Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Aspectos históricos Até 2015, os patógenos mais frequentemente relacionados às infecções uterinas com potencial risco ao feto eram: • Bactéria Treponema pallidum causador da sífilis (S), • Protozoário Toxoplasma gondii causador da toxoplasmose (TO) • Vírus da rubéola (R), • Citomegalovírus (C), • Vírus herpes simplex (H), compondo o acrônimo STORCH. * Foi ampliado para STORCH+Z com a epidemia do vírus Zika no Brasil. Quando a gestante é infectada por um dos agentes relacionados à STORCH+Z poderá ocorrer transmissão para o feto e resultar em aborto espontâneo, óbito fetal ou anomalias congênitas, principalmente alterações do Sistema Nervoso Central (SNC) Rubéola Infecção com distribuição mundial Pico de incidência no final do inverno Tem pouca importância fora da gestação É uma doença infectocontagiosa que acomete principalmente crianças entre 5 e 9 anos Tem efeitos teratogênicos quando ocorre em mulheres susceptíveis na primeira metade da gestação O perfil epidemiológico mudou devido aos amplos programas de vacinação O vírus causador é um RNA vírus A transmissão se dá por meio de gotículas das secreções respiratórias dos doentes Período de transmissão: se inicia 1 semana antes do quadro clínico e persiste 1 semana após o início do exantema. Quadro clínico Rush cutâneo em face, tronco e extremidades, precedido por febre, linfadenopatia, artralgia e queixas respiratórias. * 20 a 50% das infecções são assintomáticas. Diagnóstico laboratorial Teste sorológico em todos os casos de doença exantemática Detecção dos anticorpos específicos da classe IgM a partir do 5. dia após o início do rush O IgG surge 2 semanas após o início do quadro clínico Transmissão vertical Vírus da rubéola é altamente teratogênico Nem todo caso infecção materna implica transmissão vertical Tríade clássica da síndrome da rubéola congênita: defeito cardíaco, catarata e surdez congênitas Risco de abortamento e óbito fetal Alterações do sistema nervoso como hidrocefalia, microcefalia; restrição do crescimento fetal. O período maior risco de sequelas para o feto encontra-se entre a quarta e a oitava semana, fase de organogênese e de desenvolvimento do sistema auditivo. Se a transmissão ocorrer nas primeiras 12 semanas, o risco de malformações, principalmente auditivas e cardíacas, é alto. Se ocorrer entre 12 e 20 semanas, podem ainda existir sequelas, porém mais leves. Após a 20ª semana, geralmente não ocorrem sequelas. A suspeita clínica ou laboratorial da infecção na mãe (por meio da presença de imunoglobulinas séricas específicas – IgM e IgG) leva necessariamente à pesquisa do comprometimento fetal. Diretamente, pela pesquisa do vírus no feto ou, indiretamente, pela constatação de sinais ultrassonográficos característicos da síndrome da rubéola congênita (cardiopatias congênitas, microcefalia, alterações cerebrais, CIUR (crescimento intrauterino restrito), hepatoesplenomegalia, calcificações abdominais, ascite e hidropsia fetal. Prevenção Realizar a testagem sorológica e a vacinação para as mulheres suscetíveis à infecção que desejam engravidar. Evitar contato com pessoas com suspeita de rubéola durante a gestação Vacinação com a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) aos 12 meses e 1 reforço entre 4 e 6 anos. A vacina é de vírus vivo atenuado e a imunidade é permanente em 95% da população A gestação deve ser evitada até 1 mês após a vacinação. Para casos de vacinação acidental no início da gravidez, as pacientes podem ser tranquilizadas Citomegalovírus Distribuição mundial Não tem sazonalidade Infecção uterina mais comum Causa importante de surdez e déficit neurológico na infância Vírus da família herpes A soroprevalência pode chegar a 95% no Brasil. O risco de soroconversão (ou infecção primária) durante a gravidez é de 1% a 3% e o de recorrência ou reativação é de 20% a 30%, uma vez que, por se tratar de herpes-vírus, as infecções latentes são relativamente comuns. O mesmo indivíduo pode ser infectado mais de 1 vez durante a vida Transmissão Contato íntimo, pessoa a pessoa. E contato com sangue, saliva, urina ou por via sexual com pessoas infectadas, transplacentária ou pela amamentação. Diagnóstico clínico Quadro inespecífico mononucleose-símile A infecção primária em adultos geralmente é assintomática, mas podem ocorrer febre, mal- estar, mialgia e calafrios, além de leucocitose, linfocitose e testes de função hepática anormais. Diagnóstico laboratorial: anticorpos Ig M sugere infecção aguda, IgG com avidez (baixa avidez inferior a 30% significa até 12 semanas de infecção) Infecção fetal O risco de transmissão fetal na infecção primária é de 30% a 40%, sendo maior quando ocorre no terceiro trimestre, e na recorrente é de 0,5% a 2% A taxa de infecção congênita varia de 0,2% a 2% O vírus pode causar lesão de órgãos fetais em qualquer fase da gestação Restrição de crescimento, microcefalia, hepatomegalia, alterações no SNC e cardíacas, óbito fetal. Diagnóstico Demonstração do vírus no líquido amniótico Achados ultrassonográficos Rastreio sorológico Apesar da elevada frequência da infecção e risco de infecção fetal, o rastreamento sorológico de rotina na gestação ainda é controverso e não é recomendado por: Não há vacina nem tratamento eficazes Alto custo para isolar o vírus A positividade para o teste e a detecção dos anticorpos não permitem afastar o risco de infecção fetal e não definem a época de ocorrência de infecção: se primária, recorrente ou até mesmo infecção por uma nova cepa Profilaxia A pesquisa para a busca de uma vacina contra a infecção congênita de CMV humano é prioridade de saúde pública, principalmente pelo fato de o CMV congênito ser um dos maiores fatores causais de perda auditiva neurossensorial nos RNs. Soropositividade materna não previne totalmente infecções recorrentes de CMV materna durante a gravidez. Considerações A investigação por meio da sorologia deve ser feita quando há sintomas como os da influenza- like (fadiga, febre, dor de cabeça) não atribuídos a nenhuma outra infecção ou quando há achados ultrassonográficos sugestivos de infecção pelo CMV (calcificações hepáticas ou abdominais, hepatoesplenomegalia, ascite, ventriculomegalia cerebral, calcificações intracranianas, microcefalia, hidropsia fetal e crescimento intrauterino restrito). Não há, até o momento, nenhuma modalidade de tratamento materno que previna ou reduza a chance de ocorrência de doença fetal que tenha sido aprovada para uso. PCR positivo não significa necessariamente que o feto terá anomalias. Ele pode estar infectado, mas pode não evoluir para afecções; Lembrar que soroconversão não significa necessariamente transmissão vertical para o feto. Na maioria das vezes, tal fato não ocorre; Nunca menosprezar quadros febris aparentemente inespecíficos. Na sua ocorrência, avaliar a soroconversão, pois esse sintoma pode estar relacionado a infecções de risco para o feto. Herpes Genital (HG) O herpes genital (HG) é uma infecção sexualmente transmissível (IST) muito prevalente É causado pelo herpes-vírus simples (HSV), que provoca lesões na pele e mucosas dos órgãos genitais masculinos e femininos, sendo também o principal responsável por úlceras genitais de causa infecciosa Os sintomas da infecção primária podem incluir ainda mal-estar, febre ou adenopatia localizada. Os surtos subsequentes, causados pela reativação do vírus latente, costumam ser mais brandos. Os herpes-vírus pertencem à família Herpesviridae, são vírus DNA: HSV-1 e HSV-2 HSV-1 e HSV-2 são indistinguíveis clinicamente A infecção pelo HSV caracteriza-se por perdurar ao longo da vida, apresentando surtos de reativação periódicos.A infecção primária pode incluir vesículas dolorosas ou úlceras no trato genital, febre, linfoadenopatia, disúria ou outros sintomas geniturinários não específicos. O HSV é transmitido pelo contato direto da mucosa, o que resulta na replicação na derme e epiderme. A imunidade humoral parece não impedir a aquisição viral inicial ou a reativação esporádica com proliferação viral e infectividade. Porém, a capacidade funcional das defesas imunológicas antiviral do indivíduo pode modificar a duração, a gravidade e até mesmo a frequência de reativação viral As infecções pelo HSV durante a gravidez são heterogêneas e podem incluir infecção primária ou infecções recorrentes As infecções maternas são definidas como: - Infecção primária: HSV-1 ou HSV-2 é detectado a partir de lesões genitais sem evidência sorológica de infecção prévia; - Infecção não primária: o HSV-1 é detectado a partir de lesões genitais em um indivíduo com anticorpos HSV-2, ou vice-versa; - Infecção recorrente: HSV-1 ou HSV-2 é isolado em mulheres com evidência sorológica de infecção para esse tipo de HSV em lesões genitais com episódios prévios. A aquisição materna de HSV-1 ou HSV-2 próximo ao parto representa 60% a 80% dos casos de infecção neonatal As mulheres com herpes genital recorrente apresentam menor risco de infecção neonatal de HSV (2%) quando comparadas com infecção primária (57%) Durante a gravidez, recomenda-se profilaxia antiviral com aciclovir a partir de 36 semanas de gestação até o parto em mulheres com história de HG. A cesariana eletiva deve ser realizada em pacientes que apresentem lesões ativas no momento do parto, para reduzir o risco de herpes neonatal Diagnóstico Clínico (anamnese e visualização das lesões no exame físico) A pesquisa de HSV por técnicas de biologia molecular – PCR – pode ser útil, mas é desnecessária na prática clínica. Se vier positivo, pode ser apenas uma reativação e o laboratório não diferencia os tipos. Pródromos caracterizam-se por ardor, prurido, formigamento e adenomegalia, que podem anteceder a erupção cutânea. Hiperemia aparece alguns dias após e depois evolui para vesículas agrupadas, que, depois, se rompem formando exulceração dolorosa seguida de cicatrização. O vírus migra pela raiz nervosa até alojar-se num gânglio neural, onde permanece quiescente até a recidiva seguinte Tratamento Existem apenas três medicamentos antivirais da categoria B do FDA utilizados no tratamento do herpes: aciclovir, fanciclovir e valaciclovir. • O aciclovir é um nucleósido análogo que inibe a replicação de DNA em células infectadas; por apresentar baixa biodisponibilidade, requer dosagem frequente. Deve ser administrado 400 mg três vezes ao dia Não existe ainda tratamento eficaz quanto à cura da doença. O tratamento tem por objetivo diminuir as manifestações da doença ou aumentar o intervalo entre as crises. Inibe a síntese de DNA, possui ação na fase aguda e não atua na fase latente. Considerações Mulheres em trabalho de parto, bolsa rota e com infecções primárias por HSV estão em maior risco de transmissão de infecção para os seus recém-nascidos A excreção viral no momento do parto pode ser alta, mesmo em pacientes assintomáticas; Existe grande discrepância entre a prevalência de excreção herpética e a escassez de infeções neonatais, por isso mesmo não há evidências para recomendar triagem sorológica sistemática A cesárea reduz significativamente o risco de infecção do RN pelo HSV (na ordem de 85%), mas não o elimina. Zika Vírus Vírus transmitidos por artrópodes (arbovírus): dengue, zika, chikungunya e febre amarela O ZIKV é um flavivírus (da mesma família Flaviviridae dos vírus da dengue e febre amarela), sendo transmitido principalmente pela picada da fêmea de mosquitos do gênero Aedes. O vírus foi isolado pela primeira vez em 1947 na floresta de Zika, em Uganda (África) Quando infecta o ser humano, o vírus ZIKA muitas vezes não acarreta nenhuma manifestação clínica; quando elas ocorrem (o que se dá em média em 20% das pessoas), o quadro clínico geralmente se caracteriza como de leve intensidade com febre baixa, erupção cutânea, conjuntivite, dores musculares e articulares, mal-estar ou dor de cabeça. Esses sintomas geralmente duram de 2 a 7 dias. Diagnóstico Sorológico A investigação indireta, pela detecção de anticorpos IgG e IgM, pode ser feita por meio de diferentes metodologias, como Elisa, imunofluorescência indireta ou imunocromatografia (teste rápido). Anticorpos IgG são detectados a partir do sétimo dia do início dos sintomas e permanecem no sangue por um longo tempo. Anticorpos da classe IgM podem ser detectados após quatro dias do início dos sintomas e indicam um quadro agudo da doença Em 2015, pesquisadores brasileiros relataram incremento de 20 vezes na incidência de microcefalia, relativamente ao observado nos anos anteriores, e conjecturaram acerca da correlação entre tal observação e a vigência da epidemia de ZIKV. Achados mais comumente encontrados na mulher grávida acometida por infecção aguda pelo vírus: Febre; Exantema; Artralgia. Nos recém-nascidos, as complicações mais comumente relatadas foram: Alterações oftalmológicas; Restrição ao crescimento fetal; Óbito fetal; Óbito perinatal; Microcefalia, calcificações cerebrais e alterações cerebelares, atrofia cerebral, ausência de corpo caloso e ventriculomegalia
Compartilhar