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ANÁLISE NO ℝn AULA 5 Prof. Guilherme Augusto Pianezzer CONVERSA INICIAL Caro aluno, nesta aula iremos, finalmente, discutir a construção do conceito de integração múltipla. Faremos uma analogia similar à que realizamos na construção do conceito de integração indefinida em estudos sobre Análise Real. TEMA 1 – A DEFINIÇÃO DE INTEGRAL Vejamos qual a definição de integral e como ela se estrutura com base no conceito de blocos. 1.1 BLOCO N-DIMENSIONAL Definimos um bloco -dimensional como um conjunto resultado do produto cartesiano definido por: Em que existem intervalos compactos conhecidos como suas arestas. No caso do produto cartesiano: Em que se considera os intervalos abertos , estes são definidos como bloco dimensional aberto. Se as arestas do bloco têm o mesmo comprimento, isto é, são iguais , definimos como um cubo dimensional. No caso em que o bloco acaba especificado no conceito de intervalo. Se , o bloco se reduz a um retângulo e o cubo se reduz a um quadrado. Todo bloco -dimensional possui uma face definida como um conjunto do tipo: Em que temos ou para cada Toda fase tem uma dimensão quando dos fatores forem iguais a No caso de uma face com dimensão zero, em que os pontos são da forma em que ou são conhecidos como vértices do bloco. Definimos o volume dimensional de um bloco como o produto: Em que são multiplicados os comprimentos de suas arestas. Veja que esse resultado é o mesmo do volume do bloco aberto. Definimos uma partição do bloco como um produto cartesiano definido por: Em que cada é definido como uma partição do intervalo . Note que esse resultado é o mesmo explorado em Análise Real. Por definição, dizemos que uma determinada partição, digamos: Refina a partição quando Note que isso é equivalente a dizer que: Veja que dizemos que uma partição decompõe o bloco numa reunião de sub-blocos: Em que cada é um intervalo da partição de . Veja que esses sub-blocos são conhecidos como blocos da partição Em outros termos, escrevemos Quando a partição refina , concluímos que cada bloco de é a reunião dos blocos de Q nele contidos. Veja que, sendo e dois blocos da partição , a interseção é uma face comum a e ou é vazia. Se escolhermos a partição do bloco sendo o comprimento de cada aresta de a soma dos comprimentos dos intervalos da partição , podemos, então, concluir que o volume do bloco é a soma dos volumes dos blocos e da partição 1.2 TEOREMA Suponha a existência de como uma função real limitada em um bloco -dimensional . Suponha também que Assim, para uma partição do bloco , para cada bloco , definimos o ínfimo como e o supremo como . Dessa forma, definimos a soma inferior e a soma superior da função relativo à partição , sendo: Nesse caso, observamos que de forma que verificando que toda soma inferior de é menor do que o igual a qualquer soma superior. No passo seguinte, definimos a integral inferior e a integral superior de uma função limitada como, respectivamente: Em que o supremo e o ínfimo da definição acima tomados em relação a todas as partições do bloco Veja que podemos unir a desigualdade apresentada acima para escrever: Veja também que uma função limitada é dita integrável em um bloco dimensional no caso em que suas integrais inferior e superior sejam coincidentes. Nesse caso, podemos escrever: Sendo conhecida como a integral de no bloco 1.3 CONDIÇÃO IMEDIATA DE INTEGRABILIDADE Note que, para que a função limitada seja integrável no bloco , devemos ter que , exista uma partição de em que No caso de qualquer subconjunto , definimos como o supremo e como o ínfimo dos valores para Assim, definimos: Como a oscilação de no conjunto Assim, em qualquer partição do bloco , podemos escrever: E concluímos que é integrável quando, para qualquer , existe uma partição de em que: Veja que, nesse cenário, observamos que toda função contínua é integrável. Entretanto, a título de Análise no , essa condição não é suficiente para continuarmos nossos estudos, visto que haverá funções descontínuas que precisam ser analisadas. TEMA 2 – CONJUNTOS DE MEDIDA NULA Vejamos o conceito de conjuntos de medida nula e como eles nos permitem generalizar quais as funções integráveis a título de Análise no 2.1 CONJUNTOS DE MEDIDA NULA Definimos o conjunto com a propriedade de ter a medida dimensional nula, cuja notação é dada por sempre que, , sempre é possível obter uma cobertura enumerável do tipo: A partir de blocos abertos de forma que: Veja que, sendo e , então podemos afirmar que Note também que uma reunião enumerável de conjuntos de medida nula também é um conjunto de medida nula. Isso porque são subconjuntos de em que . Vemos que, para qualquer , podemos obter uma sequência de blocos de forma que: Assim, concluímos que está contido na reunião enumerável de todos os Assim, qualquer que seja a maneira de enumerar os em uma sequência, teremos: De forma que . Podemos mostrar também que todo conjunto enumerável tem medida nula. Outro resultado relevante é perceber que, a partir de um conjunto , são equivalentes as seguintes afirmações: I) , obtemos uma cobertura enumerável a partir de blocos abertos em que II) , obtemos uma cobertura enumerável a partir de blocos fechados em que III) , obtemos uma cobertura enumerável a partir de cubos abertos em que IV) , obtemos uma cobertura enumerável a partir de cubos fechados em que Note também que qualquer cobertura aberta do tipo de um conjunto arbitrário admite uma subcobertura enumerável . Além disso, sendo uma aplicação de classe no aberto . No caso em que tem medida nula, então também tem medida nula. Veja que, diretamente desse resultado, podemos inferir que, sendo uma aplicação de classe no aberto , sendo , podemos concluir que tem medida nula. Também será verdade que, sendo uma superfície dimensional de classe e sendo , então tem medida dimensional nula. Dessa forma, podemos extrair um importante teorema que generaliza quais são as funções integráveis além das funções contínuas. Esse resultado é conhecido como Teorema de Lebesgue. Nesse caso, afirmarmos que determinada função é integrável se, e somente se, o conjunto de todos seus pontos de descontinuidade tem medida nula. TEMA 3 – CÁLCULO COM INTEGRAIS Vejamos algumas importantes propriedades das funções integráveis que podem ser generalizadas a partir dos resultados discutidos anteriormente. 3.1 PROPRIEDADES DE FUNÇÕES INTEGRÁVEIS No caso de conhecermos funções funções integráveis para algum bloco e sendo um número real, podemos verificar as seguintes propriedades: I) é integrável e II) é integrável e III) O produto é uma função integrável. IV) Se , então, é integrável. V) Sendo , então: VI) é uma função integrável e VII) Se é um bloco contido em e para todo , então: 3.2 INTEGRAÇÃO REPETIDA Suponha que seja integrável no produto dos blocos e . Suponha também que, para todo , teremos definida por . Assim, definimos as seguintes funções: Assim, podemos concluir que as funções são integráveis de forma que: O que é equivalente a afirmar que: Disso podemos concluir que, sendo integrável no produto dos blocos , e , então: TEMA 4 – CONJUNTOS J – MENSURÁVEIS Neste tema, iremos estender o conceito de integral para funções definidas em alguns subconjuntos que não são blocos dimensionais. 4.1 FUNÇÃO CARACTERÍSTICA Suponha a existência de um conjunto limitado e de um bloco dimensional contendo Nesse caso, definimos a função característica de como a função dada por: Assim, veja que as funções características têm algumas propriedades notáveis: I) II) III) Será verdade que se, e somente se, . Nesse cenário, teremos Veja que, da primeira propriedade, verificaremos que no caso que os conjuntos e são disjuntos. Veja também que, estando contido no interiorde , então é o conjunto dos pontos de descontinuidade da função Além disso, podemos definir o volume interno e o volume externo de um conjunto limitado verificando que: 4.2 CONJUNTOS J – MENSURÁVEIS Note que, sendo a função característica integrável, dizemos que é mensurável de forma que seu volume dimensional é dado por: Sendo e uma partição do bloco , as somas inferior e superior da função relativas à partição são definidas por: Soma dos volumes dos blocos de contidos em Soma dos volumes dos blocos de que intersectam Assim, concluímos que, sendo e , podemos concluir que, para qualquer , existe uma partição do bloco de forma que a soma dos volumes dos blocos de contidos em é superior a e a soma dos volumes dos blocos de que intersectam é inferior a Outro resultado relevante é que o conjunto limitado é mensurável se, e somente se, sua fronteira tem medida nula. Além disso, sendo conjuntos mensuráveis então e também são mensuráveis e podemos verificar que: TEMA 5 – A INTEGRAL COMO LIMITE DE SOMAS DE RIEMANN Neste último tema, iremos discutir o conceito de integração a partir do limite de somas de Riemann. 5.1 A INTEGRAL COMO LIMITE DE SOMAS DE RIEMANN Suponha a existência de um conjunto mensurável . Nesse cenário, iremos afirmar que á uma decomposição de no caso em que os conjuntos são mensuráveis, de forma que o interior de cada é disjunto dos demais Veja que a norma da decomposição é definida como o número que apresenta o maior diâmetro dos conjuntos Assim, sendo um bloco dimensional, podemos verificar que toda partição determina uma decomposição Em que os são os blocos da partição Assim, sendo uma função limitada no conjunto mensurável em que se tivermos a decomposição de , podemos verificar que, para cada Dessa forma, podemos definir a soma inferior e a soma superior como sendo: No caso, afirmamos que o número real é o limite de quando tende a zero escrevendo: Mostrando que, para qualquer , existe tal que De forma equivalente, podemos definir o que significa a expressão dada por: 5.2 TEOREMA No caso de toda função limitada no conjunto mensurável , podemos verificar que: Para isso, é necessário verificar que, sendo conjuntos mensuráveis em que , então, para qualquer , existe tal que, sendo uma decomposição de em que , então a soma dos volumes dos conjuntos em que é menor do que Veja também que, sendo integrável no conjunto mensurável , então: Isso porque, qualquer que seja a decomposição de , verificamos: Independentemente do modo de pontilhar . Assim, verificamos que: NA PRÁTICA Sejam uma função limitada no bloco dimensional e um númeo real com a seguinte propriedade: para todo dado, existe uma partição de tal que qualquer que seja a partição de que refine Prove que FINALIZANDO Nesta aula, conseguimos generalizar o conceito de integração múltipla para os estudos em análise no . Futuramente, iremos discutir sobre o processo de mudança de variáveis que costuma ser utilizada em integrais múltiplas. REFERÊNCIAS ANTON, H.; CHRIS, R. Álgebra Linear Com Aplicações. 10. ed. Bookman Companhia Editora, 2010. GUIDORIZZI, H. L. Um Curso de Cálculo – Volume 2. 6. ed. LTC, 2018. LIMA, E. L. Análise Real, Volume 2. 6. ed. Rio de Janeiro: IMPA, 2016.
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