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8 Filosofias e politicas educacionais

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EDUCACIONAIS 
 
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FILOSOFIA E 
POLÍTICAS 
EDUCACIONAIS 
 
 
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SUMÁRIO 
EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO DA FILOSOFIA ...................................................................................................3 
A ORIGEM DA FILOSOFIA ....................................................................................................................................6 
O LEGADO DA FILOSOFIA GREGA PARA O OCIDENTE EUROPEU .........................................................................8 
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA .........................................................................................................................11 
CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA .......................................................................13 
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA NASCENTE .................................................................................15 
QUAL SERIA, ENTÃO, A UTILIDADE DA FILOSOFIA?...........................................................................................18 
POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS: CONCEITOS E PRINCÍPIOS .....................................................................18 
MAS, COMO IDENTIFICAR O SURGIMENTO DE UMA POLÍTICA PÚBLICA? ........................................................19 
AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL: ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..........20 
DIRECIONAMENTO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS: NOS GOVERNOS DA DÉCADA DE 1990 ............................29 
O GOVERNO PÓS DÉCADA DE 1990 ..................................................................................................................32 
AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E A FORMAÇÃO DO GESTOR .............................................................................36 
GESTORES, MAS AFINAL QUEM SÃO ELES? QUEM SÃO OS GESTORES EDUCACIONAIS HOJE? .........................36 
SUGESTÕES DE LEITURAS ..................................................................................................................................42 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO DA FILOSOFIA 
 
Quando começamos a estudar Filosofia, somos logo levados a buscar o que 
ela é. Nossa primeira surpresa surge ao descobrirmos que não há apenas uma 
definição da Filosofia, mas várias. A segunda surpresa vem ao percebermos que, além 
de várias, as definições parecem contradizer-se. Eis porque muitos, cheios de 
perplexidade, indagam: afinal, o que é a Filosofia que sequer consegue dizer o que ela 
é? 
Uma primeira aproximação nos mostra pelo menos quatro definições gerais 
do que seria a Filosofia: 
Visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. Filosofia 
corresponde de modo vago e geral, ao conjunto de ideias, valores e práticas pelos 
quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma, definindo para 
si o tempo e o espaço, o sagrado e o profano, o bom e o mau, o justo e o injusto, o 
belo e o feio, o verdadeiro e o falso, o possível e o impossível, o contingente e o 
necessário. 
Qual o problema dessa definição? Ela é tão genérica e tão ampla que não 
permite, por exemplo, distinguir a Filosofia e religião, Filosofia e arte, Filosofia e 
ciência. Na verdade, essa definição identifica Filosofia e Cultura, pois esta é uma visão 
de mundo coletiva que se exprime em ideias, valores e práticas de uma sociedade. 
A definição, portanto, não consegue acercar-se da especificidade do trabalho 
filosófico e por isso não podemos aceitá-la. 
Sabedoria de vida. Aqui, a Filosofia é identificada com a definição e a ação 
 
 
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de algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, dedicando-se à contemplação 
do mundo para aprender com ele a controlar e dirigir suas vidas de modo ético e 
sábio. A Filosofia seria uma contemplação do mundo e dos homens para nos 
conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando-nos o domínio sobre nós mesmos, 
sobre nossos impulsos, desejos e paixões. É nesse sentido que se fala, por exemplo, 
numa filosofia do budismo. Esta definição, porém, nos diz, de modo vago, o que se 
espera da Filosofia (a sabedoria interior), mas não o que é e o que faz a Filosofia e, por 
isso, também não podemos aceitá- la. 
Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e 
dotada de sentido. Nesse caso, começa-se distinguindo entre Filosofia e religião e 
até mesmo opondo uma à outra, pois ambas possuem o mesmo objeto (compreender 
o Universo), mas a primeira o faz através do esforço racional, enquanto a segunda, 
por confiança (fé) numa revelação divina. Ou seja, a Filosofia procura discutir até o 
fim o sentido e o fundamento da realidade, enquanto a consciência religiosa se 
baseia num dado primeiro e inquestionável, que é a revelação divina indemonstrável. 
Pela fé, a religião aceita princípios indemonstráveis e até mesmo aqueles que podem 
ser considerados irracionais pelo pensamento, enquanto a Filosofia não admite 
indemonstrabilidade e irracionalidade. Pelo contrário, a consciência filosófica procura 
explicar e compreender o que parece ser irracional e inquestionável. 
No entanto, esta definição também é problemática, porque dá à Filosofia a 
tarefa de oferecer uma explicação e uma compreensão totais sobre o Universo, 
elaborando um sistema universal ou um sistema do mundo, mas sabemos, hoje, que 
essa tarefa é impossível. 
Há pelo menos duas limitações principais a esta pretensão totalizadora: em 
primeiro lugar, porque a explicação sobre a realidade também é oferecida pelas 
ciências e pelas artes, cada uma das quais definindo um aspecto e um campo da 
realidade para estudo (no caso das ciências) e para a expressão (no caso das artes), 
já não sendo pensável uma única disciplina que pudesse abranger sozinha a 
totalidade dos conhecimentos; em segundo lugar, porque a própria Filosofia já não 
admite que seja possível um sistema de pensamento único que ofereça uma única 
explicação para o todo da realidade. Por isso, esta definição também não pode ser 
aceita. 
 
 
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Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. A 
Filosofia, cada vez mais, ocupa-se com as condições e os princípios do 
conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro; com a origem, a forma e o 
conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais; com a compreensão das 
causas e das formas da ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo; com 
as transformações históricas dos conceitos, das ideias e dos valores. A Filosofia 
volta-se, também, para o estudo da consciência em suas várias modalidades: 
percepção, imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão, 
comportamento, vontade, desejo e paixões, procurando descrever as formas e os 
conteúdos dessas modalidades de relação entre o ser humano e o mundo, do ser 
humano consigo mesmo e com os outros. Finalmente, a Filosofia visa ao estudo e à 
interpretação de ideias ou significações gerais como: realidade, mundo, natureza, 
cultura, história, subjetividade, objetividade, diferença, repetição, semelhança, 
conflito, contradição, mudança, etc. 
Sem abandonar as questões sobre a essência da realidade, a Filosofia 
procura diferenciar-se das ciências e das artes, dirigindo a investigação sobre o 
mundo natural e o mundo histórico (ou humano) num momento muito preciso: quando 
perdemos nossas certezas cotidianas e quando as ciências e as
artes ainda não 
ofereceram outras certezas para substituir as que perdemos. Em outras palavras, a 
Filosofia se interessa por aquele instante em que a realidade natural (o mundo das 
coisas) e a histórica (o mundo dos homens) tornam-se estranhas, espantosas, 
incompreensíveis e enigmáticas, quando o senso comum já não sabe o que pensar 
e disser e as ciências e as artes ainda não sabem o que pensar e dizer. 
Esta última descrição da atividade filosófica capta a Filosofia como análise 
 
 
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(das condições da ciência, da religião, da arte, da moral), como reflexão (isto é, volta 
da consciência para si mesma para conhecer-se enquanto capacidade para o 
conhecimento, o sentimento e a ação) e como crítica (das ilusões e dos preconceitos 
individuais e coletivos, das teorias e práticas científicas, políticas e artísticas), essas 
três atividades (análise, reflexão e crítica) estando orientadas pela elaboração 
filosófica de significações gerais sobre a realidade e os seres humanos. Além de 
análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do fundamento e do sentido da 
realidade em suas múltiplas formas indagando o que são, qual sua permanência e 
qual a necessidade interna que as transforma em outras. 
O que é o ser e o aparecer-desaparecer dos seres? 
A Filosofia não é ciência: é uma reflexão crítica sobre os procedimentos e 
conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as origens e formas 
das crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos conteúdos, das 
formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é sociologia 
nem psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos da 
sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão e reflexão 
sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é história, mas interpretação 
do sentido dos acontecimentos enquanto inseridos no tempo e compreensão do que 
seja o próprio tempo. Conhecimento do conhecimento e da ação humanos, 
conhecimento da transformação temporal dos princípios do saber e do agir, 
conhecimento da mudança das formas do real ou dos seres, a Filosofia sabe que 
está na História e que possui uma história. 
 
A ORIGEM DA FILOSOFIA 
 
A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo 
deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. 
 
 
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Sophia quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio. Filosofia significa, 
portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a 
sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. 
Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, 
deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita. 
Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V antes 
de Cristo) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria 
plena e completa pertence aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou 
amá-la, tornando-se filósofos. 
Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos 
(a festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali 
estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as 
disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois, 
durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música, 
teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho 
e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo de pessoa, dizia 
Pitágoras, é como o filósofo. 
Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses 
comerciais - não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser 
comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir - 
não faz das ideias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores 
ou “atletas intelectuais”; mas é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e 
 
 
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avaliar as coisas, as ações, a vida: em resumo, pelo desejo de saber. A verdade não 
pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser 
contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê-la. 
 
O LEGADO DA FILOSOFIA GREGA PARA O OCIDENTE EUROPEU 
 
 
Por causa da colonização europeia das Américas, nós também fazemos parte 
- ainda que de modo inferiorizado e colonizado - do Ocidente europeu e assim 
também somos herdeiros do legado que a Filosofia grega deixou para o pensamento 
ocidental europeu. Desse legado, podemos destacar como principais contribuições 
as seguintes: 
*A ideia de que a Natureza opera obedecendo a leis e princípios necessários 
e universais, isto é, os mesmos em toda a parte e em todos os tempos. Assim, por 
exemplo, graças aos gregos, no século XVII da nossa era, o filósofo inglês Isaac 
Newton estabeleceu a lei da gravitação universal de todos os corpos da Natureza. 
A lei da gravitação afirma que todo corpo, quando sofre a ação de um outro, 
produz uma reação igual e contrária, que pode ser calculada usando como elementos 
do cálculo a massa do corpo afetado, a velocidade e o tempo com que a ação e a 
reação se deram. Essa lei é necessária, isto é, nenhum corpo do Universo escapa 
dela e pode funcionar de outra maneira que não desta; e esta lei é universal, isto é, 
válida para todos os corpos em todos os tempos e lugares. Um outro exemplo: as 
leis geométricas do triângulo ou do círculo, conforme demonstraram os filósofos 
gregos, são universais e necessárias, isto é, seja em Tóquio em 1993, em 
Copenhague em 1970, em Lisboa em 1810, em São Paulo em 1792, em Moçambique 
em 1661, ou em Nova York em 1975, as leis do triângulo ou do círculo são 
 
 
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necessariamente as mesmas. 
 
*A ideia de que as leis necessárias e universais da Natureza podem ser 
plenamente conhecidas pelo nosso pensamento, isto é, não são conhecimentos 
misteriosos e secretos, que precisariam ser revelados por divindades, mas são 
conhecimentos que o pensamento humano, por sua própria força e capacidade, pode 
alcançar. 
*A ideia de que nosso pensamento também opera obedecendo a leis, regras 
e normas universais e necessárias, segundo as quais podemos distinguir o 
verdadeiro do falso. Em outras palavras, a ideia de que o nosso pensamento é lógico 
ou segue leis lógicas de funcionamento. 
Nosso pensamento diferencia uma afirmação de uma negação porque, na 
afirmação, atribuímos alguma coisa à outra coisa (quando afirmamos que “Sócrates 
é um ser humano”, atribuímos humanidade a Sócrates) e, na negação, retiramos 
alguma coisa de outra (quando dizemos “este caderno não é verde”, estamos 
retirando do caderno à cor verde). Nosso pensamento distingue quando uma 
afirmação é verdadeira ou falsa. Se alguém apresentar o seguinte raciocínio: “Todos 
os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal”, diremos que 
a afirmação “Sócrates é mortal” é verdadeira, porque foi concluída de outras 
afirmações que já sabemos serem verdadeiras. 
*A ideia de que as práticas humanas, isto é, a ação moral, a política, as 
técnicas e as artes dependem da vontade livre, da deliberação e da discussão, da 
nossa escolha passional (ou emocional) ou racional, de nossas preferências, 
segundo certos valores e padrões, que foram estabelecidos pelos próprios seres 
humanos e não por imposições misteriosas e incompreensíveis, que lhes teriam sido 
feitas por forças secretas, invisíveis, sejam elas
divinas ou naturais, e impossíveis de 
serem conhecidas. 
*A ideia de que os acontecimentos naturais e humanos são necessários, 
porque obedecem a leis naturais ou da natureza humana, mas também podem ser 
contingentes ou acidentais, quando dependem das escolhas e deliberações dos 
 
 
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homens, em condições determinadas. Dessa forma, uma pedra cai porque seu peso, 
por uma lei natural, exige que ela caísse natural e necessariamente; um ser humano 
anda porque as leis anatômicas e fisiológicas que regem o seu corpo fazem com que 
ele tenha os meios necessários para a locomoção. 
 No entanto, se uma pedra, ao cair, atingir a cabeça de um passante, esse 
acontecimento é contingente ou acidental. Por quê? Porque, se o passante não 
estivesse andando por ali naquela hora, a pedra não o atingiria. Assim, a queda da 
pedra é necessária e o andar de um ser humano é necessário, mas que uma pedra 
caia sobre minha cabeça quando ando é inteiramente contingente ou acidental. 
Todavia, é muito diferente a situação das ações humanas. É verdade que é 
por uma necessidade natural ou por uma lei da Natureza que ando. Mas é por 
deliberação voluntária que ando para ir à escola em vez de andar para ir ao cinema, 
por exemplo. É verdade que é por uma lei necessária da Natureza que os corpos 
pesados caem, mas é por uma deliberação humana e por uma escolha voluntária 
que fabrico uma bomba, a coloco num avião e a faço despencar sobre Hiroshima. 
Um dos legados mais importantes da Filosofia grega é, portanto, essa 
diferença entre o necessário e o contingente, pois ela nos permite evitar o fatalismo 
- “tudo é necessário, temos que nos conformar e nos resignar” -, mas também evitar 
a ilusão de que podemos tudo quanto quisermos, se alguma força extranatural ou 
sobrenatural nos ajudar, pois a Natureza segue leis necessárias que podemos 
conhecer e nem tudo é possível por mais que o queiramos. 
* A ideia de que os seres humanos, por Natureza, aspiram ao conhecimento 
verdadeiro, à felicidade, à justiça, isto é, que os seres humanos não vivem nem agem 
cegamente, mas criam valores pelo quais dão sentido às suas vidas e às suas ações. 
A Filosofia surge, portanto, quando alguns gregos, admirados e espantados com a 
realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a 
fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres 
humanos, os acontecimentos e as coisas da Natureza, os acontecimentos e as ações 
humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz 
de conhecer-se a si mesma. 
Em suma, a Filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e 
dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por 
divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por 
 
 
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todos, através da razão, que é a mesma em todos; quando se descobriu que tal 
conhecimento depende do uso correto da razão ou do pensamento e que, além da 
verdade poder ser conhecida por todos, podia, pelo mesmo motivo, ser ensinada ou 
transmitida a todos. 
 
O NASCIMENTO DA FILOSOFIA 
Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: 
final do século VII e início do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia 
Menor (particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade 
de Mileto. E o primeiro filósofo foi Tales de Mileto. Além de possuir data e local de 
nascimento e de possuir seu primeiro autor, a Filosofia também possui um conteúdo 
preciso ao nascer: é uma cosmologia. A palavra cosmologia é composta de duas 
outras: cosmos, que significa mundo ordenado e organizado, e logia, que vem da 
palavra logos, que significa pensamento racional, discurso racional, conhecimento. 
Assim, a Filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo ou da 
Natureza, donde, cosmologia. 
Apesar da segurança desses dados, existe um problema que, durante 
séculos, vem ocupando os historiadores da Filosofia: o de saber se a Filosofia - que 
é um fato especificamente grego - nasceu por si mesma ou dependeu de 
contribuições da sabedoria oriental (egípcios, assírios, persas, caldeus, babilônios) 
e da sabedoria de civilizações que antecederam à grega, na região que, antes de 
ser a Grécia ou a Hélade, abrigara as civilizações de Creta, Minos, Tirento e Micenas. 
Durante muito tempo, considerou-se que a Filosofia nascera por 
transformações que os gregos operaram na sabedoria oriental (egípcia, persa, 
caldéia e babilônica). Assim, filósofos como Platão e Aristóteles afirmavam a origem 
oriental da Filosofia. Os gregos, diziam eles, povo comerciante e navegante, 
 
 
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descobriram, através das viagens, a agrimensura dos egípcios (usada para medir as 
terras, após as cheias do Nilo), a astrologia dos caldeus e dos babilônios (usada para 
prever grandes guerras, subida e queda de reis, catástrofes como peste, fome, 
furacões), as genealogias dos persas (usadas para dar continuidade às linhagens e 
dinastias dos governantes), os mistérios religiosos orientais referentes aos rituais de 
purificação da alma (para livrá-la da reencarnação contínua e garantir-lhe o descanso 
eterno), etc. A Filosofia teria nascido pelas transformações que os gregos impuseram 
a esses conhecimentos. 
Dessa forma, da agrimensura, os gregos fizeram nascer duas ciências: a 
aritmética e a geometria; da astrologia, fizeram surgir também duas ciências: a 
astronomia e a meteorologia; das genealogias, fizeram surgir mais uma outra ciência: 
a história; dos mistérios religiosos de purificação da alma, fizeram surgir às teorias 
filosóficas sobre a natureza e o destino da alma humana. 
Todos esses conhecimentos teriam propiciado o aparecimento da Filosofia, 
isto é, da cosmologia, de sorte que a Filosofia só teria podido nascer graças as saber 
oriental. 
Essa ideia de uma filiação oriental da Filosofia foi muito defendida oito séculos 
depois de seu nascimento (durante os séculos II e III depois de Cristo), no período 
do Império Romano. Quem a defendia? Os pensadores judaicos, como Filo de 
Alexandria, e os Padres da Igreja, como Eusébio de Cesaréia e Clemente de 
Alexandria. 
Por que defendiam a origem oriental da Filosofia grega? Pelo seguinte motivo: 
a Filosofia grega tornara-se, em toda a Antiguidade clássica, e para os poderosos 
da época, os romanos, a forma superior ou mais elevada do pensamento e da moral. 
Os judeus, para valorizar seu 
pensamento, desejavam que a Filosofia 
tivesse uma origem oriental, dizendo que o 
pensamento de filósofos importantes, como 
Platão, tinha surgido no Egito, onde se 
originara o pensamento de Moisés, de modo 
que havia uma ligação entre a Filosofia grega 
e a Bíblia. 
Os Padres da Igreja, por sua vez, queriam mostrar que os ensinamentos de 
 
 
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Jesus eram elevados e perfeitos, não eram superstição, nem primitivos e incultos, e 
por isso mostravam que os filósofos gregos estavam filiados a correntes de 
pensamento místico e oriental e, dessa maneira, estariam próximos do cristianismo, 
que é uma religião oriental. No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada 
“orientalista”, e muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar na 
Filosofia como sendo o “milagre grego”. Com a palavra “milagre” queriam dizer várias 
coisas: 
 que a Filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem 
que nada anterior a preparasse; 
 que a Filosofia grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem 
par, como é próprio de um milagre; 
 que os gregos
foram um povo excepcional, sem nenhum outro 
semelhante a eles, nem antes e nem depois deles, e por isso somente 
eles poderiam ter sido capazes de criar a Filosofia, como foram os 
únicos a criar as ciências e a dar às artes uma elevação que nenhum 
outro povo conseguiu, nem antes e nem depois deles. 
 
 
CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA 
 
 
O que tornou possível o surgimento da Filosofia na Grécia no final do século 
VII e no início do século VI antes de Cristo? Quais as condições materiais, isto é, 
econômicas, sociais, políticas e históricas que permitiram o surgimento da Filosofia? 
Podemos apontar como principais condições históricas para o surgimento da 
Filosofia na Grécia: 
 
 
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 as viagens marítimas, que permitiram aos gregos 
descobrir que os locais que os mitos diziam habitados por 
deuses, titãs e heróis eram, na verdade, habitados por outros 
seres humanos; e que as regiões dos mares que os mitos 
diziam habitados por monstros e seres fabulosos não possuíam 
nem monstros nem seres fabulosos. As viagens produziram o 
desencantamento ou a desmistificação do mundo, que passou, assim, a exigir uma 
explicação sobre sua origem, explicação que o mito já não podia oferecer; 
 a invenção do calendário, que é uma forma de calcular o tempo 
segundo as estações do ano, as horas do dia, os fatos importantes que se repetem, 
revelando, com isso, uma capacidade de abstração nova, ou uma percepção do 
tempo como algo natural e não como um poder divino incompreensível. 
 a invenção da moeda, que permitiu uma forma de troca que não se 
realiza através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por 
semelhança, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor 
semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de 
abstração e de generalização; 
 surgimento da vida urbana, com predomínio do comércio e do 
artesanato, dando desenvolvimento a técnicas de fabricação e de troca, e 
diminuindo o prestígio das famílias da aristocracia proprietária de terras, por quem e 
para quem os mitos foram criados; além disso, o surgimento de uma classe de 
comerciantes ricos, que precisava encontrar pontos de poder e de prestígio para 
suplantar o velho poderio da aristocracia de terras e de sangue (as linhagens 
constituídas pelas famílias), fez com que se procurasse o prestígio pelo patrocínio e 
estímulo às artes, às técnicas e aos conhecimentos, favorecendo um 
ambiente onde a Filosofia poderia surgir; 
 a invenção da escrita alfabética, que, como a do 
calendário e a da moeda, revela o crescimento da capacidade de abstração e 
de generalização, uma vez que a escrita alfabética ou fonética, 
diferentemente de outras escritas - como, por exemplo, os hieróglifos dos 
egípcios ou os ideogramas dos chineses -, supõe que não se represente uma 
imagem da coisa que está sendo dita, mas a ideia dela, o que dela se pensa e se 
 
 
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transcreve; 
 a invenção da política, que introduz três aspectos novos e decisivos 
para o nascimento da Filosofia: 
1) A ideia da lei como expressão da vontade de uma coletividade humana que 
decide por si mesma o que é melhor para si e como ela definirá suas relações 
internas. O aspecto legislado e regulado da cidade 
- da polis - servirá de modelo para a Filosofia propor o aspecto legislado, 
regulado e ordenado do mundo como um mundo racional. 
2) O surgimento de um espaço público, que faz aparecer um novo tipo de 
palavra ou de discurso, diferente daquele que era proferido pelo mito. Neste, um 
poeta vidente, que recebia das deusas ligadas à memória (a deusa Mnemosyne, mãe 
das Musas, que guiavam o poeta) uma iluminação misteriosa ou uma revelação 
sobrenatural, dizia aos homens quais eram as decisões dos deuses que eles 
deveriam obedecer. 
Agora, com a polis, isto é, a cidade política, surge à palavra como direito de 
cada cidadão de emitir em público sua opinião, discuti-la com os outros, persuadi-
los a tomar uma decisão proposta por ele, de tal modo que surge o discurso político 
como a palavra humana compartilhada, como diálogo, discussão e deliberação 
humana, isto é, como decisão racional e exposição dos motivos ou das razões para 
fazer ou não fazer alguma coisa. 
A política, valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e 
a decisão racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para que 
surgisse o discurso ou a palavra filosófica. 
3) A política estimula um pensamento e um discurso que não procuram ser 
formulados por seitas secretas dos iniciados em mistérios sagrados, mas que 
procuram, ao contrário, ser públicos, ensinados, transmitidos, comunicados e 
discutidos. A ideia de um pensamento que todos podem compreender e discutir, que 
todos podem comunicar e transmitir, é fundamental para a Filosofia. 
 
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA 
 
O pensamento filosófico em seu nascimento tinha como traços 
principais:tendência à racionalidade, isto é, a razão e somente a razão, com seus 
 
 
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princípios e regras, é o critério da explicação de alguma coisa;tendência a oferecer 
respostas conclusivas para os problemas, isto é, colocado um problema, sua solução 
é submetida à análise, à crítica, à discussão e à demonstração, nunca sendo aceita 
como uma verdade, se não for provado racionalmente que é verdadeira;exigência de 
que o pensamento apresente suas regras de funcionamento, isto é, o filósofo é 
aquele que justifica suas ideias provando que segue regras universais do 
pensamento. Para os gregos, é uma lei universal do pensamento que a contradição 
indica erro ou falsidade. Uma contradição acontece quando afirmo e nego a mesma 
coisa sobre uma mesma coisa (por exemplo: “Pedro é um menino e não um menino”, 
“A noite é escura e clara”, “O infinito não tem limites e é limitado”). Assim, quando 
uma contradição aparecer numa exposição filosófica, ela deve ser considerada falsa; 
recusa de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de que, para cada 
problema, seja investigada e encontrada a solução própria exigida por ele; tendência 
à generalização, isto é, mostrar que uma explicação tem validade para muitas coisas 
diferentes porque, sob a variação percebida pelos órgãos de nossos sentidos, o 
pensamento descobre semelhanças e identidades. Por exemplo, para meus olhos, 
meu tato e meu olfato, o gelo é diferente da neblina, que é diferente do vapor de uma 
chaleira, que é diferente da chuva, que é diferente da correnteza de um rio. 
No entanto, o pensamento mostra que se trata sempre de um mesmo 
elemento (a água), passando por diferentes estados e formas (líquido, sólido, 
gasoso), por causas naturais diferentes (condensação, liquefação, evaporação). 
Reunindo semelhanças, o pensamento conclui que se trata de uma mesma 
coisa que aparece para nossos sentidos de maneiras diferentes, e como se fossem 
coisas diferentes. O pensamento generaliza porque abstrai (isto é, separa e reúne 
os traços semelhantes), ou seja, realiza uma síntese. 
E o contrário também ocorre. Muitas vezes nossos órgãos dos sentidos nos 
fazem perceber coisas diferentes como se fossem a mesma coisa, e o pensamento 
demonstrará que se trata de uma coisa diferente sob a aparência da semelhança. No 
ano de 1992, no Brasil, os jovens estudantes pintaram a cara com as cores da 
bandeira nacional e saíram às ruas para exigir o impedimento do presidente da 
República. Logo depois, os candidatos a prefeituras municipais contrataram jovens 
para aparecer na televisão com a cara pintada, defendendo tais candidaturas. A 
seguir, as Forças Armadas brasileiras, para persuadir jovens
a servi-las, contrataram 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
17 
 
jovens caras pintadas para aparecer como soldados, marinheiros e aviadores. Ao 
mesmo tempo, várias empresas, pretendendo vender seus produtos aos jovens, 
contrataram artistas jovens para, de cara pintada, fazer a propaganda de seus 
produtos. 
Aparentemente, teríamos sempre a mesma coisa - os jovens rebeldes e 
conscientes, de cara pintada, símbolo da esperança do País. No entanto, o 
pensamento pode mostrar que, sob a aparência da semelhança percebida, estão 
diferenças, pois os primeiros caras-pintadas fizeram um movimento político 
espontâneo, os segundos fizeram propaganda política para um candidato (e 
receberam para isso), os terceiros tentaram ajudar as Forças Armadas a aparecer 
como divertidas e juvenis, e os últimos, mediante remuneração, estavam 
transferindo para produtos industriais (roupas, calçados, vídeos, margarinas, 
discos, iogurtes). 
 Um símbolo político inteiramente despolitizado e sem nenhuma relação com 
sua origem. 
Separando as diferenças, o pensamento realiza, nesse caso, uma análise. 
Não poderíamos, porém, definir o útil de outra maneira? Platão definia a Filosofia 
como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos. 
Descartes dizia que a Filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de 
todas as coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação 
da saúde e a invenção das técnicas e das artes. Kant afirmou que a Filosofia é o 
conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode conhecer e 
o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana. 
Marx declarou que a Filosofia havia passado muito tempo apenas 
contemplando o mundo e que se tratava, agora, de conhecê-lo para transformá-lo, 
transformação que traria justiça, abundância e felicidade para todos. 
Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia é um despertar para ver e mudar 
nosso mundo. 
Espinosa afirmou que a Filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode 
ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade. 
 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
18 
 
Qual seria, então, a utilidade da Filosofia? 
 
 
 
POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS: CONCEITOS E PRINCÍPIOS 
 
 
 
 
A ação política pode ser exercida através de vários instrumentos. Nessa 
pesquisa optamos iniciar pelo estudo e compreensão. Entender conceitos e 
princípios passou a ser considerado a busca e a compreensão das intenções e ações 
do poder público com a educação. 
Para melhor entender o conceito de “Política Educacional” referencia-se as 
quais os Poderes Públicos respondem às necessidades de escolarização dos 
diversos grupos da sociedade”. Adota-se esta definição pela crença de que toda ação 
política pode ser exercida através de vários instrumentos sociais, tornando- se uma 
linguagem única. 
cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas 
artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa 
sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática 
que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer 
que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são 
capazes. 
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não 
se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes 
estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
19 
 
Para poder chegar-se a uma reflexão sobre as Políticas Públicas, tornaram-
se necessário marcos teóricos que incluam discussões sobre a conjuntura sócio-
política atual. A questão das políticas sociais, educacionais, ambientais, tecnológicas 
e de saúde tem sido tema constante nas polêmicas sobre o papel do Estado no 
desenvolvimento da democracia. 
Para que o tema Políticas Públicas se torne um assunto legítimo de 
discussões, ele deve ser reconhecido, identificado e conhecido por vários grupos 
como assunto político. 
“Os grupos de pesquisa em Políticas Públicas e Gestão da Pós-Graduação no 
Brasil, vêm trazendo essa discussão já desde os anos 80 e 90” (AZEVEDO, 1997, P. 
1) Quando analisadas sob uma perspectiva histórica, percebe-se que nestas 
décadas as políticas educacionais eram gerenciadas por leis, decretos, resoluções, 
planos decenais sem que houvesse qualquer momento de discussão ou debates 
essas políticas. O enlace entre política e legislação acabou sendo um meio de 
reconhecer os processos de implementação onde a normatização era (e ainda é) 
considerada decisiva para colocar em execução as políticas educacionais. 
 
Mas, como identificar o surgimento de uma política pública? 
 
Para maior compreensão do processo de formulação, e entendimento do 
tema, partimos da seguinte ideia: ao termos uma massa de dados que se transforma 
em informações relevantes; quando nós trazemos valores, ideais, princípios e 
ideologias que são combinados com informações factuais podem produzir 
conhecimento empírico sobre uma ação orientada; e quando o conhecimento 
empírico e normativo transforma-se numa ação pública aqui e agora. 
 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
20 
 
 
AS POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL: ANTECEDENTES 
HISTÓRICOS 
 
A ideia de um “Estado em ação”, instituindo políticas públicas para a educação 
é muito recente no cenário brasileiro (Araújo, 2006). A trajetória histórica das políticas 
educacionais no Brasil parece revelar uma nítida ligação com a forma conservadora 
e patrimonialista com a qual o Estado e a sociedade brasileira foram sendo forjados. 
Assim, em um cenário social cujas bases centravam-se em um modelo econômico 
agroexportador e na mão-de-obra escrava, a preocupação com o direito à educação 
veio aparecer tardiamente. O educador Anísio Teixeira acrescenta: 
Sem queremos nos estender muito ao passado, devemos recordar que, em 
todo o tempo da colônia, vivemos um tipo de governo de natureza absolutista, com 
a educação reduzida aos colégios confessionais, destinados dominantemente 
à formação do clero [...] (TEIXEIRA, 1967, p. 70). 
Ainda segundo este educador (1976), o ensino brasileiro, com tendência 
ornamental e livresca, era destinado predominantemente para a camada mais 
abastada da sociedade. 
Foi somente em fins do século XIX e início do século XX, no contexto da 
Primeira República – quando o Estado brasileiro Oligárquico deslocava-se para uma 
“arrumação” Moderna/liberal, assumindo um modelo intervencionista –, que a 
educação começou a ser reclamada como necessária ao “desenvolvimento do país”. 
Nesse mesmo período, diversas vozes começaram a reclamar uma Política 
Educacional Nacional (Azevedo, 2006; Romanelle, 2005; Saviani, 2005). Vozes que 
se aglomeraram dando vida a organizações colegiadas, tais como a Associação 
Brasileira de Educação, cujos marcos de luta se firmaram no Manifesto dos Pioneiros 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
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da Educação na década de 1930. Lançado em 1932, o Manifesto foi, sobretudo, um 
documento de política educativa no qual, para além da defesa da Escola Nova, 
estava à causa/luta maior da/pela escola pública laica, sendo esta responsabilidade 
do Estado. Ressalto que as diretrizes desse manifesto influenciaram a Constituição 
de 1934 (Freitas, 2005; Saviani, 2005). 
Segundo Teixeira (1967), a revolução de 1930 marca um período crítico em 
que começaram a florescer os primeiros sinais de inquietação, denunciadores do 
processo de integração política do país. Vejamos: 
Nos fins da
década de 20 e 30, parecia, assim, que estávamos preparados 
para a reconstrução de nossas escolas. A consciência dos erros se fazia cada vez 
mais palpitante e o ambiente de preparação revolucionária era propício à 
reorganização. O país iniciou a jornada de 30 com um verdadeiro programa de 
reforma educacional. 
Nas revoluções, como nas guerras, sabe-se, porém, como elas começam mas 
não se sabe como acabam (TEIXEIRA, 1976, 26) 
Assim, podemos afirmar que a década de 1930 representou, diga-se de 
passagem, um salto no que se refere à regulamentação das políticas educacionais 
do país. Essa regulamentação foi impulsionada pela Reforma Francisco Campos, a 
qual instituiu o Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública (Shiroma, 
Morais, Evangelista, 2002; Saviani, 2005). Uma série de decretos dá forma aos 
primeiros ‘traços de bilro’ dessa Reforma; dentre eles, destaco: 
 
 
 
 
 
 
 
 
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22 
 
 
A partir de 1937, com o Estado Novo, imposto pelo Presidente Getúlio 
Vargas, bem com o fechamento do Congresso Nacional, a constituição de 
1934 foi revogada e em seu lugar impôs-se ao país uma nova. Tal constituição ficaria 
conhecida depois como “Polaca”, por ter sido inspirada na Constituição da Polônia, 
de tendência fascista. 
Foi em meio a esse período autoritário que aconteceu uma segunda Reforma 
do ensino no Brasil, agindo como uma espécie de “estabilizador” das forças mais 
conservadoras da época. Criaram-se as famosas “Leis Orgânicas do Ensino”, as 
quais acabaram por ampliar e flexibilizar a reforma educacional anterior (Shiroma, 
Morais, Evangelista, 2002). Dentre as várias leis orgânicas, é possível ilustrar os 
seguintes decretos: 
1) Decreto 19.850, de 11de abril de 1931, que criou o Conselho Nacional de Educação; 
2) Decreto 19.851, de 11de abril de 1931, que dispôs sobre a organização do ensino superior 
no Brasil e adotou o regime universitário. 
3) Decreto 19.852, de 11de abril de 1931, que dispôs sobre a organização da Universidade 
do Rio de janeiro. 
4) Decreto 19.890, de 18 de abril de 1931, que dispôs sobre a organização do ensino 
secundário. 
5) Decreto 19.941, de 30 de abril de 1931, que instituiu o ensino religioso como matéria 
facultativa nas escolas públicas do país. 
6) Decreto 20.158, de 30 de junho de 1931, que organizou o ensino comercial e 
regulamentou a profissão de contador. 
7) Decreto 21.241, de 14 de abril de 1932, que consolidou as disposições sobre a 
organização do ensino secundário. 
 
 
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Muitos debates/discussões poderiam ser suscitados, tanto como base tanto 
os decretos da Reforma Francisco Campos quanto a Reforma instaurada pelas Leis 
Orgânicas de Ensino. Em análise a este momento histórico Teixeira (1976, p.26) 
destaca: Todo o movimento era pela reforma de métodos, e pela implantação de 
novos tipos de educação. Surgiu a universidade. Ensaiou-se o ensino médio flexível, 
com a integração do ensino geral com o técnico no Distrito Federal. A escola primaria 
recuperou o prestigio e deu-se inicio à reforma dos seus objetivos e processos de 
ensino. A vinda de professores estrangeiros para as novas escolas superiores, em 
São Paulo e no Rio de Janeiro era uma coisa vantajosa e promissora. [...] Numa 
segunda fase, a reação e um confuse tradicionalismo infiltraram-se com pertinácia 
e não sem êxito, trazendo para a educação resultados paradoxais. (TEIXEIRA, 1976, 
p.26). (grifo meu). Após a análise do educador, acima mencionado, penso ser 
necessário destacar que nesse transcorrer histórico, a educação começava a ser 
vista como ‘panaceia’, capaz de salvar a sociedade de todos os seus males. 
Em fins da década de 1940, um fervoroso debate em torno da construção da 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, Lei 4.024, começava a ganhar forma. 
Para tal tarefa, o então ministro Clemente Mariano nomeou uma comissão de 
especialistas presidida por Lourenço Filho, que após estudos encaminhou uma 
proposta ao Congresso Nacional. 
Esse longo e intenso debate foi acompanhado por uma guerra ideológica que 
chegou a durar cerca de 13 anos. De um lado, as fortes pressões conservadoras e 
privatistas; de outro, o Movimento em Defesa da Escola Pública, os Movimentos de 
Cultura Popular, o Movimento de Educação de Base, o Novo Manifesto. Conforme 
1) Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, Lei Orgânica do Ensino Industrial. 
2) Decreto-lei 4.073, de 30 de janeiro de 1942, que cria o Serviço Nacional de 
Aprendizagem Industrial (SENAI). 
3) Decreto-lei 4.244, de 9 de abril de 1942, Lei Orgânica do Ensino Secundário. 
4) Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, Lei Orgânica do Ensino Comercial. 
5) Decretos-leis 8.529 e 8.530, de 2 de dezembro de 1946, Lei Orgânica do Ensino 
Primário e Normal, respectivamente. 
6) Decreto-lei 8.621e 8.622, de 10 de janeiro de 1946, cria o Serviço Nacional de 
Aprendizagem Comercial (SENAC). 
7) Decreto-lei 9.613, de 20 de agosto de 1946, Lei Orgânica do Ensino Agrícola. 
 
 
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podemos perceber abaixo, nas palavras de Teixeira, havia expectativas/aspirações 
positivas em relação a esta Lei, ou seja, indicativos de que esta traria profundas 
mudanças para a estrutura da educação brasileira: 
Está já em curso no Congresso a lei complementar à Constituição 
que traçará as diretrizes e bases da educação nacional. Essa lei básica não poderá 
deixar, dentro dos princípios constitucionais, de proceder a uma ampla e 
indispensável descentralização administrativa da educação, graças à qual o 
Ministério da Educação e Cultura poderá retomar as suas altas e difíceis funções de 
liderança estimuladora e criadora da educação ao invés de atuação restritiva e rígida 
com que cerceia e dificulta, hoje, o desenvolvimento e a expansão das iniciativas e 
experiências novas, e limita e empobrece a força vivificadora da autonomia e do 
senso de responsabilidade. 
No novo regime a ser implantado, de descentralização e liberdade com 
responsabilidade, dentro do quadro das bases e diretrizes da educação nacional, os 
instrumentos de controle e coordenação passam a ser delicados instrumentos das 
verificações objetivas, dos inquéritos reveladores, nas conferências educacionais. 
Será um regime a se criar no país, de mais sanções de opinião pública e de 
consciência educacional, do que de atos de autoridade. (TEIXEIRA, 1976, p.30) 
Apesar dos embates, das expectativas 
positivas e da força dos movimentos progressistas, 
a aprovação da LDB de 1961causou prejuízos para 
educação, especialmente no que se refere à sua 
ampliação, pois fortaleceu o setor privado e limitou 
a expansão do ensino público. Fazenda (1984) 
relata que com base nesta Lei a questão da obrigatoriedade escolar do ensino 
primário foi oficialmente anulada pelo artigo 30. Aspectos que revelam assim uma 
vitória do lado conservador. Sob a égide da referida Lei, a estrutura do ensino no 
Brasil ganhou a seguinte forma: 
Ensino Primário de cinco anos; 
Ensino Médio dividido em: Ciclo ginasial com quatro anos e Ciclo Colegial com 
três anos (científico, clássico, técnico ou normal). 
Ainda com base na Lei nº 4.024/61 das Diretrizes e Bases da Educação 
Nacional, foi elaborado em 1962, pelo Conselho Nacional de Educação, o primeiro 
 
 
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Plano Nacional de Educação, que estabelecia objetivos e metas qualitativas e 
quantitativas para a educação em um período de oito anos (Cury, 2006). 
Antes de darmos continuidade à história, penso ser interessante acrescentar, 
como parte fundamental da trama nesta retomada das políticas públicas 
educacionais,
o processo de criação dos diversos organismos internacionais, tais 
como: Fundo Monetário Internacional - FMI, Organização das Nações Unidas - ONU, 
Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento - BIRD etc. (Bruno, 
1997). 
Tal processo de criação aconteceu em um período que se estendeu até o pós-
guerra. Esses organismos passaram a interferir no Brasil, de forma mais precisa, a 
partir do Golpe Militar. 
E falando no assunto acima mencionado: em 1964, aconteceu o Golpe Militar 
no Brasil, instaurando um regime autoritário/antidemocrático, o qual se prolongou até 
1985. Sua instalação acabou por abafar todos os obstáculos que, no âmbito da 
sociedade civil, pudessem perturbar o processo de adaptação econômica e política 
que se impunha ao país (Shiroma, Morais, Evangelista, 2002). A Ditadura militar 
firmou-se tendo como base os famosos “Atos Institucionais”. 
No plano econômico, apregoava-se a ideia de milagre havendo, de fato, 
grande expansão capitalista e crescimento de 13,6% nos anos da década de 1970. 
Tal crescimento não significou, porém, a diminuição das desigualdades sociais; pelo 
contrário, nesse momento histórico, os ricos ficaram cada vez mais ricos e os pobres, 
cada vez mais pobres (GERMANO, 1993). 
No campo educacional, as reformas do ensino empreendidas pelo Regime 
Militar, apesar de absorverem alguns elementos do debate anterior, guardavam 
sinuosos processos de recondução. Tais processos asseguravam que 
recomendações das agências internacionais e relatórios vinculados ao governo 
norte-americano fossem cumpridos. Naquele momento, tratava-se de incorporar 
compromissos assumidos pelo governo brasileiro na “Carta de Punta del Este” (1961) 
e no Plano Decenal de Educação da Aliança para o Progresso, provindos dos 
acordos entre o Ministério da Educação e a Agência de Desenvolvimento 
Internacional MEC–AID. Iniciou-se assim, no Regime Militar, uma ‘confecção’ de 
políticas de caráter desenvolvimentista, articuladas a um processo de reorganização 
do Estado (Shiroma, Morais, Evangelista, 2002). 
 
 
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Na prática, implantou-se um pacote de leis, decretos-leis e pareceres relativos 
à educação objetivando garantir um desenho de política educacional orgânica, 
nacional e abrangente. Citaremos alguns dos dispositivos criados nessa nova 
configuração para exemplificar: 
 
É necessário salientar que a Lei 5.540 constituiu-se como um documento 
bastante contraditório no cenário de Regime Militar, visto que, por meio dele, 
extinguiu-se a cátedra; implantou-se a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e 
extensão; introduziu-se o regime de tempo integral e dedicação exclusiva dos 
professores; e criou-se a estrutura departamental. 
Da mesma forma, a Lei 5.692 introduziu mudanças profundas na estrutura do 
ensino vigente até então, tais como: ampliação da obrigatoriedade escolar para oito 
anos; instituição da obrigatoriedade da faixa etária de 7 aos 14 anos; 
profissionalização automática no segundo grau; extinção do exame de admissão no 
ginásio, dentre outras modificações. Com base nessa lei, a estrutura do ensino no 
Brasil ganhou novo desenho: 
1º grau constituído por oito séries. 
2º grau constituído por três séries (habilitações plenas ou parciais) 
Apesar da aparente “inovação” no discurso, o Regime Militar deixou fortes 
resquícios não satisfatórios, pois nessa época foram diminuídos drasticamente os 
recursos para a educação. Assim, chegou-se à década de 1980 com os seguintes 
índices: 50% das crianças repetiam ou eram excluídas ao longo da 1ª série do 
primeiro grau; 30% da população eram constituídos de analfabetos; 23% dos 
professores eram leigos; e 30% das crianças estavam fora da escola (Shiroma, 
Morais, Evangelista, 2002). 
Intensificando os referidos descaminhos, do lado econômico e social, a crise 
1) Lei 4.464, de 9 de novembro de 1964, que regulamentou a participação estudantil. 
2) Lei 4.440, de 27 de outubro de 1964, que institucionalizou o salário- educação. 
3) Decreto 57.634, de 14 de janeiro de 1966, que suspendeu as atividades da UNE. 
4) Lei 5.540, de 28 de novembro de 1968, que fixou as normas de organização e 
funcionamento do ensino superior. 
5) Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, que fixou as diretrizes e bases para o ensino de 1º 
e 2º graus. 
 
 
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começou a desmascarar a falsa crença no “milagre econômico”, outrora divulgado 
pelo regime militar. A Crise fiscal acabou gerando forte pressão sobre esse regime, 
o que possibilitou fissuras em sua estrutura. 
 
 
Nesse momento, as questões 
sociais passaram a ser tratadas como 
questões políticas e o discurso da 
segurança nacional cedeu lugar ao da 
integração social. Dentro de uma 
ideologia compensatória e seguindo a 
orientação do Banco Mundial, um grande 
número de projetos começou a surgir como paliativos para a situação de pobreza da 
época, tais como: Polo Nordeste, Edurural, Programas de Ações Socioeducativas e 
Culturais para População Carente do Meio Urbano (PRODASEC) e do Meio Rural 
(PRONASEC), Programa de Educação Pré-Escolar, entre vários outros, com a 
inevitável pulverização de recursos. 
Nesse contexto, em fins da década de 1970, em que as pressões contra o 
Regime Militar se intensificaram, surgiram diversas associações científicas e 
sindicais da área, tais como: a Associação Nacional de Pesquisa e Pós- graduação 
em Educação (ANPEd), a Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior 
(ANDES), a Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE), dentre 
outras. 
E assim, como “conta” a história, os anos de 1980 foram se abrindo, 
representando uma ruptura com o pensamento educacional vigente na década 
anterior. A luta dos educadores a partir desse momento, no contexto de um 
movimento mais geral pela democratização da sociedade, gerou importantes 
contribuições para a educação como um todo (Freitas, 2002). Em síntese, a luta 
destas entidades assumiu as seguintes direções: 
 
 
 
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Assim, com término do Regime Militar, eleição indireta de Tancredo Neves 
para presidente em 1985 e a vitória dos partidos de oposição nos anos 1980 em 
eleições estaduais e municipais, abriram-se as possibilidades da presença, na 
administração, de alguns intelectuais oriundos das universidades. Desta forma, aos 
poucos, os governos locais começaram a projetar uma política educacional contraria 
à da ditadura militar e com maior sintonia de acordo com anseios dos educadores. 
 
 
 
Um espaço favorável para se iniciar duas importantes discussões para a 
c) Democratização da gestão: reivindicava-se a democratização dos órgãos 
públicos de administração educacional; descentralização administrativa e 
pedagógica; gestão participativa dos negócios educacionais; eleição direta e secreta 
para dirigentes de instituições de ensino; construção de comissões municipais e 
estaduais de educação autônomas e amplamente compostas para acompanhar a 
atuação política educativa; colegiados escolares eleitos pela comunidade escolar; 
d) Financiamento: defendia-se a ideia de que deveriam existir verbas 
públicas exclusivas para a educação; 
e) Ampliação da escolaridade obrigatória abrangendo creche, pré- escola, 
primeiro e segundo graus. 
a) Melhoria da qualidade na educação, incluindo-se neste âmbito: 
preocupações com a permanência do educando na escola e com a distorção idade-
série; merenda escolar, transporte e material didático; redução do número de alunos 
nas salas de aula; melhoria nas instalações das escolas; formação adequada aos 
professores; revisão dos métodos; mudança nos conteúdos dos livros didáticos. 
b) Valorização e qualificação dos profissionais
da educação, plano de 
carreira nacional. 
 
 
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história das políticas públicas educacionais começou a ser forjado. Tais 
discussões são as seguintes: primeiro, sobre o que deveria ser o projeto nacional de 
educação; e segundo, o movimento de elaboração da constituição. Em 1988, a nova 
Constituição foi aprovada, ficando conhecida como “a Constituição Cidadã”. Seu 
texto parece consolidar várias conquistas de direitos e anuncia mecanismos 
democratizadores e descentralizadores das políticas sociais, os quais ampliam os 
direitos de cidadania na direção do fortalecimento da responsabilidade social do 
Estado. 
A Carta Magna traz no corpus do seu texto muito das reivindicações dos 
educadores, respeitando o consenso da área, versando sobre temas como: gestão 
democrática, financiamento da educação e valorização profissional. Entretanto, as 
novas configurações internacionais acabam por ‘abafar’ um pouco destas conquistas 
(CAIADO, 2008). 
Ainda neste cenário, as discussões sobre a LDB começam a se intensificar, 
adentrando a década de 1990. Contudo, o que se materializou sob a forma de 
“consenso”, foi um habilidoso jogo linguístico que invertia termos e sinais, de modo 
a torná-los condizentes com os novos paradigmas que referenciavam a mudança 
almejada para a educação no país (Shiroma, Morais, Evangelista, 2002). 
 
DIRECIONAMENTO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS: NOS GOVERNOS DA 
DÉCADA DE 1990 
 
 
 Como começar? É possível dizer que as portas da década de 1990 
foram abertas com expectativas positivas em relação ao “delinear” das políticas 
educacionais. Expectativas essas que, ao longo do processo, foram se desfazendo 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
30 
 
devido às mudanças instauradas tanto na curta gestão de Fernando Collor de 
Mello/Itamar franco quanto na gestão de Fernando Henrique Cardoso na presidência 
do país, bem como aos rumos que foi assumindo o processo de elaboração e 
condução da Lei de Diretrizes e Base da Educação de 1996. 
Em relação à continuidade da discussão da LDB, em síntese é possível 
salientar que o projeto aprovado em 1996 não correspondia aos anseios da década 
anterior. Vejamos: a história nos mostra que tivemos dois projetos de LDB: um 
delineado por Demerval Saviani, no qual as reivindicações da área educacional foram 
incorporadas em sua totalidade, e outro Projeto apresentado pelo Senador Darcy 
Ribeiro (PDT-RJ), que não contemplava as essas reivindicações. 
Com a chegada de Fernando Henrique Cardoso à presidência, em 1994, 
iniciou-se uma nova composição do governo, e nela, Paulo Renato Souza 
assumiu o Ministério da Educação. A partir dessa nova organização de governo, o 
projeto delineado pelo Senador Darcy Ribeiro, sob a defesa de José Jorge (PFL-PE), 
foi sancionado sem qualquer veto (Shiroma, Morais, Evangelista, 2002; Saviani, 
2008). 
Abro parênteses aqui para que possamos vislumbrar a estrutura que o ensino 
no Brasil ganhou com base naquela nova LDB. Segundo esta lei, a Educação básica 
abrange: a) Educação infantil constituída pela creche para crianças de zero a três 
anos e pré-escolas para crianças de quatro a seis anos; 
Ensino fundamental constituído por oito anos; c) Ensino médio constituído por 
três séries. 
Continuando a conversa: na prática, com a aprovação do projeto de Darcy 
Ribeiro, o governo acabou, por assim dizer, ceifando parte da fecundidade dos 
debates do movimento dos educadores, iniciados na década de 1980. Várias 
bandeiras que foram levantadas durante o movimento acabaram distorcidas ou 
completamente descaracterizadas de sua ideia original, como por exemplo: 
capacitação de professores foi traduzida em profissionalização; participação da 
sociedade civil assumiu a forma de articulação com empresários e ONGs; 
descentralização significou desobrigação do Estado; autonomia ganhou contorno de 
liberdade para captação de recurso; melhoria da qualidade da educação traduziu-se 
em adequação ao mercado, sendo que o aluno transformou-se em consumidor 
(Shiroma, Morais, Evangelista, 2002). 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
31 
 
Toda essa sinuosa reconversão foi necessária ao governo de Fernando 
Henrique, pois naquele contexto, agências financiadoras internacionais (FMI, Banco 
Mundial etc.), já citadas, solicitavam aos países em desenvolvimento que reduzissem 
gastos públicos, privatizassem suas empresas públicas e, nas atividades custeadas 
pelo estado, encontrassem novas formas de recurso (Gracindo e Kenski, 2001). 
As orientações encaminhadas pelas agências financiadoras internacionais 
faziam parte de uma ação global. Conforme tal ação, sugeria-se aos Estados 
Nacionais a assunção de um novo papel, segundo o qual deveriam deixar sua 
posição de estado que promove o bem-estar-social para a condição de estado 
mínimo. 
Um olhar mais aprofundado sobre essa 
condição de estado mínimo nos permite inferir que o 
estado se fez mínimo apenas no que concerne ao 
bem-estar social, continuando grande e forte em 
processo de regulação da sociedade civil. 
 
Desta forma, foi no governo de Fernando 
Henrique Cardoso, no ano de 1995, que entrou em 
curso a Reforma do Estado, articulada pelo Ministério da Administração e Reforma 
do Estado (MARE) e tendo como elemento disparador a publicação do documento 
“Plano Diretor da Reforma dos Aparelhos do Estado”. A justificativa para tal reforma 
foi a de “[...] melhorar o desempenho da máquina governamental para, ao final, 
proporcionar serviços melhores para o benefício do cidadão” (Gandini; Riscal, 2008, 
p. 41). 
Com base na reforma do estado brasileiro, entrou em curso o processo de 
descentralização administrativa ou, conforme Peroni (2003, p. 59), “autonomia do 
administrador para gerir recursos”, na qual foram transferidas funções da burocracia 
central para estados e municípios, bem como para “organizações sócias” (Fonseca, 
2008). Penso ser necessário explicar/detalhar o termo descentralização. 
Por processo de descentralização compreende-se delegação de funções para 
entidades regionais ou locais que dependem diretamente do outorgante. No cenário 
brasileiro, a lógica de descentralização se efetivou por meio da municipalização. 
Segundo Fonseca (2005, p. 187), “imprimiu-se um formato gerencial à administração 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
32 
 
pública, tornando-a mais apta para atuar com eficiência, ou seja, com capacidade de 
alcançar maiores resultados com menor custo para o Estado”. 
É com este foco que a LDB de 1996, Lei nº 9.394/96, sinalizou claramente 
para mudanças nas responsabilidades dos entes federados quanto à manutenção e 
ao desenvolvimento do ensino em seus diferentes níveis. O teor da citada lei induz 
fortemente à descentralização da educação, direcionando os seus gastos por 
intermédio da criação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino 
Fundamental e da Valorização do Magistério – FUNDEF (Oliveira, 2008). 
A atenção do FUNDEF voltada, exclusivamente, para o Ensino Fundamental, 
somada à definição de Parâmetros Curriculares Nacionais e à instituição do Sistema 
Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) parece mostrar quais os 
direcionamentos do governo em relação à política educacional na época. Ou seja, 
direcionavam-se os gastos para o Ensino Fundamental como estratégia de 
preparação de mão-de-obra para o mercado de trabalho; ao mesmo tempo, 
instituíam-se os Parâmetros Curriculares e o Sistema Nacional de avaliação, de 
maneira que um certo tipo de controle fosse mantido pelo governo. 
 
 
Ainda durante o governo de FHC, não podemos deixar de citar o Plano 
Nacional de Educação, regulamentado pela Lei 10.172
de 09 de janeiro de 2002, o 
qual dava corpo e assegurava a continuidade das mudanças em curso. Em síntese, 
podemos dizer que tal Plano teve como grande equívoco a ênfase ao Ensino 
Fundamental acima dos outros níveis de ensino (Hermida, 2006). 
 
O GOVERNO PÓS DÉCADA DE 1990 
 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
33 
 
 
 
 O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve início no 
ano de 2003, nasceu rodeado pelas expectativas de mudanças em toda a sociedade. 
Nesse governo, a princípio, entraram em curso programas de caráter compensatório 
denotando, em parte, serem orientados pela mesma lógica de seu antecessor. 
Aliás, o governo Lula conviveu, em seu primeiro mandato, com a continuidade 
das reformas iniciadas no governo de FHC, devido aos vários acordos firmados com 
as agências internacionais. Neste sentido, é possível dizer que ao governo caberia 
caminhar estabelecendo pactos e buscando brechas para instaurar mudanças. 
Ainda no primeiro mandato de Lula, o Ministério da Educação teve dois 
ministros, sendo o primeiro Cristovam Buarque e o segundo Tarso Genro. A gestão 
do primeiro pode ser caracterizada pela falta de políticas regulares e ações 
estruturantes na educação que objetivassem se contrapuser ao movimento iniciado 
durante o governo de FHC. 
Com a entrada de Tarso Genro, que tinha como secretário executivo o atual 
ministro Fernando Haddad, as ações começaram a ser reconduzidas sendo possível, 
nessa gestão, a implantação de políticas tanto de médio quanto de longo prazo, em 
um movimento que sinalizava algumas rupturas (Oliveira, 2009; Pinto, 2009). 
Destacamos algumas das medidas implantadas: 
O Programa Universidade para Todos – PROUNI, lançado em 2004, consiste 
em concessão de bolsas de estudo para alunos de graduação em universidades 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
34 
 
privadas. São concedidas bolsas parciais para os estudantes cuja renda familiar, por 
pessoa, seja de até três salários mínimos, e bolsas integrais para aquelas cuja renda 
familiar é inferior a um salário e meio. Como forma de incentivar as universidades a 
participarem do programa, tem sido oferecida a isenção de impostos. As críticas que 
estão sendo feitas a este programa encontram-se vinculadas à redução de 
expectativas dos jovens das camadas mais pobres de terem acesso ao ensino 
superior público (Pinto, 2009). 
O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das 
Universidades Federais (REUNI), lançado em 2007, objetiva a ampliação de vagas 
nas Universidades e a redução das taxas de evasão nos cursos presenciais de 
graduação. As críticas a este programa têm como base a preocupação desta 
ampliação das vagas estar associada unicamente ao aumento do número de alunos 
por professor, não demandando, contudo, novas formas de custeio (Pinto, 2009). 
A instituição do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação 
Básica e de Valorização do Magistério – FUNDEB, em vigor desde janeiro de 2007, 
encaminha recursos para a toda a Educação Básica, substituindo o FUNDEF, que 
vigorou de 1997 até 2006. 
O Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, lançado em 2007, 
diferentemente dos outros programas, constitui-se em uma espécie de programa 
guarda-chuvas, sob o qual se alinham os demais programas e ações do governo 
para toda a educação (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio, 
educação superior e pós-graduação). Pretende-se, ao que me parece, uma ação 
sistêmica por parte do governo. 
A última ação/programa/política citada merece maior atenção pela sua 
complexidade. Vejamos: o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), 
apresentado pelo Ministério da Educação em abril de 2007, constitui-se em um 
conjunto de 52 ações; algumas delas foram incorporadas e outras foram sendo 
criadas. Tais ações encontram-se organizadas em quatro eixos, quais sejam: 
Educação Básica, Educação Superior, Educação Profissional e Tecnológica, 
Alfabetização e Educação Continuada. 
Dentro desses eixos, as seguintes ações foram ora anexadas, ora criadas: 
FUNDEB, Pro-infância, Ensino Fundamental de nove anos, Provinha 
Brasil, Programas de apoio ao Ensino Médio, Luz para todos, Educa censo, 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
35 
 
Prova Brasil, PDE-Escola, Olimpíadas Brasileiras de Matemática das escolas 
públicas, Olimpíadas Brasileiras da Língua Portuguesa escrevendo o futuro, Mais 
Educação, Caminho da Escola, PNATE, Pró-escola, Proinfo, Biblioteca na Escola, 
Saúde na escola, Olhar Brasil, Educação Especial, Brasil alfabetizado, PNLA, Proeja, 
Projovem campo, Brasil profissionalizado, IFET, E-TEC Brasil, Catálogo Nacional 
dos Cursos Técnicos, Catálogo dos Cursos Superiores de Tecnologia, Piso Salarial 
do magistério, Sistema Nacional de Formação de Professores, Pripid, UAB, Pró-
letramento, Pró-funcionário, Expansão do Ensino Superior, dentre outros. 
O PDE tem como grande articulador “O Plano de 
Metas Compromisso Todos pela Educação”, o qual foi 
instituído pelo Decreto 6.094 de 24 de abril de 2007. 
Propõe-se um novo regime de colaboração, que busca 
articular a atuação dos entes federados – Estados, 
Distrito Federal e Municípios, envolvendo 
primordialmente a decisão política, a ação técnica e 
atendimento da demanda educacional, visando à melhoria 
dos indicadores educacionais. Em seu corpus, 28 diretrizes dão forma e conteúdo a 
um plano de metas concretas, efetivas, que compartilha competências políticas, 
técnicas e financeiras para a execução de programas de manutenção e 
desenvolvimento da educação básica. 
A partir da adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, os 
estados e municípios elaboram seus respectivos Planos de Ações Articuladas – PAR. 
Para auxiliar na elaboração do PAR, o Ministério da Educação passou a oferecer o 
sistema chamado de SIMEC – Módulo PAR Plano de Metas –, integrado aos 
sistemas que já possuía, e que pode ser acessado de qualquer computador 
conectado à internet, representando uma importante evolução tecnológica, com 
agilidade e transparência nos processos de elaboração, análise e apresentação de 
resultados dos PAR. 
Como instrumento de referência de identificação dos municípios, o MEC conta 
com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, o qual é um indicador 
calculado com base nos dados de rendimento do fluxo escolar e do desempenho dos 
alunos nos exames nacionais. 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
36 
 
 
O tensionamento relativo ao programa/política 
PDE tem sido destacado por Saviani (2007). Nesta 
produção, o autor questiona em que medida esse 
programa (PDE) se revela efetivamente capaz de 
enfrentar a questão da qualidade do ensino das 
escolas de educação básica. Destaca Saviani (2007) 
que o PDE foi saudado como um plano que, finalmente, estaria disposto a enfrentar 
esse desafio, focando prioritariamente os níveis de qualidade do ensino ministrado 
em todas as escolas de educação básica do país. Adverte este autor acerca da 
demasiada ambição do “Plano”, agregando ações que incidem sobre os mais 
variados aspectos da educação em seus diversos níveis e modalidades. 
 
AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS E A FORMAÇÃO DO GESTOR 
 
 
 
 
 
 
Gestores, mas afinal quem são eles? Quem são os gestores 
educacionais hoje? 
 
Diante de novos cenários, tornam-se fundamental pensar no gestor como 
alguém com capacidade de entender e fomentar as políticas educacionais. Também 
se torna necessário situar o próprio gestor neste novo contexto, pois, segundo 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
37 
 
MACHADO (1999, p. 239), "Novas abordagens e considerações têm
surgido tanto 
na literatura, quanto na prática, como decorrência das demandas geradas pelas 
mudanças econômicas, políticas e tecnológicas que vêm se processando no 
cenário mundial”... “Portanto, para pensar em políticas integradas de formação de 
gestores educacionais, é necessário ter, de um lado o cenário que vem determinando 
e impulsionando as novas abordagens de gestão e de formação de gestores, do 
outro, contexto das mudanças do sistema educativo". 
Na tentativa de compreender este cenário e associá-lo a nossa pesquisa nos 
reportamos à legislação como base de sustentação legal a qualquer sistema. No 
artigo 14 da Lei 9.394/96 estabelece que "os sistemas de ensino definirão as normas 
da gestão democrática do ensino público", traz o fortalecimento da escola (art. 14 e 
15) o regime de colaboração entre instâncias federadas (União, Estados e 
Municípios) e nos artigos 8°, 9°, 10° e 11°, a valorização dos profissionais da 
educação. 
Em contrapartida discussões teóricas vêm sendo desenvolvidas com vistas 
aos privilégios proporcionados pelo PNE, na questão de formação de gestores. 
Muitos são os cursos de pequena duração, programas de formação em serviço, 
formação de diretores de escolas, formação da gestão escolar descontextualizados 
das concepções das políticas públicas educacionais e seu caráter histórico 
situacional. Portanto, esta é uma discussão aberta principalmente na questão 
formação e articulação entre os sistemas de ensino. 
Para entender o processo que vem impulsionando as mudanças na gestão e 
na formação de gestores, trazemos alguns elementos do cenário mundial segundo 
MACHADO (1999, p. 240). 
 
CENÁRIO GERAL CONSEQUÊNCIAS SOBRE A GESTÃO 
 
 
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38 
 
Alterações do sistema de 
produção, avanço do conhecimento e do 
desenvolvimento tecnológico. 
Sociedade mais complexa, mais 
diversa e desigual com um ritmo de 
transformação acelerado, marcada por um 
processo de urbanização generalizada e 
ampliação da polarização econômica e 
social. 
Esgotamento do papel do Estado 
(crise fiscal e do seu modo de 
intervenção). 
Ampliação do controle social pela 
população, implicando maior cobrança da 
sociedade pela qualidade dos serviços 
públicos. 
A eficiência e a eficácia 
transformam- se em questão de Estado, 
pois passam a envolver custos políticos (a 
sociedade não tolera mais a ineficiência 
dos serviços públicos). 
Avanços tecnológicos e, em especial, 
a informática impulsionam as mudanças nos 
processos. Bases de dados relacionais, 
sistemas de redes, tempos reais etc., têm 
transformado as formas de gestão e 
produção. 
Os processos de gestão devem dar 
conta de gerir as novas complexidades, 
com respostas mais flexíveis e com maior 
participação da sociedade; trata-se de gerir 
um processo permanente de mudança e não 
uma situação. 
Ganha valorização social como meio 
de obtenção da eficiência e eficácia das 
instituições. Vem se convertendo em recurso 
crítico e estratégico para o avanço de 
qualquer sociedade. 
O poder, na sociedade do 
conhecimento, está associado a quem 
estiver mais apto a competir, gerir a 
complexidade, decodificar e interpretar 
informações, dar conta dos avanços 
tecnológicos, suprir as necessidades sociais. 
Essas competências remetem não só à 
questão da gestão, mas à educação e à 
formação dos gestores. 
 
Diante deste, percebe-se que as tendências de formação de gestores não 
podem mais ser evitadas. Essa temática passa a ser vista como uma necessidade, 
para que se desenvolvam competências e habilidades para lidar com situações 
desiguais, aprendendo a compartilhar decisões com o maior número possível de 
membros de uma sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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EDUCACIONAIS 
 
39 
 
 
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