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Ana Beatriz dos Reis – 6ª Fase, 2022.1 HÉRNIA HIATAL • Herniação de elementos da cavidade abdominal através do hiato esofágico do diafragma • Junção esôfago-gástrica: • Membrana frenoesofágica (MFE): insere-se circunferencialmente no esôfago, no hiato diafragmático • JEG: junção escamocolunar/linha Z. Situa-se em nível de T11. Compreendida na ampola/hiato esofágico • Durante a deglutição a JEG sobe além do hiato diafragmático e se forma uma ampola esofágica (delimitada pelo EEI e pela impressão diafragmática). A MFE estira-se até devolver a JEG à sua posição anatômica • Assegura-se assim a propulsão de alimentos e a proteção contra o RGE. • A proteção contra o RGE se dá por 3 elementos: esôfago (EEI), estômago (angulação), hiato diafragmático (“esfíncter externo”) • 2cm de extensão e 2cm abaixo do diafragma • Agentes estressores da JEG: deglutição (idade), vômitos, aumento da pressão intra- abdominal, DRGE. A ampola se forma pela compressão pelo EEI e pelo diafragma, durante a deglutição • Membrana frenoesofágica: encurtamento do esôfago na deglutição, subindo em direção ao tórax à 2cm acima e abaixo como movimentação fisiológica da JEG • Na deglutição à a JEG sobe e ocorre a formação de uma ampola, para propelir o alimento para o estômago de forma mais fácil e também para impedir o refluxo; a membrana frenoesofágica faz com que a ampola se desfaça após a deglutição, fazendo com que o esôfago volte para sua posição normal Junção gastroesofágica: • Formação das hérnias se dá por alguns mecanismos à A deglutição é responsável pelo desgaste da membrana frenoesofágica, além da DRGE (estresse, contração e hipertrofia do EEI) e do aumento da pressão intrabdominal CLASSIFICAÇÃO: • Tipo I (por deslizamento): JEG acima do hiato diafragmático. Estômago mantém seu eixo longitudinal e o fundo gástrico permanece no abdômen. Representa 90% das hérnias de hiato; à enfraquecimento da membrana, fazendo com que o esôfago suba em direção ao tórax • Tipo II, III e IV (paraesofágicas – hérnias verdadeiras): • II: fundo gástrico pelo alargamento do hiato (sobe ao lado do esôfago). JEG permanece no abdômen (na posição anatômica). Ocorre muito dificilmente • III: fundo gástrico e JEG pelo hiato (destruição maior do hiato diafragmático, subindo o fundo e a JEG). à 90% das hérnias paraesofágicas; • IV: protusão de outros órgãos (delgado, cólon, baço) à o estômago está ligado com o grande omento, com o baço (ligamento gastroesplênico), e com o delgado (geralmente, sobe o duodeno) Ana Beatriz dos Reis – 6ª Fase, 2022.1 As paraesofágicas levam junto o peritônio, formando um saco herniário. Por isso, são classificadas como hérnias verdadeiras. As hérnias deslizantes não levam peritônio junto Imagem a direita à Tipo II, pois a JEG está normoposicionada, com alteração apenas do fundo gástrico Esofagograma Baritado à A: normal, com a formação da ampola, com o estômago dentro do abdômen; B: compressão extrínseca está abaixo da JEG; C: paraesofágica, tipo II ou III (dependendo da posição da JEG – não se consegue ver com o exame baritado) • Etiologia: trauma, malformação congênita e fatores iatrogênicos (dissecção cirúrgica do hiato, como ocorre durante procedimentos antirrefluxo, esofagomiotomia ou gastrectomia parcial); • Hérnia tipo I (por deslizamento): alargamento progressivo do hiato diafragmático e frouxidão da MFE. NÃO possui saco herniário (JEG não fixada ao abdômen, não levando o peritônio junto com a hérnia). Relaciona-se com RGE. Quanto maior a hérnia, maior a chance de refluxo sintomático. Isto porque altera a competência da JEG e o clareamento desta após o refluxo. • Hérnia tipo II, III e IV (paraesofágicas): frouxidão anormal dos ligamentos gastroesplênicos e gastrocólicos, que normalmente impedem o deslocamento do estômago. À medida que a hérnia aumenta, a curvatura maior do estômago sobe ao tórax. à Podem gerar volvo gástrico: • Organoaxial: eixo longitudinal à mais comum (fundo do estômago sobe e dobra o longo do seu eixo longitudinal); sintomas mais obstrutivos • Mesenteroaxial: eixo transversal à fundo do estômago sobe e dobra o longo do seu eixo transversal (pode, inclusive, levar o duodeno junto ao tórax); pode ocorrer isquemia, necrose e perfuração Não se sabe o que ocorre primeiro: se é o alargamento do hiato, ou frouxidão dos alargamentos do estômago com os órgãos e assim favorecendo a ida dos órgãos com as hérnias; Quanto maior a hérnia, maior a chance de refluxo sintomático. Isto porque altera a competência da JEG e o clareamento desta após o refluxo. Ana Beatriz dos Reis – 6ª Fase, 2022.1 O volvo é determinado de acordo com a intensidade de frouxidão dos ligamentos. Só ocorre nas paraesofágicas pois é quando ocorre a elevação de uma porção volumosa do estômago para dentro do tórax AVALIAÇÃO CLÍNICA: • Tipo I: maioria assintomáticas. Sintomas DRGE (pirose, regurgitação e disfagia). • Complicações são raras, geralmente relacionadas ao refluxo • A maior parte das hérnias de hiato por deslizamento são assintomáticas e não são responsáveis pelos sintomas do paciente • Sintomas de refluxo à pirose + regurgitação. O que vier além disso são sintomas atípicos ou sinais de alarme • Disfagia à depende do volume • Metaplasias (Barret), displasias à devido ao DRGE • Tipo II, III e IV: assintomáticas ou sintomatologia vaga (dor epigástrica, plenitude pós-prandial, náusea e vômito. DRGE é menos prevalente). • Quando se come, levar em consideração que o estômago está em um local em que não é o adequado para o mesmo à Os sintomas são mais compressivos, pois está em um espaço restrito • Distensão à dor • Complicações: volvo (disfagia, dor pós- prandial), hemorragia (lesões de Cameron), alterações respiratórias • Úlcera péptica em uma herniação do estômago dentro do tórax à lesões de Cameron, as quais podem sangrar • Compressão de estruturas mediastinais: sintomas respiratórios (dispneia), dor retroesternal pós-prandial (pode confundir com uma dor cardíaca tipo B à diagnóstico diferencial; consegue se distinguir com uma boa história clínica) Por deslizamento: >2cm, esofagograma, EDA, manometria esofágica. <2cm, cirurgia; Paraesofágicas: EDA, esofagograma (mais sensível do que a própria EDA); • Diagnósticos diferenciais: excluir se refratariedade • Esofagites – eosinofílica, infecciosas • Distúrbio de motilidade esofágica – quebra- nozes, acalásia • Dispepsia funcional à sempre deve entrar como DD (é o mais comum) • Doença arterial coronariana TRATAMENTO: • Por deslizamento: • Assintomática: cirurgia não indicada à geralmente são descobertas de forma acidental • Sintomática: manejo DRGE ou cirúrgico. • Paraesofágica: • Assintomática: cirurgia profilática vs expectante à ainda não se tem consenso sobre. A idade do paciente (>65 anos, a incidência das complicações das hérnias passa a diminuir) e das sintomatologias que o paciente relatar são determinantes para estabelecer uma conduta • Sintomáticos: cirurgia à Cirurgia de emergência se volvo gástrico, hemorragia não controlada, obstrução, estrangulamento, perfuração e comprometimento respiratório secundário a uma hérnia paraesofágica. Paraesofágica: Compressão de vasos do estômago à necrose à perfuração à mediastinite; Se sintomas na paraesofágica à cirurgia obrigatória. Lembrar que sempre deve-se pensar nas complicações desse subtipo. Por isso, muitos cirurgiões optam pela cirurgia profilática, mesmo que sejam assintomáticos Risco anual de desenvolver sintomas agudos que requerem cirurgia de emergência é inferior a 2%, o risco diminui exponencialmente após 65 anos e a taxa de mortalidade de reparo eletivo de hérnia paraesofágica é de aproximadamente 1,4 por cento • DRGE: tratamento baseado na frequênciae na gravidade dos sintomas, além da presença de esofagite ou esôfago de Barrett (complicações) • Leves e intermitentes (< 2 episódios/semana), sem evidência de esofagite: step up, ou seja, passo a passo, degrau por degrau à Modificação do estilo de vida e dieta. Avaliar necessidade de AH2 ou antiácidos por um período mínimo de duas semanas (sob demanda). Na persistência, IBP por quatro a oito semanas. Após controle, manter por pelo menos oito semanas. Se passou, retirar. Se diminuiu, deixar na menor dose necessária para se alcançar o efeito terapêutico (dose de manutenção) • Graves, frequentes ou esofagite: step down à IBP em dose dobrada + modificação Ana Beatriz dos Reis – 6ª Fase, 2022.1 do estilo de vida e dieta por, pelo menos, oito semanas. Descalonar logo após (ir reduzindo dose e ver se o paciente se adapta. Depois, ir alterando classe de medicamentos pouco a pouco). Descontinuar supressão ácida se assintomático, com exceção dos casos de esofagite. • DRGE: • Estilo de vida e dieta: perda de peso e elevação da cabeceira do leito. Outros: evitar refeições 2-3h antes de dormir, gatilhos alimentares (cafeína, chocolate, condimentados, alto teor de gordura), evitar tabaco e álcool • Antiácidos: não previne DRGE; alívio de sintomas apenas, não tratam a doença em si. Funcionam muito bem se usados de forma esporádica • Anti-histamínicos tipo 2: cimetidina 400mg, nizatidina 150mg (1-0-1); • Inibidores de bomba de prótons: na falha de AH2 em dose plena ou esofagite à são os mais potentes o Omeprazol 20mg, esomeprazol 20mg, Pantoprazol 40mg (1-0-0) • Tratamento cirúrgico à Indicações: o Refratariedade dos sintomas, em paciente que já esteja com tratamento otimizado (dose plena e com modificações do estilo de vida); o Jovens dependentes de terapia medicamentosa – exemplo: 35 anos em uso continuo de IBP (é uma medicação continua, então sempre associar que é um remédio que o paciente fica dependente) o Complicações da DRGE, como esofagite grave, estenose, esôfago de Barrett assintomático; o Regurgitação volumosa – fundoplicatura pode beneficiar o Sintomas não gastrointestinais, como asma, tosse – a terceira maior causa de tosse crônica em adultos se dá pela DRGE o Exames indispensáveis para o tratamamento cirúrgico: EDA (se tiver neoplasia, não se faz fundoplicatura, mas sim uma gastrectomia), pHmetria (Exame de difícil acesso, mas seria adequado, a fim de identificar outros tipos de refluxo, pois, pacientes refratários ao IBP, em geral respondem de forma não satisfatória à cirurgia), manometria e esofagograma (avaliação de hérnias de hiato associadas a DRGE) • Tratamento cirúrgico indicado para hérnia paraesofágica sintomática ou complicada, conforme apresentação clínica • Emergência: volvo gástrico agudo, hemorragia não controlada, obstrução, estrangulamento, perfuração ou comprometimento respiratório; • Eletivo: DRGE, disfagia, saciedade precoce, dor pós prandial, anemia (pequenos sangramentos locais), vômitos; • Profilático: assintomáticos (jovens pois complicam mais do que idosos e pacientes hígidos) • Pré-operatório à EDA, esofagograma, manometria (selecionados, em que não se consegue identificar com os exames prévios) Tratamento cirúrgico: Transtorácica ou transabdominal (aberta ou laparoscópica); • Via abdominal laparoscópica (é o padrão-ouro) à associa-se com menor tempo hospitalar (~4 dias); menores taxas de reoperação, readmissão, mortalidade, complicações gerais e complicações maiores; • Reparo transtorácico reservado para falha abdominal/recidiva (cirurgia mais mórbida) à Maior tempo de internação (~8 dias), maior necessidade de ventilação e maior risco de embolia pulmonar. • Se usa o transtorácico pois, como já foi mexido na região abdominal, se prefere o acesso torácico na recidiva, a fim de gerar menos aderências, evitando complicações Ana Beatriz dos Reis – 6ª Fase, 2022.1 • Via laparoscópica: PADRÃO-OURO PARA O TRATAMENTO DAS HÉRNIAS HIATAIS • Colocação de 5 portais; • Dissecção do hiato e do saco herniário (com liberação vasos curtos, presentes na grande curvatura); • Mobilização esofágica: ≥3 cm do esôfago intra-abdominal (deixar, pelo menos, 3cm abdominal) ou gastroplastia a Collis à a situação que causa recidiva da hérnia de hiato se dá pela não liberação total do esôfago, pois ele ainda fica retraído de forma crônica • Reparo do defeito hiatal: aproximação pilares diafragmáticos com sutura ou tela; • Fundoplicatura (Criar o mecanismo valvar que foi destruído): Nissen (rotação do fundo gástrico em 360º, que é o padrão ouro), exceto se dismotilidade grave (nesses casos, pode-se fazer Toupet, que é 270º, pois não irá fazer uma válvula de forma a comprimir muito o EEI, por exemplo, no caso da acalasia) • Gastropexia anterior – prender o estomago no diafragma ou na parede abdominal anterior, impedindo seu retorno ao tórax • Desfechos: • Reparo laparoscópico: baixa taxas de morbimortalidade (≥70 anos, comorbidades, emergência). o Complicações mais comuns: pneumonia (4,0%), embolia pulmonar (3,4%), insuficiência cardíaca (2,6%) e fístula (2,5%). o Redução dos sintomas e melhoria da qualidade de vida superior a 50% em 1 a 3 anos. • Reparo transabdominal aberto: taxas de complicações maiores que o reparo laparoscópico – cirurgia mais mórbida/maior • Reparo transtorácico: ligeiramente aquém da via laparoscópica. Taxas de até 86% de resolução completa dos sintomas. Entretanto, é mais mórbida do que a laparoscópica. Por isso, não é o reparo de eleição • Recorrência: • A recidiva radiológica é maior do que a recidiva clínica. Se está assintomático, não se faz nada à Radiológica vs Clínica; • Maioria assintomática ou com melhora sob terapia medicamentosa; • Reoperação dificultosa, devendo ser realizada por cirurgiões experientes à formação de aderências; por isso, se opta apenas nos últimos casos para a reoperação à gera mais complicações
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