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3 ANO LiNGUA PORTUGUESA 7 bimestre

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1
LÍNGUA PORTUGUESA LITERATURA E GRAMÁTICA
LÍNGUA PORTUGUESA
3º ano
ÍNDICE
LITERATURA
Pré-modernismo	3
Modernismo	12
Modernismo brasileiro	13
Fases modernismo no Brasil	15
Modernismo português	17
Modernismo no Brasil	23
Segunda fase	29
Terceira fase	46
Tendências contemporâneas	em Portugal	55
Pós-modernismo	60
Prosa brasileira após virada do século	62
GRAMÁTICA
Sintaxe	69
Predicado	73
Adjunto adnominal	79
Adjunto adverbial	80
Período composto	82
Orações coordenadas	83
Oração subordinadas	85
Concordância nominal	92
Concordância verbal	98
10
LÍNGUA PORTUGUESA – 3º 2021
PRÉ – MODERNISMO
Contexto Histórico:
Nos primeiros anos da República, o Brasil foi governado por presidentes militares – era chamada República da espada (1889 a 1894). A ela seguiu-se um período caracterizado por presidentes ligados às oligarquias rurais (a chamada “nobreza fundiária”) constituídas por cafeicultores de São Paulo e pecuaristas de Minas Gerais – a República do café-com-leite. (1894 a 1930).
Os antigos escravos eram marginalizados e os imigrantes europeus que chegavam para trabalhar nas lavouras ou nas indústrias recém-criadas eram submetidos a condições de trabalho aviltantes. O Nordeste vivia a estagnação econômica e bandos de cangaceiros assaltavam propriedades. As secas levavam à morte milhares de sertanejos e outros tantos eram facilmente arregimentados na formação de seitas místicas, lideradas por beatos ou conselheiros, tornando-se fanáticos, pela desesperança e pela crença numa solução divina para males que, na verdade, tinham origem econômica.
Este período, compreendido entre 1900 e 1922 caracteriza-se pela convivência de várias correntes e estilos, com predominância ainda do Parnasianismo.
Ao lado do mundo “cor-de-rosa” das elites, estava a miséria do povo, e pouquíssimos foram os escritores que voltaram os olhos de modo crítico para a realidade brasileira. Os literatos “oficiais”, parnasianos, estavam, na verdade, preocupados com o prestígio social que a literatura lhes pudesse dar. Freqüentavam cafés, saraus, apreciavam palavras eruditas, os modismos europeus e o tom retórico, produzindo uma literatura que se convencionou chamar sorriso da sociedade.
O Pré-Modernismo, que não é propriamente uma escola literária, designa genericamente esse período, no qual poucos escritores procuraram interpretar a realidade brasileira, revelar suas tensões e os problemas sociopolíticos da época.
Algumas datas podem servir de balizamento para esse período:
· 1902 – publicação de Canaã, de Graça Aranha, e de Os sertões, de Euclides da Cunha;
· 1922 – realização da Semana de Arte Moderna, No Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro.
Principais autores:
Lima Barreto – A característica mais marcante de sua literatura é a denúncia dos problemas sociais de sua época. Vítima de tantos preconceitos foi inevitável que traços biográficos do autor se incorporassem nas obras, especialmente em Recordações do escrivão Isaías Caminha, uma pesada caricatura em que o escritor esmiúça os bastidores da imprensa da época.
Em Triste fim de Policarpo Quaresma, inventa o patriota ingênuo que luta até o fim da vida para restabelecer as tradições brasileiras mais legítimas. A intenção de denunciar levou o escritor a empregar uma linguagem clara e simples, sem os adornos que eram moda na época. Dessa opção resultaram as pesadas críticas que recebeu: de ser desleixado, de não saber
gramática. Via-se descuido e erro onde existia quase sempre o desprezo intencional pelos ornamentos, onde predominava o esforço de se fazer entender pelo homem comum, que ele incorporou como personagem.
Suas principais obras são: Recordações do escrivão Isaías Caminha, Triste Fim de Policarpo Quaresma, Numa e ninfa, Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá, Os bruzundangas, Clara dos Anjos.
Euclides da Cunha – Foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, incumbido de fazer a cobertura da Guerra de Canudos. Dessa cobertura jornalística resultou uma obra-prima: Os sertões, publicado em 1902, e marco inicial de nosso Pré-Modernismo. Contudo, o autor peca pelo estilo retórico-discursivo, muitas vezes barroco e pomposo, mas que de modo algum retira o alto nível e a importância da obra, no qual se percebe a formação positivista e a ótica determinista do escritor.
Monteiro Lobato – É o maior escritor da literatura infanto-juvenil brasileira. Com ele ocorre uma verdadeira revolução no gênero, até então marcada por textos de preocupações moralistas, patrióticas e ufanistas, que ao invés de divertirem as crianças, procuravam doutrina- las.
Ao rejeitar os modelos tradicionais, levou as crianças a se divertirem com reflexão, modernidade e assimilação de valores universais. Sua produção infanto-juvenil constitui a parte mais importante de sua obra.
Embora Monteiro Lobato fosse um homem que acreditava no progresso, cometeu o equívoco momentâneo de criticar os modernistas de 22, que buscavam uma arte de reforma.
Augusto dos Anjos – Caracteriza-se pela crueza dos temas, que giram em torno da morte e da doença, focalizando hospitais, necrotérios, hospícios, cadáveres e micróbios, pelo exotismo de linguagem, carregada de vocábulos científicos, e por agudo pessimismo diante da vida.
À visão do mundo harmonioso das elites da época, da literatura “sorriso da sociedade”, Augusto dos Anjos contrapôs um outro, de decomposição, angústia e sofrimento, em que se percebe a inquietação filosófica do poeta sobre o enigma do Universo e da própria vida.
Suas obras foram póstumas: Poesia: Eu, Eu e outras poesias.
EXERCÍCIOS
1) O que se entende por Pré-Modernismo?
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2) O que se pode criticar em muitos escritores brasileiros do período compreendido entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX?
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3) Que autores se destacam no Pré-Modernismo brasileiro?
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OS SERTÕES
Os sertões é um ensaio sociológico e histórico em torno da guerra de Canudos. Fatores geográficos, raciais e históricos determinam as ações dos jagunços rebeldes – A terra - , o autor analisa o condicionamento geográfico, com o clima exercendo um papel preponderante na formação do meio e do homem, produto desse meio. Na segunda parte – O homem -, temos a análise da miscigenação e seus efeitos. Na última parte – A luta - , a descrição do conflito resultante.
Contudo, o autor peca pelo estilo retórico-discursivo, muitas vezes barroco e pomposo, mas que de modo algum retira o alto nível e a importância de Os sertões, no qual se percebe a formação positiva e a ótica determinista do escritor.
O HOMEM
De repente, uma variante trágica. Aproxima-se a seca.
O sertanejo adivinha-a e prefixa-a graças ao ritmo singular com que se desencadeia o flagelo.
Entretanto não foge logo, abandonando a terra a pouco e pouco invadida pelo limbo cadente que irradia do Ceará.
Buckle, em página notável, assinala a anomalia de se não afeiçoar nunca, o homem, às calamidades naturais que o rodeiam. Nenhum povo tem mas pavor aos terremotos que o peruano; e no Peru as crianças ao nascerem têm o berço embalado pelas vibrações da terra.
Mas o nosso sertanejo faz exceção à regra. A seca não o apavora. É um complemento à sua vida tormetosa, emoldurando-a em cenários tremendos. Enfrenta-a, estóico. Apesar das dolorosas tradições que conhece através de um sem número de terríveis episódios, alimenta a todo o transe esperanças de uma resistência impossível.
(Euclides da Cunha)
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Como Euclides da Cunha caracteriza o homem sertanejo?
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2) Em que homem sertanejo difere do peruano?
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3) Por que Buckle caracteriza como uma “anomalia” o fato de o homem não se afeiçoar nunca às calamidades naturais que o rodeiam?
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4) Destaque do texto uma passagem que demonstra ser o flagelo da seca algo repetitivo e bastante conhecido pelo sertanejo.
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JECA TATU
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...
Quando comparece às feiras, todo mundo logo adivinha o que ele traz: semprecoisas que a natureza derrama pelo mato e ao homem só custa o gesto de espichar a mão e colher (...) Nada mais.
Seu grande cuidado é espremer todas as conseqüências da lei do menor esforço – e nisto vai
longe.
Começa na morada. Sua casa de sapé e lama faz sorrir aos bichos que moram em toca e gargalhar ao joão-de-barro. Pura biboca de bosquímano. Mobília, nenhuma. A cama é uma espipada esteira de peri posta sobre o chão batido.
Às vezes se dá ao luxo de um banquinho de três pernas – para os hóspedes. Três pernas permitem equilibrar; inútil, portanto, meter a quarta, o que ainda o obrigaria a nivelar o chão. Para que assentos, se a natureza os dotou de sólidos, rachados calcanhares sobre os quais se sentam?
Nenhum talher. Não é a munheca um talher completo – colher, garfo e faca a um tempo?
Seus remotos avós não gozaram maiores comodidades. Seus netos não meterão quarta perna ao banco. Para quê? Vive-se bem sem isso.
Se pelotas de barro caem, abrindo seteiras na parede, Jeca não se move a repô-las. Ficam pelo resto da vida os buracos abertos, a entremostrarem nesgas de céu.
Quando a palha do teto, apodrecida, greta em fendas por onde pinga a chuva, Jeca, em vez de remendar a tortura, limita-se, cada vez que chove, a aparar numa gamelinha a água gotejante...
Remendo... Para quê? se uma casa dura dez anos e faltam “apenas” nove para que ele abandone aquela? Esta filosofia economiza reparos.
(Monteiro Lobato – Urupês)
Vocabulário:
Biboca – casa humilde, com cobertura de palha.
Bosquímano – indivíduo dos bosquímanos, povo sul-africano. Espipar – esticar, estender.
Peri – espécie de junco do qual se fazem esteiras; piripiri. Munheca – mão.
Remoto – antigo, distante. Seteira – fresta.
Nesga – pequena espaço. Gretar – rasgar.
Gamela – vasilha de madeira ou barro.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) O que podemos concluir ao compararmos a personagem de Monteiro Lobato com o índio Peri, de José de Alencar, e os bravos e orgulhosos caboclos dos romances regionalistas do mesmo período?
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2) Em Jeca Tatu, Monteiro Lobato investe contra a idealização do caboclo, apontando algumas das suas características negativas. Qual delas é a mais criticada no texto?
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3) “Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo...” Este parágrafo refere-se ao Jeca de Monteiro Lobato ou aos caboclos dos romances românticos?
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4) Você crê que Monteiro Lobato queria chamar a atenção para uma realidade que deveria ser invertida ou pretendeu apenas ridicularizar o caboclo? Por quê?
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5) “Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade!”
Em Urupês (1918), Monteiro Lobato cria a figura do Jeca Tatu, o caipira atrasado e indolente. Mais tarde, Lobato se conscientizaria de que o tipo era uma conseqüência de problemas socioeconômicos e da ausência de reformas que dessem ao homem do campo condições de desenvolvimento.
Segundo você, que reformas e ações governamentais podem contribuir para a melhoria das condições de vida do homem do campo?
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MODERNISMO
O que significa ser moderno? O que faz uma música ser moderna? E um filme? E uma roupa?
Na verdade, a noção de modernidade é um tanto relativa. Ser moderno é romper com o passado de alguma forma. Por isso, todas as escolas literárias que existem são “modernas”: de alguma maneira, o Classicismo rompeu com o padrão estético da Idade Média, assim como o Barroco rompeu com o do Classicismo, o Arcadismo com o do Barroco, o Romantismo com o do Arcadismo, o Realismo com o do Romantismo e assim por diante.
Mas essa ideia de modernidade, que desfaz a impressão de que ela existe em grau absoluto, não é exatamente o mesmo que Modernismo. Esta é a designação de um movimento artístico do início do século XX que, de maneira ampla e sistemática, rompeu com as tradições estéticas anteriores. De todas as escolas literárias que conhecemos, o Modernismo é, até agora, a mais “moderna”. E tudo começou com uma tal de Semana de Arte Moderna...
Cartaz de divulgação do último dia da Semana de Arte Moderna, em 17 de fevereiro de 1922.
A Semana, o Modernismo e Mário
Dá-se o nome de Modernismo ao movimento artístico do início do século XX que, influenciado pelas transformações filosóficas, científicas, políticas, sociais e econômicas que se processavam no mundo, rompeu de maneira ampla e sistemática com as tradições estéticas anteriores.
No Brasil, tudo começou em 1922, quando um acontecimento artístico chocou a burguesia paulistana, colocando o Brasil em consonância com o espírito revolucionário das vanguardas europeias. Trata-se da Semana de Arte Moderna, que aconteceu nas noites de 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Artistas consagrados dividiram o palco com jovens talentos ainda desconhecidos. Assim, músicos, pintores, escultores, arquitetos, poetas e ensaístas, em meio a leituras de poesia, discursos, concertos, recitais, exposições, contribuíram para incendiar a cultura brasileira do início do século XX.
Tomando como ponto de partida a Semana de 22, costuma-se dividir didaticamente o movimento modernista brasileiro em três fases: de 1922 a 1930 temos a fase de implantação do
movimento; de 1930 a 1945, a de consolidação; de 1945 em diante, a fase pós-modernista ou de “fragmentação” do movimento.
Influenciados pelo espírito contestador da Semana de 22, nossos primeiros modernistas fundaram revistas, escreveram manifestos, propuseram teorias estéticas. Não houve uniformidade entre as muitas propostas que surgiram, mas é possível apontar as seguintes características como as mais relevantes desse primeiro tempo: coloquialismo, prosaísmo, versilibrismo, nacionalismo crítico, síntese, humor. Os nomes mais importantes nessa fase foram Oswald de Andrade (1890-1954), Mário de Andrade (1893-1945) e Manuel Bandeira (1886- 1968).
Mário de Andrade foi o grande ativista político-cultural do Modernismo, tendo feito de tudo um pouco: romance, poesia, crítica, conto, ensaio. Sua obra sugere que ele buscava as novidades artísticas da mesma forma que demonstrava conhecer as tradições literárias, o que confirma seu ecletismo cultural e artístico. As duas paixões de Mário foram a cidade de São Paulo e o Brasil. Pauliceia desvairada (1922), por exemplo, tematiza São Paulo; Macunaíma (1928), o Brasil.
Futurismo – Propunha a destruição do passado, a exaltação da vida moderna, o culto da máquina e da velocidade, pregando uma arte voltada para o futuro, agressiva, e violenta, enaltecendo a guerra, o militarismo e o patriotismo. Preconizava também a destruição da sintaxe, com os substantivos dispostos ao acaso, a eliminação da pontuação e a abolição do adjetivo, do advérbio e das conjunções. Foi lançado pelo poeta italiano Marinetti.
Cubismo - Na pintura decompunha os objetos da realidade cotidiana em diferentes planos geométricos para sugerir a sua estrutura global, como se fossem vistos de diferentes ângulos. Na poesia, valorizava o subjetivismo, a ilogicidade, a frase nominal, o tempo presente e o humor. Na pintura um dos exemplos é Picasso.
Dadaísmo – Reflete a atmosfera pessimista da Primeira Guerra Mundial. Pregava a destruição de todos os valores culturais da sociedade que fazia a guerra, instalando o absurdo, o ilógico e o incoerente. Buscava-se assim uma antiarte, irracional e anárquica. Daí o automatismo psíquico, as livres associações, a invenção de palavras, a exaltação da total liberdade de criação, o sarcasmo, a irreverência e a aproximação com o mundo dos loucos e das crianças.
Surrealismo – Lançado na França, valorizava o passado, buscava a emancipação total do homem fora da lógica, da razão, da família, da pátria, da moral e da religião. Influenciados pela teoria psicanalítica de Freud, os surrealistas conferiam importância ao sonho e à exploração do inconsciente, praticando o automatismo psíquico e a expressão libertada da censura e sem o controle da razão.
EXERCÍCIOS
1) O que refletiam os movimentos da vanguarda europeia?
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MODERNISMO BRASILEIRO
No Brasil, os governos das oligarquias iam se sucedendo, Minas e São Paulo repartiamo poder, desfavorecendo as camadas empobrecidas da população, os operários e os trabalhadores rurais.
À época da Semana de Arte Moderna, o quadro brasileiro era de crises sucessivas, que acabam por gerar a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assume o poder.
Nascido sob as influências das vanguardas européias, o Modernismo brasileiro, em suma primeira fase (1922 – 1930), começou pelo combate às características estéticas tradicionais e conservadoras (Parnasianismo), ansioso pela liberdade de linguagem e afirmação dos novos valores estéticos que pretendia.
Semana de Arte Moderna:
O modernismo brasileiro não começou em 1922. Desde 1912, com o retorno de Oswald de Andrade da Europa, onde teve contato com as vanguardas, vários acontecimentos delinearam as mudanças que estavam surgindo nas artes brasileiras. Porém o mês de fevereiro de 1922 foi o marco histórico do Modernismo brasileiro.
Nos dias 13, 15 e 17, o Teatro Municipal de São Paulo, torna-se centro de uma verdadeira “amostra” das ideias modernistas. São lidos manifestos e poemas; expõem-se quadros e esculturas; músicas são executadas. Tudo diante de um público que reagiu com vaias e apupos. Estava “oficialmente” inaugurado o período de combate dos primeiros modernistas, que investiam, sobretudo, contra os sólidos valores parnasianos.
As correntes modernistas:
Depois da união inicial em torno da Semana, os modernistas, dividiram-se em grupos e movimentos que refletiam orientações estéticas e ideológicas diversas:
Movimento Pau-Brasil – Tinha como objetivo a revalorização dos elementos primitivos da nossa cultura, através da crítica ao falso nacionalismo e da valorização de obras que redescobrissem o Brasil, seus costumes, sua cultura, seus habitantes e suas paisagens. Dele participaram, principalmente: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Raul Bopp, Alcântara Machado e Tarsila do Amaral (pintora).
Movimento Verde- Amarelo – Liderado por Plínio Salgado, Cassiano Ricardo e Menotti del Picchia, e tendo uma postura nacionalista, repudiava tudo o que fosse cultura importada e tentava mostrar um Brasil grandioso. Entretanto, acabou por revelar uma visão reacionária, sobretudo através de Plínio Salgado, que viria a ser o principal líder do Integralismo, movimento político brasileiro de extrema direita baseado nos moldes fascistas.
Movimento antropofágico – Radicalização do Movimento Pau-Brasil, foi lançado em 1928, e opunha-se ao conservadorismo do movimento Verde-Amarelo. Seus participantes eram os mesmos do Movimento Pau-Brasil.
Movimento espiritualista – Procurou conciliar o passado com o futuro e manteve-se preso às influências simbolistas. A universalidade dos temas, o mistério, as questões existenciais e o espiritualismo caracterizam, de maneira geral, a produção poética desta corrente que assimilou as renovações da linguagem modernista. Tasso da Silveira, Augusto Frederico Schimidt, Murilo Araújo, Adelino Magalhães, Murilo Mendes e Cecília Meireles são os principais poetas que se aglutinaram em torno dessas ideias.
Fases do modernismo brasileiro:
Costuma-se dividir o Modernismo brasileiro em três fases: Entretanto, este é um recurso apenas didático. Poetas de uma determinada fase continuaram produzindo, alguns passando por tendências diferentes, mudando e aprimorando sua linguagem e temas.
Primeira fase (1922 – 1930) ou fase heróica: de combate e destruição, quando ocorre a libertação e renovação da linguagem e são afirmados os valores estéticos do movimento.
Segunda fase (1930 – 1945) ou fase construtiva: de estabilização das conquistas, de preocupação social e de tendência introspectiva.
Terceira fase (1945 em diante) ou fase de reflexão: de ponderação sobre a linguagem (metalinguagem), com o retorno a alguns modelos estilísticos tradicionais, ao que se soma uma temática universalista.
A partir de 1950, surgem novas tendências em poesia, como o Concretismo, O Neoconcretismo, a Poesia-práxis e o Poema-processo.
Os Sapos
Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi:
-"Meu pai foi à guerra!" — "Não foi!" — "Foi!" — "Não foi!". O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: — "Meu cancioneiro É bem martelado.
Vede como primo Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos.
O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos
A formas1 a forma.
Clame a saparia Em críticas céticas:VOCABULÁRIO
enfunar: Inchar; envaidecer. trigo;joio = Erva daninha. O sentido, no poema, é de retoricamente perfeito" aguado: Desagradável, monótono.
cético: Que duvida de tudo; descrente. assomo: Irritação, enfurecimento.
martelado: Trabalhado; ritmado.
lavor: Trabalho. primar: Ser primoroso, hábil.
estatuário: Escultor. cognato: Vocábulo que tem raiz comum com outro(s). perau: Declive, barranco. frumento sem joio: frumento
= O melhor
transido: Esmorecido, abatido.
Não há mais poesia, Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
—"Meu pai foi rei" — "Foi!"
—"Não foi"—"Foi!"—"Não foi!"
Brada em um assomo O sapo-tanoeiro:
—"A grande arte é como Lavor de joalheiro
Ou bem de estatuário. Tudo quanto é belo, Tudo quanto é vário, Canta no martelo."
Outros, sapos-pipas (Um mal em si cabe), Falam pelas tripas:
- "Sei!" — "Não sabe!" — "Sabe!".
Longe dessa grita, Lá onde mais densa A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo, Sem glória, sem fé, No perau profundo E solitário, é
Que soluças tu, Transido de frio, Sapo-cururu
Da beira do rio...
BANDEIRA, Manuel."Os sapos" In: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro,
Nova Aguilar, 1983. p. 158.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Que recurso sonoro o poeta utiliza na primeira estrofe para imitar a marcha saltitante dos sapos?
 	_
2) Em meio à algazarra dos medíocres, quem simboliza a solidão do artista superior?
 	_
3) Em que versos o poeta resume a sua denúncia do equívoco parnasiano de que a boa métrica e a rima constituiriam a excelência da forma e da poesia?
 	_
4) Qual dos sapos caracteriza a vaidade excessiva de alguns parnasianos?
 	_
5) Sabendo-se que os três primeiros sapos simbolizam os poetas parnasianos, quem estaria sendo simbolizado pelo sapo-cururu?
 	_
MODERNISMO PORTUGUÊS
Contexto histórico:
Com a queda da monarquia em 1910, Portugal viveu um breve período democrático até 1926, quando o país passou a ser governado por uma Junta Militar. Neste cenário, surgiu Antônio de Oliveira Salazar, que, inicialmente ministro das Finanças, é nomeado primeiro- ministro em 1932, dando início a um novo período ditatorial desumano e cruel, durante o qual a sua temida PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado, uma espécie de Gestapo nazista em Portugal) perseguiu e assassinou milhares de opositores ao regime.
Na década de 1960, Portugal organizou campanhas militares para enfrentar rebeliões em Angola, na Guiné e em Moçambique, fatos que marcaram profundamente a sociedade portuguesa e influenciaram a poesia do período.
Em 1968, em virtude de um derrame cerebral, Salazar foi substituído por Marcelo Caetano, que governou até ser deposto, em 1974, por um movimento militar que passou à história com o nome de Movimento de 25 de abril (ou Revolução dos Cravos).
Com o fim das guerras coloniais e com a independência da Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde, Angola e são Tomé e Príncipe, entre 1974 e 1975, o regresso de tropas e colonos agravou os problemas de desemprego e crescimento urbano. Os anos que se seguiram foram de instabilidade, quadro que começou a mudar em 1976, quando os socialistas conseguiram a maioria dos votos e Mário Soares foi indicado primeiro-ministro.
Em 1986, Portugal entrou para a Comunidade Econômica Européia, o que contribuiu para a melhoria da sua economia, chegando ao final do século XX com altos índices de crescimento econômico e uma expressiva melhoria nas condições de vida de seu povo.
Correntes do Modernismo português da primeira metade do século XX:
O Modernismo português tevevárias correntes e grupos, os quais se situam, didaticamente, entre 1915 e 1950.
Orfismo - 1915 : A publicação da revista Orfeu, em 1915, que reunia um grupo de escritores e artistas plásticos, é o marco inicial do modernismo em Portugal. Em seus dois únicos números estavam as figuras mais representativas do Modernismo português: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada Negreiros.
Esses escritores repudiavam o idealismo romântico da burguesia, a qual pretendiam escandalizar, e procuravam imprimir ao ambiente literário português o tom europeu, com a proposta de romper com o passado e de exprimir na arte o dinamismo da vida moderna, assimilando as propostas vanguardistas do início do século, entre elas o Futurismo.
No mesmo momento, destacam-se Aquilino Ribeiro e Florbela Espanca, embora não tenham ligações com os poetas de Orfeu.
Presencismo – 1927 : Em 1927, surge a revista Presença, que teve 54 números até 1947. Coincidindo com o início do fim da democracia em Portugal, os presencistas aspiravam a uma literatura desvinculada de qualquer posição de caráter político e religioso.
Embora marcados por um conservadorismo político-ideológico, os presencistas combatiam o academicismo e difundiam a estética modernista, esforçando-se para tornar conhecida a obra de Fernando Pessoa. Desse grupo saíram algumas tentativas de renovação do romance português, como, por exemplo, Jogo da cabra-cega, de José Régio. Destacaram-se na poesia, na prosa e na crítica literária: Adolfo Casais Monteiro, Alberto Serpa, Antônio Boto, Carlos Queirós, João Gaspar Simões, Miguel Torga, Vitorino Nesmésio e outros.
Neo-Realismo – 1930:
Ao longo da década de 30 processou-se a revalorização do realismo, encontrando em Ferreira de castro um precursor do qual seria chamado de Neo-Realismo, com o romance A selva (1930). Em 1939, Alves Redol publicou Gaibéus, marco definitivo dessa tendência e que teve larga aceitação.
Fruto da insatisfação com a ditadura salazarista, os neo-realistas voltavam-se para as questões sociais do país, objetivando conscientizar os leitores e denunciar a corrosão da estrutura política, econômica e social de Portugal.
Entre 1941 e 1944, os poetas neo-realistas publicaram 10 volumes do Novo Cancioneiro, coletânea onde se encontram os poetas mais representativos do período: Carlos de Oliveira, José Gomes Ferreira, Mário Dionísio, e outros.
Na prosa, além dos precursores, conquistaram notoriedade: Augusto Abelaira, Carlos de Oliveira, Fernando Namora, José Cardoso Pires, José Gomes Ferreira, Manuel da Fonseca, Urbano Tavares Rodrigues, Vergílio Ferreira (no começo de sua carreira), entre outros.
O Surrealismo tardio: a geração de 50:
O Surrealismo chega tardiamente em Portugal, por volta de 1947, agrupando alguns poetas liderados por Mário Cesariny.
Numa oposição clara ao facismo salazarista, esses poetas utilizavam o humor, a exploração de imagens do inconsciente e automatismo psíquico. Entre eles, destacaram-se: Antônio Maria Lisboa e Alexandre O’Neill.
Principais autores:
Fernando Pessoa ,o criador de poetas ,o multiplicador de eus- Usava vários heterônimos, assinando as suas obras de acordo com a personalidade de cada um deles. O poeta insistia no fato de que não se tratava de pseudônimos, já que eram individualidades distintas do autor. Sua capacidade de deixar-se possuir por outros seres,que como ele são poetas ,e de assim criar os outros eus, os heterônimos,tem sido tema de inumeráveis estudos,debates e controvérsias.
Álvaro de Campos, um dos heterônimos do poeta,afirma que ‘`fingir`` é conhecer- se”enquanto Pessoa,num de seus poemas mais conhecidos,diz que:”O poeta é um fingidor- Finge tão completamente\Que chega a fingir que é dor.A dor que deveras sente’.
Esse paradoxos apontam para a modernidade do poeta,em seu reconhecimento da perda da identidade do ser humano,da fragmentação do eu,cindindo num mundo que destruiu as certezas inquestionáveis e quebrou o mito da personalidade como algo inteiro,igual a si mesmo.
Nesse sentido,o ‘fingimento’ pessoano,isto é,o processo de despersonalização que faz o poeta’inventar-se’através de outras criaturas- as quais,no entanto dentro de si-pode ser entendido como busca de recriação poética de uma unidade perdida,de algo que seja absoluto,que transcenda todas as verdades parciais ,relativas,fragmentadas.
Assumindo a sua diversidade,a sua pluralidade,a sua multiplicidade de elementos,quase sempre conflitantes.Pessoa procura a unidade,a integridade da pessoa humana
Os heterônimos,portanto,não são máscaras literárias ,não se confundem com pseudônimos.Pessoa não inventou personagens-poetas,mas criou obras de poetas, e,em função delas,as biografias de Álvaro de Campos,Ricardo Reis e Alberto Caeiro, seus principais heterônimos.
Fernando Pessoa ortônimo:o poeta-filósofo,que conjuga lucidez e vivência:
Nasceu em 1888,em Lisboa,vindo a falecer na mesma cidade,em 1935,com apenas 47 anos;órfão de pai ainda criança passou a infância e a adolescência em Durban,na África do Sul,onde obteve educação inglesa,tornando-se um poeta bilíngue,
Em 1905,prestes a ingressar na Universidade do Cabo,precisou voltar para Lisboa.Lá chegou a iniciar o curso de Letras,abandonando-o para instalar uma tipografia.que fracassou.Trabalhou obscuramente como correspondente estrangeiro-redator de cartas comerciais em inglês e francês –atividade modesta,que acabou por sustentá-lo a maior parte da vida.
Embora tenha participado das publicações do Modernismo português,seu único livro publicado em vida foi:’Mensagem”,obra com a qual participou de um concurso de poesia do Secretariado da Propaganda Nacional,em Lisboa,em 1934,pouco antes de morrer.
, O prêmio de segunda categoria que lhe deram,nessa última experiência literária,mostra o quanto não foi reconhecido em vida,embora tenha dedicado toda ela à arte e a poesia.É considerado um dos maiores poetas europeus.
Além de Mensagem,escreveu Poemas completos de Alberto Caeiro,Odes de Ricardo Reis,Poesias de Álvaro de Campos,Poemas dramáticos,Poesias coligidas ,Quadras ao gosto popular,Novas poesias inéditas.Em prosa suas obras são:Páginas de Doutrina Estética,A nova poesia portuguesa,Análise da vida mental portuguesa,Apologia do paganismo e Páginas íntimas e autointerpretação.
Poeta filosófico,sutil e complexo,Fernando Pessoa escreve em redondilhas rimadas,fundamentalmente procurando reunir o”sentir’ e o ‘pensar’(‘O que em mim sente está pensando’).
A inquietação,a necessidade de compreender todas as coisas,a busca constante de consciência,que inclui saber ser ela uma impossibilidade,constituem alguma das características fundamentais de sua vida.
Fernando Pessoa é o poeta que conjuga lucidez e vidência,que se coloca entre o pendor para a paixão,o sonho,a entrega mágico-poeta aos mistérios e a postura de constante indagação crítica.
Assim,fragmentou-se,multiplicou-se,reinventou-se,convivendo em profundidade com todas as grandes contradições do nosso tempo e recriando-as poeticamente,numa das monumentais obras-primas do século XX.
Mar portuguez
Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portygal!
Por te cruzarmos,quantas mães choraram, Quantos filhos em vão resaram!
Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso,ó mar!
Fernando Pessoa.Op.cit.pág.82.
Alberto Caeiro,o poeta-pastor – É o poeta ingênuo. Criado no campo, apega-se à simplicidade natural da vida, à franqueza e à alegria. Procura ver as coisas como elas são, sem subjetivismo e metafísica. O mundo é para ele o que aí está, não havendo nada a desvendar, já que não existiria nenhum outro sentido oculto por trás das aparências.
Álvaro de Campos ,o poeta das sensações do homem moderno– É o poeta moderno. Tem a visão do homem urbano, agressivo e agitado, que exalta o progresso, mas carrega também a angústia da sua época. Na linha do Futurismo, celebra a máquina, a velocidade e a simultaneidade das sensações. È o mais emotivo de todos. Questiona as ilusões e fantasias humanas.
Ricardo Reis,o poeta neoclássico – É o poeta neoclássico. Seu estilo é trabalhado, cuidadosono vocabulário e na sintaxe de influência latina. Assim como os clássicos, é pagão e, como Caeiro, prega o amor à natureza e à vida rústica. Sofre por se saber efêmero, mortal.
Fernando Pessoa “ele mesmo” – É o poeta múltiplo. Sua poesia ora é mística, ora é nacionalista, ora é de uma profunda reflexão psicológica e metafísica, como o poema “autopsicografia”. Avesso ao sentimentalismo, expressa suas emoções equilibradas pela inteligência e pelo intelecto. Parte de sua poesia mantém laços com o Simbolismo. Místico e esotérico, revela paixão pelo mistério. O apego à solidão, o tédio, a saudade e o questionamento do eu são outras características de Fernando Pessoa “ele mesmo”.
AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor. Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve, Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve, Mas só a que eles têm.
E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda
Que se chama o coração.
(Fernando Pessoa)
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Dê o significado dos radicais que entram na composição do título do poema. O que ele nos sugere, relacionado que está ao caráter metalinguístico do texto?
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2) Literatura é ficção, palavra originária do latim fictione que significa simulação, fantasia. O texto literário cria uma nova realidade, baseada não só no mundo real, mas também na imaginação e criação do artista. Em que verso o eu-lírico retoma esse conceito?
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3) Identifique no poema os versos que fazem referência à dor verdadeira, à dor escrita e à dor lida.
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4) A partir da sua imaginação, o poeta constrói um texto que acaba por preencher os momentos de lazer dos leitores. Retire da última estrofe os substantivos que correspondem a esta ideia.
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EXERCÍCIOS
1) Que revista inaugura didaticamente o Modernismo português?
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2) Identifique nos textos seguintes os principais heterônimos de Fernando Pessoa:
a) Amo-vos a todos, a tudo, como uma fera Amo-vos carnivorosamente, Pervertidamente e enroscando a minha vista
Em vós, ò coisas grandes, banais, úteis, inúteis, Ò coisas todas modernas,
Ò minhas contemporâneas, forma atual e próxima Do sistema do Universo!
Nova Revelação metálica e dinâmica de Deus!
b) O meu olhar azul como o céu É calmo como a água ao sol. É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta...
c) Vem sentar-se comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. (Enlacemos as mãos)
3) Que autor é considerado o precursor do Neo-Realismo português? Com que obra?
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4) Que autor e que obra marcam definitivamente o início do Neo-Realismo português?
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MODERNISMO NO BRASIL
PRIMEIRA FASE (1922 – 1930):
A primeira fase do Modernismo, marcada pelo signo da transformação, ficou conhecida como a fase “heróica” ou de destruição, pela postura de rompimento com o passado, vista por muitos como anárquica e destruidora. Dentre as principais características literárias observadas nos textos dessa geração, destacam-se:
· Negação do passado, caráter destrutivo;
· Eleição do moderno como um valor em si mesmo;
· Valorização do cotidiano;
· Nacionalismo;
· Redescoberta da realidade brasileira;
· Desejo de liberdade no uso das estruturas da língua;
· Predominância da poesia sobre a prosa.
Principais autores:
Mário de Andrade – Estreou com um livro de influências parnasianas e simbolistas. Mas
Paulicéia desvairada(1922) seria o primeiro livro do Modernismo Brasileiro.
As obras ficcionistas desse autor podem ser divididas em duas vertentes: a primeira trata do universo familiar da burguesia paulistana e da gente do povo – Amar, verbo intransitivo e a série de contos que publicou. A segunda origina-se do aproveitamento de lendas indígenas, mitos, anedotas populares e elementos do folclore nacional, com os quais compôs sua obra prima, Macunaíma.
O herói apresenta traços bem definidos, como a preguiça, o deboche, a irreverência, a malandragem, a sensualidade, o individualismo e o sentimentalismo. Entretanto, o caráter do herói muda de um episódio para outro, o que justifica qualifica-lo de “herói sem nenhum caráter”.
Obras:
· Poesia – Há uma gota de sangue em cada poema, Paulicéia desvairada, Losango cáqui, Clã do jabuti, Remate de males, Lira paulistana;
· Ficção – Amar, verbo intransitivo, Macunaíma, Os contos de Belazarte, Contos novos;
· Ensaio – A escrava que não é Isaura, Aspectos da literatura brasileira, O empalhador de passarinhos.
MACUNAÍMA
(fragmento)
Macunaíma parte do interior da selva amazônica rumo a são Paulo para reaver o amuleto que ganhara de sua mulher, que subira aos céus desgostosa com a morte do filho. Macunaíma, junto com seus irmãos Jiguê e Maanape, participa de várias façanhas até recuperar o amuleto que estava em poder de Venceslau Pietro Pietra (o gigante Piaimã). Contudo, perde-o novamente, enganado pela Uiara (divindade dos rios e dos lagos). Desiludido e sozinho depois da morte dos irmãos, resolve subir aos céus e deixar-se transformar na constelação de Ursa Maior.
O trecho seguinte narra as transformações de Macunaíma e seus irmãos, ao se banharem nas águas de uma cova avistada na rocha, quando seguiam para São Paulo pelo rio Araguaia.
Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água.
E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirnho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era a marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água para todos os lados só conseguiu ficar com a cor do bronze novo. (...)
- Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem o filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa.
(Mário de Andrade)
Vocabulário:
Lapa – grande pedra ou laje que forma um abrigo. Abicar – encalhar propositamente com a proa.
Sumé – São Tomé. Segundo a lenda, há no Brasil várias marcas dos pés de São Tomé em sua peregrinação apostólica, antes do descobrimento.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Alegoria é a exposição de um pensamento sob forma figurada. O texto lido é uma representação alegórica de quê?
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2) Que reação de Macunaíma não condiz com o que se espera de um herói, prenunciando o anti-heroi?
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3) Os modernistas da 1ª fase procuravam romper com a linguagem formal e incorporar a fala coloquial (uso do vocabulário e sintaxe bem próximos da linguagem cotidiana). Muitas vezes utilizavam registros populares da língua ou não utilizavam pontuação, contrariando a gramática normativa.
Indique no texto passagens que exemplificam essa afirmação.
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5) Mário de Andrade valoriza a lógica e a razão nesse texto? Por quê?
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Oswald de Andrade – Buscou uma poesia que expressasse o genuinamento brasileiro e percorresse, desde os tempos coloniais, a vida rural e urbana do país, que procurou ver com olhar ingênuo da criança e o da pureza primitiva do índio. Reaproveitando textos dos primeiros viajantes (sobretudo de Caminha), escreveu poemas breves, em versos livres e brancos, com linguagem coloquial, humor e paródia, recusando a estrutura discursiva do verso tradicional.
Obras:
· Poesia – Pau-brasil, Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade;· Romance – Trilogia do exílio: I Os condenados, II A estrela do absinto, III A escada vermelha, Memórias sentimentais de João Miramar, Serafim Ponte Grande, Marco zero I: A revolução melancólica, Marco zero II: Chão;
· Teatro – O homem e o cavalo, O rei da vela, A morta, O rei Floquinhos (infantil)
MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR
(fragmento)
É considerada a primeira grande realização da prosa modernista. Rompendo com esquemas tradicionais da narrativa, a obra é construída a partir de fragmentos justapostos, de blocos que rompem com a seqüência discursiva e de capítulos relâmpagos, assemelhando-se à justaposição cinematográficas, o que impossibilita uma leitura linear da história e deixa a cargo do leitor a recomposição da narrativa. A paródia, a técnica cubista (aproximação de elementos distanciados, como a pintura de um olho sobre a perna, por exemplo), a frase sincopada, as elipses que devem ser preenchidas pelo leitor, a linguagem infantil e poética, e outras inovações fazem das Memórias uma obra revolucionária para sua época. O recurso metonímico, dentro da técnica cubista, é levado ao extremo, como nesta passagem em que empresta a uma porta as mangas de camisa e as barbas de quem foi abri-la:
Um cão ladrou à porta barbuda em mangas de camisa e uma lanterna bicor mostrou os iluminados na entrada da parede.
3. Gare do infinito
Papai estava doente na cama e vinha um carro e um homem e o carro ficava esperando no jardim.
Levaram-me para uma casa velha que fazia doces e nos mudamos para a sala do quintal onde tinha uma figueira na janela.
No desabar do jantar noturno a voz toda preta de mamãe ia me buscar para a reza do Anjo que carregou meu pai.
8. Fraque do ateu
Saí de D. Matilde porque marmanjo não podia continuar na classe com meninas.
Matricularam-se na escola-modelo das tiras de quadros nas paredes alvas escadarias em um cheiro de limpeza.
Professora magrinha e recreio alegre começou a aula da tarde um bigode de arame espetado no grande professor Seu Carvalho.
No silêncio tique-taque da sala de jantar informei mamãe que não havia Deus porque Deus era a natureza.
Nunca mais vi o Seu Carvalho que foi para o Inferno.
(Oswald de Andrade)
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Que fases da vida de João Miramar estão representadas nos capítulos transcritos?
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2) Que parágrafo do capítulo 3 melhor caracteriza a linguagem infantil?
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3) Destaque do capítulo 3 a metonímia que registra a força do luto materno na memória do narrador.
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4) Por que Seu Carvalho perdeu o emprego de professor?
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Manuel Bandeira – Não participou diretamente da Semana de 22, mas seu poema “Os sapos” lida por Ronald de Carvalho, provocou reações radicais na segunda noite do acontecimento. Mário de Andrade chamava-o de “O São João Batista do Modernismo”.
O caráter geral de sua poesia é marcado ainda pelo tom confidencial, pelo desejo insatisfeito, pela amargura e por referências autobiográficas relacionadas com a sua doença (a tuberculose), com os lugares onde morou (sobretudo o bairro da Lapa, no Rio de Janeiro) e com a família. Ainda que se note em várias passagens da sua obra a herança do Romantismo, Bandeira soube evitar o sentimentalismo piegas, edificando uma obra depurada e de grande valor estético.
Obras:
· Poesia – A cinza das horas, Carnaval, Ritmo dissoluto, Libertinagem, Estrela da manhã, Lira dos cinquent’anos, Belo, belo, Estrela da vida inteira;
· Prosa – Crônicas da província do Brasil, Guia de Ouro Preto, Itinerário de Pasárgada, Andorinha, andorinha.
Alcântara Machado – Importante contista da primeira fase do Modernismo, retratou a vida e as gentes de São Paulo, com predileção pelo imigrante italiano. Nos bairros populares, suas personagens vivem as cenas do cotidiano: a partida de futebol, as brigas de rua, as festas, etc. Diminuindo a distância entre a língua falada e a escrita, incorporou a linguagem popular, os italianismos e uma sintaxe simples, o que resultou numa prosa leve e num estilo moderno.
Obras:
· Contos e novelas – Pathé-Baby; Brás, Bexiga e Barra Funda; Laranja da China; Mana Maria; Novelas paulistanas.
EXERCÍCIOS
1) O que pretendia a 1ª fase do Modernismo?
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2) Qual autor da 1ª fase que escrevia sobre a cidade de São Paulo?
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3) Qual autor da 1ª fase em que suas obras são marcadas pela amargura e autobiografia?
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4) A figura do imigrante italiano e do homem do povo e a incorporação da linguagem popular encontram-se nos livros de que autor paulistano?
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SEGUNDA FASE (1930 – 1945)
Contexto histórico:
Em 1930, têm início os quinze anos da ditadura de Getúlio Vargas.
Com o objetivo de obter apoio junto às massas, Getúlio toma uma série de medidas: o país é dotado de uma legislação trabalhista e previdenciária, decreta-se o salário mínimo e adotam-se providências para a criação de um partido trabalhista. Em 1945, é decretada a anistia para os presos políticos e são convocadas eleições para dezembro. Porém, as suspeitas de um novo golpe getulista, naquele ano, provocam o descontentamento dos militares, que, num movimento liderado pelo general Góis Monteiro, depõe o ditador.
A literatura da 2ª fase:
POESIA:
A geração de 30, despreocupada com as questões imediatas de 22 (o nacionalismo, o folclore, a destruição dos esquemas do passado, etc), voltava-se para as questões universais do homem e para os problemas da sociedade capitalista. É o que se dá, por exemplo, na poesia de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e Jorge de Lima. Em Vinícius de Moraes e Cecília Meireles, a temática universalizante também estará presente, embora suplantada por uma poesia personalista. Por outro lado, alguns dos mais importantes poetas de 30, entre eles Murilo Mendes, Jorge de Lima e Cecília Meireles, icorporarariam a religiosidade e o misticismo em seus poemas.
Finalmente é preciso observar que a geração de 30 não processou uma mudança repentina e tampouco limita-se àquele período. Os poetas de 22, agora mais amadurecidos, continuariam em plena atividade, paralelamente aos de 30, e alguns destes também continuariam produzindo e se renovando até o final do século XX.
Principais autores:
Carlos Drummond de Andrade – Seu nome está associado ao que se fez de melhor na poesia brasileira até hoje. Pela grandiosidade e pela qualidade, sua obra não permite qualquer tipo de esquematização. Por isso, segue abaixo alguns aspectos da poesia de Drummond:
a) O cotidiano – De acontecimentos banais, corriqueiros, gestos ou paisagens simples, o eu-lírico extrai poesia.
b) O aspecto gauche – a palavra gauche, de origem francesa, corresponde a “esquerdo” em nosso idioma. Em sentido figurado, o termo pode significar “acanhado”, “inepto”. Qualifica o ser às avessas, o “torto”, aquele que está à margem da realidade circundante e que com ela não consegue se comunicar. É assim que o poeta se vê: como gauche.
c) A preocupação social e política – Muitos poemas denunciam a opressão que marcou o período da Segunda Grande Guerra e a ascensão do nazi-fascismo.
d) Reminiscências – O passado ressurge muitas vezes na poesia de Drummond e sempre como antítese para a realidade presente. A terra natal – Itabira – transforma-se então no símbolo da atmosfera cultural e afetiva vivida pelo poeta. Nos primeiros livros, a ironia predominava na observação desse passado; mais tarde, o que vale são as impressões gravadas na memória. Na reinterpretação desse passado, o tom predominante é de afeto, não mais de ironia.
e) O amor – Nos primeiros livros, o tema merece tratamento irônico. Mais tarde, o poeta procura captar a essência desse sentimento e só encontra como Camões e outros – as contradições, que se revelam no antagonismo entre o definitivo e o passageiro, o prazer e a dor.
f) Metalinguagem: a poesia torna-se assunto do poema – A reflexão sobre o ato de escrever faz parte das preocupações do poeta e ajuda o leitor a entender seu conceito de poesia.
Obras:
· Poesia - Algumas poesias; Brejo das almas; Sentimento do mundo; Poesias; A rosa do povo; A vida passadaa limpo; Menino antigo; Discurso de primavera e algumas sombras; Corpo; O amor natural, entre outros;
· Prosa – Confissões de Minas; Contos de aprendiz; Passeio na ilha, Fala, amendoeira; Boca de luar; entre outros.
POEMA DE SETE FACES
Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida.
As casas espiam os homens que correm atrás das mulheres. A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada.
O homem atrás do bigode é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Têm poucos, raros amigos	28UA PORTUGUESA – 3º ANO- 2016
LÍNG o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus
Vocabulário
guache: fr. [gôshi] Deslocado, desajustado, à esquerda dos acontecimentos.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Que relação se pode estabelecer entre o título do poema e o número de estrofes?
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2) Que elemento comum identifica o poeta e o anjo?
 	_
3) Há uma aparente desconexão entre as várias estrofes, como se o poeta registrasse flashes da realidade. Identifique cada uma das estrofes, a partir da idéia básica de cada uma delas, que assinalamos a seguir:
a) flash do adulto sério, reservado – _	_
b) nascimento do poeta – _	_
c) percepção de um mundo inquieto, que poderia ser mais belo –
d) desajustamento entre a realidade interior e a exterior, aliado à percepção da sexualidade -
29
LÍNGUA PORTUGUESA – 3º ANO – 2016
4) Em que verso o poeta utiliza uma passagem bíblica?
 	_
5) Em que estrofe o poeta descobre-se impotente diante do mundo? Transcreva o verso que evidencia essa sensação.
 	_
Murilo Mendes – Faz parte de um grupo de intelectuais que, na década de 30, encontraram no cristianismo a resposta para a crise política e ideológica que o mundo atravessava. Embora seja um escritor pouco lido ainda hoje, a obra de Murilo Mendes apresenta uma superior qualidade literária. A seguir, apontam-se alguns aspectos de sua poesia:
a) Humor e ironia como instrumento crítico – Esse é o tom dos poemas que herdam algumas características da primeira fae do Modernismo.
b) O cristianismo – Nesse cristianismo ressaltam dois aspectos:
1- a ênfase sobre a finitude do homem;
2 – o heroísmo de Cristo, considerado mais como homem que como Deus.
Obras:
· Poesia – Poemas; História do Brasil; Tempo e eternidade; A poesia em pânico; O visionário; As metamorfoses; Mundi enigma, entre outros;
· Prosa – O discípulo de Emaús; A idade do serrote; Trasistor; antologia.
Jorge de Lima – Como Murilo Mendes, faz parte do grupo de intelectuais que encontraram no cristianismo a resposta para a crise política e ideológica que o mundo atravessava.
A temática de suas principais obras poéticas pode ser assim resumida:
a) XIV alexandrinos apresentam versos ainda ligados ao Parnasianismo;
b) Novos poemas têm o negro e o folclore como assuntos principais;
c) Tempo e eternidade, obra em que contribuiu com 45 poemas, aponta na religião a solução para a realidade injusta, conturbada e excessivamente materialista;
d) Invenção de Orfeu é um longo poema que procura interpretar simbolicamente a ligação entre o homem e o universo;
Vinícius de Moraes – Em primeiro momento, sua obra pode ser dividida em duas fases:
místico-religiosa e encontro com o mundo material e cotidiano.
O poeta expressa, com intensa angústia, a constante oposição entre a matéria e espírito, do qual resulta a sensação do pecado. A existência terrena configura-se para ele como o caos, o abismo.
Poeta lírico por excelência, em sua segunda fase, alia temas modernos à mais apurada forma clássica de composição, o soneto, deixando-nos algumas obras-primas.
Obras:
· Poesia – O caminho para a distância; Forma e exegese; Ariana, a mulher; Novos poemas; Cinco elegias; Poemas, sonetos e baladas; Pátria minha; Livro de sonetos; Novos poemas II;
· Crônica – Para viver um grande amor; Para uma menina com uma flor;
· Teatro – Orfeu da Conceição, em versos; Procura-se uma rosa; Cordélia e o peregrino, em versos.
Cecília Meireles – São duas as características de suas obras: a musicalidade e a preocupação com a fugacidade do tempo e a precariedade das coisas e dos seres.
Da consciência dessa fragilidade de tudo, decorre o tom melancólico de muitos de seus poemas. Não se filiou radicalmente a nenhuma das tendências modernistas. Sua poesia lírica enraíza na tradição luso-brasileira.
Em boa parte de sua obra a realidade exterior transportada para o poema reduz-se quase exclusivamente a elementos móveis, etéreos, instáveis, efêmeros. Esses elementos são metáforas para a falta de duração de tudo
Um dos pontos altos de sua obra poética é o Romanceiro da Inconfidência, que lhe custou pesquisas históricas e no qual, empregando o melhor de sua técnica, revela o seu amor à pátria e sua admiração pelos mártires da Inconfidência Mineira.
Obras:
· Poesia – Espectros; Nunca mais... e Poema dos poemas; Baladas para El rei; Viagem; Vaga música; Mar absoluto; Retrato natural; romance de Santa Cecília, entre outros.
EXERCÍCIOS
1) Como é caracterizado a 2ª fase do Modernismo?
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2) Os poetas da geração de 30 estavam preocupados com o quê?
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3) Quais são os poetas que em seus poemas incorporaram a religiosidade?
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4) Quais as principais características da poesia de Carlos Drummond de Andrade?
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5) Qual dos poetas da 2ª escrevia através de sonetos?
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SONETO DO MAIOR AMOR
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste
E se vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida mal-aventurada
Louco amor meu, que quando toca, fere E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer – e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado, doido, delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo.
(Vinícius de Morais)
Vocabulário:
Mal-aventurado – infeliz, desventurado; Fenecer – acabar, morrer;
A esmo – ao acaso, sem rumo; Desassombrado – corajoso; exposto; franco.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) O que o eu-lírico leva em consideração para definir o seu amor como um amor “estranho”? Exemplifique.
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2) Que estrofe contém a idéia de que a graça do amor é a conquista e de que é melhor arriscar- se no amor do que levar uma vida sem graça? Justifique destacando es expressões que opõem uma possibilidade a outra.
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3) O poema lírico deve ser rico em musicalidade. Que recurso sonoro se destaca na 3ª estrofe deste soneto?
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4) Identifique o verso em que o eu-lírico declara amar, além da pessoa amada, o próprio sentimento de amar.
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PROSA:
Nos anos 30, a ficção dá novo salto qualitativo com o aparecimento de escritores de grande importância, que se distribuem basicamente em três vertentes:
a) prosa regionalista – As raízes do regionalismo já se encontravam no século anterior, com O sertanejo, de José de Alencar, e O Cabeleira, de Franklin Távora
A preocupação com a revalorização do Nordeste deve-se em parte ao deslocamento do eixo econômico e cultural para o Sul, quando a indústria açucareira começa a decair.
O regionalismo de 30 soube revelar o drama da seca e das retiradas, a submissão do homem ao latifundiário, a ignorância e as mazelas políticas da região Nordeste.
A bagaceira, de José Antonio de Almeida, é a obra inaugural, e seu prefácio, intitulado “Antes que me falem”, constitui um autêntico manifesto do regionalismo de então. A seguir, publicam-se, entre outros, O Quinze, de Rachel de Queiroz, O país do carnaval, de Jorge Amado, e Menino de engenho, de José Lins do Rego. Em 1938, Graciliano Ramos publica Vidas secas, a obra máxima do romance nordestino.
b) prosa urbana – José Geraldo Vieira, Érico Veríssimo e Marques Rebelo são os que mais se destacaram ao retratar o ambientee as personagens das grandes cidades de então.
c) prosa intimista – Os conflitos humanos e as questões psicológicas aparecem nas obras de Lúcio Cardoso, Dionélio Machado e Otávio de Faria. No final do período, surge um dos maiores nomes da literatura brasileira, Clarice Lispector, que merece considerações à parte.
Principais autores:
Graciliano Ramos – De maneira geral, seus romances caracterizam-se pelo inter- relacionamento entre as condições sociais e a psicologia das personagens; ao que se soma uma linguagem precisa, “enxuta” e despojada, de períodos curtos, mas de grande força expressiva.
Entre suas obras autobiográficas, destacam-se Memórias do cárcere, depoimento sobre as condições dramáticas de sua prisão durante o governo do ditador Getúlio Vargas.
Obras:
· Romance – Caetés; São Bernardo; Angústia; Vidas Secas;
· Conto – Insônia;
· Memórias – Infância; Memórias do cárcere; Linhas tortas; Viventes do Alagoas;
· Infantis – Histórias de Alexandre; Histórias incompletas.
VIDAS SECAS (fragmento) FUGA
A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas desesperadas. Encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava a catinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos, e os garranchos se torciam, negros, torrados. No céu azul as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre.
Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo. Não poderia nunca liquidar aquela dívida exagerada. Só lhe restava jogar-se ao mundo, como negro fugido.
Saíram de madrugada. Sinhá Vitória meteu o braço pelo buraco da parede e fechou a porta da frente com a taramela. Atravessaram o pátio, deixaram na escuridão o chiqueiro e o curral,vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros. Ao passar junto às pedras onde os meninos atiravam cobras mortas, Sinhá Vitória lembrou-se da cachorra Baleia, chorou, mas estava invisível e ninguém percebeu o choro.
Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para sul. Com a fresta da madrugada, andaram bastante, em silêncio, quatro sombras no caminho estreito coberto de seixos miúdos – os meninos à frente, conduzindo trouxas de roupa, Sinhá Vitória sob o baú de folha pintada e a cabaça de água, Fabiano atrás de facão de rasto e faca de ponta, a cuia pendurada por uma correia amarrada ao cinturão, o aió a tiracolo, a espingarda de pederneira num ombro, o saco da matalotagem no outro. Caminharam bem três léguas antes que a barra do nascente aparecesse.
Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza de aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se e repreendera os meninos que se adiantavam, aconselhara-os a poupara forças. A verdade é que não queria afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito, nem acreditava nela. Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir quando estava definitivamente perdido. Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas alheias: o chiqueiro e o curral, que precisavam conserto, o cavalo de fábrica, bom companheiro, a égua alazã, as catingueiras, as panelas de losna, as pedras da cozinha, a cama
de varas. E os pés dele esmoreciam, as alpercatas calavam-se na escuridão. Seria necessário largar tudo? As alpercatas chiavam de novo no caminho coberto de seixos.
Agora Fabiano examinava o céu, a barra que tingia o nascente, e não queria convencer-se da realidade. Procurou distinguir qualquer coisa diferente da vermelhidão que todos os dias espiava, com o coração aos baques. As mãos grossas, por baixo da aba curva do chapéu, protegiam-lhe os ombros contra a claridade e tremiam.
Os braços penderam, desanimados. Acabou-se.
Antes de olhar o céu, já sabia que ele estava negro num lado, cor de sangue no outro, e ia tornar-se profundamente azul. Estremeceu como se descobrisse uma coisa muito ruim.
Desde o aparecimento das arribações vivia desassossegado. Trabalhava demais para não perder o sono. Mas no meio do serviço um arrepio corria-lhe no espinhaço, à noite acordava agoniado e encolhia-se num canto da cama de varas, mordido pelas pulgas, conjecturando misérias.
A luz aumentou e espalhou-se pela campina. Só aí principiou a viagem. Fabiano atentou na mulher e nos filhos, apanhou a espingarda e o saco de mantimentos, ordenou a marcha com uma interjeição áspera.
(Graciliano Ramos)
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Dois motivos obrigaram a família a retira-se da fazenda. Quais?
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2) Em que parágrafos se evidencia a condição de retirante de Fabiano e sua família?
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3) Quando tenta controlar a marcha dos filhos, Fabiano na verdade está disfarçando um estado de espírito. Identifique-o:
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4) Fabiano sabe decifrar os sinais da natureza. Em que trecho se narra essa habilidade?
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5) O conflito fundamental do texto resulta da oposição entre homem x meio natural. Explique:
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6) O universo de qualquer trabalhador apresenta características próprias:
a) Identifique elementos que caracterizam o universo de atuação de Fabiano.
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b) Fabiano é proprietário de qualquer um dos instrumentos de trabalho desse universo?Sua ligação com o meio é estável ou instável.
 	_
José Lins do Rego – Segundo o próprio autor, sua obra de ficção pode ser dividida em:
· Ciclo da cana-de-açúcar: Menino de engenho, Doidinho, Bangüê, Usina e Fogo morto;
· Ciclo do cangaço, do misticismo e da seca: Pedra Bonita e Cangaceiros;
· Obras independentes: O moleque Ricardo, Pureza e Riacho Doce.
As obras do chamado ciclo da cana-de-açúcar são as mais importantes, destacando-se Fogo morto. Nelas, o autor procura retratar o início da decadência dos senhores de engenho, o advento da usina de açúcar, com seus métodos modernos de produção, e a formação de uma nova estrutura econômica e social na região açucareira do Nordeste.
MENINO DE ENGENHO
(fragmento)
Coitado do Santa Fé! Já o conheci de fogo morto. E nada é mais triste do que engenho de fogo morto. Uma desolação de fim de vida, de ruína, que dá à paisagem rural uma melancolia de cemitério abandonado. Na bagaceira, crescendo, o mato-pasto de cobrir gente, o melão entrando pelas fornalhas, os moradores fugindo para outros engenhos, tudo deixado para um canto, e até os bois de carro vendidos para dar de comer aos seus donos. Ao lado da prosperidade e da riqueza do meu avô, eu vira ruir, até no prestígio de sua autoridade, aquele simpático velhinho que era o Coronel Lula de Holanda, com o seu Santa Fé caindo aos pedaços. Todo barbado, como aqueles velhos dos álbuns de retratos antigos, sempre que saía de casa era de cabriolé e de casimira preta. A sua vida parecia um mistério. Não plantava um pé de cana e não pedia um tostão emprestado a ninguém.
(José Lins do Rego)
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Explique o sentido da expressão fogo morto em “E nada é mais triste do que um fogo morto”.
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2) Destaque do texto uma passagem que comprove o seu caráter memorialista.
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3) Destaque do texto alguns elementos que indiquem a decadência do engenho Santa Fé.
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Jorge Amado – Costuma-se dividir sua obra em duas fases. A primeira caracteriza-se pelo forte conteúdo político e pela denúncia das injustiças sociais, o que muitas vezes dá um caráter panfletário e tendencioso às obras. O esquematismo psicológico das obras dessa primeira fase leva a uma divisão do mundo em heróis (marginais, vagabundos, operários, prostitutas, meninos abandonados, marinheiros, etc) e vilões (a burguesia urbana e os proprietários rurais).
A segunda fase Jorge Amado passa a construir seus romances com elementos folclóricose populares: os costumes afro-brasileiros, a comida típica, o candomblé, os terreiros, a capoeira, etc. O mundo dos marginalizados torna-se então feliz, pois seus heróis levam uma vida sem preconceitos, sem regras severas de conduta social, o que lhes permite um elevado grau de liberdade existencial.
Obras:
· Romance – O país do carnaval; Cacau; Suor; Jubiabá; Mar morto; Capitães de areia; Terras do sem-fim; São Jorge do Ilhéus; Gabriela, cravo e canela; Dona Flor e seus dois maridos; Tenda dos milagres; Teresa Batista cansada de guerra; Tieta do agreste;
· Novela- Os velhos marinheiros; Os pastores da noite;
· Biografia – ABC de Castro Alves; O cavaleiro da esperança – Vida de Luís Carlos Prestes;
· Teatro – O amor de Castro Alves, reeditado como o amor do soldado.
CAPITÃES DA AREIA
(Jorge Amado)
O romance Capitães da areia, de Jorge amado é um documento sobre a vida dos meninos de rua de Salvador. A sua primeira edição (1937) foi apreendida e queimada em praça pública pouco depois de implantada a ditadura de Getúlio Vargas. No trecho a seguir, o narrador nos conta como Pedro Bala, aos quinze anos, assumiu a liderança de um grupo que dormia num velho armazém abandonado do cais do porto.
É aqui também que mora o chefe dos Capitães da Areia: Pedro Bala. Desde cedo foi chamado assim, desde seus cinco anos. Hoje tem quinze anos. Há dez que vagabundeia nas ruas da Bahia. Nunca soube de sua mãe, seu pai morrera de um balaço. Ele ficou sozinho e empregou anos em conhecer a cidade. Hoje sabe de todas as suas ruas e de todos os seus becos. Não há venda, quitanda, botequim que ele não conheça. Quando se incorporou aos Capitães da Areia (o cais
recém- construído atraiu para as suas areias todas as crianças abandonadas da cidade) o chefe era Raimundo, o Caboclo, mulato avermelhado e forte.
Não durou muito na chefia o caboclo Raimundo, Pedro Bala era muito mais ativo, sabia planejar os trabalhos, sabia tratar com os outros, trazia nos olhos e na voz a autoridade de chefe. Um dia brigaram. A desgraça de Raimundo foi puxar uma navalha e cortar o rosto de Pedro, um talho que ficou para o resto da vida. Os outros se meteram e como Pedro estava desarmado deram razão a ele e ficaram esperando a revanche, que não tardou. Uma noite, quando Raimundo quis surrar Barandão, Pedro tomou as dores, do negrinho e rolaram na luta mais sensacional a que as areias do cais jamais assistiram. Raimundo era mais alto e mais velho. Porém Pedro Bala, o cabelo loiro voando, a cicatriz vermelha no rosto, era de uma agilidade espantosa e desde esse dia Raimundo deixou não só a chefia dos Capitães da Areia, como o próprio areal. Engajou tempos depois num navio.
Todos reconheceram os direitos de Pedro Bala à chefia, e foi dessa época que a cidade começou a ouvir falar nos Capitães da Areia, crianças abandonadas que viviam do furto.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Pela leitura do texto, pode-se concluir que o romance pretende denunciar que tipo de problema?
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2) Que fato da vida de Pedro Bala pode ser considerado como o elemento desencadeador de sua vida de menino de rua?
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3) Que características de Pedro Bala fizeram dele o líder do grupo?
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4) Mesmo sendo um grupo de marginalizados, os meninos demonstravam senso de justiça entre os membros do grupo. Que fato narrado comprova essa afirmação?
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Érico Veríssimo – Costuma-se dividir suas obras em três grupos:
· Romance urbano – Registram a vida da pequena burguesia porto-alegrense, com uma visão otimista, às vezes lírica, às vezes crítica, e com uma linguagem tradicional, sem maiores inovações estilísticas. Destacam-se as obras: Clarissa; Caminhos cruzados; Um lugar ao sol; Olhai os lírios do campo; saga; O resto é silêncio;
· Romance histórico – O tempo e o vento. A trilogia de Érico Veríssimo procura abranger duzentos anos da história do Rio Grande do Sul, de 1745 a 1945;
· Romance político – Escritos durante o período da ditadura militar, denunciam os males do autoritarismo e as violações dos direitos humanos. Dessa série destaca-se Incidente em Antares, O senhor embaixador e O prisioneiro.
O tempo e o vento
Ilustração de Nelson Faedric para o romance O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.
A trilogia de Érico Veríssimo narra a saga de uma família e de uma cidade do Rio Grande do Sul, desde suas origens, em 1745, até 1945.0 trecho a seguir, extraído do primeiro volume, focaliza a personagem Ana Terra.
Muitos anos mais tarde, Ana Terra costumava sentar-se na frente de sua
casa para pensar no passado. E no seu pensamento como que ouvia o vento de outros tempos e sentia o tempo passar, escutava vozes, via caras e lembrava-se de coisas... O ano de 81 trouxera um acontecimento triste para o velho Maneco: Horácio deixara a fazenda, a contragosto do pai, e fora para o Rio Pardo,onde se casara com a filha de um tanoeiro e se estabelecera com uma pequena venda. Em compensação, nesse mesmo ano Antônio casou-se com Eulália Moura, filha dum colono açoriano dos arredores do Rio Pardo, e trouxe a mulher para a estância, indo ambos viver no puxado que tinham feito no rancho.
Em 85 uma nuvem de gafanhotos desceu sobre a lavoura deitando a perder toda a colheita. Em 86, quando Pedrinho se aproximava dos oitos anos, uma peste atacou o gado e um raio matou um dos escravos.
Foi em 86 mesmo ou no ano seguinte que nasceu Rosa,a primeira filha de Antônio e Eulália? Bom. A verdade era que a criança tinha nascido pouco mais de um ano após o casamento. Dona Henriqueta cortara-lhe o cordão umbilical com a mesma tesoura de podar com que separara Pedrinho da mãe.
E era assim que o tempo se arrastava, o sol nascia e se sumia, a lua passava por todas as fases, as estações iam e vinham, deixando sua marca nas árvores, na terra, nas coisas e nas pessoas.
E havia períodos em que Ana perdia a conta dos dias. Mas entre as cenas que nunca mais lhe saíram da memória estavam as da tarde em que dona Henriqueta fora para a cama com uma dor aguda no lado direito, fica rã se retorcendo durante horas, vomitando tudo que engolia, gemendo e suando frio. E quando Antônio terminou de encilhar o cavalo para ir até o Rio Pardo buscar recursos, já era tarde demais. A mãe estava morta. Era inverno e ventava.
VERÍSSIMO, Érico. O tempo e o vento 1:0 continente. Porto Alegre, Globo, 1956. p. 185.
Vocabulário
tanoeiro: Aquele que faz ou conserta barris, tinas, dornas etc.
encilhar: Arrear, aparelhar.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Percebe-se no texto o embate de duas forças. Qual delas simboliza o que é permanência (memória) e qual simboliza o que é passagem (destruição)?
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2) Que forma verbal, predominantemente no texto, dá-lhe caráter memorialístico?
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3) Na marcação do tempo, um acontecimento positivo vem acompanhado de uma dúvida. Que acontecimento é esse?
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4) Segundo a epígrafe que abre a obra, retirada do Eclesiastes, “Uma geração vai, e outra geração vem; porém a terra para sempre permanece”, em que parágrafo do texto também está presente essa visão cíclica, predominante no romance?
EXERCÍCIOS
1) Na prosa, qual a novidade apresentada pela geração de 30?
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2) O que os autores da prosa regionalista queriam retratar?
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3) O que os autores da prosa intimista queriam retratar?
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4) Dê características das obras de Graciliano Ramos, e sua obra que foi o marco do romance nordestino.
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5) Caracterize as obras do ciclo da cana-de-açúcar, de José Lins do Rego.
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LÍNGUA PORTUGUESA – 3º ANO – 2016
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6) Qual era a capital do Brasil que Érico Veríssimo costumava colocar em seus romances?
TERCEIRA FASE (1945 em diante)
Fase de reflexão – de ponderação sobre a linguagem (metalinguagem), com o retorno a alguns modelos estilísticos tradicionais, ao que se soma uma temática universalista.
Contexto histórico:
Encerrada a Segunda Grande Guerra, a atenção que se havia concentrado no plano internacional volta-se novamente para os problemas internos do país. São fatos marcantes no período de 45 a 60:
· 1945 – Término da Segunda Guerra Mundial. A chamadaGuerra Fria separa mundo capitalista do socialista. No Brasil, ocorre a deposição de Getúlio Vargas;
· 1946 – Eleição de Eurico Gaspar Dutra e início do processo de redemocratização do país;
· 1950 – Eleição de Getúlio para a presidência da República. Dessa vez eleito pelo povo, Vargas vai assumir a presidência no ano seguinte;
· 1954 – Suicídio de Getúlio e posse de Café Filho;
· 1955 – Eleição de Juscelino Kubitschek para a presidência da República. O governo JK efetuaria mudanças profundas em nossa economia, buscando suplantar a condição de subdesenvolvimento. Uma das mais significativas foi a implantação da industria automobilística;
· 1960 – Inauguração de Brasília e eleição de Jânio Quadros para a presidência da República.
A produção da terceira fase pode ser assim resumida:
Prosa:
Enriquecida por grande número de contos, crônicas e romances, a prosa do período dá seqüência às três tendências básicas já observadas no segundo momento modernista, mas com considerável renovação formal.
a) Prosa urbana – Dalton Trevisan é o nome mais importante surgido na terceira fase. Destacam-se ainda as crônicas de Rubem Braga e os romances e contos de Lygia Fagundes Telles.
b) Prosa intimista – Esboçada na 2ª fase, a tendência intimista amadurece, gerando textos cada vez mais complexos e penetrantes. Clarice Lispector é a melhor representante dessa prosa.
c) Prosa regionalista – Uma das tendências mais duradouras de nossa literatura, a prosa regionalista, surgida no Romantismo, vai ser retomada, porém com grandes inovações temáticas e lingüísticas. Destacam-se Herberto Sales, Mário Palmério e Bernardo Elis. Mas nenhum deles produziu prosa regionalista tão ousada como Guimarães Rosa, o grande renovador de nosso regionalismo.
É preciso não esquecer que grande parte dos escritores da fase anterior continuava ainda em plena produção artística.
Poesia:
A novidade do período foi um grupo de escritores que se autodenominaram “geração de 45”. Esses poetas reagiram ao que consideravam os exageros de 22, propondo uma linguagem precisa, equilibrada e o abandono do prosaísmo. Retomavam a metrificação, afastando o verso livre. A poesia passou a ser considerada como um artefato, resultante da precisão formal e da correção de linguagem. Repeliam-se, conseqüentemente, o poema-piada e as infrações à norma culta, que os poetas da geração de 45 consideravam um “falso” abrasileiramento da linguagem.
Muitos críticos vêem nessas propostas um retorno ao Parnasianismo; por isso, a geração de 45 foi intitulada de neoparnasiana.
Uns dos principais nomes destacam-se: João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar e José Paulo Paes.
Teatro:
A encenação de Vestido de noiva, de Nélson Rodrigues, é um marco na renovação do teatro brasileiro. Outro passo é dado com a fundação do Teatro de Arena e do Teatro Brasileiro. Destacam-se: Jorge Andrade, Ariano Suassuna (auto da Compadecida), Plínio Marcos (Navalha na carne), Dias Gomes (Odorico, o Bem-Amado) e Chico Buarque de Holanda (Gota d’água, em parceria com Paulo Pontes)
Crônicas:
Foi dos gêneros que mais se renovou a partir do final da década de 40, registrando a fala do povo e sua psicologia e retratando o cotidiano, com humor, ironia e lirismo, numa perspectiva crítica e reveladora. Destacam-se, entre outros: Paulo Mendes Campos, Rubem Braga, Fernando Sabino e Carlos Drummond de Andrade.
Principais autores:
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LÍNGUA PORTUGUESA – 3º ANO – 2016
Clarice Lispector – A caracterização das personagens e as ações são elementos secundários. Importa-lhe captar a vivência interior das personagens e a complexidade de seus aspectos psicológicos. Daí resulta uma narrativa introspectiva e o monólogo interior, em que muitas vezes percebe-se o envolvimento do narrador, ficando difícil estabelecer as fronteiras entre narrador e personagens.
As narrativas de Clarice Lispector quase sempre focalizam um momento de revelação, um momento especial em que a personagem defronta-se subitamente com a verdade. Os objetos mais simples, os gestos mais banais e as situações mais cotidianas provocam uma iluminação repentina na consciência da personagem.
Obras:
· Romance – Perto do coração selvagem; O lustre; A cidade sitiada; A hora da estrela, entre outros;
· Conto – Alguns contos; Laços de família; A legião estrangeira; Felicidade clandestina; entre outros.
TENTAÇÃO
Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. Na rua vazia as pedras vibravam de calor – a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão.
Foi quando aproximou-se a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo.
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado cachorro. A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam.
Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera no mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fita-lo.
Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos.
Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos.
Mas ambos eram comprometidos.
Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse mulher. Ele, com sua natureza aprisionada.
A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mude que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com os olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás.
(Clarice Lispector – Tentação)
VOCABULÁRIO
Flamejar – brilhar;	Fremir – agitar, estremecer.
INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1) Que sentimento humano serve de tema para o conto?
 	_
2) O narrador considera filosoficamente uma condição humana. Qual?
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3) O que é mais realçado no conto: as ações ou o universo interior das personagens?
 	_
4) Nesse, como em outros contos de Clarice Lispector, realiza-se a epifania, isto é, um momento especial em que a personagem defronta-se repentinamente com uma verdade. Um acontecimento que pode ser considerado banal provoca uma iluminação repentina na consciência da personagem e acaba por mostrar a força de uma inusitada revelação.
Transcreva o período que traduz o momento epifânico da menina.
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João Guimarães Rosa – Criando um estilo absolutamente novo na ficção brasileira, estiliza o linguajar sertanejo, recria e inventa palavras, mescla arcaísmos com vocábulos eruditos, populares e modernos, combinam de maneira original palavras, prefixos e sufixos, constrói uma sintaxe peculiar e explora as possibilidades sonoras da linguagem, através de aliterações, onomatopéias, hiatos, ecos, homofonias, etc.
No cerne dessa linguagem nova, na qual prosa e poesia se confundem, estão as indagações universais do homem: o sentido da vida e da morte, a existência ou não de Deus e do diabo, o significado do amor, do ódio, da ambição, etc.
Obras:
· Conto – Sagarana; Primeiras estórias; Tutaméia: Terceiras estórias; Estas estórias;
· Novela – Corpo de baile;
· Romance – Grande sertão: veredas;
· Diversos – Com

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