Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Problemas mentais e do comportamento 1 Mírian Santos da Silva – 5° semestre P01 - “MEU FILHO NÃO É NORMAL” Objetivos 1. Entender a conduta ética frente a uma consulta psiquiátrica; 2. Elucidar a consulta psiquiátrica; Anamnese Exame físico Exame psíquico e funções psíquicas Parâmetros (comportamento normal – patológico) 3. Entender a diferença entre timidez e fobia social; 4. Abordar a transferência e contratransferência intrafamiliar. A avaliação do paciente, em psicopatologia, é feita principalmente por meio da entrevista. Que não deve ser vista como algo banal, um simples perguntar ao paciente sobre alguns aspectos de sua vida. O profissional pode obter informações valiosas para o diagnóstico clínico, para o conhecimento da dinâmica afetiva do paciente e, o que é super importante, para a intervenção e o planejamento terapêuticos mais adequados. É fundamental que o profissional possa estar em condições de acolher o paciente em seu sofrimento, de ouvi-lo realmente, escutando-o em suas dificuldades e idiossincrasias. Além de paciência e respeito, o profissional necessita de certa têmpera e habilidade para estabelecer limites aos pacientes invasivos ou agressivos e, assim, proteger- se e assegurar o contexto da entrevista (setting). O respeito e a consideração pelo paciente irão contribuir para o desenvolvimento do rapport. No contexto clínico, o rapport pode ser definido como as respostas harmoniosas do médico ao paciente e do paciente ao médico. Às vezes, uma entrevista bem conduzida é aquela na qual o profissional fala muito pouco e ouve pacientemente o enfermo. Outras vezes, o paciente e a situação “ exigem” que o entrevistador seja mais ativo, mais participante, falando mais, fazendo muitas perguntas, intervindo mais frequentemente. Isso varia muito em função: 1. Do paciente, de sua personalidade, de seu estado mental e emocional no momento, de suas capacidades cognitivas, etc. 2. Do contexto institucional da entrevista (caso a entrevista se realize em pronto-socorro, ambulatório, Centro de Atenção Psicossocial [CAPS], etc.). Problemas mentais e do comportamento 2 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 3. Dos objetivos da entrevista (diagnóstico clínico; estabelecimento de vínculo terapêutico inicial; entrevista para psicoterapia, tratamento farmacológico, orientação familiar, conjugal, pesquisa, finalidades forenses, trabalhistas; etc.). 4. E, por fim, mas não menos importante, da personalidade do entrevistador. Evitar: 1. Posturas rígidas, estereotipadas, fórmulas que o profissional acha que funcionaram bem com alguns pacientes e, portanto, devem funcionar com todos; 2. Atitude excessivamente neutra ou fria, que, muito frequentemente, em nossa cultura, transmite ao paciente sensação de distância e desprezo; 3. Reações exageradamente emotivas ou artificialmente calorosas, que produzem, na maioria das vezes, uma falsa intimidade; 4. Comentários valorativos ou julgamentos sobre o que o paciente relata ou apresenta. 5. Reações emocionais intensas de pena ou compaixão; 6. Responder com hostilidade ou agressão às investidas hostis ou agressivas de alguns pacientes. O profissional deve se esforçar por demonstrar serenidade e firmeza diante de um doente agressivo ou muito hostil. Também deve ficar claro que, na entrevista, há limites; 7. Entrevistas excessivamente prolixas, nas quais o paciente fala, fala, fala, mas, no fundo, não diz nada de substancial sobre seu sofrimento. Fala, às vezes, para se esconder, para dissuadir a si mesmo e ao entrevistador. 8. Fazer muitas anotações durante a entrevista, pois, em alguns casos, isso pode transmitir ao paciente que as anotações são mais importantes que a própria entrevista. Dificuldades comuns nas entrevistas realizadas em serviços públicos incluem falta de tempo dos profissionais, excesso de trabalho, estresse e condições físicas de atendimento precárias. Assim, muitas vezes, o profissional está impaciente para ouvir pessoas com queixas pouco precisas (os chamados poliqueixosos), rejeita aqueles pacientes que informam de forma vaga ou que estão muito desorganizados psiquicamente, etc. Muitas vezes, não é a quantidade de tempo com o paciente que mais conta, mas a qualidade da atenção que o profissional consegue lhe oferecer. As três regras “de ouro” da entrevista em saúde mental Problemas mentais e do comportamento 3 Mírian Santos da Silva – 5° semestre Pacientes organizados (mentalmente), com inteligência normal, com escolaridade boa ou razoável, fora de um “estado psicótico”, devem ser entrevistados de forma mais aberta, permitindo que falem e se expressem de maneira mais fluente e espontânea. O entrevistador fala pouco, fazendo algumas pontuações para que o indivíduo “conte a sua história”. Pacientes desorganizados, com nível intelectual baixo, em estado psicótico ou paranoide, “travados” por alto nível de ansiedade, devem ser entrevistados de forma mais estruturada. Nesse caso, o entrevistador fala mais, faz perguntas mais simples e dirigidas (perguntas fáceis de serem compreendidas e respondidas). Nos primeiros contatos com pacientes muito tímidos, ansiosos ou paranoides, deve-se fazer primeiro perguntas neutras (nome, onde mora, profissão, estado civil, nome de familiares, etc.), para apenas então, gradativamente, começar a formular perguntas “mais quentes” (às vezes, constrangedoras para o indivíduo), como: Qual o seu problema?, Por que foi trazido ao hospital?, O que aconteceu para que você agredisse seus familiares?, etc. A entrevista inicial é considerada um momento crucial no diagnóstico e no tratamento em saúde mental. Esse primeiro contato, sendo bem conduzido, deve produzir no paciente uma sensação de confiança e de esperança em relação ao alívio do sofrimento. Logo no início, o olhar e, com ele, toda a comunicação não verbal já têm sua importância: é o centro da comunicação, que inclui toda a carga emocional do ver e ser visto, do gesto, da postura, das vestimentas, do modo de sorrir ou expressar sofrimento. Logo no início da entrevista, é conveniente que o profissional se apresente, dizendo seu nome, se necessário, sua profissão e especialidade e, se for o caso, a razão da entrevista. Para isso, em alguns casos, é importante que o profissional garanta explicitamente o que segue: A entrevista e o tratamento ocorrerão com sigilo e discrição. O profissional esclarece ao paciente (e aos familiares, quando necessário) que aquilo que for relatado durante as entrevistas não será revelado a ninguém. Caso isso se faça necessário por exigência do próprio tratamento (encaminhamento a outro profissional, carta a alguma instituição, informação à família para proteger o paciente, etc.), só será feito após consulta e anuência do entrevistado. O sigilo poderá ser rompido somente no caso de ideias, planos ou atos gravemente auto ou heterodestrutivos. Problemas mentais e do comportamento 4 Mírian Santos da Silva – 5° semestre Em qualquer caso, é preciso ressaltar a necessidade de colaboração mútua entre o profissional e o paciente. Anamnese Na primeira entrevista, o profissional deve inicialmente colher os dados sociodemográficos básicos, como nome, idade, data de nascimento, naturalidade e procedência, estado civil, com quem reside, profissão, atividade profissional, religião, etc. Após tais informações, que de fato situam quem é o paciente que chega ao serviço de saúde, deve-sesolicitar que o indivíduo relate a queixa básica, o sofrimento, a dificuldade ou o conflito que o traz à consulta. Esse primeiro relato deve ocorrer de forma livre, para que o paciente expresse de forma espontânea seus sintomas e sinais. Alguns procedimentos podem facilitar a entrevista no momento em que o entrevistador lida com o silêncio do paciente: 1. O profissional deve fazer perguntas e colocações breves que assinalem sua presença efetiva e mostrem ao paciente que ele está atento e tranquilo para ouvi-lo. 2. O entrevistador deve evitar perguntas muito direcionadas, fechadas, que possam ser respondidas com um sim ou um não categóricos; também deve evitar perguntas muito longas e complexas, difíceis de serem compreendidas pelo paciente. 3. É sempre melhor fazer intervenções do tipo “Como foi isso?”, “Explique melhor”, “Conte um pouco mais sobre isso”, do que questões como “Por quê?” ou “Qual a causa?”. A confidencialidade é um componente essencial do relacionamento paciente-médico. O entrevistador deve fazer o possível para garantir que o conteúdo da entrevista não possa ser ouvido por outras pessoas. Às vezes, em uma unidade hospitalar ou em outro local institucional, isso pode ser difícil. Se o paciente estiver dividindo um quarto com outros, deve-se tentar usar uma sala diferente para a entrevista. Se isso não for possível, o entrevistador pode ter de evitar certos tópicos ou indicar que essas questões podem ser discutidas posteriormente quando a privacidade puder ser assegurada. Se um familiar desejar conversar com o psiquiatra, em geral é preferível um encontro com o(s) familiar(es) e o paciente juntos no fim da sessão e após este ter dado seu consentimento. Em contextos educacionais e, algumas vezes, forenses, pode haver ocasiões em que a sessão seja gravada. O paciente deve ser informado sobre a gravação e como ela será usada. Deve ser discutido por quanto tempo a gravação será mantida e como o acesso a ela será restrito. Problemas mentais e do comportamento 5 Mírian Santos da Silva – 5° semestre Estas últimas estimulam o paciente a fechar e encerrar sua fala. 4. O entrevistador deve buscar para cada paciente em particular o tipo de intervenção que facilite a continuidade de sua fala. História da doença atual; A doença atual é uma descrição cronológica da evolução dos sintomas do episódio atual. Além disso, o relato também deve incluir qualquer mudança que ocorreu durante esse mesmo período de tempo nos interesses, nas relações interpessoais, nos comportamentos, nos hábitos pessoais e na saúde física do paciente. É importante identificar por que o paciente está buscando ajuda nesse momento e quais são os fatores “desencadeantes” (“Estou aqui agora porque minha namorada me disse que se eu não procurar ajuda para esse nervosismo ela vai me deixar.”). História psiquiátrica pregressa; Na história psiquiátrica pregressa, o médico deve obter informações sobre todas as doenças psiquiátricas e seu curso ao longo da vida do paciente, incluindo sintomas e tratamento. Deve incluir quando eles ocorreram, quanto tempo duraram e sua frequência e gravidade. Os tratamentos dos episódios anteriores devem ser revistos em detalhes, exemplo obrigatoriedade em tratar. Deve ser dada consideração especial ao estabelecimento de uma história de letalidade, importante na avaliação do risco atual. Ideação, intenção, plano e tentativas de suicídio passados devem ser revistos; Uma revisão cuidadosa de uso, abuso e adições de substâncias (drogas e álcool) é essencial para a entrevista psiquiátrica. A duração e o número de entrevistas iniciais, com fins diagnósticos e de planejamento terapêutico, não são fixos, dependendo do contexto institucional onde se dá a prática profissional, da complexidade e da gravidade do caso e da habilidade do entrevistador. Exame físico Sinais vitais, peso, circunferência da cintura, índice de massa corporal e altura podem ser medidas importantes a acompanhar, em particular devido aos efeitos potenciais dos medicamentos psiquiátricos ou de doenças sobre esses parâmetros. A Escala de Movimentos Involuntários Anormais-AIMS) é um teste de triagem importante a ser seguido quando se utiliza medicamento antipsicótico para monitorar efeitos colaterais potenciais, como discinesia tardia. Aqueles com transtornos mentais graves (TMGs) apresentam doenças físicas bem mais frequentemente do que a população em geral. Isso ocorre em associação ao enfrentamento de múltiplas barreiras para o Problemas mentais e do comportamento 6 Mírian Santos da Silva – 5° semestre acesso ao cuidado apropriado em saúde física. Essas combinações têm como consequência a mortalidade precoce das pessoas com TMG. Esses indivíduos têm uma expectativa de vida reduzida em 15 a 20 anos em comparação com a população em geral. As condições, os riscos e as doenças físicas mais frequentes em pessoas com TMG são: diabetes tipo II e resistência à insulina, dislipidemia, doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, arritmias cardíacas), neoplasias malignas, HIV/aids, obesidade, tabagismo, uso de álcool e de outras substâncias e efeitos colaterais dos psicofármacos. Houve um aumento na frequência de doenças físicas em pessoas com TMG, as patologias físicas são subdiagnosticadas, não sendo adequadamente reconhecidas e tratadas nesses pacientes. Algumas das causas dessas falhas são: 1. O clínico geral (o médico não psiquiatra, de forma geral) tende a não examinar adequadamente o paciente com TMG, pois ele não é “seu paciente”, é “paciente apenas do psiquiatra ou do psicólogo”. 2. O psiquiatra não realiza o exame físico do indivíduo, pois não se considera “ médico do corpo”, mas “especialista da mente” ou “médico exclusivamente do psiquismo”. 3. Os pacientes com TMG têm dificuldades em acessar os serviços gerais de saúde. Estas podem decorrer de desorganização comportamental, dificuldades cognitivas ou inibição em decorrência de sintomas mentais (como ideias paranoides, depressão, baixa autoestima), assim como desgaste da família e consequente descuido com a saúde do familiar com TMG. 4. Os pacientes com TMG podem ter dificuldades em comunicar objetivamente suas queixas somáticas. 5. Os indivíduos com TMG podem não ser adequadamente ouvidos pelos médicos em geral, pois o estigma de “louco”, de “doente mental” ou de “paciente psiquiátrico” às vezes, infelizmente, invalida suas queixas somáticas para quem as ouve. 6. Há considerável preconceito contra pessoas com TMG em muitos serviços de saúde geral e de especialidades médicas, impedindo que essas pessoas recebam os cuidados devidos em saúde física. O exame físico do paciente com transtornos mentais, diferentemente do que alguns Problemas mentais e do comportamento 7 Mírian Santos da Silva – 5° semestre supõem, quando realizado de forma adequada, pode ser um excelente instrumento de aproximação afetiva, principalmente com indivíduos muito regredidos, inseguros e mesmo psicóticos. Exame neurológico A avaliação neurológica do paciente com transtorno mental não difere muito da que não tem. Alguns pontos, entretanto, devem ser aqui lembrados: A avaliação neurológica depende de anamnese bem colhida e de exame neurológico objetivo, que, bem realizado, visa identificar topograficamente uma possível lesão ou disfunção no sistema nervoso central e/ou periférico. Deve-se lembrar, entretanto, de que muitas afecções neuronais, responsáveis por quadros neuropsiquiátricos, embora presentes e clinicamente significativas, não produzem sintomas localizatórios.A avaliação neurológica baseia-se sobremodo no exame neurológico. Neste, a presença de sinais neurológicos claramente patológicos (como o sinal de Babinski na síndrome piramidal) e as assimetrias são aspectos muito relevantes. O médico sempre deve estar atento à assimetria da força muscular nos membros, dos reflexos miotáticos profundos e musculocutâneos superficiais. Igualmente, deve pesquisar, de forma cuidadosa, as diversas alterações sensitivas (tátil, dolorosa, vibratória, térmica, etc.). De particular importância em neuropsiquiatria são alguns sinais e reflexos neurológicos, ditos primitivos, indicadores de lesão cerebral cortical difusa, encefalopatia ou lesões corticais frontais difusas sem que haja, necessariamente, outros sinais localizatórios. São os seguintes os reflexos primitivos: Reflexo de preensão (grasping ou grasp reflex). É a resposta de flexão dos dedos evocada pelo contato rápido de um objeto com a região palmar (ou plantar) do paciente, respondendo este com um movimento involuntário de preensão. O grasping é considerado uma manifestação motora primitiva, pois é observado em recém- nascidos e lactentes. Em adultos, o reflexo de preensão tem importante valor diagnóstico: sendo bilateral, é muito sugestivo de lesão ou disfunção frontal ou de sofrimento cerebral difuso (encefalopatias); sendo unilateral, localiza a lesão na área 6 de Broadman contralateral. O grasping é o mais significativo dos reflexos primitivos. Reflexo de sucção. Esse reflexo pode ocorrer em lesões frontais (mas também em encefalopatias difusas). Reflexo orbicular dos lábios. A percussão da área acima do lábio superior, na linha média, pode produzir a projeção reflexa dos Problemas mentais e do comportamento 8 Mírian Santos da Silva – 5° semestre lábios para a frente. A compressão dessa área pode desencadear uma clara projeção dos lábios, como se o indivíduo fizesse um bico ou focinho (snout reflex, ou reflexo do focinho). Embora menos específico que o grasping e o reflexo de sucção, o reflexo orbicular dos lábios e o snout reflex podem ser indicativos de dano cerebral difuso. Reflexo palmomentual. Pelo estímulo cutâneo da eminência tenar da mão, pode-se observar no queixo do paciente a contração do pequeno músculo do mento ipsilateral e sua elevação e, eventualmente, a elevação do lábio inferior ipsilateral à mão estimulada. Esse reflexo pode ser observado em idosos, em indivíduos com lesões piramidais e em quadros encefalopáticos difusos. Exame psíquico Exame do estado mental O exame do estado mental (EEM) é o equivalente psiquiátrico do exame físico no resto da medicina. O EEM explora todas as áreas de funcionamento mental e mostra evidências de sinais e sintomas de doenças mentais. Os dados são obtidos ao longo de toda a entrevista, desde os momentos iniciais da interação, considerando o que o paciente está vestindo e sua apresentação geral. A maior parte das informações não requer questionamento direto, e as obtidas por observação podem dar ao médico um conjunto de dados diferente das respostas do paciente. O questionamento direto aumenta e completa o exame. O EEM dá ao médico um instantâneo do estado mental do paciente no momento da entrevista e é útil nas visitas subsequentes para comparar e monitorar mudanças ao longo do tempo. O EEM psiquiátrico inclui avaliação cognitiva mais frequentemente na forma do Miniexame do Estado Mental (MEEM), mas este não deve ser confundido com o EEM global. Os componentes do EEM são apresentados nesta seção na ordem em que se poderia incluí-los nasanotações escritas para fins de organização, mas, como já foi observado, os dados são obtidos ao longo de toda a entrevista. Aparência e comportamento. Esta seção consiste em uma descrição geral de como o paciente parece e age durante a entrevista. Aspectos característicos, como desfigurações, cicatrizes e tatuagens, são observados. A arrumação e a higiene também fazem parte da aparência geral e podem ser indícios do nível de funcionamento do paciente. A descrição do comportamento de um paciente inclui uma declaração geral sobre se ele está exibindo perturbação aguda e, então, uma declaração mais específica sobre a postura dele em relação à entrevista. O paciente pode ser descrito como cooperativo, Problemas mentais e do comportamento 9 Mírian Santos da Silva – 5° semestre agitado, desinibido, desinteressado, e assim por diante. Atividade motora. Pode ser descrita como normal, lentificada (bradicinesia) ou agitada (hipercinesia). Isso pode dar indícios para diagnósticos (p. ex., depressão vs mania), bem como para problemas neurológicos ou clínicos confundidores. A marcha, a liberdade de movimentos, quaisquer posturas incomuns ou continuadas, andar de um lado para outro e torcer as mãos são descritos. Deve ser observada a presença ou ausência de tiques, que podem ser nervosismo, tremor, aparente inquietação, estalar a boca e protusões da língua. Fala. A avaliação da fala é uma parte importante do EEM. Os elementos considerados incluem fluência, quantidade, ritmo, tom e volume. Fluência pode se referir a se o paciente tem total comando da língua ou problemas de fluência possivelmente mais sutis, como tartamudez, dificuldade para encontrar as palavras ou erros parafásicos. A avaliação da quantidade de fala diz respeito a se ela é normal, aumentada ou diminuída. Menos quantidade de fala pode sugerir diversas coisas, variando de ansiedade ou desinteresse a bloqueio de pensamento ou psicose. Mais quantidade de fala com frequência (mas nem sempre) é sugestivo de mania ou hipomania. Humor. Os termos humor e afeto variam em sua definição, e alguns autores têm recomendado combinar os dois elementos em um novo rótulo “expressão emocional”. Tradicionalmente, o humor é definido como o estado emocional interno e continuado do paciente. Sua experiência é subjetiva; portanto, é melhor usar as próprias palavras do paciente para descrever seu humor. Termos como “triste”, “irritado”, “culpado” ou “ansioso” são descrições comuns do humor. Afeto. Afeto difere de humor, visto que é a expressão do humor ou o que o humor do paciente parece ser para o médico. O afeto é descrito, muitas vezes, com os seguintes elementos: qualidade, quantidade, variação, adequação e congruência. Os termos usados para descrever a qualidade (ou o tom) do afeto de um paciente incluem disfórico, feliz, eutímico, irritável, irritado, agitado, choroso, soluçante e embotado. O afeto também pode ser congruente ou incongruente com o humor ou o conteúdo de pensamento do paciente. Um paciente pode relatar se sentir deprimido ou descrever um tema depressivo, mas fazê-lo rindo, sorrindo e sem sugestão de tristeza. Conteúdo do pensamento. É essencialmente os pensamentos que estão ocorrendo ao paciente, deduzidos pelo que ele expressa de maneira espontânea, bem Problemas mentais e do comportamento 10 Mírian Santos da Silva – 5° semestre como pelas respostas a perguntas específicas visando evocar determinada patologia. Pensamentos obsessivos são aqueles indesejados e repetitivos que invadem a consciência. São, em geral, alheios ao ego, e o paciente resiste a eles. As compulsões são comportamentos repetitivos e ritualizados que os pacientes se sentem compelidos a realizar para evitar um aumento na ansiedade ou algum desfecho temido. Outra grande categoria de patologia do conteúdo do pensamento são os delírios. Delírios são ideias fixas, falsas, que não são compartilhadas por outras pessoas e podem ser divididos em bizarros e não bizarros. Processo de pensamento.Difere de conteúdo do pensamento porque não descreve o que a pessoa está pensando, mas, em vez disso, como os pensamentos são formulados, organizados e expressos. Um paciente pode ter processo de pensamento normal com conteúdo do pensamento significativamente delirante. O processo de pensamento normal costuma ser descrito como linear, organizado e orientado ao objetivo. Com a fuga de ideias, o paciente passa com rapidez de um pensamento para outro, em um ritmo que é difícil para o ouvinte acompanhar, mas todas as ideias estão conectadas de forma lógica. O paciente circunstancial inclui excesso de detalhes e material que não é diretamente relevante ao assunto ou a uma resposta à pergunta, mas em algum momento retorna para tratar do assunto ou responder à pergunta. O processo de pensamento tangencial pode, a princípio, parecer semelhante, mas o paciente nunca retorna ao ponto ou à questão original. Alterações na sensopercepção. Incluem alucinações, ilusões, despersonalização e desrealização. Alucinações são percepções na ausência de estímulos que as justifiquem. Alucinações auditivas são aquelas encontradas com mais frequência no contexto psiquiátrico. Outras alucinações podem incluir visuais, táteis, olfativas e gustativas (paladar). O entrevistador deve fazer uma distinção entre uma alucinação verdadeira e uma percepção errônea de estímulos (ilusão). Ouvir o vento sussurrar por entre as árvores do lado de fora e pensar que um nome está sendo chamado é uma ilusão. Cognição. Os elementos do funcionamento cognitivo que devem ser avaliados são o estado de alerta, orientação, concentração, memória (tanto de curto como de longo prazos), cálculo, cabedal de conhecimento, raciocínio abstrato, insight e julgamento. Raciocínio abstrato. É a capacidade de compreender e abstrair a partir de conceitos gerais e exemplos específicos. Pedir ao paciente para identificar semelhanças entre Problemas mentais e do comportamento 11 Mírian Santos da Silva – 5° semestre objetos ou conceitos semelhantes (maçã e pera, ônibus e avião ou um poema e uma pintura), bem como interpretar provérbios, pode ser útil para avaliar a capacidade da pessoa de abstrair. Insight. Na avaliação psiquiátrica, refere-se ao entendimento do paciente de como está se sentindo, se apresentando e funcionando, bem como das possíveis causas de sua apresentação psiquiátrica. Ele pode não ter entendimento, ter entendimento parcial ou entendimento total. Um componente desse entendimento com frequência é o teste de realidade no caso de um paciente com psicose. Um exemplo de teste de realidade intacto seria: “Eu sei que na verdade não existem homenzinhos falando comigo quando estou sozinho(a), mas sinto como se pudesse vê- los e ouvir suas vozes”. Julgamento. Refere-se à capacidade da pessoa de tomar boas decisões e agir de acordo com elas. O nível de julgamento pode ou não estar correlacionado com o nível de entendimento. Um paciente pode não ter consciência de sua doença, mas ter bom julgamento. Tem sido tradicional usar exemplos hipotéticos para testar o julgamento – por exemplo: “O que você faria se encontrasse um envelope selado na calçada?”. É melhor usar situações reais da própria experiência do paciente para testar o julgamento. EXAMES COMPLEMENTARES Os exames complementares laboratoriais, neurofisiológicos e de neuroimagem também são um auxílio fundamental ao diagnóstico psicopatológico, particularmente na detecção de disfunções e patologias neurológicas e sistêmicas que produzem síndromes e sintomas psiquiátricos. Os exames laboratoriais de sangue, urina e fezes, assim como as biópsias e as diferentes avaliações da patologia clínica, devem ser sempre utilizados de acordo com a boa prática médica geral. São de particular importância na prática clínica diária, pela frequência com que as alterações correspondentes são encontradas: hemograma completo, glicemia, hormônio tireoestimulante (TSH), creatinina, dosagem de vitamina B12 e vitamina D e sorologias para lues, hepatites e HIV/aids. Problemas mentais e do comportamento 12 Mírian Santos da Silva – 5° semestre A avaliação do líquido cerebrospinal é um exame relativamente barato e que fornece muitas vezes informações valiosas ao profissional (em encefalites, doenças inflamatórias, neoplasias, infecções do sistema nervoso central [SNC], etc.), mas que, infelizmente, é com frequência negligenciado na psiquiatria. O eletrencefalograma (EEG), por sua vez, é bastante útil no diagnóstico diferencial dos quadros confusionais agudos (delirium), na classificação das diferentes formas de epilepsia e como parte da avaliação dos transtornos do sono (polissonografia). Já os exames de neuroimagem estrutural e funcional (tomografia computadorizada, ressonância magnética estrutural e funcional e perfusão sanguínea cerebral por meio de tomografia computadorizada por emissão de fóton único [SPECT]) são instrumentos sofisticados de grande auxílio para o diagnóstico diferencial em psicopatologia. GOMES - A família raramente se reconhece enferma. Num primeiro momento, a família pode, na tentativa de evitar entrar em contato com seus conflitos e dificuldades, apontar um de seus integrantes como enfermo, separando-se em "sadios" e "doentes". O conceito de transferência, introduzido por Freud, é um elemento fundamental que o profissional deve conhecer para realizar as entrevistas de forma mais habilidosa, entendendo e tratando seus pacientes de modo menos ingênuo, mais profundo e sensível. A transferência compreende atitudes, percepções, pensamentos e sentimentos cuja origem é basicamente inconsciente para o indivíduo. Inclui tanto sentimentos positivos quanto negativos. Esses sentimentos são uma repetição inconsciente do passado; o analista (ou médico, psicólogo, profissional da saúde, etc.) passa a ocupar, no presente, o lugar que o pai ou a mãe ocupavam no passado. O paciente não se dá conta, dizia Freud ([1926]/1986), da natureza de tais sentimentos, e os considera como novas experiências reais, em vez de identificar o que realmente são, ou seja, reflexos, repetições de sentimentos do passado. O próprio Freud descreveu a transferência: Eles desenvolvem com seu médico relações emocionais, tanto de caráter afetuoso como hostil, que não se baseiam na situação real, sendo antes derivadas de suas relações com os pais (o complexo de Édipo). A transferência é a prova de que os adultos não superaram sua dependência infantil. Problemas mentais e do comportamento 13 Mírian Santos da Silva – 5° semestre Segundo Jung (1999), a transferência não é mais que o processo comum de projeção: o paciente tende a projetar inconscientemente no profissional os afetos básicos que nutria (e nutre) pelas figuras significativas de sua vida. A contratransferência é, em certo sentido, a transferência que o clínico estabelece com seus pacientes. Da mesma forma que o paciente, o profissional da saúde projeta inconscientemente, no paciente, sentimentos que nutria no passado por pessoas significativas de sua vida. Sem saber por que, este ou aquele indivíduo desperta no clínico sentimentos de raiva, medo, piedade, carinho, repulsa, etc. Ao identificar tais reações contratransferenciais e conscientizar-se de que elas têm a ver com seus próprios conflitos, o profissional poderá lidar de forma mais racional e objetiva com o que está ocorrendo na relação com o paciente. Normal x patológico O conceito de saúde e de normalidade em psicopatologia é questão de grande controvérsia, sendo fundamental o questionamentopermanente e aprofundado sobre o que seriam o normal e o patológico. O comportamento e o estado mental das pessoas não são fatos neutros, exteriores aos interesses e preocupações humanas. Não se fica indiferente perante outros indivíduos, ao lidar com seus comportamentos, sentimentos e outros estados mentais. O conceito de normalidade em psicopatologia também implica a própria definição do que é saúde e doença/transtorno mental. Os principais critérios de normalidade utilizados em psicopatologia são: Normalidade como ausência de doença. O primeiro critério que geralmente se utiliza é o de saúde como “ausência de sintomas, de sinais ou de doenças”. Normal, do ponto de vista psicopatológico, seria, então, aquele indivíduo que simplesmente não é portador de um transtorno mental definido. Tal critério é bastante falho e precário, pois, além de redundante, baseia-se em uma “definição negativa”, ou seja, define-se a normalidade não por aquilo que ela supostamente é, mas por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta. Normalidade ideal. A normalidade aqui é tomada como certa “utopia”. Estabelece- se arbitrariamente uma norma ideal, aquilo que é supostamente “sadio”, mais “ evoluído. Depende, portanto, de critérios socioculturais e ideológicos arbitrários e, às vezes, dogmáticos e doutrinários. Normalidade estatística. A normalidade estatística identifica norma e frequência. Trata-se de um conceito de normalidade que se aplica especialmente a fenômenos Problemas mentais e do comportamento 14 Mírian Santos da Silva – 5° semestre quantitativos, com determinada distribuição estatística na população geral (como peso, altura, tensão arterial, horas de sono, quantidade de sintomas ansiosos, etc.). O normal passa a ser aquilo que se observa com mais frequência. Os indivíduos que se situam estatisticamente fora (ou no extremo) de uma curva de distribuição normal passam, por exemplo, a ser considerados anormais ou doentes. EX: IMC Normalidade como bem-estar. A Organização Mundial da Saúde (WHO, 1946) definiu, em 1946, a saúde como o “completo bem-estar físico, mental e social”, e não simplesmente como ausência de doença. É um conceito criticável por ser muito amplo e impreciso, pois bem-estar é algo difícil de se definir objetivamente. Além disso, esse completo bem-estar físico, mental e social é tão utópico que poucas pessoas se encaixariam na categoria“saudáveis”. Normalidade funcional. Tal conceito baseia- se em aspectos funcionais e não necessariamente quantitativos. O fenômeno é considerado patológico a partir do momento em que é disfuncional e produz sofrimento para o próprio indivíduo ou para seu grupo social. Normalidade como processo. Nesse caso, mais que uma visão estática, consideram-se os aspectos dinâmicos do desenvolvimento psicossocial, das desestruturações e das reestruturações ao longo do tempo, de crises, de mudanças próprias a certos períodos etários. Normalidade subjetiva. Aqui, é dada maior ênfase à percepção subjetiva do próprio indivíduo em relação a seu estado de saúde, às suas vivências subjetivas. O ponto falho desse critério é que muitas pessoas que se sentem bem, “muito saudáveis e felizes”, como no caso de sujeitos em fase maníaca no transtorno bipolar, apresentam, de fato, um transtorno mental grave. Normalidade como liberdade. Alguns autores de orientação fenomenológica e existencial propõem conceituar a doença mental como perda da liberdade existencial. Dessa forma, a saúde mental se vincularia às possibilidades de transitar com graus distintos de liberdade sobre o mundo e sobre o próprio destino. Portanto, de modo geral, pode-se concluir que os critérios de normalidade e de doença em psicopatologia variam consideravelmente em função dos fenômenos específicos com os quais se trabalha e, também, de acordo com as opções filosóficas do profissional ou da instituição. Timidez e fobia social têm coisas em comum, embora geralmente a timidez seja muito Problemas mentais e do comportamento 15 Mírian Santos da Silva – 5° semestre menos agressiva em termos de manifestação de sintomas. Em ambos os casos, podem ser sentidas as mesmas coisas: vontade de fugir, medo, nervosismo, etc … mas quando se trata de uma fobia social, esses sintomas tão fortes fazem com que a pessoa evite se expor a situações temidas. Já uma pessoa tímida pode até se sentir mal, mas isso não a impede de seguir se expondo sem que isso cause danos a sua saúde. Timidez pode ser definida como um sentimento de apreensão ao enfrentar novas situações ou pessoas. Indivíduos que sofrem de timidez estão preocupados com “o que os outros podem pensar” deles, o que dificulta as suas interações sociais. Tais indivíduos tentam evitar situações sociais, tanto quanto possível, porque eles têm medo de se expressar pensando que estariam sujeitos a críticas e negatividade. Já a fobia social, por outro lado, é muito mais grave do que timidez. Ela pode ser definida como uma condição de medo extremo que é experimentado por um indivíduo em interações sociais que decorre do medo de ser rejeitado ou julgado pelos outros. Uma pessoa que sofre de fobia social geralmente tem uma autoestima muito baixa e exibe uma autoconsciência extrema em quase qualquer atividade em que se envolve no dia a dia. A pessoa está constantemente incomodada sobre suas interações com os outros, especialmente com a possibilidade de ‘não ser boa o suficiente “. O transtorno de ansiedade social (também referido como fobia social) envolve o medo de situações sociais, incluindo aquelas que envolvem escrutínio ou contato com estranhos. O termo ansiedade social reflete a diferenciação entre transtorno de ansiedade social e fobia específica, que é o medo intenso e persistente de um objeto ou uma situação. As pessoas com transtorno de ansiedade social temem se embaraçar em situações sociais (i.e., reuniões sociais, apresentações orais, encontro com pessoas novas). Elas podem ter medos específicos de realizar determinadas atividades, como comer ou falar na frente dos outros, ou podem experimentar um medo vago e inespecífico de “embaraçar-se”. Em ambos os casos, o medo no transtorno de ansiedade social é do embaraço que pode ocorrer na situação, não da situação em si. Epidemiologia Vários estudos relataram uma prevalência ao longo da vida variando de 3 a 13% para transtorno de ansiedade social. A prevalência https://www.fasdapsicanalise.com.br/por-que-sair-de-um-relacionamento-abusivo-nao-e-tao-simples-assim/ https://www.fasdapsicanalise.com.br/como-sao-desenvolvidas-autoestima-e-autoconfianca/ Problemas mentais e do comportamento 16 Mírian Santos da Silva – 5° semestre em seis meses é de aproximadamente 2 a 3 por 100 pessoas. Em estudos epidemiológicos, as mulheres são afetadas com mais frequência do que os homens, mas, em amostras clínicas, o inverso muitas vezes é verdadeiro. As razões para essas observações variáveis são desconhecidas. A idade de pico de início pra transtorno de ansiedade social é na adolescência, embora seja comum dos 5 aos 35 anos. Comorbidade As pessoas com transtorno de ansiedade social podem ter história de outros transtornos de ansiedade, transtornos do humor, transtornos relacionados a substâncias e bulimia nervosa. Etiologia Vários estudos relataram que algumas crianças possivelmente tenham um traço caracterizado por um padrão consistente de inibição comportamental. Esse traço pode ser mais comum nos filhos de pais com transtorno de pânico e pode se desenvolver para timidez grave à medida que crescem. Pelo menos algumas pessoascom transtorno de ansiedade social podem ter exibido inibição comportamental durante a infância. Talvez associados com esse traço, que se acredita ter uma base biológica, estejam os dados baseados em estudos psicológicos que indicam que os pais de pessoas com transtorno de ansiedade social, como um grupo, foram menos carinhosos, mais rejeitadores e mais superprotetores de seus filhos do que outros pais. Alguns estudos sobre esse transtorno têm feito referência ao espectro de dominância a submissão observado no reino animal. Por exemplo, enquanto humanos dominantes podem tender a andar com o nariz empinado e a fazer contato pelo olhar, humanos submissos podem tender a andar com a cabeça baixa e a evitar contato pelo olhar. Fatores neuroquímicos O sucesso dos tratamentos farmacológicos na fobia social gerou duas hipóteses neuroquímicas específicas sobre dois tipos de transtorno de ansiedade social. Especificamente, a utilização de antagonistas dos receptores β-adrenérgicos – por exemplo, propranolol – para as fobias de desempenho (p. ex., falar em público) levou ao desenvolvimento de uma teoria adrenérgica para essas fobias. Pacientes com fobias de desempenho podem liberar mais norepinefrina ou epinefrina, tanto central como perifericamente, do que pessoas não fóbicas, ou podem ser sensíveis a um nível normal de estimulação adrenérgica. A observação de que os IMAOs podem ser mais eficazes do que os medicamentos Problemas mentais e do comportamento 17 Mírian Santos da Silva – 5° semestre tricíclicos no tratamento do transtorno de ansiedade social generalizada, em combinação com dados pré-clínicos, levou alguns investigadores à hipótese de que a atividade dopaminérgica está relacionada à patogênese do transtorno. Um estudo mostrou concentrações de ácido homovanílico bastante diminuídas. Uma abordagem que utilizou SPECT demonstrou redução da densidade de locais de recaptação de dopamina estriatal. Portanto, alguma evidência sugere uma disfunção dopaminérgica no transtorno de ansiedade social. Fatores genéticos Parentes em primeiro grau de pessoas com transtorno de ansiedade social têm cerca de três vezes mais probabilidade de ser afetados com a condição do que parentes em primeiro grau de indivíduos sem transtornos mentais. Alguns dados preliminares indicam que gêmeos monozigóticos concordam com mais frequência do que dizigóticos, embora no transtorno de ansiedade social seja particularmente importante estudar gêmeos criados separados para ajudar a controlar para fatores ambientais. Diagnóstico e características clínicas Os critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno de ansiedade social são listados na Tabela 9.5-2. O médico deve reconhecer que pelo menos algum grau de ansiedade social ou de constrangimento é comum na população em geral. Estudos da comunidade sugerem que cerca de um terço de todas as pessoas se considera muito mais ansiosa do que outras em situações sociais. Além disso, essas preocupações podem parecer particularmente aumentadas durante certos estágios do desenvolvimento, como na adolescência, ou após transições de vida, como casamento ou mudanças de emprego, associadas com novas demandas por interação social. Essa ansiedade apenas se torna transtorno de ansiedade social quando ela impede um indivíduo de participar de atividades desejadas ou causa sofrimento acentuado durante elas. O DSM-5 também inclui um especificador diagnóstico de somente desempenho, para pessoas que têm fobia social extrema especificamente em relação a falar ou se apresentar em público. Problemas mentais e do comportamento 18 Mírian Santos da Silva – 5° semestre Diagnóstico diferencial O transtorno de ansiedade social precisa ser diferenciado do medo adequado e da timidez normal. As considerações diagnósticas diferenciais para esse transtorno são agorafobia, transtorno de pânico, transtorno da personalidade esquiva, transtorno depressivo maior e transtorno da personalidade esquizoide. Um indivíduo com agorafobia sente-se, muitas vezes, confortado pela presença de outra pessoa em uma situação que provoque ansiedade, mas um com transtorno de ansiedade social fica mais ansioso pela presença de outra pessoa. Enquanto falta de ar, tontura, sensação de sufocação e medo de morrer são comuns no transtorno de pânico e na agorafobia, os sintomas associados com transtorno de ansiedade social geralmente envolvem rubor, tensão muscular e ansiedade em relação a escrutínio. A diferenciação entre transtorno de ansiedade social e transtorno da personalidade esquiva pode ser difícil e exigir entrevistas e histórias psiquiátricas extensivas. A esquiva de situações sociais, muitas vezes, pode ser um sintoma na depressão, mas uma entrevista psiquiátrica com o paciente provavelmente revelará uma ampla constelação de sintomas depressivos. Em pacientes com transtorno da personalidade esquizoide, a falta de interesse em socializar, não o medo de socializar, leva ao comportamento social esquivo. Curso e prognóstico O transtorno de ansiedade social tende a começar no fim da infância ou início da adolescência. Achados epidemiológicos prospectivos existentes indicam que esse transtorno costuma ser crônico, embora os pacientes cujos sintomas sofrem remissão tendem a permanecer bem. Estudos epidemiológicos retrospectivos, bem como Problemas mentais e do comportamento 19 Mírian Santos da Silva – 5° semestre estudos clínicos prospectivos, sugerem que o transtorno pode perturbar profundamente a vida de um indivíduo ao longo de muitos anos. Isso pode incluir problemas nas realizações acadêmicas e interferência no desempenho profissional e desenvolvimento social. Tratamento Tanto a psicoterapia como a farmacoterapia são úteis no tratamento do transtorno de ansiedade social. Alguns estudos indicam que a utilização de ambas produz resultados melhores do que cada tratamento isoladamente, ainda que o achado possa não ser aplicável a todas as situações e a todos os pacientes. Os medicamentos eficazes no tratamento do transtorno de ansiedade social incluem 1) ISRSs, 2) os benzodiazepínicos, 3) venlafaxina e 4) buspirona. A maioria dos médicos considera os ISRSs o tratamento de primeira linha para pacientes com formas de transtorno de ansiedade social mais generalizada. Os benzodiazepínicos alprazolam e clonazepam também são eficazes nesse transtorno. A buspirona mostrou efeitos adicionais quando utilizada para potencilizar o tratamento com ISRSs. Em casos graves, tem sido relatado o tratamento bem-sucedido com IMAOs irreversíveis, como a fenelzina, e também com os reversíveis, como a moclobemida e a brofaromina, que não estão disponíveis nos Estados Unidos. As doses terapêuticas da fenelzina variam de 45 a 90 mg ao dia, com taxas de resposta variando de 50 a 70%; aproximadamente 5 a 6 semanas são necessárias para avaliar sua eficácia. A psicoterapia para o transtorno de ansiedade social em geral envolve uma combinação de métodos comportamentais e cognitivos, incluindo retreinamento cognitivo, dessensibilização, treinos durante as sessões e uma variedade de recomendações de tarefas de casa. Referências bibliográficas 1. Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais [recurso eletrônico] / Paulo Dalgalarrondo. – 3. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2019. 2. Sadock, Benjamin J. Compêndio de psiquiatria : ciência do comportamento e psiquiatria clínica [recurso eletrônico] – 11. ed. – Porto Alegre : Artmed, 2017. 3. Terapia cognitivo-comportamental da fobia social: modelos etécnicas. Gustavo J. Fonseca D'El ReyI; Carla Alessandra PaciniII
Compartilhar