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TERAPIA-COGNITIVO-COMPORTAMENTAL-TRANSTORNOS-ALIMENTARES-E-OBESIDADE

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2 
 
1 SUMÁRIO 
2 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
3 TRANSTORNOS ALIMENTARES (TA) ...................................................... 4 
4 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR E SEUS DETERMINANTES ......... 10 
4.1 Comportamento alimentar: aspectos neurobiológicos ........................ 15 
4.2 O enigma do comportamento ............................................................. 16 
5 A IMAGEM CORPORAL ........................................................................... 19 
6 TRANSTORNOS ALIMENTARES: FATORES DE RISCO BIOLÓGICOS, 
NEUROPSICOLÓGICOS, GENÉTICOS E FAMILIARES ......................................... 23 
7 OS TRANSTORNOS ALIMENTARES ...................................................... 25 
8 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DOS TRANSTORNOS 
ALIMENTARES ......................................................................................................... 36 
8.1 Tratamento no enfoque da Terapia Cognitivo Comportamental ......... 39 
8.2 Algumas estratégias da TCC para o tratamento dos transtornos 
alimentares 42 
9 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 51 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
2 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - 
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum 
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
3 TRANSTORNOS ALIMENTARES (TA) 
 
Fonte: psiquiatriapaulista.com.br 
Os transtornos alimentares (TA), também conhecidos como transtornos do 
comportamento alimentar (TCA), são quadros psiquiátricos, que apresentam como 
questões centrais a relação do indivíduo com a alimentação. Atualmente são descritos 
pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), publicado 
pela Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2014), no capítulo “Alimentação e 
transtornos alimentares”, que reúne os critérios diagnósticos para cinco tipos desses 
transtornos: pica e transtorno de ruminação; transtorno alimentar restritivo/evitativo; 
anorexia nervosa; bulimia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar periódica, 
conforme COUTINHO M; (2018). 
Os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação 
persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação 
que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que 
compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento 
psicossocial (APA, 2014, p.329 apud COUTINHO M; 2018). 
Os dois principais transtornos alimentares são: a anorexia nervosa (AN) e a 
bulimia nervosa (BN). A anorexia e bulimia nervosas são distúrbios da conduta 
alimentar caracterizados por abstenção voluntária de alimentos e pela ingestão 
 
5 
 
compulsiva, seguida de métodos purgativos, respectivamente (BORGES et al., 2006 
apud COUTINHO M; 2018). Essas duas patologias têm em comum a representação 
alterada da forma corpórea, a preocupação excessiva com o peso e o medo patológico 
de engordar (BRASIL; MORAES, 2010 apud COUTINHO M; 2018). 
Córdas (2004 apud COUTINHO M; 2018) define anorexia nervosa como uma 
perda de peso intensa e intencional utilizando de dietas extremamente rígidas com 
uma busca desenfreada pela magreza, uma distorção grosseira da imagem corporal 
e alterações do ciclo menstrual. 
A anorexia nervosa tem três características essenciais: a restrição persistente 
da ingesta calórica; o medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento 
persistente que interfere no ganho de peso; e a perturbação na percepção do próprio 
peso ou da própria forma. O indivíduo mantém um peso corporal abaixo daquele 
minimamente normal para idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física 
(APA, 2014 apud COUTINHO M; 2018). 
A bulimia nervosa caracteriza-se por grande ingestão de alimentos com 
sensação de perda de controle, que são conhecidos por episódios bulímicos. A 
preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal leva o paciente a métodos 
compensatórios inadequados para o controle de peso como vômitos auto induzidos, 
uso de medicamentos (diuréticos, inibidores de apetite, laxantes), dietas e exercícios 
físicos. O termo bulimia vem da união dos termos gregos boul (boi) ou bou (grande 
quantidade) com lemos (fome), ou seja, uma fome muito intensa ou suficiente para 
devorar um boi (CORDÁS, 2004 apud COUTINHO M; 2018). 
O episódio de compulsão alimentar é o sintoma principal e costuma surgir no 
decorrer de uma dieta para emagrecer. No início, pode se achar relacionado à fome, 
mas posteriormente, quando o ciclo compulsão alimentar purgação já está instalado, 
ocorre em todo tipo de situação que gera sentimentos negativos como: frustração, 
tristeza, ansiedade, tédio e solidão (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000 apud 
COUTINHO M; 2018). Diferentemente do paciente anoréxico, o paciente bulímico não 
tem desejo de emagrecer cada vez mais. Em geral, seu peso está normal ou em 
alguns o estado nutricional é o sobrepeso. 
Relatos históricos por Córdas (2004 apud COUTINHO M; 2018) destacam 
que entre os principais transtornos do comportamento alimentar, a anorexia 
nervosa foi a primeira a ser descrita já no século XIX e, igualmente, a pioneira 
a ser adequadamente classificada e ter critérios operacionais reconhecidos 
na década de 1970. O mesmo autor relata que a bulimia nervosa foi descrita 
 
6 
 
por Gerald Russell em 1979, e um terceiro grupo heterogêneo de quadros 
assemelhados, mas que não apresentavam sintomas completos nem para o 
diagnóstico de AN nem para BN, que foram classificados como Transtornos 
Alimentares Atípicos nos anos 1980. 
Os estudos populacionais da prevalência desses transtornos alimentares, são 
dificultados pela tendência ao segredo que envolve essas patologias, pela a exigência 
de amostras grandes e a aplicação de metodologia de duas fases obrigatoriamente: 
uma triagem e a confirmação diagnóstica através da avaliação psiquiátrica. De forma 
geral, a prevalência de anorexia nervosa varia entre 0,5 e 3,7% e a prevalência da 
bulimia nervosa é de 1,1% a 4,2% (APA GUIDELINES, 2000 apud COUTINHO M; 
2018). 
Em países da Europa, recentes estudos relatam prevalência de anorexia 
nervosa de 1 a 4%, e bulimia nervosa de 1 a 2%, com relação a incidência as taxas 
da anorexia parecem estáveis, enquanto as da bulimia pode estar diminuindo (KESKI-
RANKONEN; MUSTELIN, 2016 apud COUTINHO M; 2018). Já nos países da América 
Latina, incluindo o Brasil, a prevalência de BN é superior à de AN, com média de 
1,16%, enquanto para anorexia a média atualmente encontrada é de 0,1% (KOLAR 
et al.,2016 apud COUTINHO M; 2018). 
Ressalta-se ainda, que a anorexia nervosa e a bulimia nervosa têm prevalência 
maior em mulheres do que em homens, e ocorrem a partir de fatores estressantes do 
cotidiano, como por exemplo, fases de transição, como: a adolescência, mudanças de 
cidade, aceitação em grupos de amigos e ainda por necessidade de adequar-se a 
padrões para cursar a faculdade, praticar esportes ou dança, e até mesmonecessidade de ser aceito em grupos sociais (BERNARDES,2010 apud COUTINHO 
M; 2018). 
A etiologia desses transtornos alimentares é reconhecidamente multifatorial, 
envolvendo fatores como: vulnerabilidade genética, psicopatologia parental, 
experiências adversas e pressões socioculturais. Morgan e Claudino (2005 apud 
COUTINHO M; 2018) afirmam que os fatores etiológicos podem ser diferenciados em: 
predisponentes que estão presentes antes do aparecimento do transtorno e tornam o 
indivíduo vulnerável (hereditariedade, características de personalidade, tendência a 
obesidade, alterações neurobiológicas cerebrais, eventos traumáticos na infância, 
preocupações e exigências materna, pressões midiáticas do ideal de magreza e 
contexto sociocultural); precipitantes que marcam o aparecimento dos sintomas 
 
7 
 
(restrição alimentar e fatores estressores); e mantenedores e protetores que 
interagem entre si e determinam se o transtorno alimentar vai se perpetuar ou não 
(consequências da desnutrição e do ciclo compulsão/purgação, fatores psicológicos, 
interpessoais e culturais apud COUTINHO M; 2018). 
Para Mizon (2010 apud COUTINHO M; 2018), esses transtornos são 
comumente iniciados em resposta a algum medo real ou imaginário ou a um 
sentimento de inadequação que parece avassalador. Eventos ou circunstâncias de 
vida significativos, como perdas, separações, mudanças de casa ou escola, divórcios 
dos pais, modificações corporais da puberdade, distúrbios da imagem corporal, 
depressão, ansiedade e até mesmo traumas de infância, como abuso sexual, podem 
atuar como fator precipitante. Sabe-se também que muitos familiares de 1º grau dos 
portadores de anorexia e bulimia nervosa apresentam risco de 6 a 10 vezes maior do 
que a população geral, supondo um fator genético na gênese. 
A distorção de imagem é umas das características mais marcantes dos 
transtornos alimentares, Bernardes (2010 apud COUTINHO M; 2018) afirma 
que esse distúrbio é um sintoma central dos transtornos alimentares, 
caracterizado por uma autoavaliação negativa dos indivíduos acometidos, é 
influenciada pela experiência com seu peso e forma corporal. 
São distorções cognitivas relacionadas à avaliação do corpo: pensamento 
dicotômico o indivíduo pensa em extremos com relação à sua aparência ou é muito 
crítico em relação a ela; comparação injusta quando o indivíduo compara sua 
aparência com padrões extremos; atenção seletiva focaliza um aspecto da aparência 
e erro cognitivo, o indivíduo acredita que os outros pensam como ele em relação à 
sua aparência, conforme COUTINHO M; (2018). 
Outra importante característica descrita em pacientes com esses transtornos 
alimentares diz respeito aos aspectos psicológicos e relacionados a personalidade 
desses indivíduos. Campos e Haack. (2012 apud COUTINHO M; 2018) descrevem 
que o perfil de personalidade dos pacientes com anorexia nervosa apresenta: 
ansiedade elevada, perfeccionismo extremo, incapacidade de encontrar formas de 
satisfação, além de acentuada fragilidade, e estes são bem propensos à utilização de 
mecanismos arcaicos de defesa, caracterizado por uma restrição do potencial 
adaptativo onde controlam os próprios impulsos com excessivo rigor e tendem à 
passividade, introversão, obsessividade e dependência de medicamentos. 
 
8 
 
Os autores apontam que entre os pacientes bulímicos é comum: o humor 
disfórico, a labilidade e o empobrecimento da precisão perceptiva, a vivência de 
sobrecarga emociona, o reduzido interesse por outras pessoas, e ainda egocentrismo, 
narcisismo, raiva e negatividade são encontrados em alguns casos, conforme 
COUTINHO M; (2018). 
A principal complicação clínica da anorexia nervosa é a desnutrição, que 
promove alterações metabólicas e hormonais que podem comprometer ainda mais o 
quadro clínico. Já na bulimia nervosa essas complicações são mais frequentes, 
estando principalmente relacionadas ao distúrbio hidroeletrolítico, sendo a 
hipocalemia a principal delas (CAMPOS; HAACK, 2012; BORGES et al., 2006 apud 
COUTINHO M; 2018), conforme COUTINHO M; (2018). 
O tratamento para os transtornos alimentares é complexo, e precisa envolver 
conhecimentos e práticas interdisciplinares, com uma clínica ampliada e de forma 
individualizada. A estrutura básica de uma equipe multidisciplinar para o tratamento 
de transtorno alimentar é composta por psiquiatras, psicólogos, nutricionistas, 
terapeuta familiar e clínico geral, conforme COUTINHO M; (2018). 
Outros profissionais, como endocrinologistas, terapeutas ocupacionais, 
educadores físicos, enfermeiros, dentistas, técnicos em oficinas terapêuticas 
e acompanhantes terapêuticos colaboram nos seus aspectos específicos. É 
o grau de comprometimento físico e psíquico que determina a condução da 
terapêutica aplicada. A modalidade pode ser ambulatorial, internação ou 
hospital-dia, conforme COUTINHO M; (2018). 
 Em estados clínicos mais graves ou resistentes ao tratamento da anorexia 
nervosa, a hospitalização é indicada devido às complicações sistêmicas, já na bulimia 
nervosa as internações são raras, e quando ocorrem se devem a alterações 
promovidas pelos sintomas purgativos (SAPOZNIK; BUENO; LOBÃO, 2005 apud 
COUTINHO M; 2018). 
O tratamento medicamentoso pode ser utilizado com o objetivo de controlar os 
sintomas e/ou comorbidades como depressão, transtorno obsessivo compulsivo e a 
purgação. Campos e Haack (2012 apud COUTINHO M; 2018) afirmam que os 
fármacos mais utilizados no tratamento dos transtornos alimentares, anorexia nervosa 
e bulimia, são os antidepressivos. 
Com relação às intervenções psicossociais nesses transtornos, a abordagem 
cognitivo-comportamental foi considerada como tratamento mais efetivo de acordo 
com Costa e Melnik (2016 apud COUTINHO M; 2018), principalmente para bulimia e 
 
9 
 
anorexia nervosas. Outras abordagens efetivas são a psicoterapia interpessoal, 
terapia comportamental dialética e terapia de apoio. Abordagens preventivas e 
promocionais que contemplem fatores de risco individuais, familiares e sociais, são 
promissoras para o desenvolvimento da autoimagem positiva e auto eficácia. 
O tratamento nutricional visa reverter alterações no consumo, padrão, 
comportamento alimentar e diversas crenças equivocadas sobre alimentação, além 
de promover hábitos alimentares saudáveis e melhor relação do indivíduo para com o 
alimento. Os objetivos e características do tratamento diferem para anorexia e bulimia 
nervosas, contudo, usualmente, a abordagem é dividida em duas fases: a 
educacional, cujas principais metas são a regularização do hábito alimentar e o 
aumento do conhecimento nutricional; e a experimental, que propicia maior 
reabilitação nutricional e mudanças mais profundas no comportamento alimentar 
(LATTERZA et al., 2004 apud COUTINHO M; 2018). 
Pinzon e Nogueira (2004 apud COUTINHO M; 2018), com relação ao curso 
desses transtornos alimentares, afirmam que depois de intervenções terapêuticas, as 
taxas de recuperação completa de anorexia nervosa ficam em torno de 50%, 
recuperação intermediária em torno de 30% e 20% não recuperam. Índices de recaída 
situam-se em torno de 12% a 27%, com taxa de cronicidade aproximada de 20%. E o 
mais preocupante são as taxas brutas de mortalidade variam de 5% a 20%, sendo as 
principais causas de mortalidade são complicações da própria AN (50% a 54%), 
suicídio (24% a 27%) e desconhecidas (15% a 19%). 
Os mesmos autores relatam que a bulimia nervosa parece ter evolução mais 
favorável que a AN, os índices de recuperação total entre variam entre 50% e 70%, 
conforme seus períodos de acompanhamento após manejo terapêutico. Todavia, as 
taxas de recaída também são altas e situam-se em torno de 30% a 50%. 
Paralelamente, as taxas brutas de mortalidade da bulimia nervosa estão entre 0,3% a 
3%, de acordo com a gravidade dos casos, conforme COUTINHO M; (2018). 
 
10 
 
4 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR E SEUS DETERMINANTESFonte: mulherportuguesa.com 
O comportamento alimentar corresponde tanto às atitudes relacionadas às 
práticas alimentares em associação a atributos socioculturais, quanto aos aspectos 
subjetivos intrínsecos da pessoa ou próprios de uma coletividade, que estejam 
envolvidos com o ato de se alimentar ou com o alimento em si. Envolve inúmeros 
processos que incluem desde informações sensoriais sobre os alimentos, estados 
fisiológicos, psicológicos e genéticos das pessoas até as condições ambientais nas 
quais essas pessoas vivem, conforme NUNES C; et al., (2009). 
Os estudos sobre o comportamento alimentar mobilizam diversas disciplinas 
científicas como a Epidemiologia, a Economia, a Sociologia, a Antropologia, a 
Nutrição, a História e a Psicologia. Cada uma produz, a partir de seu ponto de vista e 
das suas problemáticas principais, uma série de dados que permite estudar as 
grandes tendências de consumo, as ligações entre alimentação e saúde, a 
diferenciação social e cultural das práticas alimentares, entre outras possibilidades. 
Entretanto, todas essas disciplinas afirmam a complexa trama de fatores implicados 
no entendimento do comportamento alimentar e em seus agravamentos, são 
determinantes fisiológicos, nutricionais, psicológicos, demográficos, sociais, 
 
11 
 
ambientais e culturais (TORAL e SLATER, 2007; QUAIOTI e ALMEIDA, 2006 apud 
NUNES C; et al., 2009). 
Em termos fisiológicos, um dos principais fatores responsáveis pelo 
estabelecimento do comportamento alimentar é a psicobiologia do apetite, ou seja, a 
distinção entre os sinais de saciedade de curto prazo, gerados pelas repercussões 
fisiológicas da ingestão de alimentos (episódicos), e os sinais de longo prazo, gerados 
pelas necessidades metabólicas constantes de energia do corpo, conforme NUNES 
C; et al., (2009). 
Esses dois processos mantêm tanto o fluxo de apetite que uma pessoa 
experimenta quanto o padrão de comportamento alimentar no qual ela se envolve no 
decorrer do dia, pois norteiam as noções de fome e saciedade. Os padrões de 
ingestão alimentar, por sua vez, desenvolvem-se em resposta a demandas fisiológicas 
e são constantemente modelados por influências ambientais e pela experiência 
subjetiva com o ato de alimentar-se (HALFORD, 2006 apud NUNES C; et al., 2009). 
A fome pode ser definida como a motivação para buscar e consumir 
alimentos, iniciando um período de comportamento alimentar. O processo 
que põe fim a esse período é denominado saciedade. A saciedade leva, 
finalmente, a um estado de fartura, no qual o ímpeto de fome e, 
consequentemente, o comportamento alimentar são inibidos. Os processos 
de saciedade determinam o tamanho da refeição, e o estado de saciedade 
determina o tamanho do intervalo após a refeição (HALFORD, 2006, p.18 
apud NUNES C; et al., 2009). 
Spada (2007 apud NUNES C; et al., 2009) comenta ainda que os mecanismos 
reguladores e preponderantes na necessidade de buscar alimentos distinguem a fome 
do apetite: considera-se fome como uma manifestação biológica cíclica que, 
independe da vontade, provoca uma sensação desconfortável e dolorosa que admite 
como único objeto de saciedade: o alimento; já o apetite é tido como uma 
manifestação consciente que exige satisfação através da ingestão de alimentos 
específicos, relacionados com a memória de experiências prazerosas. 
Reiterando essas ideias, Toral e Slater (2007 apud NUNES C; et al., 2009), 
Quaioti e Almeida (2006 apud NUNES C; et al., 2009) desenvolveram estudos a fim 
de identificar de que modo a experiência e a interação com o ambiente têm um papel 
fundamental na determinação dos padrões de aceitação e recusa de alimentos, desse 
modo pode-se afirmar que: 
 
12 
 
 O peso e a imagem corporal do indivíduo são fatores nutricionais que 
influenciam seu comportamento alimentar, pois tanto o excesso de peso 
como a insatisfação com o próprio corpo podem motivar a realização de 
restrições alimentares, conforme NUNES C; et al., (2009). 
 Além da idade, outras características sociodemográficas são 
consideradas condicionantes do consumo alimentar, como sexo, etnia, 
escolaridade e estado civil, pois estes fatores interferem no 
estabelecimento de práticas alimentares saudáveis. Assim como a 
condição financeira da pessoa, do grupo familiar e/ou do grupo social, é 
considerada um delimitador das escolhas alimentares uma vez que haja 
escassez de recursos disponíveis para permitir o acesso aos alimentos 
tidos como saudáveis como frutas, hortaliças, grãos integrais e carnes 
magras que são mais caros que alimentos gordurosos e doces, 
conforme NUNES C; et al., (2009). 
 Em relação aos determinantes sociais do comportamento alimentar 
pode-se mencionar a presença de outras pessoas (amigos e familiares) 
durante a alimentação como um fator que colabora para o aumento 
significativo da quantidade consumida e do teor calórico total da refeição, 
seja pela desinibição que leva a pessoa a comer mais, seja pela 
exposição prolongada aos alimentos em virtude da situação social. Do 
mesmo modo, fatores culturais estão envolvidos nas práticas 
alimentares, como o vegetarianismo e o regionalismo, e leis dietéticas 
preconizadas por algumas religiões há seleção de determinados 
alimentos para o consumo, conforme NUNES C; et al., (2009). 
 A política de globalização mundial também é um fator socioeconômico 
que facilitou o comércio de alimentos entre os países, 
internacionalizando práticas alimentares. As redes comerciais de fast 
foods, por exemplo, possibilitam o acesso a alimentos com as mesmas 
características em diversos locais do mundo, de forma a isentar as 
pessoas da necessidade de se realizarem novas escolhas na sua 
alimentação, conforme NUNES C; et al., (2009). 
 Quanto aos aspectos psicológicos presentes na determinação do 
consumo alimentar, menciona-se principalmente as crenças sobre as 
 
13 
 
características de uma alimentação saudável, a atitude frente à dieta, o 
reconhecimento dos seus benefícios e das barreiras encontradas para 
adotá-la, a disponibilidade de um suporte social que favoreça práticas 
adequadas, a responsabilidade sobre compra e preparo das refeições, 
e a confiança pessoal em relação à própria habilidade para fazer 
escolhas saudáveis em determinadas situações, conforme NUNES C; et 
al., (2009). 
 Os fatores ambientais que influenciam o comportamento alimentar estão 
relacionados com o tipo e a facilidade de acesso a alimentos saudáveis 
para serem consumidos fora do âmbito familiar, as propagandas 
alimentícias e a influência da mídia na determinação da dieta alimentar 
das pessoas, conforme NUNES C; et al., (2009). 
Quaioti e Almeida (2006 apud NUNES C; et al., 2009) propõem ainda a 
descrição dos determinantes do comportamento alimentar considerando os períodos 
do desenvolvimento humano: 
 Lactantes: nesse período o hábito alimentar começa a ser formado a 
partir da primeira experiência alimentar - a dieta láctea, nessa fase a 
alimentação das crianças depende exclusivamente de seus cuidadores 
independente do tipo de alimentação. A partir dos dois anos de vida, as 
crianças começam a desenvolver o próprio padrão de aceitação ou 
rejeição de alimentos, pois ficam mais expostas aos estímulos sensoriais 
relacionados aos alimentos e passam a ser influenciadas pelos hábitos 
alimentares do seu grupo familiar; alguns fatores que influem 
diretamente na dieta alimentar das crianças são o grau de formação e 
informação dos pais, o trabalho dos pais fora de casa, as propagandas 
divulgadas pela mídia e a influência de outras crianças, conforme 
NUNES C; et al., (2009). 
 Pré-escolares: nesta fase, o hábito alimentar caracteriza-se por 
preferências e as crianças acabam consumindo, na maioria das vezes, 
somente os alimentos de que gostam, evitando aqueles de que não 
gostam, também parecem estar predispostas a preferir alimentos 
densamente calóricos, doces e/ou com altos índices degordura. Nessa 
 
14 
 
idade ainda é grande a influência do grupo familiar, conforme NUNES C; 
et al., (2009). 
 Escolares: a partir deste período, os pais tendem a exercer menos 
controle sobre a alimentação dos filhos, uma vez que estes crescem e 
começam a ter suas próprias preferências, passando a selecionar os 
alimentos que desejam ingerir muitas vezes influenciados pela mídia 
e/ou pelas interações psicossociais na escola, conforme NUNES C; et 
al., (2009). 
 Adolescência: nesta fase observa-se uma diminuição drástica da 
atividade física em função do maior tempo despendido em atividades 
sedentárias como uso do computador e de videogame, também 
observar-se maior influência das práticas alimentares do grupo social em 
que o adolescente está inserido e o hábito de suprimir algumas refeições 
ou trocá-las por lanches ricos em gordura e com elevados teores 
calóricos, conforme NUNES C; et al., (2009). 
 Adultos: o maior problema relacionado ao comportamento alimentar do 
adulto é o aumento considerável do consumo de refeições rápidas 
motivadas pela comodidade e praticidade na aquisição e preparo destes 
alimentos, aliando a isso o sedentarismo e o estresse da vida cotidiana, 
há uma ampliação significativa das possibilidades de surgimento de 
diversas doenças crônicas, desde a obesidade até o câncer, conforme 
NUNES C; et al., (2009). 
Desse modo, nota-se que o comportamento alimentar é multifacetado e seu 
estudo exige a compreensão das relações entre os diversos fatores que o influenciam, 
bem como não se pode deixar de considerar seus determinantes no desenvolvimento 
humano, pois as práticas alimentares têm repercussão direta na saúde das pessoas. 
Agravos nutricionais, transtornos alimentares e obesidade são desafios para os 
profissionais da saúde na sociedade contemporânea, uma vez que desenvolver 
estratégias preventivas e interventivas que motivem a adoção de práticas alimentares 
saudáveis implica mudar crenças, hábitos e costumes sociais, conforme NUNES C; et 
al., (2009). 
 
 
 
15 
 
4.1 Comportamento alimentar: aspectos neurobiológicos 
A etiologia dos transtornos alimentares é desconhecida e a possibilidade de 
que haja uma disfunção neuroquímica no sistema nervoso central desses pacientes é 
explorada em inúmeros estudos (Melo, 2011 apud NUNES R; 2013). 
Quando pensamos em fome e no ato de comer, precisamos pensar antes que 
no nível pessoal e neurológico, as condutas de alimentação estão normalmente 
reguladas por mecanismos automáticos no sistema nervoso central (SNC). A 
sensação de fome tem origem dupla, tanto em estímulos metabólicos, quanto em 
receptores periféricos situados na boca e no tubo digestivo, conforme NUNES R; 
(2013). 
Assim, induz-se a sensação de apetite, que desencadeia conduta de 
alimentação. A sensação de saciedade faz cessar os estímulos da fome e se 
detém o processo. As pessoas normais apresentam algumas reações 
adaptadas aos estímulos de fome e de sede, com respostas corretas para a 
saciedade (Chemim & Milito, 2007 apud NUNES R; 2013). 
Muitos pacientes obesos referem ingestão alimentar compatível com os 
parâmetros da normalidade. Alguns, involuntariamente, ocultam parcela significativa 
do volume energético efetivamente ingerido (Bernardi et al., 2005 apud NUNES R; 
2013). Melo (2011 apud NUNES R; 2013) afirma que, nos dias de hoje, a privação 
alimentar vem sendo substituída por fontes facilmente acessíveis e baratas de 
energia. 
Essa alteração dramática no ambiente alimentar tem afetado substancialmente 
nossa ingestão calórica e possibilitado a distinção entre “fome homeostática”, ou seja, 
aquela que se segue a períodos relativamente longos de privação alimentar e “fome 
hedônica”, ou seja, aquela que ocorre na ausência de privação alimentar e é motivada 
pela palatabilidade e propriedades compensatórias da comida, e que tem sido 
largamente associada à crescente epidemia de obesidade, conforme NUNES R; 
(2013). 
Quando o alimento é usado de forma inadequada, como para suprir diferentes 
estados emocionais, dificulta-se a diferenciação dos estados emocionais de sinais 
fisiológicos, como a fome. Desse modo, o alimento torna-se um aspecto central de 
extrema importância na vida do indivíduo e, independente da fonte e da natureza da 
inquietação, é usado indiscriminadamente (Espíndola & Blay, 2006 apud NUNES R; 
 
16 
 
2013). É necessário interromper o ciclo vicioso da compulsão alimentar e avaliar as 
intensas demandas psicológicas causadas pela história de restrição alimentar e a 
pressão social para ser magro. Ambos os fatores trabalham sinergicamente: a pressão 
social pode levar a excessivas dietas, as quais desencadeiam reações psicológicas e 
fisiológicas que levam à recuperação e ao aumento da obesidade (Bernardi et al., 
2005 apud NUNES R; 2013). 
Por outro lado, existem mais de 400 genes, já isolados, que codificam 
componentes que participam da regulação do peso corporal. Entre esses 
componentes, alguns agem preferencialmente na ingestão alimentar (como 
insulina, leptina, neuropeptídeo Y, melanocortinas, colecistoquininas, 
grelina), outros no gasto energético e ainda existem aqueles que atuam nos 
dois mecanismos ou modulam estas ações (Melo, 2011 apud NUNES R; 
2013). 
Brandão et al. (2011 apud NUNES R; 2013) estudou as concentrações séricas 
de hormônios ligados ao controle do apetite (peptídeo YY3-36, grelina total, leptina e 
insulina) em mulheres obesas com e sem episódios de compulsão alimentar e 
comparou-as às mulheres de peso normal, sugerindo que níveis baixos do PYY-3-36 
estejam associados à compulsão alimentar em mulheres obesas, isto poderia explicar 
a maior incidência de compulsão alimentar neste grupo. 
No entanto este fator hormonal não é determinante para que um indivíduo se 
torne obeso ou compulsivo e a ajuda profissional se faz necessária para que se possa 
relaciona-se aos tratamentos convencionais preconizados, tais como 
acompanhamento com médico, psicólogo e nutricionista, grupos de mútua ajuda, 
entre outros. 
4.2 O enigma do comportamento 
Num esforço de diferenciar e ao mesmo tempo religar esses saberes 
fundamentais para a ampliação e consolidação do campo da Alimentação e Nutrição 
como campo científico, foram identificados diversos estudos no campo da Psicologia 
que falam sobre métodos de intervenção utilizados para modificação do 
comportamento alimentar. Nota-se que o behaviorismo é a base filosófica de muitas 
das atuais intervenções realizadas por profissionais tanto do campo da Psicologia 
quanto da Nutrição, tais como, a Análise do Comportamento, a Terapia Cognitivo-
Comportamental (TCC) e o Modelo Transteórico, conforme SILVA J; (2016). 
 
17 
 
Na busca por uma base científica para a Psicologia, a origem do 
Behaviorismo com o manifesto de Watson (2008 apud SILVA J; 2016) está 
relacionada a uma tentativa de contestar os métodos subjetivos da 
Psicologia, que, no século XIX, constituíam as principais ferramentas da 
pesquisa científica (BAUM, 2007 apud SILVA J; 2016). 
O behaviorismo metodológico de Watson configura uma filosofia que visa 
combater a introspecção como método da Psicologia e inaugura uma nova forma de 
entendimento, baseada nas leis do condicionamento clássico, ou seja, considerando 
que o organismo responde de modo reflexo aos estímulos do ambiente (BAUM, 2007 
apud SILVA J; 2016). 
 A operação Estímulo-Resposta, que ganhou ênfase no modelo proposto por 
Watson, é levada ao extremo no behaviorismo radical (ou Análise do Comportamento) 
de Skinner (1982 apud SILVA J; 2016), quando admite uma perspectiva pragmática 
do comportamento: o comportamento operante. Skinner (1982 apud SILVA J; 
2016) considera que, no comportamento operante, o homem age sobre o ambiente e 
este retroage sobre ele. Além disso, para que um comportamento continue ou pare, 
há a necessidade de um determinado tipo de reforço, como diz o autor: 
Quando um comportamento temum tipo de consequência chamada reforço, 
há maior probabilidade de ele ocorrer novamente. Um reforçador positivo 
fortalece qualquer comportamento que o produza: um copo d’água é 
positivamente reforçador quando temos sede e, se então enchemos e 
bebemos um copo d’água, é mais provável que voltemos a fazê-lo em 
ocasiões semelhantes. Um reforçador negativo revigora qualquer 
comportamento que o reduza ou o faça cessar: quando tiramos um sapato 
que está apertado a redução do aperto é negativamente reforçadora e 
aumenta a probabilidade de que ajamos assim quando um sapato estiver 
apertado (SKINNER, 1982, p. 43 apud SILVA J; 2016). 
É nesse panorama que emergem estudos relativos ao tratamento dos 
comportamentos patológicos no campo da Alimentação e Nutrição que conjugam 
técnicas comportamentais e elementos mentais. Trata-se de novas soluções para o 
velho e conhecido problema da subjetividade: se um modelo de previsão e controle 
do comportamento que exclui os elementos mentais não é suficiente para eliminar os 
comportamentos indesejáveis, é preciso retomar algumas premissas, no caso, trata-
se de incluir a cognição como elemento pessoal interno previsível e monitorável. 
Nesse sentido, o autor admite que técnicas mais atuais, como a Terapia Cognitiva de 
Beck, caem na órbita da Terapia Comportamental, na medida em que seguem seus 
preceitos fundamentais (FRANKS, 2002 apud SILVA J; 2016). 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B51
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B4
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B4
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B45
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B4
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B4
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B45
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B22
 
18 
 
Assis e Nahas (1999 apud SILVA J; 2016) apresentam o Modelo Transteórico 
e a TCC no intuito de trazer informações sobre motivação e adesão em intervenções 
alimentares e que podem ser tomadas aqui como exemplos dessa modulação que a 
Terapia Comportamental sofreu na contemporaneidade. 
O Modelo Transteórico, de James Prochaska, Carlo DiClemente e Norcross 
(1992 apud SILVA J; 2016) tem sido considerado promissor na abordagem 
do comportamento relacionado à saúde. Ainda que tenha sido elaborado 
originalmente para pesquisas com tabagistas (TORAL; SLATER, 2007 apud 
SILVA J; 2016), pois admite que a mudança de comportamento é processual 
e compreende cinco estágios (pré-contemplação, contemplação, preparação, 
ação e manutenção), sua utilização no manejo dos transtornos alimentares 
vem se ampliando. 
Duchesne e Almeida (2002, p. 49 apud SILVA J; 2016) analisam como a TCC 
pode ser utilizada em casos de transtornos alimentares por ser “uma intervenção 
semiestruturada, objetiva e orientada para metas, que aborda fatores cognitivos, 
emocionais e comportamentais no tratamento (...)” desses transtornos. 
Observa-se que, em sua definição, a TCC indica a necessidade de ampliação 
da noção de comportamento, incluindo aspectos internos mais variados do que o 
Modelo Transteórico. Mantém, entretanto, a concepção tradicional de que o 
comportamento pode ser condicionado pela mudança de crenças e tornar-se, por 
repetição, um hábito, conforme SILVA J; (2016). 
Como o foco na maioria dos estudos sobre essas técnicas está nos resultados 
apresentados durante o período de tempo da intervenção, vale considerar aqui que 
poucas investigações fazem um acompanhamento no longo prazo dos resultados 
obtidos com essas abordagens e indicam a necessidade de realizá-los (DUCHESNE 
et al., 2007; KNAPP et al., 2007; WRIGHT et al., 2010 apud SILVA J; 2016). 
Da mesma maneira, observa-se que, em alguns livros sobre as técnicas e 
formas de aplicar a TCC, pode-se encontrar a indicação de que “mesmo os terapeutas 
mais experientes encontram dificuldades em estabelecer uma aliança terapêutica, 
conceituar as dificuldades corretamente e trabalhar de forma coerente em direção aos 
objetivos” (SILVA, 2014, p. 168 apud SILVA J; 2016). 
 
 
 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B3
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B40
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B40
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B47
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B17
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B16
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B16
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B30
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B53
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B43
 
19 
 
Toral e Slater (2007 apud SILVA J; 2016) apontam também limitações no uso 
do Modelo Transteórico em relação aos comportamentos alimentares. Uma delas 
aponta que, diferentemente da aplicação do modelo para outros comportamentos 
aditivos, como o tabagismo, a alimentação não pode ser excluída da vida do indivíduo, 
mas precisa ser manejada para que se limite a uma alimentação saudável e 
adequada. Outra limitação seria que a maioria dos estudos que utilizam o Modelo 
Transteórico no comportamento alimentar não inclui outras dimensões do 
comportamento, “tais como os processos de mudança, o equilíbrio de decisões e a 
auto-eficácia do indivíduo” (TORAL; SLATER, 2007, p. 1647 apud SILVA J; 2016). 
Apesar das críticas relativas a essas técnicas, elas são consideradas modelos 
hegemônicos de intervenção de fácil aplicação na área da saúde. Os efeitos da 
banalização desses modelos no senso comum não são menos significativos e 
alimentam a culpabilização dos indivíduos pelos fracassos nas mudanças de hábitos, 
descontextualizando-os de uma dinâmica psíquica mais abrangente, conforme SILVA 
J; (2016). 
5 A IMAGEM CORPORAL 
 
Fonte: pharmaceutical.com.br 
 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B47
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B47
 
20 
 
A imagem corporal é a representação que um indivíduo faz de seu corpo em 
sua mente, o modo como sente o corpo, incluindo as sensações táteis, térmicas e de 
dor, afirma Schilder (1999 apud VERAS A; 2010). Há sensações musculares, 
sensações viscerais e a percepção de uma unidade do corpo, ou seja, a percepção 
de um esquema do corpo, do esquema corporal ou ainda, do modelo postural do 
corpo. 
Por tratar-se de uma representação, a imagem corporal integra os níveis físico, 
emocional e mental em cada ser humano, com respeito à percepção de seu corpo. 
Conforme o autor, a imagem corporal é percebida através dos sentidos e envolve 
figurações e representações mentais, mas não é apenas uma percepção ou mera 
representação, pois o córtex sensorial armazena impressões passadas que podem 
surgir como imagem, formando modelos organizados denominados esquemas, 
conforme VERAS A; (2010). 
Estes esquemas já estabelecidos modificam as impressões produzidas pelos 
impulsos sensoriais que entram. Assim, o que temos como sendo a percepção 
corporal, é o resultado da relação feita entre um esquema postural e a nova 
informação dada pela nova postura ou movimento, onde por meio de perpétuas 
alterações de posição, construímos um modelo postural de nós mesmos, que se 
modifica constantemente, afirma Schilder (1999 apud VERAS A; 2010). 
Para Bruch apud Saikali (2004 apud VERAS A; 2010), a imagem corporal inclui 
a consciênciacognitiva do próprio corpo, da consciência das sensações corporais, do 
senso de controle sobre as funções corporais e razões afetivas para a realidade da 
configuração corporal. 
Já Thompson (1996 apud VERAS A; 2010), afirma que o conceito de imagem 
corporal envolve o campo perceptivo, que se relaciona com a percepção da própria 
aparência física, envolvendo uma estimativa do tamanho e peso corporal; o campo 
subjetivo, que envolve a satisfação com a aparência e o nível de preocupação e 
ansiedade a ela associada; e por último o campo comportamental, que focaliza as 
situações evitadas pelo indivíduo por experimentar desconforto associado à aparência 
corporal. 
 
 
 
21 
 
A concepção da imagem corporal se dá, então, como resultado da interação 
entre as pessoas, numa junção de aspectos, biológicos, emocionais, relacionais e 
contextuais. Ou seja, são interações permeadas por informações advindas do 
contexto cultural que perpassam as barreiras grupais, familiares e alcançam o espaço 
individual. Quando há desequilíbrio na intensidade da demanda relacionada à 
aparência física as pessoas são pressionadas em numerosas circunstâncias a 
concretizar em seu corpo o corpo ideal da cultura do meio em que estão inseridas, 
pontua Tavares (2003 apud VERAS A; 2010). 
A ânsia por ter um corpo perfeito e a propagação de ideais de magreza ganha 
destaque no cotidiano atual. Ao passar em qualquer banca de revista depara-se com 
uma infinidade de publicações que prometem maravilhas, ou mesmo milagres 
instantâneos, nesse caminho da transformação corporal. Os canais de televisão e a 
mídia em geral também colaboram em muito com essa ideia. As pessoas parecem 
hipnotizadas com a possibilidade de se parecerem com modelos ou personagens do 
mundo artístico moderno. Possuir um corpo próximo ao modelo estético difundido 
parece garantia de felicidade e realização plena, cria-se uma imagem baseada na 
idealização, conforme VERAS A; (2010). 
Há estudos que confirmam essa influência da mídia nos processos de 
construção da própria imagem. Pode-se usar como exemplo o realizado nas ilhas Fiji, 
por Becker et al. (2002 apud VERAS A; 2010) que numa etapa em 1995 e noutra em 
1998, avaliou o impacto da exposição das adolescentes à televisão e as mudanças 
de atitude e comportamentos alimentares que obtiveram. 
Os resultados mostraram que os indicadores de transtorno alimentar foram 
significantemente mais prevalentes após 1998, demonstrando também maior 
interesse em perda de peso, sugerindo um impacto negativo da mídia. Considerando 
que nos transtornos alimentares a percepção da imagem corporal está seriamente 
comprometida, pode-se inferir que, as mensagens transmitidas pela televisão 
possivelmente também impactaram na construção e desenvolvimento da mesma, 
conforme VERAS A; (2010). 
Há dois processos que estão ligados ao desenvolvimento de atitudes e 
comportamentos afirma Stice apud Saikali (2004 apud VERAS A; 2010), o reforço 
social e a modelagem. O reforço social refere-se ao processo por meio do qual, 
pessoas internalizam atitudes e comportam-se mediante aprovação dos outros. Deste 
 
22 
 
modo, se a mídia em geral evidencia corpos magros, é bem provável que influencie 
as pessoas a buscarem métodos de emagrecimento para se sentirem confortáveis no 
grupo social ao qual pertencem. Por outro lado, de se sentirem desconfortáveis, 
inadequados ou mesmo excluídos se estiverem acima do peso. 
A modelagem refere-se ao processo em que o indivíduo observa 
comportamentos de outros e os imita. Na Teoria Social cognitiva de Bandura (1977 
apud VERAS A; 2010), os comportamentos são aprendidos num efeito modelador, ou 
seja, há efeitos que inibem ou diminuem o comportamento e efeitos que desinibem ou 
aumentam o comportamento. 
Na vida cotidiana, de forma não intencional, temos condição de modelar o 
comportamento através do reforço ou reprovação do mesmo. No que se refere à 
imagem do próprio corpo, isso pode ocorrer por intermédio do que é falado ou pelo 
modo como o indivíduo se sente olhado pelo outro. Ou seja, na forma como chegam 
e na forma como são interpretadas as informações a respeito de si, conforme VERAS 
A; (2010). 
A imagem corporal pode ser definida como uma construção multidimensional 
que descreve amplamente as representações internas da estrutura corporal e da 
aparência física, em relação a nós mesmos e aos outros (DAMASCENO et al; 2006 
apud FERNANDES F; 2019). As relações com o corpo sofrem influências de mídia, 
moda, cultura e época, e apesar de serem consideradas influências externas, estão 
intimamente ligadas à percepção do sujeito com si mesmo (DAMASCENO et al; 2006 
apud FERNANDES F; 2019). 
A insatisfação corporal e o investimento excessivo no corpo estão relacionados 
com a adoção de comportamentos alimentares não saudáveis como compulsão 
alimentar e indução de vômito (LEVINE; PIRAN, 2004 apud FERNANDES F; 2019), e 
podem afetar decisões como, por exemplo, parar de fumar temendo o ganho de peso 
(REI, 2005 apud FERNANDES F; 2019), bem como investimento em cirurgias 
plásticas desnecessárias, colocando em risco a saúde e o bem-estar do indivíduo 
(COELHO, 2017 apud FERNANDES F; 2019). 
 
 
 
 
23 
 
Apesar de ser mais frequente em mulheres, a insatisfação corporal também 
afeta homens que se preocupam em especial com sua aparência física, nestes casos, 
geralmente relacionada ao baixo peso e menor musculosidade além de preocupação 
em não conseguir um biótipo socialmente aceito (WATKINS, 2008 apud FERNANDES 
F; 2019). 
Sabe –se também que os conteúdos veiculados pelos meios de comunicação 
podem afetar as escolhas de um indivíduo e, consequentemente, sua saúde física e 
mental por várias vertentes: se por um lado exibe um padrão de beleza constituído de 
corpo magro, por outro lado supervaloriza a alimentação, com postagens de 
alimentos, e dissemina informações distorcidas no que se refere à alimentação e 
nutrição, favorecendo a adoção de práticas alimentares duvidosas (TIGGEMANN et 
al.2018 apud FERNANDES F; 2019). 
6 TRANSTORNOS ALIMENTARES: FATORES DE RISCO BIOLÓGICOS, 
NEUROPSICOLÓGICOS, GENÉTICOS E FAMILIARES 
 
Fonte: greenme.com.br 
Considera-se importante descrever brevemente a influência dos fatores 
biológicos, neuropsicológicos, genéticos e familiares no desenvolvimento e 
manutenção dos transtornos alimentares. Em relação aos aspectos biológicos, ainda 
 
24 
 
há poucos estudos conclusivos. Uma das hipóteses que tem sido investigada se refere 
à possível disfunção do sistema nervoso central, mais especificamente à existência 
de déficits cognitivos associados (Duchesne et al., 2004; apud OLIVEIRA L; 2009). 
Outra tese explorada atualmente é a de alterações em vias noradrenérgicas e 
da serotonina (5-HT) nas patologias do comportamento alimentar. Essas alterações 
seriam um fator predisponente por meio de ações no humor, controle dos impulsos, 
obsessividade, regulação de fome e saciedade, conforme OLIVEIRA L; (2009). 
Alguns achados confirmam essa hipótese: diminuição da responsividade do 
receptor pós-sináptico de serotonina, achatamento da produção de prolactina após 
estimulação por agentes serotonérgicos e controle parcial dos episódios bulímicos por 
agentes facilitadores da transmissão da serotonina (Bacaltchuk, Hay & Mari, 2000; 
apud OLIVEIRA L; 2009). Todavia, mais pesquisas na área são necessárias para um 
maior aprofundamento e consistência dos resultados. 
Os resultados de avaliações neuropsicológicas apontam déficits de atenção, 
déficits viso-espaciais e de viso-construção em pacientes acometidas de anorexia 
nervosa e déficits de atenção seletiva e das funções executivas em pacientes 
bulímicas (Duchesne et al., 2004). Ressalta-se a dificuldade em afirmar se tais 
alterações cognitivas já estavam presentes antes da instalação da enfermidade ou se 
são uma das consequências desta (Hercovici & Bay, 1997 apud OLIVEIRA L; 2009). 
Emrelação aos aspectos genéticos dos transtornos alimentares, a evidência 
mais consistente está baseada na concordância para anorexia em gêmeos 
monozigotos entre 35 e 50% e entre os dizigotos entre 10 e 17% (Cordás & Busse, 
1995 apud OLIVEIRA L; 2009). É importante salientar também que a prevalência de 
anorexia nervosa entre irmãs é de três a 10%, índices que excedem as expectativas 
normais. 
Além disso, parentes de primeiro grau de indivíduos acometidos de transtornos 
alimentares apresentam um risco maior de desenvolver essas doenças (Bulik, 
Sullivan, Wade & Kendler, 2000 apud OLIVEIRA L; 2009). Calcula-se que parentes 
em primeiro grau de pacientes anoréxicos têm 11 vezes mais chance de desenvolver 
o transtorno do que parentes de indivíduos saudáveis. Já na bulimia nervosa esse 
risco é quatro vezes maior (Strober et al., 2000 apud OLIVEIRA L; 2009). 
 
 
25 
 
Quanto aos aspectos familiares, observa-se uma série de padrões 
disfuncionais de interação como dificuldades na comunicação, baixa autoestima e 
integração entre os membros, papéis inadequados, baixa tolerância a conflitos e 
relações conjugais insatisfatórias (Bruch, 1973; Minuchin, Rosman & Baker, 1978; 
Oliveira, 2004; Sanchez, 2006 apud OLIVEIRA L; 2009). 
A literatura também descreve ambientes familiares típicos em cada transtorno: 
de coesão intensa para os pacientes com anorexia nervosa, desengajamento em 
pacientes bulímicos e desengajamento grave em pacientes com binge eating disorder 
(Morgan et al., 2002 apud OLIVEIRA L; 2009). Assim, frente à complexidade destas 
patologias, considera-se importante salientar, mesmo que brevemente, que o 
tratamento deve ser conduzido por uma equipe interdisciplinar (Antunes et al., 2006; 
Deiro, 2009; Duchesne & Appolinário, 2001 apud OLIVEIRA L; 2009). 
7 OS TRANSTORNOS ALIMENTARES 
 Transtorno disfórmico muscular: vigorexia 
Um dos principais fatores causais de alterações da percepção da imagem 
corporal é a imposição, pela mídia, sociedade e meio esportivo, de um padrão corporal 
considerado ideal, ao qual o sucesso e a felicidade individual estariam diretamente 
associados (RUSSO, 2005 apud ZIMMERMANN F; 2013). 
A determinação da imagem corporal é influenciada por componentes biofísicos, 
psicológicos, ambientais e comportamentais bastante complexos. Entre tais 
componentes, os transtornos psicológicos relacionados à imagem corporal são 
conhecidos por estarem associados às desordens alimentares (anorexia e bulimia). 
No entanto, os transtornos da imagem corporal não são restritos a populações com 
desordens alimentares, conforme ZIMMERMANN F; (2013). 
 Há conhecimento de que tais transtornos também estejam relacionados 
principalmente com a insatisfação com o baixo peso, tamanho, aparência e volume 
corporal (JOHNSTON et al. 2004 apud ZIMMERMANN F; 2013), como por exemplo, 
os transtornos disfórmicos corporais e ou musculares. 
 
 
 
26 
 
O termo disformia corporal foi proposto em 1886 pelo italiano Morselli. Embora 
exista um grande número de pessoas muito preocupadas com sua aparência, para 
ser diagnosticada essa disformia, deve haver sofrimento significativo e uma reiterada 
obsessão com alguma parte do corpo que impeça uma vida considerada normal 
(MOTA et al., 2011 apud ZIMMERMANN F; 2013). Nos transtornos disfórmicos 
corporais, a preocupação é com áreas especificas do corpo (ASSUNÇÃO, 2002 apud 
ZIMMERMANN F; 2013). 
Já quando esse quadro se fixa na questão muscular, como uma preocupação 
em não ser suficientemente forte e musculoso em todas as áreas do corpo, havendo 
uma busca obsessiva por uma silhueta “perfeita”, acarretando limitações no cotidiano 
das pessoas com esses “sintomas”, denomina-se de transtorno disfórmico muscular 
ou vigorexia (ASSUNÇÃO, 2002; POPE et al, 1997 apud ZIMMERMANN F; 2013). 
O indivíduo com vigorexia se comporta como um “viciado”, achando que nada 
em seu corpo está bom, por isso busca obstinadamente uma silhueta perfeita que, em 
muitos casos, sabe-se ser impossível alcançar. Entre tantos problemas que esse 
transtorno ocasiona às pessoas, é possível afirmar que os mais graves estão 
associados ao uso indevido de suplementos alimentares e até mesmo o de esteróides 
anabolizantes com o objetivo único de acelerar os resultados e chegar ao objetivo, o 
corpo ideal, conforme ZIMMERMANN F; (2013). 
 
Fonte: postal.pt 
 
 
27 
 
Segundo Sabino (2002 apud ZIMMERMANN F; 2013) apud Oliveira (2010 apud 
ZIMMERMANN F; 2013), os indivíduos com vigorexia, além de sofrerem com sua 
imagem corporal, passam a destinar boa parte de seu tempo livre à prática de 
exercícios de musculação, fazendo comparações e/ou diferenciações por meio do 
reflexo no espelho e diretamente com outros frequentadores da academia. 
Esses indivíduos chegam a verificar ganhos de massa muscular em torno de 
13 vezes ao dia (MACIEL, 2006 apud MOTA; AGUIAR, 2011 apud ZIMMERMANN F; 
2013). Outro ponto a ser mencionado concerne ao humor desses indivíduos, pois 
demonstram irritabilidade quando não praticam musculação, imaginando uma 
deterioração de sua aparência, como a perda de peso e músculos. 
Esse transtorno ocorre predominantemente em indivíduos do sexo masculino 
e, segundo pesquisas previamente realizadas, são em sua grande maioria jovens 
adultos entre 18 e 35 anos (AYENSA, 2003 apud ZIMMERMANN F; 2013). Porém, 
sua ocorrência já foi observada também em mulheres. São pessoas que fazem 
musculação ou fisiculturismo e que, mesmo musculosas e fortes fisicamente, ao se 
visualizarem em espelhos, se sentem magras e fracas. 
Pope et al. (2000 apud ZIMMERMANN F; 2013) apud Mota e Aguiar (2011 apud 
ZIMMERMANN F; 2013) definiram que, para uma pessoa ser diagnosticada vigorexa, 
ela deverá apresentar os seguintes comportamentos: 
 Preocupação com o fato de que seu corpo não seja suficientemente forte 
e musculoso, conforme ZIMMERMANN F; (2013). 
 Presença de sofrimento e prejuízo social, ocupacional e em outras áreas 
de funcionamento clinicamente significantes diante de tal preocupação, 
conforme ZIMMERMANN F; (2013). 
 Desistência de atividades sociais, ocupacionais ou recreativas 
importantes, pois o sujeito tem uma necessidade compulsiva de manter 
sua rotina de exercícios físicos ou sua dieta, conforme ZIMMERMANN 
F; (2013). 
 Evitamento, por parte da pessoa, de situações nas quais seu corpo 
possa ser exposto, ou, quando não puder evitá-lo, vivência de sofrimento 
e ansiedade intensos, conforme ZIMMERMANN F; (2013). 
 
28 
 
 Opção por exercitar-se, fazer dieta ou usar substâncias para melhorar 
seu desempenho a despeito de efeitos colaterais ou consequências 
psicológicas, conforme ZIMMERMANN F; (2013). 
Apesar da centralidade que o corpo ganhou nos processos de construção 
identitária e dos riscos da prática excessiva e desregrada de exercícios físicos, como 
na musculação, muitos profissionais e futuros profissionais da área da Educação 
Física ainda não conhecem a vigorexia e seus malefícios, conforme ZIMMERMANN 
F; (2013). 
 Transtorno alimentar anorexia nervosa 
O início do quadro clínico ocorre frequentemente a partir da elaboração de uma 
dieta, em que o paciente inicia a restrição de grupos alimentares, eliminando aqueles 
que julga mais calóricos. Essa restrição alimentar aumenta progressivamente, com 
diminuição do número de refeições, podendo evoluir drasticamente, até o jejum. O 
paciente tem como meta emagrecer, cada vez mais, desejando a todo custo ficar cada 
vez mais magro, conforme BORGES N; et al., (2006). 
 
 
 
 
Fonte: imeb.com.br 
 
 
 
29 
 
Geralmente os pacientes relatam que o início do quadro se deu após um fator 
estressante como algum comentário sobre seu peso, ou o término de relacionamento, 
ou perda de ente querido. Paulatinamente o paciente passa a viver exclusivamente 
em função da dieta, do peso, da forma corporal, das atividades físicas, de tabela de 
calorias e do medo patológico de engordar.Concomitantemente esses pacientes 
apresentam traços de personalidade como preocupações e cautela em excesso, 
medo de mudanças, hipersensibilidade e gosto pela ordem, conforme BORGES N; et 
al., (2006). 
Existem dois tipos de apresentação da anorexia nervosa: o restritivo e o 
purgativo. No primeiro, os pacientes utilizam comportamentos restritivos associados à 
dieta. Na anorexia tipo purgativa, acontecem episódios de compulsão alimentar, 
seguidos de métodos compensatórios, como vômitos auto induzidos e o uso de 
laxantes e diuréticos, conforme BORGES N; et al., (2006). 
Entre os sintomas que podem ser referidos pelos pacientes estão: intolerância 
ao frio, fadiga, queda de cabelos, constipação, dor abdominal, anorexia, letargia, pés 
e mãos frios, amenorréia, dificuldade de concentração, etc. Como em geral os 
pacientes não admitem estar doentes, eles tendem a não relatar espontaneamente 
suas queixas, ficando a cargo do médico de questioná-las. 
A imagem corporal distorcida é um objeto de incentivo para o desenvolvimento 
da anorexia nervosa, a dicotomia entre o social e o orgânico colabora e aumenta os 
fatores que levam a ingestão inadequada, para anorexia, conforme PEREIRA C; et 
al., (2015). 
 Estas apresentam como características importantes um padrão de 
comportamento alimentar gravemente alterado e inadequado, e alterações da 
percepção do formato corporal. Os autores, ainda afirmam que o indivíduo portador 
de anorexia nervosa, mesmo num estado severo de emagrecimento considera-se 
acima do peso devido à ocorrência da distorção da autoimagem corporal, no qual o 
mesmo se imagina com peso acima do real, muitas vezes se classificando como 
obeso (SAIKALI, 2004 apud PEREIRA C; et al., 2015). 
A alimentação é irregular e não contabiliza os nutrientes necessários para o 
bom desenvolvimento corporal, assim alimentos ricos em carboidratos e açúcares são 
evitados pelos portadores de anorexia nervosa (CAMPOS; HAACK, 2012 apud 
PEREIRA C; et al., 2015). 
 
30 
 
A anorexia nervosa é uma doença complexa que para Leite e Amaral (2015 
apud PEREIRA C; et al., 2015), pode chegar à inanição, conjugada com a perda 
excessiva de peso corporal; o indivíduo apresenta um grande medo de engordar ou 
ganhar peso. O desenvolvimento dessa doença pode acontecer de forma restritiva, a 
partir de dietas, jejuns e até exercícios; atitudes que podem desencadear 
transformações metabólicas e hormonais. A prevalência de anorexia nervosa na 
atualidade vem crescendo e, por este motivo, cada vez mais é um distúrbio 
investigado pela crescente morbidade e mortalidade (FAIRBURN, 2008 apud 
PEREIRA C; et al., 2015). 
Segundo Borges et al (2006 apud PEREIRA C; et al., 2015), há várias 
consequências que podem acometer os indivíduos com anorexia nervosa, dentre eles 
estão: intolerância ao frio, fadiga, queda de cabelos, constipação, dor abdominal, 
anorexia, letargia, pés e mãos frios, amenorreia, dificuldade de concentração. 
De acordo com PEREIRA C; et al., (2015), o Manual de Diagnóstico e 
Estatística dos Transtornos Mentais - DSM 5 caracteriza a anorexia nervosa como um 
transtorno da mente e da conduta alimentar, de acordo com os seguintes requisitos: 
 Restrição da ingestão de energia levando a um significante baixo peso 
corporal no contexto de idade, sexo, trajetória de desenvolvimento e 
saúde física. Significante baixo peso é definido como menor do que o 
minimamente normal ou, para crianças e adolescentes, menor do que 
minimamente esperado, conforme PEREIRA C; et al., (2015). 
 Medo intenso do ganho de peso ou de se tornar gordo, ou 
comportamento persistente que interfere no ganho de peso mesmo com 
peso inferior, conforme PEREIRA C; et al., (2015). 
 Perturbação no modo de vivenciar o peso, tamanho ou formas corporais; 
excessiva influência do peso ou forma corporal na auto- avaliação; ou 
persistente falta de reconhecimento da seriedade do atual baixo peso 
corporal, conforme PEREIRA C; et al., (2015). 
 
 Transtorno alimentar Bulimia Nervosa 
A bulimia nervosa é um transtorno da alimentação que possui como 
características fundamentais: episódios recorrentes de compulsões periódicas de 
ingestão de uma grande quantidade de alimentos, em um espaço curto de tempo, que 
 
31 
 
dura em torno de duas horas e um sentimento de falta de controle sobre o 
comportamento alimentar durante o episódio; comportamento compensatório 
inadequado recorrente, com o fim de prevenir o aumento de peso, como a autoindução 
de vômito, uso indevido de laxantes, diuréticos, ou outros medicamentos, jejuns ou 
exercícios excessivos; ocorrência de compulsões, no mínimo, duas vezes por 
semana, no espaço de três meses; autoavaliação indevidamente influenciada pela 
forma e peso do corpo (ROMARO; ITOKAZU, 2002 apud DINIZ N; et al., 2017). 
A identificação da bulimia nervosa acontecerá por meio de episódios periódicos 
de compulsão, excessos alimentares, seguidos de vômitos e outras ações 
compensatórias que evitem o aumento de peso, conforme PEREIRA C; et al., (2015). 
Segundo Cordás e Claudino (2002 apud DINIZ N; et al., 2017), o 
comportamento de forçar o vômito é muito antigo e pode ser encontrado 
precocemente na história de diferentes povos da Antiguidade. No antigo Egito, por 
exemplo, grande parte do papiro de Eber é dedicado ao estímulo e às virtudes do ato 
de vomitar. 
 É sabido que, na medicina grega, Hipócrates também recomendava a indução 
de vômitos por dois dias consecutivos todo mês como um método de prevenir 
diferentes doenças. Os romanos criaram o vomitorium, que lhes permitia alimentar-se 
em excesso durante os banquetes, e posteriormente vomitar em local reservado para 
esta finalidade, às vezes usando uma pena de ave para estimular o reflexo do vômito 
na garganta, conforme DINIZ N; et al., (2017). 
 
 
Fonte: mdsaude.com 
 
32 
 
Vomitar é umas das ações para prevenir ganho de peso da pessoa com bulimia 
nervosa, pois, nesse momento, elas muitas vezes sentem que tem mais controle sobre 
sua vida. Não há uma única causa específica para a bulimia nervosa, mas fatores que 
possam contribuir, conforme DINIZ N; et al., (2017). 
 Os sintomas parecem surgir por vários motivos, como calmante, anestésico e 
como conforto para momentos de solidão. Outro aspecto evidenciado ao longo do 
trabalho foi o uso da comida como satisfação de outras necessidades que não a fome 
fisiológica; figurando, assim, como uma forma de compensação, conforme DINIZ N; 
et al., (2017). 
 Compulsão e comportamento alimentar: transtorno de compulsão 
alimentar periódica (TCAP): 
 
Fonte: endocrinologistasp.med.br 
A etiologia da obesidade como já compreendida, pode ser multifatorial, no 
entanto, é estarrecedor como a porcentagem de sobrepeso e obesidade vem tomando 
conta de uma sociedade tão moderna em alguns aspectos e que tem se deixado 
adoecer em outros. Segundo Escrivão et al., (2000 apud MARQUES E; et al., 2016), 
a obesidade exógena, ou seja, determinado por fatores de ordem ambiental é 
responsável por 95 a 98% dos casos, assim, apenas 2% dos casos têm como etiologia 
a obesidade endógena, isto é, inerente ao organismo e/ou fatores biológicos. 
 
 
33 
 
Dentre os fatores exógenos da obesidade, o Transtorno de Compulsão 
Alimentar Periódica (TCAP), referida na literatura internacional com o nome Binge 
Eating Disorder, é um dos transtornos mais constatado na obesidade (CORTEZ, et 
al., 2011 apud MARQUES E; et al., 2016). 
O TCAP, de acordo com Nunes (2012 apud MARQUES E; et al., 2016) é um 
transtorno psiquiátrico caracterizado por episódios de hiperfagia (aumento anormal do 
apetite), onde o indivíduo em um curto período de tempo, até duas horas, ingere 
grande quantidade de alimentos sem ter o controle do quanto e do que ingeriu, logo 
após a ingestão, desenvolve um sentimento de culpa, vergonha, raiva entre outros 
que o leva ao arrependimento do comportamento. Sendo, portanto, que tais 
comportamentosprecisam ocorrer pelo menos uma vez na semana, durante três 
meses consecutivos. 
De acordo com MARQUES E; et al., (2016), constam abaixo os critérios para o 
diagnóstico de TCAP de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de 
Transtornos Mentais: 
De acordo com MARQUES E; et al., (2016): A. Episódios recorrentes de 
compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado por ambos 
os seguintes critérios: 
 Ingestão em um período limitado de tempo (por exemplo, dentro de um 
período de 2 horas) de uma quantidade de alimentos definitivamente 
maior do que a maioria das pessoas consumiria em um período similar, 
sob circunstâncias similares, conforme MARQUES E; et al., (2016). 
 Um sentimento de falta de controle sobre o episódio (por exemplo, um 
sentimento de não conseguir parar ou controlar o que ou quanto se 
come), conforme MARQUES E; et al., (2016). 
De acordo com MARQUES E; et al., (2016): B. Os episódios de compulsão 
alimentar estão associados a três (ou mais) dos seguintes critérios: 
 Comer muito e mais rapidamente do que o normal, conforme MARQUES 
E; et al., (2016). 
 Comer até sentir-se incomodamente repleto, conforme MARQUES E; et 
al., (2016). 
 Comer grandes quantidades de alimentos, quando não está fisicamente 
faminto, conforme MARQUES E; et al., (2016). 
 
34 
 
 Comer sozinho por embaraço devido à quantidade de alimentos que 
consome, conforme MARQUES E; et al., (2016). 
 Sentir repulsa por si mesmo, depressão ou demasiada culpa após comer 
excessivamente), conforme MARQUES E; et al., (2016). 
C. Acentuada angústia relativa à compulsão alimentar, conforme MARQUES E; 
et al., (2016); 
D. A compulsão alimentar ocorre, em média um dia por semana, durante três 
meses, conforme MARQUES E; et al., (2016); 
E. A compulsão alimentar não é associada com o recorrente uso de 
comportamentos compensatórios inapropriados como na bulimia nervosa e não ocorre 
exclusivamente durante o curso da bulimia nervosa ou anorexia nervosa, conforme 
MARQUES E; et al., (2016). 
De acordo com MARQUES E; et al., (2016), em relação à gravidade dos 
episódios podemos classificar em: 
 Leve: média de 1 a 3 episódios de compulsão alimentar por semana, 
conforme MARQUES E; et al., (2016). 
 Moderada: média de 4 a 7 episódios de compulsão alimentar por 
semana, conforme MARQUES E; et al., (2016). 
 Grave: média de 8 a 13 episódios de compulsão alimentar por semana, 
conforme MARQUES E; et al., (2016). 
 Extremo: média de 14 ou mais episódios de compulsão alimentar por 
semana, conforme MARQUES E; et al., (2016). 
Todavia, há diferenças entre compulsão alimentar e TCAP. Um indivíduo para 
receber o diagnóstico de TCAP, necessita preencher os critérios supracitados do 
DSM, assim como, apresentar “sofrimento e impedimentos na vida decorrentes desta 
patologia” (BORGES & JORGE, 2000 apud MARQUES E; et al., 2016). 
Ainda que o excesso de peso não seja um critério para diagnóstico de TCAP, 
frequentemente este transtorno “se associa ao sobrepeso e a diversos graus de 
obesidade”, pois, estatísticas apontam que na população considerada obesa que 
procuram tratamentos para emagrecer, cerca de 30% apresentam quadro de TCAP, 
valores altos comparados à população geral que pode variar de 1,8 a 4,6% com este 
transtorno (Duchesne, et al., 2007, p. 81 apud MARQUES E; et al., 2016). 
 
 
35 
 
O TCAP tende a desencadear diversos prejuízos para a vida do indivíduo, ainda 
mais, quando associada com o excesso de peso. Neste sentido, Vieira e Meyer (2013 
apud MARQUES E; et al., 2016) e Duchesne et al., (2007 apud MARQUES E; et al., 
2016), contribuem dissertando que, além das comorbidades existente decorrente da 
obesidade, quando associado ao TCAP, esses grupos apresentam níveis superiores 
de psicopatologias elevando o agravo de danos psicológicos. 
 Pois, os níveis de stress são maiores, fazendo com que o comportamento de 
comer compulsivamente se eleve, a autoestima se apresente mais baixa, havendo 
uma preocupação a mais com a imagem corporal e a redução de peso, além do mais, 
muitos tendem apresentar humor depressivo, um alto grau de ansiedade, isolamento 
social, entre outros sintomas psicológicos disfuncionais para o ser humano, conforme 
MARQUES E; et al., (2016). 
Assim, um aporte de uma equipe multiprofissional, para que as comorbidades 
e os sintomas psicológicos disfuncionais do excesso de peso associado com TCAP 
possam ser trabalhados e modificados a favor deste, até atingirem uma melhor 
qualidade de vida é de extrema relevância, conforme MARQUES E; et al., (2016). 
 Ortorexia 
Nos transtornos da conduta alimentar, os mais conhecidos e prevalentes são a 
anorexia e a bulimia nervosa, em que a pessoa está excessivamente preocupada com 
a quantidade de alimento que ingere. Nesse cenário surge um novo, mas igualmente 
importante transtorno alimentar, chamado Ortorexia Nervosa (ON), que faz com que 
o indivíduo tenha uma preocupação exacerbada com sua saúde, prezando pela 
extrema qualidade dos alimentos que irá consumir, conforme LOPES M, et al., (2009) 
Esse transtorno é uma enfermidade ou conduta incorreta na alimentação que 
pode interferir, negativamente, na vida do doente que, na busca incansável pela 
saúde, pode agir de forma descontrolada e insana (GONZÁLEZ et al., 2007 apud 
LOPES M, et al., 2009). 
A ortorexia nervosa foi descoberta por um médico, adepto da medicina 
alternativa, Steven Bratman. Este observou diferentes grupos e teorias ligadas à 
alimentação e encontrou pessoas que alimentavam-se com a intenção de superar 
doenças ou para melhorar a saúde em geral. Observou também, que essa dieta exigia 
uma disciplina reforçada e enorme vontade para mudar hábitos alimentares a partir 
da infância e da cultura circundante. Esse tipo de comportamento, “Ortorexia 
 
36 
 
Nervosa”, significa uma fixação patológica em se alimentar corretamente, ou seja, 
preocupar-se exageradamente com a qualidade da alimentação, conforme LOPES M, 
et al., (2009). 
 
Fonte:big1news.com.br 
Nesse tipo de transtorno, a pessoa considera sua conduta saudável, tornando 
mais difícil o diagnóstico da doença. Nos distúrbios alimentares, é fundamental uma 
intervenção precoce, já que estudos demonstram que quanto mais crônicos são os 
sintomas, pior é a resposta ao tratamento (ALONSO, 2005 apud LOPES M, et al., 
2009). 
Geralmente, esse transtorno pode ser considerado de longo prazo e não 
transitório em que o comportamento tem um impacto negativo de alta significância na 
qualidade de vida do indivíduo. No entanto, por ser um assunto tão novo, existem 
poucas publicações a respeito das características epidemiológicas desse distúrbio 
(DONINI et al., 2004 apud LOPES M, et al., 2009). 
8 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DOS TRANSTORNOS 
ALIMENTARES 
Os TA sofrem influência multifatoriais, de níveis culturais, biológicos e pessoais 
e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) vem de encontro a esses transtornos 
como um método terapêutico satisfatório por ser uma intervenção objetiva, 
 
37 
 
semiestruturada e focada em metas específicas; identificando e buscando a correção 
das dinâmicas que favorecem o desenvolvimento e manutenção de determinados 
comportamentos insatisfatórios, o que tem sido eficaz nos tratamentos de quadros 
clínicos de TA, conforme SILVA V; (2006). 
 Anorexia (AN) 
Focada na diminuição da restrição alimentar, a técnica de tratamento 
concentra-se no estabelecimento de horários regulares para alimentação e 
gradativamente a exposição a alimentos e situações evitadas. Ao buscar a diminuição 
da frequência da atividade física, o tratamento é focalizado em orientar o paciente a 
envolver-se em situações que possa competir com a prática de exercícios e que 
beneficiem as relações interpessoais, conforme SILVA V; (2006). 
A abordagem do distúrbio da imagem corporal é um ponto central do tratamento 
de AN e se faz necessário conhecer trêscomponentes: percepção da imagem 
corporal, ansiedade associada à aparência e evitação da exposição corporal; a partir 
daí para a diminuição da distorção da percepção corporal. São solicitados ao paciente 
alguns procedimentos como: desenhos feitos pelo paciente ao olhar-se no espelho e 
o desenho feito do ponto de vista do terapeuta para que haja a comparação e perceba-
se a diferença entre ambos, proposta de uso de roupas mais justas e curtas e um 
trabalho que propicie uma diminuição da ansiedade aprendendo a lidar de forma 
saudável com eventuais, conforme SILVA V; (2006). 
A modificação do sistema de crenças é um ponto importante no 
desenvolvimento de sentimentos e comportamentos do indivíduo, e os pacientes 
portadores de TA nutrem crenças disfuncionais e distorcidas acerca de alimentação, 
formato corporal, peso e valores de estima pessoal. Eles associam a magreza a 
valores pessoais a atentam-se sempre a informações que confirmam essas crenças, 
desatentando-se a fatos que às questionem. A TCC emprega técnicas que levam o 
paciente a analisar suas crenças, encontrando dessa forma os aspectos que 
confirmam ou repudiam esses pensamentos. Exposição gradual do corpo, entre 
outras, são técnicas usadas pelo terapeuta de TCC como sujeito ativo para auxiliar o 
paciente na mudança de suas crenças e comportamentos, conforme SILVA V; (2006). 
 
 
 
38 
 
Através da abordagem da autoestima a terapia busca levar o paciente a 
reconhecer seus sucessos e qualidades visando reduzir as expectativas de 
desempenho, modificar comportamentos ligados a relacionamentos interpessoais e o 
crescimento da autoestima, conforme SILVA V; (2006). 
O programa de TCC apresenta resultados de eficácia em relação à diminuição 
da restrição alimentar, aumento de peso, reduzindo também dessa forma o 
aparecimento de pensamento difusos acerca de alimentação e peso; o que resulta em 
melhora nas funções sexuais e do humor. São utilizadas técnicas de manutenção de 
resultados, prevendo possíveis recaídas e dificuldades que possam ser encontradas 
futuramente, conforme SILVA V; (2006). 
 Bulimia Nervosa (BN) 
Para essa patologia a TCC utiliza técnicas que visam à normalização do padrão 
alimentar e controle das compulsões alimentares, aborda também modificação da 
imagem corporal, sistemas de crenças disfuncionais e manutenção da autoestima. 
Controle dos episódios de compulsão alimentar e da indução de vômito: inicialmente 
com a ajuda do terapeuta de TCC o paciente é incentivado a ingerir alimentos que 
normalmente desencadeariam episódios de compulsão alimentar e vômitos e 
desenvolver a partir daí o uso de técnicas de autocontrole para redução da ansiedade, 
tristeza e outros sentimentos facilitadores de ECA (episódios de compulsão alimentar) 
e indução de vômito, conforme SILVA V; (2006). 
Eliminação do uso de laxantes e diuréticos: essa eliminação se dá de maneira 
gradual, à medida que a alimentação vai se regularizando, e é importante ressaltar ao 
paciente que o possível aumento de peso que se dá nessa fase deve-se a retenção 
hídrica e não ao aumento de gordura corporal. Modificação dos sistemas de crenças: 
pacientes com BN adotam regras dietéticas inflexíveis e pequenos lapsos nessa 
dinâmica desencadeiam um descontrole alimentar, é o mecanismo de pensamento 
que a TCC chama de “tudo ou nada”. Os mecanismos de modificação de crenças 
central, aparência e valor pessoal se dão da mesma maneira que na anorexia nervosa, 
conforme SILVA V; (2006). 
 
 
 
 
39 
 
A TCC tem sido avaliada como uma forma de intervenção muito satisfatória até 
por superar resultados alcançados com o uso de medicação isolada. No tratamento 
de BN tem sido apontada como eficaz na redução e remissão da frequência da ECA, 
comportamentos purgativos, restrição alimentar, preocupação com peso, formato 
corporal, redução dos sintomas depressivos, melhora da autoestima e interação 
social. A TCC considera a relação terapêutica fundamental para obtenção de melhora 
nos TA. O terapeuta se coloca em atitude empática em relação às dificuldades e 
necessidades do paciente apresentando, dessa forma, a terapia como um trabalho 
em equipe, conforme SILVA V; (2006). 
As técnicas utilizadas no tratamento da bulimia nervosa (BN) objetivam a 
normalização do padrão alimentar e o desenvolvimento de estratégias para controle 
de episódios de compulsão alimentar (ECA) e dos comportamentos compensatórios. 
A TCC aborda também a autoestima, a modificação da relação com a imagem corporal 
e a modificação do sistema de crenças disfuncionais, conforme DUCHESNE M et al., 
(2002). 
Tem se mostrado mais eficaz no tratamento dos transtornos alimentares do que 
outra terapia consultada, entretanto, é necessário que o trabalho seja realizado em 
equipe multidisciplinar, sendo necessária à associação do tratamento psicológico com 
outros tratamentos tais como: médico clínico psiquiátrico e nutricional. E o 
envolvimento familiar também é muito importante, podendo ajudar a criar uma 
estrutura de colaboração e facilitação de mudanças, conforme SILVA V; (2006). 
8.1 Tratamento no enfoque da Terapia Cognitivo Comportamental 
Um dos principais teóricos do modelo cognitivo comportamental para os 
transtornos alimentares foi Fairburn. Sua abordagem relaciona pensamentos, 
emoções e comportamentos manifestos, onde o tratamento objetiva auxiliar o paciente 
a ter controle comportamental sobre sua alimentação, de forma a ajudar na 
modificação dos hábitos alimentares anormais ou desregulados, ao peso e à imagem 
corporal (OLIVEIRA; DEIRO, 2013; WILLHELM; FORTES; PERGHER, 2015 apud 
MAIMONE G; 2018). 
 
 
40 
 
As técnicas cognitivas são extremamente utilizadas, avaliadas e reconhecidas 
como boas estratégias no tratamento dos quadros clínicos de transtornos alimentares. 
Além disso, vários ensaios clínicos indicaram que a TCC facilita a remissão ou 
diminuição da restrição e/ou compulsão alimentar (LUCENA-SANTOS; ARAUJO, 
2015 apud MAIMONE G; 2018). 
Diante disso, de acordo com Oliveira e Deiro (2013 apud MAIMONE G; 2018) 
as estratégias no enfoque da TCC têm como objetivo a diminuição da restrição e da 
compulsão alimentar, dos episódios bulímicos e da frequência das atividades física, 
diminuição do distúrbio da imagem corporal, a modificação do sistema disfuncional de 
crenças associadas à aparência, peso e alimentação, além do aumento da 
autoestima. 
Ou seja, a TCC contribui para tratamento dos transtornos alimentares, pois 
facilita a modificação de crenças disfuncionais. Diante disso, podem ser utilizadas 
técnicas que busquem a construção de novos aprendizados que auxiliem no processo 
de mudança das crenças distorcidas, que consequentemente irá modificar emoções 
e comportamentos (LUCENA-SANTOS; ARAUJO, 2015 apud MAIMONE G; 2018). 
Além das técnicas cognitivas, a TCC também emprega técnicas 
comportamentais para auxiliar na modificação dos hábitos alimentares. Algumas 
técnicas que podem ser utilizadas são, a auto monitoração, que consiste na 
observação e registro dos alimentos ingeridos e das circunstâncias em que foram 
ingeridos, técnicas para controle de estímulos, que envolve a identificação das 
situações que favorecem comportamentos de compulsão alimentar, o 
desenvolvimento de um padrão de vida que minimize o contato do paciente com 
situações estressantes e o treinamento de resolução de problemas, o qual irá ajudar 
no desenvolvimento de estratégias para superar as dificuldades sem recorrer à 
alimentação inadequada (DUCHESNE, et al., 2007 apud MAIMONE G; 2018). 
De acordo com Willhelm, Fortes e Pergher (2015 apud MAIMONE G; 2018) a 
TCC para anorexia foca na distorção da imagem corporal e em técnicas 
comportamentais, pois seu principal objetivo é normalizar o peso e melhorar o 
comportamento alimentar. Cabe ressaltar que, as pesquisas apontam que as técnicas 
e disposições da psicoterapia comportamental têm se mostrado eficiente no 
tratamento

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