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A EXPOSIÇÃO PORNOGRÁFICA NÃO CONSENTIDA E A PORNOGRAFIA DE VINGANÇA NON-CONSENSUAL PORNOGRAPHY EXPOSITION AND PORN REVENGE Tayná Moreira do Nascimento1 Thaís Del Monte Buzato2 RESUMO O presente artigo tem o intuito de informar ao leitor os conceitos básicos e diferenças entre a exposição pornorgáfica não consentida e a pornografia de vingança, praticada entre ambos os sexos e em vários contextos, expor as diferentes legislações pertinentes ao tema dentro do direito brasileiro, inclusive com tratados internacionais, além de mostrar o trâmite na esfera penal desde a denúncia à delegacia de polícia competente até a instauração da ação penal para cada crime cometido e a produção de provas. No final, o leitor estará informado ao menos para que possa se prevenir desta situação e orientar aqueles à sua volta para que tomem medidas básicas de proteção para não ter sua intimidade violada. Os meios utilizados para a elaboração do presente artigo foram as legislações nacionais e internacionais recepcionadas no país, leitura de bibliografia sobre o tema apresentado e leitura de doutrinas sobre o processo penal aplicado ao tema. Palavras-chaves: Exposição Pornográfica. Pornografia de Vingança. Direito Criminal. Direito Digital. ABSTRACT The purpose of this article is to inform the reader of the basic concepts and differences between non-consensual pornographic exposure and revenge pornography, practiced between both sexes and in various contexts, to expose the different laws pertaining to the subject under Brazilian law, including with international treaties, in addition to showing the procedure in the criminal sphere from the denunciation to the competent police station to the initiation of the criminal action for each crime committed and the production of evidence. In the end, the reader will be informed at least so that he can prevent himself from this situation and guide those around him to take basic protective measures so as not to have their privacy violated. The means used for the elaboration of this article were the national and international legislations received in the country, reading of bibliography on the presented theme and reading of doctrines on the criminal process applied to the theme. Keywords: Pornographic Exposition. Porn Revenge. Criminal Law. Diigital Law. 1 Graduanda em Direito pela Universidade Paulista - UNIP 2 Mestre em Direito pela PUC/SP e Professora do Curso de Direito da Universidade Paulista - UNIP 2 INTRODUÇÃO A exposição pornográfica na internet é um tema de pouca repercussão no direito brasileiro. A maioria dos temas diz muito sobre o ato de expor a pessoa intimamente na internet, em especial a mulher, mas pouco sobre as espécies de exposição e sobre a exposição do sexo masculino e de crianças e adolescentes. No primeiro tópico o objetivo será apresentar o conceito de exposição pornográfica não consentida e de pornografia de vingança, bem como apresentar as espécies relevantes que dão início à exposição, de todas as formas para que, assim, não sejam mais confundidos os seus conceitos e meios de execução. Após a explicação inicial, abordaremos as legislações pertinentes ao tema, não somente na seara penal, mas também nas áreas cível e constitucional de direitos humanos. Por fim, o trabalho cumpre apresentar de forma simples e clara os procedimentos que a vítima pode adotar para produzir provas e onde o crime deve ser registrado e processado. Com este breve estudo, entendemos que ao final o estudante de Direito ou o leigo que tiver acesso a este trabalho poderá orientar e proceder de forma correta para defender-se ou orientar outras pessoas acerca do tema. 3 1. CONCEITOS E ESPÉCIES RELEVANTES Muitas pessoas, inclusive estudantes de Direito e estudiosos da área tendem a confundir as expressões “exposição pornográfica não consentida na internet” e a “pornografia de vingança” utilizando apenas a segunda quando, embora parecidas, há um diferencial, mesmo que pequeno entre elas. A exposição pornográfica não consentida se caracteriza como sendo a distribuição de imagens, vídeos e sons com conteúdo sexual de um indivíduo sem que haja seu consentimento. Nestas distribuições estas imagens podem ser obtidas através de câmeras escondidas, gravações de atos de violência sexual, ou até mesmo com o consentimento da vítima em um contexto privado entre vítima e parceiro(a), mas sendo compartilhadas com terceiros sem seu consentimento (CITRON; FRANKS, 2014 apud SYDOW; CASTRO, 2019) Já a pornografia de vingança, espécie do gênero de exposição não consentida, são aquelas que foram obtidas dentro do contexto privado em um relacionamento, mas quando este relacionamento chega ao fim, o(a) parceiro(a) que obteve estas imagens de forma consensual durante a relação a distribui estas imagens para amigos, familiares, colegas de trabalho ou desconhecidos sem a autorização da vítima e com o intuito de causar-lhe humilhação tanto pública quanto particular, fazendo a vítima sentir-se desmoralizada e ser motivo de chacota por parte daqueles que receberam as imagens. Note-se que, na exposição não consentida, as imagens podem ser obtidas com ou sem autorização da vítima, como casos em que chefes colocam câmeras escondidas nos vestiários dos funcionários, ou casos em que parceiros trocam imagens dentro de um relacionamento, e ainda os casos de pessoas que buscam entretenimento na internet; porém, estas imagens ao serem divulgadas não tem a motivação vingativa para destruir a vítima moralmente e psicologicamente. Já na pornografia de vingança, as imagens podem ser obtidas consensualmente ou não, mas sua distribuição tem como escopo a desmoralização da vítima pelo simples prazer de vingança. Estas imagens muitas vezes não são só distribuídas às pessoas conhecidas da vítima, muitas vezes estas imagens são vendidas a sites pornográficos estrangeiros, às máfias nigerianas, russa e afins, para serem comercializadas nas ruas. Em ambos os casos, essa exposição pode interferir diretamente no convívio social dessas pessoas, causando danos emocionais que poderão nunca serem reparados, fazendo muitas vítimas perderem seus empregos, caírem em depressão, se isolarem ou até cometerem suicídio, o que não é raro. 4 1.1 Pornografia de Vingança Como explicado acima, a pornografia de vingança é aquela em que as imagens, vídeos e sons com conteúdo sexuais são obtidas normalmente com consentimento da vítima, mas podem ser obtidas através de câmeras escondidas também, porém sua distribuição está estritamente ligada ao desejo de vingança, normalmente pelo(a) parceiro(a) que não aceita o fim de um relacionamento ou mesmo descobre uma traição, querendo assim desmoralizar a vítima perante amigos, familiares e em seu ambiente de trabalho. 1.2 Bullying Virtual Também chamado de cyberbullyng, é uma forma de extensão do bullying tradicional, ocorrido face a face, mas que atinge indivíduos de forma digital. O bullying virtual é a “violência repetitiva e persistente que, efetivada por meio da Internet, é direcionada a alguém, para intimidar, humilhar ou maltratar essa pessoa”3. O objetivo do bullying virtual é causar danos emocionais, psicológicos e até físicos às vítimas, como casos de suicídios, pois muitos casos ocorrem com adolescentes e jovens, tendo sua relação com a exposição pornográfica ou pornografia de vingança entrelaçadas, especialmente em locais em que é necessário lidar com desconhecidos. Hoje, estima-se que 42 milhões de brasileiros são vítimas de violência virtual, o que nos torna o primeiro país do mundo na lista de crimes virtuais4. 1.3Ameaça virtual A ameaça virtual ou cyberthreats em inglês, é a terminologia utilizada por muitos estudiosos, é o ato de “hackear”, ou seja, o atentado contra sistemas de computadores ou outros aparelhos como celulares, que incluem furto de conteúdo que envolva propriedade intelectual, alteração na interface de sites, espionagem, implantação de vírus, etc. A ameaça virtual, em inglês chamada de cyberthreats, nada mais é do que o ato de “hackear”, invadir um sistema de computadores ou outros tipos de aparelhos e que incluem o furto de algum tipo de conteúdo envolvendo propriedade intelectual, implantação de vírus e, como objeto de estudo deste trabalho, o furto de imagens sexuais arquivadas nos 3 Disponível em: https://www.dicio.com.br/cyberbullying/. Acesso em: 2020 4 Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/releases-ae,crimes-virtuais-afetam-42-milhoes-de- brasileiros,70001644185. Acesso em: 2020 5 computadores, celulares, tablets, etc das vítimas da exposição não consentida. 1.4 Perseguição virtual A perseguição virtual, também conhecida como Cyberstalking, ocorre quando um ou mais indivíduos perseguem alguém, que é a vítima, usando as plataformas digitais (facebook, instagram, whatsapp, twitter, e-mail, etc) como ferramenta principal. O stalking ocorre com a perseguição, assédio, atenção obtida de forma indesejada ou qualquer contato de forma repetida que acarrete medo a outra pessoa. Estão incluídos no stalking o recebimento de diversos e-mails, mensagens de texto via celular ou aplicativos de mensagens ou redes sociais, recebimento de presentes indesejados, a real perseguição à vítima na rua, como espera na porta de casa, trabalho ou escola, danos aos bens, ameaças diretamente á vítima ou amigos e familiares, obtenção de informações em redes sociais para aproximação com familiares e amigos ou para cometer crimes contra a honra da vítima. Normalmente, as vítimas de cyberstalking conhecem seu(s) agressor(es), pois são pessoas próximas, como amigos e até familiares, ou então um(a) ex companheiro(a), geralmente utilizando um perfil falso em rede social para perseguir e humilhar a vítima. A maior motivação que um stalker tem para a prática de tal ato é o anonimado virtual, pois a vítima não saberá quem é o perseguidor. Hoje, no Brasil, não há estatísticas e não há legislação específica para punir o cyberstalking. Ele poderá ser considerado prática de ameaça, quando crime, ou como perturbação do trabalho ou do sossego alheios, ou perturbação de tranquilidade, quando contravenção penal. Há também a possibilidade de aplicação da Lei n° 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) no que diz respeito a medidas protetivas caso a perseguição virtual esteja ligada ao gênero feminino. 1.5 Assédio virtual Lendo sobre o assunto, em inglês cyberharassment, trata-se do uso da tecnologia (sites, redes sociais, telefones, etc) para atormentar outra pessoa. No livro que uso (o único que tem esse tópico), a autora fala muito sobre a tipificação ou falta dela na legislação americana. Como não tenho intenção alguma de focar em legislação que não seja a brasileira, e somente comparar a legislação central do tema do trabalho, irei retirar o tópico). 6 1.6 Cyber extorsão Também chamada de cyberextortion, ou extorsão cibernética, é uma forma de extorsão, tipificada no art. 158 do Código Penal. A cyber extorsão ocorre quando o criminoso exige a vantagem econômica indevida para não divulgar informações ou material digital de terceiro. No caso em que estamos estudando, o material íntimo é o objeto usado para a extorsão virtual. O criminoso pode obter estes materiais de forma consensual, tendo relações de afeto com a vítima, e depois a chantageando, ou também pode obter de forma não consensual, que é o caso de em que há a invasão do dispositivo informático (celular ou computador) da vítima, também chamado de “hackeamento”, ou o furto ou roubo dos aparelhos informáticos para a obtenção destes dados e, assim, tentar obter a vantagem econômica indevida. Porém, é válido lembrar que, mesmo que a extorsão se consuma, ou seja, haja o pagamento da quantia exigida pelo criminoso, não há garantias de devolução ou exclusão do material em posse do mesmo. Sem contar que, há caso em que o criminoso não exige apenas a vantagem econômica indevida, mas também relações sexuais, como caso ocorrido no Estado do Pará em 2016, onde um homem exigiu uma quantia de R$ 850,00 e uma relação sexual com a namorada virtual para não divulgar as imagens íntimas que possuía da vítima5. 1.7 Sextorsão É a junção das palavras “sexo” e “extorsão”, em inglês conhecida como sextortion. Diferente da extorsão como conhecemos, tipificada no Código Penal Brasileiro em seu artigo 158, em que ocorre a Cyber Extorsão, na Sextorsão não há valores patrimoniais envolvidos em nenhum nível. Aqui, o indivíduo que já tem ou não posse de ou tras fotos íntimas da vítima, exige mais fotos, vídeos ou exige algum outro tipo de favor sexual, em que a vítima é ameaçada de ter suas outras fotos ou supostas outras fotos divulgadas. Ocorre que, nem sempre, assim como na Cyber Extorsão, o criminoso realmente tem fotos da vítima. Ele pode iniciar uma conversa, uma amizade, e depois disso passar a chantegeá-la de tal modo que ela acredite que este indivíduo possua fotos íntimas suas, mesmo sem nunca ter enviado, como por exemplo, uma invasão no computador e retirada das fotos pela webcam. Também há a possibilidade desta pessoa ter tido um relacionamento 5 Disponível em: www.tjpa.jus.br/PortalExterno/imprensa/noticias/Informes/370707-Cozinheiro-e-indiciado- por-crime-de-cyber-extorsao.xhtml. Acesso em: 2020. 7 amoroso com o criminoso, e ao romper, este exija mais favores de ordem sexual, sejam presenciais ou virtuais, para que não haja envio e publicações das fotos. 1.8 Crimes contra a honra6 A honra é subjetiva ou objetiva, sendo a primeira ligada ao que uma pessoa pensa de si própria, e a segunda ligada ao que os outros pensam dela, está ligada à imagem pública de alguém O Código Penal Brasileiro tem tipificado na listagem de crimes contra a honra, a difamação e a injúria, expostos nos seus artigos 139 e 140 respectivamente, e a difamação, que não nos cabe estudar no momento. A difamação consiste em imputar a alguém fato verdadeiro ou não, mas desonroso, tendo como finalidade atingir a reputação da vítima diante da sociedade em que ela vive. E aqui, não cabe somente a imputação do crime àquele que divulga, mas também àquele que recebe e divulga novamente o fato recebido. A injúria, por sua vez, é o ataque feito à própria vítima, à sua autoestima, dignidade, algo que ela pensa de si mesma, como ela se vê. Não podemos esquecer que no artigo 140, III do Código Penal Brasileiro as penas para os crimes contra a honra são aumentadas em 1/3 se o crime é cometido com emprego de forma que facilite sua propagação. 2. LEGISLAÇÃO NACIONAL E TRATADOS Além da legislação já mencionada no presente estudo, hoje, graças ao avanço digital e Legislativo, é possível encontrar legislações no nosso ordenamento jurídico realmente capazes de proteger ou assegurar a verdadeira justiça contra a vítima da exposição pornográfica não consentida ou da pornografia de vingança, seja por meio de ações cíveis ou criminais. 2.1 Constituição Federal O artigo 5°, X, da nossa Carta Magna traz o seguinte dispositivo: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. 6 Disponível em: https://ebradi.jusbrasil.com.br/artigos/429652354/qual-a-diferenca-entre-calunia-difamacao-e- injuria. Acesso em: 2020. 8 Esta liberdade que a Constituição Federal garanteque não haja intromissão de estranhos na vida de cada indivíduo, sendo limitado o compartilhamento de informações acerca da vida pessoal de cada cidadão. 2.2 Código Civil Brasileiro O Código Civil Brasileiro é o diploma legal que regula as relações jurídicas privadas, e entre elas está o direito do cidadão cobrar indenização daquele que o prejudicou de forma intencional ou não. Os artigos 186 e 927 do Código Civil Brasileiro deixam claro que o ato ilícito é aquele em que se viola o direito ou causa dano a terceiro, seja este dano material ou moral, sendo este objeto de pedido de reparação à vítima. 2.3 Código Penal Brasileiro O artigo 139 do Código Penal dispõe sobre o crime de difamação, sendo este o crime que atinge a honra objetiva do indivíduo, ou seja, é o juízo que terceiros farão acerca do indivíduo vítima do crime. Aqui, imputa-se algo ofensivo à reputação de alguém, e no caso estudado, temos como exemplo aquele que ao divulgar as imagens íntimas da vítima, a divulga ofendendo a reputação desta chamando por nomes perjorativos, ou publicando-as em sites com conteúdo considerado imoral pela sociedade. Já o artigo 140 do mesmo diploma legal dispõe sobre o crime de injúria, sendo que este difere da difamação pois não imputa algo ofensivo à sua reputação ofendendo assim a honra objetiva, mas sim a honra subjetiva, ou seja, como o indivíduo vê a si mesmo, ao ofenderem sua dignidade. Aqui, entende-se como ao divulgar as imagens, a vítima, tendo ou não sido exposta em sites adultos ou aos amigos e familiares, com ou sem nomes perjorativos, sente-se ofendida em seu íntimo. Ainda no Código Penal encontramos a criminalização do registro das imagens íntimas ou montagem da mesma no artigo. 216-B, inserido pela Lei n°13.772/2018, que penaliza a produção, fotografia, filmografia e registro de qualquer meio de cenas íntimas, bem como a montagem perjorativa realizada com estas imagens. Ainda encontramos no mesmo diploma legal, também acrescido pela Lei n° 13.772/2018 o artigo 218-C, que criminaliza a divulgação das cenas íntimas consentidas ou não, ou de pornografia. Dentre os tipos penais do CPB que criminaliza, a exposição 9 pornográfica não consentida e a pornografia de vingança, este é o que possui a maior penalização, sendo a pena de reclusão de um a cinco anos e, portanto, não aproveita os efeitos da Lei n° 9.099/95 (Lei do Juizado Especial Cível e Criminal). Desde 2009 quando houve alteração no código penal sobre o crime de estupro no art. 213, em que anteriormente o referido crime dizia respeito apenas ao ato físico e contra mulher, mas hoje diz respeito a qualquer indivíduo e em várias formas, há uma corrente minoritária, da qual fazemos parte, que defende que há a possibilidade do estupro ser cometido na forma virtual, interpretando os trechos “constranger alguém, mediante grave ameaça” e “praticar outro ato libidinoso”, sendo este último o ato de satisfazer a lascívia do agressor, que não necessariamente precisa estar face a face com vítima, e nem praticar a conjunção carnal. Para isto, é possível que o criminoso constranja a vítima com a grave ameaça de divulgar suas fotos íntimas obtidas anteriormente consensualmente ou não caso esta não envie novas fotos ou vídeos de conteúdos íntimos. 2.4 Lei n° 12.737/12 – Lei Carolina Dieckman A lei n° 12.737/2012, popularmente conhecida como Lei Carolina Dieckman inseriu ao Código Penal o artigo 154-A, o qual tipifica o ato de invasão de dispositivo informático estando este ou não conectado à internet, com o fim de “obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita” (CÓDIGO PENAL BRASILEIRO, art. 154-A). 2.5 Lei n° 11.340/06 – Lei Maria da Penha Nos casos em que esta violação de intimidade se der contra a mulher em situação de violência doméstica, como situações em que o namorado, parceiro ou marido queira expor a vítima a situação de violência psicológica, nos termos do art. 7°, II, da referida lei, esta será aplicada para defendê-la. 2.6 Estatuto da Criança e do Adolescente O ECA, desde 2009, dispõe de meios para coibir a divulgação e posse de material íntimo de criança ou adolescente e a adulteração destas em seus artigos 240, 241, 241-A, 241- B , 241-C, visando assim proteger a honra e a intimidade destes. 10 2.7. Declaração Universal dos Direito Humanos e Convenção Americana de Direitos Humanos É possível que surjam, em algum momento, argumentos que tentem relativizar e justificar a exposição pornográfica não consentida e até mesmo a pornografia de vingança, em especialmente quando diz respeito às mulheres, como sendo estas sujeitos que deveriam reprimir seus instintos e desejos. Argumentos como “se ela mandou as imagens, sabia do risco” ou “bem feito para ela, não devia ter mandado” são totalmente inválidos. Assim como qualquer outro ser humano, as mulheres podem ser livres para enviarem vídeos ou imagens aos seus parceiros, e estes não tendo jamais o direito de divulgá-las sem autorização por brincadeira ou vingança. Claro que podemos também dizer que em situação oposta, mesmo com menos visibilidade, mulher alguma tem o direito de divulgar imagens recebidas por brincadeira ou vingança para prejudicar a vida do parceiro. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, incluída no rol de direitos fundamentais na Constituição Federal garante a todos ser humano e liberdade em seu artigo 2°, II, que dispõe que “Todo o homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição7”. Além da DUDH, a Convenção Americana de Direitos Humanos, popularmente connhecida como Pacto de San Jose da Costa Rica também garante a referida liberdade do ser humano em seu artigo 1.1. 2.8 Outras legislações pertinentes ao tema Além das referidas legislações acima, é importante lembrar ao menos por referência que o Brasil possui diversos meios para coibir a prática da exposição íntima na internet bem como meios para defender a liberdade do indivíduo em fazer o envio de imagens e ter sua segurança mantida. Ainda possuímos como base legal a Lei n° 12.965/2014, conhecida como Marco Civil da Internet, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para que a internet seja utilizada com responsabilidade; a Convenção sobre Crimes Cibernéticos, conhecida como Convenção de Budapeste, cujo processo de adesão da República Federativa 7 Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm#19. Acesso em: 2020. 11 do Brasil foi iniciado em julho de 2019, sendo que esta adesão efetiva qa cooperação jurídica internacional para combate aos crimes digitais; a Lei n° 13.642/2018, que acrescenta à Lei n° 10.446/2002 a atribuição à Polícia Federal para investigação de crimes virtuais contra mulheres; Convenção de Belém do Pará; e a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. 3. PROCESSO PENAL Os crimes digitais como a exposição pornográfica não consentida e a pornografia de vingança devem ser denunciados nas delegacias especializadas em crimes cibernéticos ou então na Polícia Civil. Para produção de provas, a vítima pode se valer de prints das telas onde houveram as conversas ou exposição das imagens, ata notarial das conversas, certidão do escrivão de polícia, oficio extrajudicial, cooperação jurídica internacional nos casos em que for necessário e, através do Facebook, a utilização da plataforma Facebook Records. Após toda produção de provas necessária e investigaçãonos casos de ação penal pública, haverá também a possibilidade das ações penais privadas nos casos de crimes contra a honra, e de ações civis para pleitear indenizações. 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ante o exposto, é possível verificar até o momento que já existem legislações pertinentes em diversas esferas jurídicas capazes de proteger o indivíduo de tal exposição ou de consequências mais graves, sejam adolescentes e jovens, homens ou mulheres adultos. Nas áreas cíveis é possível a propositura de ação de danos morais e materiais, visto que atinge-se, em muitos casos, não somente a honra da vítima, inclusive na esfera penal, como também seu patrimônio nos casos de sextorsão conforme estudado. Além de claro, haver proteção ao cidadão no direito constitucional por contar com colaboração internacional no casos praticados fora do país contra seus nacionais. Fica claro que há diferença entre os termos exposição pornográfica e pornografia de vingança, e que eles podem ser cometidos de diversas formas, e não somente com imagens e vídeos, com o intuito de obter ou não vantagem financeira, e que não possui um gênero preferencial, pois pode acontecer em quaisquer idade e sexo. Danielle Bogione, professora e youtuber que vive na Turquia a quase 20 anos, presta um serviço comunitario ímpar de alerta sobre pornografia de vingança praticados contra brasileiras(os) em seu canal “SobreVivendo na Turquia”. Ela retrata diversos casos de “golpes do amor” praticados pela máfia nigeriana em que o golpistas se passam por homens e mulheres americanos, médicos, engenheiros e afins para conversar com brasileiras na internet, com o fim de obter vantagem financeira sobre as vítimas inventando mentiras ou então prometendo casamento e recebendo fotos e vídeos íntimos “nudes” destas vítimas, e depois tentando extorqui-lhes até o último centavo, levando algumas a terem graves problemas psicológicos e psiquiátricos, inclusive na tenta de suicídio. Também é relatado casos em que Turcos, Egípicios, Marroquinos e afins do Oriente Médio, que por questões culturais e religiosas da religião muçulmana não podem se envolver sexualmente com suas nacionais antes do casamento, procuram na internet, normalmente no Facebook ou aplicativos gratuitos de aprendizado de idiomas pessoas para envolver-se emocionalmente de forma falsa, obtendo imagens e vídeos íntimos para satisfazer sua lascívia, e quando as vítimas percebem o golpe e terminam o relacionamento, são ameaçadas de terem suas fotos expostas a familiares, empregadores, amigos, etc, e algumas vezes estas ações são efetivas. Com o presente artigo e informações nele contidas, inclusive em sua bibliografia, o objetivo foi de explicar e alertas pessoas, inclusive vitimas em potencial para que entendam como o crime funciona e meios de se protegerem caso estejam à beira de serem vítimas destes golpistas virtuais, ou mesmo de pessoas de seu convívio, como amigos, parceiro ou cônjuge. 13 REFERÊNCIAS BARRETO, Alesandro Gonçalves; ARAÚJO, Vanessa Lee. Vingança Digital: compartilhamento não autorizado de conteúdo intimo na internet, procedimentos de exclusão e investigação policial. 1° ed. Rio de Janeiro/RJ: Mallet, 2017. BARRETO, Alessandro Gonçalves; KUFA, Karina; SILVA, Marcelo Mesquita. Cibercrimes e seus reflexos no direito brasileiro. 1° ed. Salvador/BA: Juspodivm, 2020. BRASIL. Constituição de República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em. 2020. BRASIL. Convenção Americana Sobre Direitos Humanos. 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Exposição pornográfica não consentida na internet: da pornografia de vingança ao lucro. 2° ed. Belo Horizonte/MG: D’Plácido, 2019. TJPA. Cozinheiro é indiciado por crime de cyber extorsão. Disponível em: < www.tjpa.jus.br/PortalExterno/imprensa/noticias/Informes/370707-Cozinheiro-e-indiciado- por-crime-de-cyber-extorsao.xhtml>. Acesso em 2020. YouTube. SobreVivendo na Turquia. Disponível em: <https://www.youtube.com/channel/UCAZMx2SRaLHplz-FdvaS1Uw?reload=9>. Acesso em: 2020. 2021-01-12T10:03:50-0300 Ribeirão Preto/SP 11712e49-742b-4c37-a599-f36cb67a4134 Eu sou o autor deste documento. Tayná Moreira do Nascimento.
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