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CONSULTA PSIQUIATRICA

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Problemas mentais e do comportamento 
 
1 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
P01 - “MEU FILHO NÃO É NORMAL” 
 
Objetivos 
1. Entender a conduta ética frente a uma 
consulta psiquiátrica; 
2. Elucidar a consulta psiquiátrica; 
Anamnese 
Exame físico 
Exame psíquico e funções psíquicas 
Parâmetros (comportamento normal – 
patológico) 
3. Entender a diferença entre timidez e 
fobia social; 
4. Abordar a transferência e 
contratransferência intrafamiliar. 
 
A avaliação do paciente, em psicopatologia, 
é feita principalmente por meio da entrevista. 
Que não deve ser vista como algo banal, um 
simples perguntar ao paciente sobre alguns 
aspectos de sua vida. 
O profissional pode obter informações 
valiosas para o diagnóstico clínico, para o 
conhecimento da dinâmica afetiva do 
paciente e, o que é super importante, para a 
intervenção e o planejamento terapêuticos 
mais adequados. 
É fundamental que o profissional possa estar 
em condições de acolher o paciente em 
seu sofrimento, de ouvi-lo realmente, 
escutando-o em suas dificuldades e 
idiossincrasias. 
Além de paciência e respeito, o profissional 
necessita de certa têmpera e habilidade 
para estabelecer limites aos pacientes 
invasivos ou agressivos e, assim, proteger-
se e assegurar o contexto da entrevista 
(setting). 
O respeito e a consideração pelo paciente 
irão contribuir para o desenvolvimento do 
rapport. No contexto clínico, o rapport pode 
ser definido como as respostas 
harmoniosas do médico ao paciente e do 
paciente ao médico. 
Às vezes, uma entrevista bem conduzida é 
aquela na qual o profissional fala muito 
pouco e ouve pacientemente o enfermo. 
Outras vezes, o paciente e a situação “
exigem” que o entrevistador seja mais 
ativo, mais participante, falando mais, 
fazendo muitas perguntas, intervindo mais 
frequentemente. Isso varia muito em função: 
1. Do paciente, de sua personalidade, 
de seu estado mental e emocional no 
momento, de suas capacidades 
cognitivas, etc. 
2. Do contexto institucional da 
entrevista (caso a entrevista se realize 
em pronto-socorro, ambulatório, 
Centro de Atenção Psicossocial 
[CAPS], etc.). 
Problemas mentais e do comportamento 
 
2 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
3. Dos objetivos da entrevista 
(diagnóstico clínico; estabelecimento 
de vínculo terapêutico inicial; 
entrevista para psicoterapia, 
tratamento farmacológico, orientação 
familiar, conjugal, pesquisa, 
finalidades forenses, trabalhistas; 
etc.). 
4. E, por fim, mas não menos importante, 
da personalidade do entrevistador. 
Evitar: 
1. Posturas rígidas, estereotipadas, 
fórmulas que o profissional acha que 
funcionaram bem com alguns 
pacientes e, portanto, devem funcionar 
com todos; 
2. Atitude excessivamente neutra ou 
fria, que, muito frequentemente, em 
nossa cultura, transmite ao paciente 
sensação de distância e desprezo; 
3. Reações exageradamente emotivas 
ou artificialmente calorosas, que 
produzem, na maioria das vezes, uma 
falsa intimidade; 
4. Comentários valorativos ou 
julgamentos sobre o que o paciente 
relata ou apresenta. 
5. Reações emocionais intensas de 
pena ou compaixão; 
6. Responder com hostilidade ou 
agressão às investidas hostis ou 
agressivas de alguns pacientes. O 
profissional deve se esforçar por 
demonstrar serenidade e firmeza 
diante de um doente agressivo ou 
muito hostil. Também deve ficar claro 
que, na entrevista, há limites; 
7. Entrevistas excessivamente 
prolixas, nas quais o paciente fala, 
fala, fala, mas, no fundo, não diz nada 
de substancial sobre seu sofrimento. 
Fala, às vezes, para se esconder, para 
dissuadir a si mesmo e ao 
entrevistador. 
8. Fazer muitas anotações durante a 
entrevista, pois, em alguns casos, isso 
pode transmitir ao paciente que as 
anotações são mais importantes que a 
própria entrevista. 
Dificuldades comuns nas entrevistas 
realizadas em serviços públicos incluem 
falta de tempo dos profissionais, excesso 
de trabalho, estresse e condições físicas de 
atendimento precárias. 
Assim, muitas vezes, o profissional está 
impaciente para ouvir pessoas com 
queixas pouco precisas (os chamados 
poliqueixosos), rejeita aqueles pacientes 
que informam de forma vaga ou que estão 
muito desorganizados psiquicamente, etc. 
Muitas vezes, não é a quantidade de tempo 
com o paciente que mais conta, mas a 
qualidade da atenção que o profissional 
consegue lhe oferecer. 
As três regras “de ouro” da entrevista 
em saúde mental 
Problemas mentais e do comportamento 
 
3 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
Pacientes organizados (mentalmente), com 
inteligência normal, com escolaridade boa ou 
razoável, fora de um “estado psicótico”, 
devem ser entrevistados de forma mais 
aberta, permitindo que falem e se expressem 
de maneira mais fluente e espontânea. O 
entrevistador fala pouco, fazendo algumas 
pontuações para que o indivíduo “conte a 
sua história”. 
Pacientes desorganizados, com nível 
intelectual baixo, em estado psicótico ou 
paranoide, “travados” por alto nível de 
ansiedade, devem ser entrevistados de 
forma mais estruturada. Nesse caso, o 
entrevistador fala mais, faz perguntas mais 
simples e dirigidas (perguntas fáceis de 
serem compreendidas e respondidas). 
Nos primeiros contatos com pacientes muito 
tímidos, ansiosos ou paranoides, deve-se 
fazer primeiro perguntas neutras (nome, onde 
mora, profissão, estado civil, nome de 
familiares, etc.), para apenas então, 
gradativamente, começar a formular 
perguntas “mais quentes” (às vezes, 
constrangedoras para o indivíduo), como: 
Qual o seu problema?, Por que foi trazido ao 
hospital?, O que aconteceu para que você 
agredisse seus familiares?, etc. 
A entrevista inicial é considerada um 
momento crucial no diagnóstico e no 
tratamento em saúde mental. 
Esse primeiro contato, sendo bem conduzido, 
deve produzir no paciente uma sensação de 
confiança e de esperança em relação ao 
alívio do sofrimento. 
Logo no início, o olhar e, com ele, toda a 
comunicação não verbal já têm sua 
importância: é o centro da comunicação, que 
inclui toda a carga emocional do ver e ser 
visto, do gesto, da postura, das vestimentas, 
do modo de sorrir ou expressar sofrimento. 
Logo no início da entrevista, é conveniente 
que o profissional se apresente, dizendo seu 
nome, se necessário, sua profissão e 
especialidade e, se for o caso, a razão da 
entrevista. 
Para isso, em alguns casos, é importante que 
o profissional garanta explicitamente o que 
segue: 
A entrevista e o tratamento ocorrerão com 
sigilo e discrição. O profissional esclarece 
ao paciente (e aos familiares, quando 
necessário) que aquilo que for relatado 
durante as entrevistas não será revelado a 
ninguém. 
Caso isso se faça necessário por exigência 
do próprio tratamento (encaminhamento a 
outro profissional, carta a alguma instituição, 
informação à família para proteger o paciente, 
etc.), só será feito após consulta e anuência 
do entrevistado. 
O sigilo poderá ser rompido somente no 
caso de ideias, planos ou atos gravemente 
auto ou heterodestrutivos. 
Problemas mentais e do comportamento 
 
4 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
Em qualquer caso, é preciso ressaltar a 
necessidade de colaboração mútua entre o 
profissional e o paciente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Anamnese 
Na primeira entrevista, o profissional deve 
inicialmente colher os dados 
sociodemográficos básicos, como nome, 
idade, data de nascimento, naturalidade e 
procedência, estado civil, com quem reside, 
profissão, atividade profissional, religião, etc. 
Após tais informações, que de fato situam 
quem é o paciente que chega ao serviço de 
saúde, deve-sesolicitar que o indivíduo relate 
a queixa básica, o sofrimento, a 
dificuldade ou o conflito que o traz à 
consulta. 
Esse primeiro relato deve ocorrer de forma 
livre, para que o paciente expresse de forma 
espontânea seus sintomas e sinais. 
Alguns procedimentos podem facilitar a 
entrevista no momento em que o 
entrevistador lida com o silêncio do 
paciente: 
1. O profissional deve fazer perguntas e 
colocações breves que assinalem 
sua presença efetiva e mostrem ao 
paciente que ele está atento e 
tranquilo para ouvi-lo. 
2. O entrevistador deve evitar perguntas 
muito direcionadas, fechadas, que 
possam ser respondidas com um sim 
ou um não categóricos; também deve 
evitar perguntas muito longas e 
complexas, difíceis de serem 
compreendidas pelo paciente. 
3. É sempre melhor fazer intervenções 
do tipo “Como foi isso?”, “Explique 
melhor”, “Conte um pouco mais 
sobre isso”, do que questões como 
“Por quê?” ou “Qual a causa?”. 
A confidencialidade é um componente essencial 
do relacionamento paciente-médico. O 
entrevistador deve fazer o possível para garantir 
que o conteúdo da entrevista não possa ser ouvido 
por outras pessoas. 
Às vezes, em uma unidade hospitalar ou em outro 
local institucional, isso pode ser difícil. Se o 
paciente estiver dividindo um quarto com outros, 
deve-se tentar usar uma sala diferente para a 
entrevista. Se isso não for possível, o entrevistador 
pode ter de evitar certos tópicos ou indicar que 
essas questões podem ser discutidas 
posteriormente quando a privacidade puder ser 
assegurada. 
Se um familiar desejar conversar com o 
psiquiatra, em geral é preferível um encontro com 
o(s) familiar(es) e o paciente juntos no fim da sessão 
e após este ter dado seu consentimento. 
Em contextos educacionais e, algumas vezes, 
forenses, pode haver ocasiões em que a sessão 
seja gravada. O paciente deve ser informado sobre 
a gravação e como ela será usada. Deve ser 
discutido por quanto tempo a gravação será mantida 
e como o acesso a ela será restrito. 
 
Problemas mentais e do comportamento 
 
5 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
Estas últimas estimulam o paciente a 
fechar e encerrar sua fala. 
4. O entrevistador deve buscar para cada 
paciente em particular o tipo de 
intervenção que facilite a continuidade 
de sua fala. 
História da doença atual; 
A doença atual é uma descrição 
cronológica da evolução dos sintomas do 
episódio atual. Além disso, o relato também 
deve incluir qualquer mudança que ocorreu 
durante esse mesmo período de tempo nos 
interesses, nas relações interpessoais, nos 
comportamentos, nos hábitos pessoais e na 
saúde física do paciente. 
É importante identificar por que o paciente 
está buscando ajuda nesse momento e 
quais são os fatores “desencadeantes” 
(“Estou aqui agora porque minha namorada 
me disse que se eu não procurar ajuda para 
esse nervosismo ela vai me deixar.”). 
História psiquiátrica pregressa; 
Na história psiquiátrica pregressa, o médico 
deve obter informações sobre todas as 
doenças psiquiátricas e seu curso ao 
longo da vida do paciente, incluindo sintomas 
e tratamento. 
Deve incluir quando eles ocorreram, quanto 
tempo duraram e sua frequência e 
gravidade. Os tratamentos dos episódios 
anteriores devem ser revistos em detalhes, 
exemplo obrigatoriedade em tratar. 
Deve ser dada consideração especial ao 
estabelecimento de uma história de 
letalidade, importante na avaliação do risco 
atual. Ideação, intenção, plano e tentativas 
de suicídio passados devem ser revistos; 
Uma revisão cuidadosa de uso, abuso e 
adições de substâncias (drogas e álcool) é 
essencial para a entrevista psiquiátrica. 
A duração e o número de entrevistas iniciais, 
com fins diagnósticos e de planejamento 
terapêutico, não são fixos, dependendo do 
contexto institucional onde se dá a prática 
profissional, da complexidade e da gravidade 
do caso e da habilidade do entrevistador. 
 
Exame físico 
Sinais vitais, peso, circunferência da cintura, 
índice de massa corporal e altura podem ser 
medidas importantes a acompanhar, em 
particular devido aos efeitos potenciais dos 
medicamentos psiquiátricos ou de doenças 
sobre esses parâmetros. 
A Escala de Movimentos Involuntários 
Anormais-AIMS) é um teste de triagem 
importante a ser seguido quando se utiliza 
medicamento antipsicótico para monitorar 
efeitos colaterais potenciais, como discinesia 
tardia. 
Aqueles com transtornos mentais graves 
(TMGs) apresentam doenças físicas bem 
mais frequentemente do que a população 
em geral. Isso ocorre em associação ao 
enfrentamento de múltiplas barreiras para o 
Problemas mentais e do comportamento 
 
6 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
acesso ao cuidado apropriado em saúde 
física. 
Essas combinações têm como 
consequência a mortalidade precoce das 
pessoas com TMG. Esses indivíduos têm 
uma expectativa de vida reduzida em 15 a 
20 anos em comparação com a população 
em geral. 
As condições, os riscos e as doenças físicas 
mais frequentes em pessoas com TMG são: 
diabetes tipo II e resistência à insulina, 
dislipidemia, doenças cardiovasculares 
(hipertensão arterial, arritmias cardíacas), 
neoplasias malignas, HIV/aids, obesidade, 
tabagismo, uso de álcool e de outras 
substâncias e efeitos colaterais dos 
psicofármacos. 
Houve um aumento na frequência de 
doenças físicas em pessoas com TMG, as 
patologias físicas são subdiagnosticadas, 
não sendo adequadamente reconhecidas e 
tratadas nesses pacientes. Algumas das 
causas dessas falhas são: 
1. O clínico geral (o médico não 
psiquiatra, de forma geral) tende a não 
examinar adequadamente o paciente 
com TMG, pois ele não é “seu 
paciente”, é “paciente apenas do 
psiquiatra ou do psicólogo”. 
2. O psiquiatra não realiza o exame físico 
do indivíduo, pois não se considera “
médico do corpo”, mas “especialista 
da mente” ou “médico 
exclusivamente do psiquismo”. 
3. Os pacientes com TMG têm 
dificuldades em acessar os serviços 
gerais de saúde. Estas podem 
decorrer de desorganização 
comportamental, dificuldades 
cognitivas ou inibição em decorrência 
de sintomas mentais (como ideias 
paranoides, depressão, baixa 
autoestima), assim como desgaste da 
família e consequente descuido com a 
saúde do familiar com TMG. 
4. Os pacientes com TMG podem ter 
dificuldades em comunicar 
objetivamente suas queixas 
somáticas. 
5. Os indivíduos com TMG podem não 
ser adequadamente ouvidos pelos 
médicos em geral, pois o estigma de 
“louco”, de “doente mental” ou 
de “paciente psiquiátrico” às vezes, 
infelizmente, invalida suas queixas 
somáticas para quem as ouve. 
6. Há considerável preconceito contra 
pessoas com TMG em muitos serviços 
de saúde geral e de especialidades 
médicas, impedindo que essas 
pessoas recebam os cuidados devidos 
em saúde física. 
O exame físico do paciente com transtornos 
mentais, diferentemente do que alguns 
Problemas mentais e do comportamento 
 
7 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
supõem, quando realizado de forma 
adequada, pode ser um excelente 
instrumento de aproximação afetiva, 
principalmente com indivíduos muito 
regredidos, inseguros e mesmo psicóticos. 
 
Exame neurológico 
A avaliação neurológica do paciente com 
transtorno mental não difere muito da que não 
tem. Alguns pontos, entretanto, devem ser 
aqui lembrados: 
A avaliação neurológica depende de 
anamnese bem colhida e de exame 
neurológico objetivo, que, bem realizado, 
visa identificar topograficamente uma 
possível lesão ou disfunção no sistema 
nervoso central e/ou periférico. 
Deve-se lembrar, entretanto, de que muitas 
afecções neuronais, responsáveis por 
quadros neuropsiquiátricos, embora 
presentes e clinicamente significativas, não 
produzem sintomas localizatórios.A avaliação neurológica baseia-se 
sobremodo no exame neurológico. Neste, a 
presença de sinais neurológicos claramente 
patológicos (como o sinal de Babinski na 
síndrome piramidal) e as assimetrias são 
aspectos muito relevantes. O médico sempre 
deve estar atento à assimetria da força 
muscular nos membros, dos reflexos 
miotáticos profundos e musculocutâneos 
superficiais. 
Igualmente, deve pesquisar, de forma 
cuidadosa, as diversas alterações sensitivas 
(tátil, dolorosa, vibratória, térmica, etc.). 
De particular importância em neuropsiquiatria 
são alguns sinais e reflexos neurológicos, 
ditos primitivos, indicadores de lesão 
cerebral cortical difusa, encefalopatia ou 
lesões corticais frontais difusas sem que haja, 
necessariamente, outros sinais localizatórios. 
São os seguintes os reflexos primitivos: 
Reflexo de preensão (grasping ou grasp 
reflex). É a resposta de flexão dos dedos 
evocada pelo contato rápido de um objeto 
com a região palmar (ou plantar) do paciente, 
respondendo este com um movimento 
involuntário de preensão. 
O grasping é considerado uma manifestação 
motora primitiva, pois é observado em recém-
nascidos e lactentes. 
 Em adultos, o reflexo de preensão tem 
importante valor diagnóstico: sendo bilateral, 
é muito sugestivo de lesão ou disfunção 
frontal ou de sofrimento cerebral difuso 
(encefalopatias); sendo unilateral, localiza a 
lesão na área 6 de Broadman contralateral. 
O grasping é o mais significativo dos reflexos 
primitivos. 
Reflexo de sucção. Esse reflexo pode 
ocorrer em lesões frontais (mas também em 
encefalopatias difusas). 
Reflexo orbicular dos lábios. A percussão 
da área acima do lábio superior, na linha 
média, pode produzir a projeção reflexa dos 
Problemas mentais e do comportamento 
 
8 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
lábios para a frente. A compressão dessa 
área pode desencadear uma clara projeção 
dos lábios, como se o indivíduo fizesse um 
bico ou focinho (snout reflex, ou reflexo do 
focinho). Embora menos específico que o 
grasping e o reflexo de sucção, o reflexo 
orbicular dos lábios e o snout reflex podem 
ser indicativos de dano cerebral difuso. 
Reflexo palmomentual. Pelo estímulo 
cutâneo da eminência tenar da mão, pode-se 
observar no queixo do paciente a contração 
do pequeno músculo do mento ipsilateral e 
sua elevação e, eventualmente, a elevação 
do lábio inferior ipsilateral à mão estimulada. 
Esse reflexo pode ser observado em idosos, 
em indivíduos com lesões piramidais e em 
quadros encefalopáticos difusos. 
 
Exame psíquico 
Exame do estado mental 
O exame do estado mental (EEM) é o 
equivalente psiquiátrico do exame físico no 
resto da medicina. O EEM explora todas as 
áreas de funcionamento mental e mostra 
evidências de sinais e sintomas de doenças 
mentais. 
Os dados são obtidos ao longo de toda a 
entrevista, desde os momentos iniciais da 
interação, considerando o que o paciente 
está vestindo e sua apresentação geral. 
A maior parte das informações não requer 
questionamento direto, e as obtidas por 
observação podem dar ao médico um 
conjunto de dados diferente das respostas do 
paciente. 
 O questionamento direto aumenta e 
completa o exame. O EEM dá ao médico um 
instantâneo do estado mental do paciente no 
momento da entrevista e é útil nas visitas 
subsequentes para comparar e monitorar 
mudanças ao longo do tempo. 
O EEM psiquiátrico inclui avaliação cognitiva 
mais frequentemente na forma do Miniexame 
do Estado Mental (MEEM), mas este não 
deve ser confundido com o EEM global. 
Os componentes do EEM são apresentados 
nesta seção na ordem em que se poderia 
incluí-los nasanotações escritas para fins de 
organização, mas, como já foi observado, os 
dados são obtidos ao longo de toda a 
entrevista. 
Aparência e comportamento. Esta seção 
consiste em uma descrição geral de como o 
paciente parece e age durante a entrevista. 
Aspectos característicos, como 
desfigurações, cicatrizes e tatuagens, são 
observados. 
A arrumação e a higiene também fazem parte 
da aparência geral e podem ser indícios do 
nível de funcionamento do paciente. 
A descrição do comportamento de um 
paciente inclui uma declaração geral sobre se 
ele está exibindo perturbação aguda e, então, 
uma declaração mais específica sobre a 
postura dele em relação à entrevista. O 
paciente pode ser descrito como cooperativo, 
Problemas mentais e do comportamento 
 
9 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
agitado, desinibido, desinteressado, e assim 
por diante. 
Atividade motora. Pode ser descrita como 
normal, lentificada (bradicinesia) ou agitada 
(hipercinesia). Isso pode dar indícios para 
diagnósticos (p. ex., depressão vs mania), 
bem como para problemas neurológicos ou 
clínicos confundidores. 
A marcha, a liberdade de movimentos, 
quaisquer posturas incomuns ou 
continuadas, andar de um lado para outro e 
torcer as mãos são descritos. Deve ser 
observada a presença ou ausência de tiques, 
que podem ser nervosismo, tremor, aparente 
inquietação, estalar a boca e protusões da 
língua. 
Fala. A avaliação da fala é uma parte 
importante do EEM. Os elementos 
considerados incluem fluência, quantidade, 
ritmo, tom e volume. Fluência pode se referir 
a se o paciente tem total comando da língua 
ou problemas de fluência possivelmente mais 
sutis, como tartamudez, dificuldade para 
encontrar as palavras ou erros parafásicos. 
A avaliação da quantidade de fala diz respeito 
a se ela é normal, aumentada ou diminuída. 
Menos quantidade de fala pode sugerir 
diversas coisas, variando de ansiedade ou 
desinteresse a bloqueio de pensamento ou 
psicose. Mais quantidade de fala com 
frequência (mas nem sempre) é sugestivo de 
mania ou hipomania. 
Humor. Os termos humor e afeto variam em 
sua definição, e alguns autores têm 
recomendado combinar os dois elementos 
em um novo rótulo “expressão emocional”. 
Tradicionalmente, o humor é definido como o 
estado emocional interno e continuado do 
paciente. 
Sua experiência é subjetiva; portanto, é 
melhor usar as próprias palavras do paciente 
para descrever seu humor. Termos como 
“triste”, “irritado”, “culpado” ou “ansioso” são 
descrições comuns do humor. 
Afeto. Afeto difere de humor, visto que é a 
expressão do humor ou o que o humor do 
paciente parece ser para o médico. O afeto é 
descrito, muitas vezes, com os seguintes 
elementos: qualidade, quantidade, variação, 
adequação e congruência. 
Os termos usados para descrever a 
qualidade (ou o tom) do afeto de um paciente 
incluem disfórico, feliz, eutímico, irritável, 
irritado, agitado, choroso, soluçante e 
embotado. 
O afeto também pode ser congruente ou 
incongruente com o humor ou o conteúdo de 
pensamento do paciente. Um paciente pode 
relatar se sentir deprimido ou descrever um 
tema depressivo, mas fazê-lo rindo, sorrindo 
e sem sugestão de tristeza. 
Conteúdo do pensamento. É 
essencialmente os pensamentos que estão 
ocorrendo ao paciente, deduzidos pelo que 
ele expressa de maneira espontânea, bem 
Problemas mentais e do comportamento 
 
10 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
como pelas respostas a perguntas 
específicas visando evocar determinada 
patologia. 
Pensamentos obsessivos são aqueles 
indesejados e repetitivos que invadem a 
consciência. São, em geral, alheios ao ego, e 
o paciente resiste a eles. As compulsões são 
comportamentos repetitivos e ritualizados 
que os pacientes se sentem compelidos a 
realizar para evitar um aumento na ansiedade 
ou algum desfecho temido. 
Outra grande categoria de patologia do 
conteúdo do pensamento são os delírios. 
Delírios são ideias fixas, falsas, que não são 
compartilhadas por outras pessoas e podem 
ser divididos em bizarros e não bizarros. 
Processo de pensamento.Difere de 
conteúdo do pensamento porque não 
descreve o que a pessoa está pensando, 
mas, em vez disso, como os pensamentos 
são formulados, organizados e expressos. 
Um paciente pode ter processo de 
pensamento normal com conteúdo do 
pensamento significativamente delirante. 
O processo de pensamento normal costuma 
ser descrito como linear, organizado e 
orientado ao objetivo. Com a fuga de ideias, 
o paciente passa com rapidez de um 
pensamento para outro, em um ritmo que é 
difícil para o ouvinte acompanhar, mas todas 
as ideias estão conectadas de forma lógica. 
O paciente circunstancial inclui excesso de 
detalhes e material que não é diretamente 
relevante ao assunto ou a uma resposta à 
pergunta, mas em algum momento retorna 
para tratar do assunto ou responder à 
pergunta. 
O processo de pensamento tangencial pode, 
a princípio, parecer semelhante, mas o 
paciente nunca retorna ao ponto ou à questão 
original. 
Alterações na sensopercepção. Incluem 
alucinações, ilusões, despersonalização e 
desrealização. Alucinações são percepções 
na ausência de estímulos que as justifiquem. 
Alucinações auditivas são aquelas 
encontradas com mais frequência no 
contexto psiquiátrico. Outras alucinações 
podem incluir visuais, táteis, olfativas e 
gustativas (paladar). 
O entrevistador deve fazer uma distinção 
entre uma alucinação verdadeira e uma 
percepção errônea de estímulos (ilusão). 
Ouvir o vento sussurrar por entre as árvores 
do lado de fora e pensar que um nome está 
sendo chamado é uma ilusão. 
Cognição. Os elementos do funcionamento 
cognitivo que devem ser avaliados são o 
estado de alerta, orientação, concentração, 
memória (tanto de curto como de longo 
prazos), cálculo, cabedal de conhecimento, 
raciocínio abstrato, insight e julgamento. 
Raciocínio abstrato. É a capacidade de 
compreender e abstrair a partir de conceitos 
gerais e exemplos específicos. Pedir ao 
paciente para identificar semelhanças entre 
Problemas mentais e do comportamento 
 
11 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
objetos ou conceitos semelhantes (maçã e 
pera, ônibus e avião ou um poema e uma 
pintura), bem como interpretar provérbios, 
pode ser útil para avaliar a capacidade da 
pessoa de abstrair. 
Insight. Na avaliação psiquiátrica, refere-se 
ao entendimento do paciente de como está se 
sentindo, se apresentando e funcionando, 
bem como das possíveis causas de sua 
apresentação psiquiátrica. 
Ele pode não ter entendimento, ter 
entendimento parcial ou entendimento total. 
Um componente desse entendimento com 
frequência é o teste de realidade no caso de 
um paciente com psicose. 
Um exemplo de teste de realidade intacto 
seria: “Eu sei que na verdade não existem 
homenzinhos falando comigo quando estou 
sozinho(a), mas sinto como se pudesse vê-
los e ouvir suas vozes”. 
Julgamento. Refere-se à capacidade da 
pessoa de tomar boas decisões e agir de 
acordo com elas. O nível de julgamento pode 
ou não estar correlacionado com o nível de 
entendimento. Um paciente pode não ter 
consciência de sua doença, mas ter bom 
julgamento. 
Tem sido tradicional usar exemplos 
hipotéticos para testar o julgamento – por 
exemplo: “O que você faria se encontrasse 
um envelope selado na calçada?”. É melhor 
usar situações reais da própria experiência do 
paciente para testar o julgamento. 
 
 
EXAMES COMPLEMENTARES 
Os exames complementares laboratoriais, 
neurofisiológicos e de neuroimagem também 
são um auxílio fundamental ao diagnóstico 
psicopatológico, particularmente na detecção 
de disfunções e patologias neurológicas e 
sistêmicas que produzem síndromes e 
sintomas psiquiátricos. 
Os exames laboratoriais de sangue, urina e 
fezes, assim como as biópsias e as diferentes 
avaliações da patologia clínica, devem ser 
sempre utilizados de acordo com a boa 
prática médica geral. 
São de particular importância na prática 
clínica diária, pela frequência com que as 
alterações correspondentes são 
encontradas: hemograma completo, glicemia, 
hormônio tireoestimulante (TSH), creatinina, 
dosagem de vitamina B12 e vitamina D e 
sorologias para lues, hepatites e HIV/aids. 
Problemas mentais e do comportamento 
 
12 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
A avaliação do líquido cerebrospinal é um 
exame relativamente barato e que fornece 
muitas vezes informações valiosas ao 
profissional (em encefalites, doenças 
inflamatórias, neoplasias, infecções do 
sistema nervoso central [SNC], etc.), mas 
que, infelizmente, é com frequência 
negligenciado na psiquiatria. 
O eletrencefalograma (EEG), por sua vez, é 
bastante útil no diagnóstico diferencial dos 
quadros confusionais agudos (delirium), na 
classificação das diferentes formas de 
epilepsia e como parte da avaliação dos 
transtornos do sono (polissonografia). 
Já os exames de neuroimagem estrutural e 
funcional (tomografia computadorizada, 
ressonância magnética estrutural e funcional 
e perfusão sanguínea cerebral por meio de 
tomografia computadorizada por emissão de 
fóton único [SPECT]) são instrumentos 
sofisticados de grande auxílio para o 
diagnóstico diferencial em psicopatologia. 
 
GOMES - A família raramente se reconhece 
enferma. Num primeiro momento, a família 
pode, na tentativa de evitar entrar em 
contato com seus conflitos e dificuldades, 
apontar um de seus integrantes como 
enfermo, separando-se em "sadios" e 
"doentes". 
O conceito de transferência, introduzido por 
Freud, é um elemento fundamental que o 
profissional deve conhecer para realizar as 
entrevistas de forma mais habilidosa, 
entendendo e tratando seus pacientes de 
modo menos ingênuo, mais profundo e 
sensível. 
A transferência compreende atitudes, 
percepções, pensamentos e sentimentos 
cuja origem é basicamente inconsciente 
para o indivíduo. 
Inclui tanto sentimentos positivos quanto 
negativos. 
Esses sentimentos são uma repetição 
inconsciente do passado; o analista (ou 
médico, psicólogo, profissional da saúde, 
etc.) passa a ocupar, no presente, o lugar que 
o pai ou a mãe ocupavam no passado. 
O paciente não se dá conta, dizia Freud 
([1926]/1986), da natureza de tais 
sentimentos, e os considera como novas 
experiências reais, em vez de identificar o 
que realmente são, ou seja, reflexos, 
repetições de sentimentos do passado. O 
próprio Freud descreveu a transferência: 
Eles desenvolvem com seu médico relações 
emocionais, tanto de caráter afetuoso 
como hostil, que não se baseiam na 
situação real, sendo antes derivadas de 
suas relações com os pais (o complexo de 
Édipo). A transferência é a prova de que os 
adultos não superaram sua dependência 
infantil. 
Problemas mentais e do comportamento 
 
13 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
Segundo Jung (1999), a transferência não 
é mais que o processo comum de projeção: 
o paciente tende a projetar 
inconscientemente no profissional os afetos 
básicos que nutria (e nutre) pelas figuras 
significativas de sua vida. 
A contratransferência é, em certo sentido, a 
transferência que o clínico estabelece com 
seus pacientes. Da mesma forma que o 
paciente, o profissional da saúde projeta 
inconscientemente, no paciente, 
sentimentos que nutria no passado por 
pessoas significativas de sua vida. 
Sem saber por que, este ou aquele indivíduo 
desperta no clínico sentimentos de raiva, 
medo, piedade, carinho, repulsa, etc. 
Ao identificar tais reações 
contratransferenciais e conscientizar-se 
de que elas têm a ver com seus próprios 
conflitos, o profissional poderá lidar de forma 
mais racional e objetiva com o que está 
ocorrendo na relação com o paciente. 
 
Normal x patológico 
O conceito de saúde e de normalidade em 
psicopatologia é questão de grande 
controvérsia, sendo fundamental o 
questionamentopermanente e aprofundado 
sobre o que seriam o normal e o patológico. 
O comportamento e o estado mental das 
pessoas não são fatos neutros, exteriores 
aos interesses e preocupações humanas. 
Não se fica indiferente perante outros 
indivíduos, ao lidar com seus 
comportamentos, sentimentos e outros 
estados mentais. 
O conceito de normalidade em 
psicopatologia também implica a própria 
definição do que é saúde e doença/transtorno 
mental. 
Os principais critérios de normalidade 
utilizados em psicopatologia são: 
Normalidade como ausência de doença. O 
primeiro critério que geralmente se utiliza é o 
de saúde como “ausência de sintomas, de 
sinais ou de doenças”. Normal, do ponto de 
vista psicopatológico, seria, então, aquele 
indivíduo que simplesmente não é portador 
de um transtorno mental definido. Tal critério 
é bastante falho e precário, pois, além de 
redundante, baseia-se em uma “definição 
negativa”, ou seja, define-se a normalidade 
não por aquilo que ela supostamente é, mas 
por aquilo que ela não é, pelo que lhe falta. 
Normalidade ideal. A normalidade aqui é 
tomada como certa “utopia”. Estabelece-
se arbitrariamente uma norma ideal, aquilo 
que é supostamente “sadio”, mais “
evoluído. Depende, portanto, de critérios 
socioculturais e ideológicos arbitrários e, às 
vezes, dogmáticos e doutrinários. 
Normalidade estatística. A normalidade 
estatística identifica norma e frequência. 
Trata-se de um conceito de normalidade que 
se aplica especialmente a fenômenos 
Problemas mentais e do comportamento 
 
14 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
quantitativos, com determinada distribuição 
estatística na população geral (como peso, 
altura, tensão arterial, horas de sono, 
quantidade de sintomas ansiosos, etc.). 
O normal passa a ser aquilo que se observa 
com mais frequência. Os indivíduos que se 
situam estatisticamente fora (ou no extremo) 
de uma curva de distribuição normal passam, 
por exemplo, a ser considerados anormais ou 
doentes. EX: IMC 
Normalidade como bem-estar. A 
Organização Mundial da Saúde (WHO, 1946) 
definiu, em 1946, a saúde como o “completo 
bem-estar físico, mental e social”, e não 
simplesmente como ausência de doença. É 
um conceito criticável por ser muito amplo e 
impreciso, pois bem-estar é algo difícil de se 
definir objetivamente. Além disso, esse 
completo bem-estar físico, mental e social é 
tão utópico que poucas pessoas se 
encaixariam na categoria“saudáveis”. 
Normalidade funcional. Tal conceito baseia-
se em aspectos funcionais e não 
necessariamente quantitativos. O fenômeno 
é considerado patológico a partir do momento 
em que é disfuncional e produz sofrimento 
para o próprio indivíduo ou para seu grupo 
social. 
Normalidade como processo. Nesse caso, 
mais que uma visão estática, consideram-se 
os aspectos dinâmicos do desenvolvimento 
psicossocial, das desestruturações e das 
reestruturações ao longo do tempo, de crises, 
de mudanças próprias a certos períodos 
etários. 
Normalidade subjetiva. Aqui, é dada maior 
ênfase à percepção subjetiva do próprio 
indivíduo em relação a seu estado de saúde, 
às suas vivências subjetivas. O ponto falho 
desse critério é que muitas pessoas que se 
sentem bem, “muito saudáveis e felizes”, 
como no caso de sujeitos em fase maníaca 
no transtorno bipolar, apresentam, de fato, 
um transtorno mental grave. 
Normalidade como liberdade. Alguns 
autores de orientação fenomenológica e 
existencial propõem conceituar a doença 
mental como perda da liberdade existencial. 
Dessa forma, a saúde mental se vincularia às 
possibilidades de transitar com graus 
distintos de liberdade sobre o mundo e sobre 
o próprio destino. 
Portanto, de modo geral, pode-se concluir 
que os critérios de normalidade e de doença 
em psicopatologia variam consideravelmente 
em função dos fenômenos específicos com 
os quais se trabalha e, também, de acordo 
com as opções filosóficas do profissional ou 
da instituição. 
 
Timidez e fobia social têm coisas em comum, 
embora geralmente a timidez seja muito 
Problemas mentais e do comportamento 
 
15 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
menos agressiva em termos de manifestação 
de sintomas. 
Em ambos os casos, podem ser sentidas as 
mesmas coisas: vontade de fugir, medo, 
nervosismo, etc … mas quando se trata 
de uma fobia social, esses sintomas 
tão fortes fazem com que a pessoa 
evite se expor a situações temidas. Já uma 
pessoa tímida pode até se sentir mal, mas 
isso não a impede de seguir se expondo sem 
que isso cause danos a sua saúde. 
Timidez pode ser definida como um 
sentimento de apreensão ao enfrentar 
novas situações ou pessoas. Indivíduos 
que sofrem de timidez estão preocupados 
com “o que os outros podem pensar” deles, o 
que dificulta as suas interações sociais. 
Tais indivíduos tentam evitar situações 
sociais, tanto quanto possível, porque eles 
têm medo de se expressar pensando que 
estariam sujeitos a críticas e negatividade. 
Já a fobia social, por outro lado, é muito mais 
grave do que timidez. Ela pode ser definida 
como uma condição de medo extremo que é 
experimentado por um indivíduo em 
interações sociais que decorre do medo de 
ser rejeitado ou julgado pelos outros. 
Uma pessoa que sofre de fobia social 
geralmente tem uma autoestima muito baixa 
e exibe uma autoconsciência extrema em 
quase qualquer atividade em que se envolve 
no dia a dia. A pessoa está constantemente 
incomodada sobre suas interações com os 
outros, especialmente com a possibilidade de 
‘não ser boa o suficiente “. 
 
O transtorno de ansiedade social (também 
referido como fobia social) envolve o medo de 
situações sociais, incluindo aquelas que 
envolvem escrutínio ou contato com 
estranhos. 
O termo ansiedade social reflete a 
diferenciação entre transtorno de ansiedade 
social e fobia específica, que é o medo 
intenso e persistente de um objeto ou uma 
situação. 
As pessoas com transtorno de ansiedade 
social temem se embaraçar em situações 
sociais (i.e., reuniões sociais, apresentações 
orais, encontro com pessoas novas). 
Elas podem ter medos específicos de realizar 
determinadas atividades, como comer ou 
falar na frente dos outros, ou podem 
experimentar um medo vago e inespecífico 
de “embaraçar-se”. 
Em ambos os casos, o medo no transtorno de 
ansiedade social é do embaraço que pode 
ocorrer na situação, não da situação em si. 
 
Epidemiologia 
Vários estudos relataram uma prevalência ao 
longo da vida variando de 3 a 13% para 
transtorno de ansiedade social. A prevalência 
https://www.fasdapsicanalise.com.br/por-que-sair-de-um-relacionamento-abusivo-nao-e-tao-simples-assim/
https://www.fasdapsicanalise.com.br/como-sao-desenvolvidas-autoestima-e-autoconfianca/
Problemas mentais e do comportamento 
 
16 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
em seis meses é de aproximadamente 2 a 3 
por 100 pessoas. 
Em estudos epidemiológicos, as mulheres 
são afetadas com mais frequência do que os 
homens, mas, em amostras clínicas, o 
inverso muitas vezes é verdadeiro. As razões 
para essas observações variáveis são 
desconhecidas. A idade de pico de início pra 
transtorno de ansiedade social é na 
adolescência, embora seja comum dos 5 aos 
35 anos. 
 
Comorbidade 
As pessoas com transtorno de ansiedade 
social podem ter história de outros 
transtornos de ansiedade, transtornos do 
humor, transtornos relacionados a 
substâncias e bulimia nervosa. 
 
Etiologia 
Vários estudos relataram que algumas 
crianças possivelmente tenham um traço 
caracterizado por um padrão consistente de 
inibição comportamental. Esse traço pode ser 
mais comum nos filhos de pais com 
transtorno de pânico e pode se desenvolver 
para timidez grave à medida que crescem. 
Pelo menos algumas pessoascom transtorno 
de ansiedade social podem ter exibido 
inibição comportamental durante a infância. 
Talvez associados com esse traço, que se 
acredita ter uma base biológica, estejam os 
dados baseados em estudos psicológicos 
que indicam que os pais de pessoas com 
transtorno de ansiedade social, como um 
grupo, foram menos carinhosos, mais 
rejeitadores e mais superprotetores de seus 
filhos do que outros pais. 
Alguns estudos sobre esse transtorno têm 
feito referência ao espectro de dominância a 
submissão observado no reino animal. Por 
exemplo, enquanto humanos dominantes 
podem tender a andar com o nariz empinado 
e a fazer contato pelo olhar, humanos 
submissos podem tender a andar com a 
cabeça baixa e a evitar contato pelo olhar. 
 
Fatores neuroquímicos 
O sucesso dos tratamentos farmacológicos 
na fobia social gerou duas hipóteses 
neuroquímicas específicas sobre dois tipos 
de transtorno de ansiedade social. 
Especificamente, a utilização de antagonistas 
dos receptores β-adrenérgicos – por 
exemplo, propranolol – para as fobias de 
desempenho (p. ex., falar em público) levou 
ao desenvolvimento de uma teoria 
adrenérgica para essas fobias. 
Pacientes com fobias de desempenho podem 
liberar mais norepinefrina ou epinefrina, tanto 
central como perifericamente, do que 
pessoas não fóbicas, ou podem ser sensíveis 
a um nível normal de estimulação 
adrenérgica. 
A observação de que os IMAOs podem ser 
mais eficazes do que os medicamentos 
Problemas mentais e do comportamento 
 
17 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
tricíclicos no tratamento do transtorno de 
ansiedade social generalizada, em 
combinação com dados pré-clínicos, levou 
alguns investigadores à hipótese de que a 
atividade dopaminérgica está relacionada à 
patogênese do transtorno. 
Um estudo mostrou concentrações de ácido 
homovanílico bastante diminuídas. Uma 
abordagem que utilizou SPECT demonstrou 
redução da densidade de locais de 
recaptação de dopamina estriatal. Portanto, 
alguma evidência sugere uma disfunção 
dopaminérgica no transtorno de ansiedade 
social. 
 
Fatores genéticos 
Parentes em primeiro grau de pessoas com 
transtorno de ansiedade social têm cerca de 
três vezes mais probabilidade de ser afetados 
com a condição do que parentes em primeiro 
grau de indivíduos sem transtornos mentais. 
Alguns dados preliminares indicam que 
gêmeos monozigóticos concordam com mais 
frequência do que dizigóticos, embora no 
transtorno de ansiedade social seja 
particularmente importante estudar gêmeos 
criados separados para ajudar a controlar 
para fatores ambientais. 
 
Diagnóstico e características clínicas 
Os critérios diagnósticos do DSM-5 para 
transtorno de ansiedade social são listados 
na Tabela 9.5-2. O médico deve reconhecer 
que pelo menos algum grau de ansiedade 
social ou de constrangimento é comum na 
população em geral. 
Estudos da comunidade sugerem que cerca 
de um terço de todas as pessoas se 
considera muito mais ansiosa do que outras 
em situações sociais. 
Além disso, essas preocupações podem 
parecer particularmente aumentadas durante 
certos estágios do desenvolvimento, como na 
adolescência, ou após transições de vida, 
como casamento ou mudanças de emprego, 
associadas com novas demandas por 
interação social. 
Essa ansiedade apenas se torna transtorno 
de ansiedade social quando ela impede um 
indivíduo de participar de atividades 
desejadas ou causa sofrimento acentuado 
durante elas. O DSM-5 também inclui um 
especificador diagnóstico de somente 
desempenho, para pessoas que têm fobia 
social extrema especificamente em relação a 
falar ou se apresentar em público. 
Problemas mentais e do comportamento 
 
18 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
 
Diagnóstico diferencial 
O transtorno de ansiedade social precisa ser 
diferenciado do medo adequado e da timidez 
normal. As considerações diagnósticas 
diferenciais para esse transtorno são 
agorafobia, transtorno de pânico, transtorno 
da personalidade esquiva, transtorno 
depressivo maior e transtorno da 
personalidade esquizoide. 
Um indivíduo com agorafobia sente-se, 
muitas vezes, confortado pela presença de 
outra pessoa em uma situação que provoque 
ansiedade, mas um com transtorno de 
ansiedade social fica mais ansioso pela 
presença de outra pessoa. 
Enquanto falta de ar, tontura, sensação de 
sufocação e medo de morrer são comuns no 
transtorno de pânico e na agorafobia, os 
sintomas associados com transtorno de 
ansiedade social geralmente envolvem rubor, 
tensão muscular e ansiedade em relação a 
escrutínio. 
A diferenciação entre transtorno de 
ansiedade social e transtorno da 
personalidade esquiva pode ser difícil e exigir 
entrevistas e histórias psiquiátricas 
extensivas. 
A esquiva de situações sociais, muitas vezes, 
pode ser um sintoma na depressão, mas uma 
entrevista psiquiátrica com o paciente 
provavelmente revelará uma ampla 
constelação de sintomas depressivos. 
Em pacientes com transtorno da 
personalidade esquizoide, a falta de interesse 
em socializar, não o medo de socializar, leva 
ao comportamento social esquivo. 
Curso e prognóstico 
O transtorno de ansiedade social tende a 
começar no fim da infância ou início da 
adolescência. Achados epidemiológicos 
prospectivos existentes indicam que esse 
transtorno costuma ser crônico, embora os 
pacientes cujos sintomas sofrem remissão 
tendem a permanecer bem. Estudos 
epidemiológicos retrospectivos, bem como 
Problemas mentais e do comportamento 
 
19 Mírian Santos da Silva – 5° semestre 
 
estudos clínicos prospectivos, sugerem que o 
transtorno pode perturbar profundamente a 
vida de um indivíduo ao longo de muitos anos. 
Isso pode incluir problemas nas realizações 
acadêmicas e interferência no desempenho 
profissional e desenvolvimento social. 
 
Tratamento 
Tanto a psicoterapia como a farmacoterapia 
são úteis no tratamento do transtorno de 
ansiedade social. Alguns estudos indicam 
que a utilização de ambas produz resultados 
melhores do que cada tratamento 
isoladamente, ainda que o achado possa não 
ser aplicável a todas as situações e a todos 
os pacientes. 
Os medicamentos eficazes no tratamento do 
transtorno de ansiedade social incluem 1) 
ISRSs, 2) os benzodiazepínicos, 3) 
venlafaxina e 4) buspirona. A maioria dos 
médicos considera os ISRSs o tratamento de 
primeira linha para pacientes com formas de 
transtorno de ansiedade social mais 
generalizada. Os benzodiazepínicos 
alprazolam e clonazepam também são 
eficazes nesse transtorno. 
A buspirona mostrou efeitos adicionais 
quando utilizada para potencilizar o 
tratamento com ISRSs. 
Em casos graves, tem sido relatado o 
tratamento bem-sucedido com IMAOs 
irreversíveis, como a fenelzina, e também 
com os reversíveis, como a moclobemida e a 
brofaromina, que não estão disponíveis nos 
Estados Unidos. 
As doses terapêuticas da fenelzina variam de 
45 a 90 mg ao dia, com taxas de resposta 
variando de 50 a 70%; aproximadamente 5 a 
6 semanas são necessárias para avaliar sua 
eficácia. 
A psicoterapia para o transtorno de 
ansiedade social em geral envolve uma 
combinação de métodos comportamentais e 
cognitivos, incluindo retreinamento cognitivo, 
dessensibilização, treinos durante as sessões 
e uma variedade de recomendações de 
tarefas de casa. 
 
Referências bibliográficas 
1. Dalgalarrondo, Paulo. Psicopatologia 
e semiologia dos transtornos mentais 
[recurso eletrônico] / Paulo 
Dalgalarrondo. – 3. ed. – Porto Alegre 
: Artmed, 2019. 
2. Sadock, Benjamin J. Compêndio de 
psiquiatria : ciência do comportamento 
e psiquiatria clínica [recurso eletrônico] 
– 11. ed. – Porto Alegre : Artmed, 
2017. 
3. Terapia cognitivo-comportamental da 
fobia social: modelos etécnicas. 
Gustavo J. Fonseca D'El ReyI; Carla 
Alessandra PaciniII

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