadro 5.1 – Consumo Doméstico de água tratada Obs: É bom lembrar que existe uma demanda de água relativa a rega de jardins, lavagem de veículos e limpeza em geral. B) Consumo médio mensal, segundo a SANEPAR, (2003). PRÉDIOSConsumo Mensal (m3/mês) 01 Alojamentos provisórios 2,4 m3/leito ou per capita 02 Casas populares ou rurais 10 m3/unidade 03 Conjunto de residências c/ apart. de até 70 m2 10 m3/unidade 04 Apartamento com área entre 71 e 100 m2 15 m3/unidade 05 Apartamento com área entre 101 e 200 m2 25 m3/unidade 06 Apartamento com área acima de 200 m2 25 m3/unidade 26 07 Residência com área entre 61 e 100 m2 20 m3/unidade 08 Residência com área entre 101 e 200 m2 25 m3/unidade 09 Residência com área acima de 200 m2 30 m3/unidade 10 Hotéis c/ apartamento, instal. água fria 6,0 m3/apartamento 11 Hotéis c/ apartamento, instal. água fria e lavanderia 7,0 m3/apartamento 12 Hotéis c/ apartamento, instal. água quente 7,5 m3/apartamento 13 Hotéis c/ apartamento, instal. água quente e lavanderia 8,5 m3/apartamento 14 Hotéis com banheiro coletivo 4,5 m3/quarto 15 Hotéis com banheiro coletivo e lavanderia 5,5 m3/quarto 16 Hospitais 8,5 m3/leito 17 Escolas internato 4,5 m3/capita 18 Escolas semi-internato 3,0 m3/capita 19 Escolas externato 1,0 m3/capita 20 Faculdades 1,5 m3/capita 21 Quartéis 4,5 m3/capita 22 Edifícios públicos ou comerciais 1,0 m3/capita 23 Escritórios, lojas comerciais 1,0 m3/capita 24 Cinemas, teatros 0,09 m3/lugar 25 Templos 0,06 m3/lugar 26 Restaurantes e similares 0,03 m3/lugar 27 Lavanderia 1,0 m3/kg de roupa seca 28 Mercados 0,15 m3/m2 de área 29 Matadouro - Animais de grande porte 1,0 m3/cabeça abatida 30 Matadouro - Animais de pequeno porte 0,75 m3/cabeça abatida 31 Fábricas em geral (apenas uso pessoal) 3,0 m3/capita 32 Cavalariças 1,5 m3/cavalo 33 Orfanatos, asilos e berçários 4,5 m3/capita 34 Ambulatórios 1,0 m3/capita 35 Creches 1,5 m3/capita 36 Postos de gasolina com lavagem de veículos 0,4 m 3/lavagem de veículo incluindo pessoal 37 Postos de gasolina (uso pessoal) 2,0 m3/capita 38 Escritórios, lojas comerciais (onde seja possível a estimativa por ocupantes itens 22 e 23) 3,0 m3/unidade 39 Prédios especiais (clubes sociais, rodoviárias, lacticínios, motéis São estimados por similaridade. Quadro 5.2 – Consumo Médio 27 C) Consumo médio das regiões brasileiras conforme SABESP, (2004). Empresa Consumo médio per capita de água (L/hab/dia) Consumo médio per capita de água (L/hab/dia) Região N Região SE CAER/RR 138,22 CEDAE/RJ 219,21 CAERD/RO 110,74 CESAN/ES 194,03 CAESA/AP 163,03 COPASA/MG 141,61 COSAMA/AM 51,13 SABESP/SP 160,84 COSANPA/PA 99,98 DEAS/AC 101,08 Região S CASAN/SC 127,59 Região NE SANEPAR/PR 125,17 AGESPISA/PI 74,45 CORSAN/RS 129,73 CAEMA/MA 114,62 CAERN/RN 118,10 CAGECE/CE 119,41 Região CO CAGEPA/PB 108,51 CAESB/DF 193,29 CASAL/AL 113,81 SANEAGO/GO 120,79 COMPESA/PE 79,73 SANEMAT/MT 163,29 DESO/SE 109,44 SANESUL/MS 112,58 EMBASA/BA 115,30 Quadro 5.3 – Consumo Médio segundo SABESP, (2004). 5.3. VARIAÇÕES DE CONSUMO INTRODUÇÃO Em um mesmo local, o consumo por habitante não é constante no tempo. Varia conforme o clima e os hábitos de vida. Assim, do inverno para o verão tem uma variação e considerando às 24 horas do dia, existem horas em que o consumo é grande e horas em que é muito reduzido. No sistema de abastecimento de água ocorrem variações de consumo significativas, que podem ser anuais, mensais, diárias, horárias e instantâneas. No projeto do sistema de abastecimento de água, principalmente as variações diárias e horárias, são levadas em consideração no cálculo do volume a ser consumido. 28 VARIAÇÕES DIÁRIAS Ao longo do ano, haverá um dia em que se verifica o maior consumo. É utilizado o coeficiente do dia de maior consumo (K1), que é obtido da relação entre o máximo consumo diário verificado no período de um ano e o consumo médio diário. A figura 5.1 apresenta uma curva de variação diária ao longo de um ano. Coeficiente do dia de maior consumo ( K1 ): E q E Equação 5.3 Gráfico 5.1 - Curva de variação diária. O coeficiente K1: 1) É utilizado na determinação da vazão de dimensionamento, em obras de captação, casas de bombas, adutoras e estações de tratamento, em geral antes do reservatório, num sistema de abastecimento de água. 2) K1= 1,20 ou 1,25, quando for preciso adotar. anonodiáriomédioConsumo anonodiáriomédioconsumoMaior K =1 29 VARIAÇÕES HORÁRIAS Ao longo do dia tem-se valores distintos de pique de vazões horária. Entretanto, haverá “uma determinada hora” do dia em que a vazão de consumo será máxima. É utilizado o coeficiente da hora de maior consumo (K2), que é a relação entre o máximo consumo horário verificado no dia de maior consumo e o consumo médio horário do dia de maior consumo. O consumo é maior nos horários de refeições e menores no início da madrugada. A figura 5.2 apresenta uma curva de variação horária ao longo de um dia. Coeficiente da hora de maior consumo ( K2 ) dianohoráriamédiaVazão dianohoráriavazãoMaior K =2 Equação 5.4 Gráfico 5.2. - Curva de variação horária. O coeficiente K2: 1) Este coeficiente é utilizado quando se pretende dimensionar os condutos de distribuição propriamente ditos que partem dos reservatórios, pois permite conhecer as condições de maior solicitação nessas tubulações; 2) K2 = 1,5 (quando for preciso adotar). 30 VARIAÇÕES ACIDENTAIS Decorrem de circunstâncias especiais imprevisíveis e não poderá ser transformada em coeficientes. A não ser que se conheçam quantitativamente essas variações ou que haja normas especiais estabelecendo critérios para levá-las em conta, não são geralmente consideradas nos cálculos. 5.4. GRANDES CONSUMIDORES, segundo a Escola Politéc nica, (1996). Consideram-se grandes consumidores aqueles que consomem uma vazão significativa em relação ao consumo da cidade ou ao da área que está sendo estudada, não cabendo portanto sua inclusão no valor do consumo médio. Tal acontece, por exemplo, com uma grande indústria em uma pequena cidade. Esses consumos devem ser considerados à parte. Em geral são devido a indústrias, clubes, hospitais, grandes instituições de ensino, etc... 5.5. PERÍODO DE PROJETO O projeto de um sistema de abastecimento de água, para uma cidade comum deve levar em consideração a demanda que se verificará numa determinada época em razão de sua população futura. Admitindo ser esta última variável e crescente, é fundamental fixar a época até a qual o sistema poderá funcionar satisfatoriamente, sem sobrecarga nas instalações ou deficiências na distribuição. O tempo que decorre até atingir essa época define o período de projeto, ou horizonte de projeto. O período de projeto pode estar relacionado à durabilidade ou vida útil das obras e equipamentos, ao período de amortização do capital investido na construção ou, ainda, a outras razões. Os problemas relativos às dificuldades de ampliação de determinadas estruturas ou partes do sistema, como também os custos do capital a ser investido e o ritmo de crescimento das populações são aspectos a serem igualmente considerados. As obras que podem ser subdivididas tem a sua construção programada em etapas. Por exemplo, uma casa de bombas pode operar inicialmente com duas bombas (uma de reserva) e à medida da necessidade vão sendo instaladas mais bombas em paralelo; uma estação de tratamento pode ter a sua capacidade duplicada ou triplicada construindo-se mais unidades. A idéia é que a disponibilidade de obras acompanhe o mais próximo possível a curva de demanda da cidade. Se, por exemplo, o crescimento populacional for muito rápido, os períodos longos de projeto acarretarão obras grandiosas que oneram demais a comunidade nos anos iniciais. Obs.: No Brasil é comum adotar-se o período de 20 anos para instalações pequenas e médias, enquanto que para grandes sistemas ou dificuldades de ampliação, o período poderá ser maior.5.6. CONSUMO POR HABITANTE (PER CAPITA) Segundo a Escola Politécnica, (1996), temos: 31 A PARTIR DA LEITURA DOS HIDRÔMETROS Quando existem hidrômetros nas ligações prediais, a concessionária, para efeito de cobrança e controle, processa periodicamente (bimensal, trimensal, etc) os dados das leituras. Uma ligação pode atender a uma ou mais economias. As informações resultantes são: ∗ Consumo no período por tipo de economia (domiciliar, industrial, comercial e público); ∗ Número de cada tipo de economia, o que permite avaliar o número de habitantes atendidos e o índice de atendimento. A partir dessas informações avalia-se o consumo médio efetivo por habitante nesse período, englobando os consumos doméstico, industrial, comercial e público. a) Consumo médio efetivo “per capita” (qe) )/.(.)º.()( lighabdiasdenn V q ce = Equação 5.5 Onde: Vc: volume consumido (leitura dos hidrômetros) no período; n: número médio de economias no período b) Índice de perdas (I) p cp V VV I − = Equação 5.6 Onde: Vp: volume produzido (medido na saída do reservatório). Obs: Podemos fixar o índice de perdas (por exemplo, 30%) e a partir daí calcular o volume produzido. QUANDO SE DISPÕE DE MEDIDOR NA SAÍDA DO RESERVATÓRIO O medidor na saída do reservatório irá fornecer volumes consumidos a cada hora ou no intervalo de tempo escolhido para medida. Alguns modelos fornecem o gráfico tempo- vazão, que permitirá conhecer não só o consumo “per capita” médio anual, mas também os coeficientes de variação. QUANDO NÃO EXISTE MEDIÇÃO O consumo médio anual “per capita” e os seus coeficientes de variação devem ser adotados considerando valores que forem encontrados em medições de cidades com características semelhantes. 32 Observações: 1) Fixado os períodos de projeto e etapas de construção, deve-se estimar a população a ser abastecida nesses anos, devendo para isso ser feito um estudo do crescimento da população da cidade. 2) Levantar dados dos recenseamentos a cada 10 anos (o último foi em 2001) para estimar a população atual com as seguintes informações: � emprego industrial no município; � número de ligações de luz; � cadastro de imposto predial que corresponde ao número de domicílios; � contagem direta do número de domicílios; � amostragem: para determinar hab/domicílio. 5.7. PREVISÃO DE POPULAÇÃO É importante que a previsão de população seja feita de modo criterioso e racional, com base no desenvolvimento demográfico do passado, principalmente próximo, a fim de que a margem de erro seja a menor possível. Vários métodos são usados no estudo do crescimento populacional, mas nenhum pode ser considerado ideal, podendo combinar alguns deles. Os principais métodos são: A) Considerando os fatores intervenientes no cresci mento populacional, conforme a CETESB (1978, p. 119). )()()( 0 EIMNPtP −+−+= Equação 5.7 Onde: P(t): população na data t; Po: população na data inicial to; N: nascimentos (no período t - to); M: óbitos (no período t - to); I: imigrantes (no período t - to); E: emigrantes (no período t - to); N – M: crescimento vegetativo ou saldo vegetativo no período; I – E: crescimento social ou saldo migratório no período Obs: Este método só pode ser considerado satisfatório onde houver registros de nascimento e óbitos confiáveis e estatísticas fidedignas do movimento migratório num país, uma vez que não é considerado movimento migratório entre estados, municípios e cidades de um mesmo país. 33 B) Crescimento Aritmético No processo aritmético admite-se que a população varia linearmente com o tempo. No gráfico, representa-se as datas de vários censos no eixo das abscissas (x) e os correspondentes valores da população no eixo das ordenadas (y). Admitindo-se duas populações conhecidas em épocas t1 e t0, temos: Gráfico 5.3 - Representação gráfica do crescimento aritmético � Taxa (razão) de crescimento no período (r) Considerando o crescimento como taxa constante ∫∫∫ ==⇒= 111 0 .. t t t t P P oo dtrdtrdPr dt dP logo: )( 11 oo ttrPP −=− => � População (P) numa época qualquer (t): P(t) ).( oo ttrPP −=− portanto: )()( 0ttrPtP o −+= Equação 5.8 o o tt PP r − − = 1 1 34 C) Crescimento Geométrico No processo geométrico considera-se que os logaritmos da população venham a variar linearmente com o tempo. No gráfico da figura 5.4, em papel mono-logaritmo, representa-se as datas dos vários censos em abscissas e os logaritmos dos valores da população correspondente no eixo das ordenadas. Gráfico 5.4. Representação gráfica do crescimento geométrico. � Taxa (razão) de crescimento no período Considerando para iguais períodos de tempo, crescimento constante. Pq dt dP q dt P dP .=⇒= logo ⇒= ∫∫ 1 0 1 . t t P P dtq P dP o o o tt PP q − − = 1 1 lnln Equação 5.9 Obs: =− 0 1 01 lnlnln P P PP � População (P) numa época qualquer (t): P(t) ).(lnln oo ttqPP −=− 35 portanto: )(.)( ottqo ePtP −= Equação 5.10 CURVA LOGÍSTICA A representação gráfica é uma curva em forma de S (figura 5.5), denominada logística, na qual as populações Po, P1 e P2 (três últimos censos, eqüidistantes no tempo – facilita a resolução do sistema), devem obedecer as condições 210 PPP << e 20 2 1 .PPP > . Gráfico 5.5 - Traçado de uma curva logística. Podemos considerar o crescimento logístico, pela expressão: ).( PPf dt dP s= Integrando vem: bta s e P P ++ = 1 Equação 5.10 onde: (P): população num determinado ano. (a e b): parâmetros da curva. (e): 2,7182818 População Ps 2 Ps Tempo ( ano) 36 2 12 20 2 1210 )(...2 PPP PPPPPP P o s − +−= Obs: (a): a relação a/b é o tempo contado a partir da origem em que se dará a inflexão da curva (mudança no sentido da curvatura). A população correspondente a esse tempo é sP /2. −= o os P PP a ln Equação 5.10 (b): é a razão de crescimento da população − − = ).( ).( ln. 1 1 1 os so PPP PPP d b Equação 5.10 onde d = t1-t0 = t2-t1; Considerando: t: época contada a partir de to, sendo: t’: ano no qual devemos estimar a população; to: ano do primeiro censo; Temos: t = t’-to TENDÊNCIA DA CURVA Num sistema de coordenadas ortogonais, representa-se no eixo das abscissas os diversos anos para os quais se dispõe dos valores populacionais e estes no eixo das ordenadas, isto em escalas convenientes. A curva traçada na figura 5.6, em linha contínua, caracteriza o crescimento populacional ocorrido até o último censo, e a linha tracejada corresponde ao prolongamento observando a tendência de crescimento. Como se observa, é um processo simples, porém a estimativa pode variar de pessoa para pessoa. 37 Gráfico 5.6 - Curva de crescimento numa cidade. COMPARAÇÃO GRÁFICA O prolongamento do crescimento de uma determinada cidade pode ser utilizado como elemento auxiliar. As cidades escolhidas, além de possuírem características análogas, devem ter população superior à da cidade em estudo. Pressupõe que esta venha a ter um desenvolvimento semelhante às outras quando possuíam a mesma população. Marcam-se em um mesmo gráfico (figura 5.7) a população da cidade em estudo (A) e das outras maiores que ela (B,C e D). A partir do ponto de “referência” (dado mais recente), translada-se (desloca-se paralelamente) às curvas das cidades maiores (B’,C’ e D’). Através de várias curvas, traça-se uma média de previsão (A´) para a cidade em estudo. Gráfico 5.7 - Previsão gráfica do crescimento de uma comunidade em comparação com o crescimento de outras semelhantes maiores. 38 POPULAÇÃO FLUTUANTE Em certas cidades, além da população residente,devem ser considerados os afluxos maciços de pessoas, em determinados períodos (curtos período), como por exemplo em período de férias ou de fins de semana, em cidades balneárias ou em estância climáticas e hidrominerais. A estimativa da população flutuante futura é bem mais complicada, em face de fatores, tais como: potencial turístico, crescimento econômico das cidades cujos habitantes utilizam a localidade, etc. Observação: diahablqm ./100= (na falta de dados) CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A PREVISÃO DA POPULAÇÃO ♦ Não se deve procurar em certos domínios do conhecimento humano, maior positividade do que a que esses domínios comportam (Aristóteles); ♦ Estes métodos são recomendados para períodos curtos de 1 a 20 anos; ♦ Os métodos estão sujeitos a desvios, e se isto acontecer, devemos reajustá-los; ♦ Ao invés de fazer previsões futuras em termos de pontos, podemos definir faixas de valores; ♦ Recomenda-se que se seja verificado “periodicamente” qualquer método que tenha sido usado e ajustando as informações mais recentes (se precisar), por exemplo, fornecidas por um novo censo. 5.8. DISTRIBUIÇÃO DEMOGRÁFICA (HABITANTES / ÁREA) Para as redes de água e esgoto é importante saber como as futuras populações se distribuirão sobre a área da cidade. Na ocupação da área urbana devemos considerar as áreas parciais, levando em conta as condições topográficas, facilidades de expansão, preço de terrenos, planos urbanísticos, zoneamento, facilidades de transporte e comunicações, hábitos e condições sócio-econômicas da população e infra-estruturas, etc. Os Planos Diretores e Leis de Zoneamento disciplinam o desenvolvimento urbano e permitem que se avalie a ocupação máxima de cada setor (situação de saturação); pode-se a partir daí aplicar um modelo de crescimento adequado para se fazer à evolução da população. 39 5.9. ÁREA A SEREM ABASTECIDAS; EXPANSÃO URBANA A medida que a população cresce, a área urbana também se expande, o que deve ser levado em conta nos projetos dos sistemas de água e que é um dos fatores da importância do planejamento da expansão urbana. Assim, o projeto do sistema de distribuição de água deverá prever a expansão da rede e do sistema de reservatórios. 5.10. VAZÕES DE DIMENSIONAMENTO DAS PARTES PRINCIPA IS DE UM SISTEMA DE ÁGUA Um sistema de água é formado, em geral, pelas seguintes partes: ♦ Captação (superficial ou subterrânea); ♦ Estação de bombeamento; ♦ Estação de tratamento; ♦ Reservatórios de distribuição; ♦ Tubulações interligando essas obras, chamadas adutoras; ♦ Rede de distribuição; A disposição apresenta-se segundo o esquema da figura 5.8. Figura 5.1 - Esquema de abastecimento de uma cidade O dimensionamento dessas diversas partes, deve ser feito para as condições de demanda máxima, para que o sistema não funcione com deficiência durante algumas horas do dia ou dias do ano. As obras à montante do reservatório de distribuição devem ser dimensionadas para atender a vazão média do dia de maior consumo do ano. Obviamente a rede de distribuição deve ser dimensionada para maior vazão de demanda, que é a hora de maior consumo do dia de maior consumo. A função principal do reservatório de distribuição é receber uma vazão constante, que é a média do dia de maior consumo e servir de volante para as variações horárias. 40 EXERCÍCIOS 1 ) O gráfico a seguir descreve o crescimento populacional de certo vilarejo desde 1910 até 1990. No eixo das ordenadas, a população é dada em milhares de habitantes. 1.a) Determinar em que década a população atingiu a marca de 5.000 habitantes; 1.b) Observe que a partir de 1960 o crescimento da população em cada década tem se mantido constante. Suponha que esta taxa se mantenha inalterada no futuro, determine em que década o vilarejo terá 20.000 habitantes. 2 ) Uma cidade registrou uma população de 111.000 habitantes no censo de 1990 e 171.000 pessoas em 2000. Estimar a população no dia 1o de julho do 5o período intercensitário e no mesmo dia para o 9o ano do período pós-censitário pelos processos aritmético e geométrico. Admitir que os censos tenham sido realizados em 1o de abril. 3 ) Dados censitários de uma certa cidade ANO POPULAÇÃO (HAB.) 1960 31.600 1970 36.900 1980 42.300 1990 58.500 2000 72.400 Estimar a população para o ano 2010, pelos métodos aritmético, geométrico e pela curva logística. 41 4 ) Estudo da população de uma certa cidade Dados Censitários (população urbana) ANO POPULAÇÃO (HAB.) 1970 4.500 1980 5.850 1990 10.490 2001 19.900 Estudar a tendência de crescimento da população (todos os métodos), para os anos 2005, 2010, 2015 e 2020, apresentando o resultado em tabela. Fazer o gráfico população – tempo das tendências de crescimento num único “desenho” onde no eixo das abscissas marque o tempo (1cm = 10 anos) e nas ordenadas marque a população (1cm = 5.000 habitantes). 5 ) ESCOLA POLITÉCNICA (1996). Um sistema de abastecimento de água apresentou os seguintes resultados fornecidos por um medidor de vazão na saída do reservatório e das leituras dos hidrômetros domiciliares. Mês Volumes em m 3 Números de economias m 3 / econ.dia Medidor mensal Hidrômetros bimensal Janeiro 123.780 4.051 163.408 Fevereiro 123.808 4.070 Março 122.970 4.089 159.580 Abril 122.545 4.110 Maio 121.740 4.132 157.714 Junho 120.898 4.144 Julho 118.780 4.182 152.040 Agosto 115.128 4.198 Setembro 119.005 4.205 171.078 Outubro 121.950 4.252 Novembro 123.010 4.287 159.060 Dezembro 125.512 4.301 Produzido Consumido 42 Estudar o consumo “per capita” desse sistema: * Número de hab./economia (amostragem): 4,3; * Número médio de ligações elétricas (atual): 5.170 Determinar: 5.a) Número médio de econômias/mês; 5.b) População atendida (média)/mês; 5.c) População atual (em função do número de ligações elétricas); 5.d) Índice de atendimento; 5.e) Volume produzido (medido na saída do reservatório); 5.f) Volume consumido (leitura dos hidrômetros domiciliares); 5.g) Volume perdido em vazamentos; 5.h) Consumo “per capita”; 5.i) Índice de perdas. Obs.: Completar a tabela (m3/economia.dia) 6) CETESB V.1 (1978). Uma cidade terá um sistema de abastecimento conforme esquematizado a seguir. Sua população futura, para fins de projeto, foi estimada em 45.000 habitantes. Uma indústria localizada entre o reservatório e a cidade terá um consumo diário regularizado de 2.200 m3. Outros dados: Consumo médio per capita anual _______200 l/dia Coeficiente de variação diária _______ k1 =1,25 Coeficiente de variação horária _______ k2 =1,50 Água necessária para a lavagem dos filtros da estação de tratamento __________ 4% do vol. tratado Determinar: 6.a) A vazão média anual a ser distribuída na rede; 6.b) As vazões nos trechos: E, D, C, B e A; 6.c) As vazões em A e B, se a estação de tratamento tiver que funcionar 16 horas por dia. 43 CAPÍTULO 6 - CAPTAÇÃO DE ÁGUAS SUPERFICIAIS 6.1. INTRODUÇÃO Denomina-se captação de água de superfície para abastecimento público o conjunto de estruturas e dispositivos construídos ou montados junto a um manancial superficial, para a tomada de água destinada a um sistema de abastecimento. Entende-se por manancial superficial rio, córrego, lago e reservatório artificialmente formado onde normalmente visam assegurar a vazão necessária. As obras de captação devem ser projetadas tendo em vista: • o seu funcionamento ininterrupto durante qualquer época do ano; • permitir a retirada de água para o sistema de abastecimento em quantidade suficiente ao abastecimento e com a melhor qualidade possível; • permitir o acesso durante todo o tempo, para a operação e manutenção do sistema. A maioriadas vezes, o manancial encontra-se em cota inferior à da cidade, motivo pelo qual há necessidade do bombeamento da água. As obras de captação, nesses casos, são associadas às obras de uma estação elevatória, devendo o seu projeto dar condições ao bom funcionamento das bombas. 6.2. ALGUMAS MANEIRAS DE CAPTAÇÃO POR CISTERNAS A cisterna tem sua aplicação em áreas de grande pluviosidade, ou em casos extremos, em áreas de seca onde se procura acumular a água de época chuvosa para a época de estiagem com o propósito de garantir pelo menos água para beber. Também podem ser utilizadas para lavagem de calçadas, pisos, veículos, regas de jardins, etc. A cisterna consiste em um reservatório protegido (se enterrada, ter cuidado com as enxurradas), que acumula a água da chuva captada da superfície pelos telhados das edificações. A água que cai no telhado vai para as calhas, e destas, aos condutores verticais e, finalmente, ao reservatório (cisterna), Figura 6.1. Para os locais onde há pouca mão-de-obra especializada, aconselham-se cisternas não enterradas. Deve-se abandonar as águas das primeiras chuvas, pois lavam os telhados onde se depositam a sujeira proveniente de pássaros, de animais e a poeira. Para evitar que essas águas caiam nas cisternas, pode-se desconectar os condutores de descida, que normalmente devem permanecer desligados para serem religados manualmente, pouco depois de iniciada a chuva. Existem dispositivos automáticos que permitem o desvio, para fora das cisternas, das águas das primeiras chuvas e as das chuvas fracas, aproveitando-se, unicamente, as das chuvas fortes. A cisterna deve sofrer desinfecção antes do uso (compostos de cloro, água sanitária, etc). A água armazenada, quando for usada para fins domésticos, deve ser previamente desinfetada (fervida ou clorada). � Capacidade da Cisterna ( Cc ) Para se obter a capacidade da cisterna, deve-se considerar somente o consumo durante o período de estiagem. 44 Cc = n . qm . t . Onde: n => número de habitantes por família Equação 6.1 qm => consumo por pessoa t => tempo ( meses sem chuva ) � Superfície de Coleta Para se determinar a água de superfície de coleta, deve-se conhecer a precipitação pluviométrica anual da região. � Coeficiente de Aproveitamento Para os casos de telhados, é recomendado 80 %, pois nem toda a área pode ser aproveitada. Figura 6.1 – Corte de uma cisterna ( DACACH – 1979 ). 45 EM ENCOSTAS (SUPERFICIAL / SUBTERRÂNEA) O aproveitamento da água de encosta é realizado através da captação em caixa de tomada. Para prevenir a poluição da água essa caixa deve ter as paredes impermeabilizadas, tampa, canaletas para afastamento das águas de chuvas, bomba para retirada da água, ser convenientemente afastada de currais, pocilgas, fossas e ter sua área protegida por uma cerca. A caixa deve ter, além das proteções citadas: a) um ladrão telado; b) um cano de descarga de fundo provido de registro, para limpeza; c) uma abertura na tampa, que permita a entrada de um homem para fazer a limpeza. Essa abertura deve ser coberta com outra tampa e selada de preferência com argamassa fraca. Quando se constrói a proteção da fonte, deve-se ter o cuidado de aproveitar adequadamente as nascentes. É interessante que o fundo da caixa tenha uma camada de pedra britada grossa para diminuir a entrada de areia. A Figura 6.2 apresenta uma caixa de tomada por fonte de encosta. Figura 6.2 - Caixa de tomada – Fonte de encosta ( DACACH – 1979 ) EM CURSOS D’ÁGUA COM PEQUENA VARIAÇÃO DE NÍVEL de acordo com a ESCOLA POLITÉCNICA, 1996, p.61 e 62 ) A) Partes Constitutivas Quando a vazão a ser retirada é menor que a vazão mínima do manancial, a captação é feita a fio d’água. Quando existem períodos no ano em que essa vazão é maior, haverá necessidade da construção de um reservatório de regularização, devendo nesse caso, a vazão média do rio ser maior que a vazão a ser retirada, para permitir a regularização. Neste item, tratamos das captações à fio d’água. 46 Os esquemas das instalações são muito variáveis, dependendo das condições do rio, sua variação de nível, topografia, etc. Na maioria dos casos, as principais partes são: � Barragem de elevação de nível: é uma barragem construída ao longo de toda a seção do curso d’água para manter o nível mínimo da água em cota tal que garanta a submergência adequada, principalmente das tomadas para as bombas, sem o que o funcionamento destas não é adequado. Esta construção, em geral de pequena altura, é muitas vezes feita com pedras (barragem de enrocamento) e algumas vezes de concreto ciclópico. � Tomada d’água: é o conjunto de dispositivos destinados a desviar a água do manancial para os demais órgãos constituintes da captação. Pode ser uma tubulação no curso d’água ou um canal que desvia parte da água do rio para a captação. � Dispositivos que evitam a entrada de corpos flutuan tes: os rios trazem sempre certa quantidade de corpos flutuantes como troncos de árvores, galhos, plantas aquáticas, peixes, etc. Para evitar a entrada desses materiais, é construído um gradeamento grosseiro, com estacas de madeira ou concreto à entrada das tomadas. O espaçamento entre as estacas é de 10 a 15 cm. Quando necessário, já dentro do canal são colocadas grades com menor espaçamento (5 a 2,5 cm), de ferro ou alumínio para a retenção de materiais menores ainda. Quando a tomada d’água é feita por tubos usa-se crivos na entrada. � Dispositivos para a retenção de areia: muitos cursos d’água trazem uma quantidade muito grande de areia em suspensão, que não devem ir para o sistema. A retenção da areia é feita em decantadores, que são estruturas onde a água passa com velocidade reduzida havendo um processo de sedimentação, na qual fixa-se um diâmetro acima do qual deseja-se remover. Esses dispositivos são chamados de desarenadores ou simplesmente caixas de areia. � Dispositivos de controle: para controlar o fluxo e permitir a operação do sistema, são utilizadas comportas e válvulas que permitem fechar a passagem da água. � Canais e tubulações de interligação: as diversas partes da captação são ligadas por canais ou tubulações. A Figura 6.3 mostra um esquema típico de captação superficial, com todas essas partes constitutivas. 47 Figura 6.3 – Captação superficial e suas partes constitutivas Fonte: Escola Politécnica B) Fases do Projeto 1) Seleção do Manancial A escolha do manancial se constitui na decisão mais importante na implantação de um sistema de abastecimento de água. Considerar: ∗ Garantia de fornecimento da água em quantidade (vazão mínima) e qualidade (condições de tratamento) desejadas. Deve ser feita retirada de amostras para exame físico-químico e bacteriológico. ∗ Proximidade de consumo. ∗ Ter locais favoráveis à construção da captação. ∗ Atenção especial deve ser dada ao problema de transporte de sólidos pelo rio. A seleção é feita mediante o estudo técnico e econômico comparativo entre as diversas alternativas viáveis. Nem sempre o manancial mais próximo da cidade será a melhor solução. 2) Estudos Hidrológicos É necessário conhecer o regime de vazões e a variação da cota do nível d’água, o que é feito com os estudos hidrológicos, que avaliará para o período de retorno adequado à garantia do fornecimento, a vazão mínima do manancial. Também as vazões de enchente deverão ser avaliadas, tendo em vista, a construção de barragem de elevação Caixa Caixa 48 de nível e o problema da inundação da área. Eventualmente, algumas medidas de vazão devem ser feitas. 3) Seleção do Local Uma vez escolhido o manancial os possíveis locais são selecionados mediante uma criteriosa inspeção local para o exame da possibilidade da implantação da obra. Nesta fase, a tirada de fotografias ajuda muito a elaboração de projeto. Alguns cuidados
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