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AULA 19 - IED PRIVADO II

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AULA 19 – ESTADO DE PERIGO E LESÃO 
1. Estado de perigo:
· Artigo:
Art. 156 – CC: Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.
· Conceito (doutrina):
Se caracteriza quando alguém, precisando se salvar ou salvar um familiar, ou, ainda, salvar uma pessoa que não pertence à família (desde que comprovado o vínculo de afinidade), assume obrigação excessivamente onerosa. – MELLO, Marco Bernardes de (Teoria do fato jurídico: plano da validade)
· Pressupostos:
· Existência de risco de dano pessoal, ou seja, referente à vida, à saúde ou à integridade física;
· Gravidade do dano e atualidade do risco (negócio jurídico elaborado antes do risco cessar);
· Relação direta entre o estado de perigo e o negócio jurídico;
· Existência de dolo por parte do outro figurante do negócio jurídico;
· Onerosidade excessiva assumida pelo figurante do negócio jurídico;
· Observações: 
Essa questão de salvar-se inerente ao estado de perigo se refere à integridade física, à vida ou à saúde do próprio indivíduo, de algum familiar ou de uma pessoa com a qual mantenha afinidade (neste caso, se reconhecido pelo juiz). Quando se tratar de outro tipo de dano, como, por exemplo, um dano ao patrimônio, tem-se uma lesão.
A coação não se confunde com o estado de perigo. Na coação, o sujeito é envolvido na causa do defeito (naquela coação). 
O dolo de aproveitamento somente se encontra presente no estado de perigo. Na lesão, não há a necessidade de se provar tal dolo de aproveitamento.
A análise do “excessivamente oneroso” se faz em um viés objetivo e não subjetivo. Não importa se o indivíduo tenha ou não condições de arcar com o ônus financeiro, mas se o valor cobrado por uma das partes foi muito acima do “valor padrão”. Por exemplo, um procedimento médico tem valor de R$ 10.000,00. Um hospital X cobra R$ 9.500,00 a João para realizar tal procedimento. João assina o contrato e, posteriormente, alegando que ganha um salário mínimo e, por conseguinte, não teria condições de pagar o valor estabelecido, visa à anulabilidade do negócio jurídico em questão. Não se pode falar, neste caso, de uma cobrança excessivamente onerosa. Destarte, o negócio jurídico se mantém. 
Estado de perigo (defeito do negócio jurídico) não se confunde com estado de necessidade (excludente de ilicitude). 
· Exemplo de decisão judicial:
No que tange ao estado de perigo, as decisões judiciais normalmente se vinculam ao âmbito hospitalar. Por exemplo:
Tribunal de Justiça de Minas Gerais TJ-MG Apelação Cível AC 2670683-63.2006.8.13.070.
O caso: A sra. Lásara buscou prestar socorro ao esposo (Sr. Álvaro) na rede pública. Em virtude da total incapacidade do SUS de recebê-los, se deslocaram para um hospital privado, onde Álvaro ficou internado. Todavia, não possuíam condições de arcar com o ônus financeiro de tal atendimento.
A sentença: Carência de quadro emocional da Sra. Lásara à intelecção do documento e às suas repercussões. Ademais, o termo de adesão do hospital foi considerado genérico e abusivo, buscando a unidade hospitalar obter vantagens em cima do desespero alheio. Em síntese, houve a invalidação do negócio jurídico em questão em virtude do estado de perigo e de dolo de aproveitamento.
2. A lesão: 
· Artigo: 
Art. 157 – CC: Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2 o  Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
· Conceito (doutrina): 
“Em direito nacional, ocorre a lesão invalidante quando alguém, premido por necessidade ou levado por inexperiência, formaliza negócio jurídico em que se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da contraprestação (Código Civil, art. 157).” – MELLO, Marco Bernardes de (Teoria do fato jurídico: plano da validade).
· Pressupostos:
· Premente necessidade e/ou inexperiência por parte daquele que sofre a lesão no âmbito em que foi firmado o negócio jurídico;
· Desproporcionalidade entre o valor da prestação e o que, realmente, deveria ter sido pago; 
· Observações:
Por exemplo, uma pessoa A precisa se deslocar rapidamente para o trabalho para não chegar atrasado e resolve pagar um valor três vezes superior ao que normalmente é cobrado pelo transporte. Tem-se um caso de lesão, estando o negócio jurídico passível de anulação.
A questão da inexperiência é analisada levando em conta o caso concreto. O que pode ser inexperiência para um, pode não ser para outro. A inexperiência é analisada de forma subjetiva, ou seja, verifica-se se cada sujeito é ou não inexperiente em uma determinada seara. 
A anulação por lesão só se avalia no momento do negócio. Se a desproporção entre os valores surgir depois, o máximo que pode ocorrer é a revisão da obrigação ou mesmo do contrato (com base nos arts. 317 e 478 e seguintes, do Código Civil). Por exemplo, Y compra um imóvel e a área deste imóvel, no futuro, se supervaloriza. Tal negócio jurídico não se encontra inerente à anulação por uma eventual lesão. 
· Exemplo de decisão judicial: 
Tribunal de justiça do Rio Grande do Sul TJ-RS - Apelação Cível AC 0383139-39.2015.8.21.7000 RS.
O caso: O Sr. José estava passando por uma situação depressiva decorrente de um acidente automobilístico que conduziu-o à perda do seu direito de dirigir. Resolveu procurar, então, o Sr. Cezar, que se apresentava como astrólogo e vidente. O Sr. Cezar ofereceu sessões para curar a angústia e abrir os caminhos de José. A monta atingida pelo pagamento das sessões foi de R$ 340.000,00. O Sr. José, então, pediu, posteriormente, a anulabilidade do negócio jurídico, a inexigibilidade de dívida e a indenização pelos danos materiais.
A sentença: Anulação do contrato de prestação de serviços havido entre as partes em virtude da ocorrência de lesão, uma vez que o Sr. Cezar exigiu o pagamento de valores desproporcionais aos serviços e aos benefícios esperados. Ademais, foi imposta a indenização por danos morais. 
Referências:
· Teoria do fato jurídico: Plano da validade – Marcos Bernades de Mello; 
· Jurisprudência – Jusbrasil;

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