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PSICOPATOLOGIA E SEMIOLOGIA DOS TRANSTORNOS MENTAIS DALGALARRONDO (ARTMED EDITORA LTDA., 2019 - 3º EDIÇÃO) CAP 1 - O que é semiologia psiquiátrica Semiologia é a ciência dos signos. Semiologia psicopatológica é o estudo dos sinais e sintomas dos transtornos mentais. Semiologia médica é o estudo dos sintomas e sinais da doenças. Signos além da linguística, também são gestos, atitudes e comptos não verbais. Signo é como um sinal, provido de significação e focamos naqueles que indicam a existência de transtornos e patologias. Os de maior interesse são sinais comportamentais (observação direta) e os sintomas. Charles Morris (1946) - Definiu três campos da semiologia: Semântica - relação signos e objetos Sintaxe - regras e leis Pragmática - relação signos e usuários Duas grandes subáreas; Semiotecnica - procedimentos de observação e coleta de sinais sintomas e sua descrição. Entrevista com paciente, familiares, amigos. Perguntas adequadas e observação minuciosa do compto. Semiogenese - investigação da origem, mecanismos de produção, significado e valor diagnostico/ clinico dos sinais e sintomas. “Propedêutica”- designação da semiologia, conhecimentos preliminares para inicio de uma ciência ou filosofia. Síndrome= descrição de um conjunto momentâneo e recorrente de sinais e sintomas, agrupamentos relativamente constates e estáveis de sintomas e sinais. - Agrupamento frequentes de sintomas/sinais (Clusters) POR VITORIA GOMES ALVES Entidades nosológicas, doenças ou transtornos específicos = pôde-se identificar padrões e estados típicos. Busca-se identificar mecanismos psi. e psicopatológicos característicos, genes específicos e respostas a intervenções. CAP 2 - Definição de psicopatologia e ordenação dos seus fenômenos A psicopatologia em acepção mais ampla pode ser definida como conjunto de conhecimentos referentes aos que adoecem, ao estado mental do ser humano, sistemático, elucidativo e desmistificaste. Busca ser cientifica, não aceita dogmas ou moralidade. Identificar e compreender os diversos elementos do transtorno mental. Tradição medica + tradição humanística e universitária = raizes da psicopatologia. Uma ciência autônoma. Os limites da ciência psicopatológica se resumem em nunca se poder reduzir por completo o ser humano a conceitos psicopatológicos. Exige um pensamento conceitual, sistemático e com clara comunicação. + intuição pessoal na pratica. “Nao se pode compreender ou explicar tudo o que existe em um ser humano por meio de conceitos psicopatológicos […] sempre resta algo que transcende a psicopatologia e mesmo a ciência, permanecendo no domínio do mistério.” Trata da natureza essencial da doença/transtorno mental, observando-a identificando e compreendendo seus elementos, através de um conjunto de conhecimentos livres de dogmas. Sobre os sintomas devemos analisar dois aspectos básicos= Forma - estrutura básica, relativamente semelhante nos pacientes (alucinação, ideia possessiva, fobia) Patogênese = processo que os sintomas se formam e estruturam. Geral, universal! Conteúdo - o que preenche a alteração estrutural (culpa, religiosos, perseguição) Patoplastia = como a forma é preenchida de temas (história de via). Pessoal, subjetiva. Sintomas, temas e historias dependem da história de vida singular do paciente e da cultura em que vive. Mais pessoal, subjetivo! Os conteúdos gerais dos sintomas são extraídos/constituídos pelos temas centrais da existência humana, como sobrevivência, segurança, sexualidade, ameaças e temores básicos, religiosidade e etc. Sao como ingredientes fundamentais na constituição da experiencia psicopatológica. Três tipos de fenômenos humanos para psicopatologia: 1. Fenômenos semelhantes em todas/quase todas pessoas. “Normal”, fome, sede, sono, ansiedade perante desafios difíceis, desejo de ser amado etc. 2. Fenômenos em parte semelhantes e em partes diferentes. O fenômeno vivenciado por uma pessoa “comum”e quem vive um transtorno mental, por exemplo a tristeza, pode ser semelhante em alguns aspectos mas a experiencia é profundamente diferente. 3. Fenômenos qualitativamente novos, distintos das vivências normais. Praticamente próprios, doenças, transtornos e estados mentais. CAP 3 - O conceito de normalidade em psicopatologia (31-34) O conceito de saude e normalidade em psicopatologia é questão de grande controvérsia. Implica na própria definição do que e saude e doença mental. Apresenta desdobramentos em varias áreas da saude mental como na psiquiatria legal/forense, epidemiologia psiquiátrica, psiquiatria cultural/etnopsquiatria, politica de saude, capacitação profissional e na pratica clinica. Critérios de normalidade A adoção desses critérios depende, entre outros, de opções filosóficas, ideológicas e pragmáticas do profissional. Os principais são; 1. Normalidade como ausência de doença, 2. Normalidade ideal (fato social, critérios socioculturais e ideológicos arbitrários); 3. Estatística (norma e frequência, fenômenos quantitativos); 4. Bem-estar (físico, mental e social - conceito impreciso e ate utópico); 5. Funcional (fenômeno patológico disfuncional; produz sofrimento ao individuo e grupo social); 6. Processo 7. Subjetiva (percepção do individuo - falho); 8. Liberdade (fenomenologia e existencialismo, perda da liberdade - doença mental, fechamento de possibilidades, saude mental como senso de realidade, humor e sentido de vida); 9. Operacional (arbitrário e pragmática). Esses critérios variam em função dos fenômenos específicos com os quais se trabalha. Em alguns casos, pôde-se utilizar a associação de vários critérios. Essa área exige postura crítica e reflexiva dos profissionais. CAP 4 - Os principais campos e tipos de psicopatologia (35-38) "[…] querer uma única “explicação”, uma única concepção teórica, que resolva todos os problemas e dúvidas de uma área tão complexa e multifacetada como a psicopatologia é impor uma solução simplista e artificial, que deformaria o fenômeno psicopatológico." P. 35 Multiplicidade de abordagens e referenciais teóricos. As principais correntes são: Psicopatologia descritiva: a forma das alterações psíquicas, estrutura dos sintomas. Psicopatologia dinâmica: conteúdo da vivencia, experiencia particular. Psicopatologia medica: medico naturalista - ser biológico, adoecimento mental como mau funcionamento do cérebro. Psicopatologia existencial: existência singular, doença mental não é vista tanto como disfunção biológica ou psicológica, uma forma trágica de ser no mundo, de construir um destino, modo doloroso de ser com os outros. Combinação que culmina uma boa pratica Psicopatologia comportamental-cognitivista: homem como conjunto de comptos observáveis, regulados por estímulos e leis. atenção sobre as representações cognitivas conscientes. Sintomas de comptos e representações cognitivas disfuncionais, aprendidas e reforçadas pela experiência sociofamiliar. Psicopatologia psicanalítica: homem visto como determinado por forcas, desejos e conflitos inconscientes. Importância aos afetos. Sintomas são considerados uma expressão de conflitos, em sua maioria inconscientes, de desejos não realizados e temores. Psicopatologia categorial: o patológicos compreendido em entidades individualizadas com fronteiras demarcadas. Diagnósticos separados em categorias diferentes e discernireis. Psicopatologia dimensional: dimensões (ex: espectro esquizofrênico que inclui formas diversas), polos. Psicopatologia biológica: aspectos cerebrais, neuroquímicos e neurofisiológicos. Transtorno mental como alterações nos mecanismos neurais. Psicopatologia sociocultural: transtornos mentais como comptos desviantes a partir de fatores socioculturais como discriminação, pobreza, estresse ocupacional, etc. Normas, valores e símbolos culturalmente construídos. Cultura fundamental para determinação do que e normal. Psicopatologia operacional:pragmática, transtornos mentais definidos de modo arbitrário em função da utilidade pragmática, clinica ou pesquisa. Modelo adotado pelo DSM e a CID. Psicopatologia fundamental: (psicanalise) atenção da pesquisa psicopatológica sobre os fundamentos de cada conceito. Noção de cena mental como sofrimento, paixão e passividade.