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2 1 SUMÁRIO 2 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 3 TRANSTORNOS ALIMENTARES (TA) ...................................................... 4 4 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR E SEUS DETERMINANTES ......... 10 4.1 Comportamento alimentar: aspectos neurobiológicos ........................ 15 4.2 O enigma do comportamento ............................................................. 16 5 A IMAGEM CORPORAL ........................................................................... 19 6 TRANSTORNOS ALIMENTARES: FATORES DE RISCO BIOLÓGICOS, NEUROPSICOLÓGICOS, GENÉTICOS E FAMILIARES ......................................... 23 7 OS TRANSTORNOS ALIMENTARES ...................................................... 25 8 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES ......................................................................................................... 36 8.1 Tratamento no enfoque da Terapia Cognitivo Comportamental ......... 39 8.2 Algumas estratégias da TCC para o tratamento dos transtornos alimentares 42 9 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 51 3 2 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 4 3 TRANSTORNOS ALIMENTARES (TA) Fonte: psiquiatriapaulista.com.br Os transtornos alimentares (TA), também conhecidos como transtornos do comportamento alimentar (TCA), são quadros psiquiátricos, que apresentam como questões centrais a relação do indivíduo com a alimentação. Atualmente são descritos pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), publicado pela Associação Psiquiátrica Americana (APA, 2014), no capítulo “Alimentação e transtornos alimentares”, que reúne os critérios diagnósticos para cinco tipos desses transtornos: pica e transtorno de ruminação; transtorno alimentar restritivo/evitativo; anorexia nervosa; bulimia nervosa e o transtorno de compulsão alimentar periódica, conforme COUTINHO M; (2018). Os transtornos alimentares são caracterizados por uma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação que resulta no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que compromete significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial (APA, 2014, p.329 apud COUTINHO M; 2018). Os dois principais transtornos alimentares são: a anorexia nervosa (AN) e a bulimia nervosa (BN). A anorexia e bulimia nervosas são distúrbios da conduta alimentar caracterizados por abstenção voluntária de alimentos e pela ingestão 5 compulsiva, seguida de métodos purgativos, respectivamente (BORGES et al., 2006 apud COUTINHO M; 2018). Essas duas patologias têm em comum a representação alterada da forma corpórea, a preocupação excessiva com o peso e o medo patológico de engordar (BRASIL; MORAES, 2010 apud COUTINHO M; 2018). Córdas (2004 apud COUTINHO M; 2018) define anorexia nervosa como uma perda de peso intensa e intencional utilizando de dietas extremamente rígidas com uma busca desenfreada pela magreza, uma distorção grosseira da imagem corporal e alterações do ciclo menstrual. A anorexia nervosa tem três características essenciais: a restrição persistente da ingesta calórica; o medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso; e a perturbação na percepção do próprio peso ou da própria forma. O indivíduo mantém um peso corporal abaixo daquele minimamente normal para idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física (APA, 2014 apud COUTINHO M; 2018). A bulimia nervosa caracteriza-se por grande ingestão de alimentos com sensação de perda de controle, que são conhecidos por episódios bulímicos. A preocupação excessiva com o peso e a imagem corporal leva o paciente a métodos compensatórios inadequados para o controle de peso como vômitos auto induzidos, uso de medicamentos (diuréticos, inibidores de apetite, laxantes), dietas e exercícios físicos. O termo bulimia vem da união dos termos gregos boul (boi) ou bou (grande quantidade) com lemos (fome), ou seja, uma fome muito intensa ou suficiente para devorar um boi (CORDÁS, 2004 apud COUTINHO M; 2018). O episódio de compulsão alimentar é o sintoma principal e costuma surgir no decorrer de uma dieta para emagrecer. No início, pode se achar relacionado à fome, mas posteriormente, quando o ciclo compulsão alimentar purgação já está instalado, ocorre em todo tipo de situação que gera sentimentos negativos como: frustração, tristeza, ansiedade, tédio e solidão (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000 apud COUTINHO M; 2018). Diferentemente do paciente anoréxico, o paciente bulímico não tem desejo de emagrecer cada vez mais. Em geral, seu peso está normal ou em alguns o estado nutricional é o sobrepeso. Relatos históricos por Córdas (2004 apud COUTINHO M; 2018) destacam que entre os principais transtornos do comportamento alimentar, a anorexia nervosa foi a primeira a ser descrita já no século XIX e, igualmente, a pioneira a ser adequadamente classificada e ter critérios operacionais reconhecidos na década de 1970. O mesmo autor relata que a bulimia nervosa foi descrita 6 por Gerald Russell em 1979, e um terceiro grupo heterogêneo de quadros assemelhados, mas que não apresentavam sintomas completos nem para o diagnóstico de AN nem para BN, que foram classificados como Transtornos Alimentares Atípicos nos anos 1980. Os estudos populacionais da prevalência desses transtornos alimentares, são dificultados pela tendência ao segredo que envolve essas patologias, pela a exigência de amostras grandes e a aplicação de metodologia de duas fases obrigatoriamente: uma triagem e a confirmação diagnóstica através da avaliação psiquiátrica. De forma geral, a prevalência de anorexia nervosa varia entre 0,5 e 3,7% e a prevalência da bulimia nervosa é de 1,1% a 4,2% (APA GUIDELINES, 2000 apud COUTINHO M; 2018). Em países da Europa, recentes estudos relatam prevalência de anorexia nervosa de 1 a 4%, e bulimia nervosa de 1 a 2%, com relação a incidência as taxas da anorexia parecem estáveis, enquanto as da bulimia pode estar diminuindo (KESKI- RANKONEN; MUSTELIN, 2016 apud COUTINHO M; 2018). Já nos países da América Latina, incluindo o Brasil, a prevalência de BN é superior à de AN, com média de 1,16%, enquanto para anorexia a média atualmente encontrada é de 0,1% (KOLAR et al.,2016 apud COUTINHO M; 2018). Ressalta-se ainda, que a anorexia nervosa e a bulimia nervosa têm prevalência maior em mulheres do que em homens, e ocorrem a partir de fatores estressantes do cotidiano, como por exemplo, fases de transição, como: a adolescência, mudanças de cidade, aceitação em grupos de amigos e ainda por necessidade de adequar-se a padrões para cursar a faculdade, praticar esportes ou dança, e até mesmonecessidade de ser aceito em grupos sociais (BERNARDES,2010 apud COUTINHO M; 2018). A etiologia desses transtornos alimentares é reconhecidamente multifatorial, envolvendo fatores como: vulnerabilidade genética, psicopatologia parental, experiências adversas e pressões socioculturais. Morgan e Claudino (2005 apud COUTINHO M; 2018) afirmam que os fatores etiológicos podem ser diferenciados em: predisponentes que estão presentes antes do aparecimento do transtorno e tornam o indivíduo vulnerável (hereditariedade, características de personalidade, tendência a obesidade, alterações neurobiológicas cerebrais, eventos traumáticos na infância, preocupações e exigências materna, pressões midiáticas do ideal de magreza e contexto sociocultural); precipitantes que marcam o aparecimento dos sintomas 7 (restrição alimentar e fatores estressores); e mantenedores e protetores que interagem entre si e determinam se o transtorno alimentar vai se perpetuar ou não (consequências da desnutrição e do ciclo compulsão/purgação, fatores psicológicos, interpessoais e culturais apud COUTINHO M; 2018). Para Mizon (2010 apud COUTINHO M; 2018), esses transtornos são comumente iniciados em resposta a algum medo real ou imaginário ou a um sentimento de inadequação que parece avassalador. Eventos ou circunstâncias de vida significativos, como perdas, separações, mudanças de casa ou escola, divórcios dos pais, modificações corporais da puberdade, distúrbios da imagem corporal, depressão, ansiedade e até mesmo traumas de infância, como abuso sexual, podem atuar como fator precipitante. Sabe-se também que muitos familiares de 1º grau dos portadores de anorexia e bulimia nervosa apresentam risco de 6 a 10 vezes maior do que a população geral, supondo um fator genético na gênese. A distorção de imagem é umas das características mais marcantes dos transtornos alimentares, Bernardes (2010 apud COUTINHO M; 2018) afirma que esse distúrbio é um sintoma central dos transtornos alimentares, caracterizado por uma autoavaliação negativa dos indivíduos acometidos, é influenciada pela experiência com seu peso e forma corporal. São distorções cognitivas relacionadas à avaliação do corpo: pensamento dicotômico o indivíduo pensa em extremos com relação à sua aparência ou é muito crítico em relação a ela; comparação injusta quando o indivíduo compara sua aparência com padrões extremos; atenção seletiva focaliza um aspecto da aparência e erro cognitivo, o indivíduo acredita que os outros pensam como ele em relação à sua aparência, conforme COUTINHO M; (2018). Outra importante característica descrita em pacientes com esses transtornos alimentares diz respeito aos aspectos psicológicos e relacionados a personalidade desses indivíduos. Campos e Haack. (2012 apud COUTINHO M; 2018) descrevem que o perfil de personalidade dos pacientes com anorexia nervosa apresenta: ansiedade elevada, perfeccionismo extremo, incapacidade de encontrar formas de satisfação, além de acentuada fragilidade, e estes são bem propensos à utilização de mecanismos arcaicos de defesa, caracterizado por uma restrição do potencial adaptativo onde controlam os próprios impulsos com excessivo rigor e tendem à passividade, introversão, obsessividade e dependência de medicamentos. 8 Os autores apontam que entre os pacientes bulímicos é comum: o humor disfórico, a labilidade e o empobrecimento da precisão perceptiva, a vivência de sobrecarga emociona, o reduzido interesse por outras pessoas, e ainda egocentrismo, narcisismo, raiva e negatividade são encontrados em alguns casos, conforme COUTINHO M; (2018). A principal complicação clínica da anorexia nervosa é a desnutrição, que promove alterações metabólicas e hormonais que podem comprometer ainda mais o quadro clínico. Já na bulimia nervosa essas complicações são mais frequentes, estando principalmente relacionadas ao distúrbio hidroeletrolítico, sendo a hipocalemia a principal delas (CAMPOS; HAACK, 2012; BORGES et al., 2006 apud COUTINHO M; 2018), conforme COUTINHO M; (2018). O tratamento para os transtornos alimentares é complexo, e precisa envolver conhecimentos e práticas interdisciplinares, com uma clínica ampliada e de forma individualizada. A estrutura básica de uma equipe multidisciplinar para o tratamento de transtorno alimentar é composta por psiquiatras, psicólogos, nutricionistas, terapeuta familiar e clínico geral, conforme COUTINHO M; (2018). Outros profissionais, como endocrinologistas, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, enfermeiros, dentistas, técnicos em oficinas terapêuticas e acompanhantes terapêuticos colaboram nos seus aspectos específicos. É o grau de comprometimento físico e psíquico que determina a condução da terapêutica aplicada. A modalidade pode ser ambulatorial, internação ou hospital-dia, conforme COUTINHO M; (2018). Em estados clínicos mais graves ou resistentes ao tratamento da anorexia nervosa, a hospitalização é indicada devido às complicações sistêmicas, já na bulimia nervosa as internações são raras, e quando ocorrem se devem a alterações promovidas pelos sintomas purgativos (SAPOZNIK; BUENO; LOBÃO, 2005 apud COUTINHO M; 2018). O tratamento medicamentoso pode ser utilizado com o objetivo de controlar os sintomas e/ou comorbidades como depressão, transtorno obsessivo compulsivo e a purgação. Campos e Haack (2012 apud COUTINHO M; 2018) afirmam que os fármacos mais utilizados no tratamento dos transtornos alimentares, anorexia nervosa e bulimia, são os antidepressivos. Com relação às intervenções psicossociais nesses transtornos, a abordagem cognitivo-comportamental foi considerada como tratamento mais efetivo de acordo com Costa e Melnik (2016 apud COUTINHO M; 2018), principalmente para bulimia e 9 anorexia nervosas. Outras abordagens efetivas são a psicoterapia interpessoal, terapia comportamental dialética e terapia de apoio. Abordagens preventivas e promocionais que contemplem fatores de risco individuais, familiares e sociais, são promissoras para o desenvolvimento da autoimagem positiva e auto eficácia. O tratamento nutricional visa reverter alterações no consumo, padrão, comportamento alimentar e diversas crenças equivocadas sobre alimentação, além de promover hábitos alimentares saudáveis e melhor relação do indivíduo para com o alimento. Os objetivos e características do tratamento diferem para anorexia e bulimia nervosas, contudo, usualmente, a abordagem é dividida em duas fases: a educacional, cujas principais metas são a regularização do hábito alimentar e o aumento do conhecimento nutricional; e a experimental, que propicia maior reabilitação nutricional e mudanças mais profundas no comportamento alimentar (LATTERZA et al., 2004 apud COUTINHO M; 2018). Pinzon e Nogueira (2004 apud COUTINHO M; 2018), com relação ao curso desses transtornos alimentares, afirmam que depois de intervenções terapêuticas, as taxas de recuperação completa de anorexia nervosa ficam em torno de 50%, recuperação intermediária em torno de 30% e 20% não recuperam. Índices de recaída situam-se em torno de 12% a 27%, com taxa de cronicidade aproximada de 20%. E o mais preocupante são as taxas brutas de mortalidade variam de 5% a 20%, sendo as principais causas de mortalidade são complicações da própria AN (50% a 54%), suicídio (24% a 27%) e desconhecidas (15% a 19%). Os mesmos autores relatam que a bulimia nervosa parece ter evolução mais favorável que a AN, os índices de recuperação total entre variam entre 50% e 70%, conforme seus períodos de acompanhamento após manejo terapêutico. Todavia, as taxas de recaída também são altas e situam-se em torno de 30% a 50%. Paralelamente, as taxas brutas de mortalidade da bulimia nervosa estão entre 0,3% a 3%, de acordo com a gravidade dos casos, conforme COUTINHO M; (2018). 10 4 O COMPORTAMENTO ALIMENTAR E SEUS DETERMINANTESFonte: mulherportuguesa.com O comportamento alimentar corresponde tanto às atitudes relacionadas às práticas alimentares em associação a atributos socioculturais, quanto aos aspectos subjetivos intrínsecos da pessoa ou próprios de uma coletividade, que estejam envolvidos com o ato de se alimentar ou com o alimento em si. Envolve inúmeros processos que incluem desde informações sensoriais sobre os alimentos, estados fisiológicos, psicológicos e genéticos das pessoas até as condições ambientais nas quais essas pessoas vivem, conforme NUNES C; et al., (2009). Os estudos sobre o comportamento alimentar mobilizam diversas disciplinas científicas como a Epidemiologia, a Economia, a Sociologia, a Antropologia, a Nutrição, a História e a Psicologia. Cada uma produz, a partir de seu ponto de vista e das suas problemáticas principais, uma série de dados que permite estudar as grandes tendências de consumo, as ligações entre alimentação e saúde, a diferenciação social e cultural das práticas alimentares, entre outras possibilidades. Entretanto, todas essas disciplinas afirmam a complexa trama de fatores implicados no entendimento do comportamento alimentar e em seus agravamentos, são determinantes fisiológicos, nutricionais, psicológicos, demográficos, sociais, 11 ambientais e culturais (TORAL e SLATER, 2007; QUAIOTI e ALMEIDA, 2006 apud NUNES C; et al., 2009). Em termos fisiológicos, um dos principais fatores responsáveis pelo estabelecimento do comportamento alimentar é a psicobiologia do apetite, ou seja, a distinção entre os sinais de saciedade de curto prazo, gerados pelas repercussões fisiológicas da ingestão de alimentos (episódicos), e os sinais de longo prazo, gerados pelas necessidades metabólicas constantes de energia do corpo, conforme NUNES C; et al., (2009). Esses dois processos mantêm tanto o fluxo de apetite que uma pessoa experimenta quanto o padrão de comportamento alimentar no qual ela se envolve no decorrer do dia, pois norteiam as noções de fome e saciedade. Os padrões de ingestão alimentar, por sua vez, desenvolvem-se em resposta a demandas fisiológicas e são constantemente modelados por influências ambientais e pela experiência subjetiva com o ato de alimentar-se (HALFORD, 2006 apud NUNES C; et al., 2009). A fome pode ser definida como a motivação para buscar e consumir alimentos, iniciando um período de comportamento alimentar. O processo que põe fim a esse período é denominado saciedade. A saciedade leva, finalmente, a um estado de fartura, no qual o ímpeto de fome e, consequentemente, o comportamento alimentar são inibidos. Os processos de saciedade determinam o tamanho da refeição, e o estado de saciedade determina o tamanho do intervalo após a refeição (HALFORD, 2006, p.18 apud NUNES C; et al., 2009). Spada (2007 apud NUNES C; et al., 2009) comenta ainda que os mecanismos reguladores e preponderantes na necessidade de buscar alimentos distinguem a fome do apetite: considera-se fome como uma manifestação biológica cíclica que, independe da vontade, provoca uma sensação desconfortável e dolorosa que admite como único objeto de saciedade: o alimento; já o apetite é tido como uma manifestação consciente que exige satisfação através da ingestão de alimentos específicos, relacionados com a memória de experiências prazerosas. Reiterando essas ideias, Toral e Slater (2007 apud NUNES C; et al., 2009), Quaioti e Almeida (2006 apud NUNES C; et al., 2009) desenvolveram estudos a fim de identificar de que modo a experiência e a interação com o ambiente têm um papel fundamental na determinação dos padrões de aceitação e recusa de alimentos, desse modo pode-se afirmar que: 12 O peso e a imagem corporal do indivíduo são fatores nutricionais que influenciam seu comportamento alimentar, pois tanto o excesso de peso como a insatisfação com o próprio corpo podem motivar a realização de restrições alimentares, conforme NUNES C; et al., (2009). Além da idade, outras características sociodemográficas são consideradas condicionantes do consumo alimentar, como sexo, etnia, escolaridade e estado civil, pois estes fatores interferem no estabelecimento de práticas alimentares saudáveis. Assim como a condição financeira da pessoa, do grupo familiar e/ou do grupo social, é considerada um delimitador das escolhas alimentares uma vez que haja escassez de recursos disponíveis para permitir o acesso aos alimentos tidos como saudáveis como frutas, hortaliças, grãos integrais e carnes magras que são mais caros que alimentos gordurosos e doces, conforme NUNES C; et al., (2009). Em relação aos determinantes sociais do comportamento alimentar pode-se mencionar a presença de outras pessoas (amigos e familiares) durante a alimentação como um fator que colabora para o aumento significativo da quantidade consumida e do teor calórico total da refeição, seja pela desinibição que leva a pessoa a comer mais, seja pela exposição prolongada aos alimentos em virtude da situação social. Do mesmo modo, fatores culturais estão envolvidos nas práticas alimentares, como o vegetarianismo e o regionalismo, e leis dietéticas preconizadas por algumas religiões há seleção de determinados alimentos para o consumo, conforme NUNES C; et al., (2009). A política de globalização mundial também é um fator socioeconômico que facilitou o comércio de alimentos entre os países, internacionalizando práticas alimentares. As redes comerciais de fast foods, por exemplo, possibilitam o acesso a alimentos com as mesmas características em diversos locais do mundo, de forma a isentar as pessoas da necessidade de se realizarem novas escolhas na sua alimentação, conforme NUNES C; et al., (2009). Quanto aos aspectos psicológicos presentes na determinação do consumo alimentar, menciona-se principalmente as crenças sobre as 13 características de uma alimentação saudável, a atitude frente à dieta, o reconhecimento dos seus benefícios e das barreiras encontradas para adotá-la, a disponibilidade de um suporte social que favoreça práticas adequadas, a responsabilidade sobre compra e preparo das refeições, e a confiança pessoal em relação à própria habilidade para fazer escolhas saudáveis em determinadas situações, conforme NUNES C; et al., (2009). Os fatores ambientais que influenciam o comportamento alimentar estão relacionados com o tipo e a facilidade de acesso a alimentos saudáveis para serem consumidos fora do âmbito familiar, as propagandas alimentícias e a influência da mídia na determinação da dieta alimentar das pessoas, conforme NUNES C; et al., (2009). Quaioti e Almeida (2006 apud NUNES C; et al., 2009) propõem ainda a descrição dos determinantes do comportamento alimentar considerando os períodos do desenvolvimento humano: Lactantes: nesse período o hábito alimentar começa a ser formado a partir da primeira experiência alimentar - a dieta láctea, nessa fase a alimentação das crianças depende exclusivamente de seus cuidadores independente do tipo de alimentação. A partir dos dois anos de vida, as crianças começam a desenvolver o próprio padrão de aceitação ou rejeição de alimentos, pois ficam mais expostas aos estímulos sensoriais relacionados aos alimentos e passam a ser influenciadas pelos hábitos alimentares do seu grupo familiar; alguns fatores que influem diretamente na dieta alimentar das crianças são o grau de formação e informação dos pais, o trabalho dos pais fora de casa, as propagandas divulgadas pela mídia e a influência de outras crianças, conforme NUNES C; et al., (2009). Pré-escolares: nesta fase, o hábito alimentar caracteriza-se por preferências e as crianças acabam consumindo, na maioria das vezes, somente os alimentos de que gostam, evitando aqueles de que não gostam, também parecem estar predispostas a preferir alimentos densamente calóricos, doces e/ou com altos índices degordura. Nessa 14 idade ainda é grande a influência do grupo familiar, conforme NUNES C; et al., (2009). Escolares: a partir deste período, os pais tendem a exercer menos controle sobre a alimentação dos filhos, uma vez que estes crescem e começam a ter suas próprias preferências, passando a selecionar os alimentos que desejam ingerir muitas vezes influenciados pela mídia e/ou pelas interações psicossociais na escola, conforme NUNES C; et al., (2009). Adolescência: nesta fase observa-se uma diminuição drástica da atividade física em função do maior tempo despendido em atividades sedentárias como uso do computador e de videogame, também observar-se maior influência das práticas alimentares do grupo social em que o adolescente está inserido e o hábito de suprimir algumas refeições ou trocá-las por lanches ricos em gordura e com elevados teores calóricos, conforme NUNES C; et al., (2009). Adultos: o maior problema relacionado ao comportamento alimentar do adulto é o aumento considerável do consumo de refeições rápidas motivadas pela comodidade e praticidade na aquisição e preparo destes alimentos, aliando a isso o sedentarismo e o estresse da vida cotidiana, há uma ampliação significativa das possibilidades de surgimento de diversas doenças crônicas, desde a obesidade até o câncer, conforme NUNES C; et al., (2009). Desse modo, nota-se que o comportamento alimentar é multifacetado e seu estudo exige a compreensão das relações entre os diversos fatores que o influenciam, bem como não se pode deixar de considerar seus determinantes no desenvolvimento humano, pois as práticas alimentares têm repercussão direta na saúde das pessoas. Agravos nutricionais, transtornos alimentares e obesidade são desafios para os profissionais da saúde na sociedade contemporânea, uma vez que desenvolver estratégias preventivas e interventivas que motivem a adoção de práticas alimentares saudáveis implica mudar crenças, hábitos e costumes sociais, conforme NUNES C; et al., (2009). 15 4.1 Comportamento alimentar: aspectos neurobiológicos A etiologia dos transtornos alimentares é desconhecida e a possibilidade de que haja uma disfunção neuroquímica no sistema nervoso central desses pacientes é explorada em inúmeros estudos (Melo, 2011 apud NUNES R; 2013). Quando pensamos em fome e no ato de comer, precisamos pensar antes que no nível pessoal e neurológico, as condutas de alimentação estão normalmente reguladas por mecanismos automáticos no sistema nervoso central (SNC). A sensação de fome tem origem dupla, tanto em estímulos metabólicos, quanto em receptores periféricos situados na boca e no tubo digestivo, conforme NUNES R; (2013). Assim, induz-se a sensação de apetite, que desencadeia conduta de alimentação. A sensação de saciedade faz cessar os estímulos da fome e se detém o processo. As pessoas normais apresentam algumas reações adaptadas aos estímulos de fome e de sede, com respostas corretas para a saciedade (Chemim & Milito, 2007 apud NUNES R; 2013). Muitos pacientes obesos referem ingestão alimentar compatível com os parâmetros da normalidade. Alguns, involuntariamente, ocultam parcela significativa do volume energético efetivamente ingerido (Bernardi et al., 2005 apud NUNES R; 2013). Melo (2011 apud NUNES R; 2013) afirma que, nos dias de hoje, a privação alimentar vem sendo substituída por fontes facilmente acessíveis e baratas de energia. Essa alteração dramática no ambiente alimentar tem afetado substancialmente nossa ingestão calórica e possibilitado a distinção entre “fome homeostática”, ou seja, aquela que se segue a períodos relativamente longos de privação alimentar e “fome hedônica”, ou seja, aquela que ocorre na ausência de privação alimentar e é motivada pela palatabilidade e propriedades compensatórias da comida, e que tem sido largamente associada à crescente epidemia de obesidade, conforme NUNES R; (2013). Quando o alimento é usado de forma inadequada, como para suprir diferentes estados emocionais, dificulta-se a diferenciação dos estados emocionais de sinais fisiológicos, como a fome. Desse modo, o alimento torna-se um aspecto central de extrema importância na vida do indivíduo e, independente da fonte e da natureza da inquietação, é usado indiscriminadamente (Espíndola & Blay, 2006 apud NUNES R; 16 2013). É necessário interromper o ciclo vicioso da compulsão alimentar e avaliar as intensas demandas psicológicas causadas pela história de restrição alimentar e a pressão social para ser magro. Ambos os fatores trabalham sinergicamente: a pressão social pode levar a excessivas dietas, as quais desencadeiam reações psicológicas e fisiológicas que levam à recuperação e ao aumento da obesidade (Bernardi et al., 2005 apud NUNES R; 2013). Por outro lado, existem mais de 400 genes, já isolados, que codificam componentes que participam da regulação do peso corporal. Entre esses componentes, alguns agem preferencialmente na ingestão alimentar (como insulina, leptina, neuropeptídeo Y, melanocortinas, colecistoquininas, grelina), outros no gasto energético e ainda existem aqueles que atuam nos dois mecanismos ou modulam estas ações (Melo, 2011 apud NUNES R; 2013). Brandão et al. (2011 apud NUNES R; 2013) estudou as concentrações séricas de hormônios ligados ao controle do apetite (peptídeo YY3-36, grelina total, leptina e insulina) em mulheres obesas com e sem episódios de compulsão alimentar e comparou-as às mulheres de peso normal, sugerindo que níveis baixos do PYY-3-36 estejam associados à compulsão alimentar em mulheres obesas, isto poderia explicar a maior incidência de compulsão alimentar neste grupo. No entanto este fator hormonal não é determinante para que um indivíduo se torne obeso ou compulsivo e a ajuda profissional se faz necessária para que se possa relaciona-se aos tratamentos convencionais preconizados, tais como acompanhamento com médico, psicólogo e nutricionista, grupos de mútua ajuda, entre outros. 4.2 O enigma do comportamento Num esforço de diferenciar e ao mesmo tempo religar esses saberes fundamentais para a ampliação e consolidação do campo da Alimentação e Nutrição como campo científico, foram identificados diversos estudos no campo da Psicologia que falam sobre métodos de intervenção utilizados para modificação do comportamento alimentar. Nota-se que o behaviorismo é a base filosófica de muitas das atuais intervenções realizadas por profissionais tanto do campo da Psicologia quanto da Nutrição, tais como, a Análise do Comportamento, a Terapia Cognitivo- Comportamental (TCC) e o Modelo Transteórico, conforme SILVA J; (2016). 17 Na busca por uma base científica para a Psicologia, a origem do Behaviorismo com o manifesto de Watson (2008 apud SILVA J; 2016) está relacionada a uma tentativa de contestar os métodos subjetivos da Psicologia, que, no século XIX, constituíam as principais ferramentas da pesquisa científica (BAUM, 2007 apud SILVA J; 2016). O behaviorismo metodológico de Watson configura uma filosofia que visa combater a introspecção como método da Psicologia e inaugura uma nova forma de entendimento, baseada nas leis do condicionamento clássico, ou seja, considerando que o organismo responde de modo reflexo aos estímulos do ambiente (BAUM, 2007 apud SILVA J; 2016). A operação Estímulo-Resposta, que ganhou ênfase no modelo proposto por Watson, é levada ao extremo no behaviorismo radical (ou Análise do Comportamento) de Skinner (1982 apud SILVA J; 2016), quando admite uma perspectiva pragmática do comportamento: o comportamento operante. Skinner (1982 apud SILVA J; 2016) considera que, no comportamento operante, o homem age sobre o ambiente e este retroage sobre ele. Além disso, para que um comportamento continue ou pare, há a necessidade de um determinado tipo de reforço, como diz o autor: Quando um comportamento temum tipo de consequência chamada reforço, há maior probabilidade de ele ocorrer novamente. Um reforçador positivo fortalece qualquer comportamento que o produza: um copo d’água é positivamente reforçador quando temos sede e, se então enchemos e bebemos um copo d’água, é mais provável que voltemos a fazê-lo em ocasiões semelhantes. Um reforçador negativo revigora qualquer comportamento que o reduza ou o faça cessar: quando tiramos um sapato que está apertado a redução do aperto é negativamente reforçadora e aumenta a probabilidade de que ajamos assim quando um sapato estiver apertado (SKINNER, 1982, p. 43 apud SILVA J; 2016). É nesse panorama que emergem estudos relativos ao tratamento dos comportamentos patológicos no campo da Alimentação e Nutrição que conjugam técnicas comportamentais e elementos mentais. Trata-se de novas soluções para o velho e conhecido problema da subjetividade: se um modelo de previsão e controle do comportamento que exclui os elementos mentais não é suficiente para eliminar os comportamentos indesejáveis, é preciso retomar algumas premissas, no caso, trata- se de incluir a cognição como elemento pessoal interno previsível e monitorável. Nesse sentido, o autor admite que técnicas mais atuais, como a Terapia Cognitiva de Beck, caem na órbita da Terapia Comportamental, na medida em que seguem seus preceitos fundamentais (FRANKS, 2002 apud SILVA J; 2016). https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B51 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B4 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B4 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B45 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B4 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B4 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B45 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B22 18 Assis e Nahas (1999 apud SILVA J; 2016) apresentam o Modelo Transteórico e a TCC no intuito de trazer informações sobre motivação e adesão em intervenções alimentares e que podem ser tomadas aqui como exemplos dessa modulação que a Terapia Comportamental sofreu na contemporaneidade. O Modelo Transteórico, de James Prochaska, Carlo DiClemente e Norcross (1992 apud SILVA J; 2016) tem sido considerado promissor na abordagem do comportamento relacionado à saúde. Ainda que tenha sido elaborado originalmente para pesquisas com tabagistas (TORAL; SLATER, 2007 apud SILVA J; 2016), pois admite que a mudança de comportamento é processual e compreende cinco estágios (pré-contemplação, contemplação, preparação, ação e manutenção), sua utilização no manejo dos transtornos alimentares vem se ampliando. Duchesne e Almeida (2002, p. 49 apud SILVA J; 2016) analisam como a TCC pode ser utilizada em casos de transtornos alimentares por ser “uma intervenção semiestruturada, objetiva e orientada para metas, que aborda fatores cognitivos, emocionais e comportamentais no tratamento (...)” desses transtornos. Observa-se que, em sua definição, a TCC indica a necessidade de ampliação da noção de comportamento, incluindo aspectos internos mais variados do que o Modelo Transteórico. Mantém, entretanto, a concepção tradicional de que o comportamento pode ser condicionado pela mudança de crenças e tornar-se, por repetição, um hábito, conforme SILVA J; (2016). Como o foco na maioria dos estudos sobre essas técnicas está nos resultados apresentados durante o período de tempo da intervenção, vale considerar aqui que poucas investigações fazem um acompanhamento no longo prazo dos resultados obtidos com essas abordagens e indicam a necessidade de realizá-los (DUCHESNE et al., 2007; KNAPP et al., 2007; WRIGHT et al., 2010 apud SILVA J; 2016). Da mesma maneira, observa-se que, em alguns livros sobre as técnicas e formas de aplicar a TCC, pode-se encontrar a indicação de que “mesmo os terapeutas mais experientes encontram dificuldades em estabelecer uma aliança terapêutica, conceituar as dificuldades corretamente e trabalhar de forma coerente em direção aos objetivos” (SILVA, 2014, p. 168 apud SILVA J; 2016). https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B3 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B40 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B40 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B47 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B17 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B16 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B16 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B30 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B53 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B43 19 Toral e Slater (2007 apud SILVA J; 2016) apontam também limitações no uso do Modelo Transteórico em relação aos comportamentos alimentares. Uma delas aponta que, diferentemente da aplicação do modelo para outros comportamentos aditivos, como o tabagismo, a alimentação não pode ser excluída da vida do indivíduo, mas precisa ser manejada para que se limite a uma alimentação saudável e adequada. Outra limitação seria que a maioria dos estudos que utilizam o Modelo Transteórico no comportamento alimentar não inclui outras dimensões do comportamento, “tais como os processos de mudança, o equilíbrio de decisões e a auto-eficácia do indivíduo” (TORAL; SLATER, 2007, p. 1647 apud SILVA J; 2016). Apesar das críticas relativas a essas técnicas, elas são consideradas modelos hegemônicos de intervenção de fácil aplicação na área da saúde. Os efeitos da banalização desses modelos no senso comum não são menos significativos e alimentam a culpabilização dos indivíduos pelos fracassos nas mudanças de hábitos, descontextualizando-os de uma dinâmica psíquica mais abrangente, conforme SILVA J; (2016). 5 A IMAGEM CORPORAL Fonte: pharmaceutical.com.br https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B47 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73312016000401103#B47 20 A imagem corporal é a representação que um indivíduo faz de seu corpo em sua mente, o modo como sente o corpo, incluindo as sensações táteis, térmicas e de dor, afirma Schilder (1999 apud VERAS A; 2010). Há sensações musculares, sensações viscerais e a percepção de uma unidade do corpo, ou seja, a percepção de um esquema do corpo, do esquema corporal ou ainda, do modelo postural do corpo. Por tratar-se de uma representação, a imagem corporal integra os níveis físico, emocional e mental em cada ser humano, com respeito à percepção de seu corpo. Conforme o autor, a imagem corporal é percebida através dos sentidos e envolve figurações e representações mentais, mas não é apenas uma percepção ou mera representação, pois o córtex sensorial armazena impressões passadas que podem surgir como imagem, formando modelos organizados denominados esquemas, conforme VERAS A; (2010). Estes esquemas já estabelecidos modificam as impressões produzidas pelos impulsos sensoriais que entram. Assim, o que temos como sendo a percepção corporal, é o resultado da relação feita entre um esquema postural e a nova informação dada pela nova postura ou movimento, onde por meio de perpétuas alterações de posição, construímos um modelo postural de nós mesmos, que se modifica constantemente, afirma Schilder (1999 apud VERAS A; 2010). Para Bruch apud Saikali (2004 apud VERAS A; 2010), a imagem corporal inclui a consciênciacognitiva do próprio corpo, da consciência das sensações corporais, do senso de controle sobre as funções corporais e razões afetivas para a realidade da configuração corporal. Já Thompson (1996 apud VERAS A; 2010), afirma que o conceito de imagem corporal envolve o campo perceptivo, que se relaciona com a percepção da própria aparência física, envolvendo uma estimativa do tamanho e peso corporal; o campo subjetivo, que envolve a satisfação com a aparência e o nível de preocupação e ansiedade a ela associada; e por último o campo comportamental, que focaliza as situações evitadas pelo indivíduo por experimentar desconforto associado à aparência corporal. 21 A concepção da imagem corporal se dá, então, como resultado da interação entre as pessoas, numa junção de aspectos, biológicos, emocionais, relacionais e contextuais. Ou seja, são interações permeadas por informações advindas do contexto cultural que perpassam as barreiras grupais, familiares e alcançam o espaço individual. Quando há desequilíbrio na intensidade da demanda relacionada à aparência física as pessoas são pressionadas em numerosas circunstâncias a concretizar em seu corpo o corpo ideal da cultura do meio em que estão inseridas, pontua Tavares (2003 apud VERAS A; 2010). A ânsia por ter um corpo perfeito e a propagação de ideais de magreza ganha destaque no cotidiano atual. Ao passar em qualquer banca de revista depara-se com uma infinidade de publicações que prometem maravilhas, ou mesmo milagres instantâneos, nesse caminho da transformação corporal. Os canais de televisão e a mídia em geral também colaboram em muito com essa ideia. As pessoas parecem hipnotizadas com a possibilidade de se parecerem com modelos ou personagens do mundo artístico moderno. Possuir um corpo próximo ao modelo estético difundido parece garantia de felicidade e realização plena, cria-se uma imagem baseada na idealização, conforme VERAS A; (2010). Há estudos que confirmam essa influência da mídia nos processos de construção da própria imagem. Pode-se usar como exemplo o realizado nas ilhas Fiji, por Becker et al. (2002 apud VERAS A; 2010) que numa etapa em 1995 e noutra em 1998, avaliou o impacto da exposição das adolescentes à televisão e as mudanças de atitude e comportamentos alimentares que obtiveram. Os resultados mostraram que os indicadores de transtorno alimentar foram significantemente mais prevalentes após 1998, demonstrando também maior interesse em perda de peso, sugerindo um impacto negativo da mídia. Considerando que nos transtornos alimentares a percepção da imagem corporal está seriamente comprometida, pode-se inferir que, as mensagens transmitidas pela televisão possivelmente também impactaram na construção e desenvolvimento da mesma, conforme VERAS A; (2010). Há dois processos que estão ligados ao desenvolvimento de atitudes e comportamentos afirma Stice apud Saikali (2004 apud VERAS A; 2010), o reforço social e a modelagem. O reforço social refere-se ao processo por meio do qual, pessoas internalizam atitudes e comportam-se mediante aprovação dos outros. Deste 22 modo, se a mídia em geral evidencia corpos magros, é bem provável que influencie as pessoas a buscarem métodos de emagrecimento para se sentirem confortáveis no grupo social ao qual pertencem. Por outro lado, de se sentirem desconfortáveis, inadequados ou mesmo excluídos se estiverem acima do peso. A modelagem refere-se ao processo em que o indivíduo observa comportamentos de outros e os imita. Na Teoria Social cognitiva de Bandura (1977 apud VERAS A; 2010), os comportamentos são aprendidos num efeito modelador, ou seja, há efeitos que inibem ou diminuem o comportamento e efeitos que desinibem ou aumentam o comportamento. Na vida cotidiana, de forma não intencional, temos condição de modelar o comportamento através do reforço ou reprovação do mesmo. No que se refere à imagem do próprio corpo, isso pode ocorrer por intermédio do que é falado ou pelo modo como o indivíduo se sente olhado pelo outro. Ou seja, na forma como chegam e na forma como são interpretadas as informações a respeito de si, conforme VERAS A; (2010). A imagem corporal pode ser definida como uma construção multidimensional que descreve amplamente as representações internas da estrutura corporal e da aparência física, em relação a nós mesmos e aos outros (DAMASCENO et al; 2006 apud FERNANDES F; 2019). As relações com o corpo sofrem influências de mídia, moda, cultura e época, e apesar de serem consideradas influências externas, estão intimamente ligadas à percepção do sujeito com si mesmo (DAMASCENO et al; 2006 apud FERNANDES F; 2019). A insatisfação corporal e o investimento excessivo no corpo estão relacionados com a adoção de comportamentos alimentares não saudáveis como compulsão alimentar e indução de vômito (LEVINE; PIRAN, 2004 apud FERNANDES F; 2019), e podem afetar decisões como, por exemplo, parar de fumar temendo o ganho de peso (REI, 2005 apud FERNANDES F; 2019), bem como investimento em cirurgias plásticas desnecessárias, colocando em risco a saúde e o bem-estar do indivíduo (COELHO, 2017 apud FERNANDES F; 2019). 23 Apesar de ser mais frequente em mulheres, a insatisfação corporal também afeta homens que se preocupam em especial com sua aparência física, nestes casos, geralmente relacionada ao baixo peso e menor musculosidade além de preocupação em não conseguir um biótipo socialmente aceito (WATKINS, 2008 apud FERNANDES F; 2019). Sabe –se também que os conteúdos veiculados pelos meios de comunicação podem afetar as escolhas de um indivíduo e, consequentemente, sua saúde física e mental por várias vertentes: se por um lado exibe um padrão de beleza constituído de corpo magro, por outro lado supervaloriza a alimentação, com postagens de alimentos, e dissemina informações distorcidas no que se refere à alimentação e nutrição, favorecendo a adoção de práticas alimentares duvidosas (TIGGEMANN et al.2018 apud FERNANDES F; 2019). 6 TRANSTORNOS ALIMENTARES: FATORES DE RISCO BIOLÓGICOS, NEUROPSICOLÓGICOS, GENÉTICOS E FAMILIARES Fonte: greenme.com.br Considera-se importante descrever brevemente a influência dos fatores biológicos, neuropsicológicos, genéticos e familiares no desenvolvimento e manutenção dos transtornos alimentares. Em relação aos aspectos biológicos, ainda 24 há poucos estudos conclusivos. Uma das hipóteses que tem sido investigada se refere à possível disfunção do sistema nervoso central, mais especificamente à existência de déficits cognitivos associados (Duchesne et al., 2004; apud OLIVEIRA L; 2009). Outra tese explorada atualmente é a de alterações em vias noradrenérgicas e da serotonina (5-HT) nas patologias do comportamento alimentar. Essas alterações seriam um fator predisponente por meio de ações no humor, controle dos impulsos, obsessividade, regulação de fome e saciedade, conforme OLIVEIRA L; (2009). Alguns achados confirmam essa hipótese: diminuição da responsividade do receptor pós-sináptico de serotonina, achatamento da produção de prolactina após estimulação por agentes serotonérgicos e controle parcial dos episódios bulímicos por agentes facilitadores da transmissão da serotonina (Bacaltchuk, Hay & Mari, 2000; apud OLIVEIRA L; 2009). Todavia, mais pesquisas na área são necessárias para um maior aprofundamento e consistência dos resultados. Os resultados de avaliações neuropsicológicas apontam déficits de atenção, déficits viso-espaciais e de viso-construção em pacientes acometidas de anorexia nervosa e déficits de atenção seletiva e das funções executivas em pacientes bulímicas (Duchesne et al., 2004). Ressalta-se a dificuldade em afirmar se tais alterações cognitivas já estavam presentes antes da instalação da enfermidade ou se são uma das consequências desta (Hercovici & Bay, 1997 apud OLIVEIRA L; 2009). Emrelação aos aspectos genéticos dos transtornos alimentares, a evidência mais consistente está baseada na concordância para anorexia em gêmeos monozigotos entre 35 e 50% e entre os dizigotos entre 10 e 17% (Cordás & Busse, 1995 apud OLIVEIRA L; 2009). É importante salientar também que a prevalência de anorexia nervosa entre irmãs é de três a 10%, índices que excedem as expectativas normais. Além disso, parentes de primeiro grau de indivíduos acometidos de transtornos alimentares apresentam um risco maior de desenvolver essas doenças (Bulik, Sullivan, Wade & Kendler, 2000 apud OLIVEIRA L; 2009). Calcula-se que parentes em primeiro grau de pacientes anoréxicos têm 11 vezes mais chance de desenvolver o transtorno do que parentes de indivíduos saudáveis. Já na bulimia nervosa esse risco é quatro vezes maior (Strober et al., 2000 apud OLIVEIRA L; 2009). 25 Quanto aos aspectos familiares, observa-se uma série de padrões disfuncionais de interação como dificuldades na comunicação, baixa autoestima e integração entre os membros, papéis inadequados, baixa tolerância a conflitos e relações conjugais insatisfatórias (Bruch, 1973; Minuchin, Rosman & Baker, 1978; Oliveira, 2004; Sanchez, 2006 apud OLIVEIRA L; 2009). A literatura também descreve ambientes familiares típicos em cada transtorno: de coesão intensa para os pacientes com anorexia nervosa, desengajamento em pacientes bulímicos e desengajamento grave em pacientes com binge eating disorder (Morgan et al., 2002 apud OLIVEIRA L; 2009). Assim, frente à complexidade destas patologias, considera-se importante salientar, mesmo que brevemente, que o tratamento deve ser conduzido por uma equipe interdisciplinar (Antunes et al., 2006; Deiro, 2009; Duchesne & Appolinário, 2001 apud OLIVEIRA L; 2009). 7 OS TRANSTORNOS ALIMENTARES Transtorno disfórmico muscular: vigorexia Um dos principais fatores causais de alterações da percepção da imagem corporal é a imposição, pela mídia, sociedade e meio esportivo, de um padrão corporal considerado ideal, ao qual o sucesso e a felicidade individual estariam diretamente associados (RUSSO, 2005 apud ZIMMERMANN F; 2013). A determinação da imagem corporal é influenciada por componentes biofísicos, psicológicos, ambientais e comportamentais bastante complexos. Entre tais componentes, os transtornos psicológicos relacionados à imagem corporal são conhecidos por estarem associados às desordens alimentares (anorexia e bulimia). No entanto, os transtornos da imagem corporal não são restritos a populações com desordens alimentares, conforme ZIMMERMANN F; (2013). Há conhecimento de que tais transtornos também estejam relacionados principalmente com a insatisfação com o baixo peso, tamanho, aparência e volume corporal (JOHNSTON et al. 2004 apud ZIMMERMANN F; 2013), como por exemplo, os transtornos disfórmicos corporais e ou musculares. 26 O termo disformia corporal foi proposto em 1886 pelo italiano Morselli. Embora exista um grande número de pessoas muito preocupadas com sua aparência, para ser diagnosticada essa disformia, deve haver sofrimento significativo e uma reiterada obsessão com alguma parte do corpo que impeça uma vida considerada normal (MOTA et al., 2011 apud ZIMMERMANN F; 2013). Nos transtornos disfórmicos corporais, a preocupação é com áreas especificas do corpo (ASSUNÇÃO, 2002 apud ZIMMERMANN F; 2013). Já quando esse quadro se fixa na questão muscular, como uma preocupação em não ser suficientemente forte e musculoso em todas as áreas do corpo, havendo uma busca obsessiva por uma silhueta “perfeita”, acarretando limitações no cotidiano das pessoas com esses “sintomas”, denomina-se de transtorno disfórmico muscular ou vigorexia (ASSUNÇÃO, 2002; POPE et al, 1997 apud ZIMMERMANN F; 2013). O indivíduo com vigorexia se comporta como um “viciado”, achando que nada em seu corpo está bom, por isso busca obstinadamente uma silhueta perfeita que, em muitos casos, sabe-se ser impossível alcançar. Entre tantos problemas que esse transtorno ocasiona às pessoas, é possível afirmar que os mais graves estão associados ao uso indevido de suplementos alimentares e até mesmo o de esteróides anabolizantes com o objetivo único de acelerar os resultados e chegar ao objetivo, o corpo ideal, conforme ZIMMERMANN F; (2013). Fonte: postal.pt 27 Segundo Sabino (2002 apud ZIMMERMANN F; 2013) apud Oliveira (2010 apud ZIMMERMANN F; 2013), os indivíduos com vigorexia, além de sofrerem com sua imagem corporal, passam a destinar boa parte de seu tempo livre à prática de exercícios de musculação, fazendo comparações e/ou diferenciações por meio do reflexo no espelho e diretamente com outros frequentadores da academia. Esses indivíduos chegam a verificar ganhos de massa muscular em torno de 13 vezes ao dia (MACIEL, 2006 apud MOTA; AGUIAR, 2011 apud ZIMMERMANN F; 2013). Outro ponto a ser mencionado concerne ao humor desses indivíduos, pois demonstram irritabilidade quando não praticam musculação, imaginando uma deterioração de sua aparência, como a perda de peso e músculos. Esse transtorno ocorre predominantemente em indivíduos do sexo masculino e, segundo pesquisas previamente realizadas, são em sua grande maioria jovens adultos entre 18 e 35 anos (AYENSA, 2003 apud ZIMMERMANN F; 2013). Porém, sua ocorrência já foi observada também em mulheres. São pessoas que fazem musculação ou fisiculturismo e que, mesmo musculosas e fortes fisicamente, ao se visualizarem em espelhos, se sentem magras e fracas. Pope et al. (2000 apud ZIMMERMANN F; 2013) apud Mota e Aguiar (2011 apud ZIMMERMANN F; 2013) definiram que, para uma pessoa ser diagnosticada vigorexa, ela deverá apresentar os seguintes comportamentos: Preocupação com o fato de que seu corpo não seja suficientemente forte e musculoso, conforme ZIMMERMANN F; (2013). Presença de sofrimento e prejuízo social, ocupacional e em outras áreas de funcionamento clinicamente significantes diante de tal preocupação, conforme ZIMMERMANN F; (2013). Desistência de atividades sociais, ocupacionais ou recreativas importantes, pois o sujeito tem uma necessidade compulsiva de manter sua rotina de exercícios físicos ou sua dieta, conforme ZIMMERMANN F; (2013). Evitamento, por parte da pessoa, de situações nas quais seu corpo possa ser exposto, ou, quando não puder evitá-lo, vivência de sofrimento e ansiedade intensos, conforme ZIMMERMANN F; (2013). 28 Opção por exercitar-se, fazer dieta ou usar substâncias para melhorar seu desempenho a despeito de efeitos colaterais ou consequências psicológicas, conforme ZIMMERMANN F; (2013). Apesar da centralidade que o corpo ganhou nos processos de construção identitária e dos riscos da prática excessiva e desregrada de exercícios físicos, como na musculação, muitos profissionais e futuros profissionais da área da Educação Física ainda não conhecem a vigorexia e seus malefícios, conforme ZIMMERMANN F; (2013). Transtorno alimentar anorexia nervosa O início do quadro clínico ocorre frequentemente a partir da elaboração de uma dieta, em que o paciente inicia a restrição de grupos alimentares, eliminando aqueles que julga mais calóricos. Essa restrição alimentar aumenta progressivamente, com diminuição do número de refeições, podendo evoluir drasticamente, até o jejum. O paciente tem como meta emagrecer, cada vez mais, desejando a todo custo ficar cada vez mais magro, conforme BORGES N; et al., (2006). Fonte: imeb.com.br 29 Geralmente os pacientes relatam que o início do quadro se deu após um fator estressante como algum comentário sobre seu peso, ou o término de relacionamento, ou perda de ente querido. Paulatinamente o paciente passa a viver exclusivamente em função da dieta, do peso, da forma corporal, das atividades físicas, de tabela de calorias e do medo patológico de engordar.Concomitantemente esses pacientes apresentam traços de personalidade como preocupações e cautela em excesso, medo de mudanças, hipersensibilidade e gosto pela ordem, conforme BORGES N; et al., (2006). Existem dois tipos de apresentação da anorexia nervosa: o restritivo e o purgativo. No primeiro, os pacientes utilizam comportamentos restritivos associados à dieta. Na anorexia tipo purgativa, acontecem episódios de compulsão alimentar, seguidos de métodos compensatórios, como vômitos auto induzidos e o uso de laxantes e diuréticos, conforme BORGES N; et al., (2006). Entre os sintomas que podem ser referidos pelos pacientes estão: intolerância ao frio, fadiga, queda de cabelos, constipação, dor abdominal, anorexia, letargia, pés e mãos frios, amenorréia, dificuldade de concentração, etc. Como em geral os pacientes não admitem estar doentes, eles tendem a não relatar espontaneamente suas queixas, ficando a cargo do médico de questioná-las. A imagem corporal distorcida é um objeto de incentivo para o desenvolvimento da anorexia nervosa, a dicotomia entre o social e o orgânico colabora e aumenta os fatores que levam a ingestão inadequada, para anorexia, conforme PEREIRA C; et al., (2015). Estas apresentam como características importantes um padrão de comportamento alimentar gravemente alterado e inadequado, e alterações da percepção do formato corporal. Os autores, ainda afirmam que o indivíduo portador de anorexia nervosa, mesmo num estado severo de emagrecimento considera-se acima do peso devido à ocorrência da distorção da autoimagem corporal, no qual o mesmo se imagina com peso acima do real, muitas vezes se classificando como obeso (SAIKALI, 2004 apud PEREIRA C; et al., 2015). A alimentação é irregular e não contabiliza os nutrientes necessários para o bom desenvolvimento corporal, assim alimentos ricos em carboidratos e açúcares são evitados pelos portadores de anorexia nervosa (CAMPOS; HAACK, 2012 apud PEREIRA C; et al., 2015). 30 A anorexia nervosa é uma doença complexa que para Leite e Amaral (2015 apud PEREIRA C; et al., 2015), pode chegar à inanição, conjugada com a perda excessiva de peso corporal; o indivíduo apresenta um grande medo de engordar ou ganhar peso. O desenvolvimento dessa doença pode acontecer de forma restritiva, a partir de dietas, jejuns e até exercícios; atitudes que podem desencadear transformações metabólicas e hormonais. A prevalência de anorexia nervosa na atualidade vem crescendo e, por este motivo, cada vez mais é um distúrbio investigado pela crescente morbidade e mortalidade (FAIRBURN, 2008 apud PEREIRA C; et al., 2015). Segundo Borges et al (2006 apud PEREIRA C; et al., 2015), há várias consequências que podem acometer os indivíduos com anorexia nervosa, dentre eles estão: intolerância ao frio, fadiga, queda de cabelos, constipação, dor abdominal, anorexia, letargia, pés e mãos frios, amenorreia, dificuldade de concentração. De acordo com PEREIRA C; et al., (2015), o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais - DSM 5 caracteriza a anorexia nervosa como um transtorno da mente e da conduta alimentar, de acordo com os seguintes requisitos: Restrição da ingestão de energia levando a um significante baixo peso corporal no contexto de idade, sexo, trajetória de desenvolvimento e saúde física. Significante baixo peso é definido como menor do que o minimamente normal ou, para crianças e adolescentes, menor do que minimamente esperado, conforme PEREIRA C; et al., (2015). Medo intenso do ganho de peso ou de se tornar gordo, ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso mesmo com peso inferior, conforme PEREIRA C; et al., (2015). Perturbação no modo de vivenciar o peso, tamanho ou formas corporais; excessiva influência do peso ou forma corporal na auto- avaliação; ou persistente falta de reconhecimento da seriedade do atual baixo peso corporal, conforme PEREIRA C; et al., (2015). Transtorno alimentar Bulimia Nervosa A bulimia nervosa é um transtorno da alimentação que possui como características fundamentais: episódios recorrentes de compulsões periódicas de ingestão de uma grande quantidade de alimentos, em um espaço curto de tempo, que 31 dura em torno de duas horas e um sentimento de falta de controle sobre o comportamento alimentar durante o episódio; comportamento compensatório inadequado recorrente, com o fim de prevenir o aumento de peso, como a autoindução de vômito, uso indevido de laxantes, diuréticos, ou outros medicamentos, jejuns ou exercícios excessivos; ocorrência de compulsões, no mínimo, duas vezes por semana, no espaço de três meses; autoavaliação indevidamente influenciada pela forma e peso do corpo (ROMARO; ITOKAZU, 2002 apud DINIZ N; et al., 2017). A identificação da bulimia nervosa acontecerá por meio de episódios periódicos de compulsão, excessos alimentares, seguidos de vômitos e outras ações compensatórias que evitem o aumento de peso, conforme PEREIRA C; et al., (2015). Segundo Cordás e Claudino (2002 apud DINIZ N; et al., 2017), o comportamento de forçar o vômito é muito antigo e pode ser encontrado precocemente na história de diferentes povos da Antiguidade. No antigo Egito, por exemplo, grande parte do papiro de Eber é dedicado ao estímulo e às virtudes do ato de vomitar. É sabido que, na medicina grega, Hipócrates também recomendava a indução de vômitos por dois dias consecutivos todo mês como um método de prevenir diferentes doenças. Os romanos criaram o vomitorium, que lhes permitia alimentar-se em excesso durante os banquetes, e posteriormente vomitar em local reservado para esta finalidade, às vezes usando uma pena de ave para estimular o reflexo do vômito na garganta, conforme DINIZ N; et al., (2017). Fonte: mdsaude.com 32 Vomitar é umas das ações para prevenir ganho de peso da pessoa com bulimia nervosa, pois, nesse momento, elas muitas vezes sentem que tem mais controle sobre sua vida. Não há uma única causa específica para a bulimia nervosa, mas fatores que possam contribuir, conforme DINIZ N; et al., (2017). Os sintomas parecem surgir por vários motivos, como calmante, anestésico e como conforto para momentos de solidão. Outro aspecto evidenciado ao longo do trabalho foi o uso da comida como satisfação de outras necessidades que não a fome fisiológica; figurando, assim, como uma forma de compensação, conforme DINIZ N; et al., (2017). Compulsão e comportamento alimentar: transtorno de compulsão alimentar periódica (TCAP): Fonte: endocrinologistasp.med.br A etiologia da obesidade como já compreendida, pode ser multifatorial, no entanto, é estarrecedor como a porcentagem de sobrepeso e obesidade vem tomando conta de uma sociedade tão moderna em alguns aspectos e que tem se deixado adoecer em outros. Segundo Escrivão et al., (2000 apud MARQUES E; et al., 2016), a obesidade exógena, ou seja, determinado por fatores de ordem ambiental é responsável por 95 a 98% dos casos, assim, apenas 2% dos casos têm como etiologia a obesidade endógena, isto é, inerente ao organismo e/ou fatores biológicos. 33 Dentre os fatores exógenos da obesidade, o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP), referida na literatura internacional com o nome Binge Eating Disorder, é um dos transtornos mais constatado na obesidade (CORTEZ, et al., 2011 apud MARQUES E; et al., 2016). O TCAP, de acordo com Nunes (2012 apud MARQUES E; et al., 2016) é um transtorno psiquiátrico caracterizado por episódios de hiperfagia (aumento anormal do apetite), onde o indivíduo em um curto período de tempo, até duas horas, ingere grande quantidade de alimentos sem ter o controle do quanto e do que ingeriu, logo após a ingestão, desenvolve um sentimento de culpa, vergonha, raiva entre outros que o leva ao arrependimento do comportamento. Sendo, portanto, que tais comportamentosprecisam ocorrer pelo menos uma vez na semana, durante três meses consecutivos. De acordo com MARQUES E; et al., (2016), constam abaixo os critérios para o diagnóstico de TCAP de acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: De acordo com MARQUES E; et al., (2016): A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão alimentar é caracterizado por ambos os seguintes critérios: Ingestão em um período limitado de tempo (por exemplo, dentro de um período de 2 horas) de uma quantidade de alimentos definitivamente maior do que a maioria das pessoas consumiria em um período similar, sob circunstâncias similares, conforme MARQUES E; et al., (2016). Um sentimento de falta de controle sobre o episódio (por exemplo, um sentimento de não conseguir parar ou controlar o que ou quanto se come), conforme MARQUES E; et al., (2016). De acordo com MARQUES E; et al., (2016): B. Os episódios de compulsão alimentar estão associados a três (ou mais) dos seguintes critérios: Comer muito e mais rapidamente do que o normal, conforme MARQUES E; et al., (2016). Comer até sentir-se incomodamente repleto, conforme MARQUES E; et al., (2016). Comer grandes quantidades de alimentos, quando não está fisicamente faminto, conforme MARQUES E; et al., (2016). 34 Comer sozinho por embaraço devido à quantidade de alimentos que consome, conforme MARQUES E; et al., (2016). Sentir repulsa por si mesmo, depressão ou demasiada culpa após comer excessivamente), conforme MARQUES E; et al., (2016). C. Acentuada angústia relativa à compulsão alimentar, conforme MARQUES E; et al., (2016); D. A compulsão alimentar ocorre, em média um dia por semana, durante três meses, conforme MARQUES E; et al., (2016); E. A compulsão alimentar não é associada com o recorrente uso de comportamentos compensatórios inapropriados como na bulimia nervosa e não ocorre exclusivamente durante o curso da bulimia nervosa ou anorexia nervosa, conforme MARQUES E; et al., (2016). De acordo com MARQUES E; et al., (2016), em relação à gravidade dos episódios podemos classificar em: Leve: média de 1 a 3 episódios de compulsão alimentar por semana, conforme MARQUES E; et al., (2016). Moderada: média de 4 a 7 episódios de compulsão alimentar por semana, conforme MARQUES E; et al., (2016). Grave: média de 8 a 13 episódios de compulsão alimentar por semana, conforme MARQUES E; et al., (2016). Extremo: média de 14 ou mais episódios de compulsão alimentar por semana, conforme MARQUES E; et al., (2016). Todavia, há diferenças entre compulsão alimentar e TCAP. Um indivíduo para receber o diagnóstico de TCAP, necessita preencher os critérios supracitados do DSM, assim como, apresentar “sofrimento e impedimentos na vida decorrentes desta patologia” (BORGES & JORGE, 2000 apud MARQUES E; et al., 2016). Ainda que o excesso de peso não seja um critério para diagnóstico de TCAP, frequentemente este transtorno “se associa ao sobrepeso e a diversos graus de obesidade”, pois, estatísticas apontam que na população considerada obesa que procuram tratamentos para emagrecer, cerca de 30% apresentam quadro de TCAP, valores altos comparados à população geral que pode variar de 1,8 a 4,6% com este transtorno (Duchesne, et al., 2007, p. 81 apud MARQUES E; et al., 2016). 35 O TCAP tende a desencadear diversos prejuízos para a vida do indivíduo, ainda mais, quando associada com o excesso de peso. Neste sentido, Vieira e Meyer (2013 apud MARQUES E; et al., 2016) e Duchesne et al., (2007 apud MARQUES E; et al., 2016), contribuem dissertando que, além das comorbidades existente decorrente da obesidade, quando associado ao TCAP, esses grupos apresentam níveis superiores de psicopatologias elevando o agravo de danos psicológicos. Pois, os níveis de stress são maiores, fazendo com que o comportamento de comer compulsivamente se eleve, a autoestima se apresente mais baixa, havendo uma preocupação a mais com a imagem corporal e a redução de peso, além do mais, muitos tendem apresentar humor depressivo, um alto grau de ansiedade, isolamento social, entre outros sintomas psicológicos disfuncionais para o ser humano, conforme MARQUES E; et al., (2016). Assim, um aporte de uma equipe multiprofissional, para que as comorbidades e os sintomas psicológicos disfuncionais do excesso de peso associado com TCAP possam ser trabalhados e modificados a favor deste, até atingirem uma melhor qualidade de vida é de extrema relevância, conforme MARQUES E; et al., (2016). Ortorexia Nos transtornos da conduta alimentar, os mais conhecidos e prevalentes são a anorexia e a bulimia nervosa, em que a pessoa está excessivamente preocupada com a quantidade de alimento que ingere. Nesse cenário surge um novo, mas igualmente importante transtorno alimentar, chamado Ortorexia Nervosa (ON), que faz com que o indivíduo tenha uma preocupação exacerbada com sua saúde, prezando pela extrema qualidade dos alimentos que irá consumir, conforme LOPES M, et al., (2009) Esse transtorno é uma enfermidade ou conduta incorreta na alimentação que pode interferir, negativamente, na vida do doente que, na busca incansável pela saúde, pode agir de forma descontrolada e insana (GONZÁLEZ et al., 2007 apud LOPES M, et al., 2009). A ortorexia nervosa foi descoberta por um médico, adepto da medicina alternativa, Steven Bratman. Este observou diferentes grupos e teorias ligadas à alimentação e encontrou pessoas que alimentavam-se com a intenção de superar doenças ou para melhorar a saúde em geral. Observou também, que essa dieta exigia uma disciplina reforçada e enorme vontade para mudar hábitos alimentares a partir da infância e da cultura circundante. Esse tipo de comportamento, “Ortorexia 36 Nervosa”, significa uma fixação patológica em se alimentar corretamente, ou seja, preocupar-se exageradamente com a qualidade da alimentação, conforme LOPES M, et al., (2009). Fonte:big1news.com.br Nesse tipo de transtorno, a pessoa considera sua conduta saudável, tornando mais difícil o diagnóstico da doença. Nos distúrbios alimentares, é fundamental uma intervenção precoce, já que estudos demonstram que quanto mais crônicos são os sintomas, pior é a resposta ao tratamento (ALONSO, 2005 apud LOPES M, et al., 2009). Geralmente, esse transtorno pode ser considerado de longo prazo e não transitório em que o comportamento tem um impacto negativo de alta significância na qualidade de vida do indivíduo. No entanto, por ser um assunto tão novo, existem poucas publicações a respeito das características epidemiológicas desse distúrbio (DONINI et al., 2004 apud LOPES M, et al., 2009). 8 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DOS TRANSTORNOS ALIMENTARES Os TA sofrem influência multifatoriais, de níveis culturais, biológicos e pessoais e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) vem de encontro a esses transtornos como um método terapêutico satisfatório por ser uma intervenção objetiva, 37 semiestruturada e focada em metas específicas; identificando e buscando a correção das dinâmicas que favorecem o desenvolvimento e manutenção de determinados comportamentos insatisfatórios, o que tem sido eficaz nos tratamentos de quadros clínicos de TA, conforme SILVA V; (2006). Anorexia (AN) Focada na diminuição da restrição alimentar, a técnica de tratamento concentra-se no estabelecimento de horários regulares para alimentação e gradativamente a exposição a alimentos e situações evitadas. Ao buscar a diminuição da frequência da atividade física, o tratamento é focalizado em orientar o paciente a envolver-se em situações que possa competir com a prática de exercícios e que beneficiem as relações interpessoais, conforme SILVA V; (2006). A abordagem do distúrbio da imagem corporal é um ponto central do tratamento de AN e se faz necessário conhecer trêscomponentes: percepção da imagem corporal, ansiedade associada à aparência e evitação da exposição corporal; a partir daí para a diminuição da distorção da percepção corporal. São solicitados ao paciente alguns procedimentos como: desenhos feitos pelo paciente ao olhar-se no espelho e o desenho feito do ponto de vista do terapeuta para que haja a comparação e perceba- se a diferença entre ambos, proposta de uso de roupas mais justas e curtas e um trabalho que propicie uma diminuição da ansiedade aprendendo a lidar de forma saudável com eventuais, conforme SILVA V; (2006). A modificação do sistema de crenças é um ponto importante no desenvolvimento de sentimentos e comportamentos do indivíduo, e os pacientes portadores de TA nutrem crenças disfuncionais e distorcidas acerca de alimentação, formato corporal, peso e valores de estima pessoal. Eles associam a magreza a valores pessoais a atentam-se sempre a informações que confirmam essas crenças, desatentando-se a fatos que às questionem. A TCC emprega técnicas que levam o paciente a analisar suas crenças, encontrando dessa forma os aspectos que confirmam ou repudiam esses pensamentos. Exposição gradual do corpo, entre outras, são técnicas usadas pelo terapeuta de TCC como sujeito ativo para auxiliar o paciente na mudança de suas crenças e comportamentos, conforme SILVA V; (2006). 38 Através da abordagem da autoestima a terapia busca levar o paciente a reconhecer seus sucessos e qualidades visando reduzir as expectativas de desempenho, modificar comportamentos ligados a relacionamentos interpessoais e o crescimento da autoestima, conforme SILVA V; (2006). O programa de TCC apresenta resultados de eficácia em relação à diminuição da restrição alimentar, aumento de peso, reduzindo também dessa forma o aparecimento de pensamento difusos acerca de alimentação e peso; o que resulta em melhora nas funções sexuais e do humor. São utilizadas técnicas de manutenção de resultados, prevendo possíveis recaídas e dificuldades que possam ser encontradas futuramente, conforme SILVA V; (2006). Bulimia Nervosa (BN) Para essa patologia a TCC utiliza técnicas que visam à normalização do padrão alimentar e controle das compulsões alimentares, aborda também modificação da imagem corporal, sistemas de crenças disfuncionais e manutenção da autoestima. Controle dos episódios de compulsão alimentar e da indução de vômito: inicialmente com a ajuda do terapeuta de TCC o paciente é incentivado a ingerir alimentos que normalmente desencadeariam episódios de compulsão alimentar e vômitos e desenvolver a partir daí o uso de técnicas de autocontrole para redução da ansiedade, tristeza e outros sentimentos facilitadores de ECA (episódios de compulsão alimentar) e indução de vômito, conforme SILVA V; (2006). Eliminação do uso de laxantes e diuréticos: essa eliminação se dá de maneira gradual, à medida que a alimentação vai se regularizando, e é importante ressaltar ao paciente que o possível aumento de peso que se dá nessa fase deve-se a retenção hídrica e não ao aumento de gordura corporal. Modificação dos sistemas de crenças: pacientes com BN adotam regras dietéticas inflexíveis e pequenos lapsos nessa dinâmica desencadeiam um descontrole alimentar, é o mecanismo de pensamento que a TCC chama de “tudo ou nada”. Os mecanismos de modificação de crenças central, aparência e valor pessoal se dão da mesma maneira que na anorexia nervosa, conforme SILVA V; (2006). 39 A TCC tem sido avaliada como uma forma de intervenção muito satisfatória até por superar resultados alcançados com o uso de medicação isolada. No tratamento de BN tem sido apontada como eficaz na redução e remissão da frequência da ECA, comportamentos purgativos, restrição alimentar, preocupação com peso, formato corporal, redução dos sintomas depressivos, melhora da autoestima e interação social. A TCC considera a relação terapêutica fundamental para obtenção de melhora nos TA. O terapeuta se coloca em atitude empática em relação às dificuldades e necessidades do paciente apresentando, dessa forma, a terapia como um trabalho em equipe, conforme SILVA V; (2006). As técnicas utilizadas no tratamento da bulimia nervosa (BN) objetivam a normalização do padrão alimentar e o desenvolvimento de estratégias para controle de episódios de compulsão alimentar (ECA) e dos comportamentos compensatórios. A TCC aborda também a autoestima, a modificação da relação com a imagem corporal e a modificação do sistema de crenças disfuncionais, conforme DUCHESNE M et al., (2002). Tem se mostrado mais eficaz no tratamento dos transtornos alimentares do que outra terapia consultada, entretanto, é necessário que o trabalho seja realizado em equipe multidisciplinar, sendo necessária à associação do tratamento psicológico com outros tratamentos tais como: médico clínico psiquiátrico e nutricional. E o envolvimento familiar também é muito importante, podendo ajudar a criar uma estrutura de colaboração e facilitação de mudanças, conforme SILVA V; (2006). 8.1 Tratamento no enfoque da Terapia Cognitivo Comportamental Um dos principais teóricos do modelo cognitivo comportamental para os transtornos alimentares foi Fairburn. Sua abordagem relaciona pensamentos, emoções e comportamentos manifestos, onde o tratamento objetiva auxiliar o paciente a ter controle comportamental sobre sua alimentação, de forma a ajudar na modificação dos hábitos alimentares anormais ou desregulados, ao peso e à imagem corporal (OLIVEIRA; DEIRO, 2013; WILLHELM; FORTES; PERGHER, 2015 apud MAIMONE G; 2018). 40 As técnicas cognitivas são extremamente utilizadas, avaliadas e reconhecidas como boas estratégias no tratamento dos quadros clínicos de transtornos alimentares. Além disso, vários ensaios clínicos indicaram que a TCC facilita a remissão ou diminuição da restrição e/ou compulsão alimentar (LUCENA-SANTOS; ARAUJO, 2015 apud MAIMONE G; 2018). Diante disso, de acordo com Oliveira e Deiro (2013 apud MAIMONE G; 2018) as estratégias no enfoque da TCC têm como objetivo a diminuição da restrição e da compulsão alimentar, dos episódios bulímicos e da frequência das atividades física, diminuição do distúrbio da imagem corporal, a modificação do sistema disfuncional de crenças associadas à aparência, peso e alimentação, além do aumento da autoestima. Ou seja, a TCC contribui para tratamento dos transtornos alimentares, pois facilita a modificação de crenças disfuncionais. Diante disso, podem ser utilizadas técnicas que busquem a construção de novos aprendizados que auxiliem no processo de mudança das crenças distorcidas, que consequentemente irá modificar emoções e comportamentos (LUCENA-SANTOS; ARAUJO, 2015 apud MAIMONE G; 2018). Além das técnicas cognitivas, a TCC também emprega técnicas comportamentais para auxiliar na modificação dos hábitos alimentares. Algumas técnicas que podem ser utilizadas são, a auto monitoração, que consiste na observação e registro dos alimentos ingeridos e das circunstâncias em que foram ingeridos, técnicas para controle de estímulos, que envolve a identificação das situações que favorecem comportamentos de compulsão alimentar, o desenvolvimento de um padrão de vida que minimize o contato do paciente com situações estressantes e o treinamento de resolução de problemas, o qual irá ajudar no desenvolvimento de estratégias para superar as dificuldades sem recorrer à alimentação inadequada (DUCHESNE, et al., 2007 apud MAIMONE G; 2018). De acordo com Willhelm, Fortes e Pergher (2015 apud MAIMONE G; 2018) a TCC para anorexia foca na distorção da imagem corporal e em técnicas comportamentais, pois seu principal objetivo é normalizar o peso e melhorar o comportamento alimentar. Cabe ressaltar que, as pesquisas apontam que as técnicas e disposições da psicoterapia comportamental têm se mostrado eficiente no tratamento
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