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Operações sustentáveis APRESENTAÇÃO Hoje em dia, o meio ambiente é um assunto de grande relevância, dadas as condições atuais e as perspectivas futuras com relação ao tema, baseadas em fatores como as severas mudanças climáticas e seus impactos sobre a sociedade, em várias dimensões, trazendo à tona a necessidade de a sociedade agir frente a essa situação com a maior brevidade possível. Nesse cenário, as organizações, como importantes membros da sociedade, têm grandes responsabilidades e obrigações, devendo tratar dos impactos que suas operações causam ao meio ambiente, de maneira a reduzi-los ao máximo. Isso demanda compreensão e prática da sustentabilidade por parte das empresas, tanto em suas atividades produtivas quanto naquelas desempenhadas pelas demais organizações a elas conectadas, fomentando a consciência geral sobre a importância da sustentabilidade para o bem-estar das gerações atual e futuras. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre a sustentabilidade, começando pelo seu conceito em âmbito geral e empresarial, depois examinando como suas práticas se relacionam com as atividades de produção e, por fim, levando a teoria à prática por meio da verificação de casos de algumas empresas que servem de exemplo da sustentabilidade no cenário empresarial. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o conceito de sustentabilidade empresarial. • Relacionar as práticas de sustentabilidade com as atividades de produção. • Avaliar práticas e exemplos de sustentabilidade empresarial.• DESAFIO Quando se fala em sustentabilidade empresarial, muitas pessoas podem pensar que isso é algo a ser perseguido e implementado apenas nos casos das grandes empresas, em especial as indústrias com operações produtivas robustas que fabricam produtos em larga escala. Outros podem supor que a sustentabilidade empresarial é algo que gera custos maiores, sem gerar resultados efetivos para a empresa. Por sorte, tais ideias têm sido abandonadas, uma vez que a sustentabilidade vem sendo cada vez mais reconhecida como algo necessário, passível de aplicação em todos os tipos e tamanhos de empresas e que gera resultados efetivos para as organizações e a sociedade como um todo. A gestão sustentável tornou-se parte fundamental do planejamento das empresas que desejam garantir seu futuro e seu sucesso, reforçado pelo fato de que os consumidores estão mais bem informados e atentos em relação à sustentabilidade empresarial, o que se reflete em suas opções de compra e consumo. Esse é o contexto do Desafio, o qual você é convidado a solucionar. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Diante da situação-problema, considere que a empresa contratada é a consultoria na qual você trabalha e que você foi o consultor destacado para auxiliar Fernando. Para tanto, você deve providenciar um relatório preliminar contendo o conceito base que será utilizado para tratar do cenário apresentado e algumas práticas ou ações que podem ser implementadas na empresa, devidamente acompanhadas de comentários a respeito dos resultados que essas ações podem promover, relacionando-os aos problemas apresentados para facilitar a compreensão por parte de Fernando. INFOGRÁFICO A sustentabilidade empresarial está pautada no objetivo central de reduzir ao máximo os impactos que suas operações causam ao meio ambiente ou, ao menos, buscar formas de compensar os efeitos que não puder eliminar totalmente. Para isso, as empresas precisam tornar suas operações sustentáveis, o que requer a prática da sustentabilidade em suas atividades produtivas, ao longo de todo o fluxo produtivo, tomando como base as diferentes etapas do ciclo de vida do produto, incluindo desde sua concepção até os descartes ocorridos ao término da produção e uso do produto. Além disso, é necessário que a empresa promova a prática da sustentabilidade em todas as atividades envolvidas na produção, o que inclui tanto as desempenhadas dentro da empresa quanto as realizadas por outros agentes com os quais ela interage e que formam sua cadeia de suprimentos. Veja, no Infográfico, o processo produtivo e suas diferentes etapas, reconhecendo algumas das práticas que podem ser adotadas ao longo das diversas fases da produção, pelos diferentes agentes envolvidos no processo, levando a sustentabilidade a ser desempenhada ao longo da cadeia de suprimentos. CONTEÚDO DO LIVRO Problemas ambientais são uma realidade do mundo atual, fazendo com que a sociedade em geral sofra com os efeitos de fatores como as severas mudanças climáticas. Isso faz com que a preocupação com o meio ambiente se torne uma questão de crescente importância, evidenciando a necessidade de a sociedade desenvolver e implementar alternativas de ação frente a essa situação com a maior brevidade possível. Nesse contexto, as organizações têm grandes responsabilidades e obrigações, devendo buscar formas de minimizar os impactos que suas operações causam ao meio ambiente, ao mesmo tempo em que promovem o uso consciente dos recursos necessários às suas operações. E isso inclui compreender, praticar e fomentar a sustentabilidade nas atividades produtivas e nas demais operações a elas conectadas, promovendo a consciência geral sobre a importância da sustentabilidade para o bem-estar da sociedade e a sobrevivência humana. No capítulo Operações sustentáveis, da obra Planejamento e controle de produção, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar sobre esse cenário, com especial ênfase a três relevantes tópicos: o conceito de sustentabilidade empresarial, a relação das práticas de sustentabilidade com as atividades de produção e exemplos de sustentabilidade empresarial. Boa leitura. PLANEJAMENTO E CONTROLE DE PRODUÇÃO Gisele Lozada Operações sustentáveis Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o conceito de sustentabilidade empresarial. Relacionar as práticas de sustentabilidade com as atividades de produção. Avaliar práticas e exemplos de sustentabilidade empresarial. Introdução A preocupação com o meio ambiente vem ganhando progressiva impor- tância ao longo do tempo, já que cada vez mais o mundo enfrenta muitos e expressivos problemas ambientais, fazendo com que várias dimensões da sociedade, em diferentes pontos do planeta, sofram efeitos de severas mudanças climáticas. As organizações, como importantes membros da sociedade, têm significativas responsabilidades e obrigações nesse contexto, devendo buscar formas de minimizar os impactos que suas operações causam ao meio ambiente e ao mesmo tempo promover o uso consciente dos recursos necessários a suas operações. Para que isso seja possível, as empresas precisam compreender, praticar e fomentar a sustentabilidade, tanto em suas atividades produtivas quanto em todas as demais operações a elas conectadas. Neste capítulo, você vai estudar a sustentabilidade, partindo de seu conceito, passando por suas práticas e como elas se relacionam com as atividades de produção e concluindo com a apresentação de exemplos de sustentabilidade no cenário empresarial. 1 O que é sustentabilidade empresarial A sustentabilidade é um assunto tratado por diversas áreas do conhecimento, como ciências em geral, economia e negócios, engenharia, entre outras, o que demonstra a importância do tema no contexto acadêmico. Contudo, cabe destacar que a sustentabilidade é um tema bastante abrangente, que não se limita ao mundo acadêmico, compreendendo também cenários so- ciais e econômicos. Para que exista sustentabilidade, é necessário que uma civilização possua e pratique princípios relacionados à responsabilidade ecológica e ao uso cauteloso da natureza, que são a base para a geração do desenvolvimento sustentável, importante conceito que infl uencia as característicasdos negócios e das indústrias no século XXI (MANFRIN et al., 2013). A primeira utilização do termo desenvolvimento sustentável se deu em 1987, em um documento intitulado Relatório Brundtland, emitido pela Or- ganização das Nações Unidas (ONU), em que o termo foi apresentado como um conceito que tem por objetivo promover o atendimento das necessidades atuais de recursos para o progresso técnico e econômico, ao mesmo tempo que garante as condições para que as gerações futuras também possam satisfazerem as suas necessidades (MANFRIN et al., 2013, CORRÊA; CORRÊA, 2019). Partindo dessa definição mais genérica, o conceito de sustentabilidade foi levado ao contexto organizacional, em que, com o passar do tempo e por diversas transformações pelas quais este cenário passou, foi se se transformando junto com ele. Atualmente, existe uma maior consciência de que o lucro não deve ser o único elemento a ser considerado para direcionar o sucesso das empresas e da economia. O lucro segue sendo necessário para o futuro da organização, mas junto com essa questão (ou até mais importante do que ela) tem-se agora a preocupação com o futuro das pessoas e do planeta — afinal, esses são aspectos que afetam diretamente o resultado das organizações (CORRÊA; CORRÊA, 2019). Assim, a sustentabilidade se mostra como algo abrangente, que inclui as empresas e seus stakeholders, formando um cenário no qual as organi- zações têm um papel muito importante, devendo agir para proporcionar a sustentabilidade de forma geral. Ou seja, a sustentabilidade geral requer que a sustentabilidade empresarial seja praticada, demandando que as empresas atuem de maneira a influenciar aspectos internos e sobretudo externos a ela. Operações sustentáveis2 Se, por exemplo, uma empresa polui (mesmo que dentro dos parâmetros legais), isso pode comprometer a saúde das pessoas e, se estas estiverem doentes, deixam de comprar e consumir, o que afeta os resultados da empresa. Por isso, as empresas precisam se preocupar com a saúde das pessoas, buscando minimizar os impactos de sua operação sobre elas. O mesmo acontece em relação à renda: as empresas precisam colaborar para a geração de renda, uma vez que sem renda as pessoas não compram ou consomem, e isso novamente afeta os resultados da organização. Ou seja, não basta que as empresas sejam competitivas, elas precisam atuar no mercado de maneira a garantir a continuidade dos negócios, o que pode fazer, por exemplo, mediante a geração de empregos. Desse modo, a sustentabilidade na esfera organizacional levou ao de- senvolvimento de modelos de gestão que consideram a sustentabilidade, muitos deles construídos tendo como referência o Triple Bottom Line (TBL ou 3BL), também conhecido como os três pês da sustentabilidade (people, planet, profit — ou pessoas, planeta, lucro). O TBL é considerado o tripé da sustentabilidade (Figura 1), uma vez que cobre os três aspectos que definem a sustentabilidade: impacto ambiental, responsabilidade social e contribuição econômica (CORRÊA; CORRÊA, 2019; MANFRIN et al., 2013; SLACK; BRANDON-JONES; JOHNSTON, 201;). Figura 1. O tripé da sustentabilidade. Fonte: Oliveira (2014, p. 312). 3Operações sustentáveis Os modelos baseados no TBL partem da consciência de que o cresci- mento e o desenvolvimento econômico têm gerado reflexos potencialmente nocivos, pois demandam um considerável volume de operações produtivas que, por sua vez, implicam em grandes exigências energéticas e de outros recursos de produção para satisfazer as demandas de consumo de centenas de milhares de pessoas no mundo inteiro. Isso ainda leva à emissão de poluentes em escala cada vez maior, o que tem prejudicado a qualidade do ar, da água e do solo, além de contribuir para o gradual aquecimento do planeta. Além disso, com um maior volume de produtos e serviços sendo oferecidos, maior é a quantidade de resíduos decorrentes de seu uso ou consumo, como é o caso das embalagens de produtos consumidos diretamente pelas pessoas ou utilizadas pelas organizações na prestação de serviços. Tudo isso gera uma espécie de “rastro” que a atividade produtiva vai deixando, o que gera um considerável impacto ambiental que carece de tratamento adequado. Nesse cenário, o conceito do TBL visa promover o acompanhamento e a gestão do desempenho organizacional de modo a mitigar os impactos gerados pelas empresas e suas operações. Para isso, são usados indicadores de desempenho que mesclam medidas econômicas com indicadores socioam- bientais, a fim de promover o desenvolvimento de estratégias fundamentadas em operações sustentáveis. Embora no mundo dos negócios seja mais “normal” que as empresas utilizem indicadores econômicos para medir a eficácia de suas operações, tal realidade vem sendo transformada com o avanço do conceito de sus- tentabilidade no contexto organizacional. Essa realidade que vem sendo impulsionada por fatores como a conscientização dos clientes e da sociedade em geral, que passaram a requerer relatórios que incluam, além das informa- ções econômicas, também informações sobre sustentabilidade. Diante disso, muitos são os casos de organizações que elaboram e publicam relatórios empresariais que incluem essa perspectiva, promovendo a integração de informações econômicas, ambientais e sociais. Operações sustentáveis4 Ainda que a definição dos aspectos envolvidos no tripé da sustentabilidade (pessoas, planeta, lucro) seja algo relativamente fácil, medi-los não é algo tão simples, pois enquanto o lucro pode ser mensurado, os dois outros aspectos são mais subjetivos. Para lidar com tal situação, o capital humano pode ser avaliado via aspectos como equidade salarial, cumprimento da legislação trabalhista e qualidade de vida dos funcionários, enquanto o fator ambiental pode ser percebido nas ações praticadas pelas empresas para diminuir o impacto ecológico negativo causado por suas atividades, ou pelo menos pela busca por compensar aquilo que não pode ser totalmente evitado. Ainda que isso não seja algo obrigatório por lei, muitas vezes tem um peso enorme quando empresas disputam a preferência de um cliente, como nos casos de licitações ou concorrências em que tais aspectos podem render a empresa um “peso” maior em suas avaliações, ou até mesmo sendo uma condição crucial para que possam fornecer produtos e serviços a determina- das empresas, que tratam o aspecto da sustentabilidade como uma exigência interna para contratação de fornecedores. Muitas empresas exigem que seus fornecedores demonstrem certificações específicas, como aquelas relacionadas à preocupação com a sustentabilidade. Um exemplo disso é a norma ISO 14001, que consiste em um conjunto de diretrizes que servem de guia para a formação e desenvolvimento da área de gestão ambiental dentro de empresas. Assim, uma organização torna-se sustentável quando atinge a susten- tabilidade empresarial, sendo considerada sustentável a operação que cria lucro aceitável para seus proprietários e acionistas, ao mesmo tempo em que minimiza os danos ao meio ambiente e aprimora o bem-estar das pessoas 5Operações sustentáveis que se relacionam com a empresa de alguma forma. Em outras palavras, um negócio sustentável é aquele que equilibra interesses econômicos, ambientais e sociais e cujas chances de sucesso a longo prazo são maiores do que aqueles que se concentram apenas em metas econômicas. Pela multidisciplinaridade do tema, a sustentabilidade se espalha pela or- ganização e sua rede de contatos de tal forma que promove o engajamento não somente da empresa, mas também de todos os agentes que com ela interagem. Isso reforça a relação entre as práticas de sustentabilidade e as atividades de produção, levando a contextos como o da gestão sustentável das operações e da cadeia de suprimentos, assunto do próximo tópico. 2 Relação entre práticas de sustentabilidade e atividades de produção A sustentabilidade no contexto empresarial está associada ao desempenho organizacionalem três dimensões, econômica, ambiental e social, conforme proposto pelo conceito do TBL. Esse conceito pode ser empregado como mecanismo para aferir a dimensão dos impactos gerados pelas organizações (em especial as indústrias) e, a partir dessa perspectiva, para mensurar o desempenho das empresas nos aspectos econômico, social e ambiental, for- mando o conceito de produção sustentável. É importante destacar que esses três aspectos precisam ser conduzidos de forma integrada para que possam de fato proporcionar sustentabilidade para a organização e para o ambiente do qual ela faz parte (MANFRIN et al., 2013). Nesse contexto, são desenvolvidos modelos de referência que servem de suporte para que as empresas possam compreender e praticar o conceito de produção sustentável e ainda possam avaliar a eficácia de seus sistemas fazendo uso de indicadores de sustentabilidade. Ou seja, o objetivo desses modelos é formar uma metodologia ou processo de avaliação por meio de um conjunto de indicadores que possam guiar a tomada de decisão e monitorar o progresso das ações para a formatação de sistemas de produção que sejam mais sustentáveis. Para isso, tais modelo geralmente possuem uma estrutura formada por cinco níveis, que classificam os indicadores em relação a princípios básicos de sustentabilidade, focados em: uso de energia e de matérias-primas; impacto ao meio ambiente; desenvolvimento econômico e justiça social; Operações sustentáveis6 utilização da força de trabalho; características dos processos, produtos e serviços. A partir da adoção de modelos baseados no tripé da sustentabilidade, muitas empresas promovem a conexão entre as esferas da sustentabilidade e da produ- ção pelo engajamento em ações voltadas ao desenvolvimento sustentável. Tais ações consistem essencialmente na produção de bens e serviços por meio de processos e sistemas não poluentes, que consomem energia e recursos naturais com responsabilidade e parcimônia, e que são desenvolvidos e entregues de forma criativa, segura e gratificante para todos os stakeholders, o que inclui consumidores, colaboradores e comunidades. A partir daí, surge a gestão sustentável, que envolve as práticas adotadas pela organização para que avance rumo a seus objetivos ambientais, o que inclui aspectos como responsabilidade socioambiental e sistema de gestão ambiental. Contudo, cabe destacar que a questão de gestão sustentável é bastante abrangente, indo além da responsabilidade social, pois envolve fatores econômicos e ambientais que devem ser tratados simultaneamente. Além disso, a gestão sustentável pode incluir a busca por inovação como forma de alcançar a sustentabilidade, uma vez que fomenta a aprendizagem e o desenvolvimento contínuo, levando à geração de novas ideias que viabi- lizem a prática da responsabilidade social. Isso permite que a organização estabeleça metas e estratégias ambientais que estejam integradas com seus objetivos corporativos, permitindo que alcance uma vantagem competitiva (D’AGOSTINI, 2015). Nesse cenário, a gestão sustentável nas organizações pode ser percebida como a base sobre a qual se estabelece um amplo conjunto de práticas de ope- rações sustentáveis, que incluem planejamento, produção, compras e logística, aplicadas de forma a promover a incorporação da perspectiva sustentável nas operações. Tais práticas contemplam todas as fases da vida útil do produto, desde seu projeto até o descarte das sobras dos processos (de produção e consumo), que são etapas sobre as quais a organização consegue agir, modi- ficando, intensificando ou eliminando o que desejar. Entre as diversas práticas de operações sustentáveis, é possível destacar alternativas como ecodesign, cadeia de suprimentos verde, produção mais limpa e logística reversa, que ocorrem em diferentes fases do processo produtivo, tal como demonstrado na Figura 2 e detalhado a seguir (CORRÊA; CORRÊA, 2019; D’AGOSTINI, 2015; OLIVEIRA, 2014). 7Operações sustentáveis Figura 2. Práticas de operações sustentáveis e as fases do processo produtivo em que ocorrem. Fonte: D’Agostini (2015, p. 20). O ecodesign, também conhecido como projeto verde, pode ser definido como uma coleção de práticas de operações sustentáveis que são aplicadas durante a elaboração do projeto do produto para torná-lo mais ecológico. No contexto do ecodesign, os projetistas pensam o produto em todas as fases de seu ciclo de vida, incluindo etapas como fabricação, uso, recuperação, reuso, reciclagem e descarte, buscando maneiras de minimizar o consumo de recursos e a geração de resíduos a cada uma dessas etapas. Assim, a adoção do conceito de ecodesign leva a diversas práticas, dentre as quais podemos destacar: Escolha de materiais de baixo impacto ambiental, que possam ser uti- lizados em menor quantidade, que demandem menos energia em sua transformação, que sejam passíveis de reaproveitamento e que gerem menos poluentes em todos os processos (produção, uso, reciclagem e descarte). Fomento ao menor consumo de energia, seja na fabricação, distribuição (por toda cadeia produtiva, da aquisição da matéria-prima até a entrega ao consumidor final) e até mesmo na utilização do produto, bem como incentivo ao uso de formas renováveis de energia (solar, eólica e/ou hidroelétrica, em substituição aos combustíveis fósseis). Desenvolvimento de produtos com maior durabilidade, multifuncionais, simples e moduláveis, que demandem menor quantidade e variedade de materiais, gerando menor custo de produção, que possam ser mais facilmente montados/desmontados, com peças e componentes que possam ser facilmente substituídos. Operações sustentáveis8 Assim, um projeto verde bem feito permite não apenas fabricar produtos de forma menos nociva ao meio ambiente, mas também criar produtos que consumam menos energia e outros recursos naturais durante sua utilização, que possam ser mais facilmente recuperados para aumentar sua vida útil e que possam até mesmo ser melhor aproveitados após o término de sua vida útil, em processos de reciclagem. Para promover tais condições, o ecodesign costuma englobar três principais aspectos: projeto de produtos sustentáveis, análise de ciclo de vida e inovações verdes. Os projetos de produtos sustentáveis representam os esforços empenha- dos na fase de pesquisa e desenvolvimento de um novo produto levando em consideração seu desempenho ambiental, analisando seu ciclo de vida (tanto em relação a aspectos econômico quanto ambientais) e sugerindo formas de torná-lo menos nocivo ao ambiente. O projeto de um produto sustentável se distingue do projeto de um produto convencional por diferenças fundamen- tais na estrutura do seu desenvolvimento, como: compreensão do aspecto ambiental como influenciador da satisfação do cliente; consideração do ciclo de vida do produto, incluindo etapas pós-descarte (como reuso, remanufa- tura ou reciclagem); visão global da cadeia de suprimentos envolvida no projeto; preocupação com a não incidência de encargos, multas ou passivos ambientais oriundos do produto; promoção da melhoria e preservação da imagem da organização. Por sua vez, a análise do ciclo de vida (ACV) é uma técnica utilizada para a avaliação do desempenho ambiental de um produto ao longo do seu ciclo de vida, desde a obtenção dos recursos naturais a serem empregados na sua produção até o descarte final do produto. Essa análise inclui a identificação das interações ocorridas entre o produto (em cada fase do ciclo de vida) e o meio ambiente e ainda a avaliação dos impactos ambientais que essas intera- ções podem promover. Assim, a ACV visa identificar, avaliar e interpretar os aspectos e impactos envolvidos em etapas como extração de matérias-primas, manufatura, distribuição, uso/consumo e gestão de resíduos. As inovações verdes podem ser definidas como práticas de desenvolvi- mento voltadas à minimização de impactos ambientais negativos e à criação de diferencial competitivo.Representam ideias inovadoras que podem ser aplicadas no projeto, na manufatura ou no marketing de novos produtos, de modo a torná-los ambientalmente melhores. As inovações verdes podem ser classificadas em dois grupos básicos, aquelas voltadas a produtos e aquelas voltadas a processos. As inovações verdes em produtos, que são as que in- 9Operações sustentáveis tegram o contexto do ecodesign, incluem resultados como desenvolvimento de materiais ecologicamente corretos e produtos menos poluentes ou com menos materiais tóxicos, e mais recicláveis ou biodegradáveis, e até mesmo detentores de selos ou certificações ambientais. A cadeia de suprimentos verde (green supply chain — GSC) parte da ideia de que a ocorrência de impactos ambientais pode se dar em quaisquer dos estágios do ciclo de vida de um produto, o que leva ao envolvimento dos diversos elos da cadeia de suprimentos. A cadeia de suprimentos, por sua vez, consiste na rede de relacionamentos que envolve diferentes empresas, como fornecedores de matéria-prima, fabricantes, operadores logísticos, atacadistas, varejistas e também os clientes. Nesse contexto, a GSC se apresenta como um modelo pelo qual as orga- nizações podem atingir o lucro e a participação de mercado almejados, mas conjuntamente com a diminuição dos riscos e impactos ambientais envolvidos, o que leva à melhoria da eficiência ecológica de sua operação. Para isso, a GSC indica como necessária a condução das iniciativas pró-ambientais ao longo de toda a cadeia de suprimento, gerando uma interação que fomenta a colabo- ração entre as partes, o que as motiva a desenvolver recursos e compartilhar conhecimentos, e acaba resultando em vantagem competitiva sustentável por meio de esforços ambientais. Uma das motivações para a aplicação do conceito da GSC é o fato de que as empresas são pressionadas por seus stakeholders para que tenham mais consciência ecológica e integrem a gestão ambiental em seus processos e estratégias organizacionais. Nesse cenário, a empresa principal da cadeia é pressionada para que implemente e certifique um sistema de gestão ambiental, o que acaba por acarretar determinados controles ambientais que abrangem as operações da empresa e das organizações que com ela interagem, como seus fornecedores. Isso acaba difundindo as práticas de operações sustentáveis por toda a cadeia de suprimentos mediante o desenvolvimento e aplicação de estratégias verdes. Tais ações geram como reflexo a melhoria em aspectos como desempenho financeiro, ambiental e operacional de todas as organizações envolvidas na cadeia. Sendo assim, a GSC requer a atuação da organização e dos integrantes de sua cadeia de suprimentos, para que todos analisem suas operações e processos internos e passem a considerar as preocupações ambientais e agir para mitigá-las ao longo de todo o ciclo de vida dos produtos. Operações sustentáveis10 Entre as práticas para mitigação de impactos ambientais negativos, é possível listar ações como redução de resíduos durante a operação, bem como a redução dos transportes e das embalagens utilizadas. No caso das embalagens, é possível, por exemplo, fazer uso de invólucros de material reciclado e recipientes reutilizáveis, como já é praticado em alguns produtos de higiene, como sabonetes líquidos e xampus, que são vendidos em refis cujo conteúdo é colocado no recipiente que o cliente já possui, ou ainda no caso de algumas bebidas como refrigerantes, que são vendidos em recipientes de vidro que retornam ao fabricante para que sejam reutilizados no envaze de novos produtos. É fato que existem regulamentos ambientais que as empresas são obrigadas a atender, mas a pressão feita por agentes como organizações não governamentais (ONGs) estimulam as grandes corporações globais a serem ambientalmente conscientes, servindo de exemplo e estimulando outras empresas e também os consumidores a terem essa mesma consciência. Com isso, a certificação do sistema de gestão ambiental por meio de normas como a ISO 14.001 vem sendo cada vez mais difundida, inclusive consistindo em requisito para fornecimento em grandes organizações. A produção mais limpa, geralmente chamada de P+L, PML ou PmaisL, pode ser definida como uma estratégia de produção que unifica aspectos eco- nômicos, ambientais e tecnológicos, aplicados de forma contínua e integrada aos processos, produtos e serviços. Sua principal finalidade é transformar a operação em um todo mais eficiente, promovendo ações como a utilização consciente dos recursos naturais e a redução dos resíduos gerados pelos pro- cessos produtivos. No que diz respeito ao aspecto ambiental, a P+L é uma ferramenta que integra os objetivos ambientais aos processos produtivos, reduzindo a geração ou emissão de resíduos, tanto em quantidade quanto em grau de periculosidade. Com relação aos aspectos tecnológico e econômico, a P+L promove uma espécie de desafio: ela não é contra o desenvolvimento ou expansão industrial, mas prega que esse crescimento precisa ocorrer de forma sustentável. Para isso, foca em ações que permitam produzir bens e serviços gerando o mínimo possível de efeitos negativos ao meio ambiente. Essas ações podem ser desempenhadas em diferentes níveis de prioridade, como: 11Operações sustentáveis prioridade máxima (nível 1) — ações que implicam em modificar pro- dutos e processos para reduzir impactos (como geração de resíduos e emissão de poluentes) ainda na fonte geradora; prioridade alta (nível 2) — ações para fazer com que a própria empresa aproveite eventuais resíduos gerados pela operação (ou seja, reciclagem interna); prioridade secundária (nível 3) — ações para buscar alternativas de reciclagem externa quando a interna não for possível ou para buscar a destinação adequada dos resíduos quando a reciclagem não for possível de forma alguma. Assim, a prática da P+L promove ganhos econômicos, que resultam de ações como economia de energia, redução no consumo de água, melhor apro- veitamento de matérias-primas e insumos e menor geração de resíduos, além de reduzir também eventuais custos com despoluição, descarte e tratamento de resíduos quando esses forem inevitáveis. Desse modo, a P+L revela-se capaz de gerar impactos positivos no desempenho organizacional, tanto em aspectos ambientais quanto financeiros. A logística reversa, por sua vez, pode ser definida como o processo pelo qual é realizado o movimento de retorno de bens, que ocorre no sentido inverso do processo produtivo. Ou seja, ao invés de ir da fonte produtora até o consumidor, os bens seguem do consumidor até a fonte produtora. Tal movimento pode envolver o produto em si ou parte dele, que pode ou deve retornar à origem. O principal objetivo dessa movimentação promovida pela logística reversa é gerar valor mediante a recaptura do bem ou de uma parte dele após seu uso, ou ainda prover a destinação adequada ao que não puder ser recapturado. Tais propósitos são concretizados via três funções fundamentais da logística reversa: reuso, remanufatura e reciclagem. A logística reversa tem se mostrado um assunto de crescente importância para as organizações, seja por uma cultura de preocupação interna com a sustentabilidade, seja em resposta a pressões sociais e governamentais para que as empresas adotem tal prática. Seja qual for a motivação, a crescente importância dada à logística reversa pode ainda incentivar a adoção de outras práticas sustentáveis, como as anteriormente mencionadas, que podem reduzir a própria necessidade de fazer logística reversa. Operações sustentáveis12 3 Práticas e exemplos de sustentabilidade empresarial Empresas dos mais diversos tipos, ramos de atuação e portes praticam a sustentabilidade em suas operações, com algumas delas inclusive apresentado relatórios corporativos com indicadores que remetem ao desempenho não fi nanceiro, dedicando parte de suas auditorias a fenômenos socioambientais. Logicamente, por sua maior visibilidade,o que é feito pelas organizações de maior porte gera mais repercussão — o que pode ser um ponto bastante positivo, se olharmos pelo ângulo do exemplo que elas podem (e devem) dar aos demais negócios, servindo de inspiração para que outras empresas também pratiquem a sustentabilidade em suas operações. O fato é que a sustentabilidade empresarial é atualmente um tema de grande relevância, sendo muito valorizado no cenário organizacional e social. Ações praticadas pelas empresas são monitoradas por todo o mundo, sendo inclusive tópico de importantes publicações na esfera dos negócios a nível global, que é caso do ranking das 100 empresas mais sustentáveis do mundo, publicado anualmente pela revista canadense Corporate Knights. A lista costuma ser compartilhada durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, geralmente no início de cada ano, contendo os resultados apurados no ano anterior (IBGC). Para a elaboração do ranking, são avaliadas mais de 7 mil empresas de todas as partes do mundo, sendo o estudo pautado na análise de seus aspectos econômicos, sociais e ambientais. O ranking 2020 traz no primeiro lugar da lista a empresa dinamarquesa do setor de energia Orsted, seguida pela Chr. Hansen Holding, também dinamarquesa, do ramo de alimentos e agentes químicos, e em terceiro lugar a petroleira finlandesa Neste Oyj. É gratificante podermos mencionar que, entre essas 100 companhias mais sustentáveis do mundo em 2020, estão três empresas brasileiras, que figuram nessa lista já há vários anos: Banco do Brasil (9º lugar), Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) (19º) e Natura (30º). Vamos examinar um pouco do que é feito por essas empresas em relação à sustentabilidade empresarial e que ações elas praticam para que sejam merecedoras de figurar nessa lista tão seleta de corporações. 13Operações sustentáveis Banco do Brasil Atualmente, o Banco do Brasil (BB) ocupa o 9º lugar no ranking das 100 companhias mais sustentáveis do mundo. Considerado o primeiro banco do Brasil, o BB foi fundado em 1808 pelo então príncipe-regente D. João (futuro rei D. João VI), recém-chegado ao país, quando existiam apenas três bancos emissores no mundo — na Suécia, na França e na Inglaterra. No seu site, no que diz respeito à gestão ambiental, a instituição afirma que a melhoria contínua é a melhor forma de alcançar a excelência no desempenho ambiental. Para isso, possui um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) que segue as especificações da Norma Brasileira ABNT NBR ISO 14.001 de 2015, a partir do qual define e monitora ações de controle dos impactos ambientais, bem como coordena de forma sistemática os esforços para a melhoria contínua de seu desempenho, tendo como foco a ecoeficiência a fim de minimizar o consumo de recursos naturais, a geração de resíduos e as emissões de gases do efeito estufa. Entre as iniciativas ambientais praticadas pelo BB, estão: Critérios ambientais, econômicos e sociais são sempre levados em consideração durante os processos de contratação e compras, mediante os quais são escolhidos os bens, obras e serviços a serem contratados pelo banco. O fornecimento de papel utilizado pelo banco advém de empresas que possuem certificações específicas que garantem que a madeira utilizada na fabricação do papel provém de florestas bem gerenciadas; além disso, a gráfica do próprio banco possui certificação que indica que a empresa está ajudando a cuidar das florestas para as gerações futuras. Para o descarte de bens móveis e resíduos tecnológicos, o banco segue as normas da Política Nacional de Resíduos Sólidos, promove iniciativas de conscientização, disseminação de conhecimento e capacitação sobre a destinação sustentável de resíduos e ainda possui uma plataforma para mapeamento e destinação ambientalmente adequada dos materiais a serem descartados. A sede administrativa do BB em Brasília possui certificação pela norma ISO 14001, que é voltada para a qualidade do SGA, e ainda possui selo de construção sustentável emitido pelo Green Building Council (maior organização mundial direcionadora do mercado da construção civil em prol da sustentabilidade). O banco publica seu inventário de emissão de gases de efeito estufa anualmente, apresentando a mensuração das emissões de CO2. Operações sustentáveis14 Além dessas iniciativas ambientais, o BB também possui programas am- bientais, com destaque para: Programa de conservação de energia, que promove o uso responsável de energia elétrica nos imóveis da empresa. Programa de uso racional de água, que promove o consumo inteligente de água mediante ações de conscientização, manutenção e instalação de equipamentos para consumo otimizado. Programa de recondicionamento de cartuchos de toner, que realiza a gestão ecoeficiente do insumo utilizado nas impressoras pela prática de logística reversa. Programa de coleta seletiva, que promove a destinação dos resíduos sólidos não perigosos (papel, plástico, metal e vidro) a cooperati- vas de catadores e/ou coleta pública, conforme legislação de cada município. Programa BB papel zero, que fomenta iniciativas para o desenvolvimento de soluções que buscam a redução do consumo de papel na empresa. Além das ações destinadas à gestão ambiental, o BB possui também possui iniciativas focadas na gestão de pessoas e de fornecedores, todas compatíveis com os princípios da responsabilidade socioambiental. A política de gestão de pessoas é voltada ao compromisso da empresa em relação a aspectos de qualidade de vida, aprimoramento profissional e capacitação e satisfação dos funcionários, provendo o envolvimento e atuação do BB junto a colaboradores, sociedade e mercado. Já a política de relacionamento com fornecedores foca no melhor tratamento e condições de trabalho de seus parceiros, bem como no desenvolvimento de iniciativas para relações duráveis e equilibradas, conduzidas com base em um padrão de compras e descartes sustentáveis, que orienta as práticas de licitações e contratações, estabelecendo e fortalecendo a cultura de sustentabilidade entre o BB e seus fornecedores. Cemig Atualmente, a Cemig ocupa o 19º lugar no ranking das 100 companhias mais sustentáveis do mundo. Fundada em 1952, a Cemig é uma holding composta por mais de 200 empresas e consórcios e possui ativos e negócios em 24 esta- dos brasileiros e no Distrito Federal. Atua nas áreas de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica, distribuição de gás natural e uso efi ciente de energia. 15Operações sustentáveis Em seu site, a empresa defende o lema “trabalhar no presente garantindo o futuro”. Com base nisso, investe no desenvolvimento de tecnologias alter- nativas para geração mais eficiente de energia, por meio de programas de pesquisa e desenvolvimento que visam gerar novas metodologias, processos, software, materiais, dispositivos e equipamentos voltados para as melhorias do sistema elétrico, tudo com o intuito de promover inovações tecnológicas no setor energético. A empresa destaca que a sustentabilidade representa um fator fundamental para as empresas que almejam prosperar em seu mercado de maneira res- ponsável. Além disso, ressalta que empresas reconhecidas como sustentáveis têm suas ações valorizadas no mercado de capitais e melhoram a imagem perante seus públicos de interesse. Nesse sentido, reforça esse pensamento, apresentando-se como “a única empresa do setor elétrico presente há dezes- sete anos no Índice Dow Jones de Sustentabilidade, do qual faz parte desde sua criação, em 1999, sendo já eleita líder mundial em sustentabilidade do supersetor de utilities” (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2020a, documento on-line). Entre as preocupações da Cemig em relação ao contexto da sustentabili- dade, e que dão origem a suas ações e práticas, estão questões como eficiência energética, mudanças climáticas e redução da emissão de CO2, além da forte relação existente entre elas. Tanto que empresa“considera que a eficiência energética representa uma das opções mais eficazes para a redução das emis- sões de gases de efeito estufa” (COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS, 2020b, documento on-line). Assim, preocupada com as mudanças climáticas, a empresa prioriza os recursos oriundos de fontes de energia renováveis para compor sua matriz energética. Desde 2014, faz parte da Renova, empresa líder no mercado de energia eólica no Brasil, que também possui investimentos em energia solar e renováveis. Praticamente toda a geração de energia da Cemig é proveniente de fontes renováveis, como hidráulica e eólica, o que proporciona à empresa uma baixa emissão de gases de efeito estufa. Além disso, como forma de reforçar seu compromisso na mitigação de suas emissões de gases que contribuem para a mudança global do clima, a Cemig possui metas corporativas de redução constante da intensidade das emissões diretas. Também investe no desenvolvimento de projetos de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), previstos no Protocolo de Kyoto, o que rendeu à empresa autorização para obter e comercializar créditos de carbono. Operações sustentáveis16 Um crédito de carbono é a representação de uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida para a atmosfera, contribuindo para a diminuição do efeito estufa. A geração de créditos de carbono pode ser conduzida de diversas maneiras, como em fábricas que subs- tituem o uso de biomassas não renováveis (como lenha de desmatamento) por biomassas renováveis. Iniciativas como essas, além de reduzirem gases geradores de efeito estufa, ainda contribuem para a diminuição do desmatamento (SUSTAINABLE CARBON, 2020). A Cemig ainda investe no desenvolvimento de pesquisas e projetos de inovação tecnológica na busca por alternativas energéticas renováveis, redes inteligentes (smart grids) e veículos elétricos. Tais pesquisas e projetos são realizados por meio de parcerias entre a Cemig e instituições de pesquisa e universidades, contando com a participação ativa da empresa no processo, desde o desenvolvimento do projeto-piloto até sua operação em escala comercial. Alternativas energéticas são conjuntos de tecnologias de transformação, fontes e usos de energia considerados não tradicionais e potencialmente sustentáveis, por promoverem fatores como baixo impacto ambiental, viabilidade econômica, justiça social e aceitação cultural. Nesse contexto, a Cemig investe em projetos de utilização de fontes de energia renováveis, como biomassa, pequenas centrais hidrelétricas, energia solar e geração eólico-elétrica. Além desses, a empresa investe ainda em projetos de uso racional da energia, cogeração e geração distribuída, utilizando diferentes combustíveis, como hidrogênio, gás natural, álcool e biodiesel. Natura Atualmente, a Natura ocupa o 30º lugar no ranking das 100 companhias mais sustentáveis do mundo. A empresa foi fundada em 1969, com a missão de promover o “bem-estar-bem”, que consiste em relações harmoniosas do indivíduo consigo mesmo, com os outros e com a natureza. 17Operações sustentáveis Em seu site, a empresa declara que busca na inovação os meios para reduzir o impacto de seus produtos no meio ambiente, procurando usar cada vez mais ingredientes vegetais e materiais reciclados. Para isso, promove a geração de soluções inovadoras nas diversas dimensões do negócio. Inovações em negócios: a empresa atualmente realiza suas operações por venda direta, e-commerce e varejo, o que lhe permite atender a milhares de consumidores no Brasil, América Latina, Estados Unidos e França. Inovação em produtos: a empresa investe parte de sua receita em ino- vação e conta com uma ampla equipe de pesquisa, desenvolvimento e marketing, para que possa manter e ampliar seu portifólio de produtos. Inovação em operações logísticas: a empresa possui uma das mais mo- dernas estruturas de logística do Brasil e do mundo, o que lhe permite atingir altos níveis de produtividade e de serviço. Entre as práticas de sustentabilidade adotadas pela Natura, a empresa destacada ações com os seguintes propósitos: Fórmulas naturais: a empresa prioriza a utilização de ingredientes na- turais, renováveis e provenientes da biodiversidade amazônica, investe em biotecnologia e busca inovações inspiradas na natureza, buscando potencializar a performance e os benefícios de seus produtos. Cuidado com a origem: a empresa valoriza o manejo das florestas e as práticas agrícolas sustentáveis, atuando no combate ao desmatamento, além de promover oportunidade de renda e o desenvolvimento social dos pequenos produtores. Ingredientes seguros: a empresa tem como política realizar a substitui- ção de ingredientes que venham a ser considerados controversos, por apresentarem potencial riscos ao meio ambiente ou à saúde humana, ainda que não se configure uma exigência legal. Sem testes em animais: para testar seus produtos, a empresa investe no desenvolvimento de métodos alternativos e superavançados, como a pele 3D, não compra insumos ou ingredientes que tenham sido testados em animais e não utiliza qualquer ingrediente que envolva a morte de animais, utilizando apenas ingredientes derivados, como cera da abelha. Embalagem ecológica: neste quesito, a empresa busca gerar o menor impacto possível, priorizando a utilização de materiais que podem ser reciclados após o consumo e que sejam provenientes de origem Operações sustentáveis18 renovável, além de desenvolver soluções que facilitem a reciclagem, trazendo benefícios para as famílias envolvidas nas atividades de coleta e reaproveitamento. Compromisso com o clima: a empresa trabalha para reduzir ao máximo as emissões de carbono ao longo de toda sua cadeia produtiva, monito- rando impactos gerados desde a extração dos ingredientes até o descarte do produto; emissões que não podem ser evitadas são compensadas pela empresa mediante a compra de créditos de carbono de projetos que geram benefícios sociais e ambientais. A partir dessas ações, a Natura promove iniciativas que geram resultados bastante expressivos. Sua sede em Cajamar (SP) é um exemplo: nela a Natura instalou um imenso conjunto de painéis solares, em um projeto de 1.800 m2 de filmes fotovoltaicos orgânicos que gera energia suficiente para abastecer toda a iluminação do prédio, com 160 estações de trabalho dispostas em 21 salas e ainda dois auditórios, permitindo evitar a emissão de 37 toneladas de CO2 por ano (o que equivale ao consumo mensal de mais de 450 residências brasileiras). A Natura investe também em ações pela conservação da Amazônia, atu- ando em iniciativas que, de 2000 a 2019, permitiram preservar 1,8 milhões de hectares de floresta, área que equivale a 12 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Além disso, a empresa procura utilizar o máximo de materiais reciclados em suas embalagens e oferece a maior parte de sua linha de produtos em embalagens do tipo refil, feitas de material de origem renovável, o que permite à empresa economizar por ano o equivalente ao lixo produzido por 3,5 milhões de pessoas em um dia. Além disso, a Natura possui também um programa de responsabilidade compartilhada entre a empresa e seus forne- cedores de embalagens, no qual promove a rastreabilidade, a homologação e a logística reversa em todos os seus fornecedores de materiais reciclados, com os quais compartilha conhecimento técnico e instrumental para garantir a profissionalização de todos os elos de sua cadeia. Esses são alguns exemplos de empresas preocupadas com a sustenta- bilidade e as ações por elas desenvolvidas como forma de colaborar para a disseminação deste importante conceito. Muitos outros casos práticos podem ser encontrados nas diferentes bases de pesquisa disponíveis, tendo em vista que a sustentabilidade pode ser aplicada nos mais variados contextos, especial- mente o empresarial, dado o expressivo impacto que esse pode causar. Assim, a sustentabilidade empresarial é uma responsabilidadede toda e qualquer empresa, já que a sustentabilidade em seu conceito mais abrangente é algo importante para todos nós. 19Operações sustentáveis COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS. Redução de emissão de CO2. CEMIG, 2020b. Disponível em: https://www.cemig.com.br/pt-br/A_Cemig_e_o_Futuro/susten- tabilidade/nossos_programas/Eficiencia_Energetica/Paginas/Reducao_emissao_CO2. aspx. Acesso em: 22 abr. 2020. COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS. Sustentabilidade: o desafio de crescer de maneira responsável. CEMIG, 2020a. Disponível em: http://www.cemig.com.br/pt-br/A_ Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/Paginas/sustentabilidade.aspx. Acesso em: 22 abr. 2020. CORRÊA, H. L.; CORRÊA, C. A. Administração de produção e operações: manufatura e serviços: uma abordagem estratégica. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2019. D’AGOSTINI, M. Operações sustentáveis e desempenho: revisão sistemática e metanálise. Dissertação (Mestrado) — Universidade de Caxias do Sul, 2015. Disponível em: https:// repositorio.ucs.br/xmlui/bitstream/handle/11338/1046/Dissertacao%20Marina%20 D%27agostini.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 22 abr. 2020. MANFRIN, P. M. et al. Um panorama da pesquisa em operações sustentáveis. Revista Produção Online, v. 23, n. 4, p. 762–776, out./dez. 2013. Disponível em: https://prod.org.br/article/10.1590/ S0103-65132013005000029/pdf/1574685864-23-4-762.pdf. Acesso em: 22 abr. 2020. OLIVEIRA, O. J. (Org.). Gestão da produção e operações: bases para competitividade. São Paulo: Atlas, 2014. SLACK, N.; BRANDON-JONES, A.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2018. SUSTAINABLE CARBON. 2020. Disponível em: http://www.sustainablecarbon.com. Acesso em: 22 abr. 2020. Leituras recomendadas BANCO DO BRASIL. Disponível em: https://www.bb.com.br/. Acesso em: 22 abr. 2020. COMPANHIA ENERGÉTICA DE MINAS GERAIS. Disponível em: http://www.cemig.com. br/. Acesso em: 22 abr. 2020. CORPORATE KNIGHTS. 2020 Global 100 ranking. 21 jan. 2020. Disponível em: Disponível em: https://www.corporateknights.com/reports/2020-global-100/2020-global-100- -ranking-15795648/. Acesso em: 22 abr. 2020. INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. BB, Cemig e Natura compõem ranking global das 100 empresas mais sustentáveis: brasileiras foram citadas em lista da revista canadense Corporate Knights. IBCG, 23 jan. 2020. Disponível em: https://www. ibgc.org.br/blog/ranking-2020-corporate-knights. Acesso em: 22 abr. 2020. NATURA. Disponível em: https://www.natura.com.br/. Acesso em: 22 abr. 2020. Operações sustentáveis20 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. 21Operações sustentáveis DICA DO PROFESSOR A sustentabilidade é um conceito abrangente que, quando levado ao contexto organizacional, dá origem à sustentabilidade empresarial. Esta, por sua vez, diz respeito à aplicação do conceito da sustentabilidade sobre a operação produtiva, visando a reduzir os impactos dela sobre o meio ambiente. Isso envolve agir sobre as atividades desempenhadas dentro da empresa e sobre as executadas pelos demais agentes com os quais ela interage, que formam sua cadeia de suprimentos, a qual se torna igualmente sustentável. Na Dica do Professor, são apresentadas considerações sobre como a sustentabilidade empresarial é levada à cadeia de suprimentos, especialmente em relação aos fornecedores da organização, com ênfase em algumas certificações e normas que auxiliam as empresas na implementação e na prática desse relevante conceito. Veja a seguir: Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) A sustentabilidade na esfera organizacional é aplicada com o apoio de modelos de gestão, muitos deles construídos com base no Triple Bottom Line (TBL), que faz referência a três aspectos: impacto ambiental, responsabilidade social e contribuição econômica. Quando representado graficamente, o TBL costuma ser apresentado como um conjunto de três esferas que se sobrepõem, sendo que a área em que as três esferas se sobrepõem, na literatura que trata do tema, é denominada: A) viável. B) inviável. C) equitativa. D) suportável. E) sustentável. 2) A partir da adoção de modelos com base no tripé da sustentabilidade, muitas empresas promovem a conexão entre as esferas da sustentabilidade e da produção por meio do engajamento em ações voltadas ao desenvolvimento sustentável. Diversas são as práticas voltadas para o estabelecimento de operações sustentáveis, sendo que elas ocorrem em diferentes fases do processo produtivo. Entre as práticas listadas a seguir, assinale aquela que ocorre na fase de gestão dos resíduos da operação: A) Projeto verde. B) Ecodesign. C) Cadeia de suprimentos verde. D) Logística reversa. E) Produção mais limpa. 3) Uma das práticas para operações sustentáveis é a produção mais limpa, que corresponde a uma estratégia que unifica aspectos econômicos, ambientais e tecnológicos com a finalidade de tornar a operação mais eficiente, promovendo ações como a utilização consciente dos recursos naturais e a redução dos resíduos gerados pelos processos produtivos. Essas ações podem ser desempenhadas com diferentes níveis de prioridade, sendo que um deles implica em modificar produtos e processos para reduzir impactos. Esse nível, em específico, é denominado: A) nível 1 = prioridade alta. B) nível 2 = prioridade secundária. C) nível 3 = prioridade máxima. D) nível 2 = prioridade alta. E) nível 1 = prioridade máxima. 4) A empresa X é uma indústria fabricante de condicionadores de ar que recentemente lançou um produto no mercado totalmente projetado pela própria empresa, que antes apenas produzia produtos idealizados por outras organizações. Porém, o produto oferecido está apresentando baixa eficiência energética durante o uso, fazendo o consumo de energia dos clientes compradores aumentar muito e fazendo a empresa receber muitas reclamações de clientes e perder mercado. Entre as práticas listadas a seguir, assinale aquela que poderia ter sido implementada pela empresa X para evitar tal problema: A) Cadeia de suprimentos verde. B) Projeto verde. C) Produção mais limpa. D) Logística reversa. E) Reúso, remanufatura e reciclagem. A empresa Y é uma fabricante de produtos eletrônicos que, atualmente, vem 5) apresentando elevados custos com a gestão de resíduos, sobras de produção e produtos defeituosos, o que vem comprometendo parte expressiva de seus lucros e, ao mesmo tempo, causando danos ao meio ambiente. Para tratar tal cenário, a empresa quer adotar práticas para tornar sua produção mais sustentável e, assim, minimizar os impactos negativos sobre os aspectos econômico e ambiental. Entre as ações listadas a seguir, assinale aquela que representa a opção mais efetiva (por agir na causa, e não nos efeitos) para a redução de custos em decorrência da geração de resíduos: A) Contratar uma empresa para fazer logística reversa. B) Praticar a destinação apropriada dos resíduos gerados. C) Promover o reúso das sobras de produção. D) Remanufaturar produtos que apresentarem defeitos. E) Adotar a prática da produção mais limpa. NA PRÁTICA Durante muito tempo, acreditou-se que a sustentabilidade era algo que custava caro e, por isso, aplicável apenas a grandes empresas. Para o bem da sociedade como um todo, essas ideias estão ficando no passado e as empresas e as pessoas (integrantes das organizações ou clientes) estão se mostrando cada vez mais conscientes da necessidade de agir pela sustentabilidade e dos potenciais benefícios que esse conceito pode promover em várias esferas, como ambiental, social e econômica.Gestores mais bem informados e atualizados já estão conscientes de que ser ambiental e socialmente responsável é uma conduta que traz vantagem competitiva para as empresas e que, embora tornar uma empresa sustentável seja realmente um desafio, pode também representar oportunidades de novos negócios e crescimento, o que colabora para o desenvolvimento e a perenidade das empresas, seja qual for seu tipo de negócio ou o tamanho da sua estrutura. A partir de um estudo de caso, veja, em Na Prática, como uma empresa, com ações simples, pode se tornar sustentável e ainda conscientizar seu público. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Sustentabilidade: a prática que só gera vantagens Atualmente, muito se fala sobre sustentabilidade. Entretanto, o que realmente isso significa? Como e por que praticar a sustentabilidade? Este link traz considerações que auxiliam na resposta a essas questões, apresentando alguns exemplos de empresas que praticam a sustentabilidade. Confira. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! 10 formas de poluir menos o planeta Terra Ser sustentável. Esta é uma responsabilidade que, nos dias atuais, é fortemente atribuída às empresas. Porém, as pessoas também têm muito a contribuir, cada uma fazendo a sua parte, gerando colaboração para a promoção da sustentabilidade. Neste vídeo, acompanhe sugestões interessantes sobre como é possível praticar sustentabilidade e ainda questões importantes desse contexto, como o efeito estufa e os créditos de carbono. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Cadeia de fornecimento sustentável Para que uma empresa torne a sua operação realmente sustentável, é importante que ela faça com que o conceito de sustentabilidade seja praticado na condução de todas as atividades envolvidas na operação, o que inclui as tarefas realizadas pela empresa, mas também pelos demais agentes com os quais ela interage. Este vídeo traz considerações relevantes sobre esse contexto, tratando sobre a cadeia de suprimentos sustentável. Aproveite. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
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