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Sepse Neonatal 1 🥴 Sepse Neonatal Sepse precoce no período neonatal Colher hemograma + PCR com 48h de vida A sepse é considerada a principal causa de morte entre prematuros a partir da segunda semana de vida. Também compromete prognóstico entre os sobreviventes aumentando o risco de desenvolvimento de patologias como a displasia bronco pulmonar, hemorragia periventricular e intraventricular, leucomalácia e retinopatia da prematuridade. É importante entender também que muitos casos relatados de sepse são mal diagnosticados e tratados sem a necessidade, aumentando assim a resistência bacteriana e propiciando novas infecções. Sepse: definida como alterações clínicas e laboratoriais de infecção, com ou sem confirmação do agente etiológico, associadas à presença de fatores de risco. A sepse é dividida em precoce e tardia: → Precoce: infecção de origem materna que ocorre nas primeiras 48h de vida ou 72h. → Tardia ou de origem ambiental ou hospitalar: qualquer infecção que ultrapasse o período da precoce. → Sepse clínica: quando não existe confirmação do agente etiológico e de sepse confirmada, quando o agente é isolado em fluidos corporais estéreis principalmente no sangue, liquor e urina. Um grande marco na redução da incidência da infecção precoce foi a quimioprofilaxia materna para o Estreptococo do grupo B (EGB), um dos principais agentes da infecção precoce. Além disso, a incidência é inversamente proporcional à idade gestacional e ao peso de nascimento, logo, prematuros e de baixo peso ao nascer apresentam risco 10x maior que os de termo de apresentarem infecção. Fatores de risco Os principais fatores de risco associados a sepse precoce são aqueles relacionados à mãe, sendo eles: Rotura prematura de membranas ≥ 18h (prematuridade e baixo peso); Trabalho de parto prematuro em gestação menor que 35 semanas; Cerclagem (por incompetência istmo cervical, é um procedimento invasivo); Procedimento de medicina fetal realizado nas últimas 72h que antecedem o parto; Infecção do trato urinário sem tratamento ou em tratamento nas últimas 72h (o parto precisa ter sido realizado pelo menos 72h após o tratamento completo da ITU); Febre materna nas últimas 48h; Colonização por EGB em gestantes que não receberam a quimioprofilaxia quando indicada; Corioamnionite caracterizada pela presença de febre materna ≥ 38ºC e pelo menos um dos sinais: taquicardia materna (>100bpm), taquicardia fetal (>160bpm), leucocitose materna (> 20.000), útero doloroso, líquido amniótico fétido. Parto séptico (domiciliar ou via pública); Ausência de pré-natal; E dentre os principais fatores de risco associados ao RN se destacam principalmente: Prematuridade; Baixo peso ao nascer; Sexo masculino; Apgar de 5º minuto menor que 7; Agentes etiológicos e diagnóstico Os principais agentes etiológicos são aqueles presentes no trato genital materno. Estreptococo do grupo B (agalactiae); Sepse Neonatal 2 E coli; Listeria monocitogenes; Enterobactérias que colonizam o trato genital materno; Quadro Clínico Recém-nascido que parece não estar bem; Recusa alimentar; Instabilidade térmica ( T< 36ºC ou : 37,5ºC); Taquicardia ou bradicardia; Taquipneia, bradipneia ou apneia); Desconforto respiratório (musculatura acessória ou batimento de asa de nariz); Cianose ou palidez cutânea; Distensão abdominal, resíduos, vômitos; Icterícia, hepatoesplenomegalia; Letargia, hipotonia, irritabilidade;e Tremores ou convulsões; Sinais inespecíficos na meningite; Existem sinais que alertam para maior nível de gravidade, como: Alteração no nível de consciência (irritabilidade, torpor, hiporreatividade); Tempo de enchimento capilar prolongado (> 3seg); Oligúria (débito urinário < 1ml/kg/hora); Sinais laboratoriais como acidose metabólica e aumento do lactato sérico (>2mmol/L); Hemograma Exame de triagem e inespecífico. A contagem de leucócitos apresenta baixo valor preditivo positivo, enquanto a neutropenia tem maior especificidade. Os índices leucocitários têm alto valor preditivo negativo, e a plaquetopenia tem baixa sensibilidade e especificidade. Escore de Rodwell Avalia 7 parâmetros hematológicos, é um bom exame de triagem e uma pontuação de 3 apresenta alta sensibilidade (96%) e alto valor preditivo negativo (99%). A especificidade é baixa. Leucocitose ou leucopenia leucocitose ≥ 25.000 ao nascimento ou ≥ 30.000 entre 12-24h ou acima de 21.000 ≥ 48h de vida; leucopenia ≤ 5.000; Neutrofilia ou neutropenia Sepse Neonatal 3 Elevação de neutrófilos imaturos Índice neutrifílico aumentado Razão dos neutrófilos imaturos sobre os segmentados ≥ a 0,3 Alterações degenerativas nos neutrófilos com vacuolização e granulação tóxica Plaquetopenia (< 150.000/mm³) Proteína C Reativa Sua produção é induzida pela IL-6, mas no início somente uma baixa porcentagem dos RN tem PCR positiva. Com 24h esse percentual aumenta de 16 para 92%!! O pico de positividade ocorre entre o 3º - 4º dias de evolução da sepse, e a partir desse momento se espera que haja uma redução em seus níveis. A PCR não é considerada marcador precoce de infecção, mas é bastante útil na avaliação do controle de infecção e na exclusão da mesma. É muito útil quando dosada de forma quantitativa e de forma seriada, mas devemos saber que ela pode estar alterada em situações não infecciosas como asfixia, hipóxia, estresse, pós-operatório, entre outras. Não deve ser utilizada isoladamente como marcador de infecção. Procalcitonina É outro reagente de fase aguda. Sintetizada também por hepatócitos e monócitos em resposta a membrana bacteriana. Aumenta mais precocemente que a PCR, em torno de 2 - 4 horas do início de infecção e com pico de 6 - 8 horas ou até 24h. Também não deve ser utilizada isoladamente como marcador de infecção. Marcadores inflamatórios TNF alfa: inicio precoce se associa com choque. IL-1 beta: responsável pela resposta febril. IL-6: aumenta precocemente na sepse e induz a produção de PCR. IL-8: pode ser dosada em outros fluidos corporais como líquor e urina. IFN gama: detecção precoce nas infecções virais. Hemocultura Exame específico e responsável pela confirmação do agente etiológico Considerada padrão ouro, porém a sensibilidade é baixa. Ideal é a coleta de 2 amostra de sangue em sítios diferentes ao mesmo tempo. Pode ser coletada 2 amostras com intervalos de 12 - 24h entre elas. Maioria dos agentes etiológicos apresentam crescimento bacteriano em até 48h na hemocultura. Dado importante pare retirada de atb em caso de entrada por risco infeccioso. Urocultura A incidência de ITU baixa na sepse precoce é bem baixa, mas aumenta MUITO quando o RN é portador de alguma malformação do trato gênito urinário. O padrão ouro para diagnóstico é a a punção supra púbica ou sondagem vesical. Líquor Padrão ouro para diagnóstico de meningite. Existe uma associação de até 30% de sepse com meningite, e as manifestações clínicas são inespecíficas. Uma vez diagnosticada meningite há necessidade de repetição do exame em 48 - 72horas, desde que o paciente esteja hemodinamicamente estável e sem distúrbios de coagulação. Prematuros de muito baixo peso (< 1500g) a punção liquórica realizada nos três primeiros dias de vida pode levar à hemorragia peri e intraventricular e por isso deve ser evitada. Sepse Neonatal 4 Tratamento Visa a cobertura dos agentes etiológicos mais frequentes, ou seja, EGB e E.coli. As doses e intervalos dos atbs dependem dos dias de vida e da idade gestacional. → Tratamento empírico: ampicilina ou penicilina cristalina + aminoglicosídeo (gentamicina ou amicacina). → Meningite: esquema empírico OU cefotaxima (cefalosporina de 3ª) + ampicilina. A recoleta de líquor deve ser realizada em 48 - 72 horas para ver a resposta ao tratamento. Tempo de tratamento Pneumonia com boa evolução: 5 a 7 dias; Sepse clínica com boa evolução: 5 a 7 dias; Sepse confirmada: 7 a 10 dias; Meningite: se EGB 14d e se E. coli 21d; Importante lembrar que se em 48h não houver crescimento bacteriano na hemoculturasuspender os antibióticos. Terapia adjuvante Todo RN séptico deve ser tratado em UTI neonatal e a terapia de suporte é de FUNDAMENTAL importância para sua estabilização. Manutenção da temperatura corporal: hipotermia aumenta risco de morte em prematuros; Hidratação: infusão de líquidos, glicose e eletrólitos; Suporte nutricional: via enteral o mais precoce possível e se a previsão de jejum for superior a 3d iniciar NPT; Suporte ventilatório: comprometimento respiratório, deve manter a SatO2 entre 91 - 95%; Monitoração da PA e dos sinais de gravidade; Sinais vitais a cada 4h; Prevenção Prevenção precoce se inicia com a realização de um pré-natal adequado, monitorando os fatores de risco maternos, fazendo quimioprofilaxia para EGB quando indicado, diagnosticando e tratando precocemente infecções maternas. Uso de ATB em gestantes com rotura prematura de membranas de pré-termo reduziu a incidência de corioamnionite e infecção neonatal. Indicação de quimioprofilaxia: Gestantes colonizadas ou em bacteriúria por EGB que tiveram filhos anteriores com infecção documentada pelo agente; Situações de risco onde não foi possível a obtenção de cultura (parto prematuro, rotura prematura ≥ 18h; febre intraparto); A proteção do feto chega a ser próxima de 100% se forem realizadas ao menos 2 doses de penicilina, ampicilina ou cefazolina com intervalo de 4h do parto. Conclusão É uma infecção frequente e grave, principalmente em RN prematuros. Sepse Neonatal 5 Diagnóstico é feito com base nos fatores de risco tanto maternos quanto fetais associados às alterações clínicas e laboratoriais. Lembrar sempre que no período de transição (primeiras 24-48h) o RN pode apresentar distúrbios respiratórios, hemodinâmicos e alterações laboratoriais por OUTRAS morbidades que não a infecção. O uso de atb nessas situações pode ser danoso ao RN. Todo prematuro séptico deve ser acompanhado para avaliação de desenvolvimento, pois a sepse interfere no seu desenvolvimento neuropsicomotor em médio e longo prazo. Vigilância rigorosa de obstetras e neonatologistas é fundamental na melhoria do prognóstico e qualidade de vida do RN. Sepse Tardia A sepse é uma das grandes responsáveis pelo aumento da morbimortalidade, prologando o tempo de internação, elevando os custos sociais e econômicos e comprometendo o prognóstico dos recém nascidos. É uma das principais causas de óbito neonatal a partir da segunda semana de vida. RNs sépticos apresentam 3x mais chances de morrer do que aqueles não sépticos. É importante entender que a ocorrência de morbidades que impactam na qualidade de vida é alta, sendo elas: displasia broncopulmonar (deficiência de O2 com 36 semanas de idade corrigida), retinopatia da prematuridade em suas formas graves (estágio 2), leucomalácia, hemorragia peri e intraventricular grave. → Sepse tardia: alterações clínicas e laboratoriais sugestivas de infecção, acompanhada de sinais de má perfusão tecidual como oligúria (débito urinário < 1ml/kg/hora), tempo de enchimento capilar prolongado (> 3seg), alteração no estado de consciência (torpor ou irritabilidade), hipotensão, acidose metabólica e aumento do lactato após 48h de vida (Center for Disease Control and Prevention E ANVISA) ou após 72h de vida (Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais). É considerada clínica quando não existe confirmação do agente etiológico, e confirmada quando o agente é isolado em fluidos corporais estéreis principalmente sangue, liquor e urina. Incidência A incidência da sepse tardia é variável e depende das características dos RN, como peso de nascimento, idade gestacional e pós-natal, procedimentos e condições de assistência da unidade. Fatores de risco da sepse tardia Relacionadas ao próprio RN: Prematuridade Baixo peso ao nascer Infecções prévias Relacionadas às práticas assistenciais: Uso de ATB nos 3 primeiros dias de vida Cateter vascular central NPT IOT e ventilação mecânica Cirurgias Drenagens Em relação às práticas nutricionais: Jejum na primeira semana de vida Não atingir dieta plena até 15d de vida Não recuperar o peso de nascimento até 22 dias de vida Em relação à infraestrutura da unidade: Superlotação de UTIs Déficits de recursos humanos Déficits de equipamentos Sepse Neonatal 6 🚨 Em relação a todos os fatores, encontra-se a inadequada higienização das mãos com consequente infecção cruzada. Ponto crucial a ser vigiado na sepse hospitalar Agentes etiológicos Os agente etiológicos da sepse tardia variam de acordo com a unidade. No geral, gram-positivos são responsáveis por cerca de 70-80% dos casos, sendo os Staphylococos epidermidis o mais frequente, subseguido do Staphylococos aureus, enterococos e estreptococo do grupo B. Os gram-negativos em geral apresentam evolução mais grave e com maior frequência de choque e óbito. Os principais patógenos são a Escherichia coli, Klebsiella sp, Pseudomonas sp, Enterobacter sp, Serratia sp. Diagnóstico Se baseia no quadro clínico, exames laboratoriais inespecíficos e específicos. Quadro clínico Manifestações inespecíficas e mesmos sinais e sintomas. Hipotermia é mais frequente que a febre, mas sempre que houver febre tem que investigar. Meningite com sinais inespecíficos, porém se houver sinais neurológicos como convulsão, alteração do tônus e reflexos ou do estado de consciência sempre pensar nesse diagnóstico. Variações na frequência cardíaca do recém - nascido séptico podem ocorrer precocemente, até 24h antes da instalação do quadro. Laboratório Marcador ideal é aquele realizado com pequenas amostras de fluido corporal, porém nenhum exame laboratorial é o ideal para diagnóstico. Exames inespecíficos Hemograma, escores hematológicos, reagentes de fase aguda (PCR e procalcitonina) Específicos Hemocultura (padrão ouro), urocultura, liquor, cultura de outros fluidos corporais e biologia molecular Tratamento Diagnóstico precoce e instituição terapêutica imediata fazem total diferença para evitar a progressão para o choque e óbito. Medidas gerais Manutenção da temperatura corporal Monitorização contínua dos sinais vitais (FC, FR, PA, diurese, glicemia, hidroeletrolitico, metabolitos) Suporte nutricional A - Normal B - Infectado Sepse Neonatal 7 🚨 Lembrar que a sepse é uma doença hipercatabólica calórica é IMPRESCINDÍVEL, seja enteral ou parenteral. Suporte ventilatório Fundamental para a melhora da oxigenação, volume pulmonar e estabilização da caixa torácica assim como controle de apneias. Considerar CPAP nasal e VPP nasal intermitente. Decisão de intubar deve ser baseada na clínica do esforço respiratório, na instabilidade hemodinâmica e na hipoxemia. Manter a Sat O2 entre 91-95% Suporte cardiovascular Considerado em casos de repercussão hemodinâmica como: Enchimento capilar prolongado (> 3seg) Hipotensão Oligúria Reposição volêmica é preferencialmente com solução cristaloide isotônica SF 0,9% 10ml/kg (em 30 minutos no prematuro e 5-10 minutos no termo). Observar a ocorrência de hepatomegalia ou aumento do esforço pois se presentes suspender a infusão. É importante que a reposição volêmica seja utilizada com cautela pois o excesso de volume pode se associar com hemorragia peri e intraventricular, persistência do canal arterial, displasia broncopulmonar e até mesmo morte. Uso de drogas vasoativas somente quando não há resposta ao tto volêmico, e são utilizadas dopamina associada ou não com dobutamina. Se nenhuma resposta mesmo com as duas, usa-se adrenalina em doses baixas 0,05 a 0,3 mcg/kg/min. Antibioticoterapia Um dos agentes mais frequentes da sepse tardia é o S. epidermidis Tratamento empírico endovenoso deve ser iniciado precocemente logo após da coleta das hemoculturas. Oxacilina com amicacina é altamente recomendada. Em casos de meningite é o uso de Cefalosporinas de 3ª geração. Vancomicina somente em casos de alta prevalencia de S. aureus resistêntes à meticilina/oxacilina (MRSA). Após o isolamento do agente e do conhecimento do antibiograma, o descalonamento antimicrobianodeve ser SEMPRE realizado. O tratamento deve ser o menor possível (5 a 10d) dependendo da clínica e culturas. Em casos de meningite, 14 a 21 dias dependendo sempre do agente etiológico, evolução clínica e laboratorial. Prevenção Prevenir a infecção: iniciar precocemente a dieta enteral, uso de cateteres vasculares COM CRITÉRIOS e retirada assim que possível. Diagnosticar e tratar a infecção: otimizar os exames laboratoriais, utilizar PCR quantitativa E seriada, coletar 2 hemoculturas para evitar tratamento de contaminação especialmente por estafilococos coagulase negativa. Uso racional de antimicrobianos: seguir protocolos, evitar uso empírico de vancomicina e cefalosporinas, não prolongar desnecessariamente o tratamento, descalonar, tratar infecção e não a contaminação. Prevenir a transmissão: higienização das mãos sempre com água e sabão ou álcool gel.
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