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RESUMOS L o c o m o ç ã o e P r e e n s ã o M E D I C I N A - F I P G U A N A M B I POR: MARIA EDUARDA DE SOUZA E VITOR DANTAS. Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO MARCHA E LOCOMOÇÃO CONCEITOS ▪ Marcha: Ato de deambular. ▪ Locomoção: Ato de se locomover, de se deslocar de um lugar para outro. Varia em relação à forma, estrutura, velocidade e outros elementos. A marcha é um tipo de locomoção. MARCHA O caminhar é a maneira utilizada para locomover-se com os pés. A marcha é considerada o processo de caminhada. Cada pessoa apresenta o seu “estilo” individual de caminhada. A marcha requer equilíbrio sobre um membro inferior enquanto o outro move-se para frente. Também é necessário além do movimento dos membros inferiores, movimentos do tronco e membros superiores, movimentos articulares e atuação dos músculos. COMPONENTES DA MARCHA Para descrever de forma objetivo a marcha algumas definições são necessárias. O ciclo da marcha, também chamado de passada, é a atividade ocorrida entre o momento em que um pé toca o solo e o momento em que esse mesmo pé toca o solo novamente. O comprimento da passada é a distância percorrida durante o ciclo da marcha. O passo é metade de uma passada. Dois passos (um direito e um esquerdo) equivalem a uma passada ou um ciclo da marcha, esses passos devem ser iguais. O comprimento do passo é a distância entre o toque do calcanhar de um pé no solo e o toque do calcanhar do outro é no solo. Um ponto importante é que um aumento ou diminuição da velocidade de caminhada aumenta ou diminui o comprimento do passo, respectivamente. Qualquer que sejam a velocidade, os comprimentos dos passos deverão ser iguais nos dois membros inferiores, para que se tenha uma marcha coordenada e equilibrada. A velocidade da caminhada ou cadência, é o número de passos por minuto e varia muito. Possui dois períodos de apoio duplo e dois períodos de apoio simples. • Apoio duplo: os dois pés estão em contato com o solo ao mesmo tempo e ocorre quando está se iniciando a fase de apoio de um MI e terminando a fase de balanço do outro. Cada período corresponde à 10% do ciclo da marcha em velocidade média de caminhada. À medida que a fase da caminhada aumenta, o tempo em que os pés tocam o solo diminui. Durante a caminhada não há período sem apoio, entretanto isso ocorre na corrida. • Apoio simples: ocorre quando apenas um pé está em contato com o solo. Assim, há dois períodos de apoio simples em um ciclo da marcha: uma vez quando o pé direito está no solo e o MIE movimenta-se para frente, depois, de novo, quando o pé esquerdo sustenta o peso e o MID movimenta-se para frente. Cada período de apoio simples corresponde à cerca de 40% da marcha. PRÉ-REQUISITOS E DETERMINANTES DA MARCHA NORMAL A compreensão da marcha normal é um pré-requisito fundamental para a avaliação de padrões patológicos e condução do tratamento. A falta de informação dentro desse campo pode gerar interpretações equivocadas e propostas desastrosas de tratamento. Com o objetivo de criar um melhor embasamento para os tópicos seguintes, será abordada, inicialmente, a marcha normal. Para que a marcha seja considerada normal, alguns aspectos devem estar presentes. São os chamados pré-requisitos da marcha normal, relacionados a seguir ▪ Contato inicial realizado com o retropé (toque do calcâneo ao solo). ▪ Estabilidade na fase de apoio. ▪ Liberação adequada do pé para a fase de balanço. ▪ Comprimento adequado de passo. ▪ Conservação de energia. Para o cumprimento desse último item, ou seja, da conservação de energia, um conjunto de ações coordenadas e relacionadas deve estar em perfeito funcionamento. A disfunção de qualquer um dos fatores relacionados a seguir aumentará o gasto energético para a deambulação e passará a configurar um padrão patológico. A conservação de energia na marcha normal é focada nos seguintes pontos: a) Redução da oscilação do centro de massa: O centro de massa está habitualmente localizado anterior à segunda vértebra sacral e, durante a marcha normal, desloca-se nos três planos de movimento. Existe uma série de mecanismos fisiológicos empregados para que tal deslocamento seja o menor e mais suave possível, e que, em última instância, ocorra conservação de energia. Esses mecanismos são chamados de determinantes da marcha e foram descritos por Inman em 1981. São eles: Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ▪ Elevação e rotação interna da pelve no início da fase de apoio. ▪ Primeira onda de flexão dos joelhos na resposta à carga. ▪ Leve valgo do joelho e adução do quadril na resposta à carga. ▪ Mecanismos de rolamento dos tornozelos na fase de apoio. b) Utilização de mecanismos passivos de estabilização articular: A estabilização de uma articulação pode ser feita de forma passiva ou ativa. A estabilização passiva não exige ação muscular e é obtida pela tensão capsular e/ou ligamentar, em conjunto à anatomia intrínseca de cada articulação. A estabilização ativa requer contração muscular para manter a articulação estável. A exemplo, pode-se citar como estabilização articular ativa o controle exercido pelo quadríceps durante a primeira onda de flexão dos joelhos na resposta à carga. Com o avanço do membro na fase de apoio e aumento progressivo da extensão do joelho, a força de reação ao solo é deslocada anteriormente e, a partir do ponto que ultrapassa o centro articular do joelho, a estabilização ativa não é mais necessária. Portanto, durante a fase de apoio, a estabilização dos joelhos é ativa na resposta à carga e passa a ser passiva a partir do médio apoio. c) Ação de músculos biarticulares: Os músculos biarticulares são, por definição, estruturas que cruzam ao menos duas articulações. Em algumas situações, essas estruturas apresentam ação extremamente coordenada, com economia de energia. Para melhor compreensão da atuação desses músculos, torna-se necessária uma breve revisão dos tipos de contração muscular existentes. A contração é denominada concêntrica quando ocorre encurtamento muscular com geração de movimento no sentido esperado anatomicamente (aceleração) e produção de energia. Por exemplo, o músculo gastrocnêmio realiza uma contração concêntrica no pré-balanço, com movimento de flexão plantar (anatomicamente, é um flexor plantar) e geração de potência para a propulsão (energia). Na contração excêntrica, ocorre alongamento muscular e desaceleração. O músculo atuante modela um movimento no sentido contrário à ação usual e ocorre absorção de energia. Como exemplo, pode-se citar a ação do músculo solear durante o segundo mecanismo de rolamento no médio apoio, quando ocorre um movimento de dorsiflexão dos tornozelos, modelado por uma contração excêntrica do solear. O movimento é de desaceleração e ocorre absorção de potência. Por fim, a contração isométrica ocorre quando o comprimento da estrutura muscular não é alterado e a função é basicamente de estabilização articular. A atuação dos músculos biarticulares na conservação de energia ocorre quando uma extremidade contrai de maneira excêntrica e absorve energia, que será transmitida para a outra extremidade muscular, que atuará de maneira concêntrica e fará uso de parte da energia transferida. Essa situação ocorre no músculo reto anterior da coxa, que é um flexor de quadril e extensor de joelho, no balanço inicial. Na extremidade distal, ocorre uma contração excêntrica para permitir a flexão do joelho, já que o reto anterior, por definição, é um extensor dessa articulação, enquanto, na porção proximal, ocorre contração concêntrica para auxiliar na flexão do quadril e gerar potência para a propulsão. Acredita-se que parte dessa energia absorvida na porção distal seja transferida para a produção de potência proximal. CONTRAÇÃO MUSCULAR Durante o ciclo de marcha, a contração muscular pode ocorrer de três formas diferentes: concêntrica,excêntrica e isométrica. A contração concêntrica está relacionada com o movimento de aceleração e geração de energia. Ocorre redução da distância entre a origem e a inserção do músculo, e o movimento gerado é o esperado anatomicamente. Por exemplo, o tríceps sural é um flexor plantar. A contração concêntrica do músculo gastrocnêmio, que é parte integrante do tríceps sural, gera um movimento de flexão plantar. Na contração excêntrica, a principal característica é a desaceleração e a consequente absorção de energia. A distância entre a origem e a inserção do músculo aumenta. Esse tipo de contração não gera movimento no sentido esperado anatomicamente. Usa-se, novamente, o tríceps sural como exemplo. Durante a fase de apoio, ocorre progressiva dorsiflexão dos tornozelos, e o músculo solear é ativado excentricamente com o objetivo de modular esse movimento e evitar que ele seja excessivo. Com isso, o flexor plantar irá contrair de forma excêntrica durante um movimento de dorsiflexão, com a finalidade de controlar tal movimento. A terceira forma de contração muscular é a isométrica. É o tipo menos observado durante a marcha e tem como objetivo estabilizar uma articulação ou um segmento. Não ocorre alteração do comprimento muscular e não há geração e/ou absorção de energia. Como exemplo, pode-se citar a ação do glúteo médio durante o período de apoio simples, que tem como finalidade estabilizar a pelve no plano coronal. Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO CICLO DE MARCHA E EVENTOS Antes de dar início ao estudo do ciclo de marcha e da ação muscular durante a deambulação, torna-se necessária a introdução dos termos “momento” e “potência”. Momento é todo o tipo de força que atua através de um fulcro ou dobradiça. As grandes articulações dos membros inferiores (quadril, joelho e tornozelo) geram movimento através de um fulcro, e as forças atuantes nesses segmentos também são chamadas de momentos. Os momentos externos são aqueles produzidos pela força de reação ao solo, inércia e gravidade, enquanto os momentos internos são gerados pela ação muscular, capsular e ligamentar. Durante os eventos do ciclo de marcha, sempre existirão momentos internos e externos através das articulações, principalmente na fase de apoio, em virtude da presença da força de reação ao solo, e o predomínio de um sobre o outro produzirá o movimento observado. O momento pode ser calculado através da seguinte fórmula: M (momento) = F× D Em que: ▪ F (força): contração muscular (momento interno), tensão capsuloligamentar (momento interno) e força de reação ao solo (momento externo). ▪ D (distância): distância entre o ponto de aplicação da força e o centro da articulação onde ocorrerá o movimento. Com isso, uma força de maior magnitude aplicada a um ponto próximo ao centro articular pode produzir momento similar a uma força menos intensa, mas aplicada a um ponto mais distante do fulcro do movimento. Essa situação pode ser exemplificada através da presença de duas crianças com pesos diferentes em uma gangorra. Se as crianças forem colocadas de forma equidistante do centro da gangorra, a criança mais leve será elevada, pois a força peso é maior no lado oposto. Porém, é possível atingir um ponto de equilíbrio, deslocando a criança mais pesada para mais próximo do fulcro de movimento, enquanto a criança mais leve é direcionada mais para a extremidade. Quando o momento gera movimento da articulação com características de aceleração, existe a produção de potência e geração de energia. Por outro lado, se a característica do movimento é de desaceleração, ocorre absorção de energia, e a potência é negativa. Para que ocorra geração de potência, é fundamental que exista um momento acompanhado de movimento articular, pois: P(potência) = momento × aceleração angular Caso não exista movimento na articulação, a velocidade angular é nula, o que torna inexistente a geração de potência, independentemente da magnitude do momento presente. O mesmo vale para situações em que o ponto de aplicação da força é muito próximo do centro articular, fato que torna a magnitude do momento muito diminuta e sem a capacidade de gerar movimento. O ciclo de marcha é dividido em fases de apoio e balanço. A fase de apoio é caracterizada pelo contato do membro inferior ao solo e corresponde, na deambulação normal, a cerca de 60% do ciclo. Dentro da fase de apoio, existem períodos de apoio simples (contato de apenas um membro ao solo) e duplo apoio (contato de ambos os membros ao solo). Os períodos de duplo apoio ocorrem nos 10% iniciais e finais da fase de apoio, enquanto nos 40% centrais, o apoio é simples. Na fase de balanço, não existe contato do membro com o solo, e tal fase corresponde a cerca de 40% do ciclo de marcha. Quanto mais instável e lenta for a deambulação, maior será a fase de apoio e menor será a fase de balanço. O inverso também é verdadeiro, ou seja, conforme a velocidade aumenta, aumenta também a fase de balanço. CICLO DA MARCHA A literatura apresenta que o ciclo da marcha é constituído por duas fases, ou seja, a fase do apoio e do balanço: ▪ Fase de apoio: é a atividade que ocorre quando o pé está em contato com o solo. Essa fase inicia-se quando o calcanhar de um pé toca o solo e termina quando esse pé sai (eleva-se) do solo. A literatura apesenta que essa fase constitui por volta de 60% do ciclo da marcha, em que a fase de apoio simples (1 membro contata o solo) representa 40% da fase, e a fase de apoio duplo (2 membros contatam o solo) é 10% da fase. ▪ Fase de balanço: essa atividade ocorre quando o pé não está em contato com o solo. Inicia-se assim que o pé sai do solo e termina quando o calcanhar do mesmo pé toca o solo novamente. Essa fase constitui cerca de 40% do ciclo da marcha. Quanto mais instável e lenta a marcha, maior é a fase de apoio e menor a de balanço. Conforme a velocidade aumenta, aumenta a fase de balanço e diminui a de apoio. OBS.: o vetor força do peso do corpo passa anterior à articulação do joelho, gerando um momento extensor. Passando posteriormente (depende de qual fase da marcha está) vai gerar um momento flexor. A força de reação do solo varia de acordo com a fase da marcha e pode passar tanto anteriormente quanto posteriormente. A potência é gerada em 3 ocasiões, sendo elas a ação de extensores de quadril no início do apoio; ação de flexores plantares do tornozelo no final da fase de apoio e na ação de flexores de quadril no final do apoio e início do balanço. A potência é absorvida em 3 ocasiões, sendo elas a ação de dorsiflexores do pé na resposta de carga; ação de flexores plantares do pé durante o apoio médio e na ação dos isquiotibiais no final da fase de balanço. Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO Existem três atividades que devem ocorrer durante essas fases do ciclo da marcha: • Aceitação do peso: peso ocorre no início da fase de apoio, quando o pé toca o solo e o peso do corpo começa a ser transferido para esse membro inferior. • Apoio em um membro inferior: Em seguida, há o apoio em um MI, quando o peso do corpo é totalmente transferido para o MI de apoio, para que o outro membro possa se deslocar para frente. • Avanço do membro inferior: ocorre durante a fase de balanço, para que este possa tocar no solo à frente FASES DO CICLO Como definido acima, a fase de apoio é o período de contado do pé com o solo. Essa fase é tradicionalmente dividida pela literatura especializada em cinco subfases: 1) contato inicial feito pelo toque do calcanhar; 2) apoio completo do pé; 3) apoio médio; 4) saída ou elevação do calcanhar; 5) saída ou elevação dos dedos. • Contato Inicial O toque do calcanhar tem como característica sinalizar o início da fase de apoio, o momento em que o calcanhar faz contado com o solo. Nesse ponto, a articulação do tornozelo estará em posição neutra, ou seja, entre uma dorsiflexãoe flexão plantar, e inicia-se a flexão do joelho. Essa leve flexão do joelho absorverá parcialmente o choque quando o pé tocar ao solo. A articulação do quadril estará em uma flexão de aproximadamente 25°. Por sua vez, o tronco estará ereto e permanecerá assim durante todo o ciclo da marcha. Já o tronco rodará para o lado oposto (contralateral), o membro superior oposto estará à frente, e o membro superior do mesmo lado (ipsilateral) estará para trás em hiperextensão do braço na articulação do ombro. Nesse momento o peso do corpo começará a ser transferido para o membro inferior de apoio. Os músculos dorsiflexores do pé estarão ativos e colocarão a articulação do tornozelo em posição neutra. Já o músculos quadríceps femoral, que apresentava contração concêntrica, passa contrair-se de maneira excêntrica para minimizar o grau de flexão no joelho. Os músculos flexores da articulação do quadril nesse momento estarão ativos. Todavia, os músculos extensores do quadril começarão a contrair-se, impedindo com isso uma flexão demasiada do quadril. Por sua vez, os músculos eretores da coluna ou espinha estarão de ativos de forma isométrica impedindo a flexão do tronco. No momento que o pé toca o solo, a força é transferida ao tronco pelo tornozelo, joelho e quadril. Esse fenômeno causaria uma rotação anterior do quadril, com alguma flexão do tronco, se os músculos eretores da espinha não estivessem neutralizando essa força. Resumo: Tornozelo: neutro – ação dos m. dorsiflexores (m. tibial anterior) Joelho: inicio da flexão da perna, absorvendo parcialmente choque quando o pé toca o solo Coxa: flexão – m. glúteo máximo desacelera o movimento de flexão da coxa Ombro contralateral: flexão do braço Ombro ipsilateral: hiperextensão do braço Tronco: ereto – ação do m. eretor da espinha • Apoio Completo do Pé No momento do apoio completo do pé, quando esse segmento está totalmente em contado com o solo, ocorre logo após o calcanhar tocar o solo. Aproximadamente 15° de flexão plantar do pé na articulação talocrural, com contração excêntrica dos músculos dorsiflexores para evitar que o pé “bata” com força no solo. Nesse momento ocorre cerca de 20° de flexão do joelho. Em seguida, o joelho estende-se possibilitando que o restante do corpo com a alcançar os membros inferiores. A transferência do peso para o membro inferior de apoio contínua. Resumo: Tornozelo: flexão plantar para evitar que o pé bata com força no solo – m. flexores plantares (tríceps sural) Joelho: flexão da perna Coxa: extensão, possibilitando que o resto do corpo comece a alcançar o membro inferior *M. abdutores do quadril (m. glúteo mínimo, glúteo médio e tensor da fáscia lata) estabilizam a pelve. • Apoio Médio A literatura apresenta que o ponto em que o corpo passa sobre o membro inferior que sustenta o peso é o apoio médio. Nesse ponto ocorrerá leve dorsiflexão do tornozelo, Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO entretanto os músculos dorsiflexores tornam-se inativos. Os músculos flexores plantares começarão a contrair-se, para controlar a velocidade de movimento da perna sobre o tornozelo. O quadril e o joelho continuaram a estender- se. Nesse momento ocorrerá a extensão bilateral dos membros superiores, e eles ficam quase paralelos ao corpo, por sua vez o tronco estará em posição neutra. Resumo: Tornozelo: leve dorsiflexão – m. dorsiflexores (m. tibial anterior) tornam-se inativos e m. flexores plantares (m. tríceps sural) começam a se contrair, controlando a velocidade da perna sobre o tornozelo Joelho: extensão – m. quadríceps femoral Coxa: extensão Membros superiores: extensão bilateral, quase paralelos ao corpo Tronco: neutro em relação à rotação *M. abdutores do quadril (m. glúteo mínimo, glúteo médio e tensor da fáscia lata) estabilizam a pelve. • Saída ou Elevação do Calcanhar Depois do apoio médio ocorrerá a saída ou elevação do calcanhar. Nesse momento o calcanhar sai do solo, há leve dorsiflexão do pé (aproximadamente 15°) e em seguida, início da flexão plantar do pé. Esse é o início da fase de impulso, que é também as vezes denominada de fase de propulsão, porque os músculos flexores plantares do pé empurram o corpo ativamente para frente. Nesse momento do ciclo da marcha ocorrerá extensão do joelho e hiperextensão do quadril. Então, o membros inferior posicionara-se atrás do pé, em seguida o tronco começará a rodar para o mesmo lado, e o membros superiores balançam para frente com flexão do braço. Resumo: Tornozelo: leve dorsiflexão e inicio da flexão plantar que empurra o corpo ativamente para frente – m. flexores plantares (m. tríceps sural) Joelho: extensão Coxa: hiperextensão Membro superior contrário ao da perna da frente: balança para frente com flexão do braço *Se houver lesão dos m. dorsiflexores nessa fase: marcha do pé caído • Saída ou Elevação dos Dedos Fim da fase de impulso da fase de apoio é a saída ou elevação dos dedos do solo. Nessa fase do ciclo da marcha os dedos dos pés estarão em hiperextensão externa nas articulações metatarsofalangianas. Cerca de 10° de flexão plantar do pé, bem como flexão dos joelhos e quadril. A coxa estará perpendicular ao solo. Resumo: Metatarsofalangeana: hiperextensão extrema Tornozelo: flexão plantar Joelho: flexão Coxa: flexão, perpendicular ao solo *Se houver lesão de algum músculo nessa fase: marcha ceifante, marcha equina. A literatura apresenta que a fase de balanço possui três momentos; aceleração, balanço médio e desaceleração. Todas essas atividades citadas são sem sustentação do peso. • Aceleração A primeira parte é a aceleração. Nesse momento os membros inferiores estarão atrás do corpo e movendo-se para alcança-lo. Ocorrerá dorsiflexão do pé, flexão do joelho e quadril continuarão, o que moverá o membro inferior para frente. O balanço inicial é o período entre o fim da saída (elevação dos dedos do solo) e o fim da aceleração. Resumo: Tornozelo: dorsiflexão do pé – m. dorsiflexores (m. tibial anterior) Joelho: flexão Coxa: flexão – m. iliopsoas e m. reto femoral aceleram a coxa • Balanço Médio No momento do balanço médio, os músculos dorsiflexores do pé “deslocarão” a articulação do tornozelo em posição neutra. Nesse momento a flexão do joelho é máxima, aproximadamente 65°, assim como a do quadril (cerca de Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO 25°). Esses movimentos articulares elevarão o membro inferior (seguimento coxa e perna) possibilitando a saída do pé do solo durante o balanço. A flexão adicional do quadril moverá o membro inferior para frente do corpo e colocarão seguimento perna em posição vertical. O balanço médio é o período entre o fim da aceleração e o fim do balanço médio. Resumo: Tornozelo: neutro Joelho: flexão máxima Coxa: flexão máxima, encurtando o membro inferior e possibilitando a saída do pé do solo durante o balanço • Desaceleração No período da desaceleração, os músculos dorsiflexores do pé terão ação ativa para manter a articulação do tornozelo em posição neutra no preparo para o toque do calcanhar no solo. Nesse momento ocorrerá extensão do joelho e contração excêntrica dos músculos isquiotibiais para desacelerar o membro inferior, evitando uma extensão brusca. O membro inferior alcançará o ponto máximo de balanço para frente e o joelho continuará fletido. O balanço terminal é o período entre o fim do balanço médio e o fim da desaceleração. Resumo: Tornozelo: dorsiflexão – m. dorsiflexores (m. tibial anterior) Joelho: extensão Coxa: flexão – contração excêntrica dos m. posteriores da coxa (m. glúteo máximo e m. isquiotibiais) para desacelerar o membro inferior, evitando a extensão brusca MÚSCULOS RELAÇÃO DE LOCOMOÇÃO COM AUTONOMIA "No primeiro ano de vida, há estreita relação entre as funçõesque aparecem e desaparecem e a evolução estrutural do sistema nervoso central. É fora de discussão que as funções mais elementares de sistemas mais primitivos vão sendo paulatinamente inibidas pelos sistemas hierarquicamente superiores (Jackson, J.)". Compreendemos que a marcha na criança está além do desenvolvimento motor, mas unido a este encontramos as sensações experimentadas pelo bebê no decorrer do primeiro ano de vida como sendo de imensa importância para o deambular, assim como para fazê-lo de forma correta. A postura do bebê deve ser vista e analisada do ponto de vista funcional e as compensações antálgicas que surjam devem ser corrigidas o mais precocemente possível. O bebê começa a deambular entre os doze e quatorze meses iniciais da sua vida, porém isso dependerá, e muito, das experiências que ele vivenciará nesta fase. OS PRIMEIROS PASSOS: Na verdade observamos os primeiros passos do bebê como sendo através do reflexo de apoio plantar (RAP) e marcha reflexa. Este teste neurológico serve para avaliar a maturidade a nível medular no bebê. Estes reflexos devem estar presentes até o segundo mês de vida. Em tomo dos nove meses de idade o bebê começa a ficar de pé com apoio, na verdade é nesta fase que o bebê começa a equilibrar-se na posição osteostática e assim se preparar para o início da marcha. Depois dessa fase o bebê começa a experimentar o ficar de pé sem auxílio de um apoio; esta postura intermediária entre o começo da fase de equilíbrio e a marcha é quando o centro de gravidade começa a se ajustar para os primeiros passos. Marcha com apoio: Uma vez atingida a posição de pé, tendo as mãos apoiadas, a criança dá passos com a base de sustentação muito alargada. Apesar de começar a deambulação, a criança ainda utiliza o engatinhar para explorar o meio à sua volta. Marcha sem apoio: Nesta fase a criança deambula, sem apoio das mãos, com a base de sustentação ainda muito alargada e muita instabilidade de equilíbrio. O apoio plantar é feito basicamente pelo bordo medial dos pés e calcâneo. Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO Em geral durante a marcha, atitude dos membros superiores, e de abdução das escapuloumerais, flexão dos cotovelos, a fim de auxiliar no equilíbrio do corpo ao deslocarse. Somente quando a criança começa a andar é que aparecem as reações de equilíbrio na posição de pé. Chamamos de alteração nesta fase a criança que ao deambular o faça com apoio, se andar nas pontas dos pés ou se claudicar. O colocar a criança de pé, mesmo com apoio precocemente, pode levar a sérios danos a coluna espinhal, assim como deformidades nos joelhos que irão interferir na marcha. FONTES ▪ Ortopedia e Traumatologia Principios - Sizinio Hebert ▪ Biomecânica e Cinesiologia – Apostila da Escola Estadual de Educação Profissional (Fisioterapia) do Governo do Estado do Ceará ▪ Guia de Medicina Ambulatorial e Hospitalar UNIFESP/Escola Paulista de Medicina - Guia de Ortopedia e Traumatologia Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO PARALISIA CEREBRAL Paralisia cerebral (PC) é o termo utilizado para designar um grupo de desordens motoras e posturais resultantes de uma anomalia ou lesão não progressiva do cérebro imaturo. Associadas ao distúrbio da motricidade, que caracteriza a PC, podem ocorrer alterações sensoriais, cognitivas e da percepção, assim como crises convulsivas. A PC também é conhecida por outros nomes, como encefalopatia estática, termo bastante utilizado na literatura neurológica, ou mesmo doença de Little. A definição cronológica de cérebro imaturo não é consensual, mas a tendência é considerar PC os casos em que a lesão neurológica aconteceu até os 2 anos de vida. Após tal idade, os casos tendem a ter nomenclatura de acordo com o agente causal, como sequela de encefalite, de traumatismo craniencefálico ou de acidente vascular cerebral. EPIDEMIOLOGIA ▪ A paralisia cerebral (PC) é a incapacidade motora mais comum na infância. ▪ No Brasil há uma carência de estudos que tenham investigado especificamente a prevalência e incidência da paralisia cerebral (PC) no cenário nacional, entretanto, com base em dados de outros países. ▪ Há 17 milhões de pessoas em todo o mundo que vivem com paralisia cerebral (PC). ▪ A incidência de PC varia de 0,6 a 5,9 pacientes em cada mil nascidos vivos ou de uma a sete crianças em mil, incidência que deve ser mais comum em regiões com cuidados maternoinfantis mais deficientes. ▪ Nos Estados Unidos, a incidência de PC está em torno de dois para cada mil nascidos vivos. ▪ Indivíduos com paralisia cerebral têm mortalidade maior que a população geral e a expectativa de vida é menor, especialmente quando é acompanhada de distúrbios severos. A principal causa de morte apontada nos trabalhos são as doenças respiratórias FATORES DE RISCO A paralisia cerebral pode ser derivada de qualquer evento que possa gerar um estresse ao cérebro fetal e neonatal em desenvolvimento. Nesse caso alguns fatores de risco são: ▪ Malformações congênitas, restrição do crescimento fetal, gestações múltiplas, infecção durante o período fetal e neonatal, asfixia no nascimento, parto prematuro, hipotireoidismo materno não tratado, acidente vascular cerebral perinatal e trombofilia. ▪ O parto prematuro, principalmente antes das 28 semanas de gestação, é o principal fator de risco para o desenvolvimento da PC , pois aumenta a suscetibilidade ao sofrimento perinatal e pode ser decorrente de um fator pré-natal já em ação. ▪ Embora o parto prematuro seja um fator de risco bem estabelecido para PC, um estudo recente sugere que a gravidez pós-termo com 42 semanas ou mais também esteja associada a um risco aumentado dessa condição. ETIOLOGIA Com relação à etiologia, é possível fazer uma divisão em três grupos: ▪ Causas pré-natais: Aqui, situam-se as infecções intrauterinas, como rubéola, toxoplasmose e citomegalovírus, além das malformações que acometem o sistema nervoso central, dependendo da época da ação do agente causal. Genética e/ou hereditátria. Anóxico isquêmicos: patologias placentárias, toxemia gravídica, doenças crônicas da gestante, circular de cordão umbilical. Metabólicos: diabetes e desnutrição materna. Tóxicos: medicamentos, irradiação, drogas, álcool. Retardo de crescimento intrauterino e baixo peso ao nascer. Doença tireoideana. Descolamento prematuro da placenta, prolapso de cordão umbilical e choque hipovolêmico materno, são eventos intraparto que podem gerar injúria cerebral em fetos previamente hígidos. ▪ Causas perinatais: Trabalho de parto prolongado com anoxia. Incompatibilidade do sistema Rh e fatores relacionados à prematuridade são elementos considerados causas perinatais. Hiperbilirrubinemia: O kernicterus, lesão secundária à hiperbilirrubinemia no período neonatal Infecciosa/metabólica. Parto distócico. Hemorragia peri e intraventricular. A displasia broncopulmonar; os distúrbios bioquímicos e hematológicos; Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ▪ Causas pós-natais: As principais são as infecções, como a meningite e a meningoencefalite, além dos traumatismos. TCE, AVE, Síndromes epilépticas graves. Desnutrição, Acidente de submersão. Obs.: Prematuridade: principal fator de risco. A organização das conexões sinápticas e a mielinização prosseguem após o nascimento, por tempo variável. O parto traumático pode levar a quadro anatomopatológico de encefalopatia anóxio-isquêmica, que corresponde a necroses em diferentes localizações, ou de hemorragia intracraniana de distribuições subaracnóidea, subdural, intraventricular ou intraparenquimatosa, essas complicações podem ser desencadeadas por prematuridade, baixa peso para idade gestacional, idade materna, distúrbios metabólicos. Obs.: por conta do avanço do cuidado no pré-natal e no parto, causas como anoxia noparto e toracotraumatismo têm diminuído. Contudo, aumentou o número de causas de partos gemelares e prematuros extremos. ⋅ Se peso <1500g, a incidência é de 90/mil nascidos vivos ⋅ Se peso >2500g, a incidência é de 3/mil nascidos vivos ⋅ Se gestação gemelar, a chance de PC aumenta em 12x (ainda inclui peso baixo) Resumo: ▪ Menor frequência: infecções do sistema nervoso central, hemorragia craniana associada a distúrbio de coagulação, mal convulsivo, trauma craniano e distúrbios eletrolíticos graves. ▪ Maior frequência: a infecção congênita (15%), infecção do sistema nervoso central (10,6%) e estado de mal convulsivo (22,5%). A prematuridade esteve associada e estes fatores de risco em 50% dos lactentes. FISIOPATOLOGIA Diante das diversas etiologias foram encontrados, níveis significativamente elevados de citoquinas no líquido amniótico ou sangue de recém-nascidos a termo ou pré- termo com PC, sugerindo que fatores relacionados a uma resposta inflamatória fetal podem ser agentes causais no dano cerebral associado com infecção intra-uterina. Outros estudos (sobre a hipóxia perinatal) mostraram que houve um aumento de IL-1, IL-6 e TNF-alfa nas crianças que faleceram até um ano e nas crianças com PC, quando comparadas com crianças com desenvolvimento neuromotor normal, mostrando que pode também existir estímulos não infecciosos, como trauma e isquemia, que iniciam a produção de citoquinas. Há estudos recentes que apontam a importância dos mediadores de resposta imune, como as citoquinas, as proteínas de fase aguda e os componentes do sistema de complemento, como fator causal em grande número de condições neurológicas. Entretanto, algumas citoquinas podem funcionar também como moduladores da resposta inflamatória, como as oligotrofinas, capazes de proteger os oligodendrócitos. Pessoas com quantidade inadequada deles podem ter maior risco de dano no SNC. Parece que a síntese desses protetores, exemplificado pela tiroxina, é regulada por um fenômeno que varia com a idade gestacional. Além da tiroxina, os adrenocorticosteróides também são capazes de funcionar como oligotrofinas. Ainda foram citados como outros fatores de risco: anormalidades cranianas severas ao USG, doenças pulmonares crônicas, hiperbilirrubinemia e, possivelmente, hipotiroxinemia. A injúria hipóxica-isquêmica do cérebro, prénatal ou perinatal, é citada como o maior contribuidor para a morbidade e a mortalidade em crianças, levando a retardo mental, epilepsia e PC, e tem uma frequência em neonatos de 4:1.000 nascimentos. Sua relação com a etiologia da lesão neuroanatômica na PC está na hipótese de que o dano isquêmico e a hipoperfusão lesam as stem cells/células progenitoras na zona subventricular, resultando numa depleção permanente de oligodendrócitos. Essa área é mais suscetível, pois é uma zona de transição com suprimento sanguíneo marginal. Dessa forma, a produção de oligodendrócitos é comprometida e há regeneração deficiente da mielina no locus periventricular. Ocorre, entao, disgenesia do cérebro, que pode contribuir para a disfunção motora e cognitiva encontrada em pacientes com PC QUADRO CLÍNICO E DESENVOLVIMENTO Existem 06 aspectos principais no quadro clínico: ▪ Retardo no desenvolvimento de novas habilidades esperadas pela idade cronológica da criança. ▪ Persistência de comportamentos imaturos em todas as funções. ▪ Lento progresso de um estágio de desenvolvimento para outro. ▪ Menor variedade de habilidades em relação a outras crianças de desenvolvimento normal. ▪ Variações na sequência normal de habilidades. ▪ Padrões anormais e pouco comum de algumas habilidades. Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO Para reconhecer um comportamento motor e geral anormais, o terapeuta deve conhecer o que uma criança normal faz e como ela o faz nos vários estágios de desenvolvimento. ▪ A terapia deve ser ajustada levando-se em consideração o grau de severidade das incapacidades presentes. MUDANÇAS NO QUADRO CLÍNICO: O quadro clínico não é estático de sinais e sintomas. Os sintomas patológicos podem se desenvolver com o tempo. Ex: Espasticidade, movimentos involuntários e ataxia. ▪ O tratamento minimiza os agravamentos dos sintomas. CLASSIFICAÇÃO Os pacientes podem ser classificados de acordo com o padrão topográfico ou os tipos clínicos. Na classificação topográfica, os tipos observados com maior frequência são: ▪ Diparesia: Comprometimento predominante dos membros inferiores e, geralmente, simétrico. O prognóstico de marcha depende da idade de aquisição do controle postural do tronco; é provável que crianças que conseguem sentar antes dos 3 anos sejam deambuladoras. ▪ Hemiparesia: Comprometimento de um hemicorpo, sendo a assimetria uma importante característica. Ótimo prognóstico para a marcha, quaisquer que sejam as deformidades presentes. Como a lesão cerebral costuma ser focal, a incidência de crises convulsivas é mais alta nesse grupo. ▪ Tetraparesia ou envolvimento global: Grave comprometimento, muitas vezes sem prognóstico para a marcha. A ocorrência de crises convulsivas, problemas respiratórios e digestivos é frequente. Os quatro membros são comprometidos, assim como o tronco. ▪ Outras formas menos frequentes: Dupla hemiparesia, ou seja, os quatro membros são comprometidos, mas de forma assimétrica. O tronco costuma ter melhor controle do que na tetraparesia, e um hemicorpo pode exibir maior acometimento, com deformidades significativas no membro superior. Pode ocorrer também triparesia – quando três membros são acometidos, sendo mais comum os dois membros inferiores e um membro superior – e monoparesia, quando apenas um membro é acometido, o qual costuma ser um inferior. ▪ A classificação de acordo com o tipo clínico tem como base a alteração do movimento que o paciente apresenta, e os tipos mais frequentes são: ▪ Espástico: A espasticidade é a desordem motora mais comum na PC, com incidência próxima de 75% dos casos em algumas séries. É caracterizada por hiper-resposta ao reflexo do estiramento muscular, sendo velocidadedependente. A presença de deformidades musculoesqueléticas é comum nesse grupo de pacientes, e a lesão no cerebral é localizada no sistema piramidal. ▪ Extrapiramidal: Tem como característica principal a presença de movimentos involuntários, e a topografia da lesão são os gânglios da base. É o segundo grupo de alterações neuropáticas mais frequentes na PC, com deformidades musculoesqueléticas infrequentes. O paciente tem hipercinesia, tônus flutuante e movimentos involuntários (principalmente na fase e em membros). A atetose em si não causa deformação osteoarticular, não necessitando de tratamento ortopédico específico. Pode ser dividido nos seguintes subtipos: Atetose: Forma mais comum dentre os distúrbios extrapiramidais. Tem como característica a presença de movimentos lentos e serpenteantes nas extremidades, que parasitam o movimento voluntário. Coreia: Movimentos involuntários e rápidos nas raízes dos membros, que muitas vezes impossibilitam o movimento voluntário, são as principais características. Distonia: Definida por movimentos atetoides mantidos em posturas fixas, que se modificam com o tempo. ▪ Atáxico: É o tipo neuropático mais raro na PC e tem como principal característica a falta de coordenação dos movimentos. A topografia da lesão é o cerebelo e existe frequente associação com o tipo espástico. ▪ Misto: Com a mudança na etiologia na PC nas últimas décadas, com incremento dos fatores intrauterinos e prematuridade, tem-se observado com mais frequência a presença de formas mistas, nas quais a forma espástica, em geral, é combinada com a forma extrapiramidal ou atáxica. ▪ Hipotônico: Forma rara e que costuma tornar-se espástica com o crescimento. Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ▪ Tipos clínicos combinados: Espastica bilateral: mais grave, comum por anoxia-isquemiadifusa. Espasticidade bilateral: relacionada com a distonia, não desenvolvendo deambulação. Síndrome pseudobulbar: lesão bilateral da via piramidal. Gera dificuldade para engolir e mastigar, sialorreia e comprometimento respiratório. É comum o não desenvolvimento da linguagem e fala por conta do comprometimento cortical grave. Uma terceira forma de classificar os pacientes com paralisia cerebral é através do desempenho motor habitual praticado no domicílio, na escola e na comunidade. Para isso, emprega-se o sistema Gross Motor Function Classification System (GMFCS): O advento desse sistema de classificação foi crucial no intuito de tornar mais homogênea e objetiva a comunicação científica e clínica envolvendo pacientes com PC. Com o uso da classificação topográfica (ou anatômica) e do tipo clínico, é possível, por exemplo, classificar um indivíduo como tendo diparesia espástica; no entanto, dentro dessa denominação, há uma enorme diversidade de níveis motores e quadros clínicos. Pode-se encontrar uma criança com PC tipo diparesia espástica que anda sem apoio e sem órteses e joga futebol, assim como é possível encontrar pacientes com diparesia espástica que se locomovem apenas em cadeiras de rodas. O GMFCS, portanto, completa de forma bastante efetiva a classificação de pacientes com PC a partir de um enfoque funcional. Para fins clínicos, utiliza-se com mais frequência o GMFCS de 6 a 12 anos. Os indivíduos são divididos em cinco níveis, conforme a função na comunidade, no domicílio e na escola. • Nível I: Marcha comunitária sem restrições e sem uso de órteses. As dificuldades aparecem em atividades motoras mais elaboradas e amplas, como a prática esportiva, subir escadas e rampas e andar em terrenos irregulares. • Nível II: Marcha sem meios auxiliares, mas com limitação para andar na comunidade e fora de casa. Pode necessitar de auxílio para subir escadas e rampas. O uso das órteses suropodálicas é mais frequente nesse grupo. • Nível III: Marcha com assistência de meios auxiliares (muletas ou andador). Apresenta limitação para andar na comunidade e fora de casa. Pode necessitar de cadeira de rodas para longas distâncias, mas a marcha ainda é o meio preferencial de locomoção. • Nível IV: Uso de cadeira de rodas para o deslocamento na comunidade e fora de casa. Ortostatismo e marcha restritos ao domicílio e a ambientes fechados, com limitações. Apresenta controle cervical e de tronco. • Nível V: Grave acometimento motor. Controle cervical e de tronco comprometidos. Deslocamento apenas com tecnologia assistiva. Classificação MACS (Manual Ability Classification System) • Sistema de classificação da habilidade manual; • Consiste em um sistema de classificação da função manual de crianças e adolescentes com PC de 4 a 18 anos sem manter o foco no lado afetado, ou no tipo de preensão manual e, sim, no desempenho bimanual durante as atividades de vida diária em sua casa, na escola, ou na comunidade. • Também classifica as crianças/adolescentes em cinco níveis, variando do I, que inclui as que manipulam objetos facilmente, até o nível V que inclui as que não manipulam objetos e têm habilidade severamente limitada para desempenhar até mesmo ações simples. Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO ALTERAÇÕES MOTORAS NA PARALISIA CEREBRAL As alterações motoras na PC podem ser divididas em primárias, secundárias e terciárias, e a compreensão dessa estratificação é fundamental para o planejamento terapêutico. Todos os distúrbios resultantes diretamente da lesão cerebral são ditos como alterações primárias, como espasticidade, alterações do equilíbrio, movimentos involuntários, fraqueza muscular e perda da seletividade. As alterações secundárias são o produto da presença da espasticidade sobre o esqueleto em crescimento, com o surgimento de deformidades musculoesqueléticas. Tais deformidades são progressivas e sequenciais, pois, de início, são dinâmicas e redutíveis ao exame físico, após o adequado relaxamento do paciente. Com a manutenção da alteração primária, ou seja, da espasticidade, em combinação com o crescimento corpóreo, as deformidades tornam-se estruturadas e passam a ser estáticas, sendo, a partir desse ponto, irredutíveis, mesmo com o adequado relaxamento. Em um primeiro momento e de forma básica, as alterações secundárias são caracterizadas por encurtamentos musculares, que aos poucos podem evoluir para contraturas articulares e deformidades ósseas, com o surgimento das disfunções de braço de alavanca. Por definição, as disfunções de braço de alavanca ocorrem quando um músculo já acometido pelas alterações primárias da PC (fraqueza, falta de seletividade e espasticidade) passa a ter alinhamento ósseo anormal e desfavorável para atuar. O problema pode ocorrer nos tornozelos, quando o aumento da torção tibial externa e os pés planos valgos causam prejuízo na ação do tríceps sural na fase de apoio. O mesmo também pode ocorrer nos quadris, quando o aumento da anteversão femoral – e, em casos extremos, uma subluxação ou luxação – provoca disfunção da musculatura glútea, além de gerar fulcro instável de movimento. As alterações terciárias são chamadas de mecanismos compensatórios, que ocorrem em consequência ou em resposta às alterações primárias e secundárias. Muitas vezes, os mecanismos compensatórios são necessários para que a função seja preservada, mas sempre acarretam aumento do gasto energético e prejuízo estético para a marcha. Como exemplo, podem-se citar a rotação externa e a abdução do quadril que ocorre quando o paciente apresenta marcha com joelho rígido, com limitação para a flexão na fase de balanço. Esse mecanismo compensatório nos quadris é chamado de circundução e é fundamental para a liberação dos pés para que a fase de balanço ocorra, porém, gera movimentos não previstos na marcha normal, com aumento da demanda de energia. Obs.: Quando se pensa nos princípios gerais do tratamento na PC, a estratificação das alterações em primárias, secundárias e terciárias é de suma importância, pois as primeiras medidas devem ser sempre voltadas ao combate ou ao controle das disfunções relacionadas à lesão cerebral (alterações primárias). Infelizmente, os problemas com equilíbrio e controle seletivo são de difícil manejo terapêutico, assim como o fortalecimento muscular. A espasticidade pode ser controlada das seguintes maneiras: ▪ Controle sistêmico e reversível: Essa modalidade de controle pode ser realizada através da utilização de fármacos de ação sistêmica, como benzodiazepínicos e baclofeno. O equilíbrio entre ação satisfatória e baixos efeitos colaterais com a administração por via oral não é de fácil obtenção em virtude da barreira hematencefálica, o que torna comprometida a eficácia dessa opção de tratamento. A administração por via intratecal do baclofeno, por uma bomba de infusão programável implantada no subcutâneo, tem melhor ação sobre o controle da espasticidade e tem sido o método de escolha de uso dessa substância nos Estados Unidos. ▪ Controle sistêmico e irreversível: A rizotomia dorsal seletiva pode ser empregada para redução da espasticidade, de maneira definitiva. É seccionada parte das raízes posteriores (sensitivas) na região da coluna lombar, com o objetivo de reduzir o arco reflexo medular e, portanto, a espasticidade. Os critérios de seleção do paciente são muito rigorosos e baseados na presença de aumento do tônus muscular, com ausência de componente extrapiramidal, boa força muscular e adequado controle seletivo. Mesmo com a adequada seleção do paciente, é fundamental uma equipe de neurocirurgia habituada com o procedimento e integrada dentro de uma abordagem multidisciplinar no tratamento da PC. ▪ Controle local e reversível: A redução focal e temporária da espasticidade pode ser obtida com a aplicação de bloqueios periféricos com fenol ou toxina botulínica. A duraçãoé de cerca de quatro a seis meses, sendo que a espasticidade retorna de maneira gradual após o término do efeito. O bloqueio com fenol é realizado em nervos motores e causa desmielinização temporária. O ponto em que o fenol é mais utilizado é no ramo anterior do nervo obturador, com o objetivo de controle da espasticidade dos adutores de quadril. A aplicação de toxina botulínica é efetuada no músculo e gera bloqueio temporário na liberação de acetilcolina na placa motora. Deve-se respeitar a dosagem máxima por peso corporal e por músculo a ser tratado. ▪ Controle local e irreversível: As cirurgias ortopédicas podem ser empregadas para controle da espasticidade de maneira focal. Tal objetivo pode ser atingido através de uma transferência ou um alongamento musculotendíneo. Como exemplo de transferência, pode-se citar a do reto anterior da coxa, que, quando espástico, limita a flexão do joelho na fase de balanço e dificulta a liberação do pé do mesmo lado. Esse distúrbio é tratado, em geral, com a transferência do reto anterior Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO para flexor de joelho, procedimento para remover o efeito deletério da espasticidade do músculo durante a fase de balanço. Também pode ser notado um maior relaxamento muscular após alongamentos cirúrgicos, como observado na abdução dos quadris após tenotomia dos adutores. DETALHES DAS ALTERAÇÕES As alterações secundárias são o produto do crescimento corporal em um paciente espástico e são caracterizadas em última instância pelas deformidades musculares e ósseas. As deformidades são geradas pelo desequilíbrio entre agonistas e antagonistas através de uma articulação. Um agonista muito espástico pode gerar deformidade mesmo na presença de um antagonista competente. O inverso também é verdade, pois na presença de antagonistas muito fracos, as deformidades podem surgir mesmo sem espasticidade significativa dos agonistas. A profilaxia contra essas alterações consiste em controle da espasticidade, uso de órteses e programas de reabilitação, com a participação de profissionais das áreas de fisioterapia e terapia ocupacional, com o objetivo de promover o desenvolvimento motor e manter o comprimento muscular. Uma vez presentes as deformidades, o tratamento de escolha é a correção cirúrgica. Os procedimentos utilizados com mais frequência na PC serão discutidos adiante, assim como suas indicações. As alterações terciárias não costumam necessitar de tratamento específico, pois com o adequado manejo das alterações primárias e secundárias, as compensações são controladas. Um erro frequente é insistir no tratamento das alterações terciárias sem identificar ou tratar as verdadeiras fontes do problema. Um exemplo é a flexão dos quadris durante a marcha, terciária à flexão dos joelhos na fase de apoio. O problema primário geralmente é a espasticidade dos isquiotibiais em conjunto a alguma deficiência do músculo solear. Após, surgem as contraturas em flexão dos joelhos, que impedem a correta extensão dessas articulações e dos quadris na fase de apoio da marcha. Para tratar essa sequência de eventos, é preciso suprir a deficiência do músculo solear através da utilização de órteses e corrigir a deformidade em flexão dos joelhos. A abordagem cirúrgica isolada nos flexores de quadril, sem a preocupação de intervir nos problemas primários e secundários, causa a manutenção do problema. REFLEXOS ANORMAIS Os reflexos primitivos estão presentes no desenvolvimento motor normal. Porém, na paralisia cerebral, esses reflexos permanecem mesmo quando já deveriam ter sido integrados. Os reflexos primitivos de maior interesse ao terapeuta são: ▪ Reflexo de Moro; ▪ Reflexo Plantar; ▪ Reação de Suporte Positiva; ▪ Preensão Palmar; ▪ Marcha Automática; ▪ Reflexos de Alimentção. Algumas crianças com comprometimento severo, ativam alguns desses reflexos mediante esforços motores. Há também reflexos tônicos: ▪ Reflexo tônico labiríntico; ▪ Reflexo tônico cervical assimétrico; ▪ Reflexo tônico cervical simétrico. ESPASTICIDADE Por definição, espasticidade é uma desordem motora caracterizada por aumento dos reflexos de estiramento tônicos (tônus muscular), velocidade dependente, resultado da hiper excitabilidade deste reflexo, como um componente da Síndrome do Neurônio Superior ▪ Característica: Está associada com redução da capacidade funcional, limitação da amplitude do movimento articular, desencadeamento de dor, aumento do gasto energético metabólico e prejuízo nas tarefas diárias, como alimentação, locomoção, transferências (mobilidade) e cuidados de higiene. ▪ Consequências: Pode causar contraturas, rigidez, luxações e deformidades articulares. Por outro lado, o aumento do tônus muscular pode contribuir para estabilização articular, melhora postural, facilitação das trocas de decúbito e transferências. ▪ Fisiopatologia Um aumento do reflexo de estiramento pode ocorrer devido a uma hiperexcitabilidade dos motoneurônios alfa a nível segmentar, ou por aumento do estímulos excitatórios aferentes desencadeados pelo estiramento muscular ou por ambos. O conjunto dos motoneurônios é considerado hiperexcitável se um estímulo excitatório padrão for capaz de desencadear uma resposta aumentada em termos de limiar e frequência. Esta hiperexcitabilidade pode ser generalizada devido a um desequilíbrio ente os impulsos excitatórios e inibitórios nos motoneurônios. Em uma lesão dos motoneuronios superiores, os impulsos inibitórios ficam diminuídos gerando um hiperexcitabilidade. A resposta motora exagerada em um paciente espástico, é originada a partir de mudanças no modo em que o circuito medular processa as informações geradas em diferentes sítios, incluindo propriocepção, exterocepção, e estímulos descendentes supra- segmentares. A espasticidade está intimamente relacionada com o arco reflexo do estiramento. Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO Diante disso, a perda da influência inibitória descendente ocasiona o aumento da liberação de neurotrasmissores, envolvidos no mecanismo do tônus muscular como o ácido gamaminomutírico (GABA), glicina (inibitórios) e glutamato (excitatório), além da noradrenalina, serotonina e neuromoduladores como a adenosina e vários neuropeptídeos, ocasionando aumento da hiperexcitabilidade dos neurônios fusimotores gama e alfa. A hiperatividade gama provoca contração da região polar estriada do fuso neuromuscular, levando ao aumento da sensibilidade das formações anuloespinais, facilitando a descarga (resposta) frente às alterações do comprimento muscular, e conseguinte contração das fibras musculares extrafusais. Simultaneamente, a hiperatividade dos motoneurônios alfa facilita a resposta reflexa miotática perante um estiramento muscular, favorecendo uma forte facilitação da transmissão na via reflexa monossináptica das fibras sensoriais Ia para neurônios motores alfa. DIAGNÓSTICO A PC é uma condição bem reconhecida de alteração no desenvolvimento neurológico que se manifesta na primeira infância, usualmente antes dos 18 meses de idade. O diagnóstico é definido em bases clínicas, caracterizadas por alterações do movimento e postura, sendo os exames complementares utilizados apenas para diagnóstico diferencial com encefalopatias progressivas. A idade média de diagnóstico é entre 18 e 24 meses de vida. Este é, sem dúvida, um dos nossos maiores limitantes na eficácia de intervenções, uma vez que nestes dois primeiros anos de vida ocorre o período mais adequado do ponto de vista da neuroplasticidade e muitas crianças perdem justamente esta janela preciosa de intervenção. ▪ Anamnese + exame físico (neurológico) Mesmo antes de marcos motores maiores serem esperados, o comportamento da criança, seja muito irritado ou dócil, a presença de reflexos primitivos exaltados e posturas inadequadas como o opistótono, dificuldade de alimentação e de ganho ponderalsão indicadores precoces de disfunção. O exame neurológico sistemático sempre foi a primeira ferramenta de avaliação dos bebês e seu valor é incontestável. Itens específicos do exame mostram maior correlação com o desfecho neurológico negativo e são estes o Reflexo de Moro, as reações palmoplantares e o reflexo tônico cervical assimétrico alterados ou persistentes, assim como o não aparecimento da reação de Paraquedas por volta dos 8 meses. Estes são marcadores especialmente sensíveis ao desenvolvimento posterior de paralisia cerebral. ▪ Avaliação da Marcha Durante a consulta é necessário avaliar a marcha do paciente. Os músculos responsáveis por fazer a flexão dos quadris, joelhos e flexão plantar dos pés (postura na ponta dos pés), predominam e são mais fortes, do que os músculos que fazem a extensão dessas articulações. Nesse caso, dizemos que há um predomínio da musculatura flexora sobre a extensora. Marcha: redução dos comprimentos de passos e passadas; ampliação da base de apoio; tempo de balanço reduzido; tempo de duplo-apoio e tempo total do ciclo ampliado; redução da velocidade da marcha e frequência de passo. ▪ Exames laboratoriais Suspeita de infecções congênitas: sorologias maternas e do bebê. ▪ Exames de imagem O exame de ressonância magnética de crânio por época do termo é outro método comprovadamente sensível e específico na definição do prognóstico de bebês com risco neonatal e sua sensibilidade e especificidade são próximas a 100%. No entanto, a dificuldade prática e custos para a aplicação do método o torna reservado, na maioria dos cenários, a casos cuja definição de conduta imediata dependa de sua realização Resumidamente, visando o diagnóstico podem feitos TC, RNM e USG (para crianças com fontanela aberta). TC e RM: visualizar malformações do desenvolvimento cortical, isquemia, hemorragia e leucomalácia periventricular. RM do cérebro: determinar localização e extensão das lesões estruturais ou malformações congênitas associadas. ▪ EEG Finalidade prognóstica e para indicar medicação anticonvulsivante. Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO TRATAMENTO A paralisia cerebral é uma doença crônica que necessita de tratamentos multidisciplinares, intensivos e coordenados com a finalidade de recuperar funções motoras ou ao menos adaptar a funcionalidade do indivíduo de forma independente. São numerosos os tratamentos existentes que se propõem a influenciar positivamente ou mesmo curar a paralisia cerebral mas, infelizmente, muitos deles foram elaborados sem bases científicas e por muitas décadas foram empregados com resultados inconsistentes. A queixa do paciente aliada ao exame físico, a classificação de acordo com o GMFCS e os exames complementares permitem maior poder de decisão quanto à indicação do tratamento. Falhas em qualquer uma dessas etapas podem gerar resultados aquém dos esperados. OPÇÕES DE TRATAMENTO (GERAL) ▪ Medicamentoso O tratamento da espasticidade precisa ser individualizado para atingir as necessidades de cada um dos pacientes e de seus cuidadores. O decréscimo do tônus pode ser benéfico para um paciente, mas não para outro com quadro clínico semelhante. O tratamento da espasticidade pode incluir algumas ou todas das seguintes opções: medicamentos orais, bloqueios químicos (injeção de toxina botulínica e ou fenol nos músculos hiperativos), bomba intratecal de baclofeno e cirurgia, além das medidas de caráter físico (fisioterapia, terapia ocupacional, uso de órteses e gessos). Além disso, pode ser feito o emprego de anticonvulsivantes quando necessário e medicamentos de âmbito psiquiátrico. ▪ Cirúrgico As cirurgias ortopédicas corretivas de deformidades e para estabilização articular. Além disso, a interveção visa preservar a função e aliviam dor. Não são recomendadas nos pacientes com menos de 4-5 anos de idade. Se o paciente tiver risco de deformidades (como flexo-adução de quadril), as cirurgias são indicadas o mais precoce possível ⋅ ▪ Reabilitação Fisioterapia: O tratamento fisioterapêutico é bastante abrangente, devendo sempre considerar as alterações funcionais secundárias ao comprometimento neurológico e as biomecânicas. Assim, devemos considerar o alongamento muscular, a estabilidade articular e a força associados ao controle central para a realização das atividades funcionais diárias, que envolvem a capacidade para adoção e manutenção das diferentes posturas, assim como para a realização de seus movimentos. Resumidamente a fisioterapia visa o desenvolvimento e manutenção do equilíbrio, prevenção de atróficas, retrações fibrotendíneas e deformidades esqueléticas Método Bobath: inibição dos reflexos primitivos e dos padrões patológicos de movimento Terapia ocupacional: aprimoramento das praxes necessárias às atividades da vida diária Psicologia: orientação familiar, ensinar à criança suas limitações, estimular a criança a desenvolver suas habilidades potenciais. ▪ Outras alterações Ampliação da capacidade de comunicação: uso de símbolos Bliss, máquinas de escrever sonorizadas, computadores adaptados, com inteligência para potencializar as funções motora e de linguagem. Estrabismo, nistagmo e atrofia óptica são comuns: incluir oftalmologista em avaliação inicial. TRATAMENTO DE ACORDO COM QUADRO ▪ Diplegia espástica: auxílio de equipamento adaptativo, como andadores, bengalas e parapódios. Paciente com acentuada espasticidade de MMII ou com luxações no quadril: cirurgia em partes moles, para reduzir o espasmo muscular em torno da cintura pélvica e tenotomia de adutores ou transferência e liberação do psoas. ▪ Tetraplegia: cadeiras de rodas motorizadas, dispositivos especiais para alimentação, teclados modificados e dispositivos para que a criança fique sentada. ▪ Hemiplegia: conteções aplicadas ao lado não afetado, induzindo melhora do funcionamento da mão e do braço no lado afetado. TRATAMENTO DE ACORDO COM A MARCHA ▪ Não deambuladores e sem prognóstico de marcha Objetivo: O tratamento tem como objetivos a melhora do posicionamento e das condições para a realização da higiene e a prevenção de dor e úlceras de pressão. Ao final do tratamento, os quadris estão locados, com amplo arco de mov e indolores Se quadril inoperável (>12 anos), fazer procedimentos paliativos – analgesia e postura Dar atenção às deformidades vertebrais de origem neuromm – prejuízo para sentar ▪ Não deambuladores e com prognóstico de marcha Objetivo: proporcionar alinhamento biomecânico adequado para manter ortostatismo Vitor Dantas – LOCOMOÇÃO E PREENSÃO Pacientes possuem equilíbrio de tronco e capacidade cognitiva para a marcha Os fatores limitantes são baseados nas deformações físicas ▪ Deambuladores Cirurgia se: tornar deambulação mais próxima da realidade, prevenir e tratar sobrecarga articular, reduzir gasto energético e melhorar o desempenho Considerar os 5 pilares (história clínica, exame físico, de imagem, tridimensional e anestésico) Quando os cinco pilares descritos são realizados de maneira criteriosa, as informações obtidas costumam ser complementares e conduzem a um tratamento com maior chance de sucesso. Caso as informações encontradas sejam divergentes, recomenda-se nova avaliação do paciente no futuro, e, caso necessário, a não indicação do tratamento cirúrgico naquele momento. ASPECTOS BIOPSICOSSOCIAIS ▪ Momentos da notícia O estabelecimento do diagnóstico de paralisia cerebral geralmente não é possível ao nascimento, no entanto, a presença de fatores de riscos pré e perinatais podem indicar essa possibilidade. Na presença desses fatores, a família deve ser orientada para acompanhamento regular pela equipe de Saúde. No caso de confirmação diagnóstica, profissionais capacitados devem informar a família quanto à variabilidade de condições clínicas e níveis de comprometimento, possibilidadesde diferentes tratamentos com vistas à saúde física, mental e afetiva da criança. Evitar qualquer tipo de prognóstico sobre a evolução física e intelectual dessa criança. A notícia do diagnóstico de paralisia cerebral tem impacto na aceitação da família e em sua disposição e adesão ao tratamento. Espera-se do profissional que transmite a notícia, uma postura humana e ética, que garanta acolhida e informação adequada à família. ▪ Atenção à saúde da pessoa com paralisia cerebral As pessoas com paralisia cerebral, assim como qualquer outra condição de saúde, necessitam de uma rede de cuidados devidamente articulada, na perspectiva do compartilhamento do cuidado entre as equipes de Saúde e a família, e nas melhores estratégias para o desenvolvimento de um projeto terapêutico de qualidade envolvendo todos os aspetos de sua saúde, não centrado apenas nas condições atreladas à paralisia cerebral. Junto com a equipe multidisciplinar os pais devem ser ensinados a como lidar com seu filho nas atividades cotidianas, instruídos na supervisão de exercícios destinados a impedir o desenvolvimento de contraturas, principalmente um tendão do calcâneo retraído. REFERÊNCIAS ▪ Artigo sobre Paralisia cerebral da Residência Pediátrica (SBP). ▪ Artigo: Cirurgias e intervenções físicas no tratamento da espasticidade na paralisia cerebral. ▪ Artigo: Epidemiologia da paralisia cerebral do Instituto de Medicina Física e Reabilitação (USP). ▪ Artigo: Proposta de Tratamento Fisioterapêutico para Crianças Portadoras de Paralisia Cerebral Espástica, com Ênfase nas Alterações Musculoesqueléticas da Revista de Neurociências. ▪ Diretrizes de Atenção à Saúde da Pessoa com Paralisia Cerebral. (Ministério da Sáude). ▪ Ortopedia e traumatologia: princípios e prática, de Sizínio K. Hebert, 5ªed, 2017. Vitor Dantas – LOMOÇÃO E PREENSÃO POLINEUROPATIA PERIFÉRICA As Polineuropatias consistem no comprometimento simultâneo e simétrico dos nervos periféricos. Os sintomas e achados do exame neurológico ocorrem em ambos os dimídios. Uma avaliação minuciosa é fundamental, pois pequenas alterações podem apontar para um padrão assimétrico, questionando o diagnóstico de PN. A alteração sensitiva simétrica típica tem distribuição em luvas e meias. Outro ponto fundamental consiste no fato de que os membros inferiores são mais afetados do que os superiores. O comprometimento sensitivo-motor predomina nas regiões distais comparadas às proximais. Obs.: Na maioria das polineuropatias ocorre alteração da função dos nervos periféricos de modo simétrico, distal e bilateral. Se há envolvimento de raízes espinais ou raízes e troncos dos nervos periféricos, podem-se usar os termos polirradiculopatia ou polirradiculoneuropatia. Há uma série de sintomas e sinais motores, sensitivos, reflexos, autonômicos e tróficos relativamente típicos da doença do nervo periférico que permitem seu diagnóstico. EPIDEMIOLOGIA ▪ A prevalência das NP no mundo é em torno de 2 a 4%. ▪ Nota-se que em pessoas com idade superior a 55 anos, a prevalência aumenta para 8%. ▪ Nos países desenvolvidos, a causa mais comum das NP é o diabetes mellitus, pois há uma maior incidência de pessoas diabéticas nos países desenvolvidos, como por exemplo, nos Estados Unidos. ETIOLOGIA As PNs podem ser adquiridas ou hereditárias. Sabe-se que, nas crianças, as hereditárias representam 85% e as adquiridas, 15%. Nos adultos, tais dados se invertem. ADQUIRIDAS ▪ Diabéticas; ▪ Metabólicas; ▪ Etílico-carenciais; ▪ Carências vitamínicas; ▪ Amiloidose; ▪ Desmielinizantes agudas e crônicas; ▪ Vasculites; ▪ Infecciosas; ▪ Tóxicas. HEREDITÁRIAS ▪ Doença de Tangier; ▪ Doenças mitocondriais; ▪ PN amiloidótica familiar. EVOLUÇÃO Uma PN pode ter curso fulminante em questão de horas, com graves alterações sensitivo-motoras e respiratórias e risco para a vida. A evolução pode também ser insidiosa e indolente. ▪ Neuropatias Agudas Os sintomas apresentam uma evolução de até quatro semanas. O principal exemplo de neuropatia periférica aguda é a polineuropatia inflamatória aguda desmielinizante ou síndrome de Guillain-Barré (SGB). Além dessa, têm também a porfiria aguda intermitente, tóxica: arsênico, n-hexano, diabética proximal, vasculítica, ganglionopatia. ▪ Subagudas A evolução dos sintomas se dá ao longo de quatro a oito semanas. Suas etiologias são variadas e incluem vasculites sistêmicas ou isoladas do SNP, neuropatias paraneoplásicas, diabetes, neuropatias tóxicas e outras. ▪ Crônicas A evolução é superior a oito semanas. É a categoria que compreende a mais ampla variedade de etiologias, tendo as neuropatias hereditárias, a PN desmielinizante inflamatória crônica (PDIC) e as de natureza tóxicas como as mais importantes. Por vezes as PNs ocorrem meses ou anos após a cura. É a variante recidivante. Quando recrudesce antes da melhora do primeiro surto, denomina-se de recorrente. A recorrência é comum nas PDICs, dependendo, por vezes, de tratamento específico. FISIOPATOLOGIA Também podemos classificar as PNs de acordo com o acometimento primário da fibra nervosa, se no axônio ou na mielina. AXONAIS São decorrentes da lesão do axônio, tendo como consequência degeneração axonal. Podem ocorrer tanto em mononeuropatias quanto em multi ou polineuropatias. As PNs axonais podem ser sensitivas, motoras autonômicas ou mistas. As alterações sensitivas nas polineuropatias são, em geral, predominantemente distais, com evolução ascendente do tipo comprimento dependente, pois os maiores nervos tendem a ser afetados inicialmente em suas porções mais distais. Em decorrência disso, os sintomas apresentam uma evolução distal-proximal. O comprometimento inicial ocorre nos membros inferiores. Quando os sintomas ultrapassam os joelhos, observa-se o envolvimento dos membros superiores. Nessa etapa, o paciente apresenta a clássica apresentação em luvas e Vitor Dantas – LOMOÇÃO E PREENSÃO meias. Ao alcançar os cotovelos, o envolvimento inclui alterações na região abdominal (“padrão em avental”). Nos casos avançados, a região do vértice cefálico é acometida. Alguns casos, denominados de PNs axonais, são na realidade acometimentos dos nódulos de Ranvier, denominados de nodaisparanodais. Essas são de recuperação mais rápida, como a variante axonal, motora pura da SGB. DESMIELINIZANTES São as neuropatias decorrentes do comprometimento da bainha de mielina. A desmielinização pode ser segmentar afetando alguns segmentos da mielina, poupando outros, em nervos distintos, como na SGB ou na PDIC. Outras vezes, a desmielinização é homogênea, isto é, afeta igualmente todos os nervos, exemplo são as PNs desmielinizantes hereditárias, como a doença de CMT do tipo 1. Podem afetar tanto os membros inferiores quanto os membros superiores em conjunto ou isoladamente, sem um padrão obrigatoriamente ascendente. O mesmo pode ser dito para as porções distais e proximais dos nervos periféricos. Obs.: Mielina é o elemento da fibra nervosa mais susceptível, podendo ser afetada primária ou secundariamente, consequente a uma doença axonal. A degeneração focal da bainha de mielina com preservação do axônio é chamada desmielinização segmentar. Pode ocorrer rápida recuperação da função, pois o axônio está intacto, necessitando somente da sua remielinização. MISTAS Nessas tanto os axônios quanto a bainha de mielina estão acometidos. É importante destacar que usualmente as PNs desmielinizantes apresentam algum grau de lesão axonal. Por essa razão, torna-se difícil, por vezes, determinar a origem da lesão inicial, se no axônio ou na bainha de mielina. Nesses casos, somente a ENMG poderá ser útil para a realização dessa distinção. PRINCIPAIS POLINEUROPATIAS – AGUDAS SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ A síndrome de Guillain-Barré (SGB) é caracterizada clinicamente por um déficit motor progressivo, em geral ascendente,de instalação aguda acompanhada de arreflexia, com ou sem alteração sensitiva, com recuperação precoce e espontânea. FISIOPATOLOGIA O paciente com predisposição para a Síndrome de Guillain- Barré esta- rá exposto a um possível desenvolvimento da doença pela exposição a um gatilho, como uma infecção, uma vez que, como visto anteriormente, a síndrome é uma polineuropatia inflamatória aguda desmielinizante que se realizará por uma resposta autoimune aos nervos periféricos uma vez desencadeada. QUADRO CLÍNICO Os pacientes geralmente apresentam infecção respiratória ou gastrintestinal aguda com duração de poucos dias. Após 1 a 3 semanas desse quadro, desenvolve-se um quadro de “paralisia ascendente”, ou seja, inicialmente os membros inferiores são envolvidos e, após alguns dias, os membros superiores. Abaixo estão alguns possíveis sinais e sintomas da SGB: Dor pode ser proeminente. Geralmente déficit da força muscular é simétrico, inicia nos MMII e gradualmente envolve os MMSS. Arreflexia: sinal preoce antes que a fraqueza se torne importante Comprometimento dos músculos da mímica, da mastigação e palato são comuns. 10%: insuficiência respiratória necessitando de ventilação artificial. Sintomas sensitivos: menos comuns, sendo a hipoestesia dolorosa a mais comum. Progressão: atinge o máximo entre uma a quatro semanas. Maioria tem recuperação total em poucos meses, sendo mais longa quando há lesão axonal. FORMAS CLÍNICAS ▪ Síndrome de Miller-Fisher Oftalmoplegia, ataxia e arreflexia na ausência de fraqueza muscular importante, e é considerada como uma variante da SGB, devido ao seu início agudo, curso monofásico com recuperação posterior e aumento da proteinorraquia no líquor sem pleocitose A oftalmoplegia evolui em 1 a 3 dias, sendo, em geral, grave, completa e relativamente simétrica. Alguns pacientes têm ptose e a função pupilar é normal. ▪ Neuropatia pandisautonômica aguda Essa entidade é descrita juntamente com a SGB, em razão da sobreposição com quadros mais típicos de SGB: início agudo, dissociação proteíno-citológica no liquor, inflamação perivascular no nervo sural em alguns casos e antecedente Vitor Dantas – LOMOÇÃO E PREENSÃO de infecção frequente. A falência autonômica geralmente acomete os sistemas simpático e parassimpático. As manifestações mais comuns são hipotensão postural, manifestações gastrintestinais (náuseas, vômitos, diarréia, obstipação e dor abdominal), intolerância ao calor por causa de diminuição da sudorese, visão borrada, olhos secos, retenção urinária e impotência. Os reflexos podem estar diminuídos, e um quarto dos pacientes tem alteração sensitiva distal. A recuperação pode ser completa, mas em muitos casos é gradual e incompleta. PORFIRIA AGUDA INTERMITENTE Esse é um distúrbio metabólico raro na produção do heme, um grupo prostético da ligação do oxigênio da hemoglobina. Essa é patologia de caráter autossômico dominante. QUADRO CLÍNICO Caracterizado por ataques agudos inicialmente com sintomas abdominais (dor, náuseas, vômitos, obstipação), acompanhados por taquicardia e hipertensão arterial. Posteriormente, há alterações psíquicas (confusão, delírio), convulsões e, por fim, desenvolve-se a fase neurológica com aparecimento de neuropatia, que é predominantemente motora, axonal, com instalação aguda, semelhante à SGB. Durante o ataque, precursores das porfirinas são excretados na urina. O tratamento consiste em suporte respiratório, uso de betabloqueadores se a taquicardia e a hipertensão forem graves, e glicose intravenosa para suprimir a biossíntese do heme. A administração de heme na forma de hematina, para suprimir a ação da enzima ALA-sintetase no fígado, também é indicada. POLINEUROPATIA DO DOENTE CRÍTICO Cerca de 20 a 50% dos pacientes admitidos na unidade de terapia intensiva podem desenvolver polineuropatia do doente crítico. Trata-se de polineuropatia motora axonal conseqüente à síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SIRS) devido a sepse, falência de múltiplos órgãos ou não (pancreatite, traumatismo, queimaduras). O quadro costuma melhorar se o paciente sobrevive à doença de base. Do ponto de vista clínico, o paciente apresenta tetraparesia, arreflexia profunda, manutenção e prolongamento de insuficiência respiratória com dificuldade para desmame do aparelho de suporte ventilatório. O exame eletroneuromiográfico revela envolvimento axonal, além de permitir o estudo do grau de comprometimento do nervo frênico e da musculatura do diafragma. A biópsia de nervo revela degeneração axonal das fibras motoras e sensitivas, sem evidências de infiltrado inflamatório. PRINCIPAIS POLINEUROPATIAS – CRÔNICAS As polineuropatias crônicas geralmente se desenvolvem em meses ou anos. Na maioria das polineuropatias crônicas, as possibilidades diagnósticas podem ser estabelecidas baseadas na história clínica, no exame neurológico e nos dados da eletroneuromiografia. Vamos usar a seguinte divisão para o estudo dessas PNs: ▪ Polineuropatias desmielinizantes crônicas ▪ Polineuropatias axonais crônicas POLINEUROPATIAS AXONAIS CRÔNICAS Essa é a variedade mais comum de polineuropatia e compreende um número maior de etiologias. A causa mais comum das polineuropatias crônicas axonais é o diabetes mellitus, que, portanto, deve sempre ser lembrado. Entretanto, um grande número de doenças sistêmicas e alterações metabólicas, assim como nutricionais e tóxicas, podem resultar nesse padrão de neuropatia. POLINEUROPATIA DIABÉTICA Neuropatia periférica que ocorre como complicação do diabetes insulino-dependente tipo I, insulinoindependente tipo II, assim como no diabetes relacionado com outras síndromes. Cerca de 15% dos pacientes com diabetes mellitus têm sintomas e sinais de NP. A prevalência da neuropatia varia de 7,5%, na época da descoberta do diabetes a 50% após 25 anos. Crianças com diabetes raramente têm neuropatia (2%). FISIOPATOLOGIA Via metabólica: A glicose penetra em níveis elevados nos nervos periféricos e gera diferentes reações metabólicas patológicas. Resumidamente: A glicose alta é convertida em sorbitol. O acúmulo de sorbitol e frutose intracelular provoca diminuição do transporte ativo de vários metabólitos, esse processo altera os mecanismos regulatórios intracelulares, reduzindo a atividade da bomba Na/K, com o consequente acúmulo de sódio intracelular. Com isso, aumenta-se a osmolaridade intracelular, levando a alterações do potencial de repouso da Vitor Dantas – LOMOÇÃO E PREENSÃO membrana, o que gera estresse oxidativo. Essas anormalidades diminuem a velocidade de condução nervosa e produzem as primeiras e reversíveis alterações estruturais nos nodos de Ranvier. Via vascular: a disfunção microvascular generalizada do nervo tem sido proposta como mecanismo patogênico, baseado na demonstração de redução do fluxo sanguíneo, aumento da resistência vascular e diminuição da tensão de oxigênio. Numerosas anormalidades microvasculares endoneurais têm sido observadas, incluindo o espessamento e duplicação da membrana basal, edema e proliferação endotelial e muscular lisa intimal, além da presença de trombo plaquetário oclusivo. Via neurodegenerativa: No DM, o declínio quantitativo e qualitativo da insulina causa também redução parcial da atividade do fator de crescimento insulina-like I e do fator de crescimento neuronal, com consequente diminuição na produção de proteínas essenciais na formação dos neurofilamentos e manutenção do transporte axonal, imprescindíveis para seu crescimento e regeneração. Dessa forma, permite-se que ocorra degeneração axonal e apoptose do corpo neuronal, fazendo com que a neuropatia gradualmente se instale. Via inflamatória: Existem evidências substanciais que apontam um mecanismo imunopático no desenvolvimento da ND. Comprovou-se a presença de agentes pró- inflamatórios
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