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II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 1 Estudos em comunicação e a formação do mundo do contemporâneo1 Yuji Gushiken2 Resumo Este artigo desenvolve a hipótese de que os estudos em comunicação produzidos a partir de abordagens pragmáticas, ao imporem-se como uma das grandes matrizes teóricas, modelaram conceitualmente este campo do saber, relacionando-o diretamente com a formação do mundo contemporâneo em sua condição socialmente fragmentada em grupos de identificação e segmentos de consumo. Por matriz teórica entenda-se a força paradigmática que o modelo de estudos da comunicação como ciência do comportamento tem exercido ao promover um certo modo de se pensar em comunicação social que reforça seu enquadramento nas ciências sociais aplicadas. No plano metodológico, este artigo se baseia em estudos históricos e bibliográficos, atentando para uma vigília epistemológica que se atualiza na relação entre estudos de comunicação no diálogo com os estudos de cultura contemporânea. Palavras-chave: comunicação; mundo contemporâneo; práticas midiáticas; pesquisa. Introdução A condição fragmentada da cultura contemporânea, que equivale propriamente a uma de suas características “pós-modernas”, tem relação direta com a transformação intensiva que as indústrias culturais e as mais recentes práticas midiáticas, em especial na cibercultura, operam sobre o que seria uma indiscernível sociedade de massa, modulando-a, na atual sociedade de consumo, em inúmeros segmentos de públicos específicos. Nos dias de hoje, essas transformações sociais, se observadas numa perspectiva que força a observação do macrossocial em direção ao microssocial, vão incidir em distintas formas de vinculação social que se relacionam, em diferentes intensidades, com a proliferação de grupos sociais. Entre outras coisas, esses grupos sociais vão produzir seus processos de subjetivação de modo intersticial à estrutura de classes sociais tal qual proposta pela perspectiva marxista. 1 Trabalho apresentado no II Colóquio Brasil-México de Ciências da Comunicação, realizado pela Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação) e Amic (Associación Mexicana de Investigadores de la Comunicación), de 1 a 3 de abril de 2009, na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), na cidade de São Paulo, Estado de São Paulo, Brasil. 2 Professor adjunto do Departamento de Comunicação Social e do Mestrado em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (ECCO-UFMT). Coordenador adjunto do Núcleo de Estudos do Contemporâneo (NEC-UFMT), na cidade de Cuiabá, Estado de Mato Grosso, Brasil. yug@uol.com.br II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 2 No campo da pesquisa em comunicação, a modulação conceitual promovida ao longo da tradição de pesquisa sociológica pode ser evidenciada por uma constante dobra dos estudos interdisciplinares sobre eles mesmos, enfaticamente na abordagem da comunicação como ciência do comportamento, na medida em que estudos empíricos e teóricos vieram se retroalimentando num processo de levantamento e derrubada de hipóteses. Parte da bibliografia disponível sobre história das “teorias” da comunicação (DeFLEUR & BALL- ROKEACH, 1993; WOLF, 1995; MATTELART & MATTELART, 1997; TRINTA & POLITCHUK, 2003) evidencia esse desdobramento reflexivo no qual distintas teorias, a nosso ver mais propriamente hipóteses, foram sendo construídas, levantadas e derrubadas na operacionalização da pesquisa pragmática tal qual enfatizada nos estudos sociais aplicados. A modelagem conceitual a que nos referimos fica mais evidente na fase dos estudos sobre os efeitos da comunicação de massa, mais precisamente ainda nos conhecidos estudos de efeitos a curto prazo. Essa modelagem caracterizou-se historicamente por uma ambição política e mercadológica, fundamentada em abordagem psicossocial, de gestão das opiniões em grande escala. Nesta fase específica das investigações ficou patente a relação primordial dos estudos comunicacionais com uma certa condição social que as ciências sociais descreveram e nomearam como sendo uma indiscernível sociedade de massa. Não por acaso, os primeiros estudos no campo da Comunicação, segundo a herança sociológica, em especial como ciência social aplicada, configuraram o que veio a ser compreendido como pesquisa em comunicação especificamente “de massa”, com a ênfase de serem, em suas primeiras incursões, estudos “de mídia”. Portanto, as práticas comunicacionais historicamente mais conhecidas pelo amplo espectro de difusão – cinema, rádio, jornalismo e propaganda – puseram em relação a emergência tecnológica de uma mídia pensada, criada e produzida para as massas, no modelo comunicacional – até então possível de ser teoricamente concebido na primeira metade do século XX – de “uma mensagem para todos e qualquer um”. Do massivo ao segmentado: trajetória dos estudos teóricos A característica atribuída na tradição das ciências sociais para a referida sociedade de massa equivalia a uma hipotética indistinção entre seus componentes. A medida de se pertencer a esta condição massiva da vida social equivalia à imagem – já clássica, mas hoje sabidamente equivocada – de indivíduos desprovidos de processos de interação social entre eles, como se a característica principal da sociedade de massa fosse a inexistência de marcas de linguagem e de práticas sociais que designassem a produção de sentido e, portanto, de II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 3 qualquer diferença entre os indivíduos entre si e, da mesma maneira e simultaneamente, entre os mais variados grupos sociais. Nessa perspectiva, a indistinção social era sugerida como um predicado da sociedade de massa na configuração da Era Moderna, que, a pretexto de nomear as outras eras, ainda esboçava esforços para descrever e narrar a si própria em especial na passagem do século XIX ao século XX. Era esta sugerida indistinção social, já incrustada no imaginário da Modernidade ocidental, que viria a ser o pano de fundo sobre o qual seriam construídas uma das primeiras teorias – ou mais propriamente estudos – em comunicação. A história dos estudos em comunicação demonstra como, a partir da concepção dessa imensa e indistinta sociedade de massa, os primeiros estudos consideravam a sociedade como sendo um grande bloco monolítico e homogêneo de indivíduos dispersos e atomizados, hipoteticamente sem vínculos sociais, principalmente sem vínculos afetivos. Não foi por acaso que, entranhado nessa imagem da sociedade moderna, legado primordial das ciências sociais, a trajetória das pesquisas em comunicação de massa tenha sido marcada historicamente pelo trânsito de uma perspectiva de análise macro que foi se direcionando a uma percepção micro do tecido social. A evidencia deste redirecionamento no foco de observação pode ser percebida, ainda que não de forma muito clara, já na fase dos próprios estudos dos efeitos a curto prazo da pesquisa em comunicação de massa, conforme evidenciam estas abordagens teóricas que contribuíram para constituir o campo científico dos estudos comunicacionais. Num primeiro momento, segundo a cronologia organizada por historiadores dos estudos em comunicação, a primeira elaboração teórica neste campo inicia-se num modelo de estudos psicossocial, de abordagem comportamentalista. A hipótese com que se trabalhava era a de indivíduos isolados simbolicamente na grandetessitura da sociedade de massa, de modo que haveria supostamente a recepção homogênea de uma mesma mensagem midiática por diferentes indivíduos (a “clássica” Teoria da Agulha Hipodérmica). O pano de fundo que se pode desenhar para a emergência desta primeira – e hoje considerada obsoleta – “teoria” da comunicação é uma ambiência permeada pelo discurso científico que supõe, em sua lógica discursiva interna, um pensamento cientificamente interdisciplinar fortemente baseado em explicar relações de causa e efeito no campo das ciências sociais e humanas aplicadas aos estudos dos fenômenos midiáticos. Em outras palavras, tratava-se da formulação de um pensamento comunicacional baseado no discurso da eficácia, que foi uma das grandes promessas da racionalidade moderna. II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 4 Num segundo momento, o desenvolvimento das teorias da Comunicação, com base metodológica em estudos empíricos, passou a considerar o que veio a ser percebido como “variáveis” sociais que interferiam no percurso e, conseqüentemente, na percepção das mensagens dos meios de comunicação de massa. Uma evidência deste movimento teórico: os indivíduos, de acordo com as variáveis sociais, não recebem a mesma mensagem da mesma maneira, ou seja, eles atribuem diferentes significados segundo a constituição subjetiva de cada um ao longo de sua experiência de vida (Teoria das Diferenças Individuais). Outra evidência: apesar da afirmação anterior, percebeu-se em estudos subseqüentes que o fato de os indivíduos pertencerem a um mesmo grupo social interfere também na padronização da percepção da mensagem (Teoria da Diferenciação Social). A partir deste momento, considerando que a pesquisa de abordagem comportamental se desenvolveu com base em possíveis aplicações em estratégias políticas e mercadológicas, convém perceber nessas nuances teóricas o anúncio de uma passagem simultânea do esboço dos estudos da comunicação de massa ao que posteriormente seria nomeado e classificado como estudos de comunicação segmentada, tendência que viria posteriormente a nortear práticas midiáticas e estudos em comunicação no que ambos se relacionam diretamente com os processos de fragmentação social contemporânea. Da grande sociedade da suposta indistinção entre os indivíduos, as pesquisas passaram a prestar atenção e a anotar a busca das singularidades sociais que ganham a condição de serem um fator condicionante dos processos de produção de sentido. A busca de um denominador comum na produção de sentido só poderia ser alcançada reduzindo a complexidade do social massivo aos processos de identificação em nível comunitário. Em especial, trata-se de enfatizar que a produção de sentido tem relações estreitas com o “em comum” através do qual vinculam-se consciências que trocam informações e que vai designar o que seria próprio do fenômeno comunicacional e dos estudos sobre tais fenômenos comunicacionais. Com base nestes dados históricos, sugerimos continuar trabalhando nossa hipótese: a de que a trajetória das análises do massivo ao segmentado, ou do macrossocial ao microssocial, evidencia a configuração, organização e sistematização de dados teóricos e empíricos que viriam a ser posteriormente reelaborados como base de técnicas de comunicação, em especial as técnicas de “comunicação dirigida” que fornecem bases teóricas a profissões da comunicação social como relações públicas, propaganda, marketing e jornalismo especializado. A comunicação dirigida, como técnica e pensamento comunicacional, reflete a fragmentação das demandas por subjetividade e cidadania de II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 5 públicos específicos que formam grupos de identificação e segmentos de consumo em meio à grande massa populacional. Nos estudos em comunicação, que pelo menos no Brasil, hoje, são enquadrados na árvore do conhecimento como ciências sociais aplicadas, os dados empíricos, tornando-se, eles próprios, motores do movimento teórico, passam a configurar o então nascente campo de estudos como um dispositivo que recolhe, interpreta e organiza dados da realidade, fornecendo simultaneamente subsídios para que a realidade seja alterada nos e pelos processos comunicacionais. Uma evidência de como os dados recolhidos pela pesquisa empírica foram metodicamente transformados em técnicas de comunicação é o fato de que as tais “variáveis sociais” já na fase do estudos de efeitos a curto prazo, desenhando-se entre outras coisas como dados sugestivos para interpretação sociológica, ganharam a condição de serem senhas para se ter acesso e entender as demandas sociais em sua mais ampla complexidade. Vale dizer que as variáveis sociais, na medida em que eram “decodificadas” nos estudos sociológicos, principalmente nos estudos empíricos, tornavam-se o “caminho das pedras” para a compreensão do funcionamento da sociedade numa perspectiva da comunicação como ciência do comportamento. Esta condição de senha, na medida em que os estudos se alimentavam tanto de apontamentos teóricos quanto de dados empíricos, era o indício de que as problematizações subseqüentes já estavam empurrando as pesquisas em comunicação dos estudos de mídia (primazia da tecnologia) e de mensagens (primazia da linguagem) para o que depois veio a ser denominado como estudos de recepção (a complexidade do processo e das mediações socioeconômicas, políticas e culturais na produção de sentido). Mas, por ora, convém deter as atenções nesta trajetória que, a partir da percepção das variáveis intervenientes, compreendidas como senhas num jogo de adivinhação, direcionou os estudos em comunicação a uma busca incessante na decifração da máquina social em seus modos de funcionamento. A sociedade, ao modo de uma esfinge, emitia dados para poder ser compreendida pelo instrumental sociológico num paradigma típico de ciência positivista. Nesse jogo interpretativo, os estudos em Comunicação foram sistematicamente atraídos para o que a sociedade apresentava como enigma, que consiste na produção intensiva e proliferação dos mais variados códigos – morais, estéticos etc. – que marcam a singularidade de grupos sociais e suas mais variadas demandas: econômicas, políticas, sociais, culturais. Quanto mais demandas, mais complexa, fragmentada e desarmônica se evidencia a sociedade moderna. II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 6 O percurso da pesquisa em comunicação de massa, desde seus primórdios na primeira metade do século XX, já vinha sugerindo uma configuração das práticas comunicacionais, em especial das mídias massivas, como sendo um campo socioeconômico bastante subjetivado, ou mais propriamente arrastado, por esta condição hegemônica do capitalismo em escala global, em que a estrutura social, mais do que marcada pela tensão das sociedades de classe, passam a ser pensadas como sendo constituídas também pelas movimentações e constantes transformações dos mais diversos grupos sociais. A proliferação de distintos modos de representação social, dando-se de modo paralelo ou intersticial à estrutura de classes na perspectiva da tradição marxista, relaciona-se diretamente, nos dias de hoje, com a já conhecida fabricação da realidade operada pela mídia, notadamente pela mídia de escala massiva ou industrial, de característica transnacional desde o início do século XX, mas atravessada também pela proliferação de mídias especializadas e dirigidas a públicos específicos que insistem em sair da condiçãode um consumo massivo ao modo de um produto ou mensagem para todos e qualquer um. É neste entremeio da complexidade social, em que a concepção da estrutura de classes vem resistindo a esta percepção fragmentada da sociedade na passagem do século XX ao século XXI, que os estudos em comunicação acabam também por fomentar, em boa medida, uma concepção de mundo caracterizadamente pós-moderno em sua fragmentação, que passa a tornar-se cada vez mais presente nos estudos que tentam decifrar suas demandas contemporâneas. As evidências históricas mostram que os estudos em Comunicação, ao perceberem e enfatizarem o atravessamento das singularidades dos grupos por entre a condição massiva da vida social, contribuíram para evidenciar e moldar a sociedade em múltiplos fragmentos sociais na medida em que tais estudos buscaram, ancorados na racionalidade do discurso científico, desvendar os modos mais secretos de funcionamento da sociedade, lançando mão de variados métodos de pesquisa e interpretação das demandas sociais. Certamente que esta busca metódica de decifrar o funcionamento simbólico da estrutura social acabou por colocar os pesquisadores da área de comunicação não apenas diante, mas propriamente no interior, de uma máquina, a própria sociedade com seus códigos e modos de funcionamento. As perspectivas teóricas da pesquisa em comunicação de massa acabaram sendo modeladas por uma orientação teórica que lhe era anterior e mais ampla, a própria teoria estrutural-funcionalista das Ciências Sociais. Não é demais também lembrar que, pensada de forma sistêmica, esta circunscrição dos estudos em Comunicação, na interface com as Ciências Sociais, deve ser evidenciada epistemologicamente nas condições II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 7 de produção científica oferecidas pelo modo de produção capitalista no bojo da própria Modernidade. Em outras palavras, a produção científica, em tais condições históricas, tenderam a ser altamente modeladas segundo as demandas de um sistema político-econômico cujas relações com a produção de saber tem sido o de transformá-lo em algo muito próximo de um saber- fazer. Ou seja, a instrumentalização do saber, em suas fortes relações com a racionalidade técnica, ganha a característica de um conhecimento aplicado. Imersa nas grandes políticas de Estado, a política específica no campo da pesquisa científica tende a ser provida não apenas de valor de uso, tendo a ciência como um dado universal e de caráter público. Antes, a produção de saber tende a estar atrelada a um certo valor de troca, de tal forma que, na condição de conhecimento aplicado, o que se verifica é a grande política de Estado, em suas circunscrições junto às demandas mais imediatas e às pressões do mercado, passando a privilegiar estrategicamente a produção tecnológica, que é o outro nome possível para “ciência aplicada”. Políticas de Estado e lógica do capital, ao transformarem conhecimento em técnica, levam o conhecimento a uma condição de segredo, distanciando a produção de saber da condição universal da ciência em seu caráter idealizadamente público. No caso dos estudos em Comunicação, mais especificamente quando se trata da pesquisa em comunicação de massa, parte de seu caráter público de ciência é que historicamente permitiu que os resultados de pesquisa pudessem ser divulgados para além dos ambientes e centros de pesquisa, estivessem eles instalados em âmbito empresarial ou universitário. Pode-se conceber que, no jogo entre o público e o privado, a pesquisa em Comunicação, tal qual pensada e produzida no âmbito da sociologia pragmática, difundiu-se e tornou-se hegemônica em boa parte do mundo ocidental, a ponto de configurar um paradigma, na medida em que tornou acessível e difundiu os resultados e métodos de investigação criados desde meados da Primeira Grande Guerra Mundial. Foi através de metodologia científica – em que hipóteses são formuladas, testadas, aceitas ou refutadas – que os estudos em Comunicação foram sofrendo contínuas alterações de rota. O que convém ressaltar especificamente ao longo desse processo histórico é que, na busca de decifrar o funcionamento do tecido social nos processos de troca de informações, as tramas do social acabaram induzindo as pesquisas em Comunicação a um impasse: não eram simplesmente os agentes das práticas comunicacionais que precisavam entender a comunicação como fenômeno social. Era a Comunicação, como campo do saber em processo II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 8 de institucionalização, que precisava compreender os distintos modos como ela própria produzia os – e era simultaneamente produzida nos – interstícios do sistema social. O que convém enfatizar é que este trajeto de investigação só pôde ser realizado porque as então nascentes pesquisas em Comunicação ainda se encontravam sob orientação dos chamados “estudos dos efeitos”. Em outras palavras, os estudos dos efeitos, àquela altura da história configurava-se como um modelo hegemônico nos estudos em Comunicação, persistia junto com outra busca: uma certa noção de eficácia que os imaginados efeitos poderiam atribuir à velha, mas ainda hoje insistente no senso comum, noção de comunicação como transporte linear de informação, com produção mecânica e intencional de sentido, tendo como conseqüência a suposta previsibilidade e controle das reações do público-alvo às informações. Campo da comunicação e a invenção das singularidades contemporâneas O percurso dos estudos no trânsito de análises macrossociais às microssociais, conforme buscamos analisar na passagem dos estudos de comunicação de massa para a comunicação segmentada ou dirigida, põe em forte relação os estudos em Comunicação e a formação do mundo contemporâneo. Este trânsito teórico de uma análise macrossocial ao microssocial relaciona-se de forma insistente com a busca da eficácia dos efeitos nas práticas comunicacionais, na medida em que se recorta a sociedade de massa em sua complexidade para torná-la mais inteligível e, portanto, controlável, tendo como subsídio, nas práticas profissionais, as chamadas técnicas de comunicação segmentada ou dirigida. A produção destas técnicas sugere a existência prévia de mediações – demandas, pressões etc. – sociais produzindo e subjetivando o planejamento de mídia, a discusividade da linguagem, a produção de sentido. Num primeiro momento, como já se afirmou, as primeiras incursões da communication research trabalhavam com a hipótese de haver uma certa homogeneidade entre indivíduos na sociedade de massa. Tal aspecto da homogeneidade social era compreendido como facilitador das estratégias midiáticas, na medida em que sugeria a produção massiva eficiente de apenas “uma mensagem para todos e qualquer um”. No segundo tempo dos procedimentos metodológicos, a complexidade do massivo só poderia ser reduzida fazendo-se a permuta do todo pelas partes. O que se viu, com o avanço das pesquisas teóricas e empíricas, foi o anúncio de uma tendência que resultou no retorno dos estudos em Comunicação voltados para a dimensão micro das comunidades e dos grupos sociais. Era a evidência de que as pesquisas em II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 9 comunicação começavam a transitar, portanto, da perspectiva da sociedade de massa para serem pensadas nas mediações hipoteticamente mais simplificadas das comunidades de públicos e dos grupos identitários. Trata-se de uma caracterização que fica mais evidente nasespecificidades de estudos em subáreas como relações públicas, jornalismo especializado, marketing e propaganda – marcadas historicamente pela busca de uma equação eficiente entre produção de mídia, produção de linguagem, produção de sentido e efeitos desejados. Na constituição do que se chama de mundo contemporâneo, o apontamento sobre a relação entre comunicação e capitalismo passa precisamente pela reinvenção das singularidades ou identidades culturais que o próprio processo civilizador havia devorado em nome das identidades nacionais como grandes narrativas constituídas ao longo do século XX. O novo problema que surge, a esta altura da formação das Ciências da Comunicação, é analisar as nuances em que as práticas comunicacionais determinam esta condição contemporânea ou em que medida a fragmentação social contemporânea passa a direcionar os estudos em Comunicação. A relação entre as dimensões macro e micro da sociedade moderna certamente foi marcada por momentos tensos, evidenciados tanto na tradição sociológica quanto na jovem tradição dos estudos em comunicação. Na sociologia, principalmente em sua concepção positivista, prestou-se atenção em uma questão que, não sendo exatamente nova, tem se evidenciado quando se trata das transformações sociais: como introduzir ordem no movimento? Como conseqüência, considerando os modos como o positivismo marcou inicialmente a aplicação dos estudos sociológicos no campo da comunicação, a questão, que evidentemente gerou intensos debates sobre ideologia, também se desdobrava, mas posteriormente em outras perspectivas: como introduzir o controle no que está sempre em movimento e em constante processo de diferenciação? A tensão entre unidade e diversidade do tecido social constituiu uma das bases do moderno estudo em comunicação, mais especificamente no modelo teórico da comunicação como ciência do comportamento, que se traduziu em busca de controle das grandes massas tendo, nas práticas midiáticas, a idéia de interferência na formação da opinião pública e de públicos em campos diversos como consumo e política. A idéia de controle, no entanto, não consistiu numa busca obsessiva sobre o conjunto massivo de modo a continuar sustentando a idéia de um tecido social homogêneo, estável, funcionalmente sincrônico, a fim de se alcançar uma situação harmônica. Inseridos no modo de produção capitalista, em sua condição flexível e mutante, os estudos em sociologia aplicada aos fenômenos da comunicação, que se considerou posteriormente como os II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 10 primórdios dos “estudos em comunicação”, desde o início também se flexibilizaram, não entrando em atrito dialeticamente ou de forma crítica com as demandas do social, mas, ao contrário, passando a produzir subjetivamente tais demandas no campo do desejo, de forma rizomática, subterrânea e flexível na formação de identidades culturais e de segmentos de consumo. Nas Ciências Sociais, a sociedade de massa não necessariamente se configurava como sendo um bloco homogêneo de indivíduos. O que se sugeria, pelo menos na concepção de Gabriel Tarde (1992), era uma composição heterogênea que considerava a existência, na massa, de distintas formações socioculturais que ele denominou de “públicos”. Portanto, convém explicitar o que, a nosso ver, sempre foi causa de um certo mal-estar teórico: o fato de que a concepção de sociedade de massa como sendo uniforme e supostamente estável tendeu a ser um princípio de racionalização metodológica, mais precisamente uma hipótese dos primeiros estudos em comunicação, uma modelagem conceitual “aplicada” das Ciências Sociais aos então nascentes estudos em comunicação que buscaram reinventar a massa como público-alvo de distintas estratégias políticas e mercadológicas. Equivocada, esta hipótese, construída numa prática nem tão bem-sucedida assim de um princípio de interdisciplinaridade, acabou por constituir um conceito difundido de massa como totalidade social homogênea no campo da comunicação. Portanto, foi no processo de aplicação das ferramentas teóricas das ciências sociais ao emergente campo de estudos da comunicação que passou-se a conceber historicamente, para fins de produção de sentido único em amplas faixas populacionais, a sociedade de massa como uma suposta totalidade, e daí para uma imagem de totalidade homogênea. Em outras palavras, o que se precisa discernir é que, nos estudos em comunicação, a sociedade massiva se apresentou mais como uma ficção a ser construída, na perspectiva e nas necessidades primordiais da pesquisa pragmática e do mercado das práticas midiáticas, do que um fenômeno da realidade social a ser observado e narrado de forma sistemática e objetiva. Certamente que nos primórdios da pesquisa em comunicação de massa as singularidades culturais já eram elementos constituintes do mundo moderno. O detalhe é que o próprio discurso da Modernidade passou ao modo de um grande rolo compressor, pretensamente homogeneizador, sobre todas as formas de diferença sociocultural na constituição de amplos mercados para consumo massivo de produtos – incluindo produtos midiáticos. Trata-se de rever a relação estreita entre a invenção da comunicação de massa impressa e eletrônica na passagem do século XIX para o século XX – jornais, cinema, rádio e II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 11 TV – com os antigos difusionismos culturais de outras épocas já observados em estudos da tradição antropológica. Mas é preciso considerar: as singularidades culturais vieram resistindo mesmo em momentos da história em que a Modernidade inventava entre outras ficções, no jogo político internacional das grandes narrativas políticas, as nações enquanto “comunidades imaginadas” (ANDERSON, 2008) ou a própria sociedade de massa como categoria social relevante nos estudos sociológicos. Do ponto de vista dos estudos em Comunicação, interessa anotar que, pelo menos depois da invenção do cinema, do jornalismo, da propaganda e demais produtos, tecnologias e modelos midiáticos é que as singularidades passaram a ser reinventadas no bojo do desenvolvimento não só dos estudos, mas também das próprias práticas comunicacionais. Em outras palavras, fazer proliferar as singularidades, reconhecer ou reinventar suas existências na virtualidade da mídia impressa ou eletrônica, equivale, em outros termos, à constante transformação das grandes massas indiferenciadas em comunidades fragmentadas, que, hipoteticamente, representam práticas de cidadania e de subjetividade no plano do consumo de bens materiais e simbólicos. Se a perspectiva social de estrutura de classes, uma das principais propostas filosóficas e políticas emergentes na Modernidade, torna-se obnubilada a esta altura da história é porque pelo menos nos países que majoritariamente explicitam nos dias de hoje as doutrinas do capitalismo, em busca de manter sua hegemonia política e econômica num mundo cada vez mais ocidentalizado, o campo econômico da produção de bens tende a não se separar da produção simbólica, tendo como base primordial em suas estratégias políticas o uso dos meios massivos de comunicação para circulação de seus produtos culturais, e, em conseqüência, a difusão de seus valores e seu modo de vida. Este aspecto que põe em relação diferentes campos – economia, política e cultura – evidenciou a emergência do que o filósofo alemão Theodor Adorno, com olhar estrangeiro na “América”, passou a denominar de “indústria cultural”, no século XX já mais desenvolvida nos EUA que em outros cantos do planeta.A nosso ver, os estudos em Comunicação vieram tratando indistintamente os produtos da indústria cultural, enquadrando-os numa noção maior de comunicação “de massa”. Porém, desde seus primórdios, o fenômeno da comunicação massiva já vinha se configurando – apesar desta denominação – mais propriamente ao modo de comunicações segmentadas, tendo como foco de diagnóstico os processos de diferenciação social evidenciados já nos primeiros ensaios da pesquisa sociológica sobre fenômenos da comunicação. Desde que emergiu na primeira metade e se consolidou na segunda metade do século XX, a produção, circulação e consumo de gêneros midiáticos só pôde ser compreendida em uma condição massiva por conta de sua realização em escalas até então II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 12 nunca vistas ao longo da história: para além do artesanal e para além do espaço local onde são produzidos, na configuração de mercados nacionais tendo já como horizonte as virtualidades do mercado global. As práticas comunicacionais segmentadas vão se relacionar em diferentes níveis com a notada fragmentação contemporânea do tecido social em seus nichos de mercado, e se desenvolvem tendo como ancoragem mercadológica a já referida diferenciação social anteriormente observada em pesquisas empíricas na tradição da pesquisa em comunicação de massa. O foco ao qual procuramos nos deter é mais na forma como os diferentes campos – o das práticas comunicacionais e o dos estudos comunicacionais – parecem trocar, no caso desta tradição de pesquisa, interferências mútuas e, também, como tais práticas e estudos passam a conformar e reforçar, na transição dos estudos massivos aos estudos segmentados, uma notória passagem das grandes narrativas sociais para as micronarrativas sociais. Pelo menos até onde a história dos estudos da Comunicação e a história da mídia nos mostram, esta relação pareceu sempre constante, ainda que não necessariamente de forma explícita. Ao se relacionar o campo da comunicação, compreendido de forma ampla, com os campos da economia e da política, percebe-se também os modos como a construção do tecido social é constantemente reinventada na – e através da – circulação, cada vez mais incessante, de mercadorias, de pessoas e, principalmente, de informação nos dias de hoje, no que chamam de “cultura de consumo” (FEATHERSTONE, 1995) ou “sociedade de consumo” (BAUDRILARD, 2003). Nessas reinvenções do social, em que se transforma a massa indiscernível da população em segmentos de públicos ou de mercado identificáveis através de ferramentas de diagnóstico, como pesquisas de opinião e de mercado, produzem-se muitas das novas identidades culturais que proliferam na contemporaneidade na condição de segmentos de consumo. Observa-se na produção de novas subjetividades a passagem do tecido à tessitura do social, ou seja, do imaginário como o “já dado” à imaginação criadora não apenas das indústrias culturais ou indústria do entretenimento, mas das multidões como produtoras de novas formas de mediações socioculturais. É esta fragmentação social que a perspectiva marxista, pelo menos no campo dos estudos da comunicação e da cultura, tende a apontar como questão crítica nesta dita condição pós-moderna, principalmente pela emergência de novas formas de subjetividades segmentadas – ainda que coletivas – em detrimento de uma idéia mais ampla de emancipação classista. Segundo Fredric Jameson (2006: 70), a singularidade do mundo pós-moderno, como pura heteronomia, refere-se ao surgimento de todos os tipos de subsistemas randômicos não II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 13 relacionados uns com os outros. Neste caso, diz o crítico marxista, deve haver algo de perverso no esforço de se compreender esse mundo, sobretudo como sistema unificado, uma vez que a lógica do capital, necessariamente dispersiva e atomista, constitui mais propriamente uma “anti-sociedade”. Para o campo da comunicação, na medida em que a busca do tal sentido em comum continua sendo um aspecto relevante, em especial nas práticas profissionais marcadas pela avaliação de resultados econômicos, convém perceber que essa pura heteronomia de que fala Jameson sobre a condição pós-moderna sugere distintas descrições, caracterizações e designações do mundo globalizado: culturas híbridas (GARCIA CANCLINI, 1998), sociedade de consumo (BAUDRILLARD, 2003), sociedade em rede (CASTELLS, 2002), modernidade líquida (BAUMAN, 2001), segunda modernidade (BECK, 2002), pós-modernidade (LYOTARD, 1998). O que caracteriza o mundo de hoje, segundo Daniel Innerarity (in CASTRO & DRAVET, 2004: 61), é o paradoxo de que a crescente globalização se acompanha de novas diferenciações socioculturais: o cosmopolitismo e a particularidade não são opostos, mas se complementam e se fortalecem mutuamente. Ao contrário do liberalismo, que tinha a soberania nacional como parâmetro, o neoliberalismo passa por cima das fronteiras nacionais, deslocando as possibilidades de soberania para as organizações, corporações e outras entidades de âmbito global (IANNI, 101). É no bojo desse processo de globalização que as distintas práticas midiáticas tornam-se indutoras da constituição de um sem-número de possibilidades de produção de linguagem e, como conseqüência, da conseqüente formação de um sem-número de segmentos de públicos diferenciados, em especial quando esta formação se relaciona diretamente com práticas sociais de consumo. Em outras palavras, Niklas Luhmann (1997) considera o fato de a modernidade ser marcada por formas de contingência em que a antecipação do futuro no presente implica em correr riscos, segundo decisões a serem tomadas a partir de negociações feitas pelos distintos atores sociais. Essa contingência, como se sabe, é marcada pela aleatoriedade dos acontecimentos sociais que interferem na idéia de produção de uma grande “one voice” codificável, transparente e interpretável em um único sentido por grandes extensões das massas populacionais. Entre tantas contingências, portanto, o que se vê é proliferação das indústrias culturais e das práticas midiáticas segmentadas transitando simultaneamente como representação desse mundo contingente e outras vezes como ferramenta – da economia, da política e da cultura – onde tais contingências fragmentadas são produzidas. A globalização da economia relaciona-se diretamente com a produção de mercados em escalas simultaneamente nacionais, regionais ou locais (ORTIZ, 2003). Nessa gradação, as II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 14 singularidades em constante proliferação invariavelmente superam em produção de sentido o genérico globalizante. Portanto, tirar vantagem mercadológica em escala global significa exatamente explorar os processos de segmentação demandados de forma incessante pelos setores sociais que insistem politicamente na produção não da identidade como estrutura estável, mas da diferença relacionada às culturas locais. Se homogeneização e segmentação não são duas categorias incompatíveis (PORTER in ORTIZ: 2003: 171), percebe-se os modos como a comunicação produzida em larga escala, e que recebeu o nome de comunicação de massa, tem demonstrado sua capacidade de se flexibilizar e se transformar até ganhar a denominação de comunicação dirigida, segmentada ou em rede. Uma vez que sempre considerou as multiplicidades de públicos e a produção de sentido como elementos caóticos e reorientadores de suas estratégias políticas e mercadológicas é que a velhacomunicação de massa se impôs – e ainda se impõe – como um dos projetos mais ambiciosos, e certamente dotado da idéia de eficácia, no mundo moderno. Conclusão Este artigo, ao fazer um recorte na história dos estudos em comunicação, buscou anotar primeiramente a capacidade de auto-reflexividade da sociologia pragmática na análise das transformações sociais ao longo do século XX. Os empirismos possíveis propiciados pelo mundo ordinário e pelos mais banais dados da vida cotidiana, evidenciaram, nessa abordagem dos estudos em Comunicação, uma realidade em constante e perturbadora transformação ao longo do século XX, o que inclui necessariamente mutações constantes nas tecnologias midiáticas e, como conseqüência, nas práticas comunicacionais. O que os estudos históricos no campo da comunicação evidenciam é uma forte relação entre desenvolvimento tecnológico e práticas midiáticas. O moderno pensamento comunicacional modelado a partir dos estudos sociológicos tem sido, desde sua origem, direcionado a uma abordagem técnica, prática e instrumental. Essa abordagem sugere que a técnica comunicacional, como ciência social aplicada, inventa e ficciona identidades e públicos consumidores – entre massificados e segmentados. A fragmentação social que hoje designa uma condição socioeconômica e cultural do mundo contemporâneo reflete, entre outras aplicações do moderno conhecimento científico, a operacionalização destas técnicas na produção da subjetividade de indivíduos, grupos sociais e classes sociais. Assim, o desenvolvimento dos estudos em comunicação, em especial na abordagem da comunicação como ciência do comportamento, apontou para uma trajetória marcada pela necessidade constante de acompanhar o desenvolvimento científico e tecnológico das mídias e II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 15 as relações forjadas no campo social provenientes deste desenvolvimento. A evidência é a de que distintas demandas sociais e distintos processos de produção de valor são acompanhados de distintos modelos e discursos midiáticos. Numa percepção sistêmica, os processos comunicacionais, invariavelmente moduláveis em cada condição histórica, só puderam vigorar como produtores de sentido acompanhando este movimento incessante de invenção dos significados sociais. Aconteceu, ao longo do século XX, que a comunicação de massa, como invenção e uma das grandes ficções da vida moderna, buscou se adaptar a este movimento incessante das transformações e diferenciações sociais detectadas já nos primórdios dos estudos sociológicos tidos como iniciadores dos estudos em comunicação. No trânsito do moderno ao contemporâneo, o que se vê, na relação estreita entre comunicação e sociedade, é a passagem da comunicação de massa às comunicações segmentadas e à comunicação em rede como condição de produção de sentido, na medida em que o apelo da linguagem torna-se intimamente ligado ao princípio de mercado. Fica sugerido, nesta passagem, o processo de fragmentação social que induz os estudos em comunicação a terem como desafio a melhor compreensão do mundo que se apresenta em constante processo de fragmentação e com o nome singular genérico de “contemporâneo”. Bibliografia ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas – Reflexões sobre a origem e a difusão dos nacionalismos. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. Trad. Denise Bottman. APPADURAI, Arjun. Modernity at large – Cultural dimensions of globalizations. Mineapolis: University of Minnesota Press, 2005. II COLÓQUIO BINACIONAL BRASIL-MÉXICO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO 01 a 03 de abril de 2009 – São Paulo – Brasil 16 BAUDRILLARD, Jean. À sombra das maiorias silenciosas – O fim do social e o surgimento das massas. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. Trad. Suely Bastos. ___________. La société de consommation: Ses mythes, ses structures. Paris: Denoël, 2003. BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001. 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