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História-da-Filosofia-Antiga-1-1

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1 
 
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUARULHOS – SP 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4 
2 A HISTÓRIA DA FILOSOFIA ................................................................................. 5 
2.1 FILOSOFIA E SEUS PERÍODOS HISTÓRICOS ................................................................. 5 
2.2 PERÍODOS HISTÓRICOS DA FILOSOFIA E AS ESCOLAS FILOSÓFICAS ............................... 7 
2.3 DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO HUMANO ........................................................ 12 
3 HISTÓRIA E FILOSOFIA...................................................................................... 14 
3.1 CONFLUÊNCIA ENTRE FILOSOFIA, HISTÓRIA DA FILOSOFIA E FORMAÇÃO ...................... 15 
3.2 O FUNDAMENTO E A NATUREZA HISTÓRICA DA FILOSOFIA........................................... 20 
4 FILOSOFIA GREGA ............................................................................................. 25 
4.1 CONHECIMENTO E MISTICISMO ................................................................................ 25 
4.2 FILOSOFIA NA GRÉCIA ANTIGA ................................................................................ 28 
4.3 INFLUÊNCIA DA FILOSOFIA NO ESTADO/GOVERNO .................................................... 30 
4.4 PRINCIPAIS FILÓSOFOS DA GRÉCIA ANTIGA .............................................................. 31 
4.5 O MÉTODO DOS PRINCIPAIS FILÓSOFOS DA GRÉCIA ANTIGA ...................................... 34 
5 PRÉ-SOCRÁTICOS, SÓCRATES E SOFISTAS .................................................. 36 
5.1 OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS ............................................................................ 37 
5.2 TALES DE MILETO .................................................................................................. 39 
5.3 HERÁCLITO.... ....................................................................................................... 39 
5.4 PARMÊNIDES ......................................................................................................... 40 
5.5 PITÁGORAS.. ......................................................................................................... 41 
5.6 OUTROS PRÉ-SOCRÁTICOS ..................................................................................... 42 
5.7 SÓCRATES..... ....................................................................................................... 42 
5.8 SOFISTAS..... ........................................................................................................ 45 
6 PLATÃO, AS IDEIAS E O REALISMO ARISTOTÉLICO ..................................... 46 
6.1 REFLEXÕES FILOSÓFICAS ASSOCIADAS AO PENSAMENTO GREGO CLÁSSICO ................ 47 
6.2 O PENSAMENTO DE PLATÃO E ARISTÓTELES ............................................................ 50 
6.3 TEORIAS DO CONHECIMENTO DE PLATÃO E ARISTÓTELES ......................................... 53 
7 PLATÃO E ARISTÓTELES .................................................................................. 55 
7.1 A INFLUÊNCIA DE PLATÃO E ARISTÓTELES NO CONHECIMENTO CIENTÍFICO ATUAL........ 55 
7.2 O PENSAMENTO DE PLATÃO E ARISTÓTELES ............................................................ 58 
7.3 ÁREAS DO CONHECIMENTO INICIADAS POR PLATÃO E ARISTÓTELES ........................... 60 
8 FILOSOFIA ANTIGA E A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO OCIDENTAL ......... 61 
 
3 
 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 64 
 
 
 
4 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante 
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um 
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma 
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é 
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a 
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas 
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em 
tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora 
que lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
2 A HISTÓRIA DA FILOSOFIA 
A história da filosofia é a disciplina responsável por estudar o pensamento 
filosófico, ordenado cronologicamente para se identificar o debate entre as ideias 
filosóficas no tempo. Neste capítulo, você vai ver os principais períodos históricos e 
as escolas filosóficas. A partir daí, acessará a trajetória histórica do desenvolvimento 
do pensamento humano. 
2.1 Filosofia e seus períodos históricos 
Você sabe o que significa filosofia? Boécio (1998) nos lembra que, segundo a 
etimologia dessa palavra, filosofia significa “amor à sabedoria”. Ou seja, o desejo de 
conhecer, compreender e explicar as coisas da vida de forma mais profunda e 
reflexiva faz parte dessa disciplina. Mas como filosofar? Por meio da própria reflexão 
sobre o pensar e o agir humano. Então qualquer pessoa pode propor questões 
filosóficas? Sim, qualquer pessoa pode fazer suas questões diante do mundo, 
inclusive você. 
Indagar sobre a vida cotidiana também nos permite desenvolver o pensamento 
reflexivo, uma vez que as ideias do senso comum são questionadas, e, por meio da 
investigação filosófica, pode-se constituir o pensamento crítico. Desse modo, é 
preciso tomar distância do que conhecemos costumeiramente, a fim de analisar como 
se conhecêssemos aquilo pela primeira vez, como nos provoca Chauí (2000, p. 9): 
 
A Filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do senso 
comum e, portanto, começa dizendo que não sabemos o que imaginávamos 
saber; por isso, o patrono da Filosofia, o grego Sócrates afirmava que a 
primeira e fundamental verdade filosófica é dizer: “Só sei que nada sei”. Para 
o discípulo de Sócrates, o filósofo grego Platão, a Filosofia começa com a 
admiração; já o discípulo de Platão, o filósofo Aristóteles, acreditava que a 
Filosofia começa com o espanto. 
 
 
 
Sendo assim, você pode realizar análises filosóficas a partir de muitas questões 
e ainda englobar inúmeras abordagens nessa reflexão, como enfatiza Aranha e 
Martins (2009, p. 21): 
 
 
6 
 
A filosofia é um tipo de reflexão totalizante, de conjunto, por que examina os 
problemas relacionando os diversos aspectos entre si. Mais ainda, o objeto 
da filosofia é tudo, por que nada escapa a seu interesse. Por exemplo, o 
filósofo se debruça sobre assuntos tão diferentes como a moral, a política, a 
ciência, o mito, a religião, o cômico, a arte, a técnica, a educação e tantos 
outros. Daí o caráter transdisciplinar da filosofia, ao estabelecer o elo ente 
diversas expressões do saber e do agir. 
 
 
Fonte: https://www.significados.com.br/filosofia-antiga/ 
 
Logo, pode-se imaginar que, desde o surgimento do homem, as preocupações 
sobre o modo de vida em sociedade e as explicações possíveis para os problemas da 
convivência no meio social se tornaram grandes estímulos para iniciar e aprofundar 
questões filosóficas. Contudo, o que orienta as respostas para essas explicações 
também marca uma época histórica em nossa sociedade. Ou seja, estudar a história 
da filosofia nos leva a estudar a história da constituição da nossa sociedade, que, por 
questões históricas de migrações, guerras e construçãode nações, faz com 
compreendamos também a história do pensamento Ocidental. 
 Assim, ao conhecer e apreender a história desta disciplina, também 
compreendemos como se dão as mudanças de ideias ao longo do tempo. Nesse 
sentido, Moura (1988, p. 152) nos lembra que: 
Como é um fato que o passado da filosofia é relevante para a reflexão do 
presente – dirá Gueroult –, o estudo da história da filosofia tem interesse para 
a filosofia, e essa história, bem compreendida, é sempre uma história 
sapientiae, que nos mostra o passado como contemporâneo ao presente – 
sem com isso deformá-lo. 
 
7 
 
Por consequência, o estudo dos períodos históricos na filosofia corresponde ao 
estudo dos períodos históricos na história da sociedade Ocidental. Assim, baseado 
em Marcondes (2010), podemos periodizar a história da filosofia da seguinte forma. 
 
 Filosofia Antiga corresponde à História Antiga, datada entre o surgimento 
do homem até o fim do século IV. Nessa época, passou-se do pensamento mítico-
religioso para o pensamento filosófico-científico, evidenciando a noção da natureza, 
da causalidade e da racionalidade. Coube buscar as primeiras respostas para os 
dilemas existenciais humanos. 
 Filosofia Medieval corresponde à Idade Média, período entre os séculos V 
e XV. Nesse momento, deu-se a transição do helenismo para o cristianismo, que veio 
acompanhando de uma deterioração cultural e econômica na Europa em decorrência 
do Império Romano do Ocidente. 
 Filosofia Moderna corresponde à História Moderna, indo do século XV até 
o século XVIII. Nessa época, ocorre a descoberta das Américas, há uma ruptura com 
a tradição e valoriza-se o progresso e a individualidade. Na questão da fé, é a reforma 
protestante que entra em voga, questionando a autoridade institucional da Igreja. 
 Filosofia Contemporânea corresponde à Contemporaneidade, período a 
partir do final do século XVIII até os dias atuais. Sua concepção busca encontrar 
respostas para a crise do projeto filosófico da modernidade, pretendendo-se, assim, 
atualizar o racionalismo, trazer novas alternativas para o questionamento da 
subjetividade e evidenciar questões de linguagens. 
2.2 Períodos históricos da filosofia e as escolas filosóficas 
Agora, aprofundaremos nosso conhecimento sobre cada um dos períodos 
históricos da filosofia, a fim de compreender o desenrolar histórico do pensamento 
humano na sociedade Ocidental. Em cada período, também será destacada a 
principal escola que o representa. Cada escola é determinada por um pensador que 
teve suas ideias ecoadas na época em que viveu. 
Entretanto, devemos lembrar que estas “caixas” da história são apenas 
referências e que, quando falamos da história da filosofia, estamos na verdade falando 
sobre filosofar, como nos indica Merleau-Ponty (1980, p. 212): “[...] a ‘explicação’ 
 
8 
 
histórica é apenas uma maneira de filosofar sem dar na vista, disfarçar as ideias em 
coisas e pensar sem precisão. Uma concepção da história só explica as filosofias sob 
a condição de tornar-se também filosofia, e filosofia implícita”. 
A Filosofia Antiga engloba todo o pensamento filosófico anterior ao século V. 
Esse momento corresponde à Antiguidade, que vai da invenção da escrita (4000 a.C. 
a 3500 a.C.) até a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.). Surgiu, então, 
a formação do Estado, e as civilizações existentes nesse período eram Egito, Grécia, 
Roma, Persas, Fenícios, povos germânicos, entre outros. 
Quanto ao desenvolvimento da filosofia, sobre esse período histórico Braz 
(2005) enfatiza o período pré-socrático, que faz referência ao período anterior à 
existência de Sócrates e destaca filósofos que se focavam com aspectos da natureza 
para responder suas questões; o período socrático, que, na figura de Sócrates, 
estimulava o diálogo para filosofar; o período sistemático, que é um período atribuído 
a Aristóteles; e período greco-romano, que destacou aspectos da cosmologia para 
buscar responder aos problemas da época. 
Segundo Marques (2007), as principais preocupações neste momento eram 
compreender a origem do universo, os fenômenos da natureza e os comportamentos 
humanos a partir da razão. Assim, não se aceita mais as explicações míticas e busca-
se observar, analisar e fundamentar as explicações por meio da racionalidade 
humana. 
Uma das escolas mais representativas deste período da Filosofia Antiga é a 
Escola Socrática. Seu representante é Sócrates, que viveu durante o ano de 470 a.C. 
em Atenas, na Grécia. Dentre as preocupações centrais deste filósofo estavam a 
ética, a razão, a verdade e o questionamento. O discípulo mais conhecido de Sócrates 
foi o filósofo Platão que, inclusive, foi responsável por compilar e escrever as ideias 
de seu mestre (visto que Sócrates nada de escrito deixou). 
 
Sócrates foi um filósofo que agiu pela fala e por ela influenciou seus 
concidadãos – e se um indivíduo se define como político na medida em que 
age e influencia os demais por meio da palavra viva, em ato (isto é, a fala), 
Sócrates foi sem dúvida o mais público, o mais político, o mais cidadão de 
todos os filósofos. E, embora só possamos ter e construir imagens dele a 
partir do que se escreveu a seu respeito – o que é inevitável –, a imagem que 
predomina sobre as demais – ou as monopoliza – é a de um filósofo em ação 
e sobretudo da ação: um cidadão que agiu sobre outros cidadãos falando, 
conversando e discutindo com eles; um cidadão que sustentou e defendeu a 
palavra falada, viva (em contraposição à palavra escrita, que tinha na conta 
de morta), como meio de ação na e para a pólis. 
 
9 
 
O método utilizado por ele ficou conhecido como método socrático. Esse 
método visava à construção de conhecimento pelo homem a partir de 
questionamentos sobre questões banais. Assim, o diálogo entre professor e aluno não 
era mais um processo de simples transmissão de ideias, mas uma profusão de trocas 
em que se podia realizar novas aprendizagens. 
A Filosofia Medieval comporta o período que é determinado entre os séculos V 
e XV. Sua correspondência histórica se deu com a Idade Média, que começou com a 
queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., e foi até a tomada de 
Constantinopla, capital do Império Bizantino. 
Esse período ficou conhecido como Idade das Trevas, visto que se opôs à 
difusão de conhecimento existente no período anterior, o Renascimento, como 
desenvolve Franco Júnior (2001, p. 9-10): 
 
Admirador dos clássicos, o italiano Francesco Petrarca (1304-1374) já se 
referira ao período anterior como de tenebrae: nascia o mito historiográfico 
da Idade das Trevas. Em 1469, o bispo Giovanni Andrea, bibliotecário papal, 
falava em media tempestas, literalmente “tempo médio”, mas também com o 
sentido figurado de “flagelo”, “ruína”. A idéia enraizou-se quando em meados 
do século XVI Giorgio Vasari, numa obra biográfica de grandes artistas do 
seu tempo, popularizou o termo “Renascimento”. [...] De qualquer forma, o 
critério era inicialmente filológico. Opunha-se o século XVI, que buscava na 
sua produção literária utilizar o latim nos moldes clássicos, aos séculos 
anteriores, caracterizados por um latim “bárbaro”. A arte medieval, por fugir 
aos padrões clássicos, também era vista como grosseira, daí o grande pintor 
Rafael Sanzio (1483-1520) chamá-la de “gótica”, termo então sinônimo de 
“bárbara”. Na mesma linha, François Rabelais (1483-1553) falava da Idade 
Média como a “espessa noite gótica”. 
 
Nessa época, a cultura greco-romana é recuperada, e a igreja Católica tem 
uma forte influência sobre a produção de conhecimento. Sendo assim, a figura de 
Deus torna-se base para as explicações, e a filosofia leva em consideração as 
orientações teológicas da época. 
Um dos principais expoentes nesse período é Santo Agostinho, que viveu de 
354 a 430 na Argélia. Para ele, era Deus que atuava na vida do homem, de modo que 
essa relação era considerada fundamental paracompreender o comportamento 
humano e até mesmo outros fenômenos. Nesse sentido, Franco Júnior (2001, p. 145) 
enfatiza que “[...] é preciso lembrar que para ele as verdades da fé não podem ser 
demonstráveis pela razão, mas esta pode confirmar aquelas: ‘compreender para crer, 
crer para compreender’”. 
 
10 
 
Outro expoente é São Tomás de Aquino, que viveu de 1225 a 1274 na Itália. 
Ele retomou a escola aristotélica a partir de princípios do cristianismo. Este último é 
definido por Santos (2017, p. 139): 
 
Trata-se de Tomás de Aquino, inteligência única na história humana, um 
pensador que, além de demonstrar a compatibilidade entre as ideias de 
Aristóteles e a fé cristã, desenvolveu um sofisticado sistema racional que 
apresenta e demonstra, de forma racional, as mais profundas questões que 
envolvem o ser humano (ética, estética, lógica, etc) e sua respectiva relação 
com Deus (fé, salvação da alma, missão da Igreja, etc.). 
 
A Filosofia Moderna começa no século XV e vai até o século XVIII. Com a 
queda do Império Romano do Ocidente, o poder da igreja Católica diminuiu, e, então, 
a filosofia passa a valorizar a reflexão humana como partida do raciocínio filosófico. 
Para aprofundar a discussão, Dias (2005, p. 87) afirma que: 
 
A modernidade, caracterizada como uma ordem pós-tradicional, ao romper 
com as práticas e preceitos preestabelecidos, enfatiza o cultivo das 
potencialidades individuais, oferecendo ao indivíduo uma identidade “móvel”, 
mutável. É, nesse sentido, que, na modernidade, o “eu” torna-se, cada vez 
mais, um projeto reflexivo, pois aonde não existe mais a referência da 
tradição, descortina-se, para o indivíduo, um mundo de diversidade, de 
possibilidades abertas, de escolhas. O indivíduo passa a ser responsável por 
si mesmo e o planejamento estratégico da vida assume especial importância. 
 
Logo, o homem ganha centralidade nas respostas das indagações da época, e 
as questões humanas passam a ser o centro de preocupações filosóficas. Assim, o 
homem não é mais passivo do mundo em que vive, pelo contrário, ele é agente do 
seu processo de existência e aos poucos vai se dando conta disso, como reforça 
Chauí (2000, p. 57): “[...] A realidade é um sistema de causalidades racionais rigorosas 
que podem ser conhecidas e transformadas pelo homem”. 
A escola identificada neste período envolve o racionalismo clássico. O filósofo 
que encabeçou as bases filosóficas neste momento foi René Descartes. Ele foi um 
filósofo francês, nascido em 1596, que propôs uma obra intitulada “discurso do 
método”. Nessa publicação, Descartes aposta em uma metodologia racional para se 
buscar a verdade, contrapondo-se à autoridade eclesiástica. Seu método é nomeado 
cartesiano. 
Sobre esse método, Battisti (2010, p. 575) enfatiza que: 
 
 
11 
 
O método cartesiano brota da reflexão sobre a matemática como paradigma 
metodológico e, ao mesmo tempo, da reflexão sobre os poderes resolutivos 
espontâneos possuídos por nossa razão. A matemática serve de ocasião 
para que a racionalidade revele seu modo de operar e seus poderes. [...] 
Assim, a resposta para esse conjunto de dificuldades parece ser o seguinte: 
o método de análise cartesiano não é de natureza matemática. A matemática 
serve de ilustração ao método e, como tal, é uma fonte importante para 
compreendê-lo. A matemática é o horizonte privilegiado de atuação da razão, 
graças a suas características inerentes e, por isso, merece lugar de destaque 
na investigação metodológica do filósofo. Descartes é um praticante da 
análise, método que espontaneamente emergiu no interior da ciência 
matemática, mas que deverá ser justificado na medida em que revela o 
modus operandi de nossa capacidade de conhecer. 
 
A Filosofia Contemporânea é considerada desde o final do século XVIII – que 
tem como marco a Revolução Francesa em 1789 – e vai até os dias de hoje. No 
entanto, enfocaremos o começo do período para refletir como ele é determinante de 
toda uma reflexão acompanhada de experiências de lutas e reivindicações por direitos 
e expressões políticas. 
Podemos dizer que esse foi um período de agitação política que questionou as 
estruturas de Estado na época, e, após derrubarem o governo vigentes, na França, 
definiram-se novos valores para a sociedade, como liberdade, igualdade e 
fraternidade. Essa situação política ecoou em outros países e transformou o modo de 
pensar da população como um todo. 
Desse modo, o eco da Revolução Francesa reverberou adiante: 
 
A literatura e o discurso propriamente político continuaram sendo muito 
naturalmente o lugar onde se inscreve a referência à Revolução Francesa, 
permanecendo até o início do século XX a referência maior a uma 
modificação violenta da ordem social e institucional, como o lugar fundador 
de toda uma filosofia política. Lembrança da herança dos valores-chaves - 
liberdade, igualdade, fraternidade - reflexão sobre as vias da passagem de 
um estado social a um outro, pela riqueza das experiências históricas da qual 
era portadora, a Revolução Francesa pôde ser reclamada sucessivamente 
pelos movimentos liberais do século XIX nacionais, assim como conheceu, a 
partir de 1848, uma espécie de apropriação pelas correntes socialistas, e o 
movimento operário, integrando em seu patrimônio a referência a essa 
experiência coletiva. No que definimos como plasticidade da herança 
revolucionária, é evidente que não foram considerados os mesmos aspectos 
da herança, ou os mesmos heróis, de 1789 ou 1793, Mirabeau ou 
Robespierre (VOVELLE, 1989, p. 44). 
 
Quanto ao ponto de vista da filosofia, de forma geral, as afirmações universais 
da tradição filosófica foram colocadas em xeque, e novas reinvindicações filosóficas 
entraram em voga. Nesse momento, a ênfase de análise é dada para condição de 
vida do homem na sociedade e diversas escolas a compõem. 
 
12 
 
Para compreender este momento histórico, Domingues (2006, p. 9-10) entende 
que: 
 
Trata-se de uma época em que as distinções dos campos disciplinares eram 
mais elásticas, as especializações mais fluidas e a filosofia moral garantia a 
ligação da filosofia e da ciência com o mundo da ação, ligação requerida por 
toda a sabedoria que se preze, do Oriente e do Ocidente. Ora, é justamente 
esse liame da filosofia, da ciência e da sabedoria que se rompeu no curso da 
modernidade, gerando a conhecida situação de uma ciência sem filosofia e 
sem sabedoria, bem como de uma filosofia sem sabedoria e sem ciência. 
Minha tentativa ao longo da conferência, uma vez convencido de que esse 
estado de coisas não pode persistir, sob pena de pôr tudo a perder, será 
justamente a de restabelecer as pontes entre a filosofia, a ciência e a 
sabedoria (bem entendido: a sabedoria não é uma disciplina, mas um olhar e 
uma atitude), tendo por foco a filosofia contemporânea e por eixo os grandes 
desafios do pensamento no século XXI. 
 
Uma das escolas que se destacou nessa época é a escola marxista. Karl Marx 
nasceu na Alemanha, em 1818, e morreu no Reino Unido, em 1883. Sua proposta de 
metodologia envolvia a análise socioeconômica das relações sociais e visava à 
dialética para a transformação. Para Marx, é a contradição das próprias ideias que 
levam a novas ideias. Portanto, a proposição da dialética é de refletir acerca da 
realidade, e não mais de interpretá-la. 
2.3 Desenvolvimento do pensamento humano 
A partir da filosofia, podemos perceber que o pensamento humano passa por 
transformações tanto no sentido de negar ideias que antes eram consideradas 
corretas como de retomar conceitos e proposições antigas em novos contextos. 
Sendo assim, o que é considerado verdade é ressignificado com o passar do tempo, 
e o estudo da história da filosofia nos apresenta as características que são 
evidenciadas em cada período. 
Desse modo, a história da filosofia explicita uma sequência histórica do 
pensamento humano, mostrando questões relevantes em cada período histórico da 
sociedadeOcidental, como reforça Porta (2002, p. 25), 
 
[...] trata-se de ter opiniões sobre certos temas bem definidos e sustentá-las 
em algo diferente de uma convicção pessoal; mais ainda, o núcleo essencial 
da filosofia não é constituído de crenças tematicamente definidas e 
racionalmente fundadas, senão de problemas e soluções. 
 
 
13 
 
Contudo, só podemos ter certeza da pertinência de “problemas e soluções” que 
marcam um período quando temos certo distanciamento sobre essa época, pois 
também estamos contaminados por diversas outras questões que julgamos 
pertinentes. 
Ainda se deve levar em conta que os acontecimentos históricos são 
marcadores de mudanças de paradigmas, o que torna ainda mais importante 
compreender a história do homem e o desenvolvimento da sociedade. 
Assim, evidencia-se também que a filosofia se constitui como atributo humano, 
possibilitando tanto o acúmulo de saber como a reflexividade sobre esse saber. Nesse 
sentido, Chauí (2000, p. 13) explica que: 
 
As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático. Que significa 
isso? Significa que a filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, 
busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera por conceitos ou 
ideias obtidas por procedimentos de demonstração e prova, exige a 
fundamentação do que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão 
filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, nossas crenças e 
opiniões, alcancem uma visão crítica de si mesmas. Não se trata de dizer “eu 
acho que, mas de poder afirmar “eu penso que”. 
 
Nesse sentido, o estudo do pensamento humano nos permite compreender 
quais são as bases para as explicações das questões filosóficas e buscar novas 
soluções para problemas da sociedade. Contudo, para isso temos de partir de algum 
lugar, de alguma pergunta, de algo que nos intrigue, como a dúvida, assim como todos 
esses pensadores explicitados ao longo do capítulo o fizeram para iniciar suas 
reflexões. Como enfatiza Fernandes (1994, p. 341): “Parte-se da dúvida, fazem-se 
conjecturas e aplica-se o raciocínio explicativo causal. Chega-se assim a à ‘certeza’ 
possível”. 
Dessa forma, é preciso reconhecer nossa ignorância diante do mundo, a fim de 
que possamos construir conhecimento sobre ele. Chauí (2000, p. 111) também 
enfatiza uma questão relevante: 
 
Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser tão profunda que 
sequer a percebemos ou a sentimos, isto é, não sabemos que não sabemos, 
não sabemos que ignoramos. Em geral, o estado de ignorância se mantém 
em nós enquanto as crenças e opiniões que possuímos para viver e agir no 
mundo se conservam como eficazes e úteis, de modo que não temos nenhum 
motivo para duvidar delas, nenhum motivo para desconfiar delas e, 
consequentemente, achamos que sabemos tudo o que há para saber. [...] A 
incerteza é diferente da ignorância porque na incerteza, descobrimos que 
somos ignorantes, que nossas crenças e opiniões parecem não dar conta da 
 
14 
 
realidade, que há falhas naquilo em que acreditamos e que, durante muito 
tempo, nos serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não 
sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas situações ou 
diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc. Temos dúvidas, ficamos cheios 
de perplexidade e somos tomados pela insegurança. 
 
No entanto, como manifestar essas questões, expor as dúvidas sobre o mundo 
e apresentar os problemas mais profundos que o ser humano espera resolver? Um 
desses meios seria a própria linguagem, pois é por meio dela que se dá a 
comunicação entre os homens e que se explicita o raciocínio lógico para desvendar 
questões que nos inquietam. Sobre a linguagem, Pokorski (2010, p. 97) afirma que: 
 
A linguagem é um meio pelo qual se comunica algo a outra pessoa. Essa 
comunicação pode ser expressa de várias formas. A mais utilizada é a 
linguagem verbal, ou seja, as palavras faladas ou escritas. A comunicação 
também se dá através da linguagem não verbal expressa em gestos, 
desenhos, músicas, pinturas, mímicas, silêncios, sonhos, etc. [...] A 
linguagem é um meio pelo qual se comunica algo a outra pessoa. Essa 
comunicação pode ser expressa de várias formas. A mais utilizada é a 
linguagem verbal, ou seja, as palavras faladas ou escritas. A comunicação 
também se dá através da linguagem não verbal expressa em gestos, 
desenhos, músicas, pinturas, mímicas, silêncios, sonhos, etc. 
 
Assim, entendemos a importância da linguagem para canalizar as nossas 
dúvidas, apresentar possibilidades de reflexões sobre elas e também construir 
conhecimento sobre o mundo. Chauí enfatiza que: “[...] para se relacionarem com o 
mundo e com os outros humanos, os homens devem valer-se de um outro instrumento 
– a linguagem – para persuadir os outros de suas próprias ideias e opiniões” (2000, 
p. 139). Um dos atributos da linguagem é que ela nos ajuda a encontrar a verdade, a 
expor nossas ideias e a chegar a conclusões sobre o mundo. 
Sendo o homem questionador sobre si e o mundo em que vive, cabe a ele 
desvendar o desenvolvimento humano por meio da linguagem e buscar novas 
verdades. Essa troca entre os seres humanos é fundamental, e o que é construído 
como saber pode ser acumulado como conhecimento não só para o homem que a 
descobriu, mas também para as gerações futuras. 
3 HISTÓRIA E FILOSOFIA 
Podemos dizer que a história é filosófica ou a filosofia é histórica? Ao longo dos 
anos, essas disciplinas existiram mútua e complementarmente. Isso significa que a 
 
15 
 
história da filosofia participa da história e vice-versa, uma vez que a história é a 
narrativa sobre os fatos e tais fatos só podem ser narrados por uma consciência 
reflexiva. Assim, a filosofia existe e é feita a partir de sua própria história, que se 
mescla à história dos fatos, lhes atribuindo sentido. 
3.1 Confluência entre filosofia, história da filosofia e formação 
A relação entre filosofia e história existe a partir de uma necessidade mútua 
que acaba por confluir em um ideal, ou busca, de formação. Ou seja, primeiramente, 
a sistematização histórica da filosofia só é possível pela característica histórica da 
própria filosofia. Nesse contexto, cabe dizer que a história alimenta as questões 
filosóficas e vice-versa. Portanto, a própria filosofia, enquanto reflexão constante 
sobre a realidade e tudo que a envolve, já tem a posição de um trabalho sobre o 
pensamento, de uma formação de um pensamento que nunca se conclui ou se esgota. 
Do mesmo modo, a história contribui para o ideal de formação em um sentido mais 
hegeliano, segundo o qual, por meio da dialética, o acúmulo de conhecimento levaria 
o homem à síntese, quando não haveria mais a necessidade histórica. Com isso, 
Hegel (1770–1831) via na relação entre filosofia e história uma possibilidade 
messiânica: a reflexão filosófica levaria o indivíduo à evolução extrema e a história 
cumpriria seu papel demonstrando quais caminhos anteriores tiveram melhor e menor 
desempenho. Assim, o indivíduo, enfim, apreenderia com seus erros e chegaria ao 
seu ápice. 
 
 
Fonte: https://www.ex-isto.com 
 
16 
 
Entretanto, vale resgatar a relação tríplice desde os primórdios, no pensamento 
antigo. Os gregos já pensavam a educação, a formação do cidadão da polis, por meio 
da história e da filosofia. Em Paideia, Jaerger (1995) elucida os ideais de educação 
do homem grego, vinculados à filosofia e à história, principalmente às narrativas 
míticas que, por mais irreais que fossem, promoviam uma concepção de tradição em 
que os valores culturais, morais e éticos eram passados de geração a geração. A 
decadência da narrativa mítica se deu muito por conta do caráter racionalista/ 
filosófico que o pensamento pré-socrático trouxe para o contexto grego. No entanto, 
tal decadência não distanciou o homem grego de um ideal de tradição e formação; na 
verdade, intensificou a intersecção entre ambos os estudos. Platão (2000), emA 
República, por exemplo, confia o governo da polis aos filósofos, pois estes seriam os 
detentores do conhecimento do mundo das ideias e responsáveis por governar a 
cidade, tendo como ideal a organização social de acordo com as capacidades de cada 
cidadão. Já no diálogo Menon, Platão (2001) apresenta o modelo de formação 
educativa que deveria ser aplicado na polis: o homem grego deve ser educador por 
um saber-virtude. Ou seja, a arete — a excelência virtuosa — só pode ser alcançada 
por meio do saber. Nesse contexto, como ressalta Jaerger (1995), a problematização 
do que é virtude, o que é virtude por excelência (Bem) e quais são as virtudes menores 
(prudência, coragem, etc.) segue a tradição histórica desde os poetas antigos: 
Hesíodo, Homero, Teógnis, Simônides e Píndaro. Entretanto, mesmo a filosofia 
estando na história, tendo uma história e dependendo da história para se organizar, a 
filosofia não é empírica. Isso significa que a filosofia pode partir de escolas de 
pensamento, de tradições filosóficas e de fatos políticos (o que leva um Estado, ou 
mesmo um país, a guerrear com outro? Sendo a morte moral e eticamente reprovável, 
por que o indivíduo é autorizado/legitimado a matar em situação de guerra?), 
socioculturais, socioeconômicos e estéticos, mas sua função se mantém aberta a 
refletir novos sistemas que abarquem tais problemáticas. 
Nesse sentido, as questões filosóficas se constroem por meio da história, ou 
seja, a construção do conhecimento humano, no sentido filosófico e histórico, depende 
da intersecção dessas duas áreas do conhecimento: uma não existe sem a outra. Com 
isso, pode-se dizer que a história em sua factualidade alimenta o lastro do 
conhecimento, enquanto a filosofia alimenta o pensamento de uma época que, por 
sua vez, se torna histórico. A formação, nesse sentido, depende de ambas áreas do 
 
17 
 
saber, na medida em que o conhecimento formador é acumulado pela história e deve 
ser pensado, questionado ou ainda endossado, por meio da reflexão crítica filosófica. 
Outro conceito bastante caro à tradição filosófica, histórica e pedagógica, e que 
abarca a correspondência entre esses três pilares, é o conceito de Bildung. Tal termo 
designa o conceito alemão de formação. Contudo, ao longo da história, ele assume 
um sentido mais amplo: torna-se um ideal de formação que tem por fundamento tanto 
o racionalismo do filósofo francês René Descartes (1596–1650), segundo o qual o 
sujeito é autônomo e depende somente de sua razão, quanto uma concepção 
metafísica amparada no desenvolvimento da alma, como no movimento classicista, 
que buscava por meio do teatro e da literatura educar o homem moralmente. 
Tal conceito assume um caráter ainda mais racionalista a partir da filosofia de 
Immanuel Kant (1724–1804). Para Kant, especificamente em Resposta à pergunta: o 
que é o esclarecimento? (1783), o homem pode se emancipar intelectualmente. Ou 
seja, os indivíduos devem ser educados, ou formados, para fazerem uso de sua razão 
e serem, desta forma, autônomos. Mas é com Jean-Jacques Rousseau (1712–1778) 
que Bildung ganha um caráter fortemente pedagógico: trata-se de criar uma teoria da 
formação com orientações pedagógicas e regras que visam formar o indivíduo 
virtuoso por meio da história, da cultura e da filosofia. Nesse contexto, a formação, a 
filosofia e a história se retroalimentam, visto que a construção de um destes pilares 
está vinculada à construção dos outros, interseccionados em sua origem e 
continuidade. 
Assim, recaímos em outra relação que a filosofia trava com a sua continuidade 
histórica: a de recepção. Nesse sentido, o trabalho filosófico depende da recepção de 
um pensamento também pela tradição, ou seja, pelo lugar de conhecimento 
acumulado pela história. A originalidade do conhecimento, em seu devir, só pode se 
estabelecer a partir da necessidade que é apontada pela construção do tempo atual 
mediante as necessidades que foram respondidas anteriormente. Isso significa dizer 
que mesmo o novo é resultado de um conhecimento que não depende apenas de 
quem o produziu. 
Sendo assim, falar de uma continuidade significa falar de qual possibilidade de 
continuidade pode existir. Portanto, é natural que faça parte do pensamento filosófico 
a formação de indivíduos capazes de suplementar o pensamento filosófico. Nesse 
contexto, o filósofo naturalizado francês Jacques Derrida (2005) forneceu uma 
 
18 
 
importante contribuição ao longo de sua obra, que servirá para pensar o conceito de 
suplementaridade relacionado à história, à linguagem, à formação e, em especial, à 
problematização da continuidade filosófica. 
 Esse conceito aparece como ideia central da obra derridiana, e, se formos nos 
ater à referênciação por um rastreamento total da obra de Derrida, poderíamos dizer 
que esse conceito avança desde seus textos de juventude aos textos mais tardios. 
Contudo, pode-se ressaltar a centralidade dessa reflexão em três obras em especial: 
Gramatologia (1967), Escritura e Diferença (1972) e Margens da Filosofia (1979). 
Pensar a história a partir de sua suplementaridade é colocá-la como lugar de 
acontecimentos tanto do real como do pensamento. Partamos da seguinte explanação 
para compreendermos esse conceito: 
 Júlia adotou um gato e batizou-o como Cartola; 
 toda vez que Júlia busca explicar como Cartola é, tem que recorrer a outras 
palavras para tentar defini-lo; 
 Cartola só é Cartola porque existem outros gatos. 
 
 
Fonte: https://co.pinterest.com/pin 
 
19 
 
Ou seja, ao nomear o gato, Júlia buscou que o gato dela fosse representado, 
definido, pelo nome Cartola. Entretanto, toda vez que alguém pergunta sobre o gato, 
Júlia tem que recorrer a outras palavras para defini-lo: “[...] o Cartola é pretinho, com 
duas pintas brancas, gosta de arranhar novelos de lã e comer peixes”. Este é o 
primeiro aspecto que define a suplementaridade: quando, por meio da linguagem, 
buscamos definir algo por um nome, acabamos por ter que recorrer a outras palavras 
para explicá-lo. Desta forma, acabamos por suplementar algo, alguém, qualquer 
coisa, ser ou matéria existente; esta é lei da linguagem. A segunda suplementação 
que há é: “Cartola só é Cartola porque existem outros gatos”. Ou seja, para que exista 
B deve existir A. Nesse sentido, o que faz com que exista a luz é a escuridão, e o 
mesmo vale para Cartola, que só pode se chamar Cartola e ser singular porque 
existem outros gatos. De outro modo, se não existisse mais nenhum um gato, talvez 
essa segunda suplementação não fosse necessária, pois ele não precisaria de um 
nome para diferenciá-lo dos demais, para fazê-lo saber que se trata dele e que deve 
atender quando o chamam pelo nome. 
Mas, afinal, qual a relação entre suplementaridade e história, filosofia e 
formação? Bom, tudo que existe, existe pela diferença. Dito de outro modo, para eu 
ser, é necessário que o outro seja, e que sejamos diferentes um do outro, e, por essa 
diferença, podemos ter nossa singularidade: “[...] quando não podemos tomar ou 
mostrar a coisa, passamos pelo desvio do signo [...]. A circulação dos signos difere o 
momento em que poderíamos encontrar a própria coisa [...]. O signo diferindo a 
presença, só é pensável a partir da presença que ele difere e em vista da presença 
diferida que se quer reapropriar” (SANTIAGO, 1976, p. 85). Nesse contexto, o mesmo 
vale para cada área de conhecimento que aqui estamos tratando. 
 A história, nesse sentido, existe em sua continuidade pela sua 
suplementaridade. Ou seja, a história é marcada por acontecimentos e pela narrativa 
desses acontecimentos. Portanto, em relação ao Holocausto nazista, por exemplo, a 
história suplementa o acontecimento do nazismo ao tentar defini-lo, ainda que com 
fatos sobre o próprio nazismo, pois, antes de tudo, trata-se de uma narrativa (real e 
comprovada por documentos) que é suplementada pela história do próprio 
acontecimento.Em relação à filosofia, o conceito de suplementaridade tem um emprego mais 
forte, pois pode-se dizer que a atividade filosófica é suplementar o mundo, o ser e a 
 
20 
 
realidade a todo momento. Assim, não existe produção filosófica sem suplementação. 
A principal função da filosofia é a reflexão sobre o mundo, seja em qual categoria for. 
Dessa forma, sempre que a filosofia busca compreender algo, ela busca defini-lo, 
porque compreender é introjetar um sentido em algo que faz muito mais sentido para 
quem “compreende” do que em relação ao objeto em si. Ao compreender, ao versar 
sobre algo, suprime-se este algo e suplementa-o. Sobre o pensamento filosófico, a 
própria tradição filosófica é a história da suplementação filosófica na medida em que, 
para que se fale sobre o ser, suplementa-se todos os outros que já falaram sobre o 
ser a fim de trazer um caráter original à abordagem sobre o ser. 
 
Saiba mais 
 
O conceito de suplementaridade, na filosofia derridiana, é um sinônimo do conceito 
de différance. Em uma palestra de 1968, Jacques Derrida (1968 apud GOULART, 
2017) assinala a alteridade do termo différence (diferença) pelo termo différance. 
Observe a alteração na substituição do “e” pelo “a” Com isso, Derrida buscou 
demonstrar a suplementaridade que existe pela diferença, inclusive nela mesma, 
tanto que se altera em sua grafia. No francês, sonoramente, não é possível distinguir 
a alteração. Nesse sentido, Derrida quis chamar a atenção para o plano da escritura, 
da tessitura textual como possibilidade de ressignificação dos signos (GOULART, 
2017). 
 
 É desta forma que se institui, principalmente em relação à filosofia, a 
necessidade de uma continuidade que deve se dar pela formação. Uma vez que não 
há filosofia sem suplementaridade, é ela (a suplementaridade) que garante a 
continuidade da história da filosofia. 
3.2 O fundamento e a natureza histórica da filosofia 
Pode-se dizer que o fundamento da história da filosofia é o fato da filosofia ser 
histórica (CHAUÍ, 2000). Isso significa dizer que a filosofia está sempre atrelada a uma 
construção histórica dela mesma e sempre interferindo na construção do pensamento 
que define um período da história. Portanto, não há filosofia sem história do 
 
21 
 
pensamento: “Assim, por exemplo, a Filosofia teve seu campo de atividade 
aumentado quando, no século XVIII, surge a filosofia da arte ou estética; no século 
XIX, a filosofia da história; no século XX, a filosofia das ciências ou epistemologia, e a 
filosofia da linguagem” (CHAUÍ, 2000, p. 52). Ou seja, como podemos, enquanto 
indivíduos e sociedade, saber quem somos? Essa questão apresenta duas 
implicações que demonstram o caráter histórico da filosofia: saber quem somos 
depende de olharmos para o passado, o que nos construiu até aqui, tanto no âmbito 
individual quanto no universal; essa pergunta sempre se mantém aberta, pois 
depende também de como se interpreta o passado e como se reconhece o presente. 
Nesse sentido, a filosofia é constituída a partir de um processo que nunca 
cessa, que é continuo, pois trata-se de uma eterna redefinição e reelaboração de 
quem somos perante o passado e o presente (CHAUÍ, 2000). Desse modo, em relação 
às áreas do saber que incluem também a filosofia, existem obras que se tornam 
canonizadas e que, entretanto, são resultado constante e incessante do presente. Ou 
seja, pode-se afirmar que tudo é clássico comparado à ordinaridade do cotidiano. 
Entretanto, vale ressaltar que o processo historiográfico da filosofia, em 
especial quando pensado por pensadores à frente de determinada época, busca 
quase sempre uma contemporaneização de teorias anteriores (CHAUÍ, 2000). É como 
se o pensamento presente tivesse a missão de tampar as rachaduras deixadas por 
teóricos passados. Entretanto, outra questão suscitada por este modo de pensar e 
fazer filosofia é: seria possível fazer filosofia sem levar em consideração a história da 
filosofia? Não, pois a filosofia é construída a partir de conceitos; assim, por exemplo, 
como falar do conceito de virtude sem levar em consideração a história ética da 
filosofia? Ademais, provavelmente se chegaria a uma conclusão que já existe. 
Outro ponto relevante é que, ao abordar uma problemática filosófica tendo 
como referência uma obra clássica, não significa que se dirá repetidamente aquilo que 
já foi dito, mas, sim, que aquela obra e aquele pensador se inserem no horizonte de 
problematização que está proposto (CHAUÍ, 2000). Dessa forma, não há como 
contornar uma contribuição da história da filosofia, mas há como dialogar com ela e, 
a partir disso, dar um próximo passo. 
 O fazer filosófico por meio da história da filosofia trata-se, então, de uma 
relação de continuidade e ruptura dentro de uma continuidade histórica (WEIL, 1970). 
Ou seja, na época X existiam problemas Y que levaram os pensadores a refletir e 
 
22 
 
chegar a diversas teorias sobre o surgimento, o funcionamento e, por vezes, uma 
solução para esses problemas. Um pensador à frente da época X avalia tais reflexões 
de acordo com outros problemas de sua época Z e percebe que tais problemáticas 
contêm similaridades, o que permite pensar a partir das teorias dos pensadores 
anteriores. A teoria do pensador mais contemporâneo gera uma ruptura com o 
pensamento anterior, no sentido de tê-lo superado em algumas questões; entretanto, 
gera uma continuidade, pois partiu de contribuições de autores anteriores. E, por fim, 
todo este gesto histórico-filosófico encontra-se inserido na história, pois interfere e 
estabelece modos de pensar, influenciando, assim, o tecido social como um todo 
(WEIL, 1970). 
 Um exemplo contemporâneo é a obra da filósofa judia Hannah Arendt (1906–
1975). Sua obra tem como problematização, em grande parte, o Holocausto. Arendt 
(1975) buscou identificar o que leva os indivíduos a banalizarem o mal e serem 
capazes de suspender os juízos morais, éticos e humanitários e praticarem um 
genocídio. Atualmente, sua obra volta a tomar ares de atualidade, pois casos como o 
Brexit, que pede a saída da Inglaterra da União Europeia, com base em um 
radicalismo conservador, retoma fantasmas do passado europeu ao se mostrar 
intolerante com imigrantes, com discursos que se revelam homofóbicos e 
antifeministas. Outro país onde alguns grupos têm resgatado essas raízes totalitárias 
é a Itália, com a ascensão do partido de extrema direita CasaPound, que defende sem 
nenhuma restrição o legado do ditador Benito Mussolini. 
 Desta forma, a filosofia se mantém aberta em relação à história, do mesmo 
modo que a história alimenta e organiza a filosofia. Ambas existem em uma relação 
mútua e necessária. Nesse contexto, o filósofo francês Gilles Deleuze (1925–1995) 
busca pensar a criação de conceitos a partir desta relação. Para Deleuze, fazer 
filosofia é fazer a própria história da filosofia. Isso significa que tanto a criação 
conceitual quanto os acontecimentos históricos dependem do mesmo fator: o devir. 
Assim, segundo Deleuze, a criação conceitual acontece frente ao deslocamento 
circunstancial, pelo devir, frente ao problema imposto à reflexão, ao pensamento. 
Assim, Deleuze propõe uma filosofia que seja pensada a partir da 
experimentação. Assim, quando se trata do fazer filosófico, estamos sempre diante 
do novo; pensar é experimentar. Não que as bases de nossa história da filosofia não 
contribuam, mas o que Deleuze propunha era a filosofia como um arriscar-se à 
 
23 
 
violência do pensamento. Portanto, as influências contribuem para o pensamento do 
ponto de vista formativo, mas não devem se tonar um modo de pensar a filosofia de 
forma enciclopédica. 
 É a partir dessa reflexão que Deleuze propõe a noção de uma menoridade e 
uma maioridade como possibilidades mais abrangentes de reflexão e abertura à 
experimentação. A tentativa de Deleuze era sair do lugar de fala comum, ou seja, do 
lugar privilegiadona história do pensamento. Isso vale tanto para sistemas filosóficos 
quanto para os seus porta-vozes. Não se trata de negar a maioridade da história do 
pensamento, até porque ela é a própria condição para que haja uma menoridade. Ou 
seja, para falar sobre educação em filosofia devo considerar os escritos de Rousseau, 
mas não devo me restringir à experiência de pensamento mais padronizada que ele 
representa. 
Com isso, Deleuze busca afirmar que só há uma menoridade enquanto regime 
de oposição a uma padronização que tem maioria, que é chamada de maioridade. 
Sabemos, por exemplo, que a história do pensamento ocidental é majoritariamente 
escrita por homens. De Sócrates a Nietzsche, existiram pouquíssimas filósofas, sendo 
que a maior parte da produção filosófica feminina é datada a partir do séc. XX, após 
a morte de Nietzsche. Pela quase inexistência de registros, as experiências, o 
pensamento e a relação filosófica feminina com a realidade são praticamente 
inexistentes do ponto de vista histórico-filosófico. Isso tem mudado, desde a 
emancipação feminina originada com o movimento sufragista, e em especial no séc. 
XX, mais mulheres têm contribuído e tido destaque no cenário acadêmico mundial. 
Isto é o que Deleuze chamaria de uma filosofia menor: 
 
[...] a noção de minoria, com suas remissões musicais, literárias, linguísticas, 
mas também jurídicas, políticas, é bastante complexa. Minoria e maioria não 
se opõem apenas de uma maneira quantitativa. Maioria implica uma 
constante, de expressão ou de conteúdo, como um metro padrão em relação 
ao qual ela é avaliada. Suponhamos que a constante ou metro seja homem- 
-branco-masculino-adulto-habitante das cidades-falante de uma língua 
padrão- -europeu-heterossexual qualquer (o Ulisses de Joyce ou de Ezra 
Pound). É evidente que “o homem” tem a maioria, mesmo se é menos 
numeroso que os mosquitos, as crianças, as mulheres, os negros, os 
camponeses, os homossexuais... etc. É porque ele aparece duas vezes, uma 
vez na constante, uma vez na variável de onde se extrai a constante. A 
maioria supõe um estado de poder e de dominação, e não o contrário. Supõe 
o metro padrão e não o contrário (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 52). 
 
 
24 
 
Dessa forma, Deleuze demonstra uma menoridade que indica, do ponto de 
vista histórico e histórico-filosófico, a uma outra experiência: a reivindicação dos que 
permaneceram calados. Assim, a natureza da filosofia, desta maneira mais deslocada, 
se daria no próprio fazer filosófico enquanto acontecimento experimental. 
Esse deslocamento e suspensão da maioridade leva a outro importante 
conceito deleuziano que se atrela à história da filosofia: a desterritorialização. Nesse 
contexto, a desterritorialização se liga ao poder do discurso e aos limites traçados pela 
história, pela filosofia, pela formação e pela língua. Deleuze propõe que o pensamento 
se coloque sem-lugar e ao mesmo tempo em todos os lugares; trata-se de se 
desvincular de qualquer ordenamento, o pensamento se colocando como 
desobediente. Nesse sentido, seria uma forma de intersecção plena para o 
pensamento, uma experimentação dependente apenas do devir, pois, desta forma, 
sem a preservação de um cânone, o pensamento encontraria outros territórios, 
trocaria experiências, territorializaria e seria territorializado. 
 Assim, Deleuze acreditava que a natureza da filosofia era, neste sentido, fazer 
submergir pensamentos e experimentações novas a partir do propiciamento de 
relações possíveis, ou seja, uma relação disjuntiva que implicaria no próprio fazer 
filosófico em relação a uma outra possibilidade de filosofia e de história da filosofia. 
Deleuze chegou certa vez a afirmar: “[...] comecei pela história da filosofia quando ela 
ainda se impunha. Não via maneira de me esquivar disso. Não suportava Descartes, 
os dualismos e o Cogito. Nem Hegel, as tríades e o trabalho do negativo” (DELEUZE; 
PARNET, 2004, p. 22). Com isso, Deleuze se esquiva de sistemas de compreensões 
binárias. Assim, seria preciso compreender a história e a história da filosofia por uma 
outra via que não a que sugere “este é A e este é B”, mas, sim, compreender as 
oposições entre A e B a partir das relações intrínsecas que ligam A à B e que, sem 
esta relação, sem este entre-lugar que liga os dois opostos, sem a diferença, A e B 
não existiriam. Trata-se, portanto, de pensar a história da filosofia a partir da diferença 
que a constitui sem que isso exija um binarismo, até porque qualquer binarismo 
implicaria em uma não relação. 
 
 
 
 
 
25 
 
Saiba mais 
 
O conceito de dobra deleuziano é uma importante forma de se pensar a subjetivação 
do sujeito. Ou seja, para Deleuze a subjetividade do sujeito depende da captação 
de códigos existentes em seu contexto. Assim, pode-se dizer que a subjetivação de 
um sujeito na contemporaneidade não é a mesma que a de um sujeito na Idade 
Média. Os estratos subjetivos atuais, por exemplo, são outros, pois vivemos em um 
período totalmente tecnológico em que somos afetados por experiências diversas 
daquelas vividas por sujeitos de outros períodos históricos, e vice-versa. Dessa 
forma, em sua subjetividade, quando um indivíduo conhece outro, ou uma obra, que 
lhe instigue o pensamento e a reflexão, realiza-se uma dobra. Toda coextensão do 
dentro para fora e que traz um acréscimo à subjetividade simboliza uma dobra. 
Exemplificando: Luís nasceu e cresceu; certo dia leu um romance do escritor francês 
Victor Hugo. Tal romance o fez pensar algumas questões e, assim, realizou-se uma 
dobra na subjetividade de Luís (DELEUZE, 2005). 
 
4 FILOSOFIA GREGA 
A diferenciação entre o conhecimento efetivo acerca da realidade e o que não 
pode ser comprovado existe ao menos desde a Grécia Antiga. Tal problematização 
permitiu compreender o que é ciência e o que são questões de fé, gerando a distinção 
entre mito e filosofia. As correntes da filosofia, em suas mais diversas vertentes, 
valorizam, como você sabe, a reflexão racional. 
Neste capítulo, você vai verificar o que diferencia o conhecimento de crenças 
individuais e místicas e como tal diferenciação se deu na Grécia Antiga. Você também 
vai conhecer os principais filósofos da Antiguidade Clássica e ver como as suas teorias 
se distinguem. Além disso, você vai verificar como os métodos utilizados por esses 
pensadores os auxiliaram a chegar ao que acreditavam ser o conhecimento. 
4.1 Conhecimento e misticismo 
Se hoje existe alguma diferenciação entre conhecimento e misticismo, tanto no 
âmbito das discussões cotidianas quanto no universo científico, os responsáveis são 
 
26 
 
os gregos antigos. Na atualidade, é comum diferenciar pareceres científicos de 
opiniões, ou mesmo distanciar crenças individuais de postulados universais científios. 
Crenças relacionadas a narrativas lendárias, bruxaria e discursos religiosos, por 
exemplo, apesar de terem um grande valor social, cultural e individual, não podem ter 
validade científica na medida em que não é possível comprová-las e sistematizá-las a 
partir da realidade factual. Assim, a ciência é cética e se fundamenta a partir de 
conhecimento comprovável sobre a realidade. 
 
 
Fonte: https://br.pinterest.com/pin 
 
Na Grécia Antiga, esse foi um dos maiores paradigmas. A separação entre 
verdade (aletheia) e opinião (doxa) e entre ficção/mito e realidade aconteceu devido 
à falência do mito frente às novas correntes de pensamento que surgiram nesse 
período (JAEGER, 2013). Dessa forma, o distanciamento em relação às narrativas 
míticas se deu principalmente por uma mudança na educação do homem grego. Em 
síntese, houve uma alteração no modo de vida da Grécia Antiga. 
No período dito mítico, a educação era voltada aos ensinamentos de Homero 
(928–898 a.C.) e Hesíodo (750–650 a.C.) e consistia em “[...] formar a aristocracia 
grega nos critérios de exaltação da coragem bélica e heroica, em elogiar a preparação 
para a guerra,para o cuidado da casa, treinar para o sucesso no exercício dos 
 
27 
 
negócios particulares” (NUNES, 2017, p. 61). Portanto, o mito era uma maneira de 
explicar o mundo e os fenômenos naturais, mas também uma maneira de repassar 
valores morais e culturais às novas gerações (JAEGER, 2013). 
Nesse contexto, o termo grego areté (excelência, virtude) era norteador desse 
ideal de educação, pois buscava-se formar o cidadão, o guerreiro, com um caráter 
virtuoso em todos os aspectos e tendo excelência em seu desempenho social, 
qualquer que fosse (NUNES, 2017). Assim, as obras de Homero e Hesíodo serviram 
como ideal para o cidadão grego arcaico, já que retratavam as narrativas míticas que 
buscavam explicar a origem e as causas da realidade, bem como dos sentimentos e 
das virtudes humanas. Ao conhecer figuras heroicas como Ulisses e Aquiles, o 
cidadão grego aprendia com as virtudes desses personagens, a quem deveria buscar 
assemelhar-se. 
Entretanto, apesar de “educarem” o cidadão, as narrativas míticas tratavam 
sempre de fatos e acontecimentos exteriores à vida ordinária (JAEGER, 2013). Ou 
seja, ao inteirar-se de mitos com personagens sobre-humanos, o cidadão vivia uma 
espécie de paradoxo, pois via que em si não havia nada de sobrenatural. Assim, aos 
poucos, o mito vai perdendo a sua validade em relação à explicação da realidade; ele 
adquire cada vez mais valor cultural e menos valor epistemológico. Contudo, não há 
como determinar uma ruptura abrupta entre essas duas perspectivas, dado que outras 
explicações da realidade foram sendo elaboradas aos poucos e que o cidadão ainda 
mantinha as suas crenças (JAEGER, 2013). Por volta do século VI a.C., o pensamento 
filosófico vai ganhando espaço. A princípio, advém das cidades de Mileto e Éfeso, que 
eram pontos comerciais por serem cidades portuárias. Portanto, nessas cidades, 
acontecia o entrecruzamento cultural, pois os viajantes atracavam ali. 
As primeiras escolas filosóficas surgiram em Mileto e Éfeso. Pensadores como 
Tales de Mileto e Heráclito de Éfeso foram alunos e representantes da Escola Jônica, 
situada na cidade de Mileto (BORNHEIM, 1998). Para os filósofos pré-socráticos, a 
realidade deveria ser explicada causalmente a partir da natureza, do mundo, enfim, 
dela mesma. Portanto, as teorias desses pensadores partiam de reflexões sobre 
alguns temas específicos. Veja a seguir. 
 
 
28 
 
 Cosmologia: é o ramo do conhecimento que estuda a estrutura, a origem e 
a evolução do universo, bem como as suas causas, ou seja, o que ocasiona o 
surgimento, as relações, a materialidade de tudo o que existe. 
 Kinesis: é movimento, devir. Em específico para os filósofos jônios, era 
possível compreender, por meio da natureza, o elemento regulador das mudanças em 
suas diferentes materialidades e aspectos. 
 Physis: pode ser compreendida como natureza, entretanto o seu 
significado é abrangente. A physis tinha relação, para os gregos, com o movimento. 
Ou seja, consistia na força e no movimento de fazer surgir, de mudar e de ordenar. 
Assim, a physis seria a responsável pela ordem, pela forma e por dar lugar a outros 
devires no mundo. Por exemplo: para haver o crepúsculo, é necessário que haja dia 
e noite. 
 Arché: em sua acepção geral, de acordo com o significado literal da palavra 
grega, a arché pode ser compreendida como aquilo que dá origem a tudo, como o 
começo. Nesse sentido, esse princípio originário é o que possibilita o surgimento de 
tudo que há na physis, assim como o fim de todas as coisas. Ainda que inapreensível, 
a arché grega é a própria condição da possibilidade de existência das coisas. 
 Logos: é a reflexão racional acerca do universo, da pólis e do homem 
grego. 
 
Tal cenário filosófico, no entanto, acaba por se bifurcar após a ascensão de 
Péricles ao governo ateniense: o chamado período clássico, ou período socrático, traz 
a dimensão política e ética como objeto de preocupação, dividindo espaço com a 
filosofia pré-socrática, que aos poucos foi sendo abandonada (BORNHEIM, 1998). 
4.2 Filosofia na Grécia Antiga 
A filosofia nasceu na Grécia Antiga, no século VI a. C., tempo em que Pitágoras 
se denominou amante do saber. A Grécia Antiga estava acostumada a encarar e a 
entender as coisas e situações de acordo com a mitologia, carregada da sua 
perspectiva primitiva. Logo todo e qualquer fenômeno da natureza ou eventos 
advindos das relações entre os indivíduos eram explicados com uma ideia mística. 
 
29 
 
Na mitologia Grega, existia um deus para cada fenômeno que eles não 
conseguiam explicar de forma racional. Os gregos depositavam nesses deuses as 
explicações sobre a origem do homem e do mundo, uma ótica que a filosofia mudou, 
pois os filósofos queriam refletir sobre tudo de forma crítica, a fim de encontrar uma 
explicação racional para os fenômenos, sem recorrer as figuras dos mitos. 
A filosofia surge e se desenvolve em meio a expansão comercial e marítima, a 
consolidação das cidades-Estados, a invenção da moeda, do calendário, entre tantos 
outros eventos que lhe influenciaram e inspiraram. A filosofia está inseria da história, 
e os temas de que se ocupa mudam de acordo com a evolução social que lhe fornece 
um novo campo de reflexão. 
 
Saiba Mais 
 
Alguns autores não aceitam a ideia de que a filosofia tenha nascido na Grécia, pois 
alegam que já antes existiam outros povos que faziam esse exercício de reflexão. 
Porém, se o fizeram, não foi de forma tão sistemática e influenciadora como ocorreu 
na Grécia. 
 
A genialidade dos gregos até hoje é muito elogiada, causando espanto e 
admiração, devido à época em que viveram. Eles foram precursores não só da filosofia 
como também das artes, política, literatura, educação, música e arquitetura. 
A filosofia dessa época influenciou o mundo ocidental e a religião cristã, uma 
vez que Aristóteles influenciou Tomás de Aquino, dando origem ao cristianismo 
católico, enquanto Platão influenciou Agostinho de Hipona, que veio a influenciar 
Martinho Lutero e Calvino no que diz respeito à reforma protestante. 
Esse período foi marcado por Sócrates, sendo dividido em período pré-
socrático (antes de Sócrates), socrático (no período de Sócrates) e helenístico (depois 
de Sócrates). Durante o período pré-socrático, a filosofia foi utilizada apenas para 
buscar explicações sobre a origem do homem, do mundo e de tudo que nele há 
(coisas). Somente no período socrático é que foram iniciadas as reflexões sociais. 
 
 
 
 
30 
 
Exemplo 
 
Os gregos criavam deuses para explicar a natureza, os sentimentos e as relações 
entre as pessoas. Entre os principais deuses da mitologia grega, podemos citar: 
Zeus (deus supremo), Ares (deus da guerra), Afrodite (deusa do amor), Aristeu 
(protetor dos caçadores, dos pastores e dos rebanhos), Asclépio (deusa da 
medicina) 
 
4.3 Influência da Filosofia no Estado/Governo 
A filosofia levava os pensadores a refletirem sobre as formas de Estado e 
Governo anteriores, identificando os seus pontos de sucesso e fracasso, para assim 
possibilitar a criação de um novo modelo político ideal. 
Platão e Aristóteles fizeram as primeiras reflexões sobre as formas de Estado 
e Governo anteriores, adentrando no tema de forma direta, observando o modo como 
vinham se organizando as cidades. 
 
 
Fonte: https://www.todamateria.com.br/filosofia-politica/ 
 
Segundo Platão, a ética é inseparavelmente ligada à política, como garantidora 
da paz de um governo. A sua tarefa seria promover o nivelamento entre os indivíduos, 
ajustando as duas diferenças em benefício da coletividade, limitando a liberdade entre 
eles, buscando suprir as diferenças econômicas e sociais. Ele era contrário à 
 
31 
 
democracia direta porque acreditava que a distribuição do poder desvirtuava o 
homem, fazendo-o buscar a felicidade individual acima da coletiva. 
Platão criou a ideia do Estado ideal, garantidor da liberdaderealizada por meio 
do exercício da justiça, ficando essa ideia conhecida como República Platônica. Esse 
filósofo defendia que a monarquia era a melhor forma de organização do Estado. 
Aristóteles defendia que os governantes deveriam ser generosos e que o 
Estado precisava garantir a justiça, por isso faria os cidadãos felizes e ao mesmo 
tempo garantiria a manutenção da ordem política em seus territórios. Acreditava que 
uma pessoa só seria completamente feliz com o seu total desenvolvimento intelectual. 
Aristóteles, que era uma linhagem socrática, buscava um equilíbrio entre 
liberdade e a responsabilidade do governo para compartilhar o poder com o povo. 
Para ele, o melhor modelo de democracia seria a representativa, devendo o sujeito 
ser separado em conhecimento, para governar com prudência, sabedoria e justiça. 
Para ele, havia três modelos de governo: Politeia, Aristocracia e Monarquia, possuindo 
cada um desses um desvio de finalidade, gerando outros modelos impuros: a 
democracia, a oligarquia, e tirania, respectivamente. 
Com a criação da moeda no século VIII, a sociedade começou a se reorganizar 
em torno das relações que tinham se modificado, surgindo grande grupos de 
agricultores e artesãos, que foram despertados pelas reflexões filosóficas quanto ao 
seu direito e necessidades, passando eles a almejar uma maior valorização. 
Pitágoras, pré-socrático, foi o primeiro a desenvolver estudos sobre questões 
políticas e religiosas. Heráclito constatou que a vida está em grande evolução e 
transformação, considerando que a luta entre os adversários era o que impulsionava 
tais mudanças. 
Todas essas constatações levaram ao surgimento da democracia, dando início 
à modificação das formas de governo. A Grécia vivenciou a monarquia, a oligarquia a 
tirania e a democracia 
4.4 Principais filósofos da Grécia Antiga 
A filosofia grega é dividida em períodos. Cada período é orientado por uma 
compreensão e por uma problematização acerca do mundo e do ser humano. Assim, 
cada um deles trouxe reflexões que contribuíram para o desenvolvimento do 
 
32 
 
pensamento filosófico. É comum, por exemplo, surgirem, ao longo da história da 
filosofia, problematizações que trazem teorias do pensamento grego que, à primeira 
vista, parecem já ter sido esgotadas. Isso demonstra que o pensamento grego é fonte 
inesgotável de reflexão, oferecendo diferentes releituras e interpretações, além de 
novos desdobramentos. 
 O primeiro período da filosofia grega trouxe avanços epistêmicos que 
contribuíram para o entendimento da natureza e para a compreensão do mundo a 
partir da physis. Nesse contexto, alguns pensadores se destacaram. Tales, por 
exemplo, foi aluno da escola de Mileto e ficou conhecido pela teoria que afirma que a 
água é a physis, ou seja, a origem de tudo. Tales também ficou conhecido por 
introduzir reflexões matemáticas de origem oriental, uma vez que Mileto era uma 
cidade em que acontecia uma grande confluência cultural na época (BORNHEIM, 
1998). 
Outro pensador que ganhou destaque no pensamento grego pré-socrático foi 
Anaximandro, responsável por aperfeiçoar o relógio de sol, produzir o primeiro mapa 
geográfico e, por fim, teorizar o universo a partir de uma arché que seria o conceito 
de apeirón (ilimitado). Ou seja, para ele, o princípio originário do mundo seria o 
movimento eterno, que tenderia a equilibrar os pontos divergentes: “[...] significaria a 
afirmação da lei do equilíbrio universal, garantida através do processo de 
compensação dos excessos (por exemplo, no inverno, o frio seria compensador dos 
excessos cometidos pelo calor durante o verão) ” (BORNHEIM, 1998, p. 20). 
Outro pensador que se destaca entre os pré-socráticos é Pitágoras de Samos. 
Mais conhecido pelo seu teorema matemático, Pitágoras também foi autor de uma 
teoria que misturava divindade, harmonia, matemática e beleza. Para ele, o cosmos e 
o ser humano estão ligados em divindade; a harmonia de ambos depende do estudo 
dos números. Assim, seria possível, a partir de uma estrutura numérica, desvendar a 
semelhança entre o ser humano e o universo (BORNHEIM, 1998). 
Vários outros pensadores contribuíram para a formação do pensamento grego, 
principalmente para a compreensão do mundo, do homem e do cosmos a partir da 
reflexão racional (BORNHEIM, 1998). Entretanto, com Péricles como governante de 
Atenas e a instauração da democracia, as problematizações filosóficas são 
deslocadas (NUNES, 2017). É a partir desse momento que a filosofia deixa de se 
 
33 
 
ocupar dos questionamentos pré-socráticos e se volta para o comportamento ético e 
político do homem. Atenas se torna, então, um centro cultural e político: 
 
O papel que a educação adquire na Grécia clássica, em especial em Atenas, 
tem papel central, burocrático, porém democrático, tornando-se motivo e 
necessidade de debate, tendendo-se a universalizar-se para além dos limites 
da pólis (BORTOLINI; NUNES, 2018, documento on-line). 
 
Com a abertura democrática, o espaço público se torna um lugar para debates, 
apresentação de ideias e, inclusive, conflitos. O discurso em público se transforma em 
recurso pedagógico; ou seja, o local onde se expunham ideias era também o espaço 
em que os jovens ficavam a ouvir e aprender. É nesse período que surgem os sofistas, 
considerados grandes oradores. As concepções sofísticas eram extremamente 
relativistas, defendiam que o conhecimento é subjetivo. Assim, a verdade dependeria 
do ponto de vista, da doxa. Outro fator, que inclusive ocasionou uma crítica severa 
por parte de Sócrates, era que os sofistas, vendo a admiração e a vontade de ingresso 
dos mais jovens na vida política de Atenas, começaram a cobrar quantias e serem 
“tutores” dessa juventude ateniense (PLATÃO, 1986). 
 Nesse contexto, Sócrates, que é considerado o pai da filosofia, ressalta que 
essa disciplina deve afastar os sofistas da educação da juventude ateniense, uma vez 
que o conhecimento deve ter como fim a verdade e não a mera opinião. Ou seja, para 
Sócrates, a verdade é única e só assim é possível estabelecer uma sociedade virtuosa 
(NUNES, 2017). Entretanto, tal verdade não pode ser imposta ou individualizada; ela 
deve ser buscada por meio da dialética. Sócrates foi mestre de Platão e, apesar de 
não ter deixado nenhuma obra, seus diálogos estão presentes na obra platônica, 
assim como a sua figura é mencionada por outros autores da época, como Aristóteles, 
Cícero e Diógenes. 
A obra de Platão apresenta a decadência da democracia ateniense, bem como 
dos valores sociais e culturais do período. Ele é autor da obra intitulada República, em 
que apresenta o modelo de uma sociedade ideal: “[...] [a] tirania, contudo, é teorizada 
não apenas como resultado de tal decadência [democrática], mas como ‘o ideal 
negativo da vida política’, por ser modelo da ‘destruição da vida pública pela lógica 
dos desejos’ (BIGNOTTO, 1998 apud REIS, 2018, documento on-line). A decadência 
da democracia ateniense se dá, segundo Platão (2014), no contexto da condenação 
de Sócrates à morte sob a acusação de corrupção da juventude e não culto aos 
 
34 
 
deuses. Dessa forma, a primeira fase da obra platônica consiste em comunicar as 
ideias de Sócrates, bem como as críticas socráticas à política e ao estilo de vida da 
sociedade ateniense. Posteriormente, Platão se dedica ao estudo da geometria e à 
sua famosa teoria das ideias. Na última fase de sua obra, ele chega a uma reflexão 
mais crítica em relação ao pensamento socrático: o método desenvolvido por Sócrates 
se mostra insuficiente como meio para se garantir um sistema de conhecimento, pois 
conhecer não é só se chegar à verdade, mas também reencontrar o ser. Dito de outro 
modo: ao se buscar a verdade, também se busca o ser, visto que a verdade é o que 
é e a não verdade é o que não é. 
Depois de Platão, começa o período da filosofia aristotélica (NUNES, 2017). 
Aristóteles foi discípulode Platão, entretanto a sua filosofia tem um caráter mais 
realista em relação à compreensão do mundo e do homem. Ou seja, enquanto a 
filosofia platônica propõe um sistema de conhecimento baseado nas ideias, Aristóteles 
busca compreender o mundo a partir do próprio mundo e da natureza, bem como 
compreender os humanos a partir de suas relações entre si (JAEGER, 2013). Assim, 
a sua teoria apresenta uma relação empírica com a realidade e é a partir dessa 
interpretação que Aristóteles desenvolve a sua concepção de ética, de verdade, de 
ciência e de poética. 
4.5 O método dos principais filósofos da Grécia Antiga 
A distinção entre os métodos elaborados pelos filósofos da Grécia Antiga é 
devida às suas diferentes formações e influências e ao avanço intelectual do período 
em que viveram. Ou seja, o contexto intelectual, social e cultural de cada período trazia 
questões e problematizações diferentes. Assim, cada período do pensamento grego 
emprega uma problemática, um método de pesquisa e uma estrutura de sistema de 
conhecimento: cada filósofo e cada período devem ser lidos de acordo com as 
preocupações do seu contexto. Nesse sentido, um filósofo pré-socrático não deve ser 
interpretado com vistas às suas semelhanças com um filósofo pós-socrático. Isso 
significa dizer que cada filósofo se ocupou de aspecto do conhecimento, ainda que 
filósofos como Platão e Aristóteles tenham desenvolvido um sistema mais amplo de 
conhecimento. 
 
35 
 
 Com Sócrates, surgem os métodos mais conhecidos da história do 
pensamento grego antigo. Sócrates era conhecido por suas abordagens e perguntas 
aos cidadãos de Atenas (JAEGER, 2013). Na então jovem democracia, era comum 
ver oradores, sofistas e políticos debatendo publicamente. Sócrates incomodava-se 
com a falta de preocupação com a verdade única e com a manipulação das pessoas, 
principalmente dos jovens. Assim, ele andava pela cidade questionando os cidadãos 
com perguntas como: “o que é o bem? ”, “o que é a virtude? ”, “é possível conhecer a 
verdade?”. Essa abordagem ficou conhecida como dialética, que consiste em chegar 
a uma síntese a partir de duas posições antagônicas, ou seja, opostas. 
Quando você aborda alguém com perguntas, esse alguém busca respondê-las, 
não é? Dessa forma, se estabelece um diálogo em busca de uma síntese, que seria 
um parecer final acerca das duas posições iniciais. Outro aspecto da abordagem 
socrática é a ironia: ao perguntar aos cidadãos coisas tidas como óbvias (“o que é ser 
bom? ”), Sócrates se colocava como não conhecedor de nada, o que acabava levando 
os interlocutores a responderem, então ele devolvia com outra pergunta (o que é 
conhecido como método de retórica socrática). Sócrates comparava o seu método 
dialético à profissão de sua mãe, que foi parteira: ele dizia que dava à luz o 
conhecimento. Por isso, chamou seu método de “maiêutica”, termo de origem grega 
que faz alusão ao parto. 
A partir do pensamento socrático, Platão (2000), mais especificamente nos 
livros VI e VII, afirma que o conhecimento/essência de tudo também é alcançável por 
meio da filosofia. Assim, é abandonando a crença nas sensações e na experiência 
que se chega ao conhecimento verdadeiro. Desse modo, segundo Platão (2000), a 
verdade encontra-se no mundo das ideias, e é fazendo uso da racionalidade que se 
pode contemplar a essência das coisas para longe dos enganos das sensações. 
Portanto, é por meio do debate, da dialética, que se chega a uma ideia comum, 
universal, e desse modo se alcança o conhecimento verdadeiro, que, segundo Platão 
(2000), é equivalente ao bem. 
Mas é com Aristóteles que se vê uma compreensão que, de fato, rompe com 
vários ideais socráticos e platônicos. Aristóteles foi o filósofo grego que mais 
desenvolveu métodos (JAEGER, 1963), seja pela amplitude de sua obra ou pela 
divergência (à primeira vista) entre as áreas de conhecimento de que ela trata. Nesse 
contexto, Aristóteles ficou conhecido pelos seus estudos em lógica, em que 
 
36 
 
desenvolveu o silogismo. Este consiste em um argumento dedutivo, ou seja, a partir 
de duas premissas, chega-se à conclusão, que é a argumentação logicamente 
perfeita. Por exemplo: 
 
 Todos os homens são mortais (premissa universal); 
 Aristóteles é homem (premissa particular); 
 Aristóteles é mortal (conclusão). 
 
Outros estudos e teorias aristotélicas também foram, e são, de extrema 
relevância para o desenvolvimento de distintas áreas do conhecimento. Em sua obra, 
o filósofo desloca vários conceitos platônicos para uma relação mais valorativa com 
as sensações. Assim, o que se faz mais distinto, de modo geral, é a dignificação das 
sensações e da realidade presente na abordagem aristotélica. Os métodos 
aristotélicos eram aplicados de forma empírica; Aristóteles buscava estabelecer o seu 
sistema de conhecimento a partir da realidade e das experiências (JAEGER, 1963). 
O mesmo vale para a sua compreensão sobre a dialética: longe de ter a finalidade 
idealista de Platão, Aristóteles buscava o conhecimento mediante um diálogo 
argumentativo que partisse de premissas e que chegasse logicamente a argumentos 
consistentes, por meio de deduções. 
 Mesmo com todas as distinções metodológicas, a contribuição grega para o 
desenvolvimento ocidental, independentemente da área do conhecimento, é 
incontornável. Como você viu, os pensadores da Grécia Antiga elaboraram noções 
importantes a respeito de conceitos abstratos, como o de virtude, e ainda se 
dedicaram às ciências exatas e naturais. 
5 PRÉ-SOCRÁTICOS, SÓCRATES E SOFISTAS 
A filosofia surge na Grécia Antiga, com os pré-socráticos. Ela nasce em 
oposição às narrativas mitológicas e aspira ao conhecimento racional acerca do 
mundo. Os pré-socráticos procuram causas naturais para explicar a origem e a ordem 
do universo. 
Mais tarde, outros temas passam a interessar aos gregos, os temas morais. 
Sócrates seria o precursor dessa outra maneira de se fazer filosofia, a filosofia 
 
37 
 
humanista. Conjuntamente e debruçando-se sobre os mesmos assuntos, surge a 
figura do sofista, especialista que vende o seu conhecimento em retórica e 
argumentação (MOREIRA, 2019). 
 Neste capítulo, você vai estudar a origem da filosofia e conhecer os primeiros 
filósofos, os pré-socráticos. Além disso, vai se debruçar sobre a obra de Sócrates e 
os ensinamentos dos sofistas. 
5.1 Os filósofos pré-socráticos 
Geralmente, entende-se a filosofia como uma aspiração ao conhecimento 
racional sobre o mundo e a realidade humana. Assim entendida, a filosofia surge entre 
o final do século VII e o início do século VI a.C., na Grécia Antiga. É difícil explicar por 
que a filosofia surgiu na Grécia, já que algumas características que parecem ter sido 
determinantes para o seu surgimento também estavam presentes em outras 
civilizações; por isso, diz-se que ocorreu um “milagre grego” (CHAUÍ, 2000). Essas 
características seriam: o fato de as cidades-estados gregas, as pólis, serem 
democráticas; o florescimento da cultura grega na época; a adoção de moedas; e a 
vasta troca comercial no Mediterrâneo. 
Os filósofos pré-socráticos são tidos como os primeiros filósofos. A principal 
marca do seu pensamento é a busca por explicações sobre a ordem e a origem do 
mundo dentro da própria natureza e de seus elementos. Por conta disso, eles são 
denominados “filósofos naturalistas”. 
Antes da filosofia, o mito era a narrativa principal do povo grego. Os mitos 
explicam o mundo ao descrever a sua origem, além de elucidar o porquê de alguns 
fenômenos naturais. Eles também apresentam os valores de um povo e a sua origem. 
Na Grécia Antiga, os mitos eram transmitidos principalmente de forma oral, mas foram 
sistematizados por dois poetas clássicos, Homero e Hesíodo. Por conta disso, até 
hoje você pode acessar essas histórias. (MOREIRA, 2019). 
Credita-se aos filósofos pré-socráticos uma insatisfação em relação às 
explicações mitológicas.

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