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Psicopatologia Profa. Débora Cidro de Brito Definição • Psicopatologia: conjunto de conhecimentos referentes ao adoecimento mental do ser humano. • Sistemático • Elucidativo • Desmistificante • Psicopatólogo: obervar, identificar e compreender os diversos elementos da doença mental. Rejeita qualquer tipo de dogma. • Por ser um conhecimento científico, estará sempre sujeita a revisões, críticas e reformulações. Definição • Raízes: • Tradição médica (na obra dos grandes clínicos e alienistas do passado). • Tradição humanística (Filosofia, Literatura, Artes, Psicanálise). Sempre viu na “alienação mental” a possibilidade de reconhecimento da dimensão humano. • Ciência autônoma, serve de auxílio à Psiquiatria, a qual é, por sua vez, um conhecimento aplicado a uma prática profissional e social concreta. • Limites: Karl Jaspers – nunca se pode reduzir por completo o ser humano a conceitos psicopatológicos. • A ciência (a psicopatologia) sempre perde aspectos essenciais do homem, sobretudo nas dimensões existenciais, estéticas, éticas e metafísicas. Forma e Conteúdo dos Sintomas • Forma dos sintomas: estrutura básica, relativamente semelhante nos diversos pacientes (alucinação, delírio, ideia obsessiva, labilidade afetiva, etc). • Conteúdo dos sintomas: o que preenche o sintoma. Exemplo: conteúdo de culpa, religioso, de perseguição. Se relaciona com a história de vida do paciente, do seu universo cultural, de sua personalidade. • Geralmente relacionados aos temas centrais da existência humana. Quadro 2.1 Temas existenciais que frequentemente se expressam no conteúdo dos sintomas psicopatológicos Temas e interesses centrais para o ser humano O que busca e deseja Sexo Alimentação Conforto Físico Sobrevivência e prazer Dinheiro Poder Prestígio Segurança Controle sobre o outro Quadro 2.2 Temores que frequentemente se expressam no conteúdo dos sintomas psicopatológicos Temores centrais do ser humano Formas comuns de lidar com tais temores Morte Religião/mundo místico Continuidade através das novas gerações Ter uma doença grave Sofrer dor física ou moral Miséria Vias mágicas / medicina / psicologia, etc. Falta de sentido existencial Relações pessoais significativas Cultura Ordenação dos fenômenos • Fenômenos semelhantes em todas as pessoas: fome, sede, sono, medo, ansiedade, desejo, etc. • Fenômenos em parte semelhantes: o homem comum também experimenta, mas apenas em parte é semelhante aos que o doente mental vivencia. Exemplo: tristreza / depressão psicótica. • Fenômenos qualitativamente novos, diferentes: praticamente próprios apenas a certas doenças mentais. Exemplo: fenômenos psicóticos, como delírios, alucinações, turvação da consciência, alteração da cognição nas demências, entre outros. Conceito de normalidade em Psicopatologia • Questão de grande controvérsia. Há casos limítrofes, nos quais a delimitação entre comportamentos e formas de sentir normais e patológicas é bastante difícil. • Diferentes desdobramentos em várias áreas da saúde mental: • Psiquiatria legal ou forense • Epidemiologia • Psiquiatria cultural e etnopsiquiatria • Planejamento em saúde mental e políticas de saúde • Orientação e capacitação profissional • Prática clínica Critérios de normalidade • Há vários critérios de normalidade e anormalidade. A adoção de um ou de outro depende, entre outras coisas, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional • Principais critérios de normalidade utilizados em psicopatologia • Normalidade como ausência de doença • Normalidade ideal • Normalidade estatística: normal é aquilo que se observa com mais frequência • Normalidade como bem-estar: (OMS, 1946: saúde é o completo bem-estar físico, mental e social, e não simplesmente a ausência de doença) • Normalidade funcional: patológico se produz sofrimento para o indivíduo ou para seu grupo social Critérios de normalidade • Principais critérios de normalidade utilizados em psicopatologia • Normalidade como processo: conceito útil para se pensar a psiquiatria infantil, da adolescência, vida adulta e velhice. • Normalidade subjetiva: considera o percepção subjetiva do indivíduo. Riscos de falhas na percepção do quadro. • Normalidade como liberdade: influências existencialistas – doença mental é constrangimento do ser, é fechamento, fossilização das possibilidades existenciais. • Normalidade operacional: definição a priori do que é normal e o que é patológico. • Exigência de uma postura permanentemente crítica e reflexiva dos profissionais. Os principais campos e tipos de psicopatologia • Multiplicidade de abordagens e referenciais teóricos: visto por alguns como uma “debilidade” científica e visto por outros como um campo de conhecimento que requer debate constante e aprofundado. • Algumas das principais correntes da psicopatologia: • Psicopatologia descritiva X Psicopatologia dinâmica: a psicopatologia descritiva interessa-se pela forma das alterações psíquicas, a estrutura do sintoma. A psicopatologia dinâmica se interessa pelo conteúdo da vivência, os movimentos internos dos afetos, a experiência particular. Os principais campos e tipos de psicopatologia • Algumas das principais correntes da psicopatologia: • Psicopatologia médica X Psicopatologia existencial: a perspectiva médico-naturalista trabalha com a noção de homem biológico. O adoecimento mental é visto como um mau funcionamento do cérebro, uma desregulação do “aparelho biológico”. Já a psicopatologia existencial considera a existencial singular de cada sujeito, o ser é construído por meio da experiência particular de cada sujeito, na sua relação com os outros. A doença é um modo particular de existência, uma forma trágica de ser no mundo. • Psicopatologia comportamental-cognitivista X Psicopatologia psicanalítica: na primeira perspectiva, o homem é visto como um conjunto de comportamentos observáveis, regulados por estímulos específicos. Soma-se a isto, o entendimento de que representações cognitivas disfuncionais, reforçadas pela experiência sociofamiliar explicariam os sintomas e o adoencimento. A Psicopatologia psicanalítica entende o homem como ser determinado pelas forças do inconsciente, dando grande importância aos afetos. Os sintomas e síndromes mentais são formas de expressão de conflitos, predominantemente inconscientes, de desejos que não podem ser realizados, de temores dos quais o indivíduo não tem acesso. Os principais campos e tipos de psicopatologia • Algumas das principais correntes da psicopatologia: • Psicopatologia categorial X Psicopatologia Dimensional: na primeira corrente, os diagnósticos psiquiátricos configuram-se como entidades ou categorias diagnósticas diferentes e discerníveis na sua natureza básica. Na segunda corrente, as delimitações não são tão claras, considerando dimensões, como o espectro esquizofrênico, que incluiria quadros diferentes de esquizofrenia, chegando até um outro pólo, de transtornos afetivos • Psicopatologia biológica X psicopatologia cultural: a psicopatologia biológica considera os aspectos cerebrais, neuroquímicos ou neurofisiológicos – “doenças mentais são (de fato) doenças cerebrais”. A psicopatologia cultural entende o adoecimento como resultante de certos fatores socioculturais, como a discriminação, a pobreza, migração, estresse ocupacional, desmoralização sociofamiliar, etc. Os principais campos e tipos de psicopatologia • Algumas das principais correntes da psicopatologia: • Psicopatologia Operacional-Pragmática X Psicopatologia Fundamental: a primeira corrente é vista nas modernas classificações de transtornos mentais, o DSM-V e o CID-10. Já a psicopatologia fundamental tem como base a psicanálise, busca entender os fundamentos de cada conceito psicopatológico, dando ênfase à noção de doença mental como pathos, que significa sofrimento, paixão e passividade. O phatos ao ser narrado a um determinado interlocutor, em certa condições, pode ser transformadoem experiência e enriquecimento. Funções psíquicas elementares e suas alterações Sensação e Percepção • Sensação: é a ativação dos órgãos dos sentidos por uma fonte de energia física. • Estímulo: é qualquer fonte passageira de energia física que produz uma resposta em um órgão dos sentidos. • Percepção: é a classificação, interpretação, análise e integração de estímulos realizados pelos órgãos dos sentidos e pelo cérebro. Memória • Processo pelo qual codificamos, armazenamos e recuperamos uma informação. • Codificar: registrar de forma a ser usado posteriormente; • Armazenar: manutenção do material salvo na memória; • Recuperação: material armazenado agora é recuperado/localizado e levado à consciência. • Motivação: fatores que direcionam e energizam o comportamento dos seres humanos e de outros organismos. • Emoção: Sentimentos que comumente têm elementos fisiológicos e cognitivos e que influenciam o comportamento. • 1. Preparam-nos para a ação - “luta e fuga” 2. Moldam nosso comportamento futuro 3. Ajudam-nos a interagir mais efetivamente com os outros. • Pensamento: manipulação das representações mentais da informação. • Uma representação pode assumir a forma de uma palavra, de uma imagem visual, de um som ou de dados em qualquer outra modalidade sensorial que estejam armazenados na memória. • Cognição refere-se a todas as atividades associadas a processamento, conhecimento, recordação e comunicação Alterações quantitativas da sensopercepção • Hiperestesia: percepções anormalmente aumentadas • Hipoestesia: percepção com menor intensidade. Verificado em casos de depressão • Analgesias ou anestesias táteis • Parestesias: sensações táteis desagradáveis, geralmente associadas a doenças neurológicas e em geral espontâneas • Disestesias: sensações anômalas, em geral dolorosas, desencadeados por estímulos externos Alterações qualitativas da sensopercepção • Ilusão: Percepção deformada de um objeto real e presente Rebaixamento do nível de consciência Fadiga grave ou de intenção marcante Estado afetivos – ilusões catatímicas Alterações qualitativas da sensopercepção • Alucinações Percepção de um objeto, sem que este esteja presente, sem o estímulo sensorial respectivo Alucinações auditivas: Simples / Complexas (audioverbal) / Sonorização do pensamento Ocorrem com maior frequência na esquizofrenia, mas possível também nos transtornos de humor. Depressão grave: conteúdo negativo, de culpa, de ruína. Mania: conteúdo de grandeza ou místico-religioso Ocorrem também em pessoas que sofrem de alcoolismo crônico, transtorno de personalidade, transtorno dissociativo. Quando se verifica alucinações auditivas em pacientes com nível de consciência normal, forte convicção, sem insight e crítica, havendo ausência de transtorno de humor, a hipótese que se impõe é a esquizofrenia Alterações qualitativas da sensopercepção • Alucinações visuais Alucinações visuais simples: fotopsias e escotomias – geralmente distúrbios oftalmológicos. Ocorrem com frequência em pacientes com doenças oculares, déficit ou privação visual, mas podem ocorrer em casos de esquizofrenia, acidentes vasculares, abuso de álcool, enxaqueca ou epilepsia. Alucinações complexas ou configuradas: figuras ou imagens de pessoas, partes do corpo, entidades, objetos inanimados, animais, crianças, alucinações cenográficas, alucinação liliputiana. Pode ocorrer em estados de adormecimento, ou despertar do sono, estados de fadiga ou emoções intensas, ou na seguinte ordem de frequência: Alterações qualitativas da sensopercepção • Alucinações complexas: • Narcolepsia • Demência por corpos de Lewy • Doença de Parkinson com demência • Delirium (sobretudo no delirium tremens dos alcoolistas) • Esquizofrenia • Demência Vascular • Doença de Alzheimer • Doenças Oftalmológicas • Intoxicação por alucinógenos Alterações qualitativas da sensopercepção • Alucinações táteis • Alucinações olfativas e gustativas • Alucinações cenestésicas ou cinestésicas • Alucinações funcionais • Alucinações combinadas • Alucinações extracampinas
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