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CONCEITOS - Crise epiléptica: é uma atividade elétrica anormal excessiva e transitória das células nervosas, a qual gera sinais e sintomas específicos (como abalos musculares). Quando ocorre disfunção temporária de um conjunto de neurônios de parte do encéfalo (crises focais) ou de área mais extensa, envolvendo os dois hemisférios cerebrais (crises generalizadas). É um sintoma comum de doenças neurológicas agudas (tais como meningoencefalite, trauma cranioencefálico, doenças cerebrovasculares) ou doenças clínicas (tais como anoxia, estado hipoglicêmico, insuficiência renal e hepática) - Crise provocada: crise decorrente de uma causa imediata identificada, como distúrbio metabólico, intoxicação aguda, abstinência de drogas sedativas ou insulto neurológico agudo. Deve existir uma relação temporal entre o desencadeante e a crise, geralmente, nos últimos 7 dias. Entre 1 e 10% da população terá uma crise provocada na sua vida - Crise não provocada: quando não há uma causa conhecida para a crise, após investigação clínica, laboratorial e de imagem - Epilepsia: Doença cerebral crônica causada por diversas etiologias e caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas. É o distúrbio do cérebro mais comum em todo o mundo. Segundo o último consenso da ILAE (International League Against Epilepsy), a epilepsia é definida como desordem cerebral caracterizada por uma predisposição persistente, que leva ao aparecimento de crises epilépticas e a suas consequências neurobiológicas, cognitivas e psicossociais. A definição requer a ocorrência de duas ou mais crises epilépticas espontâneas. - Síndrome epiléptica: Conjunto de características incluindo tipos de crises, EEG e características de imagem, que tendem a ocorrer juntas CLASSIFICAÇÃO A classificação das crises e das epilepsias deve ser sempre realizada considerando que ambas podem ter implicações na conduta e no prognóstico. Crises parciais ou focais são aquelas nas quais, as descargas anormais ocorrem em áreas circunscritas do córtex cerebral, levando a manifestações devido à disfunção da área acometida. Crises focais podem propagar- se levando ao acometimento de outras áreas do córtex cerebral. Essa propagação pode levar ao acometimento de grande parte ou da totalidade do córtex (crise secundariamente generalizada). Para a classificação das crises epilépticas, consciência é entendida como a capacidade de responsividade e percepção consciente. Quando esta encontra-se alterada, diz que há comprometimento da consciência. O que distingue a crise parcial simples da complexa é o comprometimento da consciência na última. Na crise parcial complexa admite-se, geralmente, o envolvimento hemisférico bilateral, principalmente das estruturas mesiais temporais durante o período de alteração da consciência. As crises primariamente generalizadas caracterizam-se por alteração eletroencefalográfica acometendo desde o início amplas áreas corticais, e, possivelmente, subcorticais. Nas crises de ausência típicas, ocorrem descargas em espícula-onda a 3 Hz (Figura 1), e o paciente apresenta parada súbita e transitória da atividade com duração de poucos segundos, podendo ocorrer automatismos orais e manuais, piscamento, alterações do tônus e sinais autonômicos, principalmente em episódios mais prolongados. A hiperventilação por 3 a 5 minutos na maioria dos pacientes desencadeia o evento. As ausências atípicas apresentam início e termino menos abrupto, menor comprometimento da consciência e, com frequência, alteração do tônus muscular. O EEG mostra complexos irregulares de espícula- onda a 1,5 a 2,5 Hz. Nas crises mioclônicas, ocorrem contrações musculares súbitas e breves, descritas como choques, com correlação no EEG (poliespícula-onda ou multiespícula de projeção generalizada, por vezes predominando nas regiões anteriores), geralmente ao despertar, adormecer e após privação de sono, que podem ser desencadeadas por fotoestimulação intermitente. As crises tônicas são caracterizadas por contração muscular mantida de todo o corpo ou segmento corporal; geralmente afetam a musculatura axial e duram segundos a minutos Crises atônicas ocorre a perda do tônus postural com queda lenta se o indivíduo estiver de pé. Nas crises tônico-clônico generalizadas (TCG) ocorre perda súbita de consciência, seguida de uma fase inicial tônica, em que o paciente pode apresentar “grito epiléptico” devido à saída forçada de ar pela contração do diafragma. Evolui com movimentos clônicos dos quatro membros, apnéia, sialorréia e pode apresentar mordedura da língua e liberação esfincteriana. Ao final da crise, ocorre relaxamento muscular, rebaixamento do nível de consciência ou confusão mental, respiração ruidosa e ocasionalmente liberação de esfíncteres. O EEG mostra na fase tônica uma atividade epileptiforme generalizada e rítmica a 10 Hz, bilateral, síncrona e simétrica, evoluindo com padrão de poliespícula-onda lenta na fase clônica. https://www.youtube.com/watch?v=Zbg-2glhZPU A classificação das epilepsias é baseada nas semelhanças em relação ao tipo de crise, idade de início, sinais clínicos ou neurológicos associados, história familiar, achados eletroencefalográficos e prognóstico. A maioria das síndromes epilépticas, entretanto, não tem necessariamente causas comuns. Para o conhecimento dessa classificação é importante a familiarização com os termos idiopático, sintomático e criptogênico. Idiopáticas são as epilepsias transmitidas geneticamente, com maior expressão em determinadas faixas etárias. Sintomáticas são as epilepsias cujas etiologias são identificadas. Criptogênicas são as epilepsias de presumível base orgânica, sem que se esclareça a etiologia As síndromes epilépticas “idiopáticas” caracterizam-se por uma hiperexcitabilidade cortical possivelmente secundária a alterações na função de canais iônicos (canalopatias), muitas vezes de caráter familiar. São síndromes idade-específicas, acometem pacientes sem outras alterações neurológicas (indivíduos normais), apresentam crises e EEG típicos e curso geralmente benigno, entrando em remissão espontânea na maioria dos casos. As epilepsias sintomáticas são causadas por lesões corticais adquiridas em qualquer momento da vida, como a esclerose de hipocampo, afecções congênitas ou malformativas, doenças infecciosas e parasitárias do sistema nervoso central (SNC), lesões vasculares (Figura 2), traumáticas, degenerativas ou neoplásicas. A crise epiléptica pode ser, algumas vezes, a primeira manifestação clínica de uma lesão cerebral antiga, muitas vezes assintomática até o momento. As síndromes epilépticas criptogênicas, também chamadas de possivelmente sintomáticas, são aquelas em que se acredita existir lesão estrutural, porém esta não pode ser demonstrada pelos métodos atuais de neuroimagem. Algumas características sugerem epilepsias focais: antecedente etiológico claro, aura (ou crise parcial simples), atividade focal motora durante a crise e ocorrência de automatismos. Epilepsia de lobo temporal (ELT) é o tipo mais frequente de epilepsia em adultos e um dos mais comumente refratários à medicação. Aproximadamente metade dos pacientes epilépticos adultos tem ELT, e o controle completo das crises com tratamento clínico ocorre em menos de 50% desses pacientes Epilepsia de lobo frontal é caracterizada, clinicamente, por crises frequentes, com manifestação motora exuberante, com automatismos complexos, como movimentos de pedalagem, perda breve da consciência com período confusional curto ou inexistente e predomínio ou existência de crises noturnas. Epilepsia de lobo parietal se manifesta com sintomas sensitivos contralaterais e tipicamente com dor, ainda que essa manifestação seja rara. A ocorrência de sintomas visuais no início da crise aponta para a localização em lobo occipital. Encefalopatias epilépticas ocorrem geralmente em crianças, são caracterizadaspor crises refratárias ao tratamento medicamentoso associadas à involução do desenvolvimento neuropsicomotor. Iniciam-se habitualmente até os 5 anos de idade, levando a comprometimento cognitivo. Os principais exemplos são a síndrome de West e a síndrome de Lennox-Gastaut. Bibliografia: Tratado de Clínica Médica
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