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CAP Í T U LO 4 5 Abdome Agudo Ronald Squires Steven N. Carter Russell G. Postier SUMÁRIO Anatomia e Fisiologia História Exame Físico Exames Laboratoriais Estudos por Imagem Monitoração da Pressão Intraabdominal Laparoscopia Diagnóstica Diagnóstico Diferencial Preparação para Cirurgia de Emergência Pacientes Atípicos Algoritmos de Abdome Agudo Resumo A expressão abdome agudo refere‑se habitualmente ao sinal e sintoma de dor e hipersensibilidade na região abdominal, uma manifestação clínica que, em geral, requer tratamento cirúrgico de emergência. Esse cenário clínico desafiador requer uma avaliação completa e rápida para determinar se há necessidade de intervenção cirúrgica e condução adequada do caso. Muitas doenças, algumas das quais não são cirúrgicas ou nem mesmo abdominais,1 podem produzir dor abdominal aguda. Portanto, todo esforço deve ser feito para se ter o diagnóstico correto a fim de que o tratamento escolhido, em geral por laparoscopia ou laparotomia, seja apropriado. Apesar das melhoras nos estudos laboratoriais e imaginológicos, o exame físico e a história clínica continuam sendo os pilares na determinação do diagnóstico correto e do início da terapia adequada e em tempo hábil. O diagnóstico de abdome agudo varia conforme a idade e o sexo.2 A apendicite é mais comum em jovens, enquanto a doença biliar, a obstrução intestinal, a isquemia e o infarto intestinal e a diverticulite são mais comuns em pacientes idosos. A maioria das doenças cirúrgicas associadas a abdome agudo está relacionada com infecção, isquemia, obstrução ou perfuração de uma víscera. Causas não cirúrgicas de abdome agudo podem ser divididas em três categorias: endócrinas e metabólicas, hematológicas e por toxinas ou drogas (Quadro 45‑1).3 Causas endócrinas e metabólicas incluem uremia, síndromes hiperglicêmicas, crises addisonianas, porfiria intermitente aguda, hiperlipoproteinemia aguda e febre hereditária do Mediterrâneo. Os distúrbios hematológicos são crises falcêmicas, leucemia aguda e outras discrasias sanguíneas. Condições ligadas a toxinas e substâncias que provocam abdome agudo incluem envenenamento por chumbo e outros metais pesados, abstinência de narcóticos e envenenamento por picada da aranha viúva‑negra. É importante considerar essas possibilidades ao avaliar um paciente com dor abdominal aguda (Quadro 45‑1). Quadr o 4 5 1 Causas não C i rú rg i ca s do Abdome Agudo Causas Endócrinas e Metabólicas Uremia Crise diabética Crise addisoniana Porfiria aguda intermitente Febre hereditária do Mediterrâneo Causas Hematológicas Crise falciforme Leucemia aguda Outras discrasias sanguíneas Toxinas e Drogas Envenenamento por chumbo Intoxicações por outros metais pesados Crises de abstinência Envenenamento por aranha viúva‑negra Dada a natureza potencialmente cirúrgica do abdome agudo uma consulta se faz necessária sem demora. (Quadro 45‑ 2). A avaliação é realizada na ordem habitual, do histórico do paciente, seguindo‑se o exame físico, os exames laboratoriais e os estudos por imagem. Embora os estudos por imagem tenham aumentado a precisão do diagnóstico, a principal parte da avaliação continua sendo a anamnese completa e o exame físico cuidadoso. Os estudos laboratoriais e por imagem, ainda que geralmente necessários, são orientados pelos achados da história e do exame físico. Quadr o 4 5 2 Cond i ções Abdomina i s Agudas C i rú rg i ca s Hemorragia Trauma de órgãos sólidos Fístula ou ruptura de aneurisma arterial Gravidez ectópica rota Divertículo gastrointestinal com sangramento Malformação arteriovenosa do trato gastrointestinal Ulceração intestinal Fístula aortoduodenal após o enxerto vascular aórtico Pancreatite hemorrágica Síndrome de Mallory‑Weiss Ruptura espontânea do baço Infecção Apendicite Colecistite Divertículo de Meckel Abscesso hepático Abscesso diverticular Abscesso do psoas Perfuração Úlcera gastrointestinal perfurada Câncer gastrointestinal perfurado Síndrome de Boerhaave Divertículo perfurado Obstrução Obstrução do intestino delgado/grosso relacionado com a aderência Volvo do sigmoide Volvo cecal Hérnias encarceradas Doença intestinal inflamatória Neoplasia maligna gastrointestinal Intussuscepção Isquemia Doença de Buerger Trombose/embolia mesentérica Torção ovariana Colite isquêmica Torção testicular Hérnias estranguladas Anatomia e fisiologia A dor abdominal pode ser dividida em seus componentes visceral e parietal. A dor visceral costuma ser vaga e mal localizada no epigástrio, região periumbilical ou hipogástrio, de acordo com a sua origem nos segmentos anterior, médio e posterior do intestino primitivo (Fig. 45‑1). Em geral, é consequência de distensão de uma víscera oca. A parietal está relacionada com a irritação das raízes dos nervos segmentares que inervam o peritônio e tende a ser mais aguda e mais bem localizada. A dor referida é percebida em um local distante da fonte do estímulo. Por exemplo, a irritação do diafragma pode produzir dor no ombro. O Quadro 45‑3 relaciona locais comuns de dor referida e suas respectivas fontes. Estabelecer se a dor é visceral, parietal ou referida é importante e, em geral, isto pode ser feito mediante uma história clínica cuidadosa. FIGURA 451 Inervação sensorial das vísceras. (De White JC, Sweet WH: Pain and the neurosurgeon, Springfield, Ill, 1969, Charles C Thomas, p 526.) Quadr o 4 5 3 Loca l i za ções e Causas de Dor Re fe r ida Ombro Direito Fígado Vesícula biliar Hemidiafragma direito Ombro Esquerdo Cardíaca Cauda do pâncreas Baço Hemidiafragma esquerdo Escroto e Testículos Ureter A presença de bactérias ou componentes que provoquem irritação química na cavidade peritoneal causam extravasamento de líquido na cavidade peritoneal. O peritônio responde à inflamação com aumento do fluxo sanguíneo, maior permeabilidade e formação de exsudato fibrinoso em sua superfície. O intestino também é acometido por paralisia local ou generalizada. A superfície fibrinosa e a redução da motilidade intestinal provocam aderências entre os intestinos e o omento ou a parede abdominal e ajudam a bloquear o processo inflamatório. Como resultado, um abscesso pode provocar dor aguda localizada com ruídos hidroaéreos e função gastrointestinal preservados, enquanto um processo difuso, como uma úlcera duodenal perfurada, provoca dor abdominal generalizada com diminuição da motilidade intestinal. A peritonite pode acometer toda a cavidade abdominal ou somente partes do peritônio visceral ou parietal. A peritonite é uma inflamação peritoneal com várias causas. Em geral, é reconhecida no exame físico por sensibilidade intensa à palpação do abdome, com ou sem descompressão brusca positiva, e retração abdominal à compressão. A peritonite é geralmente secundária a uma inflamação, mais frequentemente uma infecção por um germe Gram‑negativo entérico ou um anaeróbio. Pode resultar também de inflamação não infecciosa, sendo um exemplo comum a pancreatite. A peritonite primária ocorre mais comumente em crianças e é mais frequentemente causada por pneumococos e estreptococos hemolíticos.4 Adultos com doença renal terminal em diálise peritoneal podemdesenvolver peritonite, sendo os organismos mais comuns nestes casos os cocos Gram‑positivos. Adultos com cirrose e ascite podem desenvolver peritonite primária e, nesses casos, os organismos são geralmente Escherichia coli e Klebsiella spp. História Uma história clínica detalhada e organizada é essencial para a formulação de um diagnóstico diferencial preciso e o esquema de tratamento subsequente. Os modernos avanços nos exames de imagem nunca devem substituir a anamnese e o exame físico feitos por um médico competente. A anamnese deve focar não somente na investigação da dor, mas também nos problemas prévios e sintomas associados. As perguntas devem ser objetivas sempreque possível e estruturadas para revelar o início, o tipo, a localização, a duração, a irradiação e a cronologia da dor. O examinador pode ficar tentado a fazer questões com respostas do tipo sim ou não. Questões assim podem facilitar a anamnese, não permitindo que o paciente se perca em narrativas improdutivas, mas podem‑se perder detalhes importantes e influenciar a resposta do paciente. Uma prática mais adequada seria indagar como é a dor e/ou o que a melhora ou piora. Com frequência, podem‑se obter informações observando‑se como o paciente descreve o sintoma. Dor identificada com a ponta do dedo geralmente é mais localizada e típica de inervação parietal ou inflamação peritoneal, em comparação com a indicação da área de desconforto com a palma da mão, que é mais típica de desconforto visceral ou doença acometendo um órgão sólido. A intensidade e a gravidade da dor relacionam‑se com a lesão do tecido subjacente. O início súbito de dor lancinante sugere perfuração intestinal e embolização arterial com isquemia, embora outras condições como cólica biliar possam manifestar‑se subitamente também. A dor que se desenvolve e se exacerba ao longo de várias horas é típica de inflamação progressiva ou infecção, como colecistite, colite ou obstrução intestinal. O relato de piora progressiva versus episódios intermitentes de dor pode ajudar a diferenciar processos infecciosos que evoluem com o tempo, em comparação com a dor espasmódica em cólica associada a obstrução intestinal, cólica biliar e obstrução do ducto cístico, ou obstrução do trato geniturinário (Figs. 45‑2 a 45‑4). FIGURA 452 Caráter da dor: dor gradual, progressiva. FIGURA 453 Caráter da dor: dor em cólica, espasmódica, intermitente. FIGURA 454 Caráter da dor: dor súbita grave. Igualmente importante é a localização e a irradiação da dor. A lesão ou a inflamação do tecido podem deflagrar tanto dor somática quanto visceral. A dor de víscera abdominal sólida é localizada quadrante correspondente ao órgão envolvido, como, por exemplo, a dor no fígado encontrada no quadrante superior direito do abdome. A dor nas afecções do intestino delgado é referida como dor periumbilical e pouco localizada, enquanto a dor nas afecções do cólon em geral está localizada entre o umbigo e a sínfise pubiana. Conforme a inflamação se expande para a superfície peritoneal, as fibras de nervos parietais provenientes da coluna provocam sensação focal e intensa. Essa combinação de inervação é responsável pela dor periumbilical difusa clássica da apendicite aguda em sua fase inicial, que depois se transforma em dor intensa localizada na porção direita do abdome inferior, no ponto de McBurney. Se o médico se ativer somente ao tipo da dor no momento do exame e não investigar o seu início e evolução, não perceberá esses fortes indícios na história (Figs. 45‑5 e 45‑ 6). A dor também pode se irradiar além do local onde se localiza a doença. O fígado partilha parte de sua inervação com o diafragma e pode criar dor referida no ombro direito mediada pelas raízes nervosas de C3‑C5. A dor geniturinária comumente tem um padrão de irradiação. Os sintomas são primariamente na região do flanco, originando‑se dos nervos esplâncnicos de T11‑L1, mas a dor, em geral, irradia‑se para a bolsa escrotal e/ou os grandes lábios via plexo hipogástrico de S2‑S4. FIGURA 455 Dor referida. Os círculos inteiros são os locais primários ou de maior intensidade de dor. FIGURA 456 Dor referida. Os círculos inteiros são os locais primários ou de maior intensidade de dor. As atividades que exacerbam e/ou aliviam a dor também são importantes. A ingesta de alimentos em geral exacerba a dor da obstrução intestinal, da cólica biliar, da pancreatite, da diverticulite ou da perfuração intestinal. O alimento pode aliviar a dor da úlcera péptica não perfurada ou da gastrite. Os médicos, muitas vezes, reconhecerão uma peritonite ao considerar a história. Os pacientes com irritação peritoneal evitam qualquer atividade que mobilize o abdome. Eles descrevem exacerbação da dor com qualquer movimento do corpo e informam melhora quando flexionam os joelhos. O deslocamento de carro até o hospital pode ser angustiante, com o paciente queixando‑se de qualquer solavanco no trajeto. Sintomas associados podem fornecer informações importantes para o diagnóstico. Náuseas, vômito, constipação, diarreia, prurido, melena, hematoquezia ou hematúria são sintomas úteis se presentes e reconhecidos. Vômitos podem ocorrer na vigência de dor abdominal grave de qualquer causa ou como resultado de obstrução intestinal mecânica ou íleo. É mais provável que o vômito preceda o início da dor abdominal significativa em muitas condições clínicas, enquanto a dor de um abdome agudo cirúrgico manifesta‑se primeiro e estimula o vômito pelas fibras medulares eferentes que excitam as fibras aferentes responsáveis pela dor visceral. A constipação ou obstipação podem resultar tanto de obstrução mecânica quanto de redução do peristaltismo. Pode representar o principal problema e exigir laxativos e agentes procinéticos, ou simplesmente ser sintoma de uma condição subjacente. Uma história cuidadosa deve verificar se o paciente continua a eliminar gases ou fezes pelo reto. Uma obstrução completa estará mais provavelmente associada a isquemia ou perfuração intestinal subsequentes à distensão intensa de uma alça de intestino delgado. A diarreia está associada a várias causas clínicas de abdome agudo, inclusive enterite infecciosa, doença intestinal inflamatória e contaminação parasitária. A diarreia com sangue pode ser observada nessas condições, da mesma forma que na isquemia colônica. A história clínica pregressa pode potencialmente ser mais útil do que qualquer outra avaliação isolada. O reconhecimento de condições preexistentes pode aumentar ou reduzir bastante a probabilidade de determinadas doenças que de outro modo não seriam consideradas. Os pacientes podem, por exemplo, relatar que a dor atual ésemelhante à de um cálculo renal que vivenciaram anteriormente há uma década. Por sua vez, uma história anterior de apendicectomia, doença inflamatória pélvica ou colecistectomia pode contribuir significativamente para o diagnóstico diferencial. Durante o exame, todas as cicatrizes no abdome precisam ser relacionadas com a história clínica coletada. O uso prévio de medicamentos e a história ginecológica de pacientes do sexo feminino também são importantes. Os medicamentos podem tanto provocar quadros abdominais agudos como mascarar seus sintomas. Embora uma discussão ampla sobre impacto de todas as classes de fármacos esteja fora do escopo deste capítulo, várias classes de medicamentos merecem menção. O uso de opiáceos pode interferir na motilidade intestinal e provocar obstipação e obstrução. Os opiáceos também podem contribuir para espasmo do esfíncter de Oddi e exacerbar a dor de origem biliar ou pancreática. Também podem suprimir a sensação de dor e ainda alterar o estado mental do paciente e, consequentemente, prejudicar a realização de um diagnóstico preciso. Os anti‑inflamatórios não esteroides associam‑se a maior risco de inflamação e perfuração do trato gastrointestinal alto, enquanto os esteroidais bloqueiam a ação protetora do muco gástrico produzido pelas células principais e, assim, reduzem a reação inflamatória à infecção, inclusive relacionada com a peritonite. Agentes imunossupressores aumentam o risco de infecções oportunistas virais e bacterianas, além de reduzir a resposta inflamatória e diminuir a dor presente na resposta fisiológica. O uso de anticoagulantes é mais prevalente em em pacientes mais idosos. Essas substâncias podem levar a sangramento gastrointestinal, retroperitoneal ou na mucosa retal. Os anticoagulantes tambéminfluenciam nopreparo pré‑operatório e ainda podem ser causa de complicações se seu uso pelo paciente passar despercebido. Por último, o uso de drogas recreativas tem influência nos pacientes com abdome agudo. O etilismo crônico está fortemente associado a coagulopatia e hipertensão porta proveniente de doença hepática. A cocaína e a metanfetamina podem provocar uma intensa reação vasoespástica, que pode ter como consequência crise hipertensiva grave e isquemia cardíaca ou intestinal. A saúde ginecológica, especificamente a história menstrual, é crucial na avaliação da dor abdominal inferior em uma mulher jovem. A probabilidade de gravidez ectópica, doença inflamatória pélvica, dor entre as menstruações ou endometriose grave pode ser suspeitada pela história ginecológica. Muito pouco mudou na técnica ou nos objetivos da coleta da história clínica desde que Zachary Cope publicou pela primeira vez seu clássico artigo sobre o diagnóstico da dor abdominal aguda em 1921.5 Uma exceção é a utilização de diagnóstico auxiliado por computadores à denominada “arte” da anamnese, que tem sido bastante estudada na Europa.6‑ 10 Os dados foram coletados por médicos em formulários detalhados e padronizados, durante a obtenção da história e do exame físico, e registrados em computadores programados com um banco de dados médicos de doenças com seus sinais e sintomas associados. O diagnóstico gerado por computador com base nas probabilidades matemáticas foi 20% mais preciso quando comparado com os de médicos utilizando seus métodos habituais. Observou‑se melhoras estatiscamente significativas na taxa de realização de laparotomia precoce e redução da necessidade de internação, e do tempo de hospitalização.6 Entretanto, uma melhora estatisticamente significativa na precisão e na eficiência foi também alcançada com formulários padronizados semelhantes usados para a coleta de dados. Tal fato também foi observado nos cenários de trauma e terapia intensiva. Exame físico Um exame físico bem conduzido é fundamental para a definição de diagnóstico e tratamento acurados. Apesar das novas tecnologias, incluindo tomografia computadorizada de alta resolução (TC), ultrassonografia e ressonância magnética (RM), o exame físico ainda é a parte fundamental da avaliação do paciente e sua importância não deve ser minimizada. Médicos experientes são capazes de realizar um diagnóstico preciso na maioria de seus pacientes após a coleta da história e do exame físico. Os estudos por imagem e laboratoriais podem, então, ser utilizados para a confirmação adicional das hipóteses suspeitas, reordenamento dos diagnósticos diferenciais propostos ou, menos comumente, para sugerir doenças incomuns ainda não consideradas. O exame físico deve sempre começar com a inspeção geral do paciente, seguida pela inspeção do próprio abdome. Os pacientes com irritação peritoneal apresentam piora da dor com qualquer atividade que movimente ou distenda o peritônio. Normalmente, esses pacientes ficam imóveis no leito durante a avaliação e, em geral, mantêm os joelhos e os quadris flexionados para reduzir a tensão na parede anterior do abdome. Doenças que provocam dor sem irritação peritoneal, como isquemia mesentérica e cólica biliar e ureteral, fazem com que os pacientes mudem continuamente de posição no leito enquanto tentam achar um posicionamento que reduza seu desconforto (Fig. 45‑7). Outros sinais importantes, como palidez, cianose e sudorese, também podem ser observados durante a inspeção geral. FIGURA 457 Locais comuns de dor visceral. A inspeção abdominal diz respeito ao aspecto do abdome, se ele está distendido ou escavado, ou ainda se abaulamentos podem ser observados. O examinador deve estar atento a todas as cicatrizes, que devem ser correlacionadas com a história médica e cirúrgica obtida. Podem‑se suspeitar de hérnias de parede abdominal já durante a inspeção. Estas poderão ser confirmadas durante a palpação. Eritema ou edema da pele sugerem celulite da parede abdominal, enquanto equimoses são, algumas vezes, observadas com infecções necrosantes mais profundas da fáscia ou de estruturas intra‑abdominais como o pâncreas. A ausculta abdominal pode fornecer informações úteis sobre o trato gastrointestinal e o sistema circulatório. A quantidade e a qualidade dos ruídos intestinais devem ser avaliados. O silêncio abdominal sugere íleo, enquanto ruídos intestinais hiperativos podem ser encontrados nas enterites e na fase precoce da isquemia intestinal. A intensidade e a qualidade dos sons, bem como o padrão dos ruídos peristálticos, devem ser considerados. A obstrução mecânica do intestino caracteriza‑se por ruídos metálicos em tom alto, que tendem a ocorrer em salvas e estão associados a dor. Os sons intermitentes e tipo eco, em geral, estão presentes quando existe distensão intestinal significativa. Os sopros auscultados no abdome refletem fluxo sanguíneo turbulento no sistema circulatório. São encontrados com maior frequência nos quadros compatíveis com estenose arterial de alto grau, de 70% a 95%, mas podem também ser na vigência de uma fístula arteriovenosa. O médico também pode delicadamente testar a localização e a intensidade da dor durante a ausculta variando a posição e a força da pressão aplicada com o estetoscópio. Esses dados podem, então, ser comparados com os achados durante a palpação, avaliando se correspondem. Ainda que uns poucos pacientes tentem intencionalmente iludir o médico, alguns podem exagerar nas suas queixas de dor a fim de que seu quadro seja mais considerado e valorizado A percussão é utilizada para avaliar a presença de distensão gasosa nos intestinos, ar livre intra‑abdominal, grau de ascite e presença de irritação peritoneal. Hiper‑ressonância, comumente denominada timpanismo à percussão, é característica de alças do intestino subjacentes repletas de gás. No quadro de obstrução intestinal ou íleo, esse timpanismo é ouvido em todos os quadrantes, exceto no superior direito, onde o fígado se localiza imediatamente sob a parede abdominal. Se for identificada macicez localizada à percussão em qualquer área que não o quadrante superior direito, considera‑se que possa haver uma massa abdominal deslocando o intestino. Quando a macicez do fígado não é detectada e a ressonância é uniforme, sugere a presença de ar livre na cavidade abdominal. Este ar coleta‑se sob a parede abdominal anterior quando o paciente está na posição supina. A presença de ascite é notada procurando a sensação de flutuação na cavidade abdominal. Uma onda líquida ou vibração podem ser geradas pela compressão firme e rápida na porção lateral do abdome. A onda resultante desloca‑se pela cavidade abdominal. O movimento do tecido adiposo no abdome do obeso pode ser confundido com uma onda de líquido. Exames falso‑positivos podem ser evitados pressionando‑se a superfície medial da palma da mão no tecido frouxo da linha média da parede abdominal para minimizar qualquer movimento do tecido gorduroso enquanto se produz a onda com a mão oposta. A peritonite também pode ser avaliada pela percussão. Os tratados tradicionais descrevem a técnica de compressão profunda da parede abdominal seguida por descompressão abrupta. Esta prática causa sofrimento excruciante e desnecessário ao paciente no quadro de irritação peritoneal e produz desconforto, mesmo na ausência de inflamação. Os métodos mais sensíveis podem e deveriam ser mais utilizados. A tapotagem firme da crista ilíaca, do flanco ou do calcanhar com uma perna estendida mobiliza a víscera abdominal e produz dor característica na presença de peritonite. A principal etapa do exame do abdome é a palpação.A palpação fornece mais informações úteis ao diagnóstico do que qualquer outro exame abdominal. Além de revelar a gravidade e a localização exata da dor, a palpação pode confirmar, adicionalmente, a presença de peritonite, bem como identificar visceromegalias ou qualquer massa intra‑abdominal anormal. A palpação deve ter início com manobras delicadas e distantes da área de dor relatada. Caso seja induzida dor considerável no início da palpação, o paciente provavelmente contrairá voluntariamente o abdome, limitando a obteção de novas informações. A contração involuntária, ou espasmo muscular da parede abdominal, é sinal de irritação peritoneal e precisa ser diferenciada da contração voluntária. Para alcançar esse objetivo, o examinador faz pressão consistente na parede abdominal afastado do ponto de dor máxima, enquanto pede ao paciente que inspire lenta e profundamente. No quadro de contração voluntária, os músculos abdominais se relaxarão durante a inspiração, enquanto no involuntário os músculos permanecerão espásticos e tensos. A dor, quando focal, sugere doença inicial ou bem localizada, enquanto a dor difusa à palpação sugere inflamação generalizada e de apresentação tardia. Se a dor for difusa, faz‑se uma investigação cuidadosa para determinar onde a dor é mais intensa. Mesmo diante de um quadro de contaminação intensa por úlcera péptica perfurada ou de diverticulite perfurada, o local de sensibilidade máxima frequentemente aponta a fonte subjacente. Alguns achados físicos isolados são associados a condições específicas e são descritos como “sinais” de exame (Tabela 45‑ 1). O sinal de Murphy da colecistite aguda ocorre quando a inspiração durante a palpação do quadrante superior direito resulta em exacerbação súbita da dor consequente ao rebaixamento do fígado e da vesícula em direção à mão do examinador. Vários sinais ajudam a identificar o local da peritonite subjacente, incluindo sinais de Rovsing, psoas e obturador. Outros, como os sinais de Fothergill e Carneퟵ�, ajudam a diferenciar foco de origem intra‑abdominal daqueles de parede abdominal. Tabela 451 Sinais de Exame Abdominal Sinal de Aaron Dor ou aperto no epigástrio ou no tórax anterior com persistente pressão firme aplicada ao ponto de McBurney Apendicite aguda Sinal de Bassler Dor aguda criada comprimindo o apêndice entre a parede abdominal e ilíaco Apendicite crônica Sinal de Blumberg Sensibilidade da parede abdominal de rebote transitório Inflamação peritoneal Sinal de Carneퟵ� Perda de sensibilidade abdominal quando os músculos da parede abdominal são contraídos Fonte intra‑abdominal de dor abdominal Sinal de Candelabro Dor extrema abdominal e pélvica inferiores com movimento do colo do útero Doença inflamatória pélvica Sinal de Charcot Febre, icterícia e dor abdominal intermitente no quadrante superior direito Coledocolitíase Sinal de Claybrook Aumento dos sons respiratórios e cardíacos através da parede abdominal Ruptura de víscera abdominal Sinal de Courvoisier Vesícula biliar palpável na presença de icterícia Tumor periampular Sinal de Cruveihier Varizes na altura do umbigo (cabeça de medusa) Hipertensão portal Sinal de Cullen Equimose periumbilical Hemoperitônio Sinal de Danforth Dor no ombro à inspiração Hemoperitônio Sinal de Fothergill Massa da parede abdominal que não cruza na linha média e permanece palpável quando contraído o reto Hematomas musculares do reto Sinal de Grey Turner Áreas locais de descoloração ao redor do umbigo e flancos Pancreatite aguda hemorrágica Sinal do iliopsoas Elevação e extensão da perna contra resistência provoca dor Apendicite com abscesso retrocecal Sinal de Kehr Pressão colocada no abdome superior esquerdo e dor no ombro esquerdo quando em decúbito dorsal Hemoperitônio (especialmente de origem esplênica) Sinal de Mannkopf Pulso aumentado quando o abdome dolorido é palpado Ausente se houver simulação Sinal de Murphy Dor causada pela inspiração e aplicando pressão ao abdome superior direito Colecistite aguda Sinal do obturador Flexão com rotação externa da coxa direita, enquanto em decúbito dorsal provoca dor hipogástrica Abscesso pélvico ou massa inflamatória na pelve Sinal de Ransohoff Coloração amarelada da região umbilical Ruptura do ducto biliar comum Sinal de Rovsing Dor no ponto de McBurney quando comprimindo o abdome inferior esquerdo Apendicite aguda Sinal de Ten Horn Dor causada pela tração delicada do testículo direito Apendicite aguda O toque retal precisa ser realizado em todos os pacientes com dor abdominal aguda, em busca de massa, dor pélvica ou sangue na luz intestinal. Um exame ginecológico deve ser realizado em todas as mulheres quando da avaliação da dor localizada na região infraumbilical. Processos ginecológicos e anexiais são mais bem caracterizados por meio de uma avaliação completa com espéculo e exame físico bimanual. Exames laboratoriais Vários exames laboratoriais são rotineiramente utilizados para a avaliação do paciente com abdome agudo (Quadro 45‑ 4). Eles ajudam a confirmar a presença de inflamação ou infecção e também a avaliar a hipótese de algumas das condições não cirúrgicas mais comuns. O hemograma com contagem diferencial é um exame útil, uma vez que a maior partedos pacientes com abdome agudo terá leucocitose ou presença de células brancas imaturas. Dosagem de eletrólitos séricos, e níveis de ureia e creatinina no plasma ajudarão na avaliação do efeito de fatores tais como vômitos e acúmulo de líquido no terceiro espaço. Além disso, estes marcadores de função renal podem sugerir distúrbios endócrinos ou metabólicos como causa do problema do paciente. As determinações da amilase e da lipase séricas podem sugerir pancreatite como causa da dor, mas podem também estar elevadas em outros distúrbios como infarto do intestino delgado e perfuração de úlcera duodenal. Os níveis normais da amilase e lipase séricas não excluem a pancreatite como um possível diagnóstico, pois a inflamação crônica afeta a produção de enzimas e fatores de regulação. Os exames da função hepática, inclusive bilirrubina total e direta, aminotransferase sérica e fosfatase alcalina, são úteis na avaliação do trato biliar como possível foco de dor abdominal. Os níveis de lactato e as determinações da gasometria arterial podem ser úteis no diagnóstico da isquemia ou infarto intestinal. A análise de urina é útil no diagnóstico de cistite, pielonefrite e determinadas anormalidade endócrinas, como diabetes e doenças renais. A urocultura, embora possa confirmar uma suspeita de infecção urinária e guiar a antibioticoterapia, não está disponível a tempo para ser útil no manejo de pacientes com abdome agudo. As dosagens urinárias dos níveis da gonadotrofina coriônica humana podem sugerir gravidez que, além de ser um fator de confusão, influencia no manejo da paciente. O feto de uma paciente grávida com abdome agudo estará mais protegido ao se propiciar a melhor assistência possível à mãe, inclusive uma operação, se indicada.11 O exame de fezes para sangue oculto pode ser útil na avaliação desses pacientes, mas é inespecífico. Fezes para avaliação de ovos e parasitas, bem como cultura e ensaio para toxina de Clostridium difficile, podem ser úteis caso a diarreia seja um componente do quadro do paciente. Quadr o 4 5 4 E s tudos Labora to r i a i s Ú te i s pa ra Abdome Agudo Nível de hemoglobina Leucograma com contagem diferencial Eletrólitos, níveis de ureia e creatinina Exame de urina Nível de gonadotrofina coriônica humana na urina Níveis de amilase e lipase Níveis de bilirrubina total e direta Nível de fosfatase alcalina Aminotransferase sérica Níveis séricos de lactato Exame de fezes para busca de ovos e parasitas Cultura e dosagem de toxina de C. difficile Estudos por imagem O aprimoramento das técnicas de imagem,em especial a tomografia computadorizada (TC) com multidetectores, revolucionou o diagnóstico do abdome agudo. Situações problemáticas no passado – como apendicite em mulheres jovens e isquemia intestinal em idosos – agora podem ser diagnosticados com maior certeza e rapidez (Figs. 45‑8 e 45‑9).12‑14 Isso resultou em intervenções cirúrgicas em uma fase mais precoce, com menores taxas de morbidade e mortalidade. A despeito de sua utilidade, a TC não é a única técnica de imagem disponível como também não é a primeira opção de obtenção de imagem para a maioria dos pacientes. Além disso, nenhum exame de imagempode substituir uma anamnese cuidadosa e um exame físico minucioso. FIGURA 458 Apendicite. A, Imagem de TC de apendicite não complicada. Um apêndice retrocecal distendido de parede espessada (seta) é observado com processo inflamatório na gordura circundante. B, Imagem de TC de apendicite complicada. Um abscesso apendicular retrocecal (A) com um fleimão associado posterior encontrado em mulher obesa com 3 semanas de pósparto. A alteração inflamatória estendese pela musculatura do flanco na gordura subcutânea (seta). FIGURA 459 Infarto do intestino delgado associado a trombose venosa mesentérica. A, Observe a veia mesentérica superior trombosada com baixa densidade (seta sólida) e cálculos biliares incidentais (seta aberta). B, Espessamento da parede do intestino delgado proximal (seta) coincidente com longa porção de intestino delgado isquêmico no momento da operação. As radiografias simples continuam desempenhando um importante papel no diagnóstico de pacientes com dor abdominal aguda. As radiografias do tórax com o paciente em posição ortostática podem detectar quantidades tão pequenas quanto 1 mL de ar livre na cavidade peritoneal. As radiografias abdominais em decúbito lateral com raios horizontais também podem detectar pneumoperitônio em pacientes que por qualquer razão não possam ficar de pé. Quantidades tão pequenas quanto 5 a 10 mL de gás podem ser vistas com essa técnica.15 Esses estudos são particularmente úteis em pacientes com suspeita de úlcera duodenal perfurada porque cerca de 75% desses pacientes têm um pneumoperitônio suficientemente grande para ser visível (Fig. 45‑10).16 Isso dispensa a necessidade de avaliação adicional na maioria dos pacientes, permitindo uma laparotomia precoce. FIGURA 4510 Radiografia de tórax em ortostatismo revelando pneumoperitônio de tamanho moderado, compatível com perfuração da víscera abdominal. As radiografias também mostrar calcificações anormais. Cerca de 5% dos coprólitos apendiculares, 10% dos cálculos biliares e 90% dos cálculos renais contêm quantidades suficientes de cálcio para serem radiopacos. As calcificações pancreáticas observadas em muitos pacientes com pancreatite crônica são perfeitamente visíveis nas radiografias simples, da mesma forma que as calcificações nos aneurismas da aorta abdominal, aneurismas de artérias viscerais e aterosclerose nos vasos viscerais. As radiografias simples abdominais nas posições ortostática e supina são bastante úteis para identificação de obstrução gástrica distal e obstrução do intestino delgado proximal, médio e/ou distal e podem também ajudar a determinar se uma obstrução do intestino delgado é completa ou parcial, pela presença ou ausência de gás no cólon. A presença de gás colônico pode ser diferenciada do gás do intestino delgado pela presença de marcas das haustras das tênias da parede do cólon. (Fig. 45‑11). Distensão concomitante do intestino delgado também pode estar presente nestes casos, em especial se a válvula ileocecal for incompetente. As radiografias também podem sugerir volvo tanto do ceco quanto do cólon sigmoide. O volvo cecal é identificado por uma alça distendida do cólon em formato de vírgula, com a concavidade voltada inferiormente e para a direita. O volvo do sigmoide tem como característica a aparência de um tubo interno recurvado, com seu ápice no quadrante superior direito (Fig. 45‑12). FIGURA 4511 Radiografia abdominal em ortostatismo em paciente com um adenocarcinoma de sigmoide. Observe as marcas das haustrações no cólon transverso dilatado que distingueno do intestino delgado. FIGURA 4512 Radiografia abdominal em ortostatismo em paciente com volvo do cólon sigmoide. Observe a aparência característica de “um tubo encurvado” com o ápice no quadrante superior direito. A ultrassonografia abdominal é bastante precisa para a detecção de cálculos biliares e para avaliar a espessura da parede da vesícula biliar e a presença de líquido ao seu redor.17 Também é útil para determinar o calibre dos ductos biliares intra e extra‑hepáticos. É de pouca utilidade na detecção de cálculos do ducto biliar comum. A ultrassonografia abdominal e transvaginal pode ajudar na detecção de anormalidades dos ovários, anexos e útero. Também é utilizada para detectar líquido intraperitoneal. A presença de quantidades anormais de gás intestinal na maioria dos pacientes com abdome agudo limita a capacidade da ultrassonografia de avaliar o pâncreas ou outros órgãos abdominais. Existem limites importantes para o valor da ultrassonografia no diagnóstico de doenças que se manifestam como abdome agudo. A ecografia é clinicamente inferior à TC no diagnóstico de apendicite.18 Além disso, as imagens da ultrassonografia são mais difíceis de interpretar, para a maioria dos cirurgiões, do que as radiografias simples e a TC. Muitos hospitais possuem técnicos em radiologia disponíveis para realizar a TC a qualquer hora, mas esse frequentemente não é o caso com a ultrassonografia. Como a TC tornou‑se mais amplamente disponível e com menos probabilidade de ser prejudicada pelo ar abdominal, ela está se tornando a segunda modalidade de escolha para a obtenção de imagem no paciente com abdome agudo, depois da radiografia simples do abdome. Vários estudos têm demonstrado a acurácia e a utilidade da TC do abdome e da pelve na avaliação da dor abdominal aguda.12‑14 Muitas das causas habituais de abdome agudo são prontamente identificadas pela TC, bem como são suas complicações. Um exemplo importante é a apendicite. Radiografias simples e mesmo enemas de bário acrescentam pouco ao diagnóstico de apendicite; no entanto, uma TC bem realizada possui alta precisão no diagnóstico desta doença. A experiência prévia sugeriu que a TC ideal para a suspeita de apendicite deve incluir contraste oral, endovenoso e retal. Recentemente, uma grande revisão retrospectiva de mais de 9.000 pacientes de 56 hospitais, incluindo instituições urbanas e rurais, não encontrou aumento da acurácia com a inclusão de contraste entérico. Os achados operatórios correlacionaram‑se com as observações da TC em 90% das vezes, com ou sem contraste entérico.19 É igualmente importante que um radiologista experiente, habituado à leitura de TC abdominal, interprete o estudo para maximizar a sensibilidade e a especificidade do exame. Um estudo prospectivo holandês ilustra a variabilidade de interpretação da TC no diagnóstico de apendicite. Três grupos de radiologistas avaliaram cegamente resultados de tomografias computadorizadas de pacientes com suspeitas de apendicite. Todos os pacientes tinham sido submetidos à laparoscopia exploradora e descobriu‑se que 83% dos pacientes tinham apendicite no momento da cirurgia. O grupo A era composto de residentes de radiologia de plantão e treinados na interpretação de TC. O grupo B era composto pela equipe de radiologistas de sobreaviso; o grupo C era composto por especialistas em radiologia abdominal. Para os grupos de radiologistas A, B e C, a sensibilidade da TC para o diagnóstico de apendicite aguda foi 81%, 88% e 95%, as especificidades foram 94%, 94%e 100%, e os valores preditivos negativos eram de 50%, 68% e 81%, respectivamente. Diferenças entre os grupos A e C foram estatisticamente significativas.14 A TC é também excelente para diferenciar obstrução mecânica do intestino delgado de íleo paralítico e pode, em geral, identificar o ponto de obstrução mecânica (Fig. 45‑13). Algumas das doenças de difícil diagnóstico, incluindo a isquemia mesetérica aguda e a lesão intestinal após trauma abdominal fechado, muitas vezes podem ser perfeitamente identificadas por esse método. FIGURA 4513 TC de paciente com obstrução parcial do intestino delgado. Observe a presença de intestino delgado dilatado e intestino delgado descomprimido. O intestino descomprimido contém ar, indicando obstrução parcial. As lesões traumáticas do intestino delgado podem ser um desafio para um diagnóstico clínico. As lesões associadas da parede abdominal, da região pélvica, ou lesões na coluna vertebral podem mascarar a identificação das lesões subjacentes e consequentemente comprometer o diagnóstico clínico. Além disso, muitos pacientes que sofrem um trauma abdominal fechado têm comprometimento de seu nível de consciência, o que dificulta a identificação de lesões. Quando há suspeita de lesão intestinal, está indicada a utilização de uma TC com contraste oral associada ao contraste IV. Zissin et al.17 assinalaram uma sensibilidade global de 64%, uma especificidade de 97% e uma precisão de 82% para o diagnóstico de lesão do intestino delgado seguido de trauma contuso usando TC com duplo contraste. Os parâmetros para o diagnóstico incluem espessamento da parede da alça, gás fora de alça intestinal ou presença de moderada a grande quantidade de líquido intraperitoneal sem lesão de órgão abdominal sólido visível. Monitoração da pressão intraabdominal Uma pressão intra‑abdominal elevada pode ser sintoma ou causa de doença abdominal aguda. A pressão intra‑abdominal elevada reduz o fluxo sanguíneo para os órgãos abdominais e diminui o retorno venoso ao coração, aumentando a estase venosa. O aumento da pressão no abdome também pode elevar o diafragma, aumentando o pico da pressão inspiratória e diminuindo a capacidade ventilatória. O risco de refluxo esofágico com consequente aspiração pulmonar também se mostra associado à hipertensão abdominal. É importante considerar a possibilidade de síndrome compartimental abdominal em qualquer paciente que apresente rigidez e/ou significativa distensão abdominal. A pressão intra‑abdominal normal está situada entre 5 a 7 mmHg para um indivíduo, em estado de relaxamento, que tenha um corpo mediano e esteja deitado na posição supina. Na obesidade, a elevação da cabeceira da cama pode aumentar a pressão abdominal normal em repouso. A obesidade mórbida leva a aumento de 4 a 8 mmHg nesses níveis normais e a elevação da cabeceira da cama em 30 graus aumenta a pressão em 5 mmHg em média.20 Pressões são comumente medidas através da bexiga por um transdutor de pressão conectado a um cateter de Foley. Leituras de pressão são obtidas no final da expiração após a instilação de 50 mL de solução salina em uma bexiga previamente vazia. Pressões superiores a 11 mmHg são consideradas elevadas acima do normal e são graduadas por gravidade de de 1 a 4 (Tabela 45‑2). A hipertensão abdominal de graus 1 e 2 quase sempre pode ser tratada adequadamente com intervenções médicas objetivando manter a euvolemia, descompressão intestinal por sonda nasogástrica ou laxantes e enemas, suspensão da alimentação enteral, aspiração por punção de líquido ascítico, relaxamento da parede abdominal e o uso criterioso de líquidos hipotônicos intravenosos. Os graus 3 e 4 frequentemente necessitam de descompressão cirúrgica via laparotomia com curativo aberto do abdome, caso a hipertensão grave e a disfunção orgânica não responderem prontamente ao tratamento médico agressivo. Tabela 452 Hipertensão Abdominal PRESSÃO MESENTÉRICA DC PVC PIP TFG PERFUSÃO TRATAMENTO Pressão normal 5‑7 mmHg ↔ ↔ ↔ ↔ ↔ Nenhum Hipertensão grau 1 12‑15 mmHg ↔ ↔/↑ ↔/↑ ↓ ↓ Manter euvolemia Hipertensão grau 2 16‑20 mmHg ↓ ↑* ↑ ↓ ↓ Descompressão não cirúrgica Hipertensão grau 3 21‑25 mmHg ↓↓ ↑↑* ↑↑ ↓↓ ↓↓ Descompressão cirúrgica Hipertensão grau 4 > 25 mmHg ↓↓↓ ↑↑* ↑↑ ↓↓↓ ↓↓↓ Descompressão cirúrgica; reexplore DC, débito cardíaco; PVC, pressão venosa central; TFG, taxa de filtração glomerular; PIP, pressão inspiratória de pico. * Enganosamente elevado e não reflete o volume intravascular. Laparoscopia diagnóstica Vários estudos confirmaram a utilidade da laparoscopia diagnóstica em pacientes com dor abdominal aguda.21‑23 As vantagens incluem alta sensibilidade e especificidade, capacidade de tratar laparoscopicamente várias condições que causam um abdome agudo, e ter menor morbimortalidade, menor tempo de permanência hospitalar e menores custos. Pode ser particularmente útil em pacientes críticos que necessitem de cuidados intensivos, especialmente se a laparotomia puder ser evitada.24 A acurácia diagnóstica é elevada; os relatórios mostram que varia de 90% a 100%, reconhecendo, no entanto, que há limitações para a identificação dos processos retroperitoneais. Essa comparação favorável se faz com relação a outros estudos diagnósticos como lavagem peritoneal, TC ou ultrassonografia do abdome.25 Devido a avanços no equipamento e maior disponibilidade, essa técnica está sendo usada mais frequentemente nesses pacientes. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial da dor abdominal aguda é amplo. As condições variam de leves e autolimitadas às rapidamente progressivas e fatais. Todos os pacientes necessitam, portanto, ser vistos e avaliados prontamente, e reavaliados a intervalos frequentes quanto às possíveis alterações no seu quadro. Embora muitos diagnósticos de “abdome agudo” exijam intervenção cirúrgica para resolução, é importante lembrar que muitas causas de dor abdominal aguda são de tratamento não operatório (Figs. 45‑2 e 45‑4).26 A elaboração do diagnóstico diferencial começa já na anamnese e deve ser complementada no exame físico. Exames adicionais como a análise laboratorial e os estudos de imagens são então solicitados; geralmente, um ou dois diagnósticos são suspeitados. Para ter êxito, esse processo exige um conhecimento abrangente das condições clínicas e cirúrgicas que dão origem à dor abdominal aguda, a fim de permitir que as características das doenças sejam comparadas com as condições demográficas, sintomas e sinais do paciente. Certos achados radiológicos, laboratoriais e exames físicos são altamente correlacionados com doença cirúrgica (Quadro 45‑5). Às vezes, alguns pacientes podem estar muito instáveis para serem submetidos a avaliações abrangentes que exijam encaminhamento para outros departamentos, como o da radiologia. Nessa situação, o lavado peritoneal pode fornecer informações importantes sugerindo enfermidade que demanda intervenção cirúrgica. O lavado pode ser realizado sob anestesia local, à beira do leito do paciente. Uma pequena incisão é feita na linha média adjacente ao umbigo, e a dissecção orientada para a cavidade peritoneal. Um pequeno cateter ou tubo de infusão intravenosa é inserido, e 1.000 mL de solução salina são infundidos. Uma amostra do fluido é coletada por sifonagem de solução salina vazia e é, então, analisada para anormalidades celulares e bioquímicas. Essa técnica pode fornecer informações sobre a presença de hemorragia ou infecção, bem como alguns tipos de lesão de víscera sólida ou oca. Quadr o 4 5 5 Achados Assoc i ados à Doença C i rú rg i ca no Con tex to de Dor Abdomina l Aguda Exame Físico e Achados Laboratoriais Pressão compartimental abdominal> 30 mmHg Distensão piora após a descompressão gástrica Defesa involuntária ou sensibilidade de rebote Hemorragia gastrointestinal, exigindo > 4 U de sangue sem estabilização Sepse sistêmica inexplicada Sinais de hipoperfusão (p. ex., acidose, dor desproporcional aos achados de exame, aumento dos resultados de testes de função hepática) Achados Radiográficos Dilatação intensa do intestino Dilatação progressiva da alça estacionária do intestino (alça sentinela) Pneumoperitônio Extravasamento de contraste do lúmen intestinal Oclusão vascular na angiografia Gordura espessada, parede intestinal espessada com sepse sistêmica Lavagem Peritoneal Diagnóstica (1.000 mL) > 250 leucócitos por mililitro de aspirado > 300.000 hemácias por mililitro de aspirado Nível de bilirrubina maior do que o nível plasmático (vazamento de bile) no aspirado Presença de material particulado (fezes) Nível de creatinina maior do que o nível plasmático no aspirado (vazamento de urina) Os pacientes com doença cirúrgica de emergência, com risco de morte eminente, são levados de imediato para a sala operatória e submetidos a laparotomia, enquanto outros em situações de urgência, mas não de emergência, podem dispor de tempo para se proceder ao preparo pré‑operatório. Os demais pacientes com abdome agudo podem ser agrupados nos que dispõem de condições que possam vir a necessitar de cirurgia, e outros com doenças clínicas, e também o grupo que permanece ainda sem diagnóstico definitivo. Os pacientes hospitalizados que não são encaminhados com urgência para a sala de operação devem ser reavaliados com frequência e, de preferência, pelo mesmo examinador, a fim de reconhecer alterações potencialmente graves no quadro ou o desenvolvimento de complicações. Embora o objetivo do cirurgião seja fazer o diagnóstico correto no pré‑operatório e planejar o procedimento mais adequado antes de ir para a sala de cirurgia, deve‑se enfatizar que um diagnóstico preciso nem sempre é possível de ser realizado em todos os pacientes. Os cirurgiões precisam estar sempre dispostos a aceitar a dúvida e indicar laparotomia exploradora quando a situação clínica exigir. Os achados laboratoriais e por imagens, embora úteis, nunca devem substituir o julgamento clínico à beira do leito feito por um cirurgião experiente. Os pacientes correm maior risco na demora em se realizar uma cirurgia necessária do que em um eventual erro de diagnóstico descoberto no ato operatório. A laparoscopia tem‑se revelado uma ferramenta útil nas dúvidas do diagnóstico. A presença de doença cirúrgica pode ser confirmada em todos os quadrantes abdominais e, conforme a experiência do cirurgião aumenta, mais situações também serão capazes de ser resolvidas por laparoscopia. Mesmo quando é necessária a conversão para a cirurgia aberta, a avaliação laparoscópica facilita o posicionamento mais preciso da laparotomia, reduzindo, assim, o tamanho da incisão. Preparação para cirurgia de emergência O estado geral de saúde dos pacientes com abdome agudo é muito variável no momento em que se indica a operação. Independentemente da gravidade da doença, todos os pacientes necessitam de algum grau de preparo pré‑operatório. Deve‑se obter acesso IV para as eventuais correções das anormalidades eletrolíticas. A maioria, senão a totalidade dos pacientes, terá necessidade de antibióticos venosos. As bactérias mais comumente encontradas na vigência de abdome agudo são microrganismos entéricos Gram‑negativos e anaeróbios. Antibióticos para cobrir estes organismos devem ser iniciados imediatamente após o diagnóstico presuntivo ter sido feito. Os pacientes com íleo paralítico generalizado ou vômitos beneficiam‑se de uma sonda nasogástrica para diminuir a probabilidade de vômito e aspiração. A cateterização vesical com cateter de Foley para avaliação do débito urinário, uma medida de adequação da reposição volêmica, está indicada na maioria dos pacientes. O débito urinário pré‑operatório de 0,5 mL/kg/h, juntamente com pressão arterial sistólica de pelo menos 100 mmHg e uma frequência cardíaca de 100 batimentos/min ou menos, são indicativos de um volume intravascular adequado. Uma anormalidade eletrolítica comum que exige correção é a hipocalemia. A acidose pré‑ operatória deve ser tratada com reposição de líquido e infusão IV de bicarbonato. A acidose causada por isquemia ou infarto intestinal pode ser refratária à terapia pré‑operatória. A colocação de um cateter venoso central facilita a reanimação e permite uma correção mais breve da concentração de potássio. Anemia significativa não é um achado comum, de modo que transfusões de sangue no período pré‑operatório geralmente são desnecessárias. Entretanto, a maioria dos pacientes deve ter sangue tipado, com provas cruzadas e disponível para a operação. Na vigência de uma incerteza inerente à necessidade de transfusão pré‑operatória, é importante que se tenha sangue disponível a fim de evitar uma eventual demora da transfusão caso seja preciso durante a operação. A premência de estabilização pré‑operatória dos pacientes deve ser ponderada diante da maior morbimortalidade associada a uma demora no tratamento de algumas das doenças cirúrgicas que se apresentam como abdome agudo. A natureza subjacente da doença, como infarto enteromesentérico, pode exigir a correção cirúrgica antes que a estabilização dos sinais vitais e a restauração do equilíbrio ácido‑base do paciente possam ocorrer. A reanimação deve ser vista como um processo contínuo e deve ser mantida após a cirurgia. Decidir o momento em que há benefício máximo do preparo pré‑operatório nestes pacientes requer bom julgamento cirúrgico. Pacientes atípicos Gravidez Gestantes com dor abdominal aguda podem levar a situações diagnósticas insólitas e tratamento desafiador. Deve‑se dar ênfase especial à possibilidade de doenças ginecológicas e/ou cirúrgicas quando ocorrer uma dor abdominal aguda durante a gravidez devido à morbidade caso elas não sejam prontamente diagnosticadas. A laparoscopia tem mostrado grande benefício no diagnóstico e no tratamento de gestantes com dor abdominal aguda, e é agora rotineiramente utilizada em várias situações clínicas. Embora casos de perda fetal após cirurgia laparoscópica continuem sendo relatados, sua segurança foi considerada igual ou superior a uma abordagem cirúrgica aberta em todos os trimestres da gravidez.27,28 Um estudo retrospectivo com meta‑análise questionou a segurança da apendicectomia laparoscópica comparada com laparotomia, enfatizando a necessidade de mais estudos nessa área.29,30 A maior ameaça que as pacientes grávidas enfrentam com dor abdominal aguda é a potencial demora do diagnóstico. A lentidão no tratamento cirúrgico provou ser muito mais mórbido do que a cirurgia em si.11,31 Os atrasos ocorrem por vários motivos. Na maioria das vezes, os sintomas são atribuídos à gravidez subjacente, incluindo dor abdominal, náuseas, vômitos e anorexia. A gravidez também pode alterar as manifestações de algumas doenças e faz que o exame físico seja mais difícil, em decorrência do útero aumentado na pelve. No final do terceiro trimestre de gestação, o apêndice está deslocado da pelve em direção cranial chegando até alguns centímetros do rebordo costal anterolateral direito (Fig. 45‑14).32 Resultados de estudos laboratoriais, como contagem de glóbulos brancos e outros testes, também sofrem alteração na gravidez, tornando mais difícil o reconhecimento da doença. Além disso, os médicos podem hesitar em realizar estudos por imagens, como radiografia simples do abdome ou TC, por causa da preocupação com a exposição do feto em desenvolvimento à radiação. A falta de informação radiológica pode afastar os médicos de sua rotina diagnósticae levá‑los a dar valor a outras modalidades de exame, como monitoramento dos sinais vitais e estudos laboratoriais, que podem confundir ou subestimar a condição existente. Por fim, os médicos naturalmente tendem a ser mais conservadores quando tratam pacientes grávidas. As taxas de aborto no primeiro trimestre por cirurgias não obstétricas são tão altas quanto 38%, mas a maior parte dos trabalhos apresenta uma taxa de aborto cirúrgico semelhante às taxas de aborto espontâneo do primeiro trimestre de 8% a 16%.27 Sem grupo‑controle para comparação, não está claro se algumas das taxas aumentadas de aborto são secundárias à doença ou à cirurgia em si. A cirurgia não foi associada ao aumento de natimortos e anomalias congênitas.28 A cirurgia abdominal foi associada ao aumento da incidência de parto pré‑termo no segundo e, principalmente, no terceiro trimestre de gravidez. Pensa‑se que o parto pré‑termo seja menos frequente no segundo trimestre devido à menor manipulação uterina. Os cuidados intraoperatórios durante a gravidez concentram‑se nos cuidados à mãe. Se não houver viabilidade fetal, deve‑se auscultar os sons cardíacos fetais antes e depois da cirurgia. Se o feto for viável, os sons cardíacos devem ser monitorados durante a cirurgia, com uma equipe capacitada a de realizar uma cesariana de emergência disponível.33 FIGURA 4514 Localização do apêndice normal materno durante a gestação do feto. Apendicite é a doença não obstétrica de tratamento cirúrgico mais comum, ocorrendo em uma em cada 1.500 gestações.29,33 Seus sintomas normalmente consistem em dor abdominal à direita, náuseas e anorexia, mas mostra apresentações “típicas” em apenas 50% a 60% dos casos.34 A febre é incomum, a menos que o apêndice esteja perfurado com sepse abdominal. Os sintomas, algumas vezes, são atribuídos à gravidez subjacente, devendo‑se manter um alto grau de suspeição. Os estudos laboratoriais também podem ser enganosos. Não é infrequente leucocitose tão alta quanto 16.000 células/μL na gravidez, e o trabalho de parto pode aumentar a contagem para 21.000 células/μL. Muitos autores sugerem que um desvio dos neutrófilos de mais de 80% é suspeito de um processo inflamatório agudo, como apendicite; no entanto, outros têm observado que apenas 75% dos pacientes com apendicite comprovada têm um desvio e até 50% dos pacientes com dor e desvio têm um apêndice normal.11,30 Sistemas de pontuação têm sido defendidos de modo a atribuir uma ordenação numérica para certos sintomas, sinais e valores laboratoriais para prever a probabilidade de apendicite. Ainda que sistemas de pontuação como o modificado de Alvarado (Tabela 45‑3) ajudem a predizer a necessidade de intervenção cirúrgica, eles não foram validados em um modelo da gravidez.34 O ultrassom tem sido confiável como a primeira ferramenta de imagem em muitos centros. Mostrou‑se que o ultrassom com compressão graduada tem sensibilidade de 86% em pacientes não grávidas.29 Em uma série de casos de 42 gestantes com suspeita de apendicite, o ultrassom com compressão graduada revelou uma sensibilidade de 100%, especificidade de 96% e precisão de 98%.35Três mulheres foram excluídas da análise em função de um exame tecnicamente inadequado por causa da idade gestacional avançada (> 35 semanas). Foi estabelecido que a TC helicoidal é uma ferramenta valiosa para a avaliação da paciente não grávida e ela é promissora como estudo de segunda linha na gravidez. Comparada com a TC tradicional, a TC helicoidal pode fornecer um estudo muito mais rápido e seguro, com exposições de radiação para o feto de aproximadamente 300 mrad.29 A RM também tem um papel importante no diagnóstico. A RM não só é capaz de demonstrar o apêndice normal mas também consegue reconhecer um apêndice aumentado, líquido periapendicular e inflamação.36 A sensibilidade e a especificidade em uma revisão retrospectiva de 148 pacientes com suspeita de apendicite aguda foram de 100% e 93%, respectivamente.37 Tabela 453 Sistema de Pontuação de Alvarado Modificado para Apendicite CARACTERÍSTICA PONTUAÇÃO Sintomas Dor na fossa ilíaca direita 1 Náusea/vômito 1 Anorexia 1 Sinais Sensibilidade da fossa ilíaca direita 2 Febre 1 Sensibilidade de rebote 1 Testes Contagem de leucócitos ≥ 10.000 2 Desvio à esquerda de neutrófilos 1 Pontuação ≥ 7 Cirurgia recomendada De Brown MA, Birchard KR, Semelka RC: Magnetic resonance evaluation of pregnant patients with acute abdominal pain. Semin Ultrasound CT MR 26:206–211, 2005. As dificuldades adicionais na avaliação da paciente grávida com dor abdominal no quadrante inferior direito resultaram em uma taxa de apendicectomia “branca” significativamente mais elevada, em comparação com mulheres não grávidas, no passado. Embora essa taxa de erro diagnóstico seja inaceitável em uma mulher jovem saudável, ela é perfeitamente compreenssível em razão da mortalidade fetal que ocorre quando a apendicite evolui para perfuração antes da operação. A perda fetal perioperatória associada à apendicectomia para doença precoce é de 3% a 5%, enquanto aumenta para mais de 20% no caso de perfuração.31 Com a imaginologia moderna, especialmente a RM, as apendicectomias negativas diminuíram sem um aumento associado de perfurações.36,37 A segunda e a terceira doença cirúrgica mais comum observada na gravidez são os distúrbios do trato biliar e a obstrução intestinal. A cirurgia para doença biliar ocorre entre uma a seis em 10.000 gestações.38 Sintomas de dor, náuseas e anorexia são os mesmos em pacientes não grávidas. Apesar dos níveis elevados de estrogênio serem litogênicos, a incidência da doença é semelhante para mulheres grávidas.28 Com poucas exceções, a avaliação e o tratamento durante a gravidez são semelhantes aos de todos os pacientes com doença biliar. O ultrassom é o exame diagnóstico preferencial. O nível de fosfatase alcalina está elevado secundariamente a um nível de estrógeno e os valores normais precisam ser corrigidos. A colecistectomia laparoscópica é a técnica preferida.28,38,39 Muitos estudos sugeriram colecistectomia laparoscópica para todas as doenças sintomáticas secundárias a recidiva pré‑parto e pós‑parto, bem como a complicações, independentemente do trimestre.28,38 A maioria dos cirurgiões tenta tratar a cólica biliar simples com conduta conservadora no primeiro e no terceiro trimestres e planeja colecistectomia laparoscópica eletiva para o segundo trimestre e/ou o período pós‑parto, para minimizar o risco fetal.38 A pancreatite biliar e a colecistite aguda devem ser tratadas com mais cuidado. A pancreatite biliar tem sido associada a taxas de perda fetal muito elevada chegando a 60%. Se uma mulher não responde rapidamente ao tratamento conservador com hidratação, jejum, analgesia e uso de antibióticos, deve‑se reavaliar a necessidade de cirurgia. Obstrução intestinal é bem menos comum, ocorrendo em aproximadamente 1 a 2 em 4.000 gravidezes; são causas subjacentes as aderências em dois terços dos casos. Volvo é a segunda causa mais comum, ocorrendo em 25% dos casos, em comparação com apenas 4% na população não grávida.30 Os sinais e sintomas são típicos e não devem ser atribuídos a “êmese gravídica”. A dor abdominal em cólica com distensão abdominal precoce deve sugerir o diagnóstico para o médico. Três períodos durante a gestação estão associados ao risco aumentado de obstrução e se correlacionam com mudanças rápidas no volume uterino.30 O primeiro é de 16 a 20 semanas, quando o útero cresce além da pelve; o segundo vai de 32 a 36 semanas, quando a cabeça do feto desce, e o terceiro é no período pós‑parto precoce. A avaliação é a mesma para qualquer paciente, e não se deve hesitar em fazer radiografias quandoa situação exige. Como em outros processos inflamatórios agudos no abdome, as morbidades materna e fetal são mais afetadas pela demora do tratamento definitivo. Abdome Agudo em Pacientes Pediátricos As estratégias diagnósticas do abdome agudo na população pediátrica são as mesmas que para os adultos. A apendicite continua sendo uma das causas primárias de abdome agudo nessa faixa etária. Embora obstrução intestinal e doença litiásica biliar sejam observadas, essas entidades são muito menos frequentes do que nos adultos. A intussuscepção deve ser mantida no diagnóstico diferencial, especialmente para aqueles que têm menos de 3 anos de idade. A gastroenterite, perfurações por ingestão de corpo estranho, intoxicação alimentar, divertículo de Meckel e colite causada por C. difficile são também causas potenciais. As apresentações e os achados no exame físico são semelhantes aos do adulto. O principal desafio na realização do diagnóstico correto consiste na obtenção de uma história precisa. As crianças normalmente fornecem uma história pobre por causa da idade, por medo ou pela incapacidade de descrever o que sentem. Uma história detalhada deve ser obtida também dos pais. As escolhas dos testes diagnósticos bem como dos tratamentos podem ser influenciadas pela idade do paciente. Os médicos podem estar menos propensos para a realização de estudos que provoquem radiação ionizante em crianças jovens. Um estudo retrospectivo de 1.228 crianças com suspeita de apendicite avaliou o uso de ecografia como ferramenta de primeira linha, com TC usada como adjuvante para estudos equívocos.40 Este estudo mostrou que a TC foi evitada em mais de metade dos pacientes, mantendo a taxa de apendicectomia negativa, de 8,1%. Finalmente, existe experiência progressiva no tratamento da apendicite precoce de forma não cirúrgica com antibióticos. Um estudo prospectivo não randomizado recente de 77 crianças com apendicite concluiu que as taxas de sucesso imediato e em 30 dias para o tratamento não operatório foi de 93% e 90%. Dos três pacientes que falharam na resposta ao tratamento médico, nenhum progrediu para apendicite perfurada ou complicada. As crianças tratadas de forma conservadora voltaram à escola 2 dias mais cedo, tiveram menos 14 dias de repouso, mas tiveram hospitalização prolongada em 18 horas, em média.41 Abdome Agudo em Pacientes Críticos O paciente crítico com possível abdome agudo é um desafio tanto para os intensivistas quanto para os cirurgiões. Muitas das doenças subjacentes e tratamentos realizados na unidade de tratamento intensivo predispõem a doença abdominal aguda. Ao mesmo tempo, doença abdominal não reconhecida pode ser responsável pela permanência dos pacientes em um estado crítico. Os pacientes críticos em geral são de difícil avaliação quando comparados com os não graves, em virtude do comprometimento nutricional ou imunológico, da analgesia com narcóticos e do uso de antibióticos. Muitos desses pacientes têm alteração no nível de consciência ou estão entubados e não podem fornecer informações detalhadas aos médicos assistentes. A circulação extracorpórea está associada a várias doenças abdominais agudas graves. Isquemia mesentérica, íleo paralítico, síndrome de Ogilvie, úlcera péptica por estresse, colecistite alitiásica aguda e pancreatite aguda têm sido relacionados com o estado de baixo fluxo da circulação extracorpórea, e sua incidência parece relacionar‑se com a duração do procedimento cardíaco.42,43 Os medicamentos vasoativos e o suporte ventilatório também estão relacionados com hipoperfusão e quadros abdominais semelhantes. Quando ocorre uma complicação abdominal aguda no paciente sob tratamento intensivo, ela tem um efeito dramático no desfecho. Os intensivistas precisam manter um alto grau de suspeição sobre o desenvolvimento de doença intra‑abdominal e informar de imediato aos cirurgiões para maximizar o potencial de recuperação. Os cirurgiões devem então trabalhar para excluir a possibilidade de doença abdominal usando todos os métodos descritos neste capítulo, bem como o ultrassom à beira do leito, paracentese ou minilaparoscopia, de modo que a intervenção cirúrgica precoce possa ser realizada de maneira apropriada.44 Pacientes Imunocomprometidos com Abdome Agudo Os pacientes imunocomprometidos apresentam os mais variados sintomas nas doenças abdominais agudas. A variabilidade é altamente relacionada com o grau de imunossupressão. Não existe exame confiável para determinar o grau de imunossupressão vivenciado por um determinado paciente, de modo que as estimativas são feitas por associações de determinados estados de doença ou medicamentos. Comprometimento leve a moderado é visto em pacientes idosos, indivíduos desnutridos, diabéticos, transplantados na terapia de manutenção, pacientes com câncer, pacientes com insuficiência renal e pacientes com HIV com contagens de CD4 superiores a 200/mm3. Embora os pacientes nesse grupo tenham os mesmos tipos de doença e infecções que seus pares imunocompetentes, eles ainda podem apresentar‑se de uma forma atípica. A dor abdominal e os sinais e sintomas sistêmicos em geral relacionam‑se com o desenvolvimento de inflamação. Esses pacientes podem não ser capazes de desenvolver uma resposta inflamatória completa e, portanto, podem experimentar menos dor abdominal, atraso do aparecimento de febre e leucocitose discreta. Pacientes com imunossupressão grave normalmente incluem transplantados que receberam altas doses de terapia para evitar a rejeição nos últimos 2 meses, pacientes com câncer em quimioterapia, especialmente aqueles com neutropenia, e pacientes com HIV com contagens CD4 inferiores a 200/mm3. Esses pacientes cursam, em geral, com pouca dor ou nenhuma dor, sem febre e com sintomas sistêmicos vagos, seguidos por uma queda no estado geral irreversível. A colite pseudomembranosa tem sido tradicionalmente associada ao uso recente de antibióticos de largo espectro, embora seja observada cada vez mais em pacientes imunocomprometidos com doenças como linfoma, leucemia e AIDS. As manifestações clínicas geralmente incluem diarreia, desidratação, dor abdominal, febre e leucocitose; entretanto, os pacientes imunocomprometidos podem não apresentar muitos desses achados por causa de sua incapacidade de gerar uma resposta inflamatória normal. Estudos de imagem, como a TC abdominal tornam‑se cada vez mais importantes para fazer diagnósticos precisos precoces quando as apresentações são atípicas. As TC são úteis nos pacientes com colite complicada sem indicações cirúrgicas óbvias. As TC são úteis para avaliar o megacólon, o íleo, a ascite, a perfuração e o espessamento da parede cólica (Tabela 45‑4).45 Estes achados, quando presentes, podem ajudar muito o clínico na formulação do diagnóstico de colite. No entanto, até cerca de 14% dos pacientes com colite pseudomembranosa comprovada terão achados normais na TC e, portanto, o diagnóstico não deve ser excluído apenas com base em uma TC negativa. A avaliação cirúrgica precoce diminui a mortalidade destes pacientes.46 Tabela 454 Frequência de Achados de TC Comum na Colite Pseudomembranosa ACHADOS NA TC FREQUÊNCIA (%) Espessamento da parede do intestino delgado (> 4 mm) 86 Distribuição pancolônica 46 Espessamento pericólico 45 Ascite 38 Espessamento nodular ou polipóide da parede 38 Maior destaque da mucosa 18 Dilatação do intestino delgado 14 Sinal da sanfona 14 De Tsiotos GG, Mullany CJ, Zietlow S et al: Abdominal complications following cardiac surgery. Am J Surg 167:553–557, 1994. Além disso, esses pacientes podem sofrer infecções atípicas, incluindo tuberculose peritoneal,infecções fúngicas, aspergilose e micoses endêmicas, e uma variedade de infecções virais, incluindo citomegalovírus e Epstein‑Barr (Quadro 45‑6). Quando ocorre uma infecção abdominal, em geral, não é reconhecida como uma infecção localizada por causa da ausência de reação inflamatória. Todos os pacientes imunodeprimidos graves necessitam de avaliação imediata e completa para queixas abdominais persistentes. Aqueles que exigem hospitalização são submetidos a uma avaliação cirúrgica para o diagnóstico e o tratamento oportuno. TC de alta resolução pode ser altamente benéfica nesses pacientes, mas deve ser mantido um espaço para a laparoscopia ou a laparotomia para aqueles com resultados de exames inespecíficos e sintomas persistentes que continuam sem explicação. Quadr o 4 5 6 Causas de Dor Abdomina l Aguda em Pac i en te s Imunocompromet idos Infecções Oportunistas Micoses endêmicas (coccidioidomicose, blastomicose, histoplasmose) Peritonite tuberculosa Aspergilose Colite neutropênica (tiflite) Colite pseudomembranosa Colite, gastrite, esofagite, nefrite de citomegalovírus Vírus Epstein‑Barr Abscessos hepáticos (piogênico, fúngico) Condições Iatrogênicas Doença enxerto versus hospedeiro com hepatite ou enterite Úlcera péptica ou perfuração do uso de esteroide Pancreatite causada por esteroides ou azatioprina Doença veno‑oclusiva hepática (secundária à imunodeficiência primária ou quimioterapia) Nefrolitíase causada pelo tratamento do HIV com indinavir Abdome Agudo nos Pacientes Obesos Mórbidos A obesidade mórbida cria numerosos desafios ao diagnóstico preciso na vigência de abdome agudo. Muitos autores descreveram alterações nos sinais e sintomas de peritonite na obesidade mórbida.47‑49 Achados de peritonite franca frequentemente são tardios e nefastos, levando à sepse, falência de múltiplos órgãos e morte.47 O diagnóstico de sepse abdominal é mais refinado nessa população e pode estar associada somente a sintomas inespecíficos como mal‑estar, dor no ombro, soluços e falta de ar.48 Os achados dos exames complementares podem ser de difícil interpretação. Dor abdominal grave não é comum, e achados menos específicos, como taquicardia, taquipneia, derrame pleural, ou febre podem ser a primeira observação.49 A avaliação da distensão ou massa intra‑abdominal também é muito difícil, por causa do tamanho e da espessura da parede abdominal. O exame abdominal por imagem também é dificultado pela obesidade. As radiografias simples do abdome podem exigir múltiplas imagens para que todo o abdome possa ser visto, e a nitidez fica reduzida. Pode ser impossível a realização do exame por TC e RM na medida em que a circunferência ou o peso do paciente exceda o tamanho de abertura do aparelho ou o limite de peso da maca mecanizada. Nestes quadros, um alto índice de suspeição e um baixo limiar para a exploração cirúrgica deve ser mantido. A laparoscopia é uma ferramenta valiosa nesses pacientes. Algoritmos de abdome agudo Os algoritmos podem ajudar no diagnóstico do paciente com abdome agudo. Como foi dito anteriormente, o diagnóstico assistido por computador revelou‑se mais acurado que o juízo clínico isoladamente em vários estágios de doença abdominal aguda. Algoritmos são a base do diagnóstico por computador e podem ser úteis na tomada de decisões clínicas. Os algoritmos mostrados são úteis em pacientes com abdome agudo e podem permitir um exame focado e uma terapia mais rápida (Figs. 45‑15 a 45‑20). FIGURA 4515 Algoritmo para o tratamento de dor abdominal generalizada, grave, de início agudo. TC, tomografia computadorizada; CNG, cateter nasogástrico; EN, exame normal; SO, operação. FIGURA 4516 Algoritmo para o tratamento de dor abdominal generalizada, grave, de início gradual. TC, tomografia computadorizada; CPRE, colangiopancreatografia endoscópica retrógrada; PFH, provas de função hepática. FIGURA 4517 Algoritmo para o tratamento da dor abdominal no quadrante superior direito. TC, tomografia computadorizada; CPRE, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica; PFH, provas de função hepática; EN, exame normal; US, ultrassom. FIGURA 4518 Algoritmo para o tratamento da dor abdominal no quadrante superior esquerdo. TC, tomografia computadorizada. FIGURA 4519 Algoritmo para o tratamento da dor abdominal no quadrante inferior direito. TC, tomografia computadorizada; Hist., histórico; SO, operação; ITU, infecção do trato urinário. FIGURA 4520 Algoritmo para o tratamento da dor abdominal no quadrante inferior esquerdo. TC, tomografia computadorizada. Resumo A avaliação e o tratamento do paciente com dor abdominal aguda ainda são uma parte desafiadora da prática cirúrgica. Embora avanços nas técnicas de obtenção de imagem, no uso de algoritmos e na assistência do computador tenham melhorado a precisão diagnóstica de condições que causam o abdome agudo, anamnese e exame físico cuidadosos ainda são a parte mais importante da avaliação. Mesmo com essas ferramentas disponíveis, o cirurgião frequentemente deve tomar a decisão de realizar uma laparoscopia ou laparotomia com uma boa dose de incerteza sobre os resultados esperados. A demora no tratamento de muitas condições cirúrgicas no abdome está associada a maior morbimortalitade, o que justifica uma abordagem agressiva e precoce nestas situações. Falhas Comuns • Falha em examinar corretamente e documentar os achados • Falha na realização de exame retal e vaginal quando necessário • Falha na avaliação das hérnias, incluindo as inguinoescrotais • Falha em realizar um teste de gravidez ou considerar a possibilidade de gravidez • Falha em reavaliar o paciente com frequência enquanto se desenvolve um diagnóstico diferencial • Falha em reconsiderar o diagnóstico estabelecido quando a situação clínica muda • Falha em reconhecer a imunodepressão e considerar seu efeito de mascaramento nos achados da anamnese e do exame físico • Permitir que um valor laboratorial normal afaste uma hipótese diagnóstica quando exista motivo para preocupação clínica • Falha em consultar os colegas quando necessário • Falha em considerar diagnósticos específicos para a idade e a condição clínica • Falha em tomar providências para seguimento específicas e concretas quando se acompanha um paciente em regime ambulatorial • Hesitar em indicar tratamento operatório sem um diagnóstico preciso quando a situação clínica sugere doença cirúrgica Leitura sugerida Ahmad TA, Shelbaya E, Razek SA, et al. Experience of laparoscopic management in 100 patients with acute abdomen. Hepatogastroenterology. 2001;48:733–736. Uma descrição da utilização da laparoscopia em uma série grande de pacientes com abdome agudo. Esta é uma boa análise desta importante ferramenta diagnóstica e terapêutica. Cademartiri F, Raaijmaker RHJM, Kuiper JW, et al. Multi‑detector row CT angiography in patients with abdominal angina. Radiographics. 2004;24:969–984. Boa revisão das características tomográficas da isquemia mesentérica aguda. Esboça os achados radiográficos que ajudaram muito no diagnóstico, anteriormente difícil, dessa condição. Graff LG, Robinson D. Abdominal pain and emergency department evaluation. Emerg Med Clin North Am. 2001;19:123–136. Boa revisão de pacientes com dor abdominal aguda de causas variadas. Macari M, Balthazar EJ. The acute right lower quadrant: CT evaluation. Radiol Clin North Am. 2003;41:1117–1136. Discussão moderna do papel da tomografia computadorizada na avaliação de pacientes com dor abdominal do quadrante inferior direito. Silen W. Cope’s early diagnosis of the acute abdomen. ed 21 New York: Oxford University Press; 2005. Monografia clássica enfatizando a importância da anamnese e do exame físico no diagnóstico do abdome agudo. Quase todas as doenças que se manifestam como abdome agudo são apresentadas. Esta é uma leitura obrigatóriapara o residente de cirurgia geral. Steinheber FU. Medical conditions mimicking the acute surgical abdomen. Med Clin North Am. 1973;57:1559–1567. Esse artigo clássico revê as várias condições clínicas que podem se manifestar como abdome agudo. É bem escrito e continua sendo pertinente sobre a avaliação desses pacientes. Referências Bibliográficas 1. Sethuraman U, Siadat M, Lepak‑Hitch CA, et al. Pulmonary embolism presenting as acute abdomen in a child and adult. Am J Emerg Med. 2009;27:514: e1–514.e5.. 2. Graff 4th LG, Robinson D. Abdominal pain and emergency department evaluation. Emerg Med Clin North Am. 2001;19:123–136. 3. Steinheber FU. Medical conditions mimicking the acute surgical abdomen. Med Clin North Am. 1973;57:1559–1567. 4. Gilbert JA, Kamath PS. Spontaneous bacterial peritonitis: An update. Mayo Clin Proc. 1995;70:365–370. 5. Silen W. Cope’s early diagnosis of the acute abdomen. ed 21 New York: Oxford University Press; 2005. 6. Paterson‑Brown S, Vipond MN. Modern aids to clinical decision‑making in the acute abdomen. Br J Surg. 1990;77:13–18. 7. de Dombal FT. Computers, diagnoses and patients with acute abdominal pain. Arch Emerg Med. 1992;9:267–270. 8. Adams ID, Chan M, Clifford PC, et al. Computer aided diagnosis of acute abdominal pain: A multicentre study. Br Med J (Clin Res Ed). 1986;293:800–804. 9. Wellwood J, Johannessen S, Spiegelhalter DJ. How does computer‑aided diagnosis improve the management of acute abdominal pain? Ann R Coll Surg Engl. 1992;74:40–46. 10. 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