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INTRODUÇÃO Na classe Trematoda, encontra-se a família Schiscsomatidae, que apresenta sexos separados e são parasitos de vasos sanguíneos de mamíferos e aves SCHISTOSOMA MANSONI Agente da esquistossomose mansoni ou moléstia de Pirajá da Silva, ocorrendo na África, Antilhas e América do Sul. No Brasil, a doença é popularmente conhecida como “xistose”, “barriga- d’água” ou “mal do caramujo”, atingindo milhões de pessoas, numa das maiores regiões endêmicas dessa doença em todo o globo. MORFOLOGIA A morfologia do S. mansoni deve ser estudada nas várias fases que podem ser encontradas em seu ciclo evolutivo: adulto (macho e fêmea), ovo, miracídio, esporocisto e cercaria MACHO Mede cerca de 1 cm. Tem cor esbranquiçada, com tegumento recoberto de minúsculas projeções (tubérculos). Apresenta o corpo dividido em duas porções: a anterior, na qual encontramos a ventosa oral e a ventosa ventral (acetábulo), e a posterior (que se inicia logo após a ventosa ventral), onde encontramos o canal ginecóforo; este nada mais é do que dobras das laterais do corpo no sentido longitudinal para albergar a fêmea e fecundá-la FÊMEA Mede cerca de 1,5 cm. Tem cor mais escura devido ao ceco com sangue semidigerido, com tegumento liso. Na metade anterior, encontramos a ventosa oral e o acetábulo OVO Mede cerca de 150 micrômetros de comprimento por 60 de largura, sem opérculo, com um formato oval, e na parte mais larga apresenta um espículo voltado para trás. O que caracteriza o ovo maduro é a presença de um miracídio formado, visível pela transparência da casca. O ovo maduro é a forma usualmente encontrada nas fezes. MIRACÍDIO O miracídio apresenta forma cilíndrica e, ademais, células epidérmicas, onde se implantam os cílios, os quais permitem o movimento no meio aquático CERCÁRIA É principalmente através de sua ventosa que a cercária fixa-se na pele do hospedeiro no processo de penetração. HABITAT Os vermes adultos vivem no sistema porta. Os esquistossômulos, quando chegam ao fígado, apresentam um ganho de biomassa exponencial e, após atingirem a maturação sexual, em torno de 25 dias, migram para os ramos terminais da veia mesentérica inferior, principalmente na altura da parede intestinal do plexo hemorroidário, onde se acasalam, e, em torno do 352 dia, as fêmeas iniciam a postura dos ovos. CICLO BIOLÓGICO O Schistosoma mansoni, ao atingir a fase adulta de seu ciclo biológico no sistema vascular do homem e de outros mamíferos, alcança as veias mesentéricas, principalmente a veia mesentérica inferior, migrando contra a corrente circulatória; as fêmeas fazem a postura no nível da submucosa. Os ovos colocados levam cerca de uma semana para tornarem-se maduros (miracídio formado). Da submucosa, chegam à luz intestinal. Os prováveis fatores que promovem esta passagem são: I: Reação inflamatória; sem dúvida, o processo mais importante, já que em animais imunossuprimidos ocorre acúmulo de ovos nas paredes intestinais; II: Pressão dos ovos; III: Enzimas proteolíticas produzidas pelo miracídio, lesando os tecidos; IV: Adelgaçamento da parede do vaso provocado pela distensão dele com a presença do casal na sua luz; Finalmente, ocorre a perfuração da parede venular, já debilitada pelos fatores anteriormente citados e auxiliada pela descamação epitelial provocada pela passagem do bolo fecal; os ovos ganham a luz intestinal e são excretados juntamente com as fezes. Se, decorridos cerca de 20 dias, os ovos não conseguirem atingir a luz intestinal, ocorrerá a morte dos miracídios, e os ovos podem ficar presos na mucosa intestinal ou serem arrastados para o fígado. Os ovos que conseguirem chegar à luz intestinal vão para o exterior junto com o bolo fecal e têm uma expectativa de vida de 24 horas (fezes líquidas) a 5 dias (fezes sólidas). Alcançando a água, os ovos liberam o miracídio, estimulados pelos seguintes fatores: temperaturas mais altas, luz intensa e oxigenação da água. Alguns autores apresentaram resultados que sugeriam existir uma atração miracidiana em relação aos moluscos. Esta atração seria decorrente da detecção, pelo miracídio, de substâncias que seriam produzidas pelos moluscos e que se difundiriam pelo meio aquático, sendo detectadas através de terminações sensoriais. Ao mesmo tempo, exerceriam um papel significativo no processo de penetração, que se restringe a cerca de oito horas após a eclosão e é notavelmente influenciada pela temperatura. O miracídio agita-se intensamente, com movimentos contráteis e rotatórios, comandados pelas vibrações ciliares e pela ação da musculatura subepitelial. Neste meio- tempo, o conteúdo da glândula de penetração é descarregado e as enzimas proteolíticas iniciam sua ação de digestão dos tecidos. A ação combinada dos intensos movimentos do miracídio e da ação enzimática constitui o elemento que permite a introdução do miracídio nos tecidos do molusco. O epitélio é ultrapassado e a larva se estabelece no epitélio subtegumentar A larva, após a perda das glândulas de adesão e penetração, continua a perder outras estruturas no processo de penetração. Desta forma, o passo seguinte será a perda do epitélio ciliado e a degeneração do terebratorium. Em seguida ocorrerá o desaparecimento da musculatura subepitelial e, por último, do sistema nervoso, que pode persistir por mais alguns dias Com exceção do desaparecimento do sistema nervoso, todas as alterações citadas ocorrem num período de 48 horas. Assim sendo, o miracídio transforma-se, na verdade, em um saco com paredes cuticulares contendo a geração das células germinativas ou reprodutivas que é denominado esporocisto ESPOROCISTO Inicialmente o esporocisto apresenta movimentos ameboides, que diminuem com o tempo até a completa imobilidade da larva. As células germinativas, em número de 50 a 100, iniciam, então, um intenso processo de multiplicação (poliembrionia), fazendo com que, após 72 horas, a larva, neste estádio, denominada esporocisto primário, esporocisto mãe ou, simplesmente, esporocisto I, dobre de tamanho. Na segunda semana da infecção, observa-se no interior do esporocisto uma série de ramificações tubulares que preenchem todos os espaços intercelulares do tecido conjuntivo. No interior dessas ramificações, as células germinativas encontram-se em franca multiplicação. Em condições ideais de temperatura - entre 25° e 28°C - ocorre a formação dos esporocistos secundários, que se inicia a partir do 14 dia, após a penetração do miracídio. Esta evolução pode ser significativamente retardada em temperaturas abaixo de 20 C. A formação do esporocisto secundário inicia-se com um aglomerado de células germinativas nas paredes do esporocisto primário, verificando-se uma vacuolização acentuada na parte central da larva. Estes aglomerados se reorganizam e dão origem a septos, ficando o esporocisto primário dividido em 150 a 200 camadas, cada septo ou camada, já podendo ser considerado um esporocisto secundário, esporocisto filho ou esporocisto II. Esta musculatura, associada à formação de espinhos na parte mais extrema da cutícula, terá papel fundamental na motilidade e na capacidade de migração intratecidual das larvas A migração processa-se ativamente através dos tecidos do molusco. A saída dos esporocistos do local de penetração do miracídio, onde a maioria se desenvolve, nas glândulas digestivas, ou hepatopâncreas, leva 2 a 3 dias. A localização final dos esporocistos será nos espaços intertubulares da glândula digestivo, local com riqueza nutricional onde começam, então, a sofrer profundas modificações anatômicas no seu conteúdo de células germinativas Os esporocistos secundários, algum tempo depois de terem atingido oseu destino final, apresentam três áreas estruturais bem definidas A última geração de células embrionárias origina novos esporocitos, que seriam então são chamados esporocistos terciários. Estes esporocitos III forneceriam a única explicação plausível para uma prolongada eliminação das cercarias nos caramujos infectados, pois, se isso não ocorrer, deveria haver uma exaustão no processo de formação cercariana nos esporocistos II. CERCÁRIA A formação cercariana inicia-se com a disposição das células germinativas em uma mórula, onde se encontra uma grande célula basófila, com núcleo grande e vesicular. Com o crescimento da mórula, esta célula central se multiplica, constituindo o primórdio das glândulas de penetração. As células externas da mórula vão originar as duas camadas celulares da cercaria, constituída de fibras musculares longitudinais e circulares. Ao mesmo tempo, observa-se a formação de uma cutícula acelular A emergência das cercárias ocorre com a saída dos organismos dos esporocistos-fílhos Desde Lutz (1919) sabe-se que a emergência cercariana pode ser nitidamente influenciada por estímulos, como luminosidade e temperatura. A emergência segue um ritmo circadiano, sendo regida por fatores exógenos, cujos elementos sincronizadores são a luz e a temperatura, bastando, porém, a ação isolada de um destes fatores para a manutenção do ritmo circadiano. Ao alcançarem a pele do homem, se fixam preferentemente entre os folículos pilosos com auxílio das duas ventosas e de uma substância mucoproteica secretada por suas glândulas acetabulares. Em seguida tomam a posição vertical, apoiando-se na pele por meio da ventosa oral. Por ação lítica (glândulas de penetração) e ação mecânica (movimentos vibratórios intensos), promovem a penetração do corpo cercariano e a concomitante perda da cauda. Este processo dura 5 a 15 minutos. A penetração e migração coincidem com o esvaziamento das glândulas pré-acetabulares ricas em enzimas proteolíticas. Quando ingeridas com água, as que chegam ao estômago são destruídas pelo suco gástrico, mas as que penetram na mucosa bucal desenvolvem-se normalmente. ESQUISTOSSÔMULOS Após a penetração, as larvas resultantes, denominadas esquistossômulos, adaptam-se às condições fisiológicas do meio interno, migram pelo tecido subcutâneo e, ao penetrarem num vaso, são levadas passivamente até os pulmões, pelo sistema vascular sanguíneo, via coração direito. Dos pulmões, os esquistossômulos se dirigem para o sistema porta, podendo usar duas vias para realizar essa migração: uma via sanguínea (tradicionalmente aceita) e outra intratecidual. A migração pela via sanguínea seria feita pela seguinte rota: das arteríolas pulmonares e capilares alveolares os esquistossômulos ganhariam as veias pulmonares (pequena circulação), chegando ao coração esquerdo; acompanhando o fluxo sanguíneo, seriam disseminados pela aorta (grande circulação) para mais diversos pontos até chegarem à rede capilar terminal: Uma vez no sistema porta intra- hepático, os esquistossômulos se alimentam e se desenvolvem, transformando-se em machos e fêmeas 25 a 28 dias após a penetração. Daí migram, acasalados, para o território da veia mesentérica inferior, onde farão oviposição. Os ovos são depositados nos tecidos em tomo do 35° dia da infecção, imaturos, e a formação do miracídio (ovo maduro) demanda seis dias. Os primeiros ovos são vistos nas fezes cerca de 42 dias após a infecção do hospedeiro. TRANSMISSÃO Penetração ativa das cercárias na pele e mucosa. As cercárias penetram mais frequentemente nos pés e pemas por serem as áreas do corpo que mais ficam em contato com águas contaminadas. O horário em que são vistas em maior quantidade na água e com maior atividade é entre 10 e 16 horas, quando a luz solar e o calor são mais intensos PATOGENIA Está ligada a vários fatores, tais como a cepa do parasito, carga parasitária adquirida, idade, estado nutricional e resposta imunitária da pessoa. De todos estes fatores, parece que os dois mais importantes são a carga parasitária e a resposta do sistema imunológico de cada paciente. CERCÁRIA A chamada dermatite cercariana ou dermatite do nadador pode ocorrer quando as cercárias do Schistosoma ou mesmo de Trematoda de outros animais penetram na pele do ser humano. Essa dermatite é caracterizada por “sensação de comichão, erupção urticariforme” e é seguida, dentro de 24 horas, por “eritema, edema, pequenas pápulas e dor”. E em geral mais intensa nas reinfecções (hipersensibilidade) em que há interferência de mastócitos (liberação de histamina), complemento, eosinófilos e IgE. A dermatite cercariana é, portanto, um processo imunoinflamatório muito importante na imunidade concomitante, pois, como será mostrado adiante, há grande destruição de cercárias e esquistossômulos na pele e nos pulmões ESQUISTOSSÔMULOS Cerca de três dias após a penetração das cercárias na pele, os esquistossômulos são levados aos pulmões. A partir da segunda semana após a infecção, podem ser encontrados nos vasos do fígado e, posteriormente, no sistema porta intra-hepático. Nessa fase pode haver linfadenia generalizada, febre, aumento volumétrico do baço e sintomas pulmonares. Em condições experimentais, no animal infectado pela primeira vez, sem uma resposta imunológica específica, tem-se verificado que, quando ela ocorre, o parasito já apresenta os mecanismos de evasão à ação da resposta, entre eles, síntese, aquisição de moléculas semelhantes às do seu hospedeiro (mimetismo e mascaramento antigênico), capacidade de renovação do tegumento lesado pela ação do sistema de complemento, imunoglobulinas e células efetuadoras. VERMES ADULTOS Sabe-se que, após a maturação dos vermes adultos nos ramos intra- hepáticos do sistema porta, eles migram principalmente para a veia mesentérica inferior (ou mesmo, ectopicamente, para outras localizações). Os vermes vivos permanecem aí por longos anos e não produzem lesões de monta. Já os vermes mortos podem provocar lesões extensas, embora circunscritas. Essas lesões ocorrem principalmente no fígado, para onde os vermes são arrastados pela circulação porta. Além dessas lesões, os vermes adultos (hematófagos) espoliam (se alimentam do sangue) o hospedeiro devido ao seu alto metabolismo. OVOS Como já foi enfatizado, os ovos são os elementos fundamentais da patogenia da esquistossomose Quando em grande número, podem provocar hemorragias, edemas da submucosa e fenômenos degenerativos, com formações ulcerativas pequenas e superficiais; essas lesões são em geral reparadas, para haver a reconstituição da integridade dos tecidos. O antígeno solúvel excretado pelos poros do ovo provocará a reação inflamatória granulomatosa. Portanto, a deposição dos ovos do parasito no hospedeiro é o evento fundamental de um complexo fisiopatológico que promoverá a formação do granuloma. Os granulomas apresentam durante o seu desenvolvimento, as seguintes fases: I) fase necrótico-exsudativa, com aparecimento de uma zona de necrose em volta do ovo, circundada por exsudação de eosinófilos, neutrófilos e histiócitos com deposição de material eosinofílico conhecido como fenômeno de Hoeppli; II) fase produtiva ou de reação histiocitária, com início de reparação da área necrosada; III) fase de cura ou fibrose, na qual o granuloma, endurecido, é denominado nódulo. Em seguida, poderá haver calcificação do ovo ou mesmo absorção e desaparecimento do granuloma Essas lesões granulomatosas são as principais responsáveis pelas variações clínicas e pelas complicações digestivas e circulatórias vistas. APRESENTAÇÃO CLÍNICA Período de incubação: 1 a 2 meses FORMA ASSINTOMÁTICA Eosinofiliae encontro de ovos (acidental) ESQUISTOSSOMOSE AGUDA FASE PRÉ POSTURAL Em geral, é uma fase com sintomatologia variada, que ocorre cerca de 10 a 35 dias após a infecção. Neste período há pacientes que não se queixam de nada (forma inaparente ou assintomática) e outros reclamam de mal-estar, com ou sem febre, problemas pulmonares (tosse), dores musculares, desconforto abdominal e um quadro de hepatite aguda, causada, provavelmente, pelos produtos da destruição dos esquistossômulos. FASE AGUDA 3 a 7 semanas após a infecção Nesta fase, pode ocorrer uma disseminação miliar de ovos, principalmente na parede do intestino, com áreas de necrose, causando enterocolite aguda e no fígado, provocando a formação de granulomas, simultaneamente caracterizando a forma toxêmica (febre de Katayama) a, que pode apresentar-se como doença aguda, febril, acompanhada de sudorese, calafrios, emagrecimento, llinfadenopatia, dor abdominal, cefaleia, febre alta, fenômenos alérgicos, diarreia (ovos na parede intestinal), disenteria, cólicas tenesmo, hepatoesplenomegalia discreta, linfadenia, leucocitose com eosinofilia, aumento das globulinas e alterações discretas das funções hepáticas As lesões hepatoesplênicas são devidas principalmente a uma hipersensibilidade do hospedeiro aos antígenos solúveis secretados pelos ovos. OBS: É a única fase em que a febre é comum É importante ressaltar que o granuloma da fase crônica é benéfico para o paciente, apesar de parecer paradoxal, já que a esquistossomose é tipicamente uma imunopatologia, pois em indivíduos e animais imunossuprimidos não ocorre reação granulomatosa, mas existe uma extensa área de necrose coliquativa em tomo do ovo, devido a enzimas proteolíticas produzidas pelo ovo. ESQUISTOSSOMOSE CRÔNICA Essa forma pode apresentar grandes variações clínicas, dependendo de serem as alterações predominantemente intestinais, hepatointestinais ou hepatoesplênicas. Ocorre 6 meses após a infecção INTESTINO E HEPATOINTESTINAL Em muitos casos, o paciente apresenta diarreia mucossanguinolenta, dor abdominal, tenesmo. Nos casos crônicos graves, pode haver fibrose da alça retossigmoide, levando a diminuição do peristaltismo e constipação constante. Entretanto, a maioria dos casos crônicos é benigna, com predominância de alguns granulomas nodulares, e o paciente queixa-se, algumas vezes, de dores abdominais, fases de diarreia mucossanguinolenta e outras de constipação, intercaladas de longos períodos normais. A diarreia mucossanguinolenta é devida à passagem simultânea de vários ovos para a luz intestinal, ocasionando pequenas (mas numerosas) hemorragias e edema. Apesar de não ser muito frequente, alguns especialistas têm encontrado tumorações localizadas, anômalas, denominadas “formas pseudoneoplásicas” EF: Dor à palpação dos cólons, fígado entre 2 a 6cm RCD, consistência aumentada, podendo apresentar superfície irregular e hipertrofia do lobo esquerdo. As provas de função hepática são normais e a biopsia geralmente sem alterações FÍGADO As alterações hepáticas típicas surgem a partir do início da oviposição e formação de granulomas. Em consequência, teremos um quadro evolutivo, dependendo do número de ovos que chegam a esse órgão, bem como do grau de reação granulomatosa que induzem. No início, o fígado apresenta-se aumentado de volume e bastante doloroso à palpação. Os ovos prendem-se nos espaços porta, com a formação de numerosos granulomas. Com o efeito acumulativo das lesões granulomatosas em torno dos ovos, as alterações hepáticas se tornarão mais sérias. O fígado, que inicialmente aumenta de volume, numa fase mais adiantada pode estar menor e fibrosado. Nesta fase, aparece o quadro de “fibrose de Symmers”, ou seja, uma peripileflebite granulomatosa, com neoformação conjuntivo vascular ao redor dos vasos portais onde se vê uma retração da cápsula hepática (cápsula de Glisson) por fibrosamento dos espaços porta e manutenção da integridade do parênquima hepático. Dessa forma, não se nota a cirrose hepática, mas sim a fibrose do órgão, e a retração de sua cápsula em numerosos pontos provoca a formação de saliências ou lobulações. Esta obstrução trará, como consequência, a manifestação mais típica e mais grave: a hipertensão portal. Essa hipertensão poderá intensificar-se com a evolução da doença, causando no paciente uma série de alterações HEPATOESPLÊNICA COMPENSADA Com ou sem hipertensão portal e hemorragia digestiva Fígado com aspecto nodular e fibrose portal de Symmers Hipertensão portal, esplenomegalia (anemias e plaquetopenias) e varizes esofágicas VARIZES Desenvolvimento da circulação colateral anormal e de anastomoses do plexo hemorroidário, umbigo, região inguinal e esôfago numa tentativa de compensar a circulação portal obstruída e diminuir a hipertensão portal. Essa circulação colateral do esôfago leva à formação das “varizes esofagianas”, que podem romper-se, provocando uma hemorragia muitas vezes fatal. DESCOMPENSADA Há diminuição acentuada da função hepática e da albumina; aumento de bilirrubinas e amônia Presença das aranhas vasculares Ascite, icterícia, anorexia, astenia, hemorragia digestiva, fluxo hepático reduzido, cirrose pós necrótica, fibrose hepática, edemas de MI, encefalopatia e coma É a forma mais grave ASCITE Este achado clínico é visto nas formas hepatoesplênica mais graves e decorre das alterações hemodinâmicas, principalmente a hipertensão. COMPLICAÇÕES OUTRAS LOCALIZAÇÕES Através das circulações colaterais anômalas ou mesmo das anastomoses utilizadas, alguns ovos passariam à circulação venosa, ficando retidos nos pulmões. Nos capilares desse órgão, os ovos dão origem a granulomas pulmonares, que podem levar a duas consequências: I: Primeira, dificultando a pequena circulação e causando o aumento do esforço cardíaco, que poderá chegar à insuficiência cardíaca, tipo cor pulmonale; II: Segunda, viabilizando ligações arteriovenosas {shunts), que permitem a passagem de ovos do parasito para a circulação geral e a deposição deles em vários órgãos, com formação de granulomas (inclusive no SNC). Particularmente graves são as formas medulares agudas (radiculomielopatia), que podem levar à paraplegia. Apesar de raras, podem ser causadas por ovos isolados ou conjuntos de ovos depositados no nível torácico inferior ou lombossacro Finalmente, a esquistossomose deve ser encarada como uma doença de múltiplos mecanismos, com lesões diretamente ligadas à presença local do agente etiológico (cercárias, esquistossômulos, vermes adultos, ovos), alterações hemodinâmicas, alterações da reatividade imunológica, lesões a distância medidas por imunocomplexos e repercussões gerais sobre o organismo, além de interagir e favorecer outras patologias por agentes infecciosos. DIAGNÓSTICO CLÍNICO No diagnóstico clínico, deve-se levar em conta a fase da doença (pré- postural, aguda ou crônica, já definidas anteriormente). Além disso, é de fundamental importância a anamnese detalhada do caso do paciente PARASITOLÓGICO OU DIRETO Os métodos parasitológicos ou diretos se fundamentam no encontro dos ovos do parasito nas fezes ou tecidos do paciente. EXAME DE FEZES Os ovos são detectados após o 40 dia Direto: HPJ. É qualitativo à presença de ovos. Viabilidade-Sensibilidade de 50% Para levantamentos epidemiológicos, recomenda-se a técnica quantitativa de Kato-Katz.: determinação de carga parasitária e controle de cura OBS: Período pré patente é quando não há ovos nas fezes BIÓPSIA RETAL (Sensibilidade de 80%) Quando o EPF se encontra negativo, mas existe evidências da doença BIOPSIA HEPÁTICA E DE OUTRAS REGIÕES Encontro de ovos ou granulomasPESQUISA DE AG (VERMES) CIRCULANTES ELISA de captura: AC monoclonal sensibilizado na placa ULTRASSOOGRAFIA Constitui-se um dos mais importantes avanços para diagnóstico clínico, principalmente na fase crônica da doença e está se tornando de uso corrente no nosso país. É uma técnica que diagnostica as alterações hepáticas, determinando com precisão o grau de fibrose. MÉTODOS INDIRETOS Utilizados na fase crônica e são positivos, caso presente a doença, a partir do 25 dia I: Intradermorreação II: Pesquisa de Ac no soro (ELISA: IgM, IgG e IgA III: RIFI IV: Reação periovular (alta sensibilidade e especificidade): ovos de S. mansoni incubados com soro de paciente; precipitação hialina TRATAMENTO O tratamento quimioterápico da esquistossomose através das drogas mais modernas, oxamniquina e praziquantel, deve ser preconizado para a maioria dos pacientes com presença de ovos viáveis nas fezes ou na mucosa retal O praziquantel, a droga atualmente de escolha para tratamento tanto na clínica quanto em campanhas de controle da esquistossomose, atua contra todas as espécies do gênero Schistosoma que infectam o homem.. Ele possui custo mais baixo e índice de cura de 80% em adultos e 70% em crianças Em casos de mulheres grávidas, e de insuficiência renal/hepática, deve-se estudar criteriosamente o uso de ambas as drogas e este é contra- indicado OBS: O praziquantel atua com pouca eficácia também nas formas jovens do parasito. FASE AGUDA GRAVE E HEPATOESPLÊNICA Prednisona + Oxamniquina ou Praziquantel: melhora eficácia terapêutica, reduz o tempo de internação e da duração de sinais e sintomas da doença PROFILAXIA I: Busca ativa, diagnóstico precoce e tratamento oportuno II: Vigilância e controle dos hospedeiros intermediários III: Ações educativas em saúde IV: Ações de saneamento para modificação das condições domiciliares e ambientais favoráveis à transmissão ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS Importante, mas negligenciada, zooantroponose. É endêmica em MG Endêmica em 54 países de clima tropical e subtropical Mais susceptível às áreas de extrema pobreza Mais de 220 milhões de pessoas infectadas PROPAGAÇÃO NO BRASIL MINAS GERAIS CONCLUSÕES GERAIS Em resumo, apesar da complexidade do problema de controle da doença no país, é bom enfatizar que cada foco de transmissão apresenta características próprias e que algumas medidas profiláticas específicas podem ser adotadas visando minorar o problema. Deve-se ainda ressaltar que, no contexto geral, o saneamento básico, educação sanitária e tratamento dos doentes são as medidas que, no momento, apresentam melhor eficácia no controle da transmissão e da morbidade da doença
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