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Autora: Profa. Andréa da Silva Colaboradora: Profa. Angélica Carlini Fundamentos e Planejamento do Turismo Professora conteudista: Andréa da Silva Graduada em Turismo pela Faculdade Ibero-Americana de Letras e Ciências Humanas (1992) e especialista em Administração Hoteleira pela Faculdade Senac de Turismo e Hotelaria de São Paulo (2002). Possui mestrado em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi (2006) e curso de Guia Turístico pelo Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (2017). Desde 2011 é coordenadora auxiliar do curso de Turismo da UNIP e também professora de diversas disciplinas ligadas às áreas de Turismo, Hospitalidade, Eventos, Hotelaria e Lazer. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586f Silva, Andréa da. Fundamentos e Planejamento do Turismo / Andréa da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 108 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Conceitos. 2. Modalidades. 3. Órgãos integrantes. I. Título. CDU 380.8 U505.31 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Elaine Pires Sumário Fundamentos e Planejamento do Turismo APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 CONCEITOS, DEFINIÇÕES E EVOLUÇÃO DO TURISMO....................................................................... 11 1.1 Conceitos de turismo .......................................................................................................................... 11 1.2 Turismo e sua interação com outras disciplinas ...................................................................... 14 1.3 Os cinco pilares básicos do turismo .............................................................................................. 15 1.4 Visitantes, turistas e excursionistas .............................................................................................. 16 1.5 Antecedentes históricos do turismo ............................................................................................. 18 1.5.1 Primórdios e antigas civilizações ...................................................................................................... 18 1.5.2 Turismo na Antiguidade ....................................................................................................................... 19 1.5.3 Turismo na Idade Média ....................................................................................................................... 21 1.5.4 Turismo no Renascimento ................................................................................................................... 22 1.5.5 Revolução Industrial e turismo ......................................................................................................... 23 1.5.6 Do século XX à globalização ............................................................................................................... 24 1.5.7 Evolução do turismo no Brasil ........................................................................................................... 25 2 TURISMO: MODALIDADES, FORMAS E TIPOS ....................................................................................... 27 2.1 Atrativo turístico .................................................................................................................................. 27 2.2 Modalidades do turismo .................................................................................................................... 33 2.2.1 Turismo de elite ....................................................................................................................................... 34 2.2.2 Turismo de massa ................................................................................................................................... 35 2.3 Formas do turismo ............................................................................................................................... 36 2.4 Tipos de turismo ................................................................................................................................... 37 2.4.1 Turismo de lazer ...................................................................................................................................... 37 2.4.2 Turismo cultural....................................................................................................................................... 38 2.4.3 Turismo de negócios .............................................................................................................................. 38 2.4.4 Turismo de saúde .................................................................................................................................... 38 2.4.5 Turismo religioso ..................................................................................................................................... 38 2.5 Terminologia técnica do turismo ................................................................................................... 39 2.5.1 Glossário técnico ..................................................................................................................................... 39 2.5.2 Alfabeto fonético internacional........................................................................................................ 41 Unidade II 3 MERCADO TURÍSTICO E SEUS COMPONENTES ................................................................................... 44 3.1 Oferta turística ...................................................................................................................................... 44 3.1.1 Atrativos turísticos ................................................................................................................................. 45 3.1.2 Serviços turísticos ................................................................................................................................... 46 3.1.3 Serviços públicos ..................................................................................................................................... 47 3.1.4 Infraestrutura ........................................................................................................................................... 48 3.1.5 Gestão pública ......................................................................................................................................... 48 3.1.6 Oferta original (diferencial) e oferta técnica (agregada) ........................................................ 48 3.2 Demanda turística................................................................................................................................ 49 3.2.1 Divisão da demanda .............................................................................................................................. 50 3.2.2 Características da demanda ............................................................................................................... 51 3.2.3 Fatores que influenciam a demanda .............................................................................................. 52 4 MOTIVAÇÃO E TIPOS DE TURISTAS ........................................................................................................... 53 4.1 Motivação turística .............................................................................................................................. 53 4.1.1 Influência nas motivações turísticas e fatores determinantes ............................................ 55 4.1.2 Circunstâncias limitativas ................................................................................................................... 56 4.2 Classificação e tipos de turistas ..................................................................................................... 56 Unidade III 5 PRODUTOS E SERVIÇOS TURÍSTICOS ....................................................................................................... 61 5.1 Produto turístico .................................................................................................................................. 62 5.2 Cadeia produtiva do turismo ........................................................................................................... 64 5.3 Sistemas de turismo ............................................................................................................................ 67 5.3.1 Sistema de Leiper .................................................................................................................................... 68 5.3.2 Sistema de Boullón ................................................................................................................................ 69 5.3.3 Sistema de Molina .................................................................................................................................. 70 5.3.4 Sistur ............................................................................................................................................................ 71 6 CICLO DE VIDA E IMPACTOS DO TURISMO ........................................................................................... 72 6.1 Ciclo de vida do destino turístico .................................................................................................. 72 6.2 Impactos do turismo ........................................................................................................................... 74 6.2.1 Impactos econômicos ........................................................................................................................... 74 6.2.2 Impactos ambientais ............................................................................................................................. 75 6.2.3 Impactos socioculturais ....................................................................................................................... 76 6.3 Índice de irritabilidade ....................................................................................................................... 78 Unidade IV 7 PLANEJAMENTO PARA A SUSTENTABILIDADE DO TURISMO ......................................................... 84 7.1 Planejamento ......................................................................................................................................... 84 7.2 Sustentabilidade e turismo .............................................................................................................. 85 7.3 Planejamento turístico ....................................................................................................................... 87 7.3.1 Etapas do planejamento turístico .................................................................................................... 87 7.3.2 Inventário turístico ................................................................................................................................ 88 8 ÓRGÃOS INTEGRANTES DO TURISMO .................................................................................................... 89 8.1 Órgão oficial brasileiro ....................................................................................................................... 89 8.1.1 Embratur e organismos públicos regionais e locais .................................................................. 91 8.2 Organismos turísticos privados ...................................................................................................... 91 8.3 Órgãos internacionais e supranacionais ..................................................................................... 91 8.3.1 OMT .............................................................................................................................................................. 92 8.3.2 Conselho Mundial de Viagens e Turismo ...................................................................................... 92 8.4 Política Nacional de Turismo ........................................................................................................... 92 8.4.1 Programas do Ministério do Turismo.............................................................................................. 93 9 APRESENTAÇÃO O objetivo deste livro-texto é elaborar um estudo sobre o turismo com diversos enfoques. As áreas de turismo, hotelaria, lazer, eventos e gastronomia estão inseridas no eixo tecnológico de turismo, hospitalidade e lazer do catálogo nacional de cursos do MEC. Em todo o mundo, o turismo atrai o interesse de esferas públicas e privadas. Isso ocorre em virtude dos crescentes e positivos resultados econômicos advindos da atividade e do seu efeito multiplicador de desenvolvimento sociocultural. Segundo a Organização Mundial do Turismo, hoje o turismo é considerado um dos promotores mais poderosos de crescimento econômico e desenvolvimento global. No entanto, sua importância não se limita à esfera econômica; muito mais do que gerar renda, a atividade estimula a valorização das inter-relações socioculturais e fortalece a aceitação das diferenças entre os povos. A atividade turística é multifacetada, pois abrange várias áreas distintas: meios de transporte e de hospedagem, gastronomia, eventos, agenciamento de viagens, lazer e entretenimento etc. Todavia, para se desenvolver e atender às demandas de um crescimento sustentável, necessita de conhecimento e planejamento. Portanto, para atuar nessa área, deve-se buscar evoluir sempre, pois o turismo é um fenômeno que movimenta milhões, mas que depende muito de cada detalhe ofertado, de cada pessoa envolvida. Prepare sua mente para o conhecimento! INTRODUÇÃO A necessidade de deslocar é uma constante na história da humanidade, mas isso nem sempre foi considerado no turismo, pois as razões que levam as pessoas a viajar são diversificadas e complexas. Atualmente, o setor de viagens e turismo é considerado o maior e o mais diversificado do mundo. Muitos países dependem da atividade turística como principal fonte de renda, geradora de desenvolvimento socioeconômico. Para entender melhor o turismo, as unidades deste livro-texto foram elaboradas com eixos temáticos, que irão abordar cada aspecto do turismo e suas características específicas. Inicialmente, destaca-se o conceito de turismo, com suas principais definições e como vem se desenvolvendo ao longo do tempo. Faz-se uma breve apresentação da evolução da atividade turística no mundo até o contexto atual. Depois, são demonstrados os diversostipos e formas de classificação que podem ser empregados no turismo. Acentua-se, ainda, o glossário e o alfabeto fonético aplicado no turismo. 10 Em seguida, aborda o mercado turístico e seus principais componentes, a oferta e a demanda turística. São explicados todos os itens que formam a oferta turística. Todos os aspectos da demanda turística são distinguidos, apresentando-se um estudo sobre a motivação turística, que deu origem à classificação dos vários tipos de turistas. Posteriormente, ilustra os produtos e serviços turísticos, suas particularidades e complexidades. Trata do ciclo de vida do produto turístico, abordando a cadeia produtiva e os sistemas de turismo. Em seguida, ressalta-se a relevância dos impactos do turismo. Por fim, revela a importância do planejamento turístico para sua sustentabilidade. Posteriormente, são elencados os elementos vitais que compõem o Plano de Desenvolvimento Turístico. Indica-se a origem e a função dos órgãos oficiais integrantes do sistema turístico e sua relevância nos âmbitos local, regional, nacional e internacional. Por fim, apresenta-se a Política Nacional de Turismo. 11 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Unidade I 1 CONCEITOS, DEFINIÇÕES E EVOLUÇÃO DO TURISMO O ato de viajar acompanha a evolução da humanidade desde a Pré-História. Contudo, nem toda viagem pode ser considerada turística, existem deslocamentos pelos mais variados motivos, pois essa ação não implica necessariamente fazer turismo. Conforme Andrade (2002, p.18): [...] embora todas as viagens importem em deslocamento físico e espacial e revertam em gastos e lucros, o fenômeno turismo, em sua concepção pura, é um deslocamento realizado por prazer a locais que despertem algum tipo de interesse objetivo ou subjetivo. A palavra turismo foi introduzida na língua portuguesa no século XX, sendo uma adaptação do termo inglês tourism, que derivou da palavra francesa tourisme. Entretanto, sua origem é do latim tornare, que significa “giro” ou “círculo”. Assim, entende-se que fazer turismo é a ação de partir de um ponto e regressar, depois de um período, ao mesmo ponto de partida. O termo tour, no sentido de viagem a vários locais para recreação ou negócios, foi utilizado pela primeira vez em 1760, na Inglaterra, com o registro em The shorter Oxford english dictionary em 1950 (ANDRADE, 2002). Nesse contexto, verifica-se que o uso da palavra tour pelos ingleses antecedeu a aplicação da palavra tourisme por parte dos franceses, mas a forma e a estruturação do termo turismo são registradas como de origem francesa. 1.1 Conceitos de turismo Apesar de ser praticado desde a Antiguidade, o estudo do turismo de forma científica iniciou-se recentemente (em comparação a outras ciências). É considerado um fenômeno que está inserido nas ciências humanas. Observação Segundo o Dicionário Michaelis (2019), define-se fenômeno como: “fato ou evento que pode ser objeto da ciência, que pode ser descrito e explicado do ponto de vista científico”. 12 Unidade I O conceito de turismo evoluiu ao longo dos anos, e entre o final do século XIX e início do século XX irromperam definições de vários autores das mais diversas áreas do conhecimento. Isso decorre de sua complexidade, pois o turismo pode ser abordado em vários contextos. Contudo, a maioria desses conceitos não se firmaram, quer por fragilidade de embasamento, quer por falta de autoria respeitável (ANDRADE, 2002). Conforme Cooper et al. (2007), é difícil encontrar uma estrutura coerente na abordagem da definição de turismo. Com o intuito de atender às necessidades e situações específicas, algumas definições têm sido criadas. Figura 1 A primeira ciência a se interessar pelo fenômeno turístico foi a economia. Uma das conceituações mais antigas (1910) é a do economista austríaco Herman von Schullard, que compreende o turismo como: “[...] a soma das operações, especialmente as de natureza econômica, diretamente relacionadas com a entrada, permanência e o deslocamento de estrangeiros para dentro e para fora do país, cidade ou região” (IGNARRA, 2003, p. 12). Posteriormente, em 1929, surgiram as definições da Escola de Berlim (antigo nome do Centro de Pesquisas Turísticas da Faculdade de Economia da Universidade de Berlim). À época, destaca-se o conceito de Bormann, que afirma que o turismo é: [...] o conjunto de viagens que tem por objetivo o prazer ou motivos comerciais, profissionais ou outros análogos, durante os quais é temporária sua ausência da residência habitual. As viagens realizadas para locomover-se ao local de trabalho não se constituem em turismo (ANDRADE, 2002, p. 35). Já na década de 1940, Hunziker e Krapf evoluíram o conceito da Escola de Berlim, definindo o turismo como: [...] o conjunto das inter-relações e dos fenômenos que se produzem como consequências de viagens e das estadas de forasteiros, sempre que delas não resulte um assentamento permanente nem que eles se vinculem a algumas entidades produtivas (ANDRADE, 2002, p. 37). 13 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Na fase pós-Segunda Guerra Mundial, despontaram as primeiras conceituações de turismo, fazendo uma reflexão além do fator econômico. Naquele período, evidencia-se a definição de Mathiot: [...] turismo é o conjunto de princípios que regulam as viagens de prazer ou de utilidade, tanto no que diz respeito à ação pessoal dos viajantes ou turistas como no que se refere à ação daqueles que se ocupam em recebê-los e facilitam seus deslocamentos (ANDRADE, 2002, p. 38). Conforme o turismo foi evoluindo, nas décadas seguintes, autores contemporâneos foram ampliando suas definições, apresentando a complexidade da atividade turística e seu lado social e cultural, apesar de ser uma prática de forte apelo econômico. Segundo Oscar de La Torre: [...] o turismo é um fenômeno social, que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações de importância social, econômica e cultural (apud IGNARRA, 2003, p. 12). Em virtude de seu caráter técnico, hoje a definição de turismo mais utilizada é a da Organização Mundial de Turismo (OMT), uma vez que não há um conceito global que abranja todos os aspectos que envolvem essa atividade. O turismo compreende as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e estadas em lugares diferentes de seu entorno habitual, por um período consecutivo inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios entre outras (OMT, 2001, p. 38). Observação Para fins turísticos, a OMT (2001) considera o “entorno habitual de uma pessoa aquela área que circunda sua residência mais todos aqueles lugares que visita frequentemente”. Pautando-se na definição da OMT, Ignarra (2003) evidencia quatro aspectos importantes para o desenvolvimento do turismo: • Turista: busca diversas experiências; é o elemento mais importante, pois sem ele não existiria turismo. • Prestadores de serviços: querem obter lucro; proporcionam a condição de o turista usufruir do turismo. 14 Unidade I • Governo: considera o desenvolvimento do turismo como fator de riqueza. • Comunidade: visualiza oportunidades de emprego e intercâmbio cultural. Analisando as definições de turismo, verifica-se que o conceito pode ser abordado sob várias perspectivas, mas todas as acepções levam em consideração três elementos-chaves: a ocorrência de um deslocamento físico das pessoas, de caráter temporário; a motivação das pessoas para viajar; e o uso de equipamentos turísticos. Para uma viagem ser considerada turística, deve apresentar esses três elementos. 1.2 Turismo e sua interação com outras disciplinas O turismo é um fenômeno complexo possível de ser estudado e analisado sob múltiplos aspectos, utilizando métodos e técnicas de várias disciplinas relacionadasa ciências humanas, caracterizando-se como um fenômeno multidisciplinar. Figura 2 “Historicamente, a primeira ciência a estudar o fenômeno turístico foi a economia, seguida das ciências sociais (sociologia e antropologia) e da geografia” (BARRETO, 2004, p. 85). Algumas disciplinas aplicadas no estudo turístico são: • Economia: quantifica os efeitos econômicos do turismo, ou seja, os impactos da entrada do dinheiro dos turistas em determinada localidade. • Sociologia: interessa-se pelas interações que ocorrem entre visitantes e residentes e por manifestações das relações de poder, papéis etc. 15 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO • Antropologia: preocupa-se com os efeitos que a interação social provoca no comportamento das pessoas e as relações interpessoais em diferentes contextos. • Psicologia: emprega teorias psicossociais de motivação, personalidade e percepção, além de traçar o perfil psicográfico dos diferentes tipos de turistas. • Geografia: analisa fluxos, redes de transporte e entorno ambiental por meio da perspectiva do espaço. Também há contribuição de muitas outras disciplinas (administração, direito, história, comunicação etc.). Portanto, para compreender o fenômeno turístico, é preciso buscar o conhecimento interdisciplinar em várias áreas das ciências. Para Dencker (1998, p. 31), “o turismo não é uma disciplina, e sim um objeto de estudo pertencente a várias disciplinas”. 1.3 Os cinco pilares básicos do turismo Quando se pensa em turismo, o que vêm à mente são os meios de transportes, os meios de hospedagem e a gastronomia. Esses itens, somados às compras e à hospitalidade, formam os cinco pilares básicos do turismo (OLIVEIRA, 2001). Esses pilares exigem uma determinada organização, uma ferramenta e um tratamento específico; trata-se dos 5 Cs do turismo: caminho, cama, comida, compras e carinho. • Caminho: composto de todas as formas de acessos ao destino turístico, envolve o sistema de transporte (vias de acesso, os terminais e veículos), nas modalidades de transporte aéreo, rodoviário, ferroviário e hidroviário. • Cama: refere-se a todos os estabelecimentos que comercializam hospedagem, abrangendo toda a sua tipologia – dos modernos hotéis urbanos até os acampamentos mais simples. • Comida: relaciona-se à gastronomia e envolve todos os estabelecimentos que fornecem alimentação. Destaca-se a gastronomia típica, que hoje, em determinados destinos, se torna o próprio atrativo turístico, ou seja, as pessoas se deslocam para consumir o prato típico da região. • Compras: abrange todo o comércio de produtos que são comprados durante a viagem turística, pois raras são as vezes que alguém viaja e não traz uma recordação do local visitado. Existem pessoas que somente viajam para fazer compras. • Carinho: está relacionado à hospitalidade do destino turístico; o sucesso da atividade turística somente acontece por causa do acolhimento e do trato oferecido aos turistas, pois as pessoas não retornam a locais onde são mal-tratadas. 16 Unidade I Figura 3 – Mapa, voo, passagem, bagagem e passaporte 1.4 Visitantes, turistas e excursionistas Em sentido geral, o termo turista representa uma pessoa que viaja por prazer, mas para efeitos técnicos e estatísticos essa definição não abrange todas as necessidades do mercado turístico, que precisa diferenciar qualquer viajante dos turistas. Assim como a definição de turismo teve várias discussões ao longo do tempo por vários autores, o termo turista seguiu pelo mesmo caminho. Todavia, em 1954 a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou uma definição técnica para turista: [...] toda pessoa sem distinção de raça, sexo, língua e religião que ingresse no território de uma localidade diversa daquela em que tem residência habitual e nele permaneça pelo prazo mínimo de 24 horas e máximo de seis meses, no transcorrer de um período de 12 meses, com finalidade de turismo, recreio, esporte, saúde, motivos familiares, estudos, peregrinações religiosas ou negócios, mas sem proposta de imigração (IGNARRA, 2003, p. 14). Em 1963, devido a critérios estatísticos, a ONU substituiu o termo “turista” por “visitante”. Também se cria uma divisão do termo conforme o tempo de permanência no destino e a ocorrência ou não de pernoite, diferenciando, respectivamente, turistas e excursionistas. Portanto, “para propósitos estatísticos, o termo visitante descreve a pessoa que visita um país que não seja o de sua residência, por qualquer motivo, e que não venha a exercer ocupação remunerada” (ONU, 1963 apud IGNARRA, 2003, p. 14). Nesse contexto, os turistas são visitantes que permanecem por mais de 24 horas no local cuja motivação seja turística. Já os excursionistas são visitantes temporários que não pernoitam no destino turístico, ou seja, permanecendo menos do que 24 horas. 17 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Visitante Turista Excursionista Outros Viajante Figura 4 – Esquema de definições da ONU de 1963 Apesar de essas definições serem aceitas mundialmente, elas não atendiam ao turismo que é praticado internamente nos países (turismo doméstico). Portanto, em 1994 a OMT propôs a atualização das definições: • Viajante: qualquer pessoa que viaje entre dois ou mais países e entre duas ou mais localidades em seu país de residência habitual. • Visitante: toda a pessoa que se desloca a um local situado fora de seu ambiente habitual durante um período inferior a 12 meses consecutivos e cujo motivo principal da visita é outro que não seja o de exercer uma atividade remunerada no local visitado. • Turista: visitante que pernoita no destino, lá permanecendo por, no mínimo, 24 horas, usando qualquer tipo de hospedagem no local visitado. • Excursionista: visitante que não pernoita e não utiliza alojamento no local visitado, permanecendo menos de 24 horas. Os excursionistas são conhecidos ainda como “viajantes de um dia” (OMT, 2001). Nacionais residentes no exterior Não residentes no país (estrangeiros) Príncipais motivos das viagens turísticas Turistas Visitantes que pernoitam Visitantes Viajantes Outros viajantes Não incluídos em estatísticas de turismo Excursionistas Visitantes de um dia Tripulação de meios de transporte públicoNegócios e motivos profissionais Lazer, recreação e férias Visitas a parentes e amigos Educação e formação Saúde e cuidados médicos Religião e peregrinação Compras Trânsito Outros motivos Trabalhadores fronteiriços Trabalhadores sazonais Outros trabalhadores - curto prazo Passageiros em trânsito que não entram no território econômico e legal Imigrantes - pessoas que entram no país para fixar residência Estudante e pacientes a longo prazo e familiares que os acompanham Outros viajantes que não entram no teritório econômico: — diplomatas, pessoal consular, militares e seus dependentes — forças armadas em manobras Trabalhadores a longo prazo Nômades e refugiados Figura 5 – Esquema de definições da OMT de 1994 18 Unidade I As definições técnicas que foram atualizadas pela OMT em 1994 são adotadas até hoje, e consideram principalmente o tempo de permanência e o motivo da viagem, que deve ser turístico, excluindo o exercício de atividade remunerada no local visitado. 1.5 Antecedentes históricos do turismo Não há um consenso entre os pesquisadores sobre o início do turismo, cada qual destacando aspectos importantes segundo a sua ótica; alguns apontam para a Pré-História, outros para os gregos, outros para os fenícios ou os romanos. Entretanto, é vital destacar o crescimento desse fenômeno, cujas motivações foram se transformando em cada período histórico. Para compreender melhor a evolução do turismo, é preciso estudar alguns acontecimentos importantes da história da civilização ocidental e seus impactos nos deslocamentos humanos, caracterizando o que conhecemos como turismo. 1.5.1 Primórdios e antigas civilizações Na Pré-História, os deslocamentos aconteciam por necessidade de sobrevivência, quando os grupos humanos se movimentavamde um lugar para outro em busca de alimentos (frutas e caça). Vale ressaltar que esse tipo de deslocamento não pode ser considerado como turismo, pois não tem local de origem e destino definidos, indicando somente a necessidade de sobrevivência do homem. Figura 6 – Neandertal Com a evolução da humanidade, o desenvolvimento de novas ferramentas e novas técnicas de sobrevivência, o homem se fixa na terra, ou seja, começa a produzir o seu próprio sustento, e assim as viagens passam a ter novas conotações. 19 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO A invenção da roda pelos sumérios foi um marco importante de desenvolvimento dos transportes, possibilitando ao homem viajar transportando uma quantidade bem maior de produtos, utilizando engenhos que diminuíam a necessidade de esforços físicos (YASOSHIMA; OLIVEIRA apud REJOWSKI, 2002, p. 17). Durante o crescimento dos antigos impérios na África, na Ásia e no Oriente Médio, foram criadas as infraestruturas necessárias para as viagens, como a abertura de estradas de terra e canais de navegação. Então, foram desenvolvidos veículos para o transporte de carga e pessoas, as primeiras carroças e embarcações (OMT, 2003). 1.5.2 Turismo na Antiguidade Na antiguidade clássica, para o desenvolvimento do turismo, destacam-se Grécia e Roma. Nesses locais, houve melhoria da infraestrutura das cidades, incremento de novas tecnologias nos meios de transportes e até mesmo a motivação das viagens apresentava semelhança ao turismo praticado atualmente (OLIVEIRA, 2001). Observação A antiguidade clássica envolve um período da história da Europa que ocorre aproximadamente do século VIII a.C., quando surge a poesia grega de Homero, até a queda do Império Romano do ocidente, no século V d.C., mais precisamente no ano 476. Na Grécia, atribui-se o grande incremento das viagens a dois fatores: o sistema de troca de moedas, que substituiu a necessidade de os viajantes levarem mercadorias para trocar por bens ou serviços; a disseminação da língua grega por toda área do Mediterrâneo, facilitando a comunicação (OMT, 2003). Além da língua grega e sua moeda, o que contribuiu para o desenvolvimento das viagens na Grécia foi a localização de suas cidades, próximas à costa marítima. Por conta disso, difundiu-se o transporte marítimo, o que impulsionou as viagens e o comércio. À época, era comum os gregos viajarem para visitar os templos das divindades e fontes de águas minerais consideradas curativas, mas o grande destaque do turismo é a realização dos Jogos Olímpicos, os quais tinham caráter religioso, já que aconteciam em homenagem ao deus Zeus, na cidade de Olímpia, que desenvolveu os primeiros serviços voltados para receber os visitantes. 20 Unidade I Figura 7 – Colunas na cidade de Olímpia, Grécia “A cada quatro anos milhares de gregos, provenientes de todos os lugares conhecidos, convergiam para lá a fim de participar ou assistir aos jogos dedicados à honra de Zeus” (YASOSHIMA; OLIVEIRA apud REJOWSKI, 2002, p. 21). Durante o Império Romano, as viagens atingiram o seu ápice no período denominado pax romana (paz romana): dois séculos sem guerras, o que possibilitou aos viajantes transitar em vários territórios, sem cruzar com fronteiras hostis. Mill e Morrison (1992, p. 2 apud REJOWSKI, 2002, p. 23) citam cinco fatores para explicar o crescimento das viagens romanas: O controle de um vasto império estimulava o comércio, fazendo surgir uma classe média com recursos financeiros para viajar. As moedas romanas eram tudo o que os viajantes precisavam carregar para o financiamento de suas viagens. Os meios de transportes – estradas e roteiros aquáticos – eram excelentes. A comunicação era relativamente fácil, pois o grego e o latim eram as principais línguas faladas. O sistema legal propiciava proteção por parte dos governos estrangeiros, garantindo segurança para o viajante. Assim como os gregos, os romanos viajavam para lugares onde eram realizados eventos religiosos e atléticos; as pessoas mais abastadas viajavam à Grécia para visitar os monumentos gregos, e ao Egito, para visitar a Esfinge e as pirâmides. Os romanos menos abastados (designação para a classe média de hoje) costumavam fazer viagens regionais principalmente para locais à beira-mar, na época do verão. 21 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Destaca-se a construção de estradas durante o Império Romano, as quais formavam uma completa infraestrutura viária, e muito destas estradas, pontes e viadutos estão em perfeito estado de conservação até hoje. Figura 8 – Colunas e via do Império Romano Segundo La Torre (2002, p. 27), os romanos tinham dois tipos de estradas: [...] as pretorianas e as consulares. As pretorianas eram feitas com propósitos militares e controladas por pretores (chefes militares). Por outro lado, as estradas consulares eram destinadas ao uso geral, facilitando assim as comunicações no território romano; estas estradas, cuja finalidade era basicamente de caráter comercial, ficavam de responsabilidade dos cônsules que as construíam e mantinham. Lembrete Para compreender melhor a evolução do turismo, é preciso estudar alguns acontecimentos importantes da história da civilização ocidental e seus impactos nos deslocamentos humanos, caracterizando o que conhecemos hoje como turismo. 1.5.3 Turismo na Idade Média Com a queda do Império Romano (476 d.C.), as viagens diminuíram. Isso ocorreu pelos seguintes motivos: a qualidade das estradas foi declinando, o transporte marítimo era pouco utilizado, e as viagens se tornaram perigosas, não havia segurança, haja vista os constantes assaltos e assassinatos (OMT, 2003). Nesse período, a sociedade se fechou para defender o seu pedaço de terra, vivendo predominantemente da atividade agrícola; foram criados feudos (grande propriedade territorial que possuía sua organização 22 Unidade I econômica, política, social e cultural própria). Como os feudos eram autossuficientes, havia pouca necessidade de se deslocar. As viagens voltaram a crescer nessa época por conta do incentivo às peregrinações para visitar as várias edificações construídas pela Igreja Católica, como catedrais, igrejas, abadias, monastérios, mosteiros, entre outros. O aumento progressivo do fluxo das viagens surge com o forte incentivo que a Igreja procurava dar para as peregrinações; elas eram motivadas com a promessa de concessão de indulgências e graças espirituais. As abadias e mosteiros faziam a sua parte, acolhendo e alimentando os peregrinos. Os fiéis dispunham até de guias de viagens com a localização desses abrigos de fé. Como retribuição à hospitalidade cristã, as doações dos peregrinos eram bem aceitas (YASOSHIMA; OLIVEIRA apud REJOWSKI, 2002, p. 32). Naquele tempo, destaca-se a importância de viajar para Jerusalém para conhecer a Igreja do Santo Sepulcro, erigida em 326 d.C., e visitar Roma, a sede da Igreja Católica. Figura 9 – Igreja do Santo Sepulcro 1.5.4 Turismo no Renascimento O Renascimento é marcado como um período de grandes descobertas que impulsionaram as viagens, em especial as motivadas por estudo e novas experiências a locais mais longínquos e distintos. Esses aspectos motivaram: [...] a melhoria da produtividade da agricultura e o renascimento das cidades, a expansão do comércio e dos negócios, a exploração global e as descobertas europeias, o florescimento das artes e da literatura, e o começo da moderna ciência. Representou a quebra do domínio da religião e encorajou a satisfação pessoal e o desejo de explorar e de entender o mundo (INSKEEP, 1991, p. 4 apud REJOWSKI, 2002, p. 35). 23 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Esse período foi acentuado pela curiosidade, pelo desejo de explorar e descobrir, fazendo surgir as viagens motivadas para conhecimento e estudo. Na Inglaterra, a rainha Elizabete I autorizava que os futuros diplomatas concluíssem os estudos em viagens pela Europa em companhia de tutores. Essa prática foi bem aceita e adotada pelas ricas famíliasinglesas, que somente consideravam a formação dos nobres completa se tivessem passado três anos viajando pelo Europa com um tutor. Esse tipo de viagem foi chamada de grand tour (OMT, 2003). O roteiro do grand tour podia variar, mas tinha que incluir a visita a cidades consideradas importantes, como Roma, Florença, Nápoles e Veneza, em razão de seus sítios históricos, de sua arte, arquitetura e história. Devido à Revolução Francesa e às guerras napoleônicas, por volta de 1814, as viagens no continente europeu praticamente cessaram, marcando o fim do grand tour. Figura 10 – Vista aérea da cidade de Florença, Itália 1.5.5 Revolução Industrial e turismo A Revolução Industrial foi o período de grande desenvolvimento tecnológico. Iniciou-se na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e se espalhou pelo mundo, causando grandes transformações. Para o turismo, essas transformações foram a base do seu estabelecimento tal qual o conhecemos hoje. É resultado desse período o surgimento da classe trabalhadora nas fábricas e a criação dos direitos trabalhistas, entre eles, o direito às férias, permitindo a um grande número de pessoas tempo para se dedicar ao lazer e às viagens. Um dos fatos mais marcantes dessa época que alavancou o turismo foi o desenvolvimento do transporte ferroviário e da navegação, com a introdução do motor a vapor, que incentivou a criação dos transportes de massa, ampliando consideravelmente a capacidade de deslocamento de muitas pessoas. Tais fatores promoveram importantes avanços na sociedade e na economia (LA TORRE, 2002). 24 Unidade I Assim, com o aumento das viagens, cresceu a oferta de serviços relacionados ao turismo e surgiram os primeiros empreendedores nessa área, que criaram um novo tipo de empresa, as agências de viagens. Em 1840, Thomas Cook revolucionou o cenário do turismo. Ele criou vários serviços e conceitos de operação de viagens que vigoram até hoje, sendo considerado por muitos autores da área de turismo o fundador das agências de viagens e o pai do turismo moderno (REJOWSKI, 2002). Figura 11 – Thomas Cook 1.5.6 Do século XX à globalização No início do século XX, o crescimento do movimento turístico se intensificou, principalmente entre Europa e América do Norte; muitos países perceberam o poder econômico da atividade turística e desenvolveram políticas para atrair cada vez mais turistas, tornando o turismo um mercado bastante competitivo. Contudo, esse fluxo crescente estagnou por causa das duas Guerras Mundiais, as quais interferiram diretamente na estrutura política e econômica do mundo (OMT, 2003). A retomada do turismo de massa aconteceu no período pós-Segunda Guerra (1950), em especial pela introdução das viagens aéreas, em razão do advento do avião, mas foi novamente interrompido com a crise mundial do petróleo (1973), pois os custos das viagens internacionais aumentaram de modo considerável. Entre as décadas de 1980 e 1990, a crise do capitalismo e a recessão econômica inibiram o crescimento do fluxo turístico. Apesar desses períodos de turbulência, o turismo voltou a crescer devido à descoberta de novas tecnologias, que foram agregadas a vários setores da economia. 25 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO No início do século XXI, havia opções variadas de destinos turísticos ao redor do mundo, das mais simples às mais sofisticadas, atendendo a todos os públicos. Então, os conceitos de sustentabilidade chegaram à área do turismo, que é impactado pela globalização; muitos destinos são descaracterizados e a atividade turística é criticada pela sua ação predatória. Entretanto, a globalização também trouxe a discussão de questões culturais regionais, e o setor soube trabalhar bem os destinos, mantendo o equilíbrio entre a sustentabilidade e a força da globalização (REJOWSKI, 2002). Em 2001, os atentados terroristas de Nova York acabaram por alterar a forma de viajar. Foram implantados aparatos de segurança nos grandes centros turísticos, o controle no setor alfandegário e de imigração ficou mais rígido. Entretanto, apesar dessas medidas, o turismo continua a crescer até hoje. 1.5.7 Evolução do turismo no Brasil No Brasil, os deslocamentos externos durante o período colonial se restringiram ao movimento dos portugueses, indo e vindo, no trajeto Portugal-Brasil. O deslocamento interno ficou por conta do transporte da produção de açúcar, ouro, café, algodão, entre outros, e pelos mascates que iam de fazenda em fazenda oferecer seus artigos. “Neste período, as viagens pelo país só ocorriam em função da necessidade de expansão para novos territórios, da busca de riquezas e dos gêneros de primeira necessidade” (SOLHA, 2002 apud REJOWSKI, 2002, p. 119). Naquele tempo, não havia no Brasil o que se pode considerar como turismo, pois as estruturas eram muito simples, adequadas apenas para a monocultura de exportação. Após a vinda da família real para a cidade do Rio de Janeiro (1808), o Brasil assumiu o importante título de sede do Reino, e a partir de então todos que mantinham negócios com a realeza se deslocavam para a antiga colônia, nova sede do reino português. No início do século XIX, a Corte Portuguesa transfere-se para o Brasil e com isso há um grande desenvolvimento urbano, notadamente no Rio de Janeiro. Cresce a demanda por hospedagem na cidade em razão da visita de diplomatas e comerciantes, iniciando-se, assim, a hotelaria brasileira (IGNARRA, 2003, p. 7). Com a proclamação da Independência (1822) e da República (1889), o Brasil investe em sua organização econômica, porém o turismo não faz parte das prioridades do país. Na década de 1920, o governo teve a primeira iniciativa de alavancar o turismo como atividade econômica. Foi criado o Touring Club do Brasil, que se encarregou de promover o setor, expondo o país em eventos internacionais. 26 Unidade I Entre 1930 a 1945, o jogo em cassinos era o principal motivador das viagens ao Rio de Janeiro, a Minas Gerais e a São Paulo. Entretanto, os grandes hotéis que possuíam cassinos faliram em 1946, quando o jogo foi proibido. Com o advento do regime militar, o país passou por muitas mudanças nas décadas de 1960 e 1970. O Brasil chamou a atenção do mundo, e em 1966 o governo criou a Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) com a finalidade de estruturar politicamente o setor e sistematizar a divulgação do país como destino turístico. Figura 12 – Rio de Janeiro Entre 1970 e 1989, diminuiu o movimento de turistas pelo Brasil. As viagens dentro e fora do país eram para poucos, não eram acessíveis para a maioria dos brasileiros, viajar era muito caro; ademais, a inflação desvalorizava a moeda nacional e incentivava as viagens ao exterior. Na década de 1990, houve abertura para o mercado internacional, incentivando o comércio e a vinda de redes hoteleiras para as principais capitais brasileiras, o que estimulou o turismo de eventos e negócios. Os primeiros anos da década foram de grandes esperanças e decepções, muitas mudanças na política, um novo governo e com ele novos planos de estabilização econômica. Entre as prioridades do governo aparecia o turismo. Em 1992 foram estabelecidas as diretrizes para a Política Nacional de Turismo (SOLHA, 2002 apud REJOWSKI, 2002, p. 149). A instauração do Ministério do Turismo em 2003 e a criação de programa de desenvolvimento do turismo estimularam o crescimento da atividade no país. Com a realização de dois megaeventos no país, Copa do Mundo (2014) e dos Jogos Olímpicos (2016), houve melhoria da infraestrutura e a divulgação do Brasil no exterior, incrementando o crescimento do turismo no país. 27 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Saiba mais Destacam-se dois livros para o aprofundamento da história e evolução do turismo: BARBOSA, Y. M. História das viagens e do turismo. São Paulo: Aleph, 2002. REJOWSKI, M. (org.). Turismo no percurso do tempo. São Paulo: Aleph, 2002. 2 TURISMO: MODALIDADES, FORMAS E TIPOS No intuito de possibilitar a quantificação do turismo paraefeito de comparação do setor em termos estatísticos, houve a necessidade de elaborar classificações que ajudassem a compreender suas diferentes características. Assim, abordaremos inicialmente o instrumento vital do turismo, o atrativo, e depois serão expostas as suas principais classificações. 2.1 Atrativo turístico É em virtude do atrativo que as pessoas se deslocam para conhecer determinadas localidades turísticas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR, 1984), “atrativo turístico é todo lugar, objeto ou acontecimento de interesse para o turismo, motivando, assim, o deslocamento humano”. Figura 13 – Pontos turísticos O atrativo turístico é formado pela divisão de dois grandes grupos de recursos: o natural e o cultural. Os naturais são formados pelas diversas paisagens, incluindo sua biodiversidade, suas formações geológicas e corpos d’água. Os culturais são formados pelos bens materiais que foram construídos para atrair os turistas, como museus, teatros, parques, entre outros. Também se destacam os bens materiais 28 Unidade I que não foram construídos com a intenção de atrair público, porém acabam exercendo essa função, como é o caso de igrejas e monumentos. Já os bens imateriais são representados pelas manifestações, os usos e costumes de um povo, como as festas, as celebrações e o artesanato. De modo geral, pode-se dizer que atrativo é aquilo que é interessante ou que desperta atenção, portanto, uma atração ou atrativo turístico é composto de recurso natural ou cultural que sofreu intervenção humana para ter a capacidade de atrair os turistas; quando não ocorre essa intervenção, trata-se somente de um recurso turístico ou atrativo potencial, pois “os recursos em sua forma original não são mais que a matéria-prima dos futuros atrativos” (OMT, 2001, p. 121). Por exemplo, uma cachoeira ou um monumento histórico por si só não irá se constituir em um atrativo, será apenas um recurso. Para haver a caracterização de atrativo, é preciso haver infraestrutura e gestão adequada para receber os turistas. É difícil definir atrativo turístico, pois sua classificação é muito próxima de produto turístico, e no entendimento de alguns economistas não existem diferenças, considerando o atrativo turístico um recurso que foi formatado em negócio que irá atender às necessidades dos turistas (COOPER et al. 2007). Os atrativos exercem apelo para receberem visitantes; alguns têm mais atratividade que outros. Há exemplos de pontos que, sozinhos, recebem visitantes de todas as partes do mundo, como as Cataratas de Foz do Iguaçu/PR; já outros podem ter o seu apelo somente local ou regional, muitas vezes complementando as destinações turísticas, como a Cachoeira dos Pretos, em Joanópolis/SP. Figura 14 – Cataratas de Foz do Iguaçu/PR Portanto, para avaliar o atrativo e determinar o seu grau de atratividade, utilizam-se alguns critérios técnicos; o modelo mais conhecido e aplicado é o de hierarquização, feito pelo Centro Interamericano de Capacitação Turística (Cicatur), que propõe os seguintes critérios: 29 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Quadro 1 – Modelo de hierarquização de atrativo do Cicatur Hierarquia 3 Atração altamente significativa e capaz, por si só, de motivar uma importante corrente de turistas internacionais ou nacionais Hierarquia 2 Atração com alguns aspectos excepcionais, capaz de, por si só, ou em conjunto com outras atrações, motivar determinado fluxo turístico Hierarquia 1 Atração com alguns aspectos chamativos, capaz de interessar turistas que vieram por outras motivações, ou capaz de motivar correntes turísticas locais/regionais Hierarquia 0 Atração sem qualidades para atrair fluxos de turistas, mas que faz parte do patrimônio turístico, pois complementa as atrações Além da hierarquização dos atrativos turísticos, existe a classificação dos atrativos turísticos em categorias; atualmente, a mais utilizada é a do Ministério do Turismo, que os divide em naturais e culturais: Quadro 2 – Atrativos naturais Relevo continental Montanha; serra; monte/morro/colina; pico/cume; chapada; tabuleiro; patamar; matacão; vale; planalto; planície; depressão; outros Zona costeira Restinga; duna; barreira; praia; mangue; estuário; falésia; baía/enseada/saco; península/cabo/ponta; recife/atol; ilha; arquipélago; barra Relevo cárstico Caverna; gruta; furna; dolina Hidrografia Rio; riacho; córrego; arroio; lago/lagoa/laguna; alagado; fonte Unidades de conservação e similares Área de proteção ambiental; área de relevante interesse ecológico; estação ecológica; floresta; monumento natural; parque refúgio de vida silvestre; reserva biológica; reserva extrativista; reserva de desenvolvimento sustentável; reserva de fauna; reserva particular do patrimônio natural; zoológico; jardim botânico Adaptado de: Brasil (2015). Figura 15 – Cavernas em Algarve, Portugal 30 Unidade I Quadro 3 – Atrativos culturais Conjunto arquitetônico Urbano; rural; industrial; ferroviário Comunidades tradicionais Quilombola; indígena; ribeirinha; de imigração; extrativista Sítios arqueológicos Lítico; cerâmico; lítico-cerâmico; estrutura de pedra; estrutura de terra; arte rupestre; sambaqui Sítios paleontológicos Floresta fóssil; restos fósseis ou em processo de fossilização; moldes/rastros/pegadas Itinerários culturais Histórico; religioso/espiritual; relacionado a lendas/mitos/ narrativas associadas; relacionado a fatos históricos Parques históricos Arqueológico; geoparque; histórico Lugares de manifestações de fé Romaria e procissão; culto/encontro para manifestação de fé; referencial para mitos e narrativas de fé; visitação de cunho religioso Lugares de referências à memória Acontecimento histórico; referencial para narrativa mítica; ritual e celebração Arquitetura civil Casa/casarão/sobrado/solar; casa de comércio; educandário/colégio/escola; liceu; universidade; coreto; palácio/palacete; chalé; chafariz/fonte/bica; hospital; orfanato/creche; asilo; quinta Arquitetura oficial Casa de câmara e cadeia; paço municipal; cadeia; casa de intendência; casa de fundição; casa de alfândega; fórum/tribunal; residência oficial; sede do Poder Executivo/Legislativo/Judiciário Arquitetura militar Bateria; baluarte; bastião; fortim; forte; fortaleza; quartel; colégio; vila militar Arquitetura religiosa Igreja basílica; catedral; sé; santuário; capela; ermida; abadia; oratório; casa paroquial; casa capitular; casa da providência; palácio arquiepiscopal; mosteiro; seminário; convento Arquitetura industrial/ agrícola Engenho; moinho/usina; celeiro; alambique/vinícola; fábrica; casa de operários; fazenda; senzala; casa de chácara/sítio/fazenda/engenho Arquitetura funerária Panteão; mausoléu; cruzeiro; túmulo; memorial; cemitério Marcos históricos Divisão territorial; referência à história; relativos a festas e rituais Obras de infraestrutura Viaduto/ponte; caixa-d’água; aqueduto; trapiche/píer; marina; porto; quebra-mar/molhe; barragem/represa; farol; estrutura ferroviária; estrutura rodoviária; estrutura aeroportuária; rotunda; elevador/funicular; viaduto; torre Obras de interesse artístico Bens integrados à edificação; bens integrados à paisagem ou ao espaço urbano Gastronomia típica e preparação de alimentos Receitas típicas e tradicionais; técnicas de produção e processamento de alimentos Artesanato/trabalhos manuais Cerâmica; escultura; bordado; cestaria; mosaico; tricô/crochê; entalhe; renda; fotografia; tecelagem; papel machê; macramê; plumária; bijuteria; dobradura; marcenaria/marchetaria; gravura; pátina e texturização; cartonagem; pintura; decupagem; topiaria/arranjos florais Atividades tradicionais de trabalho Agricultor; pescador; seringueiro; garimpeiro; quebrador de coco; fotógrafo lambe-lambe; carpinteiro; peão Formas de expressão Música; dança; literária/oral; cênica/performática Feiras/mercados de caráter cultural Ruínas Museu/memorial Biblioteca Centros culturais/casas de cultura/galerias Teatros/anfiteatrosCineclubes Personalidades Adaptado de: Brasil (2015). 31 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Figura 16 – Festa junina no nordeste brasileiro O Ministério do Turismo ainda traz outras classificações: Quadro 4 – Atividades econômicas Extrativista Mineral, vegetal e animal Agropecuária Agricultura; pecuária; aquicultura; silvicultura Comercial Atacadista; varejista Industrial Petrolífera; automobilística; têxtil; alimentícia; coureira; joalheira; madeireira; ceramista Tecnológica Adaptado de: Brasil (2015). Figura 17 – Produção de cerâmica 32 Unidade I Quadro 5 – Realizações técnicas e científicas contemporâneas Usinas e outras estruturas de geração de energia (hidrelétrica; termoelétrica; nuclear; eólica; solar) Parque tecnológico Centro de pesquisa Barragem/eclusa/açude Planetário Aquário Viveiro Adaptado de: Brasil (2015). Figura 18 – Usina de Itaipu Quadro 6 – Eventos Feiras/exposições Congressos Convenções Festivais/shows Seminários Oficinas/workshops Competições Desfiles/passeatas Encontros temáticos Festas/celebrações (religiosas/manifestações de fé; populares/folclóricas; referentes ao trabalho ou ciclo produtivo; festas cívicas) Adaptado de: Brasil (2015). 33 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Figura 19 – Queima de fogos no ano-novo Lembrete De acordo com o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR, 1984), “atrativo turístico é todo lugar, objeto ou acontecimento de interesse para o turismo, motivando, assim, o deslocamento humano”. 2.2 Modalidades do turismo O turismo pode ser classificado de acordo com a amplitude das viagens ou conforme a direção do fluxo das viagens. Baseando-se em Andrade (2002), apresentam-se as seguintes modalidades de turismo: • Turismo interno/doméstico: conjunto de atividades turísticas na qual os habitantes de determinado país viajam, se hospedam e usufruem de serviços específicos, sem deixar o território nacional. • Turismo externo: conjunto de atividades turísticas exercidas por cidadãos que viajam além do território do país de sua residência em direção a um ou mais países receptivos. • Turismo receptivo: lugar(es) que acolhe(m) os visitantes. • Turismo intermediário: lugar(es) que se situa(m) entre os polos emissores e receptores de importância. As estadas de curta direção, necessárias ou não, incentivam a utilização de bens e serviços, de forma lucrativa, em cidades ou regiões que, pela programação de viagens ou por falta de atrativos específicos, dificilmente poderiam ser consideradas como polos de interesse. • Turismo quantitativo: o fluxo turístico é observado a partir da quantidade de turistas que compõem um fluxo. Dá base ao turismo de elite e ao de massa. 34 Unidade I Figura 20 – Turistas na praia Segundo o Ministério do Turismo, fluxo turístico [é] todo e qualquer deslocamento de um conjunto de turistas que se movimenta de uma direção a outra, unidirecionalmente, num contexto espaço-temporal delimitado, com um ponto comum de emissão e um ou vários pontos de recepção (BRASIL, [s.d.]). 2.2.1 Turismo de elite O turismo de elite se caracteriza pelo maior conforto das programações e dos serviços e pela seletividade decorrente das motivações de viagens ou do poder econômico, que levam a gastos maiores e propiciam maior seleção de alternativas ou opções, de acordo com a vontade e a determinação do turista, e não conforme as discriminações dos pacotes. São características do turismo de elite: • delegar às agências de viagens plenos poderes para a organização de roteiros; • preferir viagens a países estrangeiros; • demonstrar indiferença quanto ao gasto; • optar por receptivos de natureza cosmopolita ou de caráter exótico; • preferir permanência prolongada quando em receptivos famosos; • apreciar extensos trajetos, a fim de ver tudo o que gostam e a que têm direito; • preferir os meios de transporte mais cômodos e seletivos, sem preocupação com custos; 35 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO • optar pela ocupação de hotéis mais afamados e luxuosos, desde que seus restaurantes sirvam cardápios típicos e da cozinha internacional; • apreciar a divulgação de seus nomes através dos meios de comunicação; • considerar supérfluos todos os gastos que não lhes propiciem algum retorno compensador. Figura 21 – Bangalôs em Bora Bora, Tahiti 2.2.2 Turismo de massa O turismo de massa se desenvolve através dos representantes das classes médias assalariadas e de empresários de médio e pequeno portes. Efetua-se em programações individuais e grupais ou por meio da aquisição de programas e pacotes de viagens de bom nível, que oferecem conforto razoável e dispensam excessivos gastos com aquisição de bens e serviços supérfluos. Vejamos seus principais aspectos: • utilizam a agência de viagem para aquisição do programa ou pacote; • preferem o turismo interno por questão de poder aquisitivo e por dificuldade de conseguir tempo para viajar; • gastam apenas o necessário; • demonstram preferências por locais conhecidos; • costumam viajar, durante as férias escolares, a fim de manter a família reunida o maior tempo possível; • decidem a duração da programação e da extensão da viagem levados pela análise dos custos; • optam por viajar em transportes coletivos; 36 Unidade I • hospedam-se em hotéis confortáveis, que ofereçam comida boa, farta e a preços razoáveis, e não ostentam luxo nem serviços supérfluos. Figura 22 – Transporte de turistas Observação As localidades turísticas que recebem o turista de massa sofrem mais impactos do que as que recebem o turismo de elite, pois o fluxo de turistas é constante. Geralmente, o contato com a comunidade local também é diferenciado: o turista de massa mantém um contato comercial, já o turista de elite gosta de vivenciar a cultura nativa. 2.3 Formas do turismo As formas como os turistas praticam as viagens podem ser divididas de acordo com sua organização (ANDRADE, 2002): • Turismo individual/particular: conjunto de atividades necessárias ao planejamento e à execução de viagens, sem a ajuda de agência de viagens ou de qualquer outra empresa de natureza turística. • Turismo organizado: conjunto de atividades turísticas programado, administrado e executado por agências de viagens, associações, clubes etc. • Turismo social: forma especial de viagem, hospedagem, alimentação, serviços e lazer; organizada para pessoas de camadas sociais cujas rendas não lhes permitiriam a programação (utilização de colônias de férias, albergues). • Turismo intensivo: conjunto de programações turísticas em que as pessoas permanecem baseadas ou hospedadas em um receptivo único, ainda que efetuem excursões e passeios a outros lugares. 37 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO • Turismo extensivo: hospedagem e o conjunto de atividades em um mesmo núcleo, com a duração de pelo menos três semanas. • Turismo itinerante: quando a programação turística se compõe de visitas ao maior número possível de núcleos receptivos, em uma viagem única, com estada curta em cada um dos locais visitados. 2.4 Tipos de turismo Os vários tipos de turismo existentes decorrem das motivações do turista, segundo Andrade (2002, p. 60): [...] as diversas motivações de viagens e, consequentemente, os diversos tipos de turismo existem por causa da diversidade de modos de educação, da desigualdade de níveis pessoais, grupais e do próprio poder aquisitivo, além da diversificação etária, das oportunidades e das necessidades atendíveis. 2.4.1 Turismo de lazer Exercido por pessoas que viajam por prazer, desejam conhecer novos locais, mudar de ambiente, descansar, rever amigos, visitar parentes, curtir a paisagem ou sair em férias com a família. É o tipo de turismo que pode ser praticado em qualquer lugar. Apresenta quatro subtipos: • Turismo balneário: composto de praias, rios, lagos, nascentes e até mesmo as piscinas artificiais. • Termalismo: excelente meio de tratamento de saúde (utilização das águas). • Turismo montanhês: atividades turísticasque têm como atrativo as montanhas. • Turismo de repouso: afastamento de seu trabalho e de sua residência a fim de descansar. Figura 23 – Pôr do sol em Campos do Jordão/SP 38 Unidade I 2.4.2 Turismo cultural É praticado por pessoas com o interesse de conhecer a cultura de outra localidade: monumentos, modo de vida, folclore e todas as manifestações artísticas e científicas decorrentes da criatividade humana. Apresenta dois subtipos: • Turismo científico: o interesse ou a necessidade de realização de estudos e pesquisas é o elemento motivador. • Turismo de congresso/convenções: conjunto de atividades exercidas pelas pessoas que viajam a fim de participar de congresso, convenções, simpósios, seminários, reuniões, ciclos, sínodos (assembleia de párocos convocada pelo bispo local), concílios (assembleia de católicos) etc. Figura 24 – Mercado flutuante, Índia 2.4.3 Turismo de negócios Representa o conjunto de atividades de viagem, hospedagem, alimentação e de lazer realizadas a negócios. Esse tipo de turismo é feito tanto na esfera comercial como na industrial; é exercido para conhecer mercados, estabelecer contatos, firmar convênios, treinar novas tecnologias, vender ou comprar bens ou serviços. 2.4.4 Turismo de saúde Praticado por pessoas que necessitam de tratamentos de saúde e estética e, por isso, procuram locais onde existam clínicas e serviços médicos especializados. 2.4.5 Turismo religioso É exercido por pessoas interessadas em visitar locais sagrados, que expressam sentimentos místicos ou suscitam a fé. Nessa modalidade, é vital ter atenção com algumas especificidades técnicas, que classificam algumas atividades, como: 39 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO • Romaria: por livre disposição e sem pretender recompensas materiais ou espirituais. • Peregrinação: visita a lugares sagrados para cumprir promessas ou votos anteriormente feitos a divindades ou a espíritos. • Viagem de penitência/reparação: quando alguém, empenhado em remir-se de suas culpas ou de seus pecados, seja de forma livre e espontânea, seja por conselho, se dirige a lugares sagrados. Figura 25 – Basílica Nossa Senhora Aparecida/SP 2.5 Terminologia técnica do turismo É um conjunto de expressões mundialmente usadas para identificar formulários e procedimentos ligados ao turismo aéreo, rodoviário, à hotelaria e aos sistemas de alimentação. O uso da terminologia é necessário para a atuação do profissional em turismo, pois é através dela que são estabelecidas as comunicações em nível profissional. Muitos dos termos que serão apresentados a seguir são baseados na língua inglesa. 2.5.1 Glossário técnico Serão destacados alguns termos e abreviações que são aplicados no dia a dia da atividade turística. Não há o intuito de restringir esses termos, até porque a linguagem é dinâmica e sempre surgem novas expressões para serem usadas na comunicação. 40 Unidade I Quadro 7 Boarding pass (cartão de embarque) Documento na forma de bilhete que permite o embarque das pessoas demarcadas no meio de transporte contratado Check-in Ato de apresentar à empresa transportadora, aos serviços turísticos em geral, se credenciando ou apresentando documentos para receber os serviços a que tem direito Check-out Saída do hotel Early check-in Apresentação antecipada; pode ou não ser cobrado Late check-out Saída do hotel após o término do horário da diária; pode ou não ser cobrado Charter Fretamento parcial ou integral de uma aeronave por uma empresa operadora de turismo para realizar um determinado trajeto Escala Parada intermediária entre o ponto de origem e de destino Conexão Parada intermediária entre o ponto de origem e de destino com troca de equipamento No show Não comparecimento da pessoa à companhia de transporte ou de turismo na data reservada para receber os serviços contratados Passaporte Documento de identificação que possui os dados pessoais do portador e é utilizado nas viagens ao exterior PAX Passageiro Ticket/TKT Bilhete ou passagem E-ticket Abreviatura de eletronic ticket. O viajante informa um código recebido previamente, apresenta uma identificação e recebe o cartão de embarque Voucher Documento de crédito que especifica os serviços que vão ser oferecidos. Exemplo: hospedagem, city-tour, traslado, locação de auto etc. Visto Selo ou carimbo oficial que permite ou não a entrada no país estrangeiro City tour Um passeio mostrando os principais pontos turísticos de uma cidade com parada determinada Opcional Serviço não incluído no pagamento original Traslado Serviço oferecido por agências de viagens receptivas para o deslocamento entre hotel/aeroporto/hotel e nos passeios locais Adulto (ADT) Pessoa acima dos 12 anos Criança (CHD) Criança de 2 a 12 anos incompletos Infantil (INF) Criança de 0 a 2 anos incompletos Single/solteiro (SGL) Apartamento ocupado por uma pessoa Double/duplo (DBL) Apartamento utilizado por duas pessoas (casal) Triplo (TPL) Apartamento ocupado por três pessoas Twin Apartamento com duas camas de solteiro Rooming list Mapa de distribuição de hóspedes/quartos dentro de um hotel (HTL) Overbooking Vender mais unidades ou assentos do que a capacidade Localizador (LOC) Código alfanumérico identificador de reservas aéreas Full American Plan (FAP – pensão completa) Regime em que estão incluídas todas as refeições (café, almoço e jantar) Modify American Plan (MAP – meia pensão) Duas refeições (café da manhã + almoço ou café da manhã e jantar) Lay-over Acomodação de passageiros prejudicados por companhia aérea em hotel Surface Interrupção do trecho aéreo para ser feito por terra 41 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO Saiba mais Para saber mais a respeito de termos e expressões comuns no glossário de turismo, acesse: BRASIL. Ministério do Turismo. Dados e fatos. Brasília: MTur, [s.d.]. Disponível em: http://www.dadosefatos.turismo.gov.br/gloss%C3%A1rio-do-turismo/67-outros/ gloss%C3%A1rio-do-turismo/887-f.html. Acesso em: 13 ago. 2019. 2.5.2 Alfabeto fonético internacional O alfabeto fonético foi criado, a princípio, como elemento de segurança para limitar o acesso às informações sobre transporte aéreo apenas aos profissionais da área. Depois, ele serviu para padronizar e facilitar a comunicação entre os profissionais de todos os países, envolvendo as diversas áreas ligadas ao sistema turístico internacional. Quadro 8 – Alfabeto fonético internacional A – Alfa H – Hotel O – Oscar V – Vitor B – Bravo I – Indian P – Papa W – Whisky C – Charlie J – Juliete Q – Quebec X – Xadrez D – Delta K – Kilometer R – Romeu Y – Yankee E – Eco L – Lima S – Sierra Z – Zulu F – Fox M – Mike T – Tango G – Golf N – November U – Uniform Resumo Nesta unidade, acentuamos os principais conceitos e definições do turismo, demonstrando a complexidade de criar um conceito único para o turismo. Para entender o ator principal da atividade turística, foram explicados os conceitos de visitante, turista e excursionista. Ao estabelecer a evolução do turismo, através de seus antecedentes históricos, verificou-se que o turismo como compreendemos hoje somente se iniciou a partir da Revolução Industrial, com a redução da jornada de trabalho e a criação das férias remuneradas, o que deu início ao turismo de massa. No Brasil, a evolução do turismo é recente se comparada à mundial, por isso foram apresentados os dados mais marcantes desse processo. 42 Unidade I Para melhor compreender a complexidade do turismo, foram abordadas as suas características quanto a modalidades, classificações e tipologia, trazendo um quadro explicativo sobre o atrativo turístico, considerado sua matéria-prima. Finalmente, ressaltou-se a importância da terminologia do turismo e do alfabeto fonético internacional, destacando-se algumas definições para os termos mais comuns da área. Exercícios Questão 1. Você e seus colegas de curso precisam organizar uma pesquisa solicitada por um professor do curso de Turismo. Essa pesquisa consiste em mensurar quantos turistase/ou excursionistas visitaram determinada cidade em um feriado. Uma família, ao responder as perguntas formuladas pelo grupo, afirma que não está ali em caráter turístico, porque todos viajaram para realizar atividade religiosa naquela cidade, que possui uma igreja em homenagem a um santo do qual eles são devotos. O patriarca da família insiste que eles “não estão ali para passear”, e sim para exercer sua prática religiosa e por isso não são turistas. De fato, a cidade não é um polo de turismo religioso como Aparecida do Norte, em São Paulo, ou como Juazeiro do Norte, ou, ainda, como Belém, no Círio de Nazaré. Contudo, existe essa igreja que é bastante frequentada. Para você e seus colegas, os indivíduos dessa família: A) Não podem ser classificados como turistas, porque a cidade não é um polo de turismo religioso. B) Não podem ser classificados como turistas, porque a fé é algo individual e personalíssimo, que não comporta classificações. C) São turistas, porque certamente vão aproveitar para fazer compras no local. D) São excursionistas, porque não são moradores do local e eles estão lá para visitar uma igreja específica e cumprir uma finalidade religiosa. E) Não devem ser inseridos na pesquisa, porque não são turistas nem excursionistas. Resposta correta: alternativa D. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: o fato de a cidade não ser identificada como um polo turístico não impede que as pessoas que a frequentem sejam classificadas como turistas ou excursionistas. 43 FUNDAMENTOS E PLANEJAMENTO DO TURISMO B) Alternativa incorreta. Justificativa: a fé não comporta classificação em turismo, porém a viagem a um ponto notabilizado pelo exercício da religiosidade é caracterizada como turismo ou excursionismo. C) Alternativa incorreta. Justificativa: não se pode afirmar que tipo de atividades a família vai realizar na cidade além da prática religiosa. D) Alternativa correta. Justificativa: em conformidade com a classificação da Organização Mundial do Turismo, de 1994, excursionistas são visitantes que não pernoitam e não utilizam alojamento no local visitado, permanecendo menos de 24 horas. São conhecidos ainda como “viajantes de um dia”. E) Alternativa incorreta. Justificativa: são excursionistas e podem ser inseridos nos dados da pesquisa realizada pelo grupo de alunos do qual você faz parte. Questão 2. O morador de uma pequena cidade do país recebeu o diagnóstico de grave doença e, para ser curado, precisa de cirurgia. O médico informa que aquela cirurgia só pode ser realizada em cidade de maior porte, a 500 quilômetros do local em que eles se encontram, que é a mais próxima a dispor de hospital e equipe de saúde específica para aquela intervenção cirúrgica. O paciente viaja para realizar a cirurgia e, ao chegar à cidade, se hospeda no hotel e fica em dúvida sobre como preencher a ficha. Essa viagem tem caráter turístico ou de negócio? A) Tem caráter de negócio, porque ele vai pagar pela cirurgia e, com isso, trará benefícios econômicos para aquela cidade. B) Tem caráter turístico, porque os cuidados da saúde, inclusive para finalidade estética, são definidos como modalidade de turismo. C) Não tem caráter turístico, porque não foi uma viagem desejada. D) Não tem caráter turístico, porque não se trata de lazer. E) O hóspede não é obrigado a responder ao formulário do hotel. Resolução desta questão na plataforma.
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