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Sujeitos de Direito e Personalidade Jurídica

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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO
SUJEITO DE DIREITO E PERSONALIDADE 
JURÍDICA
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Olá!
Neste momento, vamos estudar o conceito de sujeitos de direito. Um dos conceitos mais importantes de toda a
teoria do direito. Preparado?
1 Os sujeitos de direito
Sujeitos de direito são todos os participantes de relações jurídicas. Estão habilitados, portanto, a exercitar
atividade jurídica, nos atos e nos negócios da vida material (capacidade civil), bem como a defender em juízo os
respectivos interesses (capacidade processual), observadas sempre as limitações decorrentes da ordem jurídica
incidente. Fazem-no em consequência de direitos subjetivos de que se encontram investidos.
O ordenamento reconhece a existência de duas espécies distintas, a saber: as pessoas e os entes
despersonalizados.
Pessoa é o sujeito de direito em plenitude, capaz de adquirir e transmitir direitos e deveres jurídicos.
Todo ser humano nascido com vida é tratado como pessoa. Essa constatação obedece a três princípios
fundamentais: (a) todo ser humano é pessoa, pelo simples fato de existir, e, por isso, é capaz de direitos e
deveres na ordem civil (art. 1º do CC/2002); (b) todos têm a mesma personalidade porque todos têm a mesma
aptidão para a titularidade de relações jurídicas (art. 5º da CF/1988); e (c) a condição de pessoa é irrenunciável.
O direito também atribui o conceito de pessoa a entidades que não detêm existência física ou tangível, seja uma
coletividade de pessoas que se associam para alcançar um fim comum (exemplo: associações), seja um
patrimônio destinado a um fim (fundações), as quais passam a ser denominadas pessoas jurídicas.
Por fim, temos os chamados entes despersonalizados. Esses são sujeitos de direito peculiares, pois apresentam
capacidade jurídica limitada aos fins a que estão destinados.
As principais hipóteses de entes despersonalizados que merecem destaque são:
a) Massa falida – refere-se ao acervo patrimonial que pertencia à empresa declarada judicialmente falida. É com
a sentença declaratória de falência que surge a massa falida.
b) Espólio – este consiste no patrimônio deixado pelo de cujus e compreensivo do conjunto de direitos e
obrigações. O fato jurídico que faz surgir é o evento morte, e a sua extinção se opera com o fato jurídico da
partilha de bens entre os herdeiros. Entre esses dois momentos – morte e partilha – impõe-se a administração do
acervo de direitos e obrigações, cuja titularidade é exercida pela figura do inventariante.
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c) Herança jacente e vacante – o art. 1.819 do CC/2002 prevê a hipótese de alguém vir a falecer, deixando acervo
de bens sem, todavia, testamento ou herdeiro legítimo notoriamente conhecido.
Não foi tão difícil, né? Sabemos que é muita informação, mas tentamos sintetizar da melhor forma para você não
se confundir e realmente estudar as partes mais importantes dessa matéria.
2 Os sujeitos de direito e a personalidade jurídica
Você já percebeu que o Direito gira em torno do ser humano? Pare e pense um pouco nessa questão... O Direito
envolve pessoas individualmente e/ou em sociedade, regulando as suas relações jurídicas, atos,
responsabilidades e comportamentos, que devem estar totalmente de acordo com o ordenamento jurídico. A
nossa vida é tão corrida que nem conseguimos parar e pensar: nós somos o centro do Direito, somos o centro das
regras jurídicas, somos o centro das normas e estas são elaboradas de acordo conosco. Não é muito interessante?
Por que não analisarmos esse assunto com mais detalhe? Vamos lá!!
O Código Civil em momento algum define a personalidade. A doutrina costuma identificá-la como uma aptidão
genérica ou qualidade para titularizar direitos e contrair obrigações. O Direito, é importante ressaltar, limita-se a
constatar e respeitar a existência da personalidade jurídica. Todavia, a doutrina apresenta diversas
interpretações para o conceito de personalidade. Sintetizando os vários sentidos técnicos que envolvem o
conceito de personalidade jurídica, podemos afirmar que: (a) significa a possibilidade de alguém ser titular de
relações jurídicas, (b) é objeto de tutela privilegiada pela ordem jurídica constitucional, como forma de
expressão da dignidade da pessoa humana.
O início da personalidade da pessoa natural é indicado expressamente no art. 2º do CC/2002, o qual estabelece
como termo inicial o nascimento com vida do indivíduo. Clinicamente, o nascimento é aferível, via de regra, pelo
exame de docimasia hidrostática de Galeno.
Muito embora a redação do art. 2º seja bastante clara, o início da personalidade da pessoa natural cria enormes
embates teóricos. Atualmente, existem três posições doutrinárias para explicar o tema, a saber:
• Natalista: seus adeptos afirmam que a personalidade civil somente se inicia com o nascimento com vida 
(primeira parte do art. 2º do CC/2002).
• Concepcionista: seus adeptos admitem que se adquire personalidade antes do nascimento, ou seja, 
desde a concepção.
• Personalidade condicional: seus adeptos afirmam que a aquisição da personalidade se encontra sob 
condição suspensiva até a ocorrência do nascimento com vida.
A doutrina majoritária defende que o Direito Civil positivo adotou a teoria natalista para o início da
personalidade jurídica.
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O termo final da personalidade jurídica é com a morte ou declaração de ausência por ato do magistrado, o que é
previsto no artigo 6º do Código Civil/2002: “Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte;
presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva”.
Em relação à ausência, esta somente é declarada por ato do magistrado, em processo judicial, quando ficar
comprovado que a pessoa desapareceu do domicílio por determinado tempo, sem notícias dela até então.
Em relação à morte, existe um conceito chamado “comoriência”, que ocorre quando duas ou mais pessoas
morrem ao mesmo tempo. Se não for possível determinar quem veio a óbito primeiro, será considerada morte
simultaneamente. Essa análise é muito importante para a área do Direito conhecida como “sucessões”, que trata
de direito e deveres post mortem. Por exemplo, um casal tem um filho e esse casal morre em um acidente de
carro. Quem faleceu primeiro? Essa pergunta é muito importante para a divisão dos bens e a partilha. Entendeu?
Existe outro conceito em relação à morte, que é o da morte presumida, sem decretação de ausência. Para que
seja considerada morte presumida, deve ser extremamente provável quando a pessoa estava em perigo de vida
ou se alguém não for encontrado até dois anos após o término de guerra. É o que está disposto no artigo 7º do
Código Civil/2002.
Assim como as pessoas naturais, as pessoas jurídicas também possuem personalidade jurídica a partir do
momento em que são criadas e também são titulares de direitos e deveres. É importante notar que as pessoas
jurídicas são administradas por pessoas naturais.
A personalidade jurídica das pessoas jurídicas define, além da titularidade de direitos e deveres, que a pessoa
jurídica é distinta das pessoas naturais que as administra, ou seja, cada uma tem a sua disponibilidade financeira,
em regra.
Entretanto, caso seja comprovada a má administração da pessoa jurídica, desvio de finalidade e confusão
patrimonial, a parte interessada pode ajuizar pedido judicial para a desconsideração da personalidade jurídica
da pessoa jurídica, com fulcro no artigo 50 do Código Civil/2002, com a finalidade de que as pessoas naturais
que comandam a pessoa jurídica possam arcar com o pagamento de alguma dívida ou o cumprimento de algum
dever da pessoa jurídica. Com a aceitação desse pedido pelo magistrado, as pessoas naturais que comandam a
pessoa jurídica deverão responder em nome desta com os seus patrimônios.
3 As pessoas
Neste tópico, vamos estudar os conceitos e os principais aspectos envolvendo as pessoas.
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3.1 Capacidade de fato
A capacidade de fato consiste na capacidade que a pessoa tem para exercitaros seus direitos e deveres. Isto é, a
pessoa tem a personalidade jurídica (titular de direitos e deveres), mas, para ir em busca de seus direitos e
deveres na prática, precisa ter capacidade para tanto.
Assim, podemos ver que a personalidade jurídica é inerente a todas as pessoas, enquanto a capacidade de fato
não, pois existem pessoas que não a possui, seja absoluta seja relativa, necessitando de representação de um
responsável por ela. É o que determina o artigo 3º do Código Civil/2002. Vamos ver?
Você deve saber, também, que, antes de 2015, eram absolutamente incapazes: (I) menor de dezesseis anos; (II)
os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses
atos; e (III) os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. No entanto, a partir da Lei
nº 13.146/2015, os itens (II) e (III) foram revogados do Código Civil/2002, ou seja, deixaram de ser motivos
para incapacidade absoluta das pessoas, sendo o único motivo o da idade (menores de dezesseis anos).
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Isso porque a lei mencionada traz as pessoas com deficiência como plenamente capazes para exercer seus
direitos e deveres, o que objetivou a inclusão social em prol da dignidade desses seres humanos. Nada mais
justo, não concorda?
Em relação à idade, temos que a incapacidade – absoluta ou relativa – cessa aos dezoito anos de idade completos.
Além disso, se os menores forem emancipados, antes dos dezoito anos de idade completos, também cessará a
incapacidade (artigo 5º do Código Civil/2002).
Outro fato importante é sobre os índios. O Código Civil/2002 afirma que a capacidade dos índios será
determinada por legislação especial, uma vez que estes estão sob regime tutelar da Fundação Nacional do Índio
(FUNAI), salvo os que estão integrados à comunidade nacional, os quais obedecem ao Direito Civil.
É interessante saber que todos possuem direitos e deveres. No entanto, para que possa praticá-los, é necessário
ter capacidade. Caso contrário, deverá ser representado por outrem, um curador, tutor ou representante legal.
Por exemplo, os filhos menores impúberes são representados por seus pais ou, na falta de um, será representado
somente pelo outro. E, na falta de ambos, o magistrado nomeará um responsável para ser tutor dos menores.
Deu para entender?
3.2 Nome, registro e domicílio civil
Como falamos, a pessoa é o centro do Direito para que a sociedade consiga viver de forma organizada. Para que
isso ocorra, essas pessoas que são o foco das normas jurídicas devem estar devidamente registadas nos Ofícios
Públicos para controle, organização, publicidade, entre outros.
Assim, os artigos 9º e 10º do Código Civil/2002 determinam os fatos da vida que devem ir a registro público, são
eles: (i) nascimentos, casamentos e óbitos; (ii) emancipação por outorga dos pais ou pelo magistrado; (iii)
interdição por capacidade absoluta ou relativa; (iv) sentença declaratória de ausência e morte presumida; (v)
sentenças que decretarem a nulidade ou a anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial; (vi) atos
judiciais e extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação. É importante notar que não está no texto
legal, mas também é necessário possuir o registro público: a dissolução da união estável.
Em relação ao nascimento da pessoa, esta necessita possuir um nome, o qual será registrado em sua certidão de
nascimento, bem como o nome dos pais e dos avós. O nome é o que realmente expressa a personalidade jurídica,
sendo inalienável e imprescritível da individualidade de cada ser. Há, para variar, controvérsia sobre ser o nome
direito de personalidade ou direito patrimonial, prevalecendo a primeira ideia, pois o nome não possui valor
patrimonial.
Acompanhado do nome, existe o prenome e o cognome. O primeiro é o próprio nome e é de livre escolha dos pais
da pessoa, já o segundo não é de vontade dos pais, mas sim o nome de família, o conhecido sobrenome.
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E se a pessoa crescer e quiser alterar o seu nome, é possível? No Brasil, é muito difícil a pessoa conseguir alterar
o seu nome sem uma justificativa plausível, isto é, somente o fato de ela não gostar do nome não demonstra
motivo justificável para alterá-lo. O comum é a alteração do nome ou por existirem diversos homônimos ou por
expor a pessoa ao ridículo. Assim, é o caso de ajuizar ação de registro civil (processo judicial).
Por fim, quanto ao domicílio da pessoa natural, é indispensável que esta o tenha, já que é onde a pessoa reside
com ânimo efetivo, o que é determinado pelo artigo 70 do Código Civil/2002.
E se a pessoa natural tiver várias residências? Bom, será considerado domicílio qualquer uma delas.
E sobre a profissão da pessoa natural? É considerado seu domicílio profissional aquele onde ela exerce a sua
profissão. E se a pessoa natural tiver profissão em lugares diversos, qualquer um deles poderá ser considerado
domicílio. E se a pessoa natural não tiver residência habitual? Então, será considerado domicílio o lugar onde ela
for encontrada.
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3.3 Domicílio da pessoa jurídica
Já vimos acima sobre o domicílio das pessoas naturais. Agora, veremos o domicílio das pessoas jurídicas, que
são: (I) da União, o Distrito Federal; (II) dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; (III) do Município, o
lugar onde funcione a administração municipal; (IV) das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as
respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos
constitutivos.
E se a pessoa jurídica tiver diversos estabelecimentos em lugares distintos? Ora, cada um deles será considerado
domicílio para os atos praticados neles.
E se a pessoa jurídica tiver sede no estrangeiro, como fazer? Será considerado domicílio dessa pessoa jurídica o
lugar do estabelecimento situado no Brasil a que ela corresponder para honrar com suas obrigações.
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3.4 Classificação das pessoas jurídicas (direito privado e direito público)
A principal classificação das pessoas jurídicas é: pessoas jurídicas de Direito Privado e pessoas jurídicas de
Direito Público.
As pessoas jurídicas de Direito Privado são determinadas pelo artigo 44 do Código Civil/2002, são elas: (I)
associações; (II) sociedades; (III) fundações; (IV) organizações religiosas; (V) partidos políticos e (VI) empresas
individuais de responsabilidade limitada:
ASSOCIAÇÕES: visam fins não lucrativos, mas sim fins culturais, esportivos, beneficentes, por exemplo. Podem
ter viés econômico, desde que o lucro, se existente, seja utilizado para o cumprimento de seu objeto.
SOCIEDADES: objetivam fins lucrativos, os lucros serão partilhados entre os seus membros. São regidas pelo
Código Civil, com exceção da sociedade anônima, que tem regra própria.
FUNDAÇÕES: possuem acervo econômico para a realização de um determinado fim.
ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS E PARTIDOS POLÍTICOS: a criação e o funcionamento destes independem de
autorização ou reconhecimento estatal.
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: é a famosa EIRELI. É pessoa jurídica unipessoal,EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA
em que requer a plena integralização do capital e o valor deste não pode ser inferior a 100 vezes o maior salário
mínimo vigente no país. Diz-se limitada, pois o patrimônio do seu titular não deve responder por dívidas, salvo
se for caracterizada a má-fé.
4 Teorias sobre as pessoas jurídicas
Uma outra questão complexa na área do Direito, da qual também existem controvérsias, é sobre a natureza
jurídica da pessoa jurídica. Diante de tanta complexidade, foram instituídas teorias para designar tal natureza.
Vamos estudá-las?
4.1 Teoria da ficção
Savigny, jurista alemão, afirmou que personalidade jurídica é atributo próprio dos seres dotados de vontade, o
que a pessoa jurídica não possui, devendo ser considerada a sua personalidade jurídica como ficção jurídica.
Alguns críticos dessa teoria afirmam que não se trata de ficção jurídica, já que as pessoas jurídicas são entes que
possuemdeterminados fins e capacidade para realizá-los.
4.2 Teoria dos direitos sem sujeitos (finalidade)
Brinz acredita que a natureza jurídica da pessoa jurídica está focada em uma distinção de natureza patrimonial,
em que esta é dividida pela pessoal e pela impessoal (patrimônio afeto a um fim). Ele acredita que a de natureza
patrimonial pessoal pertence ao indivíduo, enquanto a de natureza patrimonial impessoal pertence a ninguém,
por isso o seu vínculo se foca na realização de um determinado fim, devendo ter proteção jurídica, que é o caso
da pessoa jurídica.
Essa teoria também tem críticos, os quais afirmam que algo não pode não pertencer a alguém, pois é impossível
existir direitos e deveres sem a concepção de um titular.
4.3 Teorias realistas
A teoria realista afirma que a pessoa jurídica não é ficção, mas sim realidade. Entre todas as teorias realistas, a
mais importante é a de Otto Gierke (teoria do organismo social), que entende que as pessoas jurídicas possuem
sim vontade própria, que é coincidente com a vontade dos indivíduos (pessoas naturais) que as comandam. A
outra teoria realista chamada de “teoria da realidade objetiva” acredita que a pessoa jurídica é real, pois mostra
semelhanças com a pessoa natural.
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E aí, qual a teoria que você acha mais correta depois de ter estudado sobre o tema? Pense um pouquinho, quem
sabe você não consegue formar até uma nova teoria? Bons estudos!
	Olá!
	1 Os sujeitos de direito
	2 Os sujeitos de direito e a personalidade jurídica
	3 As pessoas
	3.1 Capacidade de fato
	3.2 Nome, registro e domicílio civil
	3.3 Domicílio da pessoa jurídica
	3.4 Classificação das pessoas jurídicas (direito privado e direito público)
	4 Teorias sobre as pessoas jurídicas
	4.1 Teoria da ficção
	4.2 Teoria dos direitos sem sujeitos (finalidade)
	4.3 Teorias realistas

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