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Helena C. Franco CLINICA MÉDICA – AULA 4 ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO (AVE) → REVISÃO DA NEUROLOGIA ❖ COMPONENTES DO SISTEMA MOTOR SISTEMA PIRAMIDAL = 1° neurônio motor - Neurônio localizado no córtex motor, que emite prolongamentos até a medula. - Os primeiros neurônios passam pela cápsula interna e formam um feixe piramidal que descem para o tronco encefálico (mesencéfalo/ ponte/ bulbo). No bulbo o feixe piramidal decussa para o outro lado. - Lesões de 1° neurônio motor = SÍNDROME PIRAMIDAL - Se o neurônio motor for lesado antes do ponto de decussação (córtex motor ou no tronco cerebral) as manifestações clínicas serão CONTRALATERAIS. - Se o neurônio motor for lesado depois do ponto de decussação (medula) os sintomas vão ser IPSILATERAL. MEDULA ESPINHAL = 1° e 2° neurônio - 2° neurônio motor = executa o movimento - Não vai mais ter o estímulo para a fibra muscular SISTEMA EXTRAPIRAMIDAL = movimentos automáticos CEREBELO = ajustes finos do arco do movimento - Uma lesão cerebelar a pessoa vai exercer funções neurológicas, porém de forma descoordenada (ataxia) TRONCO CEREBRAL (MESENCÉFALO/ PONTE/ BULBO) - Onde saem os pares de nervos cranianos - Uma lesão de tronco cerebral pode lesar os pares de nervos, com clínica de lesão neurológica de pares cranianos (ex: diplopia, disfagia, vertigem...) ❖ COMPONENTES DO SISTEMA SENSITIVO 1° neurônio = capta as sensações da periferia, na medula ele decussa para o outro lado e faz uma sinapse com o 2 ° neurônio. As fibras do 2° neurônio atravessam o tronco cerebral e no tálamo faz uma sinapse com 3° neurônio que vai até o córtex. ❖ CÓRTEX CEREBRAL CÓRTEX DO LOBO FRONTAL - Linguagem: (essa área só tem em um hemisfério cerebral, e vai ser no hemisfério dominante) CLINICA DE UM PACIENTE COM SÍNDROME PIRAMIDAL - Paresia/ plegia espástica - Hiperreflexia - Sinal de Babinski CLÍNICA DE UM PACIENTE COM LESÃO DO 2° NEURÔNIO - Paresia/ plegia flácida - Atrofia muscular - Miofasciculações - Hiporreflexia ou arreflexia Helena C. Franco CLINICA MÉDICA – AULA 4 Fala = área de Broca (execução da linguagem) → uma lesão gera uma afasia motora (entende o que é dito, mas não consegue falar) - Córtex motor: onde fica os primeiros neurônios motores CÓRTEX DO LOBO PARIETAL - Córtex sensitivo: onde fica os terceiros neurônios sensitivos Percebe as sensações do lado oposto do corpo. CÓRTEX DO LOBO TEMPORAL - Linguagem: (essa área só tem em um hemisfério cerebral, e vai ser no hemisfério dominante) Compreensão da linguagem = área de Wernicke → uma lesão gera uma afasia sensitiva (não compreende o que é dito e nem o que é falado para ela), a pessoa consegue falar mais são falas desconexas. CÓRTEX DO LOBO OCCIPITAL - Córtex visual ❖ VASCULARIZAÇÃO DO ENCÉFALO - CIRCULAÇÃO ANTERIOR (CAROTÍDEA) o Carótida interna = irriga o parênquima cerebral - CIRCULAÇÃO POSTERIOR (VÉRTEBRO-BASILAR) o Artéria basilar = irriga tronco e cerebelo LEMBRAR QUE TANTO PARA O CÓRTEX MOTOR QUANTO PARA O CÓRTEX SENSITIVO OS NEURÔNIOS FICAM DA PARTE MEDIAL PARA LATERAL: perna → corpo → braço → mão → face (ISSO É IMPORTANTE PARA A CLÍNICA DE AVE) Helena C. Franco CLINICA MÉDICA – AULA 4 - A ARTÉRIA CEREBRAL MÉDIA que irriga a parte mais lateral do encéfalo, emite RAMOS PERFURANTES que são as ARTÉRIAS LENTICULO-ESTRIADAS vão irrigar a CÁPSULA INTERNA. - Uma lesão dos ramos perfurantes, vai lesar a capsula interna, consequentemente vai ser haver uma lesão de TODOS os primeiros neurônios motores de um hemisfério cerebral. Vai ser uma lesão anatomicamente pequena mais com uma grande repercussão clínica. → ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO ISQUÊMICO - É uma causa mais comum de óbito no Brasil. Além da mortalidade, ele provoca grande morbidade, uma vez que deixa muitas sequelas. - AVE isquêmico (80%) - AVE hemorrágico (20%) - O que diferencia os dois tipos é a neuroimagem = TC DE CRÂNIO SEM CONTRASTE o AVE HEMORRÁGICO - Lesão HIPERdensa (mais branca) o AVE ISQUÊMICO - Normal no início - Depois de 24 a 72h lesão HIPOdensa (mais escura) FATORES DE RISCO o Hipertensão arterial sistêmica (principalmente a sistólica) o Fibrilação atrial PATOGENIA E PATOLOGIA - O AVE isquêmico se manifesta pela DEFICIÊNCIA NEUROLÓGICA FOCAL SÚBITA, como consequência a uma isquemia seguida de infarto no parênquima encefálico. - É decorrente da oclusão aguda de uma artéria de médio ou pequeno calibre. Está oclusão na maioria das vezes é EMBÓLICA (trombo proveniente de local distante que caminha pela circulação arterial até impactar na artéria), mas pode também ser de origem TROMBÓTICA (trombo formado na própria artéria envolvida no AVE). - Tipos de AVE isquêmico embólico O ATAQUE ISQUEMICO TRANSITÓRIO (AIT) também é um déficit neurológico focal súbito, porém é TRASITÓRIO e SEM infarto. Se ele estiver durando muito tempo, mais que 15min, a conduta tem que ser tomada como de AVE. O objetivo da TC de crânio sem contraste não é enxergar a isquemia, mas sim AFASTAR A HEMORRAGIA e assim dar o diagnóstico de AVE isquêmico. Helena C. Franco CLINICA MÉDICA – AULA 4 o Cardioembólico: a fonte emboligênica é o coração, na maiora das vezes com fibrilação atrial (trombo no AE), seguida pelo IAM de parede anterior (trombo no VE) e pelas cardiomiopatias dilatadas (trombo em VE e/ou AE) o Ateroembólico: é o AVE isquêmico típico de pacientes hipertensos. A fonte emboligênica é uma placa aterosclerótica instável (com trombo) na carótida ou bifurcação carotídea ou na artéria vertebral. QUADRO CLÍNICO (SÍNDROMES ISQUÊMICAS) o OCLUSÃO NA ORIGEM DA CEREBRAL MÉDIA - Irriga a região mais lateral do encéfalo – vai pegar lobo frontal, parietal e parte superior do temporal - (motora/ área de Broca/ área de Wermicke/ sensitivo) - Pode ocorrer: ✓ Síndrome Piramidal (motora) contralateral (pode poupar a perna) = Hemiparesia/hemiplegia ✓ Alteração sensitiva contralateral (pode poupar a perna) = Hemi-hipo/anestesia ✓ Afasia motora (Broca) – no hemisfério dominante (geralmente é o esquerdo) ✓ Afasia sensitiva (Wernicke) – no hemisfério dominante (geralmente é o esquerdo) ✓ O infarto vai ser grande, e seu edema pode causar desvio de linha média com hipertensão intracraniana, podendo evoluir com rebaixamento de consciência e até herniação cerebral. o OCLUSÃO NA ORIGEM DA CEREBRAL ANTERIOR (geralmente AVE embólico) - Irriga a regiões corticais MOTOR + SENSITIVO do membro inferior contralateral - Oclusão unilateral: ✓ Pega lobo frontal e parietal medial anterior unilateral ✓ Vai ocorrer síndrome piramidal (motora) contralateral = Hemiparesia/hemiplegia ✓ Alteração sensitiva contralateral = Hemi=hipo/anestesia - Oclusão bilateral: ✓ Paraparesia/plegia com perda da sensibilidade nos membros inferiores o OCLUSÃO NA ORIGEM DA CEREBRAL POSTERIOR (geralmente AVE embólico ou lacunar) - Irriga a região occipital - Pode ocorrer: ✓ Déficits visuais o OCLUSÃO DAS ARTÉRIAS LENTÍCULO-ESTRIADAS (AVE LACUNAR) - Irriga a cápsula interna - Lesão de todos os 1° neurônios motores de um hemisfério cerebral - Pode ocorrer: ✓ Hemiplegia contralateral pura (não vai ter alteração de sensibilidade, nem afasia) AVE DE TRONCO ENCEFÁLICO → SINDROME CRUZADA - Alteração sensitiva ou motora do lado oposto. - Alteração de um nervo craniano do MESMO lado. o Weber (mesencéfalo → 3°) o Wallemberg (bulbo → 5°) Helena C. Franco CLINICA MÉDICA – AULA 4 DIAGNÓSTICO - TC de crânio não contrastada para descartar AVE hemorrágico. - A TC de crânio nas primeiras 12-24h geralmente não mostra AVE isquêmico, pois o infarto só tem expressão radiológica na TC após 24-72h, como área HIPODENSA (“mais escura”) acompanhada de EDEMA. - No AVE hemorrágico a imagem vai ser mais HIPERDENSA (“branca”) devido ao sangue, e com retração(sem edema e com atrofia). - A RM tem mais acurácia que a TC de crânio no diagnóstico do AVE isquêmico. - Doppler transcraniano pode ajudar a descobrir qual a artéria intracraniana obstruída. OBSERVAÇÃO: para o diagnóstico etiológico os exames mais importantes são: ✓ Eletrocardiograma (diagnóstico de fibrilação atrial) ✓ Ecocardiograma ✓ Doppler de carótidas TRATAMENTO → FASE AGUDA = diminuir o déficit neurológico - Restringe aos primeiros 3 dias do evento, quando a terapêutica pode impedir de ocorrer um infarto cerebral. - Todo paciente que apresenta déficit neurológico focal súbito com duração > 15min, deve ser avaliado imediatamente. ✓ Aferir sinais vitais ✓ Controlar glicemia, temperatura e sódio ✓ HAS permissiva → diminuir a PA se: >220X120mmHg // >185X110mmHg (se for trombolisar) ✓ A hipotensão arterial deve ser tratada agressivamente com soro fisiológico 0,9%, se não tratada pode haver extensão do infarto cerebral. ✓ Se o paciente estiver torporoso ou comatoso, na vigência de instabilidade respiratória, deve ser entubado e colocado em ventilação mecânica – isso é mais frequente no AVE hemorrágico mais pode acontecer no isquêmico devido ao edema e a hipertensão intracraniana. ✓ Realizar TC para afastar AVE hemorrágico - Terapia antitrombótica ✓ Trombolise → rtPA (alteplase) – 0,9mg/Kg (máx 90mg) = até 4,5h / sem AVE/TCE nos últimos 3meses / sem AVE hemorrágico prévio. OBSERVAÇÃO: e se o paciente acordou com déficit neurológico focal ou há uma imprecisão no tempo? Trombolisa ou não?? RM formalmente indicada: trombólise se DWI (+) e FLAIR (-) = isso indica que a lesão pode ter pouco tempo e que seja válido fazer trombólise ✓ AAS (prevenção precoce) e heparina profilática (para prevenir TVP) – se fez trombólise tem que aguardar 24hr para começar o AAS ✓ Endovascular : trombectomia mecânica – indicada até 24hr do evento isquêmico e para oclusão de grandes artérias. → TRATAMENTO ESPECÍFICO = diminuir a recorrência - Vai depender da etiologia Ateroembólico Helena C. Franco CLINICA MÉDICA – AULA 4 ✓ Antiagregação plaquetária (iniciar aspirina – 160-300mg dentro das primeiras 48hr) ✓ Controle de fator de risco ✓ Endarterectomia se obstrução >/ 70% Cardioembólico ✓ Anticoagulação plena (se extenso: aguardar 14dias) COMPLICAÇÕES - Edema devido a própria isquemia (pode ocorrer em 5-10% dos pacientes e é mais intenso entre o segundo e terceiro dia) - Transformação hemorrágica (costuma ocorrer entre 12-48hr) - Distúrbios metabólicos (hiponatremia, distúrbios glicêmicos) - Pneumonias e outras infecções com repercussão sistêmica - Crises convulsivas → ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO HEMORRÁGICO INTRAPARENQUIMATOSO - É o tipo mais comum de AVE hemorrágico hipertensivo, causado por lesão crônica de pequenas artérias perfurantes (as mesmas do AVE lacunar) promovendo fragilidade da parede vascular e formação de pequenos aneurismas (aneurismas de Charcot-Bouchard), esses aneurismas provocam o AVE hemorrágico intraparenquimatoso hipertensivo. QUADRO CLÍNICO - Quadro súbito de cefaleia intensa - Déficit neurológico focal - Rebaixamento de nível de consciência DIAGNÓSTICO - TC de crânio não contrastada - RM que mostra em praticamente 100% dos casos uma área hiperdensa (área do hematoma), geralmente com edema em volta (zona hipodensa). - Pode haver um desvio de linha média. TRATAMENTO - Tratamento de suporte ✓ Intubação e uso de ventilação mecânica ✓ Instalar cateter de PAM invasiva ✓ Cateter de PIC (pressão intracraniana) ✓ Se a causa da hemorragia intracraniana for um distúrbio de hemostasia, este deve ser tratado o mais rápido possível com transfusão de hemocomponentes. ✓ Se o paciente estiver em uso de anticoagulante ou antiagregantes, esses devem ser suspensos e tem que ser revertidos os efeitos (concentrado de complexo protrombínico + VIT K) ✓ Hematoma cerebelar >3cm ou entre 1-3cm com repercussão neurológico – drenagem → ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO HEMORRÁGICO SUBARACNOIDE Helena C. Franco CLINICA MÉDICA – AULA 4 - Ocorre pela rotura de um aneurisma sacular congênito que se localizam nas artérias do polígono de Willis (cerebral média, cerebral anterior, comunicante anterior, comunicante posterior e cerebral posterior) - Ao atingir o espaço subaracnóide, o sangue em volta do cérebro causa um edema cerebral e meningite química. QUADRO CLÍNICO - Cefaleia súbita (o paciente descreve como “pior da vida”) + diminuição do nível de consciência + rigidez de nuca (após 12-24hr porque é uma rigidez química) DIAGNÓSTICO - TC de crânio sem contraste (confirma o diagnóstico em 95%) - Se a TC tiver normal faz a punção lombar (vai ter uma Xantocromia – que é o liquor mais amarelado devido a conversão da hemoglobina em bilirrubina. A xantocromia pode aparecer entre 6-12hr após o evento, com pico em 48hr, e mantem por 1-4 semanas) - Após o diagnóstico: exame vascular (angioTC, angioRM) COMPLICAÇÕES - Ressangramento: maior risco entre o 1° e 7° dia. Prevenção: intervenção precoce - Vasoespasmo: é um dos principais efeitos da HSA por rotura de aneurisma sacular. O sangue é irritativo e pode provocar vasoespasmo ao entrar em contato com a camada adventícia das artérias de médio calibre do cérebro. Maior risco entre o 3° e 14° dia, é acompanhada com doppler transcraniano (um aumentoo na velocidade do fluxo sistólico arterial indica estreitamento luminal) para diagnosticar precocemente. Pode deixar graves sequelas, sendo o responsável pelo mau prognóstico neurológico. ESCALA DE FISHER – TC - Avalia a gravidade da hemorragia subaracnóidea. Grau 1: o diagnóstico foi suspeitado e foi feito a punção liquórica. Grau 2: lâmina fina de sangue Grau 3: lâmina de sangue um pouco mais espessa. Grau 4: a hemorragia foi muito grande e forçou a entrada no parênquima. Pode acontecer de ter sangue no ventrículo Helena C. Franco CLINICA MÉDICA – AULA 4 Tratamento: indução de hipertensão - Hidrocefalia: o coágulo bloqueia a drenagem liquórica. Tratamento: derivação ventricular (externa ou peritoneal) - Hiponatremia: comum nas 2 primeiras semanas, é decorrente de duas síndromes: SIADH: o paciente está euvolêmico Cerebropatia perdedora de sal: o paciente está hipovolêmico (principal causa de hiponatremia) TRATAMENTO - Intervenção precoce para evitar o ressangramento Deve ser feita até o 3° dia (ou após 14° dia) – não faz intervenção durante o período que pode ter vasoespasmo – pode ser feita uma clipagem cirúrgica / endovascular (coil). - Controle da PA (PA sistólica <160mmHg) - Neuroproteção: só faz na HSA Nimodipina: 60mg 4/4h por 14-21 dias.
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