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Economia do Setor Público Gastos Públicos objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • conceituar Gastos Públicos; • compreender os diversos tipos de orçamento público; • classificar as despesas públicas quanto a diferentes aspectos; • entender os modelos de gastos públicos. Caros(as) alunos(as), dando continuidade ao nosso curso, vamos entender o outro lado da moeda nas Finanças públicas: os gastos públicos. Nesta aula, vamos definir os aspectos importantes do orçamento público, compreender a classificação da despesa pública e apresentar algumas medidas de crescimento dos gastos públicos. Bons estudos! 5ºaula 33 Seções de estudo 1- Introdução 2- Classificação da Despesa Pública 3- Modelos de Gastos Públicos 1- introdução Os gastos públicos se constituem na principal peça de atuação do governo, já que fazem parte das políticas públicas e, portanto, são escolhas políticas dos governos no que se refere aos diversos serviços que prestam à sociedade. Os gastos públicos representam o custo dos serviços e bens oferecidos pelo governo sejam pela qualidade ou quantidade destes. Usualmente, os gastos públicos consideram o custo da provisão dos bens e serviços executados pelo setor público que aparece nas contas orçamentárias do governo. ORÇAMENTO PÚBLICO o orçamento público é o instrumento fundamental que irá direcionar as políticas públicos. Através dele os governantes selecionam prioridades, decidindo como gastar os recursos arrecadados e como distribuir entre os diferentes grupos sociais. No brasil, as principais leis que regulam o planejamento e o orçamento dos entes públicos federal, estaduais e municipais são o Plano Plurianual (PPA), a lei das Diretrizes orçamentarias (lDo) e lei orçamentária Anual (loA). o orçamento público pode ser de três tipos: 1. orçamento legislativo: a elaboração, a votação e o controle do orçamento são competências do Poder legislativo, cabendo ao Executivo apenas a execução; 2. orçamento Executivo: a elaboração, a votação, o controle e a execução são competências do Poder Executivo; 3. orçamento Misto: a elaboração e a execução são de competência do Executivo, cabendo ao legislativo a votação e o controle. Desde a constituição Federal de 1988, o brasil adota o tipo Misto; o orçamento público pode ter diferentes conceitos, funções e técnicas de elaboração, ou seja, pode se apresentar de diferentes espécies: • orçamento Tradicional ou clássico: o orçamento é um mero instrumento contábil baseado no orçamento do exercício anterior, sem nenhuma espécie de planejamento das ações do Governo, ou seja, é somente um documento de previsão de receita e autorização de despesa, havendo a dissociação entre planejamento e orçamento; • orçamento de desempenho ou por realizações: também chamado de orçamento funcional, tem ênfase no resultado dos gastos. É uma evolução quando comparado com o orçamento tradicional, mas ainda está desvinculado de um planejamento central das ações do Governo; • orçamento de base zero ou por estratégia: análise crítica de todos os recursos solicitados pelos órgãos governamentais, concentrando a atenção na análise de objetivos e necessidades, o que requer que cada administrador justifique seu orçamento proposto em detalhe e cada quantia a ser gasta, aumentando a participação dos gerentes de todos os níveis no planejamento das atividades e na elaboração dos orçamentos. • orçamento-programa: com esse modelo passa a existir um elo entre o planejamento e as funções executivas de organização através do estabelecimento de objetivos e quantificação de metas e, consequentemente, a formalização de programas visando ao atingimento das metas e alcance dos objetivos. • orçamento participativo: não se opõe ao orçamento programa e tem como objetivo a participação da população na alocação dos recursos públicos. Nesse ponto, vale diferenciar os chamados gastos governamentais e os gastos públicos. Os primeiros consideram apenas as despesas realizadas pelas unidades que compõem a administração governamental direta e indireta, ou seja, os gastos realizados pelas esferas de governo mais suas autarquias e fundações. Já gasto público é a totalidade dos gastos governamentais mais as despesas do governo com suas atividades econômicas produtivas, incluindo-se aí as empresas estatais. O conjunto de gastos e dispêndios que o Estado realiza com o objetivo de atender às necessidades públicas é denominado DESPESA PÚBLICA. O Tesouro Nacional conceitua a despesa pública como a aplicação (em dinheiro) de recursos do Estado para custear os serviços de ordem pública ou para investir no próprio desenvolvimento econômico do Estado. É o compromisso de gasto dos recursos públicos, autorizados pelo Poder competente, com o fim de atender a uma necessidade da coletividade prevista no orçamento. 2- Classificação da Despesa Pública 2.1 Quanto à forma de ingresso Quanto à forma de ingresso, as despesas podem ser classificadas como orçamentárias e extraorçamentárias: • Despesas Orçamentárias: são aquelas fixadas nas leis orçamentárias ou nas de créditos adicionais, instituídas em bases legais. Dependem de autorização legislativa e obedecem aos estágios das despesas: fixação, empenho, liquidação e pagamento. • Despesas Extraorçamentárias: aquelas despesas não consignadas no orçamento ou nas leis de créditos adicionais. Não dependem de autorização legislativa porque correspondem à devolução de recursos transitórios que foram obtidos como receitas extraorçamentárias. Isso quer dizer que pertencem a terceiros e não aos órgãos públicos. Ex: restituições de cauções, pagamentos de restos a pagar, o resgate de operações por antecipação de receita orçamentária, o repasse ao credor das consignações em folha etc. 34Economia do Setor Público 2.2 Quanto à natureza das despesas (por categorias) A classificação das despesas públicas por categoria econômica é estabelecida pela Lei 4320/1964. Atualmente, é preciso seguir o que está no Anexo II da Portaria Interministerial SOF/STN 163/2001. As despesas são classificadas por códigos. Esse código informa a categoria econômica, o grupo a que pertence, a modalidade de aplicação, o elemento e o desdobramento facultativo do elemento. Fonte: http://www.orcamentofederal.gov.br/informacoes-orcamentarias/ manual-tecnico/mto_2017-1a-edicao-versao-de-06-07-16.pdf. O primeiro nível é da categoria econômica da despesa. Esse nível, obedecendo ao critério econômico, vai analisar o impacto dos gastos públicos na economia do país. A despesa é classificada com os seguintes códigos: • 3 - Despesas Orçamentárias Correntes: classificam- se nessa categoria todas as despesas que não contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital; • 4 - Despesas Orçamentárias de Capital: classificam- se nessa categoria aquelas despesas que contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital. Os gastos governamentais por categorias econômicas são apresentados nos balanços gerais de cada unidade que compõe a estrutura governamental. Sua grande vantagem é permitir uma análise financeira mais apurada acerca da unidade ou das unidades consideradas. Por meio dos gastos por categoria econômica, é possível: • avaliar a situação financeira do governo, quando analisada conjuntamente com a receita; • avaliar o peso de cada componente na estrutura de gastos; • apurar a capacidade de poupança do governo; • apurar a capacidade de investimentos do governo; • apurar a rigidez da composição dos gastos e a margem de flexibilidade do governo, no que se refere a sua política de gastos. As despesas correntes representam os gastos fixos do governo. São despesas sem as quais a máquina administrativa e de prestação de serviços do Estado não funcionaria. Incluem basicamente as despesas do governo com o pagamento de pessoal, com o consumo e com a manutenção. São incluídas, também, nesseitem, as despesas do governo relacionadas com o pagamento dos encargos da dívida pública, que, embora não se qualifiquem como prestação de serviço, são também fixas. Por sua vez, as despesas de capital representam os gastos com investimentos realizados pelo governo. Esses investimentos constituem-se tanto em obras e instalações quanto em integralização de capital de empresas públicas. As despesas com amortização de dívidas são também agregadas nesse bloco. O 2º nível é o Grupo de Natureza da Despesa (GND), ou seja, é classificado quanto ao objeto do gasto. A classificação é a seguinte: O 3º nível é a modalidade de aplicação que vai indicar se os recursos serão aplicados mediante transferência financeira, inclusive a decorrente de descentralização orçamentária para outros níveis de Governo, seus órgãos ou entidades, ou diretamente para entidades privadas sem fins lucrativos e outras instituições; ou, então, diretamente pela unidade detentora do crédito orçamentário, ou por outro órgão ou entidade no âmbito do mesmo nível de Governo. A modalidade de aplicação é uma informação gerencial que objetiva, principalmente, eliminar a dupla contagem dos recursos transferidos ou descentralizados. Seguem alguns exemplos de modalidade de aplicação: • 20 - Transferências à União; • 40 - Transferências a municípios; • 80 - Transferências ao exterior; • 90 - Aplicações diretas; O 4º nível é o elemento da despesa que tem por finalidade identificar os objetos de gasto, tais como vencimentos e vantagens fixas (11), auxílios (42), subvenções econômicas (45). Por fim, conforme as necessidades de escrituração contábil e controle da execução orçamentária ficam facultados por parte de cada ente o desdobramento dos elementos de despesa, que aparece no 5º nível. 2.3 Quanto à função e à subfunção As despesas por funções obedecem a uma classificação de forma agregada que reflete, de certo modo, as prioridades dadas pelo governo à alocação dos recursos que lhe são 35 disponíveis. A classificação funcional é formada por funções e subfunções e busca responder basicamente à indagação ‘‘em que áreas de despesa a ação governamental será realizada?’’. Cada atividade, projeto e operação especial identificará a função e a subfunção às quais se vinculam. Apesar de haver certa complexidade na distinção e definição precisa da aplicação dos recursos nesse nível, essa distribuição dos gastos é de suma importância para a análise das despesas públicas. Cada uma delas subdivide-se em função de seus diversos programas e dos subprogramas que as compõem. A classificação funcional é representada por 5 dígitos, sendo só os dois primeiros relativos à função e os três últimos relativos a subfunções. Em geral, os gastos por funções obedecem à seguinte classificação: • Legislativo • Judiciário • Administração e planejamento • Defesa nacional e segurança pública • Educação e cultura • Habitação e urbanismo • Indústria, comércio e serviços • Saúde e saneamento • Trabalho • Assistência e previdência • Transportes • Agricultura • Energia e recursos minerais • Desenvolvimento regional • Comunicações O peso de cada uma dessas funções e suas subdivisões dependerá de uma definição política do governo no que se refere à aplicação dos recursos em cada uma dessas áreas. É importante mencionar, ainda, que a análise dos dados por funções requer um conhecimento mais detalhado acerca da forma pela qual eles são agrupados em cada uma delas. Alguns gastos têm a característica de se encaixarem em mais de uma função. Nem sempre, porém, é possível fazer a distribuição em cada uma delas. Nesses casos, eles são classificados apenas em uma função, que, de certa forma, eleva o volume nela gasto. Nesse caso, a análise poderá ser distorcida para melhor ou para pior, dependendo da natureza da função. Como exemplo, tem-se as despesas com juros e amortizações, que são classificadas na função administração e planejamento, o que superestima os gastos característicos dessa função. 3- Modelos de Gastos Públicos Alguns modelos macroeconômicos procuram analisar o comportamento dos gastos públicos durante o tempo e principalmente a sua relação com o crescimento econômico de um país. Será que podemos afirmar que essa relação é positiva, ou seja, quanto mais um país gasta, maior é o seu crescimento econômico? Para tentar responder essa e outras questões, vamos aqui tratar de alguns desses modelos. A Lei de Wagner é um princípio derivado do estudo de um economista alemão, Adolph wagner (1835-1917). Apesar do nome, este estudo não chega ao ponto de determinar uma lei sobre o comportamento dos gastos públicos. Suas hipóteses foram baseadas em observações empíricas e num modelo que contém diferentes interpretações. wagner argumentou que, durante o processo de desenvolvimento econômico, a parcela dos gastos públicos na renda nacional tende a se expandir. A ideia por trás desta relação é que o crescimento dos gastos públicos é consequência natural do crescimento da atividade econômica agregada. Dessa forma, o gasto público apresentar-se-ia como um bem superior, dado que cresce mais que proporcionalmente com a expansão da renda. Estes argumentos fundamentaram a denominada Lei de wagner, ou lei dos dispêndios públicos crescentes. Fonte: (https://www.ipea.gov.br/ppp/index. php/ PPP/article/view/1027/519). Para wagner, o crescimento das atividades do Governo era uma consequência natural do progresso social, ou seja, o crescimento dos gastos públicos se tornará inevitável. Através de sua análise, wagner mostrou que, quando a produção per capita aumentava, as atividades do Estado e seus gastos aumentavam em proporções maiores que o produto. Essa ideia pode ser demonstrada graficamente por meio da Figura abaixo: Fonte: Economia do Setor Público, uma Abordagem Introdutória (2000). Na função Ge = a.y8, onde a e B são duas constantes, com B > 1, G representa os gastos do governo e Y a produção. Pode-se, então, representar a lei de wagner dada pela curva OE na Figura acima. Para explanar esta lei, três argumentos principais são utilizados: 1. wagner referia-se à necessidade de expansão das funções do Estado relacionadas com a administração e segurança devido à substituição das atividades privadas pelas públicas. 2. wagner referia-se ao fato de que o crescimento dos gastos públicos sofreria também impactos com a expansão cultural e o bem-estar, principalmente com referência à educação e distribuição de renda. Para wagner, serviços como educação, recreação, cultura 36Economia do Setor Público saúde e serviços de bem-estar representavam bens superiores ou elásticos em relação à renda. Assim, com o aumento da renda real da economia, os gastos públicos nos serviços mencionados anteriormente cresceriam mais que proporcionalmente à renda, fazendo com que aumentasse a relação entre os gastos públicos e o PIB. 3. A terceira hipótese levantada por wagner relacionava-se com as mudanças tecnológicas e à escala crescente dos investimentos. Esses fatores contribuiriam para que surgisse grande número de monopólios privados que poderiam ser evitados ou controlados pelo Estado no interesse da eficiência econômica. Nesses casos, a participação do Estado aumentaria como uma fonte de estabilidade, influenciando as atividades das grandes empresas, cujo domínio na economia pudesse causar alguma instabilidade. Outro estudo empírico sobre o crescimento dos gastos públicos foi realizado por Peacock e wiseman, que analisaram a evolução dos gastos públicos no Reino Unido durante 1890 e 1955, cujos objetivos principais eram: • preencher um espaço nas informações estatísticas disponíveis sobre os gastos do governo a partir de 1890; • Tentar relacionar essas estatísticas com a história econômica do período; • Tentar analisar o comportamento dos gastos do governo dentro do contexto histórico e estabelecer algumas hipóteses que ajudassema explicar o comportamento dos gastos do governo também em outros países; Peacock e wiseman observaram que duas proposições básicas poderiam ser feitas. Primeiro, notaram que o total dos gastos do governo havia crescido relativamente mais rápido do que o PIB. Segundo, observaram que o nível dos gastos do governo foi claramente afetado pelas duas guerras mundiais, e eles denominaram essas variações como “efeitos deslocamento”. Notaram que os gastos governamentais aumentaram significativamente nos períodos de guerra, sendo que, após esses períodos, o crescimento dos gastos seguiria um caminho normal, porém, num nível superior ao anterior à guerra. Essa teoria de Peacock e wiseman pode ser assim resumida: as possibilidades de crescimento das despesas públicas são limitadas pelas possibilidades de expansão da receita tributária. Desse modo, parece que o crescimento da despesa pública se explicaria pela sua outra face, a receita pública. E esta por que cresceria? Pela necessidade de recursos que tem o Governo para expandir seus gastos em atendimento à crescente demanda é a resposta dedutível da hipótese acima. Há, contudo, uma condição: que o Governo consiga romper os limites da arrecadação toleráveis pelos contribuintes. Isto se daria, dizem Peacock e wiseman, em face de guerras, calamidades etc. Outros modelos tentam associar o crescimento dos gastos públicos com os estágios de crescimento do país. Musgrave (1969) descreve que, o setor público tem fundamental importância para início do desenvolvimento econômico do país, através de investimentos em áreas básicas como saúde, educação e infraestrutura. Rostow (1974), por sua vez, explica que os gastos públicos podem se elevar nos últimos estágios de desenvolvimento devido ao fato de que as necessidades de serviços públicos como educação, segurança e lazer tendem a aumentar mais que proporcionalmente ao do que os gastos com infraestrutura. Já Herber (1979) trata o gasto público muito similar a forma de Musgrave (1969) e Rostow (1974), contudo, representa um estágio de desenvolvimento econômico e social de um país através dos períodos de industrialização. Chegamos, assim, ao final da quinta aula, na qual vimos o outro lado das finanças públicas: os gastos. Entendemos os vários tipos de orçamento público. retomando a aula 1- Introdução Na primeira seção, introduzimos o conceito de gastos públicos, apresentando algumas classificações de orçamento público. 2- Classificação da Despesa Pública Na segunda seção, apresentamos as diversas formas de classificação da despesa pública: quanto à forma de ingresso, quanto à natureza das despesas e quanto à função e subfunção. 3- Modelos de Gastos Públicos Na terceira seção, vimos que alguns modelos macroeconômicos procuram analisar o comportamento dos gastos públicos durante o tempo e, principalmente, a sua relação com o crescimento econômico de um país. BECkER, Howard Saul. Sociological work. Transaction publishers, 1971. BENDER FILHO, Reisoli. Gasto Público e Crescimento Econômico: Testando A Hipótese da Lei de wagner À Economia Brasileira (1996-2016). Planejamento e Políticas Públicas, n. 53, 2019. Vale a pena ler Vale a pena 37 BIDERMAN, Ciro; ARVATE, Paulo Roberto. 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