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Economia e gestão do Agronegócio Agronegócio: Modelos Cooperativos objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender a importância dos aspectos da opção pela cooperação dos agentes de cadeias produtivas; • entender como os modelos de cooperação apontam soluções às organizações distintas dos modelos tradicionais. Disponível em: https://www.sescooprs.coop.br/noticias/2020/12/29/cooperativismo-ganha-forca-como-impulsionador-da-economia- em-2021/. acesso em: 10 set. 2021. Dentro do agronegócio, as propriedades rurais têm diversos tamanhos de áreas. elas produzem diferentes culturas e, particularmente para o pequeno produtor, ocorrem algumas limitações técnicas e gerenciais que o impossibilitam de atender às exigências do mercado consumidor. Por essa razão, nesta aula, discutiremos a importância dos modelos cooperativos dentro do agronegócio. Bons estudos! 4º aula 21 seções de estudo 1– cooperação no agronegócio 2– estruturação de modelos de cooperação 1- cooperação no agronegócio Quando muitas unidades econômicas, em geral, no mesmo segmento de produção, concluem que determinada atividade se tornou custosa demais para cada uma delas isoladamente, elas se agrupam, formando uma cooperativa dotada de organização administrativa específica e transferem a essa organização determinadas tarefas de modo agregado. Desse modo, essas redes de cooperação são modelos que amplamente são utilizados em todas as partes do mundo e em diversos setores da economia (FrANK, 1982). Um exemplo são as cooperativas que não irão possuir, sob aspectos econômicos, uma existência autônoma e independente dos seus membros, caso das sociedades de capital, mas, sobretudo, deverão existir como organização econômica intermediária, que presta um serviço para a satisfação das necessidades das economias particulares dos cooperados. ou seja, as relações econômicas entre os cooperados e sua empresa são consideradas um “ato cooperativo” e não necessariamente o “ato comercial”, conforme estabelece a constituição brasileira (BATALHA, 2007). outra característica fundamental das sociedades cooperativas é que são caracterizadas como sociedades de pessoas, nas quais ocorre a agregação inicial do fator de produção de trabalho (em assembleias gerais, por exemplo, cada associado tem direito a um único voto); ao contrário das sociedades de capital, que se caracterizam por agregar inicialmente o fator de produção capital (em assembleias gerais, por exemplo, o voto é proporcional ao capital de cada investidor). Portanto, a principal missão ou princípio econômico empresarial da cooperativa é servir como intermediária entre o mercado e as economias dos cooperados para promover seu incremento (ZYLBerSZTAJN, 2002). Quanto à origem, o cooperativismo iniciou na Inglaterra, em 1844, no bairro de rochdale, em Manchester. Nesse local, surgiu a primeira cooperativa moderna chamada de “Sociedade dos Probos de rochdale”, que se formou pautada em valores e princípios morais, dentre os quais se baseiam a honestidade, a solidariedade, a equidade e a transparência, fundamentos esses que são considerados até a atualidade, como os pilares do cooperativismo (ocB, 2021). A referência dos princípios doutrinários dos estatutos das cooperativas é baseada no estatuto de rochdale, que norteou toda a organização cooperativa, sendo seguida e propagada pela Aliança cooperativa Internacional e por cada uma das organizações cooperativas em nível nacional. Todos esses princípios doutrinários são demostrados na Figura 1. Figura 1 - Princípios doutrinários do cooperativismo Fonte: Batalha (2007, p. 712). Dentre os princípios expostos nos estatutos há o princípio da democracia, pelo qual a sociedade será dirigida por um grupo composto de presidente, tesoureiro, secretário, corpo de três administradores e cinco diretores. Todos serão eleitos em assembleia geral dos associados, na qual cada associado tem direito a um único voto. o princípio da livre adesão se refere ao fato de que qualquer cidadão indicado por dois membros da sociedade e aprovado pelos diretores se tornará um membro a mais associado; por outra parte, também terá a sua livre saída da sociedade (ocB, 2021). os demais princípios restantes expostos nos estatutos dessa sociedade são: pagamento de taxa limitada de juros ao capital investido, o retorno pro rata dos excedentes, proporcional à atividade e à operação de cada um dos associados, a educação dos membros, realizada por meio do fundo específico para essa finalidade, bem como a neutralidade política e religiosa dessa sociedade (ocB, 2021). em suma, esses são os princípios doutrinários do cooperativismo, que pouco se alteram desde a época de sua criação. em geral, é resumido como: a liberdade, a igualdade, a fraternidade e a solidariedade, expressas através dos princípios universais do cooperativismo, ou seja, gestão democrática, livre adesão, taxa limitada de juros ao capital, distribuição das sobras pro rata, ativa cooperação entre as cooperativas e priorização da educação cooperativista (ocB, 2021). Mesmo que alguns pontos tenham sido discutidos em assembleias gerais e passados por algumas pequenas alterações, o órgão máximo do movimento cooperativista mundial, criado em 1895, é a Aliança cooperativa Internacional (AcI), que segue e estabelece até hoje esses princípios como fundamentais para a definição de uma cooperativa, como também para a filiação em seus quadros. o sistema cooperativista no Brasil é representado por organizações estaduais, as organizações das cooperativas estaduais (oces) e, em nível nacional, há a organização das cooperativas Brasileiras (ocB). No âmbito internacional, a OCB é filiada à Organização das Cooperativas Americanas (ocA) e esta à Aliança cooperativa Internacional (AcI). As cooperativas são categorizadas de acordo com seus objetivos sociais, como: de consumo, agropecuárias, trabalho e de crédito. Dentre os principais ramos do cooperativismo se destaca o cooperativismo agrícola ou agropecuário, que teve início no Brasil a partir de 1906, pela junção de produtores rurais, a maior parte deles sendo de imigrantes europeus (origem alemã e italiana). esses imigrantes trouxeram 22Economia e gestão do Agronegócio consigo a bagagem cultural de seus países de origem, como: o trabalho associativo e a experiência de atividades familiares comunitárias; dessa forma, incentivou-se a criação de novas cooperativas no Brasil (ocB, 2021). De forma geral, no que se refere à composição das cooperativas, elas são compostas por produtores rurais, inclusive os agropastoris e pesca, que exercem as atividades de forma solidária e proativa no desenvolvimento de todas as etapas do processo produtivo, isto é, desde a compra de insumos para a produção, armazenagem, industrialização e comercialização dos produtos até chegar aos mercados consumidores (SeBrAe, 2009). Assim, as cooperativas de consumo têm como objetivo facilitar o ato de consumo de seus associados, comprando bens em quantidade e vendendo a preços mais acessíveis; já as cooperativas de crédito são caracterizadas por juntar a poupança de seus associados e possibilitar a aquisição de empréstimos financeiros em condições com maiores benefícios. As cooperativas de trabalho são caracterizadas por facilitar o trabalho e a prestação de serviços de seus associados; desse modo, essas cooperativas visam promover a compra em comum de insumos para a produção agropecuária, com maiores benefícios (em geral, descontos e vantagens econômicas), que de certa maneira são indisponíveis aos produtores rurais atuando individualmente (BATALHA, 2007). No que se refere à estrutura das cooperativas, elas são classificadas como: singulares, centrais (ou federações) e confederações. As singulares são formadas por associados; as centrais ou federações são formadas não por associados, mas, sim, por um conjunto de cooperativas singulares; as confederaçõessão formadas por centrais ou federações. Por exemplo, a cooperativa singular de produtores de leite é a que recebe e resfria o leite de seus associados, comercializando o leite pasteurizado. Já a cooperativa central é aquela que recebe o leite resfriado de várias cooperativas singulares e produz iogurtes, queijos finos e outros produtos que necessitam de uma estrutura agroindustrial maior. E, finalmente, confederação das cooperativas centrais de laticínios caracteriza todo esse sistema em nível nacional, influenciando nas políticas específicas do setor. 2- Estruturação de modelos de cooperação redes de cooperativas integram conceitos que surgiram recentemente na teoria organizacional. É possível que tenha surgido devido à dificuldade dos modelos organizacionais tradicionais em reduzir ou solucionar os problemas atuais. A partir disso, para se solucionar as pressões competitivas do mercado (no modelo de coletivo organizacional), houve a interação entre os agentes, além de ajustamento passivo. Nesses relacionamentos, ocorre o enfrentamento das dificuldades comuns e as soluções são buscadas coletivamente pela capacitação integrada e pelas aprendizagens originadas, ou seja, pela sinergia dos associados (BALeSTrIN; VerScHoore, 2008). os elementos da estruturação de redes são demostrados na Figura 2. Figura 2 – estruturação de redes de cooperação Fonte: Stein, Malinsk e Silva (2020, p. 110). Conforme demostrado na figura, percebe-se que os atributos, juntamente com os objetivos, a gestão e os desempenhos das redes são os elementos-chave para estruturação das redes dentro das organizações. As redes de cooperação direcionam novos caminhos para o enfrentamento das pressões competitivas, no qual as conexões entre os agentes implicam em reconhecimento da interdependência, inversamente à autonomia postulada pela teoria clássica da firma. Associado às redes, ainda existem os modelos de cooperação que combinam a flexibilidade e a agilidade de organizações de menor porte com a escala e o poder das grandes corporações. os modelos de cooperação são arranjos organizacionais de longo prazo entre as organizações que permitem obter ou estruturar diferenciais em relação aos competidores fora da rede. Portanto, os desempenhos competitivos obtidos coletivamente são fatores fundamentais para o seu estabelecimento (STeIN; MALINSK; SILVA, 2020). em literatura disponível, estudos empíricos demonstraram que a cooperação em rede permite uma gama de benefícios para as empresas associadas (BALeSTrIN; VERSCHOORE, 2008). Dentre as vantagens identificadas para o estabelecimento de redes de cooperação destacam-se: • A formação de redes de cooperação possibilita gerar ganhos de escala e de poder de mercado, de outra forma. São ganhos que provêm da ampliação da força individual por meio do aumento do número de organizações associadas à rede; • o estabelecimento de redes de cooperação permite o acesso às soluções dos problemas das dificuldades das organizações, por meio de produtos (bens e infraestrutura) e serviços desenvolvidos e ofertados pelas redes para o desenvolvimento dos seus associados; • As redes de cooperação permitem condições para a aprendizagem e a inovação, devido aos processos de gestão de conhecimento (criação, identificação, armazenamento, compartilhamento e reuso) entre 23 os associados e as ações, de caráter inovador e de melhoria de desempenho, desenvolvidas em conjunto por participantes; • A consolidação de redes de cooperação permite a redução de custos e riscos ao compartilhar entre os associados os custos e os riscos de determinadas ações e de inversões de valores que são de uso repartido aos participantes; • As redes de cooperação operam diretamente no capital Intelectual, aferem geração e a manutenção do capital relacional, aproximam os agentes (capital estrutural), ampliam capital Social (por exemplo, confiança) e expandem as relações dos associados além das premissas econômicas. Ao se discutir o conceito de estrutura da rede é essencial se compreender a dinâmica das redes, ou seja, sendo um conjunto de nós, formados por indivíduos ou organizações, conectados por laços, que resultam em um padrão de organização. Desse modo, redes são os modelos que ligam as linhas e os nós. As linhas correspondem às ligações entre os nós, os quais representam acessos ou locais ou vias de comunicação pelas quais circulam elementos vivos ou informações. cada tipo de rede pode ser diferente e apresentam estruturas dinâmicas indeterminadas, representando flexibilidade, regidas por mecanismos de autorregulação, características de modelagens adaptativas. As redes de cooperação modernas são caracterizadas sem a presença do nó central definido. Nesse tipo de rede, qualquer um dos nós é centro potencial (ANDrADe et al., 2017). Alguns exemplos de redes de cooperação são representados na figura a seguir. Figura 3 – Tipologia de redes de cooperação Fonte: Stein, Malinsk e Silva (2020, p. 111). As redes de cooperação, em geral, são caracterizadas por organizações interligadas com aaglomerados de agentes formalmente relacionados, todos com objetivos em comum, com ou sem prazo de existência e finalidade de atuação múltipla, constituído de modelo organizacional com estrutura própria formal e coordenação específica, em que ocorrem relações de propriedades exclusivas e práticas de cooperação adequadas e novas práticas de gestão (BALeSTrIN; VerScHoore, 2008). os componentes que constituem as redes são os atores principais do relacionamento, ou seja, a inter-relação entre empresas, fornecedores e demais instituições. Eles são definidos como de stakeholders. No que se refere à classificação dos tipos de redes de cooperação, as mais conhecidas são classificadas em: • Redes de cooperação vertical: ordenação entre a organização e os componentes dos diferentes elos da cadeia produtiva. São caracterizadas pelas relações que envolvem as organizações ou empresas em dois ou mais setores da cadeia produtiva, sem a propriedade completa ou o controle por parte de uma das empresas individuais. os participantes da cooperação vertical possuem independência, entretanto, dividem informações para estabelecer preços e expandir o fluxo de produtos e informação entre os estágios da cadeia. Nessa situação, as organizações cooperam com seus parceiros comerciais: produtores, fornecedores, distribuidores e prestadores de serviço. A coordenação vertical inclui a aplicação do enorme arranjo de procedimentos buscando harmonizar ou sincronizar as atividades ao longo da cadeia produtiva, principalmente, a relação de produção agropecuária e a demanda final, como é o caso do varejo. A coordenação vertical ocorre de três formas: via sistema de preços de mercado, via cooperação entre os agentes (contratos, parcerias, alianças) e via a integração vertical. Quatro fatores importantes foram identificados para o sucesso das alianças verticais: existência de objetivos comuns; relação com o fluxo de informações; geração de comprometimento dos membros no longo prazo, por requerimentos de capital; especificação da matéria-prima, que garante maior homogeneidade do sistema de produção (STeIN; MALINSK; SILVA; 2020). • Redes horizontais de cooperação: as relações de cooperação ocorrem entre organizações que produzem, processam e oferecem bens e serviços e que trabalhem em setor de atuação equivalente, cooperando com os seus próprios concorrentes. Por serem concorrentes diretos, que concorrem e atuam no mesmo mercado, são necessários mecanismos de gestão de conflitos, pois são maiores as probabilidades dos conflitos com relação às redes verticais de cooperação. Geralmente, as redes horizontais de cooperação são implantadas quando as organizações percebem dificuldades em adquirir ou repartir os recursos de produção limitados individualmente, em ofertar interna ou externamente o mercado em que atua e têm dificuldadeem inovar e manter linhas de produtos. A cooperação horizontal não surge naturalmente entre os indivíduos, sendo assim, são necessárias motivações externas com a existência de certas características dos grupos para que ela venha a emergir. Associam-se com o processo de implementação de redes cooperativas quatro fases. com relação às etapas, elas sempre são sequenciais, ou seja, diferentes modos de racionalidade podem informar o processo de decisão em cada fase. A figura a seguir demostra as quatro fases do processo de formação de arranjos cooperativos. 24Economia e gestão do Agronegócio Figura 4 – Tipologia de redes de cooperação Fonte: Stein, Malinsk e Silva (2020, p. 115). As redes de cooperação são aplicadas a diferentes formas de relações entre organizações. A exemplo disso temos: joint ventures, alianças estratégicas, relações de terceirização e subcontratação, distritos industriais, consórcios, redes sociais e redes de cooperação entre pequenas e médias empresas. De acordo com Lopes e Baldim (2005), esses conceitos de redes são definidos da seguinte forma: • Diversificação: aplicável para organizações que desejam crescer, permitindo a expansão da empresa sem levar a efeito uma fusão ou aquisição. com menor risco e maior flexibilidade. • Sinergia: entre múltiplas funções ou negócios de empresas parceiras. • Franchising: baseada em relações contratuais, permitindo a expansão da empresa se a fusão ou a aquisição gerar uma parceria empreendedora com novas oportunidades de competitividade. As estratégias interorganizacionais podem incluir: join venture, aliança estratégica acionária e sem participação acionária. • Join venture: é a combinação de uma ou mais empresas para a criação de uma companhia independente, muitas vezes de forma igualitária. • Aliança Estratégica Acionária: consiste em os sócios terem diferentes percentagens de capital social em um novo empreendimento. • Aliança sem Participação Acionária: formada por meio de acordos contratuais realizados para que uma companhia forneça, produza ou distribua os bens e serviços, com compartilhamento do capital social. Ainda existem estratégias cooperativas de nível corporativo com foco em diversificação, sinérgicas e franchising. Chegamos, assim, ao final da quarta aula. Espera- se que você tenha compreendido a importância da cooperação no contexto do agronegócio. De igual modo, tenha ficado claro o conceito de redes de cooperação, bem como suas estruturas. Retomando a aula 1 - Cooperação no agronegócio em resumo, espero que tenham compreendido, nesta seção, a finalidade dos modelos de cooperação, bem como seu contexto histórico, a visão geral, os princípios e, também, as características fundamentais do cooperativismo. 2 - Estruturação de modelos de cooperação em suma, examinamos a estrutura de modelos de cooperação. Dessa forma, tratamos o conceito de estrutura da rede, bem como a tipologia de redes de cooperação. Disponível em: https://silo.tips/download/a-cadeia- produtiva-da-acerola-na-regiao-nova-alta-paulista. Vale a pena acessar Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=loJmS6_6jLg. Vale a pena assistir Vale a pena minhas anotações
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