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12/02/2015 1 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Prof. Wesley Monteiro São elementos necessários da responsabilidade civil: CONDUTA HUMANA DANO OU PREJUÍZO NEXO DE CAUSALIDADE A CONDUTA HUMANA Apenas o homem por si ou por meio das pessoas jurídicas que forma, poderá ser civilmente responsabilizado. A CONDUTA HUMANA Conduta humana, para a responsabilidade civil, é todo e qualquer comportamento praticado por uma pessoa, comportamento este que há de ser positivo ou negativo, consciente e voluntário e causador de dano ou prejuízo. Não havendo VOLUNTARIEDADE, não há conduta humana! A CONDUTA HUMANA VOLUNTARIEDADE CONSCIÊNCIA DAQUILO QUE FAZ A CONDUTA HUMANA Ex. um cidadão está olhando um quadro no museu; em dado momento, tem uma micro hemorragia capilar nasal e instintivamente, espirra sangue no quadro; nesse caso, não há conduta humana, falta a pedra de toque que é o grau mínimo de vontade. A voluntariedade não traduz a intenção de causar o dano, mas sim, e tão somente a consciência daquilo que se está fazendo. 12/02/2015 2 A CONDUTA HUMANA Essa conduta pode ser positiva ou negativa: traduzir uma ação ou omissão. Ação: comportamento ativo. Ex: Sujeito que, embriagado, arremessa o seu veiculo contra o muro do vizinho. Omissão: abstenção voluntária (art. 186) Ex: Enfermeira que violando as suas regras de profissão e o próprio contrato de prestação de serviços que celebrou, deixa de ministrar os medicamentos ao seu patrão, por dolo ou desídia. A CONDUTA HUMANA A responsabilidade pode derivar de ato próprio, de ato de terceiro, que esteja sob a guarda do agente, e, ainda, de danos causados por coisas e animais que lhe pertençam. HÁ CONDUTA VOLUNTÁRIA DO RESPONSAVEL? Omissões ligadas a deveres jurídicos de custódia, vigilância ou má eleição de representantes, cuja responsabilização é imposta por norma legal. A CONDUTA HUMANA E A ILICITUDE SÍLVIO DE SALVO VENOSA “O ato de vontade, contudo, no campo da responsabilidade deve revestir-se de ilicitude.” ATO ILÍCITO A CONDUTA HUMANA E A ILICITUDE De fato, uma vez que a responsabilidade civil nos remete à ideia de atribuição das consequências danosas da conduta ao agente infrator, é lógico que, para a sua configuração, ou seja, para que haja a imposição do dever de indenizar, a referida atuação lesiva deva ser contrária ao direito, ilícita ou antijurídica. A imposição do dever de indenizar poderá existir mesmo quando o sujeito atua licitamente. Em outras palavras: poderá haver responsabilidade civil sem necessariamente haver antijuridicidade, ainda que excepcionalmente, por força de norma legal. A CONDUTA HUMANA E A ILICITUDE Exemplos: Art. 1.313 do CC Art. 1.285 do CC A CONDUTA HUMANA E A ILICITUDE Por outro lado, não desconhecemos, saliente-se mais uma vez, que, como regra geral, posto não absoluta, a antijuridicidade acompanha a ação humana causadora do dano reparável. Por isso, ressalte-se, como imperativo de rigor metodológico, que, por se tratar de uma situação excepcional (embora com hipóteses facilmente encontráveis no ordenamento jurídico), a responsabilização civil por ato lícito depende sempre de norma legal que a preveja. 12/02/2015 3 A CONDUTA HUMANA E A ILICITUDE ATO ILÍCITO ATO ILEGAL O ato ilegal não repercutiria na responsabilidade civil, pois não haveria propriamente uma violação a um interesse jurídico tutelado, mas sim a ausência da “realização de condições indispensáveis para a tutela jurídica de um interesse próprio”. O DANO Dano é a lesão ao bem protegido pelo ordenamento jurídico. Pode haver ato ilícito sem dano. O dano se divide em: Patrimonial; Extrapatrimonial. O DANO Dano patrimonial (art. 402 do CC): é lesão a um interesse econômico, interesse pecuniário. Divide-se em dano emergente e lucro cessante. O DANO Dano emergente (art. 402 do CC): são os prejuízos efetivamente sofridos pela vítima. É o decréscimo patrimonial. Lucro cessante ou lucros frustrados (art. 402 do CC): é o que a vítima deixou de auferir razoavelmente (certamente). Tudo o que a vítima deixou de ganhar. Também chamado de lucro frustrado. O DANO Segundo o art. 947 CC, deve-se buscar primeiro a recomposição à situação primitiva. O DANO Quando há cláusula penal, não há necessidade de provar o dano, art. 402, 1ª parte CC, o prejuízo já foi pré-estimado. 12/02/2015 4 O DANO O lucro cessante somente será concedido se provar que se não houvesse ocorrido o dano, provavelmente haveria um ganho econômico. Não pode pedir lucros cessantes de atividade ilícita, como a atividade de camelô. Mas caso a barraca em que o ambulante trabalhava tenha sido destruída, ele poderá pedir dano emergente. O DANO TEORIA DA PERDA DE UMA CHANCE É uma subclasse do dano emergente. É a oportunidade dissipada de obter futura vantagem ou de evitar um prejuízo em razão da prática de um dano injusto, Resp. 788.459. É o meio caminho entre dano emergente e lucro cessante. O benefício não era certo, era aleatório, mas havia uma chance e esta tinha um valor econômico. O valor da indenização deve ser menor que do lucro cessante. O juiz calcula com base na razoabilidade ou probabilidade, desta forma, ele faz uma proporcionalidade. O DANO SIM, esta teoria é aplicada pelo STJ que exige, no entanto, que o dano seja REAL, ATUAL e CERTO, dentro de um juízo de probabilidade, e não mera possibilidade, porquanto o dano potencial ou incerto, no espectro da responsabilidade civil, em regra, não é indenizável (REsp 1.104.665-RS, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 9/6/2009). Em outros julgados, fala-se que a chance perdida deve ser REAL e SÉRIA, que proporcione ao lesado efetivas condições pessoais de concorrer à situação futura esperada. (AgRg no REsp 1220911/RS, Segunda Turma, julgado em 17/03/2011) O DANO O dano resultante da aplicação da teoria da perda de uma chance é considerado dano emergente ou lucros cessantes? Trata-se de uma terceira categoria. Com efeito, a teoria da perda de uma chance visa à responsabilização do agente causador não de um dano emergente, tampouco de lucros cessantes, mas de algo intermediário entre um e outro, precisamente a perda da possibilidade de se buscar posição mais vantajosa que muito provavelmente se alcançaria, não fosse o ato ilícito praticado. (STJ. 4ª Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/11/2010) O DANO Exemplo de aplicação desta teoria Aplica-se a teoria da perda de uma chance ao caso de candidato a Vereador que deixa de ser eleito por reduzida diferença de oito votos após atingido por notícia falsa publicada por jornal, resultando, por isso, a obrigação de indenizar. (STJ. 3ª Turma, REsp 821.004/MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 19/08/2010) O DANO O simples fato de um advogado ter perdido o prazo para a contestação ou para a interposição de um recurso enseja indenização pela aplicação desta teoria? NÃO. Em caso de responsabilidade de profissionais da advocacia por condutas apontadas como negligentes, e diante do aspecto relativo à incerteza da vantagem não experimentada, as demandas que invocam a teoria da "perda de uma chance" devem ser solucionadas a partir de uma detida análise acerca das reais possibilidades de êxito do processo, eventualmente perdidas em razão da desídia do causídico. 12/02/2015 5 O DANO Vale dizer, não é o só fato de o advogado ter perdido o prazo para a contestação, como no caso em apreço, ou para a interposição de recursos, que enseja sua automática responsabilização civil com base na teoria da perda de uma chance. É absolutamente necessária a ponderação acerca da probabilidade - que se supõe real - que a parte teria de se sagrar vitoriosa. (STJ. 4ª Turma, REsp 1190180/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,julgado em 16/11/2010) O DANO Dano Moral ou Extrapatrimonial É uma lesão ao direito da personalidade da pessoa humana. Atinge a liberdade, igualdade, solidariedade ou psicofísica. Só existe dano moral quando a dignidade é atingida, art. 5º, V e X, CF. A reparação é gênero em que são espécies a indenização e a compensação. FUNÇÕES função de indenização; função ressarcitória; função de equivalência (restitui ao “status quo”, art. 947 do CC). é objeto de compensação; função satisfatória – satisfaz a vítima e a família. DANO PATRIMONIAL DANO MORAL Dano reflexo (ou em ricochete) Danos em ricochete São aqueles que, a despeito de não serem suportados pelos próprios sujeitos da relação jurídica principal, atingem pessoas próximas da vítima por derivarem diretamente da atuação ilícita do infrator. Obrigação de indenizar O dano reflexo é reparável porque é repercussão do dano direto e imediato, multiplicando o número de credores da indenização. 12/02/2015 6 DANO EM RICOCHETE Art. 948 CC trata sobre pensão no caso de homicídio. A pensão será de 2/3 dos proventos no caso de morte, até os 70 anos. A fração de 1/3 que o beneficiário não recebe, refere-se aos gastos que a vítima teria consigo. Se a vítima tiver mais de 70 anos, a indenização será calculada conforme o possível tempo de vida que ela teria. Há possibilidade de ser arbitrado alimentos provisórios. Pode também, haver determinação de astreintes, por parte do juiz. DANO EM RICOCHETE Se a vítima era uma criança que ajudava a família, os lucros cessantes serão até os 25 anos, no percentual de 2/3; após, cai pela metade e será devida até os 70 anos. Para o STJ, menor que não trabalhava a época do dano, e, caso a família seja pobre, haverá presunção de ajuda do menor no valor de um salário mínimo, dos 16 aos 25 anos. Caso ocorra acidente de trabalho, os lucros cessantes poderão ser pagos de uma só vez, sendo um direito potestativo previsto no artigo art. 950, § único, En 381 CJF, Súmula 313 STJ. Segundo o informativo 340 STJ, há possibilidade de alteração dos alimentos proveniente de ato ilícito, prestigiando o princípio da dignidade humana. Cumulação de danos É possível cumular dano moral com dano patrimonial por um só fato (súmula 37 STJ). Segundo o art. 186 CC, é possível pedir, exclusivamente, dano moral. É denominado dano moral puro ou autônomo. Excepcionalmente, poderá ser cumulado dano moral, patrimonial com o dano estético (a regra é a não cumulação do dano estético com o moral). Dano estético é uma lesão que causa desequilíbrio físico da vítima. DANOS COLETIVOS, DIFUSOS E A INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato; II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum. DANOS COLETIVOS, DIFUSOS E A INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS Os Direitos coletivos lato sensu dividem-se em: •Difusos: transindividuais; indivisíveis; pessoas indeterminadas. Não é possível atribuir esses direitos a uma pessoa nem a um grupo. Exemplos: Acessibilidade; restabelecimento de serviço público; direitos do idoso; direitos da criança e do adolescente. Uma medida que vai gerar benefícios para os aposentados presentes e futuros é um direito difuso. • Coletivos strictu sensu: transindividuais; indivisíveis; grupos, categoria s ou classes de pessoas. O direito é atribuído a um grupo, categoria ou classe de pessoas. Exemplo: Uma medida que vai gerar beneficio apenas para as pessoas que estão aposentadas no momento, é um direito coletivo. DANOS COLETIVOS, DIFUSOS E A INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS • Individuais homogêneos: Direitos individuais; origem comum; de várias pessoas. Decorrem de um mesmo fato, mas afetam diversas pessoas individualmente. O mesmo fato pode gerar direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. 12/02/2015 7 DANOS COLETIVOS, DIFUSOS E A INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS Exemplo: um acidente envolvendo um barco: Direitos Difusos: uma ação para obrigar as empresas a aumentar a segurança de todas as embarcações. Não é possível identificar os beneficiados, pois toda a coletividade o será. Direitos Coletivos: uma ação para obrigar a empresa envolvida a fazer uma campanha para resgatar a credibilidade do transporte marítimo. Os beneficiados são as demais empresas de transporte marítimo. Direitos Individuais Homogêneos: uma ação para indenizar as vítimas do acidente. Os beneficiados são as pessoas que demonstrarem que sofreram um dano em virtude do acidente. Nexo Causal Nexo Causal O nexo causal diz respeito a quem atribuir e a que extensão. É a relação de causa e efeito entre a conduta do agente e o dano. Teorias Explicativas do Nexo Causal A primeira delas, formulada em 1860 por Von Buri, considera como causa do dano qualquer evento que contribui para determinado dano, por si só, capaz de gerá-lo. Entende-se que se não fosse a presença de cada uma das condições na hipótese concreta, o dano não ocorreria. Como o próprio nome diz, as condições são equiparadas às causas. Ela, portanto, aceita qualquer das causas como eficiente . Teoria da equivalência de condições Teorias Explicativas do Nexo Causal É bem verdade que a experiência de vida e a simples reflexão do jurista sobre a realidade das coisas ensinam que o processo causal conducente a qualquer dano, como na verificação de qualquer outro fato, concorrem no geral múltiplas circunstâncias. Logo, a crítica a essa teoria é que poderia se imputar responsabilidade a um sem número de pessoas. É o exemplo clássico de se responsabilizar o fabricante da cama pelo adultério, pois este não ocorreria se não existisse a cama. Teoria da equivalência de condições Teorias Explicativas do Nexo Causal Essa teoria, concebida pelo filósofo Von Kries, procurou identificar, na presença de uma possível causa, aquela potencialmente apta a produzir o dano. Faz-se um juízo de valor abstrato para verificar se a causa do dano ordinariamente é apta a produzir aquele resultado. Teoria da Causalidade Adequada 12/02/2015 8 Teorias Explicativas do Nexo Causal “se alguém retém ilicitamente uma pessoa que se apressava para tomar certo avião, e teve, afinal, de pegar um outro, que caiu e provocou a morte de todos os passageiros, enquanto o primeiro chegou sem incidente ao aeroporto de destino, não se poderá considerar a retenção ilícita do indivíduo como causa (jurídica) do dano ocorrido, porque, em abstrato, não era adequada a produzir tal efeito, embora se possa asseverar que este (nas condições em que se verificou) não se teria dado se não fora o ilícito. A ideia fundamental da doutrina é a de que só há uma relação de causalidade adequada entre o fato e o dano quando o ato ilícito praticado pelo agente seja de molde a provocar o dano sofrido pela vítima, segundo o curso normal das coisas e a experiência comum da vida” Teoria da Causalidade Adequada Teorias Explicativas do Nexo Causal “A deu uma pancada ligeira no crânio de B, a qual seria insuficiente para causar o menor ferimento num indivíduo normalmente constituído, mas quecausou a B, que tinha uma fraqueza particular dos ossos do crânio, uma fratura de que resultou a morte. O prejuízo deu-se, apesar de o fato ilícito praticado por A não ser causa adequada a produzir aquele dano em um homem adulto. Segundo a teoria da equivalência das condições, a pancada é uma condição ‘sine qua non’ do prejuízo causado, pelo qual o seu autor terá de responder. Ao contrário, não haveria responsabilidade, em face da teoria da causalidade adequada” Teoria da Causalidade Adequada Teorias Explicativas do Nexo Causal Teoria da interrupção do nexo causal ou teoria da causalidade necessária Causa, para esta teoria, seria apenas o antecedente fático que, ligado por um vínculo de necessariedade ao resultado danoso, determinasse este último como uma consequência sua, direta e imediata. Teoria da causalidade direta ou imediata Teorias Explicativas do Nexo Causal Caio é ferido por Tício (lesão corporal), em uma discussão após a final do campeonato de futebol. Caio, então, é socorrido por seu amigo Pedro, que dirige, velozmente, para o hospital da cidade. No trajeto, o veículo capota e Caio falece. Ora, pela morte da vítima, apenas poderá responder Pedro, se não for reconhecida alguma excludente em seu favor. Tício, por sua vez, não responderia pelo evento fatídico, uma vez que o seu comportamento determinou, como efeito direto e imediato, apenas a lesão corporal. Teoria da causalidade direta ou imediata Teoria adotada no Brasil STF: prevalece a teoria do nexo causal direto e imediato. O caso paradigmático, mais comentado pelos especialistas, em que ficou clara a opção deste tribunal pela referida teoria é o do RE 130.764-1/PR, julgado em 12 de maio de 1992. Trata-se de ação movida contra o Estado do Paraná, por vítimas de assalto, praticado por quadrilha da qual fazia parte preso que estava foragido há vinte e um meses. A fuga ocorreu do hospital para onde tinha sido provisoriamente transferido o detento, para suposto tratamento de saúde. Comprovou-se nos autos que o bando composto por mais sete marginais, além do evadido, penetrou de forma hostil na residência de conhecida família curitibana, dominando-a completamente, até conduzi-la ao estabelecimento comercial de sua propriedade, de onde foi roubada grande quantidade de jóias. A tese do recurso, acolhida pelo STF, demonstrava que não existia nexo causal direto e imediato – necessário – entre a fuga e o assalto, praticado pelo foragido com mais outros sete integrantes, muitos meses após a evasão. A 1ª Turma do STF considerou, por unanimidade, que o dano decorrente do assalto praticado pela quadrilha, da qual apenas um dos participantes era foragido, não foi consequência necessária da omissão da autoridade pública, mas resultou de outras concausas, como a formação de quadrilha. CAUSAS CONCORRENTES Quando a atuação da vítima também favorece a ocorrência do dano, somando-se ao comportamento causal do agente, fala-se em “concorrência de causas ou de culpas”, caso em que a indenização deverá ser reduzida, na proporção da contribuição da vítima. Neste caso de culpa concorrente, cada um responderá pelo dano na proporção em que concorreu para o evento danoso, o que tem de ser pesado pelo órgão julgador quando da fixação da reparação, uma vez que somente há condenação pela existência da desproporcionalidade da culpa. 12/02/2015 9 CAUSAS CONCORRENTES O vigente Código Civil brasileiro, em regra sem equivalência na codificação anterior, adotou expressamente a culpa concorrente como um critério de quantificação da proporcionalidade da indenização, conforme se verifica do seu art. 945, in verbis: “Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”. CAUSAS CONCORRENTES No campo do Direito do Consumidor, a teoria da concorrência de causas não tem essa mesma amplitude. Isso porque, nos termos do art. 12, § 3.º, da Lei n. 8.078 de 1990 (Código de Defesa do Consumidor), somente a culpa exclusiva da vítima tem o condão de interferir na responsabilidade civil do fornecedor, excluindo-a. Em outras palavras, a culpa simplesmente concorrente (de ambos os sujeitos da relação jurídica), por não haver sido prevista pela lei, não exime o fornecedor de produto ou serviço de indenizar integralmente o consumidor. CONCAUSAS É o acontecimento que, anterior, concomitante ou superveniente ao antecedente que deflagrou a cadeia causal, acrescenta-se a este, em direção ao evento danoso. Se esta segunda causa for absolutamente independente em relação à conduta do agente — quer seja PREEXISTENTE, CONCOMITANTE ou SUPERVENIENTE — o nexo causal originário estará rompido e o agente não poderá ser responsabilizado. CONCAUSAS CONCAUSA ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE Ex: um sujeito ser alvejado por um tiro, que o conduziria à morte, e, antes do seu passamento por esta causa, um violento terremoto matou-o. Por óbvio, esta causa superveniente, absolutamente independente em face do agente que deflagrou o tiro, rompeu o nexo causal. O mesmo raciocínio aplica-se às causas preexistentes (a ingestão de veneno antes do tiro) e concomitantes (um derrame cerebral fulminante por força de diabetes, ao tempo que é atingido pelo projétil). CONCAUSAS CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE Ex: Caio, portador de deficiência congênita e diabetes, é atingido por Tício. Em face da sua situação clínica debilitada (anterior) a lesão é agravada e a vítima vem a falecer. No caso, o resultado continuará imputável ao sujeito, eis que a concausa preexistente relativamente independente não interrompeu a cadeia causal. O mesmo ocorre se o sujeito, em razão do disparo de arma de fogo, vem a falecer de susto (parada cardíaca), e não propriamente do ferimento causado. Também nesta hipótese, a concausa concomitante relativamente independente não impede que o agente seja responsabilizado pelo que cometeu. CONCAUSAS CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE Ex: sujeito que, ferido por outrem, é levado de ambulância para o hospital, e falece no caminho, por força do tombamento do veículo. Esta concausa, embora relativamente independente em face da conduta do agente infrator (se este não houvesse ferido a vítima, esta não estaria na ambulância e não morreria no acidente), determina, por si só, o evento fatal, de forma que o causador do ferimento apenas poderá ser responsabilizado, nas searas civil e criminal, pela lesão corporal causada. 12/02/2015 10 TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA Se alguém cria ou incrementa uma situação de risco não permitido, responderá pelo resultado jurídico causado, a exemplo do que ocorre quando alguém dá causa a um acidente de veículo, por estar embriagado (criação do risco proibido), ou quando se nega a prestar auxílio a alguém que se afoga, podendo fazê-lo, caracterizando a omissão de socorro (incremento do risco). TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA REGRAS BÁSICAS DA TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA DA CONDUTA: (a) não há imputação objetiva quando o risco criado é permitido; (1) nas situações de risco normal — é o caso de Henry George, instrutor americano, que deu aulas de pilotagem para o terrorista suicida Mohammed Atta, que pilotou o avião da American Airlines contra a Torre Norte do WTC; (2) nas intervenções médicas; (3) nas lesões esportivas; (4) na teoria da confiança etc. TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA b) não há imputação objetiva quando o risco é tolerado (ou aceito amplamente pela comunidade): aqui, seja por força da teoria da imputação objetiva, seja em razão da teoria da adequação social, o fato é atípico; (c) não há imputação objetiva quando o risco proibido criado é insignificante (conduta insignificante. Exemplo: jogar um copo d’água numa represa com 10 bilhões de litros de água que veio a inundar toda área vizinha; sendoa conduta do agente, nesse caso, absolutamente insignificante, não há que se falar em fato típico);
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