Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Bases Filosóficas.indd 1 13/4/2011 17:28:11 Bases Filosóficas.indd 2 13/4/2011 17:28:11 EAD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Licenciatura em Educação Física DISCIPLINA Bases Filosóficas da Educação Marcos Vicente Soares Salvador Bases Filosóficas.indd 3 13/4/2011 17:28:12 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O Ficha Técnica DIRETORA Maria Nadja Nunes Bittencourt ASSESSORA EDITORIAL Carla Cristiani Honorato de Souza DIAGRAMAÇÃO Sidney Santos Silva REVISÃO TEXTUAL Permínio Souza Ferreira REVISÃO DE NORMALIZAÇÃO E PREPARAÇÃO DE ARQUIVO Carla Cristiani Honorato de Souza Permínio Souza Ferreira COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Sidney Santos Silva Teodomiro A. de Souza João Victor Souza Dourado Fernando Luiz de Souza Junior Débora Alves Souza O conteúdo deste Material Didático é de inteira responsabilidade do(s)/da(s) autores (as), por cuja criação assume(m) ampla e total responsabilidade quanto a titularidade, originalidade do conteúdo intelectual produzido, uso de citações de obras consultadas, referências, imagens e outros elementos que façam parte desta publicação. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP). Catalogação na Fonte BIBLIOTECA DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA – UNEB Bases Filosóficas.indd 4 13/4/2011 17:28:12 EAD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ OPRESIDENTE DA REPÚBLICA Luis Inácio Lula da Silva MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Carlos Eduardo Bielschowsky DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Hélio Chaves Filho SISTEMA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL DIRETOR DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA CAPES Celso Costa COORD. GERAL DE ARTICULAÇÃO ACADÊMICA DA CAPES Nara Maria Pimentel GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA GOVERNADOR Jaques Wagner VICE-GOVERNADOR Edmundo Pereira Santos SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO Osvaldo Barreto Filho UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB REITOR Lourisvaldo Valentim da Silva VICE-REITORA Amélia Tereza Maraux PRÓ-REITORA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO José Bites de Carvalho COORDENADOR UAB/UNEB Silvar Ferreira Ribeiro COORDENADOR UAB/UNEB ADJUNTO Jader Cristiano Magalhães de Albuquerque DIRETOR DO DEDC – I Antônio Amorim COORDENADOR DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA Francisco Pitanga Filho COORDENADOR DE TUTORIA DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA Valter Abrantes Pereira Bases Filosóficas.indd 5 13/4/2011 17:28:12 Bases Filosóficas.indd 6 13/4/2011 17:28:12 EAD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ OCaro (a) cursista, Estamos começando uma nova etapa de trabalho e para auxiliá-lo no desenvolvimento da sua aprendizagem es- truturamos este material didático que atenderá ao Curso de Licenciatura em Educação Física na modalidade à distância. O componente curricular que agora lhe apresentamos foi preparado por profissionais habilitados, especialistas da área, pesquisadores, docentes que tiveram a preocupação em alinhar conhecimento teórico-prático de maneira contextualizada, fazendo uso de uma linguagem motivacional, capaz de aprofundar o conhecimento prévio dos envolvidos com a disciplina em questão. Cabe Salientar porém, que esse não deve ser o único material a ser uti- lizado na disciplina, além dele, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) , as Atividades propostas pelo Professor Formador e pelo Tutor, as Atividades Complementares, os horários destinados aos estudos individuais, tudo isso somado compõe os estudos relacionados a EAD. É importante também que vocês estejam sempre atentos a caixas de diálogos e ícones específicos. Eles aparecem durante todo o texto e têm como objetivo principal, dialogar com o leitor afim de que o mesmo se torne interlocutor ativo desse material. São objetivos dos ícones em destaque: São objetivos dos ícones em destaque: Você sabia? – convida-o a conhecer outros aspectos daquele tema/conteúdo. São curiosidades ou infor- mações relevantes que podem ser associadas à discussão proposta. Saiba mais – apresenta notas ou aprofundamento da argumentação em desenvolvimento no texto, tra- zendo conceitos, fatos, biografias, enfim, elementos que o auxiliem a compreender melhor o conteúdo abordado. Indicação de leituras – neste campo, você encontrará sugestões de livros, sites, vídeos. A partir deles, você poderá aprofundar seu estudo, conhecer melhor determinadas perspectivas teóricas ou outros ol- hares e interpretações sobre aquele tema. Sugestões de atividades – consistem em condições de atividades para você realizar autonomamente em seu processo de auto-estudo. Estas atividades podem (ou não) vir a ser aproveitadas pelo professor- formador como instrumentos de avaliação, mas o objetivo primeiro delas é provocá-lo, desafiá-lo em seu processo de auto-aprendizagem. Sua postura será essencial para o aproveitamento completo desta disciplina. Contamos com seu empenho e entu- siasmo para, juntos, desenvolvermos uma prática pedagógica significativa. COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO GEAD – Gestão de Projetos e Atividades na modalidade a distância ?? VOCÊ SABIA? ??? ??? SAIBA MAIS INDICAÇÃO DE LEITURA SUGESTÃO DE ATIVIDADE Bases Filosóficas.indd 7 13/4/2011 17:28:13 Bases Filosóficas.indd 8 13/4/2011 17:28:13 EAD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ OPrezado(a) Estudante As dimensões estabelecidas, na prática pedagógica escolar, apresentam-nos diferentes formas de conhecer e tratar o ensino. Conhecê-las é, sem sombra de dúvidas, condição primeira para a garantia de qualidade do trabalho docente. No decorrer da leitura, estabeleceremos um diálogo reflexivo, no sentido de conhecermos as trilhas pedagógicas que norteiam a atuação do/a professor/a, e como podemos nos organizar para termos aulas interessantes e produ- tivas. Nosso convite é para que todos/as descubram, por meio da leitura, o universo interessante que é a escola e os rituais de planejamentos que fazem parte dela. Isso de maneira crítica e por meio do nosso material, aqui escrito, e também de outras indicações. Faz-se necessário, ainda, que cada um/a que já estabelece contatos com a escola (já exercem o magistério ou par- ticipam de algum projeto de ensino) possa repensar o que já vem fazendo e busque, a partir das leituras e pontos de reflexão, ressignificar sua prática pedagógica. Os que estão em processo de conhecimento e não possuem experiências no âmbito do ensino poderão começar a pensar e buscar algum espaço escolar para observar e ver mais de perto a dinâmica estabelecida entre os conhecimentos teóricos que aqui serão discutidos e o fazer diário na atuação docente. Estamos prontos? Vamos então, seguir nossa trilha. Sucesso nessa caminhada e bons momentos de estudo! O Autor Bases Filosóficas.indd 9 13/4/2011 17:28:13 Bases Filosóficas.indd 10 13/4/2011 17:28:13 EAD UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ OSUMÁRIO INICIANDO OS ESTUDOS 13 Seção 1 - O mundo e as revoluções burguesas 13 Analise de conjuntura 13 Seção 2 - O Positivismo 14 Seção 3 - A Sociologia e as teorias clássicas. 15 Aprendizagem para a mente, o corpo e as mãos 17 Seção 4 - O Brasil pensando a educação. 18 Alguém fala sobre: Paulo Freire 21 UNIDADE 2 - SOCIEDADE, CULTURA E PROCESSO EDUCATIVO 25 Iniciando os estudos 25 Seção 2 – Etnocentrismo, construção e desconstrução 25 Como acontece o etnocentrismo no ambiente escolar 26 Seção 3 – A educação e a Cultura 27 O Ministério da Cultura nos trás a seguinte relação: 27 E como você se vê neste desafio? 27 Seção 4 – Processo Educativo 29 UNIDADE 3 - FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO UMA ABORDAGEM REFLEXIVA32 Para início de estudo 32 Seção 1 – O Mito, a Filosofia e a Ciência Moderna 32 O Nascimento da Filosofia 33 O Mito e a Origem de Todas as Coisas 33 O Mito Hoje 34 A Filosofia e a Educação 35 Como pensar a Filosofia na Educação 35 Herbart - O organizador da pedagogia como ciência 36 John Dewey - O pensador que pôs a prática em foco. 37 Paulo Freire - O mentor da educação para a consciência 38 O Grande Desafio (The Great Debaters) 39 UNIDADE 4 - TEMAS POLÊMICOS E RECORRENTES DA EDUCAÇÃO FÍSICA 40 Iniciando os estudos 40 Seção 1 - Esporte 40 Seção 2 - Futebol 42 2.1 - Futebol, ópio do povo: A ideologia das massas 42 2.2 – Futebol: a formação da identidade nacional 44 2.3 – Futebol: “Um negócio da China” 44 Seção 3 – Voleibol: A mídia virando o jogo. 45 3.1 - Voleibol e TV 45 3.2 - Voleibol à moda antiga 46 3.3 - A transição: o papel da mídia 47 3.4 - O voleibol sob uma nova roupagem 47 Seção 4 – O corpo e suas dimensões. 48 Bases Filosóficas.indd 11 13/4/2011 17:28:13 Bases Filosóficas.indd 12 13/4/2011 17:28:13 EDUCAÇÃO FÍSICA 1313UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O INICIANDO OS ESTUDOS Vamos iniciar, a partir de agora, os estudos sobre o desenvolvimento das Ciências Humanas e Sociais na Idade Moderna. Nesta primeira unidade você terá o contexto histó- rico no qual a Sociologia surgiu como ciência. Verá os principais pensadores e suas construções teóricas. Perceberá a atualidade de pontos da teoria clássica exercitando a percepção para melhor leitura de contex- tos na sua prática profissional. Seção 1 - O mundo e as revoluções burguesas Ora, você ouve todos os dias nos telejornais, lê nos jornais coisas como: os aspectos socioeconômicos foram importantes para a avaliação; que em outro contexto se perceberia o fenômeno de forma diferente; que vários fatores influenciaram o fenômeno. as que fatores são esses, como podemos distinguir os aspectos que influenciam o fenômeno social e por fim, o que é contexto, como entender o conjunto? http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/080605/ imagens/capa380.jpg Analise de conjuntura José Eustáquio Diniz Alves Uma análise de conjuntura é um retrato dinâmico de uma realidade e não uma simples descrição de fatos ocorridos em um determinado local e período. Ela deve ir além das aparências e buscar a essência do real. Porém, a realidade mundial, nacional ou local, é multifacetada, o que torna difícil a sua apreensão à primeira vista. O desafio de qualquer análise de con- juntura é compreender as inter-relações das partes que forma o todo, pois a totalidade é um conjunto de múltiplas determinações. Neste sentido, a análise de conjuntura funciona como um mapa que nos permite “viajar” na realidade. Existem mapas mais detalhados ou menos detalhados, assim como existem muitos tipos de mapas: geográficos, rodoviários, ferroviários etc. Cada um é definido em função de um objetivo e tem a sua própria escala. Assim, também, é a análise de conjuntura que busca traçar um mapa da correlação das forças econômicas, políticas e sociais que constituem a estrutura e a superestrutura da sociedade, as quais se vinculam através de relações de poder(...) http://www.ie.ufrj.br/aparte/pdfs/analiseconjuntura_ teoriametodo_01jul08.pdf <acesso em: 10.04.2010> http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/080605/ imagens/capa380.jpg Bases Filosóficas.indd 13 13/4/2011 17:28:13 14 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O ?? VOCÊ SABIA? A Sociologia enquanto ciência surgiu e se desenvolveu com o advento da modernidade, mas, principalmente, a partir do fortalecimento do capitalismo. Dois grandes fatos políticos e sociais marcaram significativamente um processo que já vinha delineando-se desde o Renascimento comercial e urbano na Europa e foram decisivos para iniciar o que se convencionou chamar de mundo contemporâneo: a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Em 1750, temos o surgimento da máquina a vapor nas fábricas da Europa, o que marcou o início da Revolução Industrial e alterou definitivamente o cenário socioeconômico da época. Para uma burguesia cada vez mais forte economicamente, alcançar o poder político era apenas uma questão de tempo. O advento das máquinas trouxe mudanças nunca antes vistas nas relações de produção, principalmente em função do estabelecimento do sistema fabril em larga escala e a decorrente divisão do trabalho. A agricultura tinha aumentada a produtividade com a aplicação de novas técnicas. E a revolução nos transportes contribuiria, igualmente, para o deslocamento em massa da população rural em direção às cidades. No século XVII e XVIII, diversas revoluções ocorreram na Europa: as chamadas revoluções burguesas, entre elas a Revolução Gloriosa, na Inglaterra, e a Revolução Francesa. Ambas, de forma geral, propunham o fim dos privilégios herdados pela nobreza e a igualdade de direitos e oportunidades. A Revolução Francesa tem como marco inicial a Queda da Bastilha em 1789 e foi fundamental para o estabelecimento da burguesia no poder político. Pode-se dizer, portanto, que a Revolução Industrial desencadeou efetiva revolução no sistema econômico da época; e, assim, a Revolução Francesa, no sistema político. Ambas provocaram profundas transformações sociais e podem ser consideradas, como já afirmado anteriormente, marcos de transição para a chamada “Era Moderna”. http://varejototal.zip.net/images/revoulucao_industrial.jpg ??? ??? SAIBA MAIS Em síntese: a partir de ambas a revolução, Industrial e Francesa, dá-se a ascensão de um novo grupo/classe, a burguesia; também, o aumento da capacidade de produção humana determinará profundas mudanças no setor econômico. Além do episódio que começou a mudar a cara da Europa politicamente, não se pode esquecer que o século XVIII foi marcado pelas Idéias Iluministas -- por isso fi cou conhecido como o “Século das Luzes”. O poder da razão deveria predominar e constituir o guia para a interpretação de episódios humanos, com vistas à reorganização do mundo. Num processo que já vinha acontecendo desde o Renascimento Artístico e Cultural, a razão deveria predominar sobre qualquer explicação religiosa. O antropocentrismo, num primeiro momento, presumidamente, já superava o teocentrismo, e, com o passar do tempo, o racionalismo e a revolução científica foram acentuando tal tendência. No século XVIII, o homem era dotado de tamanha confiança, que deixa de sacralizar a natureza, tornando-a objeto de pesquisa no âmbito do conhecimento científico. Pode-se dizer que, então, a natureza passava ao domínio do homem. http://www.historiabrasileira.com/files/2010/01/jacobinismo.jpg Seção 2 - O Positivismo ?? VOCÊ SABIA? A frase “Ordem e Progresso” da nossa bandeira foi construída com base na teoria positivista? Bases Filosóficas.indd 14 13/4/2011 17:28:14 EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O 15UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA http://www.atividadespedagogicasdivertidas.blogger.com.br/ban- deira%20do%20brasil.jpg O Século XIX trás uma nova corrente filosófica: o Positivismo. Desenvolvido a partir das idéias de Augusto Comte, tinha como principal pressuposto abandonar qualquer vestígio de religiosidade e emoção no âmbito do método científico. Para Comte o conhecimento era positivo quando fundado na observação, porém em observação orien- tada por um método. Para isso, ele definia dois tipos de ob- servação: a empírica e a positiva. A primeira – empírica – era vista por ele como uma espécie de observação vulgar, em que simplesmente se observavam os atos em si,sem se estabelecer relação entre os demais fatos observados. A segunda – positiva – precisava seguir algumas regras,entre elas: selecionar, desmembrar, rela- cionar, comparar, medir e estabelecer similaridades, estudar o todo, perceber as repetições e, por fim, “estabelecer leis que possibilitem a previsão de mo- vimentos, regularidade e comportamentos futuros do fato estudado.” (MEKSENAS, 2002, p.78). Consoante essas idéias, temos o que se pode cha- mar de cientificismo, uma visão bastante reducionista, segundo a qual a ciência e suas leis constituiriam o único conhecimento válido, referido na observação, experimentação e matematização de seu objeto, e aplicável não só às ciências naturais, mas a diferentes áreas, entre elas as ciências humanas. Além do redu- cionismo científico a que conduzia esse método, temos também o que se chamou de determinismo, seja ele biológico, geográfico ou histórico, em que se atribuía “[...]ao comportamento humano as mesmas relações invariáveis de causa e efeito que presidem as leis da natureza.” (ARANHA, 2001, p.139). ??? ??? SAIBA MAIS Comte foi um dos precursores da Sociologia e é considerado, também, o fundador desta ciência, a qual acabou definindo como “física social”. Suas idéias foram posteriormente desenvolvidas e aprimoradas por Émile Durkheim, que trouxe para o campo das Ciências Sociais, o método e a objetividade do positivismo na análise dos problemas sociais. Seção 3 - A Sociologia e as teorias clássicas. Durkheim tinha como objetivo principal descobrir as leis de funcionamento da sociedade. Por esse motivo é considerado um dos sistematizadores da corrente funcionalista. Sua obra “Educação e Sociologia” é um marco inovador para aquela época. Enfatiza a origem social da educação com a finalidade de superar sua caracterização predominantemente intelectualista e individualista. ??? ??? SAIBA MAIS Durkheim (1858-1917): um dos primeiros grandes teóricos da sociologia, fundador da “escola sociológica francesa”. Empenhou-se, juntamente com seus colaboradores, em tornar a sociologia um conhecimento autônomo, rigorosamente científico, definindo claramente o seu objeto, a sua metodologia e as suas “aplicações”. (Visão de mundo: positivista, fortemente influenciada pelo organicismo) influenciada pelo organicismo) Para Durkheim, “a educação satisfaz, antes de tudo, as necessidades sociais” e “toda educação consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às quais a criança não teria espontaneamente chegado.” (PEREIRA, 1995, p.42 apud ARANHA, 2001, p. 167). A partir de uma educação imposta de acordo com os padrões sociais, é possível criar o ser social, e, nesse processo, os pais e professores são apenas intermediários. Bases Filosóficas.indd 15 13/4/2011 17:28:14 16 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O Durkheim instituiu a pedagogia como disciplina autônoma, sem dependência obrigatória de outras áreas do conhecimento como, até então, da filosofia, da moral e da teologia. No campo educacional, ressalva as críticas ao método positivista, foi o primeiro sociólogo a colocar a escola como instituição de fundamental importância na formação do indivíduo. Porém é fundamental termos presente que, para Durkheim, Pedagogia e educação eram duas coisas diferentes: A educação é a ação exercida, junto às crianças, pelos pais e mestres. É permanente, de todos os instantes, geral. Não há período na vida social, não há mesmo, por assim dizer, momento no dia em que as novas gerações não estejam em contato com seus maiores e, em que, por conseguinte, não recebam deles influência educativa.(DURKHEIM, 1978, p.57). Procurando interpretar as suas idéias, é possível perceber que, para ele, educação se dava por meio de ações exercidas cotidianamente, tanto de maneira formal, por mestres e nas escolas, como de maneira informal, pela família; já, a Pedagogia era uma área de conhecimento teórico, como você pode ver a seguir: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/1508/ imagens/Method_Paulo_Freire.jpg As teorias chamadas pedagógicas são especulações de gênero muito diverso. Seu objetivo não é o de des- crever ou explicar o que é ou o que tem sido, mas, de determinar o que deve ser. Não estão orientadas nem para o presente nem para o passado, mas para o futuro. Não se propõem a exprimir fielmente certas realidades, mas a expor preceitos de condutas. Elas não nos dizem: ‘eis o que existe e por que existe’. Mas, sim: ‘eis o que será preciso fazer’. (DURKHEIM, 1978, p. 64). Apesar de diferenciar Pedagogia e educação, pode- mos perceber que Durkheim aponta, de certa forma, a existência de uma relação e dependência entre ambas. Indo além, no que diz respeito a seu entendimento sobre a função da educação e da escola, podemos perceber, sobretudo, que Durkheim atrela a educação às necessidades sociais. Sendo o fim último da educação socializar e renovar as condições da existência social, vê a escola e a sociedade como duas “instituições” que se completam e interagem._Desta forma, a escola torna-se uma instituição fundamental para a formação moral do indivíduo e tem a função de adaptá-lo às regras sociais por meio da reprodução de hábitos e valores transmitidos pelos adultos às crianças. É impor tante lembrar que, além de Comte e Durkheim, houve outros dois grandes pensadores envolvidos com estudos sociológicos e que tiveram grande influência para a educação daquele momento: Max Weber e Karl Marx. ??? ??? SAIBA MAIS Karl Marx nasceu em 1818 em Trier, sul da Alemanha (então Prússia). Seu pai, advogado, e sua mãe descendiam de judeus, mas haviam se convertido ao protestantismo. Estudou direito em Bonn e depois em Berlim, mas se interessou mais por filosofia e história. Em 1843, casou-se com a namorada de infância, Jenny von Westphalen. O casal se mudou para Paris, onde Marx aderiu à militância comunista, atraindo a atenção de Friedrich Engels, depois amigo e parceiro. Foi expulso de Paris em 1845, indo morar na Bélgica, de onde também seria deportado. Nos anos seguintes, se engajou cada vez mais na organização da política operária, o que despertou a ira de governos e da imprensa. Em 1871, a eclosão da Comuna de Paris o tornou conhecido internacionalmente. Na última década de vida, sua militância tornou-se mais crítica e indireta. Marx morreu em 1883, em Londres. http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/karl- marx-307009.shtml <acesso em: 04.04.2010 Karl Marx foi um dos importantes pensadores das Ciências Sociais , “ a obra de Marx reúne uma grande variedade de textos: reflexões curtas sobre questões políticas imediatas, estudos históricos, escritos mili- tantes – como O Manifesto Comunista, parceria com Friedrich Engels – e trabalhos de grande fôlego, como Bases Filosóficas.indd 16 13/4/2011 17:28:15 EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O 17UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA sua obra-prima, O Capital, que só teve o primeiro de quatro volumes lançado antes de sua morte. A complexidade da obra de Marx, com suas constantes autocríticas e correções de rota, é responsável, em parte, pela variedade de interpretações feitas por seus seguidores. Em O Capital, Marx realiza uma investigação profunda sobre o modo de produção capitalista e as condições de superá-lo, rumo a uma sociedade sem classes e na qual a propriedade privada seja extinta. Para Marx, as estruturas sociais e a própria organização do Estado estão diretamente ligadas ao funcionamento do capitalismo. Por isso, para o pensador, a idéia de revolução deve implicar mudanças radicais e globais, que rompam com todos os instrumentos de dominação da burguesia. Marx abordou as relações capitalistas como fenô- meno histórico, mutável e contraditório, trazendo em si impulsos de ruptura. Um desses impulsos resulta do processo de alienação a que o trabalhador é submetido, segundo o pensador. Por causa da divisão do traba- lho – característica do industrialismo, em que cabe a cada umapenas uma pequena etapa da produção –, o empregado se aliena do processo total. Além disso, o retorno da produção de cada homem é uma quantia de dinheiro, que, por sua vez, será tro- cada por produtos. O comércio seria uma engrenagem de trocas em que tudo – do trabalho ao dinheiro, das máquinas ao salário – tem valor de mercadoria, multi- plicando o aspecto alienante. Por outro lado, esse processo se dá à custa da con- centração da propriedade por aqueles que empregam a mão-de-obra em troca de salário. As necessidades dos trabalhadores os levarão a buscar produtos fora de seu alcance. Isso os pressiona a querer romper com a própria alienação. Um dos objetivos da revolução prevista por Marx é recuperar em todos os homens o pleno desenvolvi- mento intelectual, físico e técnico. É nesse sentido que a educação ganha ênfase no pensamento marxista. “A superação da alienação e da expropriação intelectual já está sendo feita, segundo Marx”, diz Leandro Konder. “O processo atual se aceleraria com a revolução proletária para alcançar, afinal, as metas maiores na sociedade comunista.” Aprendizagem para a mente, o corpo e as mãos Combater a alienação e a desumanização era, para Marx, a função social da educação. Para isso seria ne- cessário aprender competências que são indispensáveis para a compreensão do mundo físico e social. O filósofo alertava para o risco de a escola ensinar conteúdos sujeitos a interpretações “de partido ou de classe”. Ele valorizava a gratuidade da educação, mas não o atrelamento a políticas de Estado – o que equivaleria a subordinar o ensino à religião. Marx via na instrução das fábricas, criada pelo capitalismo, qualidades a ser aproveitadas para um ensino transformador – principal- mente o rigor com que encarava o aprendizado para o trabalho. O mais importante, no entanto, seria ir contra a tendência “profissionalizante”, que levava as escolas industriais a ensinar apenas o estritamente necessário para o exercício de determinada função. Marx entendia que a educação deveria ser ao mesmo tempo intelectual, física e técnica. Essa concepção, chamada de “onila- teral” (múltipla), difere da visão de educação “integral” porque esta tem uma conotação moral e afetiva que, para Marx, não deveria ser trabalhada pela escola, mas por “outros adultos”. O filósofo não chegou a fazer uma análise profunda da educação com base na teoria que ajudou a criar. Isso ficou para seguidores como o ita- liano Antonio Gramsci (1891-1937), o ucraniano Anton Makarenko (1888-1939) e a russa Nadia Krupskaia (1869-1939).” http://Educarparacrescer.Abril.Com.Br/Aprendizagem/ Karl-Marx-307009.Shtml?Page=Page2 <Acesso em: 21.04.2010> Bases Filosóficas.indd 17 13/4/2011 17:28:15 18 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O Seção 4 - O Brasil pensando a educação. No Brasil do final do século XIX e início do século XX, muitas eram as perguntas que instigavam os di- versos grupos de intelectuais. Perguntas do tipo O que é o Brasil? e Como é a sociedade brasileira? levaram muitos estudiosos a se preocuparem em compreender as relações e a composição da sociedade daquele momento. De início, temos em Machado de Assis e Euclides da Cunha importantes pensadores sociais. Enquanto o primeiro retratava as relações sociais urbanas em obras como Esaú e Jacó, o segundo voltava seu olhar para questões sociais do Brasil rural – um exemplo é o seu clássico Os Sertões, em que relata o trágico episódio de Canudos. Posteriormente, outros estudiosos foram surgindo como representantes do pensamento social brasileiro, entre eles Sérgio Buarque de Holanda, com a obra Raízes do Brasil, e Caio Prado Junior, com História Econômica do Brasil, ambos seguidores de diferentes concepções teóricas. Cabe assinalar a importância de Anísio Tei- xeira, educador de grande expressão não apenas por pensar a questão educacional brasileira, mas por pro- por mudanças no sistema de ensino público nacional; e, ainda, Fernando Azevedo, um dos idealizadores do ensino público e laico no Brasil. Na primeira metade do século XX, um outro nome teve grande destaque no contexto dos estudos sociológicos e se tornou um dos grandes expoentes da sociologia brasileira: trata-se de Florestan Fernandes, com obras importantes como Ensaios de Sociologia Geral e Aplicada. No Brasil, diversos fatores contribuíram para a inserção de novas idéias na educação e inclusão da Sociologia nos currículos escolares. Entre eles, temos: o fim da Primeira Guerra Mundial; a industrialização e a urbanização, estas que traziam à tona um novo grupo nacional, uma espécie de pequena burguesia, a qual almejava o acesso à educação, algo principalmente reservado aos grupos aristocratas espalhados pelo Brasil. http://contosdocovil.files.wordpress.com/2008/05/machassis.jpg Esses fatores, e tantos outros, contribuíram para mudar a estrutura econômica e política do país. Neste contexto, o estudo da Sociologia passou a ser visto como de fundamental importância na educação das futuras gerações, contemplando a formação de per- fis de liderança nos diferentes setores da sociedade brasileira. Nesse contexto, houve alguns movimentos muito importantes em favor da educação nacional, entre eles: o entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico, os quais acabaram influenciando um grupo de educado- res nacionais em prol do movimento conhecido como Escola Nova. Educadores, entre eles Anísio Teixeira e Fernando Azevedo, introduziram o pensamento liberal- democrático na educação, em defesa de uma escola pública para todos, com o objetivo de alcançar uma sociedade igualitária e sem privilégios. ??? ??? SAIBA MAIS No Brasil, as idéias da Escola Nova foram inseridas em 1882 por Rui Barbosa (1849-1923). O grande nome do movimento na América foi o filósofo e pedagogo John Dewey (1859- 1952). John Dewey, filósofo norte americano influenciou a elite brasileira com o movimento da Escola Nova. Para John Dewey a Educação, é uma necessidade social. Por causa dessa necessidade as pessoas devem ser aperfeiçoadas para que se afirme o prosseguimento social, assim sendo, possam dar prosseguimento às suas idéias e conhecimentos. http://www.educador.brasilescola.com/gestao-educacional/ escola-nova.htm <Acesso em: 04.04.2010> Bases Filosóficas.indd 18 13/4/2011 17:28:15 EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O 19UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Segundo Machado (2002), este movimento defendia o ensino público como a única forma de se alcançar uma sociedade mais justa e democrática. O grupo desejava uma escola única e para todos, gratuita, leiga, nacional e, principalmente, organizada pelo Estado e não, pela Igreja. Em 1932, é publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, encabeçado por Fernando Azevedo e assinado por outros 26 educadores de expressão nacional. http://www.nndb.com/people/982/000111649/getulio-vargas-1.jpg Passado o período da ditadura Vargas, muitas mu- danças começam a marcar o cenário nacional. A partir da segunda metade da década de 40, a realidade brasi- leira irá passar por novas transformações, com efetivos reflexos nos enfoques selecionados pela Sociologia. No curso da década de 50, os sociólogos preocupam-se com a constituição de uma sociedade mais justa e democrática. E, em meio à escolha de governos democráticos, a população cultiva a es- perança de ver mudanças e desenvolvimento no país, através de um projeto político que prometia “crescer 50 anos em 5”. Desde então, a Sociologia consolida-se no país, com uma nova geração de sociólogos que busca indepen- dência das idéias européias, passando a analisar os diferentes problemas sociais brasileiros a partir de sua própria realidade. Entre os problemas em pauta, temos a educação que, principalmente a partir da década de 60, passa a constituir objeto de pesquisa da Sociologia Brasileira. Naquele momento, tinha-se como mote das discussões o papelda educação na mudança social e no desenvolvimento econômico do país, entendendo-se a educação como fator de transformação social. Estudos mais específicos sobre a cultura brasileira também eram alvo de suas pesquisas, como os que discutiam e questionavam “o mito da democracia racial”. Florestan Fernandes sustentava que existia no Brasil muita discriminação e exclusão social em rela- ção aos afrodescendentes, diferentemente de Gilberto Freyre, o qual afirmava haver uma suposta “harmonia entre as raças”. http://www2.fpa.org.br/uploads/img4a7c974009593.jpg Especificamente sobre a educação no Brasil, Flores- tan a via como excludente das classes trabalhadoras e pobres, no que dizia respeito não somente ao acesso à escola, como também, à continuidade dos estudos. Para ele, as instituições de ensino no Brasil não se adequavam à realidade nacional, nem em termos de qualidade, nem em termos de quantidade. Isto se devia, principalmente, às ultrapassadas téc- nicas de intervenção na realidade do estudante e à falta de investimentos na educação. Para ele, o descaso com a educação no Brasil era uma forma de perpetuação no poder pelas classes dominantes, barrando, assim, uma possível ascensão das classes trabalhadoras. Defendia a idéia de que a educação poderia oferecer situações que contribuiriam na construção de uma realidade social mais justa e democrática; e afirmava que a escola, do modo como estava organizada, servia Bases Filosóficas.indd 19 13/4/2011 17:28:15 20 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O para convencer a sociedade e não, para transformar a realidade. As ciências sociais ofereceram conteúdo intelectual e legitimidade acadêmica aos apelos populares, tanto pela intervenção de intelectuais na política, quanto pela criação de instituições especializadas de pesquisa. Nos anos 50, por meio da criação do Centro Brasileiro de Pesquisa Educacional, efetivou-se finalmente o encontro entre ciências sociais e educação. Então, expoentes como Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes e Oracy Nogueira conduziam pesquisas sociológicas sobre os problemas brasileiros, entre eles a dívida que o Brasil tinha com relação ao oferecimento de educação básica. http://www.scielo.br/img/revistas/ea/v15n42/12f1.gif Neste período aflorou a demanda pela educação popular e pelo aumento na oferta de ensino às classes até então excluídas deste processo. Como um ressur- gimento de questões sociais tão antigas e caracteristi- camente brasileiras, este velho problema precisava ser pelo menos amenizado. Não apenas cientistas sociais renomados, como os que citamos, se envolveram com a questão: a própria Igreja Católica trouxe à tona valo- res da teoria da libertação, tornando militantes alguns segmentos do clero e quebrando, de certa forma, a homogeneidade no modo de pensar e agir que se veri- ficara naquele âmbito, na década de 30. As diferenças de paradigmas entre os setores mais conservadores e mais progressistas eram visíveis e a chamada teoria da libertação deslocou da elite para as camadas excluídas da população o foco da Igreja. http://www1.folha.uol.com.br/fol/pol/images/dar17022.jpg Foi nessa atmosfera que surgiram diversos movi- mentos de educação popular. Com diferentes concep- ções ideológicas e de influência tanto marxista quanto cristã, atuavam de formas variadas. Através de peças de teatro, atividades nos sindicatos e nas universi- dades; promoviam cursos, exposições, publicações, exibição de filmes e documentários visando ao acesso à educação; alfabetizavam a população rural ou urbana marginalizada; e treinavam líderes locais, propondo uma maior participação política em suas comunidades. : Os principais movimentos foram os seguintes: • Movimento de Educação de Base (MEB): dirigia- se às classes trabalhadoras com o objetivo de ampliar o universo cultural e educacional de setores da população brasileira. Foi criado em 1961 pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e era mantido econo- micamente pelo governo federal. • Centros Populares de Cultura ! (CPC): surgiu em 1961, por iniciativa da UNE (União Nacional dos Estudantes), caracterizando-se também como de caráter pedagógicocultural de conscientização política Bases Filosóficas.indd 20 13/4/2011 17:28:16 EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O 21UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA e mobilização social. Levavam teatro, cinema, artes plásticas, literatura e outros bens culturais ao povo; • Movimentos de Cultura Popular ! (MCP): tendo sido o primeiro ligado à prefeitura de Recife, iniciou suas ações em 1960 e tinha como objetivo ampliar o universo cultural dos segmentos populares brasileiros. Paulo Freire integrou este movimento. Paulo Reglus Neves Freire nasceu no dia 19 de setembro de 1921, no Recife, Pernambuco, uma das regiões mais pobres do país, onde logo cedo pôde experimentar as dificuldades de sobrevivência das classes populares. Trabalhou inicialmente no SESI (Serviço Social da Indústria) e no Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife. Ele foi quase tudo o que deve ser como educador, de professor de escola a criador de idéias e “métodos”. http://www.ivanvalente.com.br/CANAIS/especiais/paulofreire/img/ fotos/freire_cortella.jpg Em 1969, trabalhou como professor na Universidade de Harvard, em estreita colaboração com numerosos grupos engajados em novas experiências educacionais tanto em zonas rurais quanto urbanas. Durante os 10 anos seguintes, foi Consultor Especial do Departamento de Educação do Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra (Suíça). A Paulo Freire foi outorgado o título de doutor Ho- noris Causa por vinte e sete universidades. Por seus trabalhos na área educacional, recebeu, entre outros, os seguintes prêmios: “Prêmio Rei Balduíno para o Desenvolvimento” (Bélgica, 1980); “Prêmio UNESCO da Educação para a Paz” (1986) e “Prêmio Andres Bello” da Organização dos Estados Americanos, como Educador do Continentes (1992). No dia 10 de abril de 1997, lançou seu último livro, intitulado “Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa”. Paulo Freire faleceu no dia 2 de maio de 1997 em São Paulo. ht tp://www.paulofreire.org/pub/Crpf/CrpfAcer- vo000031/Vida_Biografias_Pequena_Biografia_v1.pdf São<acesso em 14.04.10> Alguém fala sobre: Paulo Freire A ESCOLA COMO ESPAÇO DE RELAÇÕES E APREN- DIZAGEM Moacir Gadotti – USP; IPF gadotti@paulofreire.org A escola é um espaço de relações. Nesse sentido cada escola é única, fruto de sua história particular, de seu projeto e de seus agentes. Como lugar de pessoas e de relações, é também um lugar de representações sociais. Como instituição social ela tem tanto contri- buído para a manutenção quanto para a transformação social. Numa visão transformadora ela tem um papel essencialmente critico e criativo. A escola não é só um lugar para estudar, mas para se encontrar, conversar, confrontar-se com o outro, discutir, fazer política. Deve gerar insatisfação com o já dito, o já sabido, o já estabelecido. Só é harmoniosa a escola autoritária. A escola não é só um espaço físico. É, acima de tudo, um modo de ser, de ver. Ela se define pelas relações sociais que desenvolve. E se ela quiser sobreviver como instituição, no século 21, precisa buscar o que é specífico dela numa sociedade de redes e de movimentos que é a sociedade atual. A Bases Filosóficas.indd 21 13/4/2011 17:28:16 22 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O escola não pode mudar tudo e nem pode mudar a si mesma sozinha. Ela está intimamente ligada à sociedade que a mantém. Ela é, ao mesmo tempo, fator e produto da sociedade. Como instituição social, ela depende da sociedade e para mudar-se depende também da rela- ção que mantém com outras escolas, com as famílias, aprendendo em rede com elas, estabelecendo alianças coma sociedade, com a população. Não somos seres determinados, mas, como seres inconclusos, inacabados e incompletos, somos seres condicionados. O que aprendemos depende das con- dições de aprendizagem. Somos programados para aprender, mas o que aprendemos depende do tipo de comunidade de aprendizagem a que pertencemos. A primeira comunidade de aprendizagem a que perten- cemos é a família, o grupo social da infância. Daí a importância desse condicionante no desenvolvimento futuro da criança. A escola, como segunda comunidade de aprendizagem da criança, precisa levar em conta a comunidade não-escolar dos aprendentes. Quando os pais, mães, ou seus responsáveis, acom- panham a vida escolar de seus filhos, aumentam as chances da criança aprender. Os pais precisam também continuar aprendendo. Se qualidade de ensino é aluno aprendendo, é preciso que ele saiba disso: é preciso “combinar” com ele, envolvê-lo como protagonista de qualquer mudança educacional. O fracasso de muitos projetos educacionais está no fato de desconhecer a participação dos alunos. O aluno aprende quando o pro- fessor aprende; ambos aprendem quando pesquisam. Como diz Paulo Freire em sua Pedagogia da autono- mia (p. 32), “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”. Vivemos hoje numa sociedade de múltiplas opor- tunidades de aprendizagem, chamada de “sociedade aprendente”, na qual as conseqüências para a escola, para o professor e para a educação em geral, são enormes. Torna-se fundamental aprender a pensar autonomamente, saber comunicar-se, saber pesquisar, saber fazer, ter raciocínio lógico, aprender a trabalhar colaborativamente, fazer sínteses e elaborações teóri- cas, saber organizar o próprio trabalho, ter disciplina, ser sujeito da construção do conhecimento, estar aberto a novas aprendizagens, conhecer as fontes de infor- mação, saber articular o conhecimento com a prática e com outros saberes. Nesse contexto de impregnação da informação, o professor é muito mais um mediador do conhecimen- to, um problematizador. O aluno precisa construir e reconstruir o conhecimento a partir do que faz. Para isso, o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o quefazer dos seus alunos. Ele deixará de ser um lecionador para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem. Poderíamos dizer que o professor se tornou um aprendiz permanente, um construtor de sentidos, um cooperador, e, sobretudo, um organizador da aprendi- zagem. Não há ensino-e-aprendizagem fora da “pro- cura, da boniteza e da alegria”, dizia-nos Paulo Freire. A estética não está separada da ética. E elas se farão presentes quando(...). (...) Ninguém nega a importância da escola para a formação da cidadania e como forma de se preparar para o trabalho. Entretanto, muitos se perguntam para que servem esses anos de estudo. Por isso, saber dis- tinguir o essencial do secundário é muito importante; saber distinguir o estrutural do conjuntural é decisivo. E saber aonde queremos chegar é crucial. Educar para quê? Com que mundo sonhamos? Como educar para um outro mundo possível? A escola é conseqüência de um longo processo de compreensão/realização do que é essencial, do que é permanente, e do que é transitório para que um cidadão exerça criticamente a sua cidadania e construa um projeto de vida considerando as dimensões individual e coletiva para viver bem em sociedade. Paulo Freire foi um defensor da escola pública que é a escola da maioria, das periferias, dos cidadãos que só podem contar com ela. A escola pública do futuro, numa Bases Filosóficas.indd 22 13/4/2011 17:28:16 EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O 23UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA visão cidadã freireana, tem por objetivo oferecer possi- bilidades concretas de libertação para todos. (...) http://www.isecure.com.br/anpae/342.pdf<acesso em: 12.04.2010> Depois desta viagem pela historia da educação convido você a ler no texto da coluna “Saiba Mais” um interessante artigo a educação e o pensador clássico da Sociologia Max Weber. ??? ??? SAIBA MAIS http://frr2010.files.wordpress.com/2010/02/max_weber2.jpg Max Weber (Sociólogo, historiador e político alemão) 21-4-1864, Erfurt 14-6-1920, Munique Weber é considerado, junto com Karl Marx e Émile Durkheim, um dos fundadores da sociologia e dos estudos comparados sobre cultura e religião, disciplinas às quais deu um impulso decisivo. A sua abordagem diferia da de Marx, que utilizou o materialismo dialético como método para explicar a evolução histórica das relações de produção e das forças produtivas. Contrastava igualmente com as propostas de Durkheim, que considerava ser a religião a chave para entender as relações entre o indivíduo e a sociedade. Para Weber, o núcleo da análise social consistia na interdependência entre religião, economia e sociedade. SUGESTÃO DE ATIVIDADE 1 – Leia a citação a seguir, faça um pequeno comentário sobre a sua aplicabilidade, ou não, no atual contexto educacional. Posicione-se de forma crítica e utilize exemplos que justifiquem o seu posicionamento. “O homem que a educação deve realizar, em cada um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja; e ela o quer conforme o reclame a sua economia interna, o seu equilíbrio” (Émile Durkheim) 2 - Cite dois aspectos que foram fundamentais para a constituição do pensamento sociológico no mundo e no Brasil. A Corrente do Bem Eugene Simonet (Kevin Spacey), um professor de Estudos Sociais, faz um desafio aos seus alunos em uma de suas aulas: que eles criem algo que possa mudar o mundo. Trevor McKinney (Haley Joel Osment), um de seus alunos e incentivado pelo desafio do professor, cria um novo jogo, chamado “pay it forward”, em que a cada favor que recebe você retribui a três outras pessoas. Surpreendentemente, a idéia funciona, ajudando o próprio Eugene a se desvencilhar de segredos do passado e também a mãe de Trevor, Arlene (Helen Hunt), a encontrar um novo sentido em sua vida www.adorocinema.com/filmes/pay-it-forward/<acesso em:02.04.2010> ??? ??? SAIBA MAIS A EDUCAÇÃO À LUZ DA TEORIA SOCIOLÓGICA WE- BERIANA Wânia R. C. Gonzalez (UNESA) Weber não privilegiou em sua análise sobre a sociedade capitalista a ocorrência de uma relação harmoniosa entre os indivíduos. Reconheceu, inclusive, a ocorrência de uma luta latente pela existência entre os indivíduos e a denominou de seleção social. Bases Filosóficas.indd 23 13/4/2011 17:28:16 24 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O O sociólogo diferenciou os termos seleção, seleção social e seleção biológica. A luta pela existência entre os indivíduos, quando não é intencional, é denominada seleção; quando se relaciona às chances que os indi- víduos têm na vida, é denominada seleção social. A seleção biológica é a que se relaciona às chances de sobrevivência decorrentes do patrimônio genético de cada indivíduo. A seleção é permanente nas sociedades, e não existem meios de eliminá-la globalmente, a não ser teórica ou utopicamente. O autor entende que, a longo prazo, toda luta acarreta a seleção dos indivídu- os possuidores de determinadas qualidades pessoais, e que o fator sorte também contribui para o êxito ou fracasso. A educação é um elemento importante por favorecer o êxito do indivíduo na seleção social. Um outro aspecto destacado pelo autor consiste em considerar a educação como uma relação associativa, tal como qualquer relação social, orientada racional- mente a um fim que pode criar valores diferentesdos intencionados. A educação pressupõe uma associação entre os indivíduos, e estes visam a um determinado objetivo.(...) (...)Weber constatou que determinadas formas de educação estamentais tendem a criar profissões qualificadas De uma maneira geral, as profissões pressupõem um mínimo de instrução e possibilidades contínuas de aquisição. As escolhas das profissões podem ser determinadas pela tradição (profissão he- reditária), por uma consideração racional (renda) e por motivos afetivos. Como anteriormente mencionado, a educação é um elemento que contribui, para a seleção social e possui finalidades distintas de acordo com o tipo de dominação existente numa determinada sociedade. Convém ressal- tar que a dominação ocorre em diferentes instituições, inclusive na escola.(...) (...)Weber, atribui um importante papel às famílias no processo de socialização das crianças. Em Economia e Sociedade, o autor, ao se referir às formas de criação dos direitos subjetivos, fez uma menção à importância da família na educação dos jovens e das crianças. Ele enfatizou que o repúdio ao divórcio nas classes médias estava relacionado às dificuldades que a desagregação familiar traz para a educação das crianças e jovens. Com o refinamento da cultura, tornam-se, cada vez mais, maiores as exigências dos indivíduos quanto ao cuidado dos filhos por parte dos casais. Dessa forma, o autor torna explícita que a sua abordagem da edu- cação não se restringe à instituição escolar.(...). Mas a originalidade da relação efetuada pelo autor entre educação e seleção social deve-se ao fato de ele ter reconhecido que: a) Existem relações associativas nas quais a admis- são se dá em virtude de determinadas qualificações específicas dos indivíduos, que são examinadas e precisam do consentimento dos demais membros. Esse processo seletivo ocorre nos diversos tipos de associação,( ) inclusive na educação; b) A obtenção de vantagens econômicas leva os indivíduos a limitá-la a um grupo reduzido de pessoas, pois quanto mais reduzido é o grupo de pessoas per- tencentes a uma associação que lhes possibilita “legiti- mações” e “conexões” economicamente aproveitáveis, maior é o prestígio social de seus membros; c) A ação social, quando assume a forma de uma relação associativa, constitui uma “corporação”. A monopolização de uma “profissão” ocorre a partir de um grupo de pessoas que adquire direitos plenos sobre ela. Os referidos direitos em relação à profissão são adquiridos mediante a preparação de acordo com as normas da profissão, a comprovação da qualificação e a prestação de determinados serviços em determinados períodos de carência; d) A educação religiosa contribui para o êxito na seleção social. Essa interpretação de Weber pode ser ilustrada com a sua afirmação de que algumas religiões, o calvinismo e pietismo, foram as produtoras da cultura do capitalismo. A grande contribuição de Weber para a Sociologia da Educação está em sua abordagem da educação como um processo amplo de socialização. Weber possuía um conceito amplo de educação( ) que engloba: a educação religiosa, a educação familiar, a educação carismática, a educação filosófica, a educação literária, a educação política e a educação especializada.(...) www.anped.org.br/reunioes/25/.../educacaoteoriawe- beriana.doc<acesso em :14.04.2010> Bases Filosóficas.indd 24 13/4/2011 17:28:16 EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O 25UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA UNIDADE 2 - SOCIEDADE, CULTURA E PROCESSO EDUCATIVO Iniciando os estudos Nesta unidade 2, você vai ver o que é Cultura e como através do tempo esse conceito mudou e qual a relação entre Cultura, sociedade e processo educativo. Vamos então? ?? VOCÊ SABIA? Segundo Santos (1994) cultura é “uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concep- ções, como por exemplo se poderia dizer da ate. Não é apenas uma parte da vida social como por exemplo se poderia falar da religião. Não se pode dizer que cultura seja algo independente da vida social, algo que nada tenha a ver com a realidade onde existe. Entendida dessa forma, cultura diz respeito a todos os aspectos da vida social, e não se pode dizer que ela exista em alguns contextos e não em outros. Cultura é uma construção histórica, seja como con- cepção, seja como dimensão do processo social. Ou seja, a cultura não é algo natural, não é uma decorrência de leis físicas ou biológicas. Ao contrário, a cultura é um produto coletivo da vida humana. Isso se aplica não apenas à percepção da cultura, mas também à sua relevância, à importância que passa a ter. Aplica-se ao conteúdo de cada cultura particular, produto da história de cada sociedade. Cultura é um território bem atual das lutas sociais por um destino melhor. É uma realidade e uma concepção que precisam ser apropriadas em favor do progresso social e da liberdade, em favor da luta contra a exploração de uma parte da sociedade por outra, em favor da superação da opressão e da desigualdade. Contudo a cultura antes não era pensada desta forma, o conceito de cultura era construído e signi- ficava tudo àquilo que a humanidade havia produzido de melhor qualidade, a avaliação levava em conta um conjunto de elementos como: a arte, a filosofia, a ciência, a literatura etc. Esse conceito construído na Idade Moderna percebia a cultura como única, universal, totalizante e referência de desenvolvimento. Por muito tempo, e não é raro percebermos o efeito disso, a idéia de uma diferenciação construída em dois níveis distintos, a saber: a alta cultura que abrigava a todos que conseguiram chegar aos padrões estabele- cidos como de boa qualidade e a baixa cultura lugar dos desfavorecidos e onde estavam todos que não alcançaram a dita “plenitude” cultural. Daí surgiram várias frases que se repetem até hoje como: “ o problema do Brasil é a falta de cultura” ; “ aquele fulano é muito culto” ou “ aquele grupo conse- gui porque tem mais cultura que o outro” Em qualquer desses casos é evidente o recurso ao conceito de cul- tura como um elemento de diferenciação assimétrica e de justificação para a dominação e a exploração. Vale resaltar que boa parte do parte do pensamento pedagógico moderno alimentou-se desse – ao mesmo tempo que alimentou esse – entendimento de Cultura. Vamos a partir de agora fazer uma reflexão critica e desconstruir juntos esse paradigma que ainda persiste em algumas sociedades e centros de educação. Seção 2 – Etnocentrismo, construção e desconstrução O etnocentrismo consiste em privilegiar um universo de representações propondo-o como modelo e reduzindo à insignificância os demais universos e culturas “diferentes Em palestra proferida nos Seminários de Cultura, Escola e Cotidiano Escolar - FEUSP, em 1996 o profes- sor José Carlos de Paula Carvalho, Professor Titular da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, nos agraciou com a seguinte definição: De fato, trata-se de uma violência que, historicamente, não só se concretizou por meio da violência física contida nas Bases Filosóficas.indd 25 13/4/2011 17:28:16 26 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O diversas formas de colonialismos, mas, sobretudo, disfar- çadamente por meio daquilo que Pierre Bourdieu chama “violência simbólica”, que é o “colonialismo cognitivo” na antropologia de De Martino. Privilegia-se um referen- cial teórico-prático que segue o “padrão da racionalidade técnica” (Lévi-Strauss), escolhendo-se, assim, o único tipo de cultura e educação com ele compatíveis (“cultura hegemônica” e “culturas subalternas”), declarando-se “out- ras” as culturas diferentes com orientações incompatíveis com o referencial escolhido; procura-se reduzi-las nas suas especificidades e diferenças tornando-as mais difer- entes do que são e, a seguir, são exorcizadas,por meio de várias estratégias. Em profundidade está-se projetando “fora”, como Outro e como Sombra, o que é incompatível e perigoso reconhecer que pertença ao universo da cultura padrão escolhida. A educação e as organizações educativas são instrumentos culturais desse colonialismo cognitivo: é o etnocentrismo pedagógico e o correlato psico-cultural do “furor pedagógico”, uma gestão escolar autoritária e imposi- tiva para nivelar as diferenças das culturas grupais por meio do planejamento Como acontece o etnocentrismo no ambiente escolar O professor Neri de Paula Carneiro* afirma que “as realidades que manifestam algum tipo de choque cultural podem ser vistas como uma manifestação etno- cêntrica não só nas relações sociais como também no ambiente escolar e dentro da sala de aula. O etnocen- trismo manifesta-se como uma espécie de monólogo: um “eu” conversando consigo mesmo, desconsidera a fala do “outro” e os possíveis valores desse outro. Ou, pior ainda, nega o outro ao mesmo tempo em que nega sua fala; ao lhe negar a fala, nega seu valor e esse “eu” faz isso se supervalorizando e se afirmando. Mestre em Educação pela UFMS. Especialista em Educação; Especialista em Didática do Ensino Supe- rior; Especialista em Teologia; Professor de História e Filosofia na rede estadual, (R. Moura – RO). Filósofo; Teólogo; Historiador; Professor de Filosofia e Ética na Faculdade de Pimenta Bueno (FAP). In. http://www. superartigos.com/pdf/article-374.pdf Quando esse monólogo ocorre amplia-se a rivali- dade, pois, nesse caso se acentuam as diferenças. A manifestação das diferenças, quando observada no ambiente escolar, passa a ser vista não como elemento educativo, mas como elemento provocador de maior divisão, pois, a partir da postura etnocêntrica, não se acentua o diferente como elemento agregador de valores, mas como elemento negador de proximidade. Assim sendo, o “eu” relaciona-se com meus iguais negando os diferentes e as diferenças. Observa-se, portanto que os diferentes não se completam nem se atraem, como se diz na gíria popular, mas se repelem. A tendência é nos aproximarmos dos nossos iguais ou dos conhecidos afastando-nos dos diferentes ou estranhos. Essa situação pode ser comprovada, em sala de aula, na medida em que os professores propõem trabalhos em grupo, alterando as relações e grupos já cristalizados: ocorre uma forte resistência, por parte dos estudantes. E fazem isso apresentando os mais diferentes argumentos. Outra questão a ser observada é com relação à postura do professor em relação aos grupos ou pos- turas comportamentais dos alunos. Quando isso se manifesta na sala de aula, muitas vezes a tendência do professor não é observar o que está ocorrendo e buscar uma alternativa dialogada para, a partir das diferenças, construir relações de busca de pontos convergentes, mas de tomar partido. Tomando partido o professor está julgando um contra o outro, pois o professor toma partido. Em geral o professor toma partido, porque ele tam- bém se identifica com este ou aquele grupo. Entre o grupo dos comportadinhos e os “peraltas do fundão” é quase comum o professor optar pelos comportados, desenvolvendo uma postura hostil em relação aos peraltas. Nisso já está manifestado um ato de escolha o qual decorre dos juízos produzidos; juízos esses que nascem a partir dos valores desenvolvidos e prezados pelo professor que valoriza aqueles que manifestam ati- tudes que se aproximam dos comportamentos previstos nas normas propostas (ou impostas) pelo professor. Da mesma forma que no ambiente escolar deve haver uma constante vigilância no sentido de minimizar imposições etnocêntricas, criando um ambiente em que seja possível relações relativizadoras o professor deve se manter vigilante. Não se trata de negar os valores pelos quais a escola preza, mas de criar ambientes capazes de estabelecer diálogos em que os diferen- tes possam se manifestar em sua plenitude para, ao serem conhecidos, serem valorizados e a partir disso Bases Filosóficas.indd 26 13/4/2011 17:28:17 EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O 27UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA seja possível ocorrer os processos de aprendizado. Cabe ressaltar que é possível mais aprender com o diferente do que com o semelhante. Aquele a quem já conhecemos raramente nos trará novidades, pois faz parte do nosso cotidiano. Por sua vez o desconhecido ou o membro do outro grupo sempre tem algo que pode nos proporcionar algum aprendizado, pois não convive conosco no cotidiano, e, além disso, possui outras relações, outras informações, outras perspectivas a respeito da realidade e do mundo A relação com o grupo de semelhantes nos ajuda a manter aquilo que já nos é próprio ou as categorias pertencentes ao nosso grupo. A relação com os semelhantes é uma relação de manutenção e preservação de valores e não a abertura de novos espaços e oportunidades. Exatamente o con- trário é o que acontece na relação com o diferente ou o estranho: essa relação ocorre colocando em cheque os valores e saberes do grupo de semelhantes ao qual nós pertencemos. Além disso o outro coloca em cheque os nossos valores para que possamos nos pré-dispor ao novo. O processo de aprendizagem, assim como o processo de interação só tem perspectivas crescentes quando se consegue ultrapassar as próprias fronteiras, as posturas etnocêntricas, para nos lançar em direção de outros universos. Seção 3 – A educação e a Cultura O Ministério da Cultura nos trás a seguinte relação: A estreita relação entre educação e cultura nos processos de formação da cidadania ressalta o caráter indispensável das ações de integração das manifesta- ções intelectuais e artísticas nas práticas pedagógicas de ensino formal e informal. A correção da fratura entre as formulações e o planejamento das políticas relacionadas às duas áreas deve ser o foco de ações articuladoras das diversas instâncias e esferas da administração pública. Por outro lado, é necessário reconhecer que os problemas de acesso à educação e à cultura produzem impactos mútuos. Entre outros exemplos, estão as lacunas na formação artístico-cultural dos estudantes brasileiros, que desse modo deixam de constituir um grupo social atento e crítico para a recepção e produção de manifestações simbólicas. Os desafios prioritários para uma política cultural atrelada à de educação incluem a capacitação de docen- tes, a disponibilização de bens culturais a professores e alunos, a troca de informações e competências entre os dois campos, o reconhecimento dos saberes tradi- cionais, o compartilhamento de projetos e recursos, o aprimoramento do ensino das artes nas escolas e a transformação dessas instituições em centros de convivência e experiência cultural. Nas instituições de ensino do nível básico ao superior, a política cultural deve promover o acesso a repertórios do Brasil e do mundo, numa perspectiva não-instrumental. http://www.cultura.gov.br/site/pnc/diagnosticos-e- desafios/politicas-intersetoriais/cultura-e-educacao/< acesso em: 14.04.2010> E como você se vê neste desafio? É clara a dificuldade na construção de uma edu- cação que valorize e respeite os amplos limites da Cultura. Sua intrínseca característica de mudanças constante sempre construirá fronteiras e espaços a serem desmembrados, analisados e refletidos. Além de tudo a educação não está apenas para a construção de sistemas emancipatórios. Não raro tornam-se instrumentos ideológicos. Considerando que a educação é uma técnica social e por técnicas sócias entendemos todos os métodos de influenciar o comportamento humano de maneira que este se enquadre nos padrões vigentes de interação e organização sociais, evidentemente pode ser utilizada para fins democráticos ou autoritários, reflexivos ou alienantes. Mannheim (1964) elenca pontos interessantes para pensarmos a educação e a ação do educador: Bases Filosóficas.indd 27 13/4/201117:28:17 28 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O • A educação não molda o homem em abstrato, mas em uma dada sociedade e para ela. • A unidade educacional fundamental nunca é o indivíduo, mas o grupo, que pode variar em extensão, objetivo e função.Com isso variarão os padrões predo- minantes de ação, aos quais terão de conformar-se os membros desses grupos. • Os objetivos educacionais da sociedade não po- dem ser adequadamente entendidos quando separados das situações que cada época é obrigada a enfrentar e da ordem social para a qual eles são formulados. • Para o sociólogo, códigos e normas não cons- tituem fins em si mesmos, mas sempre a expressão de uma interação entre o ajustamento individual e grupal. O fato de as normas não serem absolutas, mas alterarem-se com a mudança da ordem social e auxiliarem na solução dos problemas com que a sociedade se defronta, não pode ser percebido a partir da experiência do indivíduo isolado. Para este, elas parecem decretos absolutos e inalteráveis, e sem essa crença em sua estabilidade elas não podem operar. Sua verdadeira natureza e função na sociedade, como uma forma de adaptação coletiva, revela-se apenas se acompanharmos a sua história através de muitas gerações, sempre as relacionando com a mudança do background social. • Esses objetivos educacionais, em seu contexto social, são transmitidos à nova geração, juntamente com as técnicas educacionais vigentes. As técnicas educacionais, por sua vez, não se desenvolvem isola- damente, mas sempre como parte do desenvolvimento geral das “técnicas sociais”. Assim, a educação apenas será corretamente compreendida se a consideramos como uma das técnicas que influenciam o compor- tamento humano e como um meio de controle social. A menor mudança nessas técnicas e controles mais gerais reflete-se na educação em sentido restrito - ou seja, a processada no interior da escola. • Quanto mais consideramos a educação do ponto de vista de nossa recente experiência, como apenas um dos muitos modos de influenciar o comportamento humano, mais evidente se torna que mesmo a técnica educacional mais eficiente está condenada a falhar, a menos que esteja associada às demais formas de controle social.” A educação é comunicação e elaboração de saberes. É uma relação dialética construída dinamicamente. Charlot (2000) pensa a relação com o saber sendo a relação com o tempo. A apropriação do mundo, a construção de si mesmo, a inscrição em uma rede de relações com os outros - o aprender - requerem tempo e jamais acabam. Esse tempo é o de uma história: a da espécie humana, que transmite um patrimônio a cada geração; a do sujeito; A da linhagem que engendrou o sujeito e que ele engendrará. Esse tempo não é homogêneo, é ritmado por “momentos” significativos, por ocasiões, por rup- turas; é o tempo da aventura humana, da espécie, do indivíduo. Esse tempo, por fim, se desenvolve em três dimensões, que se interpenetram e se supõem uma à outra: o presente, o passado, o futuro.São essas as dimensões constitutivas do conceito de relação com o saber. Analisar a relação com o saber é estudar o sujeito confrontado à obrigação de aprender, em um mundo que ele partilha com outros: a relação com o saber é relação com o mundo, relação consigo mesmo, relação com os outros. Analisar a relação com o saber é analisar uma relação simbólica, ativa e temporal. Essa análise concerne à relação com o saber que um sujeito singular inscreve num espaço social. Bases Filosóficas.indd 28 13/4/2011 17:28:17 EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O 29UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Seção 4 – Processo Educativo O processor educativo pretende as gerações jovens a adquirirem os usos e costumes, as práticas e os hábitos, as idéias e crenças, ou seja, a forma de vida da sociedade em que vivem. Trata-se de um processo que segundo GILES (1983)” vai desde a influência espontânea, ou seja, a educação primitiva, até a influência proposital exercida de acordo com objetivos e ideais específicos: políticos, econômi- cos, religiosos, sem que uma forma exclua necessaria- mente a outra, pois ambas operam em função de uma imagem-ideal em que se empenham não só estruturas tais como o lar, o poder público e a Igreja, mas também, talvez em grau maior, os meios de comunicação social - livros, revistas, rádio, cinema, TV etc. Cada época histórica forja a sua imagem-ideal, que engloba também a antiimagem-ideal, ou seja, aquilo que a sociedade não aceita como padrão de comportamento dos seus membros. Vamos, com o auxilio de GILES(1983), construir um resumido quadro que tentará visibilizar como o imagem ideal se construiu através dos tempos. Fique atento e perceba como o contexto e a cultura modifica o processo educativo. ??? ??? SAIBA MAIS PROCESSO EDUCATIVO* ÉPOCA IMAGEM IDEAL BABILÔNIA PRIMITIVA O ensino terá caráter mágico. O ponto culminante nesse processo é o estudo das ciências astrológicas, que permite a descoberta de regularidades na própria Natureza, além de augurar o destino do homem. PÉRSIA O primeiro passo no processo educativo compete à mãe, que depois entregará a criança ao Estado, ao qual incumbe dar- lhe uma educação intelectual e física. Nesse processo o regime será frugal. O Zendavesta, livro sagrado, é a base para a aprendizagem da leitura e da escrita, a moral e a religião. Mas, uma vez que o processo não visa apenas a formação intelectual e moral, adestra-se o educando na arte das armas Grécia e Roma O modelo que agora surge é o do homem que procura a sabedoria sem jamais possuí-la totalente, do homem que, em vez de transmitir conhecimen- tos, desperta no outro o ideal de quem procura, prepara o educando para a vida considerada como aventura, e não como quadro estratificado; como en- cruzilhada de interesses e de decisões. PLATÃO, inspirando-se SÓCRATES, lança as bases dessa nova imagem- ideal da educação e do homem que dela resulta. Europa medieval Trata-se de um processo educativo que tem por finalidade a imitação do próprio Cristo, imitação que leva o educando a se aproximar da perfeição divina. Portanto, as bases da educação cristã - e estas dominarão a Europa me- dieval - são os ensinamentos de Jesus Cristo, tais como foram transmitidos por intermédio dos quatro evangelistas. Tal passo exigirá a idealização de um processo educativo mais consistente e organizado, o que se fará mediante a formação de escolas catequéticas. Renascen- ça Contra os ideais medievais surge o ho- mem que se sente livre, independente de todos os entraves à realização de uma humanidade inesgotável, surge o homem plenamente consciente do seu valor intrínseco. As virtudes renascen- tistas são o orgulho, a ousadia, a sede pela aventura de viver. Bases Filosóficas.indd 29 13/4/2011 17:28:17 30 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O Iluminismo A base deste processo educativo é a convicção de que a única norma para se julgar a realidade é a luz da razão. Aquilo que não se justifica à luz da razão não pode ser julgado real. A razão é o princípio supremo de juízo diante da realidade. Revolução Francesa O ideal dos novos educadores será o de formar a natureza humana comum a todas as raças e povos. Para isto, propõe-se a criação e a organização de uma instrução pública, comum para todos os cidadãos, gratuita em todos os lugares de ensino, indispensável para todos os homens. Nesse proces- so salienta-se a educação política do cidadão, porquanto, depois de dar ao povo o poder, é necessário ensinar-lhe a sabedoria. A Época Contempo- rânea o educador poderá levar o educando a ser espontâneo, limitando-se a sugerir e nunca a impor. Toda atividade deve surgir de dentro, em função dos interes- ses e das necessidades do educando. Em outras palavras, todo o processo de aprendizagem devepartir do próprin educando. Conseqüentemente, o pro- cesso educativo exclui a transmissão de um corpo de conhecimentos, pois, para poder realmente influenciar ou transfor- mar o modo de ser do educando, este processo deve ser fruto de um esforço estritamente pessoal. Assim, o pro- cesso educativo deixa de ser livresco, intelectualista, para se tornar atividade livre, espontânea. *Tabela construída com base na obra de GILES: GILES, Thomas Ranson. Filosofia da Educação. São Paulo: EPU, 1983. Observando a tabela acima concluímos que o pro- cesso produtivo educativo é uma tela onde a cultura se representa e busca, como GILES(1993) aponta, “levar o educando a assumir, de acordo com os seus inte- resses, os valores culturais da comunidade, a integrar a sua experiência na experiência da comunidade, pois são as forças da comunidade que atuam na sua vida e com estas ele terá que operar. O educador deve levar o processo de tal maneira que não haja conflito entre esforço e interesse. Em concreto, trata-se de formar o educando para que este assuma os valores e ideais da democracia social. Esse ideal só pode concretizar-se num sistema de educação pública, pois só este tipo de educação é capaz de superar os antagonismos entre as classes sociais, transformando de tal modo as grandes massas de trabalhadores despreparados que estes cheguem deveras a ocupar o seu lugar na democracia. Concretizar o ideal da socialização do processo educativo implica na sua crescente individualização, com o objetivo de aproximar-se melhor do meio em que o educando deve desempenhar suas aptidões e capacidades. Portanto, deve fundamentar-se nas ca- racterísticas individuais do educando, principal agente no processo educativo. O educador e os meios pedagógicos devem amoldar- se ao educando, pois agem apenas como meios de reforço no processo de desenvolvimento da individua- lidade do educando.” Aqui você finaliza os estudos desta seção e unidade. Na seqüência, convido-o(a) a desenvolver as ativida- des de auto-avaliação, as quais o(a) ajudarão a refletir sobre alguns aspectos abordados nesta unidade. Bons estudos e até a próxima. SUGESTÃO DE ATIVIDADE 1 – Com base no que você estudou nesta unidade, reflita sobre as questões a seguir e desenvolva um texto dissertativo, colocando-se de forma crítica. a) Qual o papel que a escola tem desempenhado na formação das crianças e dos jovens atualmente? b) Você considera que o respeito às diferenças está incluído na formação de um cidadão crítico e participativo? Justifique. c) Como você pode contribuir enquanto educador(a) e cidadão(ã) no processo de construção de sujeitos críticos e participativos? Cite um exemplo de trabalho que pode ser desenvolvido em sala de aula. Bases Filosóficas.indd 30 13/4/2011 17:28:17 EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O 31UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA Faça a Coisa Certa Faça a Coisa Certa” (Do the Right Thing, EUA) abalou as estruturas do festival de Cannes em 1989. Polêmico, ousado, corajoso, o longa rachou a crítica do cinema em duas; como um dos personagens do filme diria sem pestanejar, gerou reações de amor e ódio. A obra não ganhou prêmios, mas consolidou o caráter autoral e engajado da carreira do cineasta novaiorquino Spike Lee, além de retratar com fidelidade o objetivo declarado de toda a obra dele: oferecer uma visão do problema das minorias — em especial da causa negra — partindo de dentro do próprio fenômeno www.cinereporter.com.br/dvd/faca-a-coisa-certa/<acesso em:25.03.2010> Somos Marshall (We are Marshall) Quando parte da equipe de futebol americano da universidade de Marshall morre em um acidente aéreo, cabe ao novo treinador, Jack Lengyel (Matthew McConaughey), e o restante da equipe a missão de manter o espírito do time vivo cinema.cineclick.uol.com.br/filmes/ficha/... marshall/.../14030<acesso em:02.04.2010> ??? ??? SAIBA MAIS A infância do professor Raul Iturra É verdade que o professor é um inocente filho da conjuntura histórica que o formou. É verdade também que a imagem do professor, derivada da figura monacal ou goliarda, é resultado da sua possibilidade de explicar, de trabalhar com as categorias da razão. O processo de vida quotidiana que forma as crianças é vorazmente emotivo: por exemplo a chantagem derivada do mito cristão da morte de um homem que assume na sua vida o erro de todos os demais, excepto o seu, e que é a base teórica da nossa cultura ocidental; ou a hipótese de teoria cultural ocidental. O processo educativo de pais, parentes e vizinhos, é baseado na dosificação do amor e da agressividade familiar, um facto que só podemos aceitar, pelo menos contextualizar para viver em paz. O professor trabalha com outras categorias, não fabricadas por ele, mas que lhe foram incutidas como teoria de afastamento para desenvolver mentes de lógica da prova. Não é que o professor não ame, deve é racionalizar a afectividade com que ensina. E, assim, não chega ao processo de liberar os aprendizes da su- jeição à sua palavra e conhecimento: primeiro, porque deve transmitir a teoria oficial de saber não relacionada com a experiência da classe social e de técnicas pas- síveis de entender pelos mais novos; segundo, porque todo o indivíduo que ele forma deve ser cidadão, isto é, moeda do mesmo valor. Mas, é verdade também, e isso é evidente no agir do professor, que ele é filho, principal- mente, da sua infância. O professor também aprendeu a ser com os pais, parentes e vizinhos, e, a partir desse quotidiano, aprendeu então, como seus alunos hoje, as categorias racionais do conhecimento. Assim como na sociedade totémica de cada grupo entende a parte da natureza com a qual se identifica analogicamente, tam- bém na sociedade de classes a experiência de trabalho do grupo doméstico, e seus associados, explicam ao seu «rebento» a sua percepção da vida. Essa percepção da vida é difícil de mudar, como se pode apreciar em dois factos: nas metáforas com que os professores ensinam o programa preparado pelos eruditos; e na dificuldade evidente nos factos e nas estatísticas de insucesso escolar, de transmitir o conhecimento erudito à próxima geração. O professor poderia mudar o seu quotidiano reflectido no seu ensino, se ele próprio fosse um investigador que reproduz o que tenta entender na sua pesquisa. Mas, na sociedade de massas em que trabalha, o seu objecto de trabalho é definido como o de um artífice da escrita, leitura e cálculo, para o qual o conteúdo é um pretexto para desenvolver estilos literários como ditado, composição, ensaio, teste. A opção de quem movimenta o processo educativo é a de ensinar, porque não lhe é dada a oportunidade de experimentar, de pesquisar sobre o processo de dina- mizar a aprendizagem. Assim, a infância do professor acaba por ser a teoria que marca essa única opção com a qual fica, um quotidiano que se impõe por saber as teorias que lhe são entregues. A análise de infância do professor, de toda a conjuntura em que nasceu, é a pista que nos faz falta para entender porque é que Bases Filosóficas.indd 31 13/4/2011 17:28:17 32 UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA EAD BA SE S FI LO SÓ FI CA S DA E DU CA ÇÃ O o processo educativo é mais marcadamente ensino e não aprendizagem. Isto é, foge dos símbolos culturais que, explicitados na consciência do aluno, permitiriam a compreensão por parte dos aprendizes do racionalismo científico manipulado pelos eruditos. Se o professor não investiga da mesma maneira que os eruditos, as alternativas do processo educativo ficam fechadas e o processo educativo sujeito aos seus símbolos aprendidos no quotidiano que marca a percepção dos factos durante a sua carreira burocrática. O processo educativo, ensino e aprendizagem, tem a forte compo- nente de ensino com os conteúdos eruditos decorados, percebidos pela experiência do ciclo de vida do indivíduo que é professor e que elabora uma pedagogia a partir da sua experiência
Compartilhar