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Transtornos alimentares e obesidade

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Prévia do material em texto

SUMÁRIO 
 
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 
2. TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL E OS PADRÕES 
COMPORTAMENTAIS ............................................................................................... 4 
3. COMPORTAMENTO ALIMENTAR HUMANO E SAÚDE .................................... 6 
4. TRANSTORNOS ALIMENTARES (TA’s) .......................................................... 11 
4.1 Bulimia Nervosa (BN).......................................................................................... 13 
4.2 Anorexia Nervosa (AN) ....................................................................................... 17 
4.3 Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) ...................................... 23 
4.4 Transtorno Alimentar Restritivo/ Evitativo (TARE) .............................................. 26 
4.5 Alotriofagia ou Síndrome de PICA ...................................................................... 29 
5. NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL .................................................................... 31 
5.1 Técnicas de Terapia Comportamental ................................................................ 33 
6. OBESIDADE ....................................................................................................... 44 
6.1 A obesidade e suas influências metabólicas ....................................................... 48 
6.2 Tratamento da obesidade ................................................................................... 50 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 56 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
Prezado aluno, 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
4 
 
2. TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL E OS PADRÕES 
COMPORTAMENTAIS 
 
Fonte: shre.ink/muJs 
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) baseia-se na ideia de que os 
padrões comportamentais são influenciados por fatores cognitivos (pensamentos e 
crenças) e emocionais (BAKER et al., 2020). 
Segundo Neufeld, Moreira e Xavier (2012), a TCC aplicada a essa questão 
permite que o indivíduo compreenda seus hábitos alimentares e os fatores que 
influenciam na manutenção desses hábitos, podendo assim refletir sobre eles e 
modificá-los através da reestruturação cognitiva e mudanças de estilo de vida que 
podem ser rastreadas a longo prazo. 
A TCC para tratar obesidade ou sobrepeso pode ser usada individualmente ou 
em grupo. No entanto, Neufeld e Rangé (2017) argumentam que, devido aos fatores 
terapêuticos de universalidade e coesão do grupo, a Terapia Cognitivo 
Comportamental em Grupo (TCCG) pode ser mais eficaz para perda de peso, pois a 
terapia em grupo proporciona um ambiente que permite a experimentação de novos 
comportamentos. 
Cabe ressaltar que o objetivo fundamental de qualquer grupo é a possibilidade 
de mudança que abrange os membros envolvidos no processo, o que favorece a 
aquisição de posições diferenciadas diante da situação grupal (SASAKI, 2017). 
Portanto, a TCCG, ao trabalhar na reestruturação cognitiva, envolve a modificação de 
crenças e padrões de pensamento disfuncionais e comportamentos associados. 
 
5 
 
No caso da TCCG para obesos e com sobrepeso, estudos mostram que ela é 
superior à psicoterapia individual, pois proporciona um ambiente homogêneo em que 
os pacientes têm experiências semelhantes em relação à demanda feita (NEUFELD 
et al., 2012; NEUFELD et al., 2016; NEULFELD & RANGÉ, 2017; MAGILL et al., 
2020). 
Nessa perspectiva a TCCG para esses indivíduos, proporciona aos membros 
do grupo o reconhecimento de suas cognições disfuncionais, de acordo com a 
demanda proposta, o que afeta diretamente o comportamento alimentar 
desadaptativo. Portanto, a TCCG proporciona reestruturação dessas cognições por 
meio de seu reconhecimento e especificidades. Técnicas para esse fim, resultam na 
modificação dos hábitos alimentares e na aquisição de hábitos mais saudáveis, 
levando à perda de peso. Curiosamente, no entanto, a perda de peso é um objetivo 
secundário alcançado por meio de modificação cognitiva e comportamental 
(NEUFELD et al., 2012, NEULFELD et al., 2016, NEULFELD; RANGÉ, 2017). 
Além do foco na compreensão, monitoramento de cognições e 
comportamentos, a TCCG em obesos também foca na psicoeducação da obesidade 
e da alimentação emocional, fornecendo ao cliente informações úteis a curto, médio 
e longo prazo neste termo de ajuda do processo. A alimentação emocional consiste 
na ingestão de alimentos influenciada por estados emocionais. 
Fatores cognitivos como baixa autoestima, visão negativa de si, sentimento de 
culpa e frustração, assim como estados de ansiedade, estresse e tristeza podem 
influenciar a alimentação emocional, pois o indivíduo alimenta-se na tentativa de 
suprimir a emoção negativa. Através da psicoeducação os indivíduos passam a 
compreender os processos cognitivos envolvidos na alimentação (HINDLE et al., 
2020, VAINIK; GARCÍA-GARCÍA; DAGHER, 2019). 
Também são trabalhados treinos de autocontrole, desenvolvimento de hábitos 
saudáveis, treino de habilidades sociais e prevenção de recaídas. Esta última merece 
atenção especial, pois é o principal diferencial da TCC em relação a outras terapias 
utilizadas em tratamentos para perda de peso, uma vez que a maioria dos tratamentos 
oferecidos foca apenas no peso, mas não em sua manutenção a longo prazo. 
A esse respeito, dados do Ministério da Saúde mostram que 90% ou mais das 
pessoas que emagrecem por meio de dieta ou medicação tendem a recuperar o peso 
alguns meses depois (DELUCHI; SOUZA, 2013; WHO, 2018). Embora a eficácia 
 
6 
 
desse tratamento tenha sido comprovada cientificamente, são poucos os estudos que 
detalham a estrutura do programa e refletem a experiência de cada sessão 
(NEUFELD et al., 2016). 
3. COMPORTAMENTO ALIMENTAR HUMANO E SAÚDE 
 
Fonte: shre.ink/muCw 
Todorov (2012), discute comportamento alimentar como uma relação entre o 
organismo e o ambiente, expressa que se considerado apenas como uma ação, sua 
definição será muito simples. O comportamento, na verdade, é antes a interação entre 
o organismo e o ambiente, mas ancorado na presença de um estímulo antecedente e 
cuja repetição ou não se baseia em consequências reforçantes ou punitivas. 
Embora a definição de comportamento seja complexa, é suficiente e satisfatório 
entendê-lo como a interação entre o organismo e o ambiente. Portanto, com base no 
conceito de Todorov (2012), o comportamento alimentar pode ser entendido como 
uma interação entre a pessoa (organismo) e o alimento (ambiente), levando em 
consideração seus estímulos prévios e as consequências da manutenção desse 
comportamento. 
A partir daí, pode-se perguntar: O que impulsiona um determinado 
comportamento? Por que fazer isso? Por se tratar de um componente complexo, 
podem existir várias explicações. De acordo com um deles, a privação de alimentospode ser um fator motivador para uma pessoa comer demais quando há comida 
disponível (SKINNER, 2011). 
 
7 
 
Para Bear, Connors e Paradiso (2017, p. 552), “a probabilidade e a direção de 
um comportamento variam de acordo com a força que compele o animal a executar 
esse comportamento”. Mas, apesar de todas essas motivações sugerindo que um 
comportamento ocorrerá, por que não pode dizer que uma pessoa com deficiência 
alimentar comerá esses alimentos quando estiverem disponíveis? A partir dessa 
reflexão, podemos nos referir a Baum (2019), que explica o comportamento regido por 
regras e enfatiza que toda sociedade tem as suas próprias. 
Ainda segundo o autor, o princípio, neste caso, é um estímulo escrito ou verbal, 
de natureza legal ou cultural, que indica como uma pessoa deve se comportar e as 
consequências se ela agir de acordo ou não. Portanto, mesmo que uma pessoa seja 
privada de comida, intencionalmente ou não, quando tem comida disponível, ela não 
poderá comer, se seguir regras como "preciso fazer dieta para emagrecer" ou "não 
posso comer agora, porque eu tenho que me curar para ficar saudável”. Todos esses 
conflitos, entre ações motivadoras e objetivos fixos, podem ser responsáveis pelo 
controle de comportamentos (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2017). 
Começando pelo comportamento fora do corpo, se entra nos detalhes do 
comportamento interno, mais especificamente o comportamento motivado gerado 
pelo sistema motor somático, que surge da atividade do hipotálamo lateral. Para o 
perfeito funcionamento do organismo é necessário que o meio interno seja mantido 
dentro dos limites fisiológicos. Essa manutenção é chamada de homeostase e afeta, 
por exemplo, a temperatura corporal, o equilíbrio hídrico e o equilíbrio energético, que 
é assumido pelo hipotálamo. 
Ainda de acordo com Bear, Connors e Paradiso (2017), neurônios sensoriais 
especializados que regulam a homeostase medem um parâmetro regulado e desvios 
dos limites considerados ideais. Tais neurônios estão concentrados na região 
periventricular do hipotálamo. 
Quando os neurônios percebem um desvio da norma ideal, eles podem se 
comportar de acordo com três componentes segundo Bear; Connors e Paradiso, 
(2017): 
Resposta humoral: Os neurônios hipotalâmicos respondem a sinais 
sensoriais estimulando ou inibindo a liberação de hormônios hipofisários na 
corrente sanguínea. 
Resposta visceromotora: Os neurônios hipotalâmicos respondem a sinais 
sensoriais e regulam o equilíbrio das atividades dos sistemas nervosos 
simpático e parassimpático. 
 
8 
 
Resposta somatomotora: Neurônios hipotalâmicos, particularmente no 
hipotálamo lateral, respondem a estímulos sensoriais e estimulam uma 
resposta somatomotora para produzir um comportamento apropriado. 
 
Segundo Torres et al., (2020), os hábitos alimentares começam a se formar na 
infância e estão diretamente relacionados ao ambiente em que a criança está inserida, 
levando em consideração as informações que a família possui sobre alimentação 
saudável, as condições financeiras e a publicidade de alimentos industrializados. 
Esses hábitos, se vinculados desde a infância, podem ser mantidos como padrões de 
comportamento na idade adulta e na velhice. 
Passando para a adolescência, surgem novos hábitos alimentares, que alteram 
a relação da pessoa com a comida, ou seja, seu comportamento alimentar. Muitos 
desses hábitos são influenciados pela mídia e pela facilidade de acesso a todo tipo de 
conteúdo, com a popularização de tecnologias que deixam a comida a um clique de 
distância (BITTAR; SOARES, 2020). 
Mesmo na adolescência, segundo estudos recentes como o de Salomão et al. 
(2021), é possível detectar o surgimento de transtornos alimentares relacionados a 
distorções da imagem corporal, insatisfação com o peso, hábitos alimentares 
específicos e o desenvolvimento de obesidade. Dentre esses transtornos, os mais 
comuns são a anorexia nervosa e a bulimia nervosa, ambas mais comuns na 
população feminina. Além disso, também é possível encontrar adolescentes com 
transtorno de compulsão alimentar periódica e vigorexia. 
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 
(DSM-5) (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 329), os transtornos 
alimentares podem ser caracterizados por "transtorno alimentar persistente ou 
comportamento alimentar que envolve consumo ou absorção prejudicada de 
alimentos e que afeta significativamente a saúde física ou o funcionamento 
psicossocial". No Quadro 1, algumas informações sobre os dois transtornos 
alimentares mais comuns na adolescência: anorexia e bulimia. 
 
 
 
9 
 
Quadro 1. Informações sobre os transtornos alimentares mais comuns na 
adolescência 
 
Fonte: Adaptado de AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (2014). 
 
Preocupações com o aumento da obesidade e do sobrepeso, desde o início da 
década passada, é confirmada em estudos recentes, como o de Castilho et al., (2021), 
que conclui que a obesidade é uma doença crônica e afeta grande parte da população 
mundial, inclusive com uma estimativa da Organização Mundial de Saúde - OMS de 
que aproximadamente 700 milhões de adultos em todo o mundo serão obesos até 
2025. 
A obesidade não é apenas um problema individual, mas também uma 
preocupação sistêmica, pois envolve a família e a sociedade, além de diversas 
comorbidades (hipertensão, diabetes, infarto, etc.). No caso do Brasil, estima-se que 
7% dos gastos com saúde sejam destinados a tratamentos relacionados à obesidade 
(CASTILHO et al., 2021). 
Embora esses dados sejam preocupantes, muito tem sido feito nos últimos 
anos para combater os transtornos alimentares. Além da atividade física e da 
 
10 
 
reeducação alimentar, que afetam diretamente o aspecto visual da obesidade, são 
desenvolvidas estratégias que visam estimular pedagogicamente mudanças na 
percepção e reinterpretação da relação das pessoas com a comida, como visto em 
grupos terapêuticos, oficinas educativas, psicoterapia, entre outros. 
Em estudo realizado por França et al. (2012), já havia sido identificado que 
sentimentos positivos, como motivação e alegria, são impulsionadores para a 
mudança de comportamentos alimentares e adoção de hábitos saudáveis. Mais 
recentemente, em Castilho et al., (2021) foi demonstrado que uma intervenção 
multidisciplinar, como a prática de atividades físicas (educador físico), orientação para 
adoção de dieta balanceada (nutricionista) e apoio psicológico (psicólogo), é essencial 
para obter resultados em termos de redução de peso e melhoria dos índices 
biológicos, melhorando assim a qualidade de vida da pessoa em causa e de toda a 
comunidade. 
Entre as abordagens da psicologia no tratamento dos transtornos alimentares, 
Klotz-Silva, Prado e Seixas (2016) apresentam várias evidências positivas para a 
Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) em intervenções para transtornos 
alimentares, devido à sua reestruturação cognitiva, com a mudança de crenças de 
resultados e pensamentos disfuncionais e com mudanças nos padrões de 
comportamento. Para uma melhor compreensão da relação entre pessoa e alimento, 
é necessário abranger os componentes de singularidade e subjetividade de cada um, 
além do ambiente externo e das possibilidades disponíveis (KLOTZ-SILVA; PRADO; 
SEIXAS, 2016). 
Comportamentos alimentares saudáveis afetam direta e indiretamente a saúde física 
e psicológica das pessoas. Para ajudar a melhorar os hábitos alimentares da 
população, contamos com diversas ciências, como Nutrição, Educação Física e 
Psicologia. Atuando de forma complementar, oferecem teorias e práticas que auxiliam 
uma boa relação com a comida, melhorando a qualidade de vida. 
 
11 
 
4. TRANSTORNOS ALIMENTARES (TA’s) 
 
Fonte: shre.ink/muCv 
Transtornos alimentares (TA’s) são condições psicopatológicas que 
compartilham uma mudança grave e persistente nos hábitos alimentares (BALOTTIN 
et al., 2017;LEONIDAS; SANTOS, 2017; SANTOS; LEONIDAS; COSTA, 2017). Nas 
últimas décadas, um crescente corpo de pesquisa tem se concentrado no estudo dos 
transtornos alimentares, incluindo as características psicodinâmicas dos pacientes e 
os sistemas familiares em que estão inseridos (VÁZQUEZ-VELÁZQUEZ et al., 2017). 
Com base nos avanços do conhecimento científico sobre o papel da família no 
contexto dessas condições psicopatológicas, conteúdos relacionados à diversidade 
de modelos de relações familiares, como herança emocional transgeracional, padrões 
de comunicação intrafamiliar e transmissão psíquica intrafamiliar de práticas 
alimentares passaram a ser exploradas pela literatura científica (VALDANHA et al., 
2013). A categoria diagnóstica de TA inclui diferentes tipos de transtornos, entre os 
quais se destacam a Anorexia Nervosa (AN) e a Bulimia Nervosa (BN). 
Atualmente, acredita-se que os transtornos alimentares tenham uma etiologia 
multifatorial que inclui influências da dinâmica familiar, do ambiente sociocultural e 
aspectos constitucionais e dinâmicos da personalidade. Estes seriam 
presumivelmente os fatores responsáveis pelo projeto, instalação e manutenção 
desses quadros (VALDANHA et al., 2013; MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002). 
A literatura tem enfatizado cada vez mais a necessidade de desenvolver 
estudos que visem compreender a dinâmica das relações familiares em pessoas 
 
12 
 
diagnosticadas com transtornos alimentares, a partir da observação clínica dos 
padrões disfuncionais de relacionamento dessas famílias (LEONIDAS; SANTOS, 
2014, SANTOS; LEONIDAS; COSTA, 2017). 
Diante desses pressupostos, estudos têm destacado a importância de estender 
uma visão mais ampla ao contexto familiar de sujeitos com TA, focando principalmente 
no grau de disfunção dos padrões relacionais reproduzidos nas famílias (VÁZQUEZ-
VELÁZQUEZ et al., 2017, VOS et al., 2017). 
Nem todas as dimensões da complexa inter-relação que existe entre a forma 
como as famílias formam vínculos e o desencadeamento de sintomas indicativos de 
transtornos alimentares ainda são compreendidas. O mecanismo pelo qual o manejo 
alimentar familiar influencia o início e/ou manutenção dos sintomas psicopatológicos 
também não é totalmente compreendido (VALDANHA et al., 2013). 
A investigação da relação mãe-filha é particularmente importante nos casos de 
Anorexia Nervosa. Sopezki e Vaz (2008) apontam que "o vínculo mãe-filha em 
mulheres com transtornos alimentares é caracterizado por mais insegurança, medo 
do abandono e falta de autonomia" (p. 269) do que em famílias livres dessa 
psicopatologia. O padrão de apego é do tipo fusão simbiótica, em que a 
desdiferenciação eu-tu prevalece e as fronteiras eu torna-se indistintos. 
A relação de fusão com a figura materna também acaba se tornando 
conflituosa, pois implica a manutenção de um padrão de extrema dependência afetiva 
mútua, o que faz com que os membros da díade experimentem dificuldades no 
processo de diferenciação e identificação que aumenta na adolescência. 
Por causa dessas vicissitudes, a ambivalência evocada pelas experiências 
fusionais é muito pronunciada, relacionando-se por um lado ao amor entre mãe e filha 
mantido em nível imaturo e regressivo, e por outro lado ao desejo inconsciente de 
ambos ter um relacionamento próximo para manter o relacionamento como estratégia 
de defesa para suprimir o ódio. Nessa dinâmica relacional, o ódio decorre do fato de 
que o desejo de individuação da filha é continuamente frustrado por inúmeras e 
repetidas tentativas fracassadas de conseguir a separação do objeto materno. 
 
13 
 
4.1 Bulimia Nervosa (BN) 
Fonte: shre.ink/muC3 
A Bulimia Nervosa (BN) é caracterizada por períodos de alta ingestão alimentar 
em que uma grande quantidade de alimentos consumidos em um curto período de 
tempo, associados a sentimentos de falta de controle sobre o comportamento 
alimentar e preocupação excessiva com o controle do peso corporal. Tais 
preocupações levam o paciente a tomar medidas compensatórias para evitar o ganho 
de peso. O vômito autoinduzido ocorre em cerca de 90% dos casos e é o principal 
método de compensação utilizado. 
O efeito imediato do vômito é aliviar o desconforto físico causado pelo excesso 
de comida e reduzir o medo de ganhar peso. Outros mecanismos usados pelos 
bulímicos para controlar seu peso incluem o uso inadequado de laxantes, diuréticos, 
hormônios tireoidianos, anoréxicos e enemas. O jejum prolongado e o exercício 
excessivo também são formas de controlar o peso. As distorções da imagem corporal, 
se presentes, são menos pronunciadas. Os traços de personalidade da bulimia são 
sociabilidade, correr riscos e impulsividade, traços associados à falta de controle e 
desintoxicação. Os sintomas aparecem no final da adolescência ao início dos 40 anos, 
com uma idade média de cerca de 20 anos (CÂNDIDO et al., 2014). 
 
 
14 
 
Diagnósticos 
Critérios para diagnósticos: 
A. Episódios recorrentes de compulsão alimentar. Um episódio de compulsão 
alimentar é caracterizado pelos seguintes aspectos: 
1. Comer dentro de um determinado período de tempo (por exemplo, dentro de 
um período de duas horas) uma quantidade de alimentos que é definitivamente maior 
do que a maioria das pessoas consumiria no mesmo período em circunstâncias 
semelhantes. 
2. Sensação de falta de controle sobre a alimentação durante o episódio (por 
exemplo, não se sentir capaz de parar de comer ou controlar o que e o quanto é 
ingerido). 
B. Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes a fim de impedir 
o ganho de peso, como vômitos autoinduzidos, uso indevido de laxantes, diuréticos 
ou outros medicamentos, jejum prolongado ou exercício em excesso. 
C. A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados 
ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante três meses. 
D. A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso 
corporais. 
E. A perturbação não ocorre exclusivamente durante episódios de anorexia 
nervosa (DSM-5, 2014). 
Há três aspectos principais da bulimia nervosa: compulsão alimentar recorrente 
(critério A), comportamentos compensatórios inadequados recorrentes para evitar 
ganho de peso (critério B) e uma influência excessiva da forma e do peso corporal no 
autorrelato (critério D). Para se qualificar o diagnóstico, a compulsão alimentar e os 
comportamentos compensatórios inadequados devem ocorrer em média pelo menos 
uma vez por semana durante três meses (Critério C) (DSM-5, 2014). 
 O contexto em que ocorre a ingestão pode afetar a avaliação do médico sobre 
se a ingestão é excessiva ou não. Por exemplo, uma quantidade de comida 
considerada excessiva para uma refeição típica pode ser considerada normal durante 
uma festa ou feriado. 
Um "período de tempo específico" refere-se a um período de tempo finito, 
geralmente inferior a duas horas. Um único episódio de compulsão alimentar não 
precisa ser limitado a um contexto. Por exemplo, uma pessoa pode iniciar 
 
15 
 
comportamentos de compulsão em um restaurante e depois continuar comendo 
depois de voltar para casa. Fazer lanches constantemente em pequenas quantidades 
ao longo do dia não seria considerado compulsão (DSM-5, 2014). 
Uma explosão de compulsão alimentar deve ser acompanhada por uma 
sensação de descontrole (Critério A2) para ser considerada um episódio de 
compulsão. Um indicador de perda de controle é a incapacidade de se abster de 
comer ou parar de comer uma vez que começou. Algumas pessoas descrevem uma 
qualidade dissociativa durante ou após episódios de compulsão. 
O comprometimento do controle associado à essa compulsão pode não ser 
absoluto. Alguns relatam que seus episódios de compulsão não são 
predominantemente caracterizados por uma sensação aguda de perda de controle, 
mas sim por um padrão mais generalizado de alimentação descontrolada. Se houver 
relatos dedesistência de tentar controlar sua ingestão, a perda de controle deve ser 
considerada certa. 
O ato compulsivo também pode ser planejado em alguns casos. O tipo de 
alimento consumido durante os episódios de compulsão varia tanto entre pessoas 
diferentes quanto dentro da mesma pessoa. Essa compulsão parece ser caracterizada 
por uma anomalia na quantidade de alimentos ingeridos, em vez de um desejo por 
qualquer nutriente específico. No entanto, durante episódios, as pessoas tendem a 
consumir alimentos que, de outra forma, evitariam. 
Pessoas com bulimia nervosa muitas vezes têm vergonha de seus problemas 
alimentares e tentam esconder seus sintomas. A compulsão alimentar ocorre muitas 
vezes de forma clandestina ou tão discreta quanto possível. Comumente continua até 
que a pessoa se sinta desconfortável ou até dolorosamente cheia. O precursor mais 
comum da compulsão alimentar é o efeito negativo. 
 Outros gatilhos são estressores interpessoais, restrições dietéticas, 
sentimentos negativos relacionados ao peso corporal, a forma do corpo, a alimentos 
e tédio. A compulsão alimentar pode minimizar ou atenuar os fatores que 
desencadeiam um episódio a curto prazo, mas a autoestima negativa e a disforia 
costumam ser as consequências posteriores (DSM-5, 2014). 
Outro aspecto significativo da bulimia nervosa é o uso repetido de 
comportamentos compensatórios inadequados para evitar ganho de peso, 
coletivamente conhecidos como comportamentos purgativos (Critério B). Muitas 
 
16 
 
pessoas com bulimia nervosa usam uma variedade de métodos para compensar a 
compulsão alimentar. Pessoas com tal compulsão podem usar uma variedade de 
métodos para induzir o vômito, incluindo o uso de dedos ou ferramentas para estimular 
o reflexo de vômito. Eles geralmente se tornam hábeis por induzi-lo o vômito e, 
eventualmente, são capazes de vomitar sempre que quiserem. 
Outros comportamentos purgativos incluem o uso indevido de laxantes e 
diuréticos. Em casos raros, outros métodos de compensação também são usados. 
Pessoas com bulimia nervosa podem abusar de enemas após episódios de 
compulsão alimentar, mas esse raramente é o único mecanismo compensatório 
empregado. Pessoas com esse distúrbio podem tomar hormônios da tireoide para 
evitar o ganho de peso. Pessoas com diabetes mellitus e bulimia nervosa podem omitir 
ou diminuir as doses de insulina para reduzir o metabolismo dos alimentos 
consumidos durante episódios de compulsão alimentar. 
Pessoas com esse distúrbio também podem jejuar por um ou mais dias ou se 
exercitarem excessivamente para evitar o ganho de peso. O exercício pode ser 
considerado excessivo se interferir significativamente em atividades importantes, 
ocorrer em horários inadequados ou em ambientes inadequados ou continuar o 
exercício apesar de lesões ou outras complicações médicas (DSM-5, 2014). 
Pessoas com bulimia dão muita ênfase à forma ou peso corporal em suas 
autoavaliações, e esses fatores são extremamente importantes para determinar sua 
autoestima (Critério D). Eles podem ser muito parecidos a pessoas com anorexia 
devido ao medo de ganhar peso, desejo de perdê-lo e insatisfação com o próprio 
corpo. No entanto, o diagnóstico de bulimia nervosa não deve ser feito se o transtorno 
ocorrer apenas durante episódios de anorexia nervosa (critério E) (DSM-5, 2014). 
 
17 
 
4.2 Anorexia Nervosa (AN) 
Fonte: shre.ink/muC9 
A Anorexia Nervosa (AN) é caracterizada pela perda de peso intensa e 
intencional (pelo menos 15% do peso corporal inicial) às custas de dietas muito 
restritivas, busca desenfreada da magreza, recusa em manter o peso acima do 
mínimo normal, amenorreia (ausência de três menstruações consecutivas) e distorção 
da imagem corporal. Traços como obsessão, perfeccionismo, passividade e 
introversão são comuns em anoréxicos e permanecem estáveis após a restauração 
do peso. Embora com início na adolescência (geralmente entre 13 e 17 anos), foram 
observados casos com início na infância e a partir dos 40 anos (CÂNDIDO et al., 
2014). 
Existem dois tipos de anorexia nervosa: 
Restritiva: Comportamento restritivo relacionado à dieta; e 
Purgativa: Ataques de compulsão alimentar seguidas de medidas 
compensatórias, como vômitos e uso de laxantes e diuréticos. 
Entre os fatores de risco, há uma clara associação entre idade e sexo, sendo 
mais comum na adolescência e em mulheres. A prevalência em jovens de ambos os 
sexos mostra um risco de desenvolver anorexia nervosa (AN) entre 0,4%. Por outro 
lado, segundo a Psychiatric Association (2014), a prevalência no país entre jovens do 
sexo feminino é de 4%. Pouco se sabe sobre o assunto em homens, mas é menos 
comum do que em mulheres, sugerindo uma proporção entre homens e mulheres de 
 
18 
 
cerca de 10:1 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - DSM-5, 2014). 
Para os homens é mais comum a chamada de vigorexia, classificada (DSM-5, 2014) 
como subtipo do Transtorno Dismórfico-Corporal (BDD), um problema de saúde 
mental relacionado à imagem corporal (DSM-5, 2014). 
Segundo o DSM-5 (2014) os transtornos alimentares são caracterizados por 
um transtorno persistente no comportamento alimentar que resulta em ingestão ou 
ingestão de alimentos alterada e afeta significativamente a saúde física ou o 
funcionamento psicossocial. A exemplo, a AN, caracterizada por perda de peso 
intencional, induzida e mantida pelo paciente que impõe a si mesmos um baixo peso 
(SUM et al., 2011). Os sintomas compreendem uma restrição das escolhas 
alimentares, a prática excessiva de exercícios físicos, vômitos provocados e a 
utilização de laxantes, anorexígenos e de diuréticos, com prevalência maior em 
mulheres adolescente ou jovem, mas pode igualmente ocorrer em homem 
adolescente ou jovem, como em uma criança próxima à puberdade ou em uma mulher 
de mais idade até na menopausa (DSM-5, 2014). 
Segundo Santos (2016) esse quadro clínico não é apenas causado pela 
influência excessiva e patológica de ideais de beleza socialmente mediados em 
relação à mulher, perda de apetite ou volição alimentar, mas também integra aspectos 
psicológicos da história de vida afetivo-emocional, inter e intrapessoais da jovem e da 
sua família. 
Diagnósticos 
Critérios para diagnósticos: 
A. Restrição da ingestão de calorias em relação às necessidades, resultando 
em peso corporal significativamente baixo com base na idade, sexo, histórico de 
desenvolvimento e saúde física. Fala-se de baixo peso significativo quando não se 
atinge o peso mínimo normal ou, no caso de crianças e adolescentes, o peso mínimo 
esperado. 
B. Medo intenso de ganhar peso, ou comportamento persistente que interfere 
no ganho de peso apesar de estar significativamente abaixo do peso. 
C. Perturbação no modo como o próprio peso ou a forma corporal são 
vivenciados, influência indevida do peso ou da forma corporal na autoavaliação ou 
ausência persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual. 
(DSM-5, 2014). 
 
19 
 
São três as características principais da anorexia nervosa: restrição persistente 
da ingesta calórica; medo intenso de ganhar peso ou de engordar ou comportamento 
persistente que interfere no ganho de peso; e perturbação na percepção do próprio 
peso ou da própria forma. 
O indivíduo mantém um peso corporal abaixo daquele minimamente normal 
para idade, gênero, trajetória do desenvolvimento e saúde física (Critério A). O peso 
corporal dessas pessoas com frequência satisfaz esse critério depois de uma perda 
ponderal significativa, porém, entre crianças e adolescentes, pode haver insucesso 
em obter o ganho de peso esperado ou em manter uma trajetória de desenvolvimento 
normal (i.e., enquanto cresce em altura) em vez de perda de peso. (DSM-5, 2014). 
O critério A exige que o peso da pessoa seja significativamente baixo (abaixo 
da faixa normal mínima ou, no caso de crianças e adolescentes, abaixo da faixamínima esperada). Determinar o peso pode ser problemático porque a faixa de peso 
normal varia de pessoa para pessoa e diferentes limites foram publicados para definir 
magreza ou baixo peso. 
O Índice de Massa Corporal (IMC) (calculado como peso em quilogramas 
dividido pela altura em m²) é uma medida útil do peso corporal em relação à altura. 
Para adultos, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease 
Control and Prevention - CDC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) usaram um 
IMC de 18,5 kg/m² como limite inferior do peso corporal normal. Portanto, a maioria 
dos adultos com IMC de 18,5 kg/m2 ou mais não seria considerado baixo peso. 
Portanto, um IMC inferior a 17,0 kg/m² tem sido considerado pela OMS como 
indício de magreza moderada ou grave, portanto, um indivíduo com um IMC inferior a 
17,0 kg/m² provavelmente seria considerado com um peso significativamente baixo. 
Um adulto com um IMC entre 17,0 e 18,5 kg/m², ou até mesmo acima de 18,5 kg/m², 
poderia ser considerado com um peso significativamente baixo se a história clínica ou 
outras informações fisiológicas confirmarem tal diagnóstico (DSM-5, 2014). 
Para crianças e adolescentes, é útil determinar um percentil de IMC 
dependente da idade. Tal como acontece com os adultos, não é possível fornecer 
padrões definitivos para avaliar se uma criança ou adolescente está significativamente 
abaixo do peso, e as diferenças nas trajetórias de desenvolvimento do adolescente 
limitam a utilidade de diretrizes numéricas simples. 
 
20 
 
O CDC usou um IMC para idade abaixo do percentil 5 como indicação de baixo 
peso, no entanto, crianças e adolescentes com IMC acima desse limite podem ser 
considerados significativamente abaixo do peso se não mantiverem a trajetória de 
crescimento esperada. Em resumo, para determinar se o Critério A é atendido, o 
médico deve considerar as diretrizes numéricas disponíveis, bem como a constituição 
física do indivíduo, histórico de peso e presença de distúrbios fisiológicos. 
Pessoas com esse transtorno geralmente exibem um medo intenso de ganhar 
peso (Critério B). Esse medo geralmente não é aliviado com a perda de peso. De fato, 
as preocupações com o peso podem aumentar mesmo quando há perda de peso. 
Pessoas mais jovens com anorexia nervosa, assim como alguns adultos, podem não 
reconhecer ou perceber esse medo. Na ausência de uma explicação alternativa para 
um peso significativamente baixo, a inferência do médico a partir do histórico médico 
fornecido pelo informante, dados observacionais, achados físicos e laboratoriais ou 
curso longitudinal indicando receio de ganho de peso ou comportamentos podem ser 
usados para fundar o critério B (DSM-5, 2014). 
A experiência e o significado do peso e da forma corporal são distorcidos 
nesses indivíduos (Critério C). Algumas pessoas se sentem totalmente obesas, outras 
se sentem magras, mas ainda se preocupam com certas partes de seu corpo, 
principalmente que seu estômago, nádegas e quadris são "muito gordos". São usados 
um grande número de técnicas para determinar sua altura ou peso, incluindo pesagem 
frequente, avaliação obsessiva de partes do corpo e uso constante de um espelho 
para procurar pontos de "gordura" percebidos. 
A apreciação da anorexia nervosa depende em grande parte de sua percepção 
da forma e do peso corporal. A perda de peso é muitas vezes vista como uma 
conquista extraordinária e um sinal de autodisciplina excepcional, enquanto o ganho 
de peso é visto como uma falha inaceitável no autocontrole. Embora algumas pessoas 
com esse transtorno reconheçam que são magras, muitas vezes não aceitam as 
graves consequências médicas de sua desnutrição (DSM-5, 2014). 
Os familiares geralmente encaminham a pessoa a um profissional após a perda 
significativa de peso (ou o ganho de peso esperado não ter sido alcançado). Quando 
procuram ajuda por conta própria, muitas vezes é por medo das consequências 
somáticas e psicológicas da fome. É raro uma pessoa com anorexia nervosa relatar 
perda de peso. É certo que essas pessoas muitas vezes desconhecem o problema ou 
 
21 
 
os negam. Assim, é importante coletar informações de familiares ou outras fontes para 
avaliar o histórico de perda de peso e outros fatores da doença (DSM-5, 2014). 
Marcadores diagnósticos 
As anormalidades laboratoriais seguintes podem ser observadas na anorexia 
nervosa e sua presença pode servir para aumentar a confiabilidade do diagnóstico 
(DSM-5, 2014). 
Hematologia: A leucopenia é comum, com perda de todos os tipos de células, 
mas geralmente com linfocitose evidente. Pode haver anemia leve, bem como 
trombocitopenia e raramente problemas de sangramento. 
Bioquímica: A desidratação pode refletir-se no aumento dos níveis de ureia no 
sangue. A hipercolesterolemia é comum. Os níveis de enzimas hepáticas podem estar 
elevados. Hipomagnesemia, hipozincemia, hipofosfatemia e hiperamilasemia são 
raramente observadas. O vômito autoinduzido pode resultar em alcalose metabólica 
(níveis elevados de bicarbonato sérico), hipocloremia e hipocalemia. O abuso de 
laxantes pode causar acidose metabólica leve. 
Endocrinologia: Os níveis séricos de tiroxina (T4) geralmente estão dentro da 
faixa normal ou abaixo do normal; os níveis de triiodotironina (T3) estão diminuídos 
enquanto os níveis reversos de T3 estão aumentados. Os níveis séricos de estrogênio 
são baixos nas mulheres, enquanto os níveis séricos de testosterona são baixos nos 
homens. 
Eletroencefalografia: Irregularidades difusas, refletindo encefalopatia 
metabólica, podem derivar de desequilíbrios hídrico e eletrolítico significativos. 
Gasto calórico em repouso: Há redução significativa no gasto calórico em 
repouso com frequência. 
Eletrocardiografia: A bradicardia sinusal é comum e as arritmias raramente são 
observadas. Aumento significativo do intervalo QT’c (abreviação de "intervalo QT 
corrigido", que é uma medida de um eletrocardiograma. Resumindo, o intervalo QT é 
o tempo que leva para os ventrículos se despolarizarem - "contrairem" - e 
repolarizarem - "estar pronto para uma nova contração"). Um intervalo QT’c alterado 
indica um risco aumentado de arritmias graves, que são observadas em algumas 
pessoas. 
 
22 
 
Massa óssea: Baixa densidade mineral óssea é frequentemente observada, 
com áreas específicas de osteopenia ou osteoporose. O risco de fratura é 
significativamente maior. 
Sinais e sintomas físicos: Muitos dos sinais e sintomas físicos da anorexia 
nervosa são devidos à fome. A presença de amenorreia é comum e parece ser 
indicativa de disfunção fisiológica. Quando presente, a amenorreia geralmente é uma 
consequência da perda de peso, mas em uma minoria de pessoas pode preceder essa 
perda. A menarca pode ser tardia em meninas pré-adolescentes. Além da amenorreia, 
pode ocorrer constipação, dor abdominal, queda de cabelo, anorexia, intolerância ao 
frio, letargia, excesso de energia, fadiga, mãos e pés frios e dificuldade de 
concentração. 
O achado mais proeminente no exame físico é a emaciação. Hipotensão 
significativa, hipotermia e bradicardia também são comuns. Algumas pessoas 
desenvolvem lanugem, pelos corporais muito finos e macios. Alguns desenvolvem 
edema periférico, particularmente durante o ganho de peso ou após a interrupção do 
abuso de laxantes e diuréticos. Raramente, petéquias ou equimoses, especialmente 
nas extremidades, podem indicar diátese hemorrágica. Algumas pessoas evidenciam 
tonalidade amarelada na pele, associada a hipercarotenemia. 
No entanto, como observado em pessoas com bulimia nervosa, pessoas com 
anorexia nervosa que induzem vômitos podem apresentar hipertrofia das glândulas 
salivares, particularmente das glândulas parótidas, bem como erosão do esmalte 
dentário. Algumas pessoas podem ter cicatrizes ou calos nas costas das mãos devido 
ao contato repetido com os dentes na indução do vômito (DSM-5, 2014). 
Quadrosclínicos e psiquiátricos 
As várias condições clínicas e psiquiátricas que levam à perda de peso e 
redução da ingestão alimentar devem ser diferenciadas da condição anoréxica típica. 
Dado que muitos pacientes são trazidos involuntariamente para tratamento e negam 
a possibilidade de doença, pode ser difícil obter alguns dados importantes na história 
médica. É importante descartar causas físicas para a perda de peso, principalmente 
patologias gastrointestinais, considerando também a possibilidade de comorbidades 
clínicas desse tipo em paciente com diagnóstico prévio de anorexia nervosa 
(TAVARES et al., 2018). 
 
23 
 
Na depressão, a perda de peso significativa pode ocorrer secundária ao 
verdadeiro sintoma da anorexia (diminuição do apetite), sem buscar a perda de peso 
ou medo de tomá-la como na anorexia nervosa. Além disso, na depressão há um 
sentimento geral de ineficácia ou incapacidade, enquanto a perda de autoestima na 
pessoa anoréxica está particularmente ligada ao peso e à imagem corporal. 
Na esquizofrenia de início precoce, sintomas como negativismo, retraimento 
emocional, indecisão e recusa em comer por razões delirantes-alucinatórias podem 
aproximar esse diagnóstico da condição descrita na anorexia nervosa. No caso recusa 
em comer por razões delirantes-alucinatórias, há alterações fundamentais na 
esquizofrenia nas áreas afetivas, nos distúrbios do pensamento e volição. 
Nos transtornos de ansiedade, é possível encontrar sintomas como evitar 
alimentos ou situações relacionadas ao ato social de comer. Fobias alimentares e 
fobia social são os principais exemplos. Novamente, a ausência de perda de peso 
como motivação permite o diagnóstico diferencial (TAVARES et al., 2018). 
4.3 Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) 
O Transtorno da Compulsão Alimentar Periódica (TCAP) é caracterizado pelo 
consumo excessivo de alimentos por um curto período com várias repetições. Na 
maioria das vezes, o indivíduo relata uma sensação de perda de controle sobre o ato 
de comer. É comum que acompanhado de episódios de bulimia, a pessoa 
experimente sentimentos como culpa, angústia, vergonha e até nojo, que levam o 
indivíduo a adotar o hábito de comer escondido. Ao contrário de outros distúrbios, 
como anorexia nervosa, pacientes com Doenças Inflamatórias Intestinais (DII) não 
relatam ter dietas tão restritivas e não alternam frequentemente entre restrição 
alimentar e episódios bulímicos (CUNHA CREJO; MATHIAS, 2021). 
Segundo o DSM-5 (2014), o TCAP é caracterizado pela compulsão alimentar 
que deve ocorrer pelo menos uma vez por semana durante pelo menos 3 meses. Além 
da alimentação compulsiva, o paciente deve sentir que não pode controlar o tipo e a 
quantidade de alimentos que ingere durante o episódio para ser diagnosticado com 
TCAP. O DSM-5 (2014) também indica que os episódios compulsivos devem estar 
associados a três ou mais dos seguintes sintomas: 
 
 
24 
 
 Comer rapidamente, evitando o habitual; 
 Comer depois da saciedade quando se sentir satisfeito; 
 Comer quantidades significativas de alimentos sem estar fisicamente com 
fome; 
 Adquirir o hábito de se esconder para preparar essas refeições; 
 Ter sentimento de culpa ou tristeza após os episódios. 
O TCAP pode ainda ser classificado de acordo com a frequência dos episódios 
de compulsão alimentar, sendo considerado leve quando o paciente apresenta de 1 a 
3 episódios por semana até a gravidade extrema onde o paciente pode apresentar 14 
ou mais episódios compulsivos por semana. Apesar de comumente ser associado a 
indivíduos com sobrepeso ou obesidade, o TCAP pode ocorrer em indivíduos 
eutróficos, sendo que, em estudos laboratoriais do comportamento alimentar, notou-
se que a diferença entre indivíduos obesos que não apresentavam TCAP e os que 
apresentavam, é que os com o transtorno apresentavam baixa qualidade de vida, 
maior prejuízo funcional e maiores comorbidades psíquicas, além de um consumo 
calórico mais elevado, sendo constatado que a maioria dos indivíduos obesos não 
apresentam episódios de compulsão alimentar (DSM-5, 2014). 
Estudos mostram que altos níveis de estresse podem desencadear 
comportamentos compulsivos. Quando a pessoa apresenta altos níveis de estresse, 
há um aumento do cortisol plasmático, aumentando o metabolismo energético da 
pessoa, o que pode explicar o aumento da ingestão alimentar, além do fato de que os 
sentimentos ansiosos causados pelo estresse levam a pessoa a fazê-lo, pois, 
proporciona uma sensação prazerosa para satisfazer a fome emocional que pode 
assumir a forma de episódios compulsivos (CORTEZ, et al., 2011). 
Como mencionado anteriormente, os transtornos alimentares se adaptam 
como patologias psíquicas, pois, no caso do TCAP, o indivíduo busca alívio de 
diversos sentimentos e sensações como ansiedade, estresse, depressão, raiva, tédio, 
frustração e solidão, muitas vezes tendo passado por várias situações de jejum ou 
fome devido a dietas restritivas. 
Considerando as características multifatoriais dos transtornos alimentares e do 
TCAP, o tratamento deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar para que o 
paciente tenha uma melhora em seus problemas emocionais e possa aprender 
através de técnicas comportamentais de alimentação a ter relações saudáveis e não 
 
25 
 
compensatórias com a comida. Algumas das técnicas mais utilizadas no tratamento 
de transtornos alimentares em um contexto comportamental são as teorias e práticas 
de mindfulness (atenção plena) e mindful eating (comer com atenção plena) e intuitive 
eating (comer intuitivo) (DAMÉ, 2018). 
O mindfulness tenta trazer o indivíduo para o momento presente, a maioria dos 
relatos de crises de ansiedade está associada ao medo e preocupação extrema com 
o futuro, por isso são aplicadas estratégias de conscientização para vivenciar a 
realidade como é ela. As habilidades desenvolvidas por meio de técnicas de 
conscientização se apresentam como base fundamental para o tratamento (DAMÉ, 
2018). 
Estudos mostram que a consciência é uma habilidade humana inata, mas pode 
ser mais desenvolvida em alguns indivíduos e menos em outros. No entanto, como 
todos os comportamentos, também pode ser melhorado e modificado por técnicas 
clássicas de meditação, por exemplo, ou criando hábitos voltados para essa 
consciência (ALVARENGA et al., 2016). 
Logo, o mindful eating é alimentação consciente sem julgamento ou autocrítica, 
prestando atenção às sensações físicas e emocionais relacionadas à comida. Esta 
experiência visa levar o ser humano a envolver todas as partes do seu ser: corpo, 
mente, emoções e sentimentos em todos os processos relacionados com a 
alimentação, desde a seleção dos alimentos até à sua preparação e alimentação. 
Estimula-se o indivíduo a ter atenção a todos os aspectos do alimento, como textura, 
cores, aromas e sabores, e voltar sua atenção para seus corpos, além da comida, 
para encontrar sinais internos de fome e saciedade (ALVARENGA et al., 2016). 
Essa estratégia tenta desvincular o "pensamento dietético" dos pacientes, 
evitando prescrições e restrições para que o indivíduo passe a ter autonomia de 
escolhas com base em sua própria consciência interna, bem como aprender a ouvir 
os sinais de fome e saciedade, o indivíduo passa a respeitar seu corpo em relação ao 
tipo de alimentação, bem como quando iniciar e terminar uma refeição (DAMÉ, 2018). 
Por fim, o comer intuitivo (intuitive eating) tem como base o princípio de que o 
corpo “sabe” de maneira intrínseca os tipos e a quantidade de alimentos que devem 
ser ingeridos a fim de manter uma boa saúde, colocando como exemplo bebês que, 
através de sinais de fome, reclamam pelo alimento e, com o sinal de saciedade, 
passam a negar o alimento mesmo quando ainda ofertado. Tais estudos afirmam que 
 
26 
 
diversas “interferências” cotidianas podem fazer com que alguns indivíduos deixem 
de percebertão claramente os sinais enviados pelo corpo (DEMÉ, 2018). 
Dessa forma, a alimentação intuitiva tenta ensinar às pessoas que elas podem 
confiar em suas habilidades e capacidade de diferenciar entre sensações físicas e 
emocionais, entrando em contato íntimo com seu corpo e sua sabedoria. Os principais 
pilares da alimentação intuitiva são: permissão incondicional para comer, 
reconhecendo que não existem alimentos “bons” ou “ruins” e entendendo os 
malefícios das restrições. Alimentar-se para satisfazer necessidades fisiológicas e não 
emocionais, orientando o paciente no entendimento de que o alimento existe para 
nutrir e proporcionar saúde ao corpo e que embora o alimento tenha aspectos 
culturais, sociais e emocionais, não deve ser utilizado de forma compensatória para 
ocultar o psicológico distúrbios e/ou problemas emocionais e confiar em sinais 
internos de fome e saciedade para determinar o que, quanto e quando comer 
(ALVARENGA et al., 2016). 
4.4 Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo (TARE) 
Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo (TARE) é um transtorno alimentar 
caracterizado pela falha persistente em atender às necessidades nutricionais e/ou 
energéticas relacionadas a um ou mais dos quatro elementos a seguir (AMERICAN 
PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013): 
1. Perda de peso significativa (ou falha em alcançar o ganho de peso esperado 
ou retardo de crescimento em crianças); 
2. Significativa deficiência nutricional; 
3. Dependência de alimentação por sonda ou suplementos alimentares; 
4. Interferência acentuada no funcionamento psicossocial. 
Esse transtorno não é explicado por privação nutricional ou práticas 
culturalmente aceitas, não ocorre no curso de anorexia nervosa (AN) ou bulimia 
nervosa (BN) e não há alterações ou distorção na imagem corporal, nem é explicado 
por uma doença psiquiátrica ou uma patologia orgânica subjacente. Um dos aspectos 
mais marcantes da doença é a interrupção do funcionamento psicossocial 
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 1990). 
 
27 
 
Comer é culturalmente uma das formas de socialização. Portanto, devido à 
dieta extremamente restrita, o indivíduo não pode participar de eventos com a família 
ou amigos, como almoços e passeios, impedindo-o de viver em sociedade. 
Nesses casos, pacientes estão cientes de seu baixo peso e, em muitos casos, 
até querem ganhar peso (BRYANT-WAUGH et al., 2010). O TARE é mais frequente 
em homens e, em alguns casos, pode haver história pregressa de condições médicas 
patológicas relacionadas ao trato gastrointestinal, a exemplo de doença do refluxo 
gastroesofágico, que por dor, náusea ou vômitos pode vir a desencadear a aversão 
alimentar (SHARP et al., 2017). 
A evitação e restrição alimentar associada à ingestão inadequada de alimentos 
ou falta de interesse por estes geralmente se desenvolvem na primeira infância e 
podem persistir na idade adulta. Da mesma forma, a evitação devido às propriedades 
sensoriais dos alimentos tende a ocorrer na primeira década de vida, mas pode 
persistir na idade adulta. A evitação associada a consequências aversivas pode 
ocorrer em qualquer idade. 
A escassa literatura sobre consequências a longo prazo sugere que a evitação 
sensorial ou a restrição alimentar é relativamente estável e duradoura, mas se persistir 
na idade adulta, pode estar associada a um funcionamento relativamente normal. 
Atualmente, há poucas evidências de uma ligação direta entre um transtorno alimentar 
restritivo/evitativo e a manifestação posterior de um transtorno alimentar (DSM-5, 
2014). 
Crianças com transtorno alimentar restritivo/evitativo podem ficar irritadas e 
difíceis de confortar durante a amamentação ou parecer apáticos e retraídos. Em 
alguns casos, a interação dos pais com a criança pode contribuir para o problema de 
alimentação infantil (por exemplo, apresentar alimentos de forma inadequada ou 
interpretar o comportamento da criança como um ato de agressão ou rejeição). 
A ingestão nutricional inadequada pode piorar as características associadas 
(por exemplo, irritabilidade, atrasos no desenvolvimento) e contribuir ainda mais para 
as dificuldades alimentares. Os fatores associados incluem o temperamento do bebê 
e deficiências de desenvolvimento que reduzem a capacidade do bebê de responder 
à ingestão de alimentos. A coexistência de psicopatologia parental, abuso ou 
negligência infantil é sugerida quando a dieta e o peso melhoram em resposta à 
mudança do cuidador. 
 
28 
 
Em bebês, crianças pré-púberes e adolescentes, o transtorno alimentar 
restritivo/evitativo pode estar associado a falhas no crescimento, e a desnutrição 
resultante pode prejudicar o desenvolvimento e o aprendizado. Em crianças maiores, 
adolescentes e adultos, o funcionamento social tende a ser afetado. 
Independentemente da idade, o funcionamento familiar pode ser afetado, com 
aumento do estresse durante as refeições e outros contextos alimentares envolvendo 
amigos e familiares. 
O transtorno alimentar restritivo/evitativo é mais comum em crianças do que em 
adultos, e pode haver um longo atraso entre a manifestação inicial e o início clínico. 
Os fatores que desencadeiam a apresentação variam muito e incluem dificuldades 
físicas, sociais e emocionais (DSM-5, 2014). 
Há três subgrupos com características distintas: 
 
Grupo I: Recusa alimentar por pouco apetite ou desinteresse por alimento 
Neste grupo, não há razão aparente para recusa de alimentos. Eles exibem um 
padrão evitativo, com variedade limitada de alimentos (menos de 12 alimentos) e 
podem ou não estar abaixo do peso, independentemente da forma corporal (MADDEN 
et al., 2009). 
Grupo II: Recusa alimentar devido às propriedades sensoriais do alimento 
Nesse grupo, a recusa alimentar se deve a limitações secundárias relacionadas 
à cor, textura, sabor e cheiro dos alimentos. Em 40% dos casos, outros transtornos 
como o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) ou o Transtorno de Déficit de 
Atenção e Hiperatividade (TDAH) estão presentes (RÅSTAM et al., 2013). 
Grupo III: Recusa alimentar por medo das consequências negativas de se 
alimentar 
Semelhante a um transtorno fóbico, as fobias alimentares podem ocorrer 
isoladamente ou como parte do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG). Mais 
comumente, os seguintes medos são relatados: vomitar, engasgar, sufocar ou 
contaminar-se com o alimento. Em alguns casos, é possível identificar um desses 
eventos como gatilho para a recusa alimentar (NICHOLLS; BARRETT; HULINE-
DICKENS, 2014). 
 
29 
 
4.5 Alotriofagia ou Síndrome de PICA 
A Alotriofagia ou Síndrome de PICA é vista como um comportamento 
inadequado caracterizado por um padrão de apetite e desejo por substâncias não 
nutritivas. PICA geralmente não representa situações de risco de vida, mas às vezes 
pode causar sérias complicações devido ao comportamento psicogênico de uma 
pessoa. Sua apresentação clínica é altamente variável e pode estar associada a 
características específicas da doença resultante a substância ingerida. Um padrão de 
consumo incomum pode causar várias alterações nos tecidos duros e moles da 
cavidade oral, o que pode levar a úlceras e dores pulpares. 
A palavra PICA deriva da palavra em latim para a ave mais conhecida como 
“pega”, uma espécie de ave que come tudo o que encontra. PICA indica um apetite 
perverso por substâncias que não são adequadas como alimentos sem valor 
nutricional, como tijolos, barro, terra, gelo, entre outros (ABREU, 2021). 
Durante séculos, foi associado ao fato de que pessoas com desejos incomuns 
de comida podem sofrer de distúrbios do sangue e da pele verde, que foram descritos 
pela primeira vez por Lange e chamados de síndrome clorótica de Verandal em 1600. 
A PICA é considerada um sintoma de anemia desde a época de Hipócrates. 
Para Abreu (2021), ainda não se sabe se a anemia ferropriva é causa ou efeito 
desse transtorno. Esta síndrome é mais frequentementeobservada no 2º e 3º anos 
de vida e é considerada inapropriada em termos de desenvolvimento para crianças 
com mais de 18-24 meses. 
Pesquisas sugerem que esse transtorno ocorre em 25-33% das crianças 
pequenas e 20% das crianças tratadas em clínicas de saúde mental. Uma diminuição 
linear no pico ocorre com o aumento da idade. A PICA às vezes se estende até a 
adolescência, mas raramente é vista em adultos sem deficiência mental. Em pessoas 
com deficiência intelectual, esse transtorno é mais comum entre 10 e 20 anos. 
A exploração de objetos através da boca e da degustação faz parte do 
desenvolvimento normal, saudável e não é considerado um 
comportamento patológico associado à pica. Pica só é suspeita quando os 
objetos não alimentares são consumidos repetidamente ao longo de um mês 
ou mais, apesar dos esforços para reduzir o comportamento; o 
comportamento é considerado inadequado para a idade de desenvolvimento 
do indivíduo (isto é, para além dos 18 meses); não é uma prática cultural; e o 
comportamento é um sintoma de outra desordem mental e é 
suficientemente preocupante para justificar atenção médica. (STIEGLER, 
2005. p. 27-38) 
 
30 
 
Os sinais físicos podem incluir manifestações de ingestão tóxica (por exemplo, 
envenenamento por um componente tóxico), manifestações de infecção ou infestação 
de parasitas, manifestações gastrointestinais e manifestações dentárias. As 
manifestações gastrointestinais podem incluir problemas intestinais mecânicos, 
constipação, úlceras, perfurações e obstruções intestinais causadas pela formação de 
bezoar e ingestão de material indigerível no trato gastrointestinal. As manifestações 
dentárias comuns são abrasões dentárias graves, abfrações e perda de dentes 
superficiais. 
A literatura científica disponível sobre PICA inclui relatos de vários tratamentos. 
Existem várias maneiras de tratar o problema, incluindo abordagens nutricionais, 
psicológicas, farmacológicas, comportamentais, ambientais e sensoriais. Para 
estabelecer um tratamento adequado, é muito importante que o médico e o 
nutricionista conheçam os hábitos alimentares da pessoa. Recomenda-se também a 
realização de exames para identificar deficiências nutricionais e desta forma o 
profissional de saúde pode ajudar a orientar a pessoa para uma alimentação mais 
adequada e se necessário iniciar a suplementação de vitaminas e minerais (ABREU, 
2021). 
Além disso, se o transtorno estiver relacionado à constipação, anemia ou 
obstrução intestinal, o médico poderá recomendar outros tratamentos mais 
específicos. Em alguns casos, o acompanhamento de um psicólogo ou psiquiatra 
também pode ser importante, pois ajuda a entender que esse automatismo não é 
adequado, principalmente para pessoas que não apresentam deficiências nutricionais 
subjacentes ao comportamento. 
As intervenções nutricionais obviamente funcionam com a introdução de 
suplementos alimentares. Estes são comumente usados para reduzir o transtorno 
juntamente com suplementos de ferro que são sempre recomendados. Outro 
suplemento que é usado com bastante regularidade é o zinco. Por outro lado, a 
intervenção psicológica é muito recomendada. 
Aconselhamento e psicoterapia têm sido recomendados para pessoas com 
suspeita de PICA, devido a distúrbios emocionais ou psicogênicos. As intervenções 
farmacológicas são comumente usadas para o tratamento, e os medicamentos 
inibidores seletivos da recaptação da serotonina são mais comumente recomendados. 
 
31 
 
Eles podem ser usados em conjunto com correções de comportamento (ABREU, 
2021). 
5. NUTRIÇÃO COMPORTAMENTAL 
Fonte: shre.ink/muCQ 
O comportamento relacionado à comida liga-se diretamente a auto percepção 
dos sentidos e a identidade social do ser humano. A nutrição comportamental surge 
com essa nova vertente que aborda diversos aspectos relacionados ao 
comportamento alimentar por meio de diferentes estratégias (SILVA; MARTINS, 
2017). 
Nessa abordagem, o nutricionista aplica técnicas para garantir uma mudança 
efetiva de hábitos, a exemplo da “Entrevista motivacional”, “Comer intuitivo”, “Comer 
com atenção plena”, “Terapia cognitivo-comportamental”, entre outras, fazendo assim 
uma comunicação mais responsável e inclusiva que estabeleça vínculos, segurança 
e respeito (ALVARENGA et al., 2019). 
O estudo do comportamento alimentar torna-se cada vez mais importante para 
o sucesso das intervenções nutricionais, pois faz parte de um contexto no qual fluem 
fatores sociais, culturais, demográficos e psicológicos, ou seja, são determinados por 
diversas influências (TORAL; SLATER, 2007). 
Em geral, os transtornos alimentares têm suas primeiras manifestações na 
infância, mas podem se manifestar mais tarde, como no caso da bulimia, anorexia e 
transtorno da compulsão alimentar periódica (FERREIRA, 2018). Esses distúrbios têm 
 
32 
 
sido amplamente estudados ao longo dos anos, porém, a literatura avança a cada dia 
com novas descobertas que devem ser ponderadas com toda a importância desejada, 
pois sua incidência continua aumentando, principalmente no público obeso. A nutrição 
comportamental tem sido promovida como uma fórmula eficaz e instrumental no 
tratamento de transtornos alimentares. 
Sob o olhar de Alvarenga (2016), a nutrição comportamental não é 
propriamente uma especialidade, justifica-se como uma abordagem inovadora que 
incorpora aspectos sociológicos, sociais, culturais e emocionais da nutrição e abre 
espaço para a atuação do nutricionista, devido a necessidade de tratar pacientes com 
distúrbios alimentares e dificuldades em seguir dietas padrão ou diretrizes alimentares 
tradicionais. Portanto, espera-se que a mudança de comportamento realmente ocorra 
e (que) esses pacientes sejam incentivados a continuar o tratamento e assim atingir 
seus objetivos. Como nutricionista, a autora ressalta: “Estudamos sobre o alimento, 
nutrientes e corpo humano, mas estudamos pouco sobre o SER humano [...]”. 
Ainda nos conceitos da Nutrição Comportamental, afirma-se que atribuir 
valores aos alimentos como “bons ou ruins”, “saudáveis ou não saudáveis” não traz 
benefícios ao paciente, sendo recomendado que os alimentos sejam incluídos em 
uma “alimentação saudável” baseada no equilíbrio e levando em consideração, 
atributos importantes como sabor e prazer. Esta abordagem propõe autonomia ao 
paciente para fazer melhores escolhas em uma mudança no seu estilo de vida de 
forma que além de fatores nutricionais dos alimentos seja possível considerar em suas 
escolhas o contexto de vida biopsicossocial e também cultural (ALVARENGA et al., 
2016). 
Kamil (2013) relatou que, de acordo com Schomer e Kachani (2010), “o 
comportamento alimentar vai além do ato de comer”. Com esta afirmação, nota-se 
que o comportamento alimentar envolve muitos outros fatores, como emocionais e 
culturais, independente de apenas saciar a fome. As sensações que sentimos no ato 
de comer, o local onde são realizadas as refeições, as circunstâncias externas, por 
que comemos e até mesmo o pensamento no momento em que estamos comendo, 
influenciam nesse comportamento. 
Segundo Silva (2008) “[...] sem aceitar os sentimentos e os fatos é impossível 
planejar e executar mudanças”. O mesmo autor ainda relata que para que a mudança 
 
33 
 
ocorra é necessário a realização de exercícios (técnicas), sendo sua eficácia sempre 
avaliada, para que haja interrupções e mudanças. 
De acordo com Alvarenga et al. (2016), o nutricionista que utiliza essa 
abordagem é denominado ‘terapeuta nutricional’ (TN). Este profissional não só ajuda 
uma pessoa em termos de estrutura e o que ela deve comer, mas também a entender 
como as emoções afetam o comportamento e a atitude alimentar. Vale ressaltar que 
o TN também vivencia inseguranças diante das mais diversas situações de seus 
pacientes, por medo de não conseguir resolver o problema ou até piorá-lo.Para que isso seja minimizado, se faz necessário que o TN busque auxílio com 
outros TN’s mais experientes, como também com outros profissionais como, por 
exemplo, psicólogos. Diante disso, o TN é responsável por ajudar o paciente a 
construir um percurso gradual, tornando viável a execução do planejamento 
alimentar., sendo essas as que mais se destacam e que abordaremos a seguir. Todas 
essas ferramentas/técnicas são utilizadas para que o paciente se sinta motivado no 
processo de mudança do comportamento alimentar (ALVARENGA et al., 2019). 
Para tornar isso mais concreto, são desenvolvidas estratégias para auxiliar 
nesse processo, incluindo: determinação de objetivo de tratamento, plano mais 
flexível, estabelecimento de metas detalhadas, desenvolvimento de práticas 
parentais, entre outras. Nessa visão, o principal papel da nutrição comportamental é 
a comunicação responsável e científica, que transmita mensagens consistentes, 
considerando que esses transtornos têm diversas causas como, por exemplo, 
psicológicas, biológicas e socioculturais, e devem ser tratados respeitando as crenças 
e valores do paciente (ALVARENGA, 2016). 
5.1 Técnicas de Terapia Comportamental 
Inicialmente, o tratamento de transtornos alimentares focava apenas na 
recuperação do peso, mas nas últimas décadas avançamos muito na compreensão 
dessas doenças, principalmente de sua base cognitiva. Hoje, a intervenção é feita de 
modo multifatorial. Além dos atendimentos psicológicos, outros profissionais são 
importantes, como nutricionistas, psiquiatras e médicos de outras especialidades. 
Para auxiliar no tratamento de distúrbios da imagem corporal, a Terapia 
Cognitivo Comportamental (TCC) é vista como uma intervenção direta que ajuda o 
 
34 
 
paciente a superar essa situação. Além disso, busca diminuir as práticas rígidas de 
dieta ou de atividade física, facilitar um peso saudável e modificar o sistema 
disfuncional de crenças associadas à aparência, ao peso e à alimentação. 
Entrevista Motivacional (EM) 
De acordo com Alvarenga et al. (2019), a Entrevista Motivacional (EM) é uma 
técnica utilizada na Nutrição Comportamental, em que o objetivo principal é descobrir 
as reais motivações do indivíduo para que ocorra a mudança, através de uma 
comunicação colaborativa do TN. Na entrevista, o paciente é guiado para as escolhas 
de comportamento que deseja mudar, o que também afirma Burgess et al. (2017), 
dizendo que a EM é uma conversa que se afasta do estilo tradicional de consulta, em 
que o TN direciona o indivíduo para declarações auto motivacionais, verificando sua 
prontidão para a mudança. 
A EM se aplica em situações onde envolvem mudanças de comportamento 
como, por exemplo, adesão à dieta, prática de atividade física, tratamento de 
transtornos alimentares, isto é, tudo que está diretamente relacionada à saúde e bem-
estar. Para que a EM seja bem-sucedida, se faz necessário criar um ambiente onde o 
indivíduo se sinta acolhido, confortável e seguro, pois geralmente todo processo de 
mudança de comportamento causa desconforto e ansiedade (ALVARENGA et al., 
2019). 
De tal modo, a EM possui etapas que vão desde o primeiro contato do TN com 
o paciente até a finalização do atendimento: A primeira etapa consiste em “envolver”, 
ou seja, criar vínculo, escutar e entender a história do paciente, fazendo com que ele 
se sinta aceito, respeitado, confortável e disponível para a mudança. A segunda etapa 
consiste em “focar”, onde além de manter o paciente envolvido, o TN e o indivíduo 
focam nas questões relacionadas à alimentação, questionando quais mudanças ele 
está interessado em fazer. Além disso, a terceira etapa é “focar” nas questões 
relacionadas à alimentação. Outra parte da conversa consiste em “evocar”, na qual a 
comunicação é colocada em prática, o paciente é guiado para identificar seus reais 
interesses, sua motivação intrínseca, e assim realizar a mudança. Perguntas abertas 
podem ajudar e transformar o ambiente da consulta, deixando o paciente confortável, 
pois caso ocorra o contrário e o mesmo não se sentir à vontade, o que iria ser 
consertado pode gerar uma resistência e impedir de sair do status quo, ou seja, 
 
35 
 
contrário à mudança. Por fim, vem a etapa de “planejar”, que ocorre quando o paciente 
está pronto para que a mudança ocorra, e ele mesmo encontra sua solução. Nesse 
momento, o TN pode fazer uso de instrumentos como o plano de ação e o 
planejamento de metas para direcioná-lo (ALVARENGA et al., 2019). 
Corroborando com os autores já citados, Figlies e Guimarães (2014) dizem que 
a EM propõe ajudar as pessoas em sua ambivalência/conflito, agregando uma visão 
humanista e construtivista nas modificações de comportamentos de risco, levando o 
paciente a tomar uma decisão que almeje sua renovação. Utilizado no processo de 
transição de comportamento alimentar, o modelo transteórico, também denominado 
modelo de estágios de mudança de comportamento, é uma abordagem onde essa 
modificação em relação à saúde ocorre através de cinco estágios distintos, são eles: 
pré-contemplação, contemplação, decisão, ação e manutenção, onde cada estágio 
mostra o momento da mudança e o grau de motivação para realizá-la. 
Na pré-comtemplação, o indivíduo ainda não tem intenção de mudar; na 
contemplação, o indivíduo começa a considerar a alteração mas ainda não tem um 
prazo para começar; já o estágio denominado decisão ou preparação, prevê uma 
variação de comportamento para um futuro próximo; a ação corresponde à mudança 
de comportamento, exigindo dedicação por parte do indivíduo para evitar recaídas; no 
estágio manutenção, o indivíduo mudou o comportamento e conseguiu manter por 
mais de seis meses (TORAL; SLATER, 2007). 
Comer Intuitivo 
Sob o olhar de Almeida e Furtado (2017), o Comer Intuitivo (CI), ou Intuitive 
Eathing, é uma abordagem que se baseia em evidências ensinando as pessoas a 
terem uma boa relação com a comida, conhecendo seu próprio corpo. Tem como 
objetivo, fazer com que o indivíduo possua uma verdadeira sintonia com a comida, 
mente e corpo. 
A mesma autora relata que são três os pilares dessa abordagem: permissão 
incondicional para comer; comer para entender as necessidades fisiológicas e não 
emocionais e apoiar-se nos sinais internos de fome e saciedade para determinar o 
que, quanto e quando comer. A consciência introspectiva é a capacidade de perceber 
sensações físicas que surgem de dentro do corpo, mediada diretamente pelo cérebro. 
Sendo assim, comedores intuitivos tem maior consciência intuitiva. 
 
36 
 
A capacidade de sintonia mente/corpo fornece ao indivíduo uma poderosa 
ferramenta para identificar suas necessidades, por exemplo: sonolência, bexiga cheia, 
fome, ou seja, o corpo envia mensagens de acordo com as necessidades físicas e 
psicológicas. Então, quando há regras, como fazer uma dieta, há uma confusão entre 
a mente e o corpo (TRIBOLE et al., 2017). 
Estudos mostram que dieta e restrição alimentar para fins de perda de peso 
leva a mais ganho de peso, o que corrobora com o autor acima citado. Alvarenga et. 
al. (2019) relata que o comer intuitivo é uma abordagem baseada em evidências que 
ajudam pessoas a seguirem seus sinais internos de fome e comer o que escolhe, sem 
sentir culpa, sem julgamentos e sem viverem um problema. 
O foco é na “não dieta” e deve ser visto como um programa no qual a ordem 
em que são trabalhados seus princípios não é fixa, devendo ser adaptada para cada 
indivíduo. 
Os princípios são: 
 Rejeitar a mentalidade da dieta 
Deve-se excluir tudo que contenha informações sobre dieta e medidas que 
prometam perda de peso de forma rápida, por exemplo, livros, revistas, parar de seguir 
mídias sociais, não permitindo que outras pessoas determinem o que, quanto e 
quando vai comer (ALVARENGA et. al., 2019). O estilo de vida atual leva as pessoas 
a quererem praticidade no seu dia a dia e isso abre espaço paraque a estrutura 
alimentar seja influenciada pela mídia (MORAES, 2014). 
 Honrar a fome 
Para que se honre a fome, é necessário perceber os seus sinais e padronizar 
horários. É importante não ficar faminto, e o acesso à comida tem que estar possível 
para atender a fome quando ela acontecer. Alguns exercícios podem ser aplicados 
para percepção da fome, como por exemplo, o Odômetro da Fome (Figura 1), em que 
o paciente identifica sua fome e saciedade, que são inversamente proporcionais, ou 
seja, quando estamos com zero de fome, a saciedade se aproxima de dez, e vice-
versa. É interessante que o paciente treine para realizar suas refeições entre os 
números quatro e seis, diminuindo assim o risco de exageros ou restrição, 
aumentando sua saciedade (ALVARENGA et al., 2019). 
 
37 
 
Figura 1: Odômetro da fome 
 
Fonte: shre.ink/muWe 
 Fazer as pazes com a comida 
Violar as regras da dieta pode desencadear a pessoa a comer mais, sem levar 
em conta a fome nem saciedade. Isso não quer dizer que o indivíduo vai sair comendo 
tudo o que quiser em qualquer momento e na quantidade que quiser, mas fazer com 
que surjam perguntas do tipo: “eu realmente quero comer isso?”, “eu preciso comer 
isso agora?”. Essa permissão incondicional para comer deve acontecer de acordo 
com os sinais internos, ajudando as pessoas a comerem de forma intuitiva, não 
necessariamente seguindo uma regra. De uma forma geral, é permitir-se comer algo 
que gosta, percebendo as sensações do corpo, em especial e fome e saciedade, sem 
o medo da restrição (ALVARENGA et al., 2019). 
 Desafiar o policial alimentar 
Nesse princípio, a autora mostra que o indivíduo se sente como se estivesse 
em constante julgamento por um policial interno. As sensações de roubar ou mentir 
 
38 
 
em relação à dieta geram um sentimento de culpa, tendo um efeito extremamente 
ruim. Para que isso não ocorra, é necessário mudar esse pensamento, e dar espaço 
a outras vozes internas que não julgam, que dão retornos positivos e que ajudam a 
tomar decisões mais tranquilas em relação à comida (ALVARENGA et al., 2019). 
 Sentir a saciedade 
Sabe-se que a leptina e a insulina são hormônios que interagem com 
receptores hipotalâmicos, favorecendo a saciedade. Em obesos, as concentrações 
séricas desses hormônios são maiores, apresentando maior resistência à sua ação 
(HALPERN et al., 2004). 
Para se sentir saciado, é necessário aprender a escutar e entender os sinais 
internos. Para que isso aconteça, como já foi relatado anteriormente, deve-se honrar 
a fome e comer de maneira incondicional. Alguns exercícios de auto avaliação podem 
ajudar nesse processo de entender melhor o corpo. Pessoas que sofrem de algum 
tipo de transtorno, se confundem na hora que o corpo sinaliza, gerando muitas vezes 
a sensação de culpa (ALVARENGA et al., 2019). 
 Descobrir o fator de satisfação 
É fundamental saber identificar quando se está satisfeito, pois, dessa forma, o 
indivíduo consegue comer menos e também usar a comida como uma forma de 
satisfação, não só para matar a fome e se nutrir, até porque, o objetivo do comer 
envolve também questões socioculturais e emocionais, não só atender as 
necessidades físicas. Deixar o ambiente agradável, decorar o prato, ter uma boa 
companhia, pode ajudar muito no processo (ALVARENGA et al., 2019). 
 Lidar com as emoções sem usar a comida 
Todo ser humano é apto a comer de tudo, o que significa que eles têm uma 
liberdade percebida para escolher sua comida. No entanto, essas decisões são 
influenciadas por vários fatores que dominam sua história individual (JOMORI et al., 
2008). 
O ato comer vai muito além de satisfazer as necessidades fisiológicas do corpo, 
na maioria das vezes a comida é utilizada como forma de recompensa ou como 
expressão de afeto, também é utilizada para reduzir emoções e sentimentos 
negativos, e os positivos para estender. Portanto, o estado emocional interfere 
completamente na forma de comer, além de considerar crenças, medos e temores. 
 
39 
 
Os exercícios de terapia cognitivo-comportamental podem ser muito úteis para lidar 
com essas emoções sem o uso de alimentos. Nesta abordagem, o NT deve eliminar 
a alimentação desatenta e a alimentação emocional e usar a atividade para ajudar a 
pessoa a tomar consciência de seu comportamento. 
Inicialmente, o TN pede que o paciente se pergunte: "Estou com fome?" todas 
as vezes antes de comer. Se a resposta for "não" e o paciente ainda quiser comer, 
uma lista de sentimentos (Quadro 2) é aplicado para fazê-lo parar e pensar na emoção 
que está enfrentando para usar os alimentos. Depois de identificar o sentimento, 
provavelmente não usará comida para supri-lo. O TN o auxiliará a encontrar uma 
atividade além da comida para ajudá-lo a lidar com suas dificuldades (ALVARENGA 
et al., 2019). 
Quadro 2: Lista de sentimentos 
 
Fonte: shre.ink/mzk2 
 Respeitar o próprio corpo 
Hoje, infelizmente, prevalece a insatisfação física condicionada a um corpo dito 
perfeito e, assim, criou uma desordem de imagem, principalmente entre as mulheres. 
A extrema preocupação e estima do corpo não valoriza as qualidades naturais de cada 
pessoa, pois estão condicionadas a um determinado padrão. É preciso exercitar o 
respeito ao corpo por meio de metas, promover o cuidado com o ser humano, não se 
comparar com os outros, mas sim ser sua própria referência. 
 
40 
 
O TN pode oferecer um exercício que visa estimular o paciente a perceber seu 
próprio corpo com compaixão, sem demonstrar insatisfação. Neste exercício, o 
paciente recebe uma lista de afirmações que devem ser lidas nos momentos em que 
ele começa a ter pensamentos negativos sobre o corpo. Esta lista contém algumas 
maneiras de se amar, por exemplo: “Esteja ciente do que seu corpo está fazendo 
todos os dias. Ele é o instrumento de sua vida, e não um adorno de prazer para os 
outros”. “Curta seu corpo: estique-se, dance, tome um banho de espuma, caminhe, 
cante, tome um banho de espuma, faça massagem, faça as unhas...”, “Deve-se 
afirmar que seu corpo é perfeito do jeito que é” (ALVARENGA et al., 2019). 
 Exercitar-se 
O exercício físico deve ser uma forma de prazer, por isso é importante buscar 
algo prazeroso, pois essa prática é fundamental, e ficar atento às formas 
compensatórias ou punitivas, como a sugestão do Comer Intuitivo é um exercício 
focado no bem-estar e na saúde (ALVARENGA et al., 2019). O mesmo autor relata 
que o cotidiano é repleto de atribuições pessoais, mas na maioria das vezes acontece 
de forma sedentária, por exemplo sentado no carro, no sofá, em o escritório. Para 
trabalhar com isso, é interessante começar pelo “Controle do tempo sedentário” para 
estimular as pessoas a se movimentarem mais ao longo do dia, de forma intuitiva. 
 Honrar a saúde – praticar uma “nutrição gentil” 
A nutrição gentil, segundo as autoras, nada mais é do que sentir-se bem ao 
comer, o oposto da nutrição terrorista, mas cumprindo as diretrizes alimentares. 
Rozin et al. (1999), publicaram um estudo onde a atitude em relação à comida, 
em contraponto ao estresse e preocupação, principalmente em relação ao prazer, 
interfere diretamente na saúde. Nesse estudo, os autores examinaram as atitudes 
alimentares e o papel da comida em quatro países. Os americanos associam a comida 
mais à saúde e menos ao prazer, mas ficam em último lugar no ranking de alimentos 
saudáveis, demonstrando a coexistência de preocupação e insatisfação. 
Eles tendem a adotar estratégias de dieta mais simples. Eles pensam que algo 
que é prejudicial ao corpo em altas doses também é prejudicial em doses baixas, 
incluindo nutrientes essenciais como sal e gordura. Os autores concluíram que 
quando um dos principais aspectos da vida, como a alimentação, se torna fonte de 
 
41 
 
ansiedade e estresse, pode ter consequências negativas para os sistemas 
imunológico e cardiovascular. 
Comer em

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