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Contexto de fala e escrita

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CONTEXTUALIZAÇÃO E EXPLICITUDE
NA RELAÇÃO ENTRE FALA E ESCRITA
Luiz Antônio Marcuschi (UFPE - 1994)1
1. Ponto de partida
Grande parte dos trabalhos que analisam as relações entre a língua falada e a língua 
escrita apontam a contextualização como característica da fala e a descon-
textualização como característica da escrita2. Isto pelo menos em se tratando das 
formas prototípicas da cada modalidade, ou seja, a conversação espontânea, de um 
lado, e a prosa acadêmica escrita, de outro3. Esta posição, como lembra Sinclair 
(1993),4 é “trivialmente verdadeira” se com isto queremos dizer que na fala usamos os 
gestos, a mímica, o olhar e o contexto físico como fatores integrantes da comunicação 
e que na escrita a preferência é dada à verbalização. Em suma, na formulação de 
Tannen (1982:3-4), que se volta decididamente contra essa posição com bons 
argumentos, tal tese conduziu à hipótese de que as estratégias orais ligar-se-iam a um 
“uso máximo do contexto”, com um “máximo de significação mais implicitada do 
que asseverada”, ao passo que as estratégias da escrita ligar-se-iam a um “máximo 
1Apresentada no I ENCONTRO NACIONAL SOBRE LÍNGUA FALADA E ENSINO, na UFAL, 
Maceió, AL, 14-18 de março de 1994. Publicado nos respectivos anais pp. 27-48 em 1995.
2 Em artigo fartamente documentado sobre a situação dos estudos a respeito da relação fala-escrita, D. 
Tannen (1982:3) formula da seguinte maneira as duas hipóteses correntes que, segundo ela, 
expressariam largamente as estratégias associadas à fala e à escrita: “(1) que o discurso oral é 
altamente ligado ao contexto, enquanto a escrita é descontextualizada... (2) que a coesão é estabelecida, 
no discurso oral, mediante canais paralingüísticos e não-verbais (tom de voz, entoação, outros 
elementos da prosódia, expressão facial, gestos), enquanto a coesão seria estabelecida, na escrita, 
mediante a lexicalização e estruturas sintáticas complexas que tornam as conexões explícitas e que 
mostram as relações entre proposições através da subordinação e outros traços de superfície e de base”. 
Entre os muitos autores que postulam as posições identificadas por Tannen poderíamos citar Olson 
(1977 e 1991), Kay (1977), Kroll (1981), Chafe (1981 e 1985) e, de modo mais mitigado, Koch & 
Oesterreicher (1991) e Brown & Yule (1983), além de uma grande quantidade de outros autores 
encontráveis nas bibliografias dos aqui lembrados.
3Embora consensual, este aspecto ainda não foi sistematicamente fundamentado e continua trivial em 
sua feição dicotômica. D. Tannen (1982:3) lembra que a apontada descontextualização, não obstante 
retratar certos traços óbvios da fala, “não decorre da natureza oral ou escrita do discurso enquanto tal, 
mas antes dos gêneros que foram escolhidos para a análise - conversação casual, de um lado, e prosa 
expositiva, de outro.” Para Tannen (p.4), a maioria dos achados para o discurso literário foram também 
encontrados no discurso oral em alguma de suas manifestações. Neste sentido, gostaria de lembrar a 
investigação de Biber (1988) que a meu ver representa um dos esforços mais consistentes na 
demonstração da relação entre propriedades lingüísticas e gêneros textuais (considerando textos 
falados e escritos). Para Biber, uma comparação entre fala e escrita deve ter em conta certas dimensões 
significativas e o continuum tipológico nos usos lingüísticos, evitando comparações dicotômicas com 
base apenas em textos prototípicos de cada modalidade. Assim, para Biber (1988:36), “um dos achados 
centrais [de seu estudo] é que não há qualquer caracterização lingüística ou situacional da fala e 
da escrita que seja verdadeira de todos os gêneros falados e escritos (grifo meu). De um lado, 
alguns gêneros falados e escritos são muitos similares entre si... e de outro, alguns gêneros são muito 
diferentes entre si...”. Não é, portanto, possível uma caracterização homogênea da fala e da escrita nas 
suas relações. Daí a necessidade de tratá-las numa escala contínua. Tannen (1982) traz uma série de 
observações que comprovam a fragilidade da tese dicotômica.
4 As reflexões feitas neste trabalho, que vinha amadurecendo nos últimos dois anos, devem-se em 
grande parte ao estímulo recebido pela leitura desse texto de Melinda Sinclair (1993), que dá uma 
revoada sobre grande parte das questões centrais envolvidas nos conceitos aqui tratados.
1
de informação de base explicitada”. Observo, porém, que embora seja 
descritivamente adequada, esta visão é teoricamente inconsistente, se considerarmos 
que condições físicas de produção discursiva não equivalem a condições de 
elaboração textual.
Pretendo mostrar, pois, que a dicotomia contextualização x descontestualização é 
controversa porque age na suposição de um conceito pré-teórico ou pelo menos pobre 
de contexto. Também pretendo mostrar que é apressada a relação direta entre 
linguagem autônoma com a escrita e linguagem contextual com a fala. Para defender 
essas posições, alinho-me aos que tratam a relação fala-escrita com base na convicção 
de que a visão dicotômica deve ser evitada em favor da visão dentro de um 
continuum.5No geral, partilho com a posição de Rader (1982:197) quando conclui 
seu proveitoso estudo: “talvez a idéia da descontextualização ou autonomia não seja 
justamente uma meta: talvez seja um sonho”. Esta é, também, a tese central aqui: a 
autonomia semântica de textos escritos é uma utopia.
Segundo Sinclair (1993:532-3), há boas razões teóricas e práticas para se tratar da 
noção de contexto. Do lado teórico, a noção de contexto é relevante para o estudo da 
constituição e aquisição da escrita (nas abordagens do letramento), bem como nas 
análises dos processos de compreensão, por permitir estender a reflexão do simples 
contexto situacional para as condições pragmáticas e cognitivas. Sob o aspecto 
prático, uma adequada noção de contexto será relevante para o tratamento dos 
materiais no ensino da escrita. Meu interesse, no entanto, volta-se decididamente ao 
aspecto teórico.
Apesar dessa relevância, não temos até hoje uma noção clara nem consensual de 
contexto. Embora a maioria utilize esse termo, são poucos os autores que se dedicam 
a construir uma noção metodológica e teoricamente fundada de contexto.6Aliás, a bem 
da verdade, deveríamos admitir que existe uma pluralidade de noções de contexto e 
hoje parece obrigatório que cada qual desenvolva a sua para um uso particular.
2. Algumas posições
5 Tannen (1982 e 1982b), Koch & Öterreicher (1991), Biber (1988) são os grandes defensores dessa 
posição que ganha força e busca situar a fala dentro de um continuum na relação com a escrita, tal 
como frisei na nota 3. acima. Uma revisão destas teses pode ser vista em Marcuschi (1994) em 
preparação.
6 Lembro aqui os estudos de Schiffrin (1987a, 1987b) que desenvolve parâmetros para a constituição 
de critérios metodologicamente consistentes na determinação dos fatores contextuais no processo de 
interação verbal face a face. Schiffrin tenta mostrar como os marcadores conversacionais operam com 
função indicial gerando contextos locais na medida em que seus produtores situam os enunciados em 
domínios particulares de fala. Outro autor que merece destaque na mesma linha é Gumperz (1982 e 
1991) que por diversas vezes preocupou-se em construir a noção de pistas contextualizadoras, 
embora não numa relação direta da fala com a escrita. A Gumperz interessam sobremodo as interações 
interculturais e interétnicas, onde o aspecto cognitivo é crucial. Recentemente, a discussão a respeito 
da noção de contexto foi retomada com vigor na coletânea Rethinking Kontext, editada por A. 
Duranti & C. Goodwin (1992). Particularmente valiosas são as observações na introdução dos autores 
com uma revisão das diversas teorias sobre contexto,e dos artigos de Schegloff (1992) e Gumperz 
(1992). Observações sistemáticas importantes dentro da semântica descritiva, mas postas num espectro 
teórico amplo, são as desenvolvidas por Lyons (1977, vol 2, cps. 14-15). Além disso, a noção de 
contexto mereceu atenção desde muito cedo nos estudos etnográficos com Dell Hymes (1974) como 
também na sociolingüística com Labov (1972) e com Ochs (1979). Na pragmática e semântica, cito 
aqui como representativos ainda Prince (1981) Fillmore (1981) e Sag (1981). Muitos destes autores 
serão retomados ao longo desta análise.
2
De um modo geral, quase cada disciplina emprega as expressões contexto, 
contextual, contextualizado, sem uma construção teórica explícita da noção e numa 
perspectiva bastante restrita aos propósitos que tem em vista. Assim é o caso da 
Sociolingüística, área em que o contexto tem sido considerado em geral na forma de 
variáveis sociais (idade, sexo, classe social, escolaridade, procedência etc.), que 
muitos teimam em identificar como variáveis contextuais. Nesse caso, tem-se a 
impressão que contexto é algo dado a priori, estático, físico e exterior à linguagem, 
propiciando estudos na linha da correlação para determinar aspectos da variação 
lingüística. 
Outra área que se serve crucialmente da noção de contexto para suas análises é a 
Pragmática, mas aqui o contexto é o lugar das extensões referenciais ou das 
realizações dêiticas, sejam elas temporais ou espaciais e serve como fonte de 
identificação de referentes, tal como no caso dos dêiticos ou dos advérbios de tempo 
e espaço, ou então o contexto é função de conhecimentos partilhados. Também a 
Etnometododologia serve-se largamente do contexto como um constructo cultural ou 
padrão interacional e fator básico para a compreensão das atividades interacionais. 
Com Gumperz (1982), na linha de uma sociolingüística interacional, passa-se a ter 
uma noção mais dinâmica de contexto que é visto em sua propriedade de “mão 
dupla”, ou seja, é reflexo e tanto situa a produção discursiva como é gerado no 
processo comunicativo: o uso lingüístico tanto reflete como produz contextos. É por 
isso que Gumperz (1992:230) sugere que, “a contextualização deve ser entendida com 
referência a uma teoria da interpretação”, ou seja, ela diz respeito a processos de 
compreensão. Destaque merece aqui a noção de contexto na posisção sistemicista de 
Halliday (1989) para quem texto e contexto são codeterminados, sendo que o texto 
teria certas estruturas obrigatórias que revelam o contexto de produção.
Deixando de lado a enorme riqueza de pontos de vista e implicações teóricas que a 
questão suscita, vou aqui me restringir apenas à noção de contexto em função das 
relações entre fala e escrita, frisando mais as semelhanças do que as diferenças. Ou, 
dito de outra forma, sugiro que é mais razoável olharmos essa relação sob o aspecto 
das características de cada modalidade do que apenas das diferenças.7 Para tanto, 
será conveniente ter em mente que o texto é um processo e não um produto, sendo 
que a visão que concebe o texto falado como contextualizado, trata-o como se ele 
fosse um produto ou artefato objetivo a ser dissecado.8 Além disso, aquela posição 
7 B. Cambourne (1981), tratando desse aspecto, distingue entre duas perspectivas de tratamento da 
relação entre a oralidade e a escrita: (a) a pesrpectiva chamada Mais-Similar-do-que-Diferente 
(MSD) e (b) a perspectiva chamada Mais-Diferente-do-que-Similar (MDS). Esses aspectos tornam-se 
relevantes quando se trata de observar suas consequências no ensino da escrita e da leitura. A linha 
MDS privilegia um tratamento muito mais ligado ao prescritivismo e proscrição com ênfase no ensino 
gramatical. Como o ensino formal da língua praticamente equivale ao ensino da escrita, a perspectiva 
MDS é a mais saliente, sendo a fala praticamente ignorada. A rigor, não creio que o problema esteja 
em apontar as diferenças entre fala e escrita, pois elas existem. O problema está em tomá-las como 
estanques e homogeneamente distribuídas, avaliadas como aspectos negativos da fala e indicativos da 
sugestão de uma forma padrão de língua abstratamente concebida. A melhor perspectiva é a que 
considera os modos de produção em cada gênero na relação das duas modalidades, tal como sugere 
Mazzie (1987). Nunca será demais repisar nessa tecla até que se consiga reverter a mentalidade hoje 
reinante no ensino de língua sob este aspecto. 
8 R. de Beaugrande (1993 em preparação) defende a tese de que todo o estudo do texto - falado e 
escrito - deve dedicar-se ao texto como um fenômeno “real” e não como um fenômeno “virtual”. Não 
3
padece de um grande mal cujo início se acha no ponto de vista saussureano, ou seja, 
na idéia de que a língua é um sistema baseado na estrutura do significante. A rigor, 
porém, a língua não é apenas enunciado (significante) e sim enunciação (discurso). 
Portanto, uma adequada noção de contexto permite não só a observação do uso da 
língua, mas do próprio funcionamento da língua como atividade discursiva, retirando 
pelo menos a primazia do código.
É comum ouvir-se que uma das consequências decorrentes do papel do contexto na 
fala é que com pouca linguagem dá-se a conhecer muitas informações9, surgindo daí a 
rarefação lexical da fala em oposição à densidade informacional da escrita.10 Parece 
que para a transmissão de informação eficientemente na fala, não seria necessário 
explicitar tudo verbalmente, já que o contexto situacional teria o papel de suprir as 
lacunas informacionais com elementos facilmente perceptíveis. Neste caso, uma das 
características da fala seria sua constituição plurissistêmica e uma forte dependência 
contextual, de modo que um enunciado de fala só significaria de fato quando situado 
em seu contexto de produção. Isto fez com que alguns autores como Olson (1977), 
Goody (1986 e 1987) e outros sugerissem que a fala representaria um pensamento 
concreto e a escrita um pensamento abstrato.
Poderíamos prosseguir com uma série de outras questões interessantes ligadas a este 
aspecto central da relação fala-escrita, mas, como lembram Nystrand & Wiemelt 
(1991:28), a doutrina que postula a autonomia do texto escrito é tendenciosa e 
“privilegia os objetivos do autor em relação aos do leitor”. Isto porque enquanto o 
autor estaria “codificando” objetivamente suas idéias, intenções e propósitos no texto, 
o leitor estaria se portando “passivamente” numa atividade de “decodificação” correta 
das idéias ali postas. Isto, no entanto, não condiz com os fatos, pois quanto mais 
maduro e crítico é um leitor, tanto mais ele olha os textos a partir de seus objetivos 
pessoais e não simplesmente a partir dos supostos objetivos do autor. A rigor, o texto 
constitui uma base para a negociação de compreensões possíveis.11
Para Olson (1977), a escrita é a tecnologia da explicitude, dando assim origem à tese 
de que os “textos escritos são autônomos”.12 A este respeito, argumenta Olson 
uma realidade fenomenológica acabada, mas situada em contextos comunicativos de uso. O texto seria 
uma proposta de sentido para o leitor que, mediante processos inferenciais (atividades mentais 
específicas), completaria o sentido.
9 Neste caso não estou me referindo particularmente à denominada “máxima de minimização” proposta 
por Levinson (1987) com a seguinte formulação: “Quanto menos você fala mais você diz.”, o que é, 
aparentemente, uma proposta paradoxal. Refiro-me a algo mais geral e não necessariamente ligado ao 
princípio de cooperação de Grice (1975). O princípio dominante é o da funcionalidade.
10 Em consequência, muitos autores (cf. Brown & Yule, 1983) apontam uma série de características 
sintáticas da fala que apresenta uma sequenciação de frases curtas, parataticamente ligadas, com menor 
frequência de subordinadas. Além disso,haveria maior número de elementos dêiticos na fala, com uma 
referenciação mais exofórica em contrapartida à escrita que apresentaria uma referenciação endofórica. 
Biber (1988:47 ss) traz uma série de observações a este respeito, que podem ser vistas com as 
respectivas fontes. O levantamento de Tannen (1982) também é ilustrativo. Veja-se também Marcuschi 
(1994, em preparação), para uma revisão cr+itica a esse respeito.
11 Contudo, devo frisar que um texto não é totalmente aberto a qualquer tipo de interpretação, pois ele 
sempre deverá ter um núcleo informacional mínimo estável e independente das crenças do leitor.
12 Tese semelhante é defendida por muitos autores entre os quais se acha P. Kay (1977) citado por 
Rader (1982:185) como um dos grandes representantes da tese da “autonomia textual”. Para Kay 
(1977:21-22), “a linguagem autônoma é a linguagem minimamente dependente da transmissão 
simultânea por outros canais, como os paralingüísticos, gestuais, corporais e... minimamente 
dependente da contribuição da informação de fundo por parte do ouvinte”. Com isso, aprender a 
4
(1991:3) que a autonomia do texto escrito deve-se ao fato de ele agir separadamente 
de seu autor no tempo e no espaço, levando o leitor a se situar numa esfera de 
“descontextualização” e “recontextualização”. Para Olson (p.4), essa autonomia 
textual é assegurada, na escrita, com um aumento sensível de construções nominais 
que atualizam os referentes textualmente, ao passo que tais construções decrescem na 
fala que privilegia o envolvimento em situações contextualizadas para a determinação 
do universo referencial.13 Certamente, isto não passa de uma confusão entre 
completude de significação e estratégias de elaboração textual, como lembram 
Nystrand & Wiemelt (1991:27) que em suas análises não constataram uma relação 
empírica entre completude de significação e elaboração textual.
Como se pode notar, a reflexão sobre a noção de contexto, além de recolocar um dos 
pilares da distinção entre fala e escrita, também permite rever várias outras questões, 
tais como as noções de sentido, a organização textual, a tipologia de texto e os 
processos de compreensão. Vejamos agora como enfrentar pelo menos um desses 
aspectos, ou seja, o que se refere à contextualização na relação entre fala e escrita.
3. Contextualização e Explicitude
Sinclair (1993:532) inicia sua análise da noção de contexto, afirmando que não 
podemos confundir contexto com contexto de produção,14 ao dizer que:
escrever é aprender o domínio de um código lingüístico como instrumento único da comunicação sem 
considerar os outros fatores externos. Para Kay, essa pureza formal conduz à explicitude e à precisão.
13 Em favor de Olson (1991), devo lembrar que a certa altura de seu trabalho sobre a compreensão de 
texto por crianças, ele mitiga sua tese, sugerindo que “a estrutura numa palavra ou num texto está no 
texto mas ela só é detectável por quem olha o texto com um conhecimento prévio apropriado” (p.7). 
Deste modo, o autor defende-se das críticas recebidas, respondendo que a tese da autonomia não 
postulava a presença pura e simples do sentido no texto. Por outro lado, critica seus opositores que 
segundo ele “subestimam” a potencialidade da estrutura textual. Para ele a solução acha-se no fato de 
“haver estrutura num texto mas que ela só é detectável por alguém com uma mente preparada” (p.7). 
Vale ressaltar que o próprio Olson esclarece que esta sua posição “não deve ser confundida com 
aquela das ditas teorias ‘interativas’ da leitura que postulam uma interação entre os dados, ou 
processos bottom-up, e conceitos, ou processos top-down” (p.7). Para Olson, “é enganador traçar 
distinções finas entre as coisas que estão no mundo ou no texto e as coisas que estão na mente” (p.7). 
Não vou prosseguir nesta questão, mas lembro que Olson, no final de seu artigo (p.19), indaga-se, um 
tanto resignado: “afinal de contas a significação textual é realmente autônoma?” E responde dizendo 
acreditar que não. Para ele, “os textos estão sempre abertos a reinterpretações... Não só seus sentidos 
mudam tal como seus contextos mudam, mas também os sentidos textuais e sentenciais mudam tal 
como mudam as convenções culturais. Não há, pois, um sentido absoluto no texto. Também não há 
uma intenção verdadeira da qual o texto seria uma expressão fragmentária”. E então acrescenta Olson, 
“mas este é o limite de minha concessão aos críticos da ‘autonomia’ do texto” (p.19). Note-se que a 
única concessão de Olson é uma obviedade, ou seja, que o sentido está sim no texto, apenas não de 
modo absoluto e igual para todos em todos os tempos. Esta longa observação visa apenas a mostrar 
como argumenta um dos principais representantes da tese da “autonomia textual” e quão controversa é 
a questão neste terreno.
14 Comprovação desta observação pode ser feita numa consulta ao breve levantamento de Biber 
(1988:28-29) quando mostra quais os parâmetros usados pelos diversos autores para determinar a 
noção de contexto. O próprio Biber (1988:29) distingue oito componentes que constituem a situação 
discursiva, ou seja: (1) papéis e características dos participantes; (2) relações entre os participantes; (3) 
situação; (4) tópico; (5) objetivos; (6) avaliação social; (7) relação dos participantes com o texto e (8) 
canal. Das pp. 29-46, Biber operacionaliza estes componentes para determinar três conjuntos de 
diferenças: (a) diferenças situacionais; (b) diferenças funcionais e (c) diferenças tipológicas. E daí parte 
para uma análise multifatorial na relação fala-escrita.
5
“ A afirmação de que a língua escrita é descontextualizada é tipicamente baseada numa 
concepção particular de contexto segundo a qual contexto é igualado à situação física em que 
o enunciado é produzido - também designada ‘contexto de produção’ ”.
Como o ouvinte tem acesso imediato ao contexto de produção da fala, este pode ser 
assumido, na produção textual, como parte integrante do texto, sem a necessidade de 
formulação lingüística de uma série de informações. Já no caso do leitor de um texto 
escrito, como ele não dispõe do contexto de produção do autor, este se acha na 
obrigação de reproduzir lingüisticamente todas essas condições. Em consequência, a 
escrita deve ser plenamente explícita, ao passo que a fala pode ser contextualizada. 
Daí surge a dicotomia entre contextualização e explicitude. Em princípio, esta visão 
se afigura trivial, como já frisei, se com ela queremos apenas dizer que o contexto 
físico de produção discursiva na fala e na escrita não se acham representados da 
mesma forma. Mas mesmo aqui teríamos que considerar certos gêneros orais como os 
telefonemas, a comunicação radiofônica, as cartas faladas e assim por diante, que 
diferem em suas formas de contextualização na relação com a interação face a face, o 
que nos obriga a rever a questão no continuum de uma tipologia de formas textuais.15
Neste ponto parece útil adotar a posição de Fillmore (1981:149) que distingue entre 
“um aspecto interno e outro externo” no processo de produção discursiva. Fillmore 
está interessado “ em como as propriedades formais dos textos podem ser relacionadas 
tanto ao que os participantes (produtores e receptores) estão fazendo e ao que estão 
experimentando mentalmente”. Este processo analítico é por ele designado como 
contextualização”que pode ser subdividida em:
(a) contextualização externa (“mundos nos quais o texto pode ser 
 apropriadamente usado”);
(b) contextualização interna (“mundos na imaginação do criador e 
 intérpretes do texto”).
Fillmore dá um exemplo para mostrar como a contextualização externa se dá:
“Você gosta mais deste ou deste?”
Certamente, o ouvinte deste enunciado deve interpretar cada ocorrência comum 
referente diverso e para tanto tem que supor uma contextualização em um mundo em 
que haja pelo menos dois referentes distintos para decidir-se por uma resposta que 
faça sentido ao seu interlocutor.
Com efeito, segundo frisa Lyons (1977:570), há certos enunciados que têm sua 
interpretação numa vinculação situacional maior que outros. Potencialmente, 
enunciados como
 “Está chovendo.” 
são passíveis de um sem número de interpretações a depender de seu contexto de uso. 
Mas quando atualizado, geralmente não temos problemas em decidir qual o sentido 
pretendido. Na verdade, temos uma ocorrência de um enunciado que representa um 
15 Quando proponho ver as relações entre fala e escrita dentro de um continum, não tenho em mente 
anular as diferenças, mas ao contrário, buscar localizá-las num quadro de relações dinâmicas e assim 
evitar a dicotomia estanque. É óbvio que entre fala e escrita existem diferenças evidentes ou 
trivialmente verdadeiras, como as baseadas no contexto situacional. Mas existem outras, tais como as 
diferenças lingüísticas, as diferenças cognitivas e as diferenças tipológicas que são menos óbvias. É 
possível, portanto, concordar com Olson (1982:104), quando sugere que certos “poderes” da escrita 
procedem de suas propriedades distintivas, tais como a conservação no espaço e no tempo e a 
separação do autor e premeditação. Mas isto serve apenas para dar à escrita certos “papéis sociais” 
diferentes da fala. Estes aspectos são óbvios e nós sabemos que há, nas sociedades letradas, certas 
formas de comunicação que se realizam preferencialmente pela escrita e outras pela oralidade.
6
tipo, sendo que as ocorrências de um mesmo tipo são potencialmente indetermináveis 
em sua quantidade e variedade. 
De acordo com Lyons (1977:572), é perda de tempo e sem interesse teórico discutir 
como é possível chegar a tipos de contexto a partir de situações para interpretar 
ocorrências de tipos de enunciados em seus usos empíricos. Muito mais relevante 
para a semântica é a noção de “contexto-de-enunciado” (context-of-utterance) 
como um constructo teórico que corresponderia aproximadamente ao sentido 
dicionarizado. Assim, para Lyons deve ser enfatizado que contexto
“é um constructo teórico em cuja postulação o lingüista abstrai da situação atual e estabelece 
como contextuais todos os fatores que, em virtude de sua influência nos participantes e no 
evento lingüístico, sistematicamente determinam a forma, a adequação ou o significado do 
enunciado.”
Em continuação, Lyons sublinha que o termo “sistematicamente” lembra que se trata 
de uma “noção teórica de contexto” e não aleatória (intuitiva, empírica). Uma noção 
formada na linha da “competência” chomskyana em oposição ao “desempenho” (ou 
contexto de uso do falante), mas sem a intenção de eliminar a noção pré-teórica ou 
intuitiva usada pelos falantes.16
Nesta linha, Lyons (1977:610) sugere há duas maneiras de ver a contextualização: 
“Podemos pensá-la como o processo pelo qual o falante nativo de uma língua produz 
enunciados contextualmente apropriados e internamente coerentes ... Também podemos 
pensá-la como um processo que um lingüista desenvolve em sua descrição das línguas 
particulares.”
A fim de que a descrição seja adequada, deve haver uma correspondência entre esses 
dois tipos de contextualização. Os fatores determinados pelo lingüista devem ser os 
mesmos relevantemente identificados pelo falante em sua produção e interpretação de 
enunciados em condições de uso. Portanto, para Lyons, contextualização seriam os 
processos de uso de certos princípios e regras em virtude dos quais os falantes criam e 
interpretam textos. Esta forma de ver as coisas sugere uma noção de contexto com 
base em conhecimentos e não em situações ou condições físicas de produção. Esses 
conhecimentos são variados e não necessariamente de natureza proposicional (tais 
como os conhecimentos sobre padrões entoacionais, normas culturais, áreas do saber, 
etc.). Conhecer não é o mesmo que saber algo em especial, mas sim ter as condições 
de identificar em que sentido aquelas coisas podem/devem ser interpretadas.
Imagino que é numa linha similar a esta, que tanto Sinclair (1993), como Nystrand & 
Wiemelt (1991) defendem que não é o contexto de produção que determina a 
interpretação de um enunciado. Isso porque, ao referir a situação física em que o 
16 Merece pelo menos um registro aqui a observação de Lyons (1977:573) quando mostra que nesta 
questão existem dois extremos a serem evitados quanto a uma definição e ao papel do contexto nos 
estudos semânticos. Evitado deve ser o extremo representado por Katz & Fodor (1963) que 
defenderam uma semântica da qual deveria ser eliminado todo e qualquer contexto de funcionamento 
dos enunciados. Mas igualmente delicado é o extremo oposto, representado por Firth (1935) para quem 
toda a semântica deveria ser desenvolvida com base numa noção de contexto cultural. Em ilustrativo 
artigo com o título “Contextualism”, Dascal (1981) distingue entre um “contextualismo exagerado” 
(que não admitiria o sentido literal), um “contextualismo moderado” (que ficaria num meio termo 
aceitando o papel do contexto e a significação das sentenças) e um “literalismo puro” (que negaria o 
papel do contexto a postularia a significação literal). A posição mais equilibrada seria a que pudesse 
dar conta do que Dascal chama de “multifariousness of context”, ou seja, a manifestação multiforme 
do contexto, fenômeno do qual a posição de Lyons parece não dar conta. Para Dascal, Lyons apenas 
“aponta na direção correta”, mas carece e uma “complementação convincente” para seu conceito de 
contextualização. Talvez lhe falte uma noção mais rica de desempenho.
7
enunciado é produzido, o contexto de produção “não afeta a linguagem diretamente. 
Ele só pode afetar a linguagem através do conhecimento que falante e ouvinte têm 
deste entorno” (Sinclair, 1993:533, baseada em Regina Blass, 1990). E não apenas do 
conhecimento, mas também da percepção da situação, pois é sabido que nas mesmas 
“condições físicas de produção”, dois interlocutores podem não ter sua atenção 
voltada para os mesmos fenômenos, ou podem perceber os mesmos fenômenos de 
forma diversa. Isso pode sugerir, segundo Sinclair (p.533) que:
“se quisermos entender qual o contexto que afeta a interpretação da linguagem, teríamos que 
focalizar o ‘ambiente ou o contexto no interior da cabeça do falante ou do ouvinte’ e não o 
contexto externo. Certamente, qualquer abordagem cognitivista da compreensão na línguas 
naturais estará fadada a definir ‘contexto’ em termos psicológicos.”
Podemos, pois, distinguir aqui duas coisas de modo bastante claro:
(a) o contexto físico de produção em que se encontram os falantes
(b) o contexto da representação mental do contexto físico
Certamente, esse contexto (b), que serve para determinar a compreensão dos 
enunciados é de algum modo derivado do contexto (a), mas esse contexto mental 
derivado mediante as percepções visuais e auditivas é inadequado como representação 
do contexto em que se dá a interpretação discursiva por não afetar necessarriamente 
e por igual todas as interpretações discursivas, sobretudo de enunciados sobre temas 
abstratos. Por outro lado, esses contextos não são suficientes, já que grande parte de 
nossas interpretações da fala derivam de outros contextos que os da percepção 
auditiva e visual, tais como os conhecimentos enciclopédicos. Sinclair (p. 534) 
conclui daí que há muitas fontes contextuais para a interpretação de enunciados orais, 
sendo que o contexto físico é uma delas.
Para Goodwin & Duranti (1992:3) a noção de contexto envolve duas entidades 
justapostas:(a) o evento em foco; (b) o campo de ação em que se situa o evento.17 
Ambos interagem complementarmente. Assim, “a relação entreduas ordens de 
fenômenos que mutuamente se informam para construir um todo maior é 
absolutamente central para a noção de contexto” (p.4). Torna-se, pois, crucial a 
consideração da “perspectiva dos participantes” na análise do contexto, de modo que é 
imprescindível partir da visão dos interactantes e não apenas do analista.
Contexto é aqui visto na acepção de contexto de processamento, compreendendo, 
além do contexto físico de produção, também os contextos cognitivos de produção e 
de interpretação da fala. Esses contextos são dinâmicos e multifacetados, de modo que 
as condições de produção têm ali um papel parcial. Assim, as ações praticadas no 
discurso, as crenças dos indivíduos, seus conhecimentos enciclopédicos e os 
conhecimentos prévios, bem como o domínio de normas comunicativas etc. 
constituem contextos da interpretação. Podemos dizer que ao produzir um texto, um 
autor /falante não apenas se situa em relação ao espaço e tempo, mas vai situando seu 
17 Para esses autores o evento-foco e o contexto estão numa relação do tipo figura-fundo. Contudo, a 
divisão figura-fundo, devido à assimetria com que foram delineados esses dois pólos, levou a um 
desequilíbrio na análise do evento-foco em relação ao contexto. Isto porque o evento tem uma estrutura 
muito mais clara e articulada, sendo que o contexto, tal como o fundo, são vagos e até amorfos. Isto 
explica, pelo menos parcialmente, o enorme volume de pesquisa no aspecto formal da língua e a pouca 
dedicação às questões do contexto. Outro aspecto que justifica o desleixo dos estudos sobre o contexto, 
para esses autores, foi a redução do estudo lingüístico ao limite máximo da unidade sentencial. Não ia 
além da frase. E de fato, o contexto só passou a ser relevante nos estudos da Lingüística de Texto e nas 
Análises do Discurso e na Conversação, entre outros. Todos esses campos operam em níveis 
lingüísticos transfrásticos, ou seja, a unidade é o próprio texto e não a frase.
8
ouvinte/leitor dentro de um quadro mais amplo que opera como contextualização 
conduzida por pistas prosódicas, lexicais, estilísticas, dialetais etc.. O espaço 
interpretativo vai sendo gerado ao longo da própria produção discursiva, qua atua 
reflexamente, como postulava Gumperz (1982).
Uma outra sugestão sistemática de análise da relevância e do papel do contexto na 
interpretação e textos orais e escritos é a de Dascal & Weizman (1987). Esses autores 
se perguntam que tipo de indícios (clues) os leitores/ouvintes utilizam para sua 
interpretação final e como esses indícios guiam os leitores/ouvintes no labirinto as 
informações textuais e contextuais. O modelo de Dascal & Weizman (p.32) distingue 
entre informação contextual extra-lingüística (conhecimentos de mundo) e meta-
lingüística (conhecimentos da estrutura da língua).18Tanto mais estas informações 
contextuais vão influenciar a interpretação, quanto mais o texto for irônico ou “opaco” 
em sua significação.19 Como “de algum modo todos os textos são opacos” e “a 
transparência absoluta é uma idealização” (p.43), o contexto será sempre requerido 
para a interpretação. Um texto não “opaco” seria aquele em que as significações das 
sentenças e as significações pretendidas pelo autor coincidissem de modo a guiar o 
leitor de forma transparente, mas esse não é o caso na maioria das vezes. Assim, as 
informações contextuais operam como um “segunddo canal” de informação ao lado 
das informações cotextuais.
Diante dessas considerações, podemos dizer que contextualização não corresponde 
a incompletude ou dependência informacional, assim como explicitude não 
corresponde a precisão, eficiência e clareza informacional manifesta na 
verbalização. Pois completude/incompletude e precisão/imprecisão são propriedades 
dos enunciados sob o ponto de vista informacional, ao passo que a explicitude diz 
respeito às condições do processamento para a identificação de referentes, estados 
de coisas, fatos, ações etc. Explícito é o texto que consegue oferecer condições 
suficientes para que o seu ouvinte/leitor consiga estabelecer o quadro referencial para 
a interpretação. Neste sentido, explicitude não é o mesmo que autonomia semântica, 
18 O modelo de Dascal & Weizman (1987:36-39) apresenta, em resumo, as seguintes suposições: (i) na 
sua identificação da significação, o destinatário é guiado por dois tipos de indícios que são os 
conhecimentos extra-lingüísticos e metalingüísticos; (ii) para cada tipo de indício (clue) são postulados 
três níveis, ou seja, “específico”(imediato), “trivial”(shallow) e “de fundo”(background) (fatos, 
princípios etc.); (iii) paralelismo dos níveis entre os dois tipos e indícios; (iv) os dois tipos de indícios 
contextuais são explorados por dois processos, ou seja, identificação e avaliação. Com base nisso 
surgem 6 tipos fontes para os indícios numa conjugação dos tipos de indícios e os seus três níveis. Os 
autores testaram o modelo na análise de um texto jornalístico e mostraram que a significação 
pretendida pelo autor (speaker’s meaning) não equivalia à significação superficialmente posta pela 
“literalidade” dos enunciados (utterance meaning). Pois o texto analisado era altamente irônico e só 
poderia ser entendido como uma crítica quando lido com o pano de fundo que não fazia parte da 
cotextualidade (relações intra-textuais). Assim, o texto se torna altamente contextualizado em 
conhecimentos de fundo e natureza extra- e meta-lingüística, não se podendo falar nem em literalidade, 
nem em autonomia semântica do texto.
19 É oportuno constatar que Dascal & Weizman (1987:44) distinguem entre “indiretude” (que conduz à 
ironia) e “opacidade”, sendo que somente esta última “detona” novas identificações. A opaciadade é 
responsável pelo suprimento de lacunas (gaps) e a indiretude pela solução do desalinhamento 
(mismatch) entre o expresso e pretendido, com o auxílio de um “segundo canal” de informação. Este 
“segundo canal” é extralingüístico e específico e diz respeito ao entorno do texto e não tem a ver com a 
situação referida no texto. Portanto, o leitor dispõe de dois tipos de informação: (a) indícios (clues) 
cotextuais e contextuais que o levam a determinar a significação pretendida pelo autor e a significação 
posta pelos enunciados e (b) pistas (cues) que auxiliam na distinção entre opacidade e indiretude.
9
pois isto seria o mesmo que dar às formas lingüísticas um funcionamento 
independente do próprio contexto em sentido mais amplo.
Intenções, inferências e subentendidos fogem às condições da explicitude e fazem 
parte da implicitude. Com isto, pode-se dizer que explícito e implícito não são dois 
pólos de uma dicotomia, mas dois domínios da significação. A explicitude 
relaciona-se aos procedimentos de referenciação e controle informacional imediato e 
tem que considerar também os conhecimentos partilhados, enquanto que a implicitude 
relaciona-se a níveis de processamento a partir de condições cognitivas do 
leitor/ouvinte e de estratégias de verbalização do falante/autor num processo de 
negociação. A rigor, o funcionamento discursivo do texto de onde são gerados os 
sentidos interpretados se dá numa interação fundada em pressupostos cognitivos 
mútuos nem sempre presentes na verbalização superficialmente proposta. Imagino que 
é nesta dimensão que opera o princípio de cooperação de Grice (1975) com suas 
implicaturas conversacionais, que ocorrem tanto na fala como na escrita, pois elas 
são inerentes ao processo comunicativo como tal e não a uma modalidade de uso da 
língua. Por isso mesmo as máximas podem operar gerando implicaturas tanto no texto 
acadêmico escrito, como na conversação espontânea.
Portanto, a contextualização é muito mais uma esfera (“segundo canal”) de controle 
das condições deprocessamento lingüístico ( que deve ser partilhado na recepção), o 
que torna relevante pensá-la na sua relação com a compreensão e os processos 
inferenciais, tal como sugere Gumperz (1992:230)20. Neste caso a contextualização 
não pode caracterizar uma modalidade de uso da língua, ou seja, a fala, já que se 
evidencia como intrínseca ao próprio processamento lingüístico em geral. Por outro 
lado, a explicitude diz respeito às condições particulares do empacotamento 
lingüístico da informação dada, o que impede que se oponha à contextualização. A 
explicitude baseia-se menos na qualidade expositiva do texto como tal e mais na 
suposição de conições de partilhamento de conhecimentos comuns e condições de 
acesso e processamento.21
20Embora Gumperz se refira explicitamente aos processos da interação verbal face a face, suponho que 
suas observações podem ser estendidas também a outros eventos comunicativos, uma vez consideradas 
as suas condições específicas. A este propósito, assim se expressa Gumperz (1992:230) quando propõe 
empregar o termo contextualização
“para referir ao uso que falantes e ouvintes fazem de signos verbais e não verbais para relatar 
o que é dito a cada momento e em cada lugar para conhecer a experiência adquirida no 
passado a fim de recuperar as pressuposições em que devem confiar para manter o 
envolvimento conversacional e acessar o que é intencionado.”
Note-se, pois, que a noção de contextualização acha-se intrinsecamente ligada à noção de processo 
inferencial, supondo que: (a) a compreensão situada se dá como processo inferencial no contexto da 
interação; (b) as inferências realizadas são sugestões fundadas em suposições e não são verdades 
absolutas; (c) o próprio conhecimento de base suposto para as inferências é parte do processo de 
interação e como tal constituído nesse processo pela via da negociação cooperativa. Para Gumperz 
(1992:231), a contextualização, na interação, se dá com base em certas pistas que, segundo ele, 
operam “primariamente” nos seguintes níveis da produção discursiva: (i) prosódia; (ii) signos 
paralingüísticos; (iii) escolha do código e (iv) escolha de formas lexicais e expressões formulaicas. 
Na verdade, é possível dizer que a linguagem produz contexto.
21 Assim se expressam Nystrand & Wiemelt (1991:31) a este respeito: 
“Um texto é, pois, explícito não quando trabalha independentemente do contexto. Ao contrário, um 
texto é explícito precisamente quando ele é sintonizado e funciona adequadamente em termos de seu 
contexto de uso vis-à-vis aos respectivos propósitos, situações e cultura do leitor. Quanto mais 
plenamente o texto funciona nesses níveis, tanto mais explícita sua significação. Daí porque 
explicitude não se acha simplesmente relacionada à elaboração textual, nem é adequadamente 
10
Baseando-se nas posições de Prince (1981) e de Tannen (1982), Mazzie (1987) 
realizou alguns experimentos para verificar a relevância das modalidades falada e 
escrita, reconsiderando três variáveis: (a) conteúdo (abstrato vs. narrativo); (b) 
modalidade (oral vs. escrito) e (c) relação emissor-receptor (audiência individual 
vs. audiência imaginada). A hipótese era a de que “a explicitude (operacionalizada 
como a proporção de sintagmas nominais codificados como inferíveis vs. evocados ou 
novos) variaria não de acordo com a modalidade mas como função do conteúdo e/ou 
relação emissor-receptor” (p.33). 22 Os resultados mostraram que as entidades 
evocadas (que já haviam aparecido no texto), as inferíveis (preenchimento de 
lacunas) e novas (introduzidas pela primeira vez), manifestadas em sintagmas 
nominais, variavam numa relação com os textos abstratos e narrativos 
independentemente da modalidade. Portanto, a explicitude era uma função do 
conteúdo e não da modalidade de língua. Assim, por exemplo, os textos escritos e 
orais abstratos apresentavam três vezes mais informações inferíveis que os narrativos 
orais e escritos. Por outro lado, os textos orais e escritos narrativos apresentavam o 
dobro de informações evocadas em relação aos abstratos. Na verdade, temos aqui 
uma relação de conteúdo e gênero textual covariando, o que permite supor que a 
explicitude é uma estratégia de produção textual e não uma característica de uma 
modalidade de língua, fato já apontado por Tannen (1982).
Sinclair (1993:540) lembra que explicitude total no texto escrito afeta a comunicação 
e é provavelmente impossível de ser atingida. Talvez não seja nem mesmo desejável 
na sua forma plenamente verbalizada, já que representaria uma sobrecarga textual 
muito grande. Para a autora, que cita Nystrand, um texto que pretendesse ser 
completamente explícito, eliminando toda a necessidade de conhecimentos mútuos e 
outros pressupostos cognitivos, seria bastante ambíguo, “assim como um quadro em 
que tudo é figura e não há fundo algum”. A tese da explicitude plena e autonomia 
total tal como defendida por Olson (1977) conduziria à “sujeição” e certamente à 
ofuscação por excesso.
Sperber & Wilson (1986:218) são invocados por Sinclair (1993:241) quando dizem 
que a explicitude excessiva é danosa e até mesmo ofensiva. Além disso, “a 
explicitude, no sentido de expressão do pensamento completo no próprio texto, não 
garantirá a comunicação efetiva” (p.341). Isto de um modo geral, seja na fala ou na 
escrita. Ironizando a tese de Olson (1977) de que os textos acadêmicos são toalmente 
explícitos, autônomos e descontextualizados, Sinclair (1993:543) diz que o próprio 
texto de Olson é uma contraprova disso, já que exige uma contextualização muito 
grande para ser entendido. 
Essas posições me conduzem de volta à tese central de Nystrand & Wiemelt 
(1991:25) que distinguem entre a visão formalista, na linha da autonomia textual, e a 
explicada pelas propriedades formais do texto apenas. Antes, explicitude é fenomenal - uma qualidade 
da interação sustentada pelo texto entre um escritor e um leitor, ocorrendo não quando o texto 
manifesta plenamente seu conteúdo semântico, mas sim quando o leitor pode de fato realizar seu 
potencial semântico. Em suma, um texto não é explícito porque ele diz tudo, mas sim porque ele 
elabora precisamente aqueles pontos que são importantes no seu contexto de uso.”
22 A pesquisa foi realizada com 32 universitários, 16 homens e 16 mulheres, falantes nativos do Inglês. 
Dezesseis produziram textos orais e 16, textos escritos. Foram criadas condições abstratas e condições 
narrativas com materiais específicos (séries de equações numéricas para as abstratas e sequências de 
figuras, para as narrativas), consideradas as três variáveis.
11
visão interacionista, na linha da negociação. Adotando essa segunda posição, os 
autores vêem “os textos como explícitos quando eles efetivamente negociam 
compreensões partilhadas sem problemas entre escritores e leitores”. 
Metaforicamente, pode-se dizer que “enquanto as teorias formalistas localizam a 
significação nos textos, as teorias dialógicas encontram-no entre escritores e 
leitores”.23
Prince (1981), ao propor uma tipologia para as informações novas e dadas, mostra que 
os textos acadêmicos, tal como os textos orais, estão sujeitos a uma série de 
contextualizações e pressupostos culturais específicos que concorrem de modo 
decisivo para a compreensão dos enunciados. Certamente, tais suposições são de 
natureza diversa no caso de textos orais e textos acadêmicos escritos. Para Prince, os 
textos escritos têm muito mais informações “inferíveis” do que os textos orais, o que 
leva a supor que a escrita é mais contextualizada do que a fala. Prince (1981:253) 
chega a dizer que os textos literários, por exemplo, exigem muito mais suposiçõesculturais para serem entendidos do que os textos narrativos orais24 e com isso 
desmancha a tese da autonomia da escrita proposta por Olson (1977). 
Sinclair (1993:534) lembra que Sperber & Wilson (1986), entre outros, defendem que 
a noção de contexto deve estar relacionada a algum tipo de suposições que os falantes 
representam internamente, isto é, ele se define e se determina na relação com 
suposições cognitivas não necessariamente provenientes da situação física em que os 
enunciados são produzidos. Entre as fontes para a contextualização está a memória 
dos indivíduos, que contém os mais variados conhecimentos que operam como 
contexto de processamento. Diante de uma tal noção de contexto, parece que a escrita 
é contextualizada, mas não na mesma maneira que a fala. Para Sinclair, temos aqui 
um interessante paradoxo: 
- a fala é contextualizada fisicamente em suas condições de produção e a 
escrita é descontextualizada dessas condições imediatas de produção e neste sentido a 
escrita deveria ser completamente explícita.
- a escrita é contextualizada num entorno mental construído pelos inddivíduos 
em sua mente e neste caso ela não teria como ser totalmente explícita.
Tese semelhante parece ser a defendida por Rader (1982:1887) quando afirma:
“ A escrita, em virtude de sua bem conhecida característica de ser removida duma situação 
conversacional imediata, é particularmente bem talhada para um tipo de uso lingüístico que 
depende ao máximo da contribuição do background informacional da parte do leitor, ao passo 
que depende minimamente dos canais paralingüísticos da gestualidade e da mímica.”
Esta visão, aplicada por Rader à narrativa literária conduz à constatação de que o 
sentido não está no texto da forma como postulava Olson, mas é algo que “acontece” 
(p. 188) no leitor e “não pode ser reduzido a um conjunto de proposições”.25
23Para Nystrand & Wiemelt (1991:31), a distinção entre as concepções dialógica e formalista de 
explicitude tem suas raizes na tradição dos estudos lingüísticos iniciados com Saussure, quando este 
distinguiu entre langue e parole. Os formalistas representam a linha da idealização numa comunidade 
abstrata e se fundam na estrutura do sistema da língua. As teorias dialógicas centram-se na 
comunicação efetiva no uso discursivo da língua.
24 Um estudo notável nesta linha é o de M. Rader (1982) que analisa uma narrativa escrita realizada por 
uma menina judia, fazendo uma reconstrução das diversas possibilidades de “contextualização”.
25 Rader (1982:188) postula que essa autonomia seria possível para o caso dos textos científicos e não 
para o Gênero narrativo. Rader diz que a dicotomia não está entre fala e escrita e sim entre os 
diferentes tipos de uso da escrita. Parece-me que embora tentadora, a tese não está bem posta, pois 
todos os tipos de uso lingüístico, sejam eles de que gênero for e de que modalidade for (fala ou escrita) 
12
Portanto, com base numa noção de contexto ampliada, que considera contextos 
pragmáticos de natureza cognitiva, teremos de admitir que os textos escritos 
também são contextualizados. Sinclair (1993:544-551) tenta mostrar isto a partir de 
algumas evidências empíricas colhidas na análise de um texto científico de dois 
químicos a respeito da “dupla estrutura helicoidal do DNA”. A autora aponta cinco 
aspectos em que observou dependência contextual neste caso:
(a) expressões que são ambíguas em seu uso, podendo ter tanto uma 
significação técnica como coloquial. Entre eses termos estão “sal”, “modelo”, 
“base”, “material” que o leitor tem que entender num sentido técnico no caso do 
texto analisado;
(b) expressões cujo referente não é textual e só pode ser identificado na 
medida em que leitor tem conhecimentos prévios do tema, tal como a expressão “a 
estrutura de raio-X”, que deve designar algo definido para o DNA a partir do artigo;
(c) termos semanticamente vagos que devem ser “enriquecidos” na 
interpretação, tal como “muito pequeno”, cujo enriquecimento não procede do texto, 
mas de conhecimentos de química;
(d) relações de coerência que em pontos textuais específicos não são 
evidenciadas no texto, mas providenciadas pelo leitor que para tanto serve-se de 
conhecimentos pessoais prévios;
(e) enunciados cujo conteúdo acha-se implícito ou subentendido, e não vem 
expresso verbalmente no texto, têm seu preenchimento realizado pela intervenção de 
conhecimentos técnicos do leitor.
Isto permite considerar o texto acadêmico escrito como contextualizado na medida em 
que para seu entendimento exige-se uma série de informações externas, sejam de 
caráter técnico na área ou de conhecimentos gerais. Em consequência, não se pode 
dizer que o texto é explícito, já que ele é orientado para um receptor do qual se exige 
que tenha condições de efetuar uma contextualização cognitiva específica baseada 
em suposições. É por isso que nem todos os leitores entendem todos os textos. Pois 
nem todos os leitores têm condições de fazer todas as suposições necessárias ao bom 
entendimento de certos textos.
Em suma, parece perfeitamente razoável admitir a sugestão de Nystrand (1987:201), 
lembrada por Sinclair (p. 553) quando diz que “um texto é bem escrito”
“ não porque ele diz tudo por si mesmo, mas sim porque ele permite um balanço criterioso 
entre o que precisa ser dito e o que precisa ser suposto. Certamente, o que conta na efetiva 
composição é o conhecimento de como e quando ser explícito, não simplesmente ser 
explícito”.
Em conclusão (Sinclair, 1993:553), podemos dizer que o fato de “não haver uma 
diferença qualitativa entre fala e escrita no que respeita ao papel do contexto não é 
surpreendente” tendo em vista os avanços recentes da pragmática. Há princípios 
cognitivos gerais que agem de maneira crucial nos processos de compreensão e que 
levam em conta contextos mentais. A tese central é, portanto, a de que o mais difícil 
na composição do texto escrito é saber o que deve ser explicitamente informado e 
o que pode ser suposto como conhecido pelo leitor. A explicitude será fruto de uma 
base suposicional negociada.
sempre deverão ser contextualizados de algum modo. A diferença estaria na natureza (ou tipo) do 
contexto necessário.
13
Diante desta proposta teórica, fica claro que a noção de contexto como contexto físico 
e situacional é reducionista e só contempla um aspecto do problema. Quando 
radicalizada, essa noção mascara as relações semânticas, pragmáticas e cognitivas e 
leva a crer que contextualizar é dar coordenadas de ordem física (espaço e tempo) e 
que explicitar é dar coordenadas verbalizadas. Mas verbalizar não equivale a 
explicitar, assim como a gestualidade, a mímica, o olhar, as características prosódicas 
e os entornos espaço-temporais não equivalem a contextualizar. Isso contempla 
apenas partes da questão e talvez não as mais decisivas na distinção fala-escrita. Se 
fosse essencial, estaríamos colocando a ausência/presença de condições físicas no ato 
de produção lingüística como critérios centrais para a produção lingüística. Tomemos 
o diálogo a seguir:
1 T - desde quando a senhora sente essas dores?
2 Q- já faz uns dois meses mais ou menos e geralmente aqui.
3 T - e antes disso nunca tinha sentido nada?
4 Q- como assim?
5 T - é que geralmente nesse tipo de coisa vem antes um período com
6 fases de formigamento da perna ou também fortes coceiras...
Certamente, não seria difícil dizer em que contexto foi produzida essa interação 
verbal. Mas isso não se deve propriamente a algum tipo de uso da língua e sim ao 
nosso conhecimento de situações da vida diária em que tais formas textuais são 
rotineiras. Contudo, podemos dizer que na linha 2 há uma forma que possivelmente 
não ocorreria na escrita, ou seja, “geralmente aqui” seria substituídopor “geralmente 
na barriga da perna direita”. Isto significa explicitar enquanto atividade de 
identificação referencial mediante uma estratégia de verbalização.
Assim, podemos dizer, com Sinclair, que com base numa noção física de contexto, em 
que as pistas paralíngüísticas citadas acima têm papel central, de fato a fala é 
contextualizada e a escrita descontextualizada. Contudo também este argumento não é 
válido para justificar uma diferença entre fala e escrita segundo lembra a mesma 
autora (p.536). Trata-se, no caso, de uma simplificação da noção de pista 
paralingüística, já que a escrita também tem suas pistas deste tipo. Para Nystrand & 
Wiemelt (1991:29), as marcas diacríticas de interrogação, exclamação, vírgula etc., 
bem como o tipo de letras, por ex., itálico, negrito, caixa alta, etc., as ilustrações na 
escrita e até o lugar da classificação de um livro na biblioteca são todas pistas 
contextualizadoras típicas da escrita. Basta o leitor conhecer essas pistas para entender 
seu alcance no texto.
Retomando a idéia expressa acima, de que o leitor/ouvinte de um texto é ativo e não 
passivo, Nystrand & Wiemelt (1991:29) frisam que “a significação textual em 
qualquer caso não depende simplesmente da elaboração do texto, mas também dos 
conhecimentos prévios do leitor” que por sua vez é guiado pelas seleções feitas pelo 
autor. Justamente por essa razão
“a significação textual é explícita não quando o que é dito bate com o que é significado mas 
sim quando o que é dito traça um balanço entre o que precisa ser dito e o que deve ser 
suposto. Em outros termos, explicitude não deve ser julgada em termos de ajuste entre a 
intenção do escritor e representação do texto, mas sim em termos de reciprocidade entre e 
escritor e leitor tal como mediada pelo texto. Significação explícita aflora na interface da 
cognição autor-leitor altamente sincronizada.” (grifos do autor)
14
Portanto, trata-se de um equívoco “associar explicitude de significação com a 
elaboração do texto”, pois isto seria admitir que o texto escrito expressaria todo seu 
potencial de sentido apenas mediante seu léxico e estruturas lingüísticas. Sinclair 
(1993:537) diz que as pistas contextualizadoras da escrita não podem ser associadas 
aos contextos de produção tal como na fala. No caso da escrita a mão, por exemplo, 
mesmo estando ela sem a assinatura do autor, mas tendo nós conhecimento daquelas 
letras, podemos inferir a autoria. Trata-se de uma pista interna ao texto, mas não é um 
aspecto do sistema da língua.
4. Alguns Exemplos
Tomando as posições teóricas desenvolvidas até aqui podemos identificar aspectos 
bastante corriqueiros até, que permitem observar usos lingüísticos em que 
contextualização e explicitude se tornam relevantes. Vejamos alguns exemplos para 
então concluir.
Suponhamos duas situações diversas na recepção de um texto: na primeira, alguém lê 
um texto escrito por mim e, na segunda, esse alguém ouve o mesmo texto lido por 
mim para ele. Muito provavelmente, ele fará a assertiva abaixo em apenas um dos 
casos:
“você não é pernambucano”
De onde vem essa proposição? Certamente não das informações explicitadas no texto 
e sim de alguma outra pista que é precisamente a contextualização de meu sotaque. O 
ponto de partida é a base de conhecimentos de meu ouvinte sobre a língua e não sobre 
mim ou os conteúdos de meu texto ou do contexto físico da produção. Trata-se de 
uma pista prosódica.
Suponha-se agora que algém lê um texto e diga o seguinte, mesmo na hipótese de 
desconhecer quem é o autor do texto:
“esse texto foi escrito por um nordestino.”
Neste caso, essa proposição segue um indício diverso que no exemplo anterior. 
Suponho que a contextualização se deu aqui em função de itens lexicais ou de 
construções lingüísticas por ele identificadas como características dos nordestinos. 
Trata-se de uma questão de estilo.
Suponha-se que alguém assim se expresse, em relação ao plano econômico FHC, 
temendo suas perdas salariais:
“É agora que a vaca vai pro brejo.”
Aqui, provavelmente, ocorre uma contextualização que pouco tem a ver com as duas 
anteriores. Mas não se pode deixar de admitir que se trata de um tipo de 
contextualização da proposição para chegar a uma determinada compreensão. Trata-se 
da identificação de uma pista idiomática.
Suponha-se o exemplo de Dascal (1981) a respeito das implicaturas de Grice (1975):
“Ele tem uma ótima escrita a mão.”
Certamente, não se trata de uma referência à bela caligrafia do cidadão, se o 
enunciado foi produzido como “recomendação” a um cargo de professor de 
Lingüística. Trata-se da busca de uma interpretação adequada com base na máxima de 
relação.
15
5. Algumas conclusões
A análise aqui empreendida tentou fornecer argumentos para contornar a tese de que a 
fala é contextualizada e a escrita descontextualizada, já que, como disse Sinclair 
(1993), essa tese é apenas “trivialmente verdadeira”. O argumento contra a tese da 
contextualização funda-se basicamente na hipótese de que não se pode considerar 
como equivalentes as condições de produção e o contexto de produção. Também 
não se pode considerar como contexto apenas a situação física de produção, devendo-
se levar em conta as condições cognitivas e pragmáticas.
Outra tese central é que não se pode defender a explicitude como uma propriedade da 
escrita em docorrência de sua descontextualização. Isso porque a explicitude não está 
essencialmente associada à descontextualização nem à verbalização. Ela é função de 
operações semânticas, pragmáticas e cognitivas que tanto na escrita como na fala 
ocorrem com a mesma intensidade. Isto fica claro nas sugestões de Prince (1981). O 
equívoco reside em imaginar que explicitude equivale a verbalização. Contudo, 
verbalizar é apenas representar lingüisticamente pistas para interpretação, mas com 
isso não se está determinando uma significação específica. 
Com base nestas posições, deve ter ficado claro que a significação não se acha 
autonomamente no texto como se a linguagem tivesse uma significação “literal” plena 
e identificável. Por outro lado, também parece evidente que a significação não é uma 
decorrência da pura e simples contextualização dos enunciados, como se a língua não 
tivesse nenhum nível intralingüístico de significação. A sugestão aqui feita aproxima-
se da de Dascal (1981) e postula que a significação dos enunciados e os sentidos dos 
textos são o produto (função) de um conjunto de fatores entre os quais a 
contextualização ou inserção contextual tem um papel relevante nas duas modalidades 
de uso da língua.
Em consequência, o modelo textual desenvolvido a partir da teoria da comunicação, 
que operava na dicotomia codificação e decodificação tem que ser superado e 
substituído por um modelo construtivo, cognitivo e interacionista que permite ver o 
sentido como o resultado de uma negociação realizada com base em suposições 
mutuamente acessíveis aos interactantes. Portanto, ao contrário de Olson (1991:7), 
que negava que a leitura pudesse ser vista pela metáfora da adivinhação e solução de 
problemas, e postulava que a compreensão era uma questão de “reconhecimento”, 
suponho ser mais plausível postular que a leitura é uma negociação de sentidos.
Uma análise adequada da relação fala-escrita sob o ponto de vista da inserção 
situacional, tem que considerar a diferença dos modos de produção das duas 
modalidades e não uma simples oposição de duas modalidades, isto é oralidade de 
escrita. Assim, considerando a fala, é trivial a observação de que ali os gestos e o 
olhar vão ter um papel crucial, o que não ocorre na escrita com estas duas pistas, mas 
por outro lado, na escrita vamos ter outras pistas específicas. Além disso, as condições 
do processamentolingüístico na fala e escrita estão submetidas a exigências diversas 
pela natureza do meio utilizado e pela relação entre o produtor e o receptor. A tese da 
autonomia do texto escrito tem como consequência o princípio de que os processos de 
compreensão na fala e na escrita são diversos (Olson, 1991). No entanto, isto é um 
equívoco, pois trata o sentido como imposto, na escrita, e como negociado, na fala.
16
Entre as conclusões mais relevantes a que se chega aqui acha-se a de que a análise 
mais frutífera das relações entre fala e escrita será a que se dedicar preferencialmente 
à investigação das relações entre os gêneros textuais orais e escritos. A questão é, 
por um lado, metodológica e, por outro, empírica. O que este ensaio pretendeu foi dar 
uma sugestão na linha da investigação aqui proposta, numa tentativa de superar as 
dicotomias apressadas e generalizadoras, tendo em vista sobretudo evitar o estrago 
que tais posturas podem causar no ensino de língua.
Em suma, para uma noção de contexto menos intuitiva e mais explicativa, podemos 
identificar, entre os fatores que têm relevância máxima, pelo menos os seguintes: (a) 
participantes (características pessoais e relação entre eles); (b) objetivos (os 
propósitos da comunicação); (c) público (a noção do público a que se destina uma 
produção textual escrita ou falada constroi uma imagem e supõe partilhamentos que 
delimitam o que e como dizer); (d) tema (a matéria tratada e suas condições prévias); 
(e) conhecimentos (sejam eles lingüísticos ou enciclopédicos, tanto próprios como do 
interlocutor/leitor); (e) estilo (informal ou formal, etc.); (f) situação comunicativa 
(envolvendo as condições em que se dá a produção textual) e (g) gênero de texto (que 
diz respeito a fenômenos e organização superestrutural). Note-se que para a 
construção de uma noção teórica de contexto não parece ser relevante a modalidade de 
uso da língua. Além disso, fique claríssimo que contextualizar é essencialmente mais 
do que situar ou localizar fatoe e fenômenos no especço e no tempo.
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