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Fichamento - As metamorfoses do governo representativo

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MANIN, Bernard. As metamorfoses do governo representativo. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 10, n. 29, 1995, pp. 5-34
As metamorfoses do governo representativo (Manin, Bernard)
O autor fala sobre o pensamento da época e faz uma simetria com a atualidade (PP 5-8): Manin afirma que o modelo da época foi "irreversivelmente modificado” , o papel dos partidos de massa e das plataformas políticas evoluiu como consequência do direito ao voto. Havia um entendimento de que o “governo de partido” proporcionava uma maior identificação social e cultural entre representado e representante, algo mais próximo do ideal de autogoverno onde o povo governa a si mesmo. O autor conclui que existe uma simetria entre a situação atual, a do final do século XIX e início do século XX, a ideia de que estamos em uma crise de representação é um tema recorrente e que nos leva a crer que estamos diante de uma crise que não é tanto causada pela representação, mas uma forma particular de governo representativo.     
Exposição dos princípios do governo representativo
• O autor subdivide o assunto em tópicos e apresenta os princípios presentes na origem do governo representativo e que não foram colocados em prática. 
Os representantes são eleitos pelos governados (PP 10-13): Manin afirma que não existe representação quando os governantes não são eleitos pelos governados. A eleição é um processo que concede autoridade a um indivíduo pelo consentimento do povo. O segundo princípio é sobre a não necessidade de que o governante tenha semelhanças com o governado, os representantes podem fazer parte de uma elite ou serem culturalmente diferentes, contanto que tenham sido eleitos pelo povo. O autor lembra também que a indicação poderia ser feita por sorteio, isso colocaria uma barreira as elites e garantiria governantes semelhantes aos cidadãos e destaca o fato dessa proposta nunca ter sido realizada ao longo de dois séculos. 
Os representantes conservam uma independência parcial diante das preferências dos eleitores (PP 14 – 22):O autor destaca que apesar de escolhidos, os representantes mantêm certo grau de independência em suas decisões, o que é chamado de mandato livre. Dessa forma, não existe obrigação legal de cumprimento das demandas dos eleitores. 
Um regime que conferisse maior autonomia aos governados teria a característica de mandato imperativo, ou seja, os eleitos seriam obrigados a agir de acordo com o desejo do povo em todas as ocasiões. 
O autor exemplifica com a Inglaterra, Estados Unidos e França, de acordo com cada sistema houve o mandato livre. Manin cita ainda autores que defendem o sistema representativo como o regime ideal, visto que as grandes democracias exigem tempo exclusivo para a tarefa de governar. 
A opinião pública sobre assuntos políticos pode se manifestar independentemente do controle do governo (PP 23 – 30): O autor trata a liberdade de opinião pública como um pilar do governo representativo. Inicialmente, apesar de parecer uma contradição ao princípio do mandato livre, a manifestação de opiniões políticas, seja por meio de petições, grandes atos de rua ou alguma outra forma de acessar o representante, não apresenta um caráter imperativo. Segundo o autor os representantes, não possuem obrigação legal de atenderem às demandas do povo; no entanto, é importante que essas demandas sejam ouvidas caso exista a pretensão de se reelegerem. 
O autor destaca também que o segundo princípio seja o da liberdade de opinião. O primeiro é o acesso à informação política, para que os governados tenham condições de formarem suas opiniões. De modos diferentes, o autor mostra como a transparência foi aplicada nos contextos de Inglaterra, Estados Unidos e França. O segundo elemento é a liberdade de expressão política sem intromissão do governo. Por exemplo, a liberdade religiosa (individual e dispersa), ou a liberdade de manifestação (coletiva e atuante frente ao governo). 
Com exceção de casos em que a população ameaçaria a ordem pública, o único momento em que sua vontade se expressaria de modo impositivo seria o do voto. Ou seja, tornar públicas as discordâncias com os representantes eleitos seria um direito, mas os efeitos práticos aconteceriam somente no pleito. 
Em contraposição a Hobbes e sua concepção de “representação absoluta” Manin defende que a liberdade de opinião política garante ao povo a condição de falar por si mesmo. Assim, mantém-se o afastamento entre governantes e governados, pois os primeiros não podem substituir os segundos.

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