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Autoria: Me. Luis Felipe Gomes Michelin Revisão técnica: Ma. Lisiane da Silva Vaz ANALISES TOXICOLÓGICAS E AMBIENTAIS INTRODUÇÃO À TOXICOLOGIA Introdução Embora nem sempre seja claro para nós, estamos a todo momento em contato com substâncias e agentes potencialmente nocivos à nossa saúde. Por exemplo, no ar que respiramos, na água que bebemos todos os dias, no alimento que ingerimos, nos medicamentos que tomamos, nos animais e nas plantas com os quais nos deparamos pelo caminho... Você já imaginou que tais situações ou atividades são riscos toxicológicos em potencial? Já pensou, por exemplo, na importância da bula de um medicamento na prevenção de intoxicações? A noção de que determinadas substâncias podem ser prejudiciais à saúde em certas doses já existe há séculos. Desde a antiguidade, as propriedades venenosas de plantas e animais já eram conhecidas. Ao longo da história, essas propriedades foram catalogadas, classificadas e estudadas, levando efetivamente ao desenvolvimento do que conhecemos hoje como a toxicologia enquanto ciência. No entanto, saberia explicar como o desenvolvimento da tecnologia propiciou o crescimento da toxicologia? Pensando nisso, ao longo desta unidade, conheceremos um pouco da história da toxicologia, especialmente quanto aos eventos toxicológicos importantes que levaram à sua consolidação como ciência. Exploraremos, ainda, os princípios básicos da área que guiam o nosso entendimento de como os toxicantes afetam sistemas biológicos — as principais vias de exposição, os caminhos do toxicante e sua chegada aos tecidos-alvo (toxicocinética), incluindo, também, as respostas desencadeadas nesses tecidos (toxicodinâmica). Bons estudos! Tempo estimado de leitura: 62 minutos. A toxicologia é definida, segundo Klaassen e Watkins III (2012), como a ciência que estuda os efeitos nocivos causados pelas substâncias químicas sobre os organismos vivos. Antes de ser reconhecida como uma ciência, ela já se fazia 1.1 História e princípios da toxicologia presente entre os seres humanos, que sempre estiveram em contato com substâncias químicas variadas para diferentes fins, como alimentação, tratamento de enfermidades e, até mesmo, durante rituais espirituais. Desde a Antiguidade, o ser humano já conhecia, utilizava e observava os efeitos causados por substâncias oriundas de plantas, animais e minerais. Inclusive, substâncias consideradas venenosas eram empregadas em práticas de caça, lutas em guerras e para cometer assassinatos. Um papiro egípcio datado de cerca de 1500 a.C., posteriormente denominado Papiro de Ebers, é considerado um dos mais importantes tratados médicos de que se tem conhecimento. Nele, estão contidas informações a respeito das diversas preparações medicamentosas oriundas de fontes naturais, bem como relativas a venenos conhecidos na época, como a cicuta, uma planta extremamente venenosa, responsável pela morte do grande filósofo grego Sócrates, em 399 a.C. A história da toxicologia traz muitos nomes importantes que contribuíram diretamente para o desenvolvimento da ciência, incluindo o rei romano Mitrídates VI (133 a.C.-63 a.C.), considerado o primeiro toxicologista experimental que, por receio de ser assassinado por envenenamento — assim como seu pai, Mitrídates V —, passou a ingerir diariamente quantidades crescentes de uma mistura de diferentes substâncias naturais (incluindo venenos), no intuito de desenvolver tolerância, dando origem ao termo mitridato. 1.1.1 E volução da visão toxicológica ao longo do tempo A obra La Mort de Socrate (em português, A Morte de Sócrates) é uma pintura de óleo sobre tela elaborada em 1787 pelo pintor francês Jacques-Louis David. Ela relata o episódio da morte do filósofo grego Sócrates. Conforme a história, este teria sido acusado de corromper a juventude de Atenas por falar de outros deuses. Assim, em vez de optar pelo exílio e desistir da filosofia, escolheu a condenação à morte, por meio da ingestão de cicuta. VOCÊ SABIA? A expressão corresponde à mistura eficaz contra doenças e envenenamentos, fazendo nascer o conceito do que hoje conhecemos como antídoto. Figura 1 - A pintura La Mort de Socrate evidencia a morte de Sócrates Fonte: Everett Collection, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos a pintura La Mort de Socrate, de Jacques-Louis David. Ela representa a cena da morte do filósofo Sócrates, que aparece recebendo uma taça repleta pelo líquido venenoso à base de cicuta, com uma das mãos apontadas para o céu, em reverência aos deuses, circundado por outros homens. Tempos depois, em 1493, nasce Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, mais conhecido pelo pseudônimo Paracelsus ou Paracelso. Ele se tornou um médico alquimista e foi grande contribuidor no estudo da farmacologia e toxicologia com sua máxima: “Todas as substâncias são venenos; não há nenhuma que não seja um veneno. A dose correta distingue o veneno do remédio” (KLAASSEN; WATKINS III, 2012, p. 13). Desse modo, nasceu um dos pilares da toxicologia, que é o conceito da relação dose-resposta. Com os avanços da ciência e tecnologia, nasceu a toxicologia moderna, que abrange os conhecimentos da biologia celular e molecular, química, genética, farmacologia, fisiologia, entre outras vertentes das ciências básicas. Por volta de 1890 a 1900, alguns eventos impulsionaram o crescimento da toxicologia, como a descoberta da radioatividade e das vitaminas, levando aos primeiros grandes ensaios biológicos em animais de laboratório. Episódios trágicos envolvendo o uso de medicamentos e praguicidas também contribuíram para esse crescimento, tornando necessária a criação de órgãos regulamentadores para o estabelecimento de normas relativas ao uso de substâncias químicas (KLAASSEN; WATKINS III, 2012). Em 1906, o então presidente americano Theodore Roosevelt assinou o projeto de lei que dá origem à Food and Drug Administration, conhecida como FDA, uma importantíssima agência federal responsável pela regulamentação de produtos medicamentosos e alimentícios. Atualmente, a FDA se mantém como uma das mais relevantes agências regulamentadoras no mundo, a qual visa à proteção da saúde pública por meio da regulamentação das indústrias farmacêutica, alimentícia, cosmética e veterinária, garantindo a eficácia e segurança de tais produtos destinados à população (KLAASSEN; WATKINS III, 2012). No Brasil, foi criada no ano de 1999 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que é a agência reguladora brasileira responsável por exercer controle sanitário sobre produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, como medicamentos, alimentos, cosméticos, produtos médicos, saneantes, entre outros, visando, assim como a FDA, à garantia de eficácia e segurança (BRASIL, 1999). O estudo da toxicologia moderna também abrange o desenvolvimento e a utilização de técnicas que permitem a identificação de intoxicações em âmbito laboratorial, bem como a aplicação de tratamentos capazes de reverter os danos O médico alquimista Paracelso foi um cientista revolucionário que trouxe valiosas contribuições para o estudo da toxicologia e farmacologia. Vale a pena conhecer mais sobre sua história e suas teorias, que até hoje embasam o estudo da interação e do efeito das substâncias químicas no organismo. VOCÊ O CONHECE? celulares causados pela exposição a toxicantes. Tendo em vista que essa exposição pode ocorrer em contextos variados, a toxicologia se divide em áreas específicas, como podemos observar a seguir. Estuda os efeitos nocivos advindos do uso médico de drogas, fármacos e cosméticos. Estuda os efeitos nocivos de substâncias químicas presentes em alimentos. Estuda os efeitos nocivos advindos do uso não médico de drogas ou fármacos. Estuda os efeitos nocivos de contaminantes ambientais em organismos biológicos. Toxicologia medicamentosa Toxicologia de alimentos Toxicologia social Toxicologia ambiental Toxicologia ocupacional Diante disso, praticada por profissionais diversos, como biólogos, biomédicos e farmacêuticos, a toxicologiaconstitui um importante pilar na área das ciências da saúde humana e ambiental. Graças aos inúmeros incidentes do passado relacionados ao uso de substâncias químicas com potencial toxicidade, foi possível elaborar o conhecimento acerca dos mecanismos envolvidos no processo nocivo de uma intoxicação. Isso possibilitou, por meio do entendimento molecular, o desenvolvimento de novas ferramentas e metodologias aplicadas aos ensaios laboratoriais de avaliação de toxicidade das diferentes substâncias químicas, fornecendo parâmetros fundamentais para o estabelecimento do seu nível de segurança. E por falar em parâmetros de segurança, vamos conhecer um caso que deixa evidente o quanto os aspectos ligados à toxicidade são essenciais? Acompanhe! A sulfanilamida é um fármaco antimicrobiano, pertencente ao grupo das sulfonamidas, que apresentam ação bacteriostática. Na década de 1930, a empresa americana Massengil era responsável pela fabricação desse fármaco na forma de pó e comprimido, mas, para proporcionar uma melhor aplicação pediátrica do antibiótico, foi idealizada a produção do medicamento como um xarope. Devido à baixa hidrossolubilidade da sulfanilamida, foi preciso encontrar um solvente que ajudasse na formulação adequada. Paine (2017) menciona que, em 1937, descobriu-se que o fármaco tinha boa capacidade de dissolução em dietilenoglicol, um solvente para diversas moléculas com baixa solubilidade em água. Dessa maneira, desenvolveu-se a formulação do xarope de sulfanilamida utilizando o dietilenoglicol. Entretanto, na época, ainda não existiam regulamentações que exigissem a realização de ensaios de toxicidade para garantir a segurança dos produtos farmacêuticos. O xarope produzido chegou ao mercado e ficou conhecido como elixir de sulfanilamida. Pouco tempo após a distribuição do medicamento, casos de óbito, principalmente entre crianças, foram relacionados ao uso do produto. Somente após os incidentes é que pesquisas conduzidas na Universidade de Chicago evidenciaram a potencial de toxicidade do medicamento frente aos 1.1.2 Elixir de sulfanilamida Estuda os efeitos nocivos de agentes contaminantes no ambiente de trabalho. animais de laboratório testados. Ela foi posteriormente atribuída ao ácido oxálico, produto derivado do solvente utilizado na formulação, que provoca danos renais severos (PAINE, 2017). Figura 2 - Com os resultados, o elixir de sulfanilamida foi retirado de circulação Fonte: Africa Studio, Shutterstock, 2021. #PraCegoVer Na figura, temos a fotografia de um frasco de xarope. O líquido está sendo derramado em uma colher. No fundo, pode-se observar uma mesa branca com diversos medicamentos, incluindo comprimidos espalhados. Os estudos aliados à ação da FDA fizeram com que o medicamento fosse recolhido do mercado, mas muitos pacientes que mantiveram acesso ao produto foram à óbito. Os relatos médicos acerca dos sinais e sintomas relatados pelos pacientes intoxicados levaram ao conhecimento dos sinais provocados pela intoxicação por dietilenoglicol, como dores abdominais, interrupção da micção, náuseas e vômitos, cegueira, convulsões e, até mesmo, coma (PAINE, 2017). Conforme Paine (2017), o incidente foi tão impactante que o químico Harold Watkins, responsável pela utilização do dietilenoglicol na preparação do xarope, cometeu suicídio em 1939. Além disso, entre a comunidade científica e as organizações reguladoras, surgiu um alerta quanto à segurança e proteção dos consumidores no que dizia respeito aos produtos medicamentosos. Iniciou-se, assim, a busca por melhores formas de realizar o controle da comercialização desses produtos. No entanto, se pensa que apenas esse caso ficou conhecido, também temos outro que merece nossa atenção e análise. Trata-se do desastre da talidomida. O início da década de 1960 foi marcado pelo trágico evento envolvendo o uso da talidomida. Introduzida no mercado em 1957 por uma indústria alemã como um medicamento sedativo, a talidomida foi anunciada enquanto um produto completamente seguro e atóxico, vendido sem prescrição médica. Naquele momento, ainda não era sabido o grande problema que a substância viria a causar no organismo, uma vez que os estudos sobre as reações adversas provocadas por medicamentos eram muito escassos. Tendo em vista que a talidomida era muito útil no combate a enjoos, ela começou a ser prescrita para gestantes, com finalidade antiemética. Moro e Invernizzi (2017) citam que, em 1959, médicos alemães começam a relatar um aumento do número de nascimentos de crianças com determinada malformação congênita, principalmente caracterizada pela ausência dos membros superiores. Assim, constatou-se a ocorrência de Focomegalia, uma síndrome que gera aproximação ou encurtamento dos membros junto ao tronco do feto; e Amelia, indicada pela ausência de braços e/ou pernas e ausência ou malformação dos dedos das mãos e dos pés (PAINE, 2017). 1.1.3 Desastre da talidomida O documentário Tá Faltando Alguma Coisa, promovido pela Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida (ABPST), retrata a história da talidomida no Brasil e a luta pelos direitos dos que foram vítimas dessa tragédia. Você pode assistir ao vídeo na íntegra clicando no botão abaixo! Acesse (https://www.youtube.com/watch?v=wdq02t6X_Os) VOCÊ QUER VER? https://www.youtube.com/watch?v=wdq02t6X_Os Somente em 1961, a partir de pesquisas, levantou-se a possibilidade de que as deformidades observadas nos neonatos estariam associadas ao uso da talidomida pelas mães no período da gestação. Outras alterações foram posteriormente observadas, como visuais, auditivas e problemas relacionados à formação do coração e tubo digestório (PAINE, 2017). Apenas após o nascimento de milhares de crianças afetadas pela talidomida — as quais ficaram conhecidas como “bebês da talidomida” ou “geração da talidomida” — a substância foi retirada do mercado mundial, no período de 1961 e 1962. No Brasil, a formalização da retirada do medicamento ocorreu em 1964. Hoje, após a reintrodução, a substância é comercializada no país mediante um controle especial e aplicada em casos extremamente específicos, conforme a Resolução n. 11, de 22 de março de 2011, regulamentada pela ANVISA. É inegável que, após o desastre, ficou evidente a necessidade de uma melhor regulamentação acerca do uso seguro das substâncias químicas, incluindo medicamentos. O mundo passou a olhar de forma diferente para os assuntos regulatórios e cresceu a busca pelo desenvolvimento de metodologias laboratoriais que fornecessem a possibilidade de identificar os perigos relativos ao uso das substâncias químicas anteriormente à sua disponibilização no mercado. Com tudo isso, também se tornou incontestável a necessidade de estudos pós- comercialização, a fim de identificar as reações adversas não observadas no período de estudos pré-comercialização. Para saber mais detalhes quanto aos desdobramentos dos casos das vítimas da talidomida no Brasil, sugerimos a leitura do artigo A Tragédia da Talidomida: a Luta pelos Direitos das Vítimas e por Melhor Regulação de Medicamentos, escrito por Adriana Moro e Noela Invernizzi.O texto está disponível no botão abaixo! Acesse (https://www.scielo.br/pdf/hcsm/v24n3/0104-5970-hcsm-24-03- 0603.pdf) VOCÊ QUER LER? https://www.scielo.br/pdf/hcsm/v24n3/0104-5970-hcsm-24-03-0603.pdf Pensando por esse viés, você saberia explicar como se dá a intoxicação? Focaremos nessa temática a partir do próximo tópico. Confira o conteúdo! Para compreendermos como a intoxicação se manifesta, é necessário estabelecermos alguns conceitos-chave em relação ao processo. Diante disso, Klaassen e Watkins III (2012) nos trazem que o toxicante é uma espécie química que interage com alvos moleculares biológicos ou altera de forma significativa o ambiente biológico no qual se encontra. A permanência do toxicante em dado tecido, bem como a concentração nesse alvo, são fatores determinantes no desencadeamento de alterações estruturais e funcionais das células afetadas. Tais alterações resultam na manifestaçãoclínica da intoxicação, ou seja, nos sinais e sintomas observados em função da exposição ao toxicante. A figura a seguir pontua os diferentes estágios no desenvolvimento da toxicidade: exposição ao toxicante, sua entrega aos tecidos suscetíveis, interações moleculares possíveis e disfunção e/ou lesão celular resultantes. 1.2 Fases da intoxicação Figura 3 - Estágios no desenvolvimento de toxicidade Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em KLAASSEN; WATKINS III, 2012. #PraCegoVer Na figura, temos uma ilustração mostrando o fluxo de eventos que leva à geração de toxicidade. No topo, está o toxicante. Abaixo, seguimos com a “entrega”, representando o primeiro passo do processo. Depois, temos a “interação com molécula-alvo” e “alteração do ambiente biológico”, indicando os efeitos causados pelo toxicante sobre o tecido-alvo. Segue-se com a “disfunção celular, lesão”, que representa o resultado das interações citadas anteriormente. Por fim, temos o “reparo inapropriado e adaptação” indicando a consequência da lesão celular sustentada. Os últimos apontam para a “toxicidade”. O conjunto desses processos define a magnitude da intoxicação, a extensão do dano aos tecidos afetados, as manifestações clínicas observáveis e o grau de reversibilidade da intoxicação. A seguir, abordaremos cada um desses processos-chave de forma pontual, mas, antes, vamos realizar uma atividade prática! 1.2.1 Exposição ao toxicante Os processos cinéticos e dinâmicos que interagem para definir a disposição biológica dos toxicantes são complexos e variam de substância para substância. O estudo da toxicidade é especialmente importante quanto se trata de medicamentos, pois precisamos definir as possíveis reações tóxicas associadas ao uso de fármacos, tanto em dosagens terapêuticas como no evento de superdosagem. Nesse contexto, leia o artigo Efeitos Colaterais Atribuídos ao Uso Indevido e Prolongado de Benzodiazepínicos (http://www.revistas.unifan.edu.br/index.php/Re vistaICS/article/viewFile/234/177). Com base nas informações descobertas a partir da leitura, descreva as fases toxicocinética, toxicodinâmica e clínica da intoxicação por benzodiazepínicos. Não se esqueça de destacar, também, os principais tratamentos para a intoxicação. Depois, compartilhe com seus colegas! VAMOS PRATICAR? http://www.revistas.unifan.edu.br/index.php/RevistaICS/article/viewFile/234/177 Uma das etapas mais clinicamente relevantes do processo de intoxicação é a exposição ao toxicante. Sua importância consiste no fato de que é uma das poucas etapas que podem ser controladas de forma específica. Se, por exemplo, um indivíduo desenvolve uma reação alérgica ao tocar em uma planta, a simples eliminação dessa exposição elimina completamente a toxicidade. Da mesma forma, alergias ou intoxicações por medicamentos podem ser eliminadas quando a exposição é interrompida. Os principais sítios de exposição são a pele, os olhos e as mucosas (contato direto com o toxicante), assim como o trato digestório (ingestão do toxicante), o trato respiratório (inalação do toxicante) e a injeção, como mostrado na figura a seguir. Cada uma dessas vias está sujeita à interação com diferentes tipos de toxicantes, com distintos perfis físico-químicos. Figura 4 - Principais vias de exposição a compostos tóxicos Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL, 2016, p. 631. #PraCegoVer Na figura, temos uma ilustração retratando um homem com alguns dos órgãos internos aparentes (cérebro, vias respiratórias, pulmões, fígado, rins, ureteres e bexiga). Um comprimido à esquerda, próximo à sua boca, simboliza a ingestão de toxicantes. A fumaça em contato com seu nariz, também à esquerda, simboliza a inalação de toxicantes. Uma seringa com conteúdo amarelo à direita simboliza a injeção de toxicantes. Por fim, na região do antebraço, temos a “absorção pela pele”, que representa essa via de exposição. Por exemplo, substâncias altamente lipossolúveis, ou seja, que têm alta afinidade química por lipídeos, tendem a ser muito bem absorvidas após o contato com a pele ou as mucosas, atravessando as barreiras físicas externas e chegando à circulação sanguínea. Podemos mencionar nesse caso os pesticidas, que penetram pela pele, acumulam-se nos tecidos — principalmente no tecido adiposo — e causam toxicidade persistente a longo prazo (CLARKE et al., 2018). Estudos recentes, como o de Hung et al. (2015), sugerem que anormalidades nos sistemas nervosos central e periférico podem persistir por até cinco anos após uma única exposição aguda a doses altas de certos pesticidas. Alguns toxicantes comuns que exibem seu efeito por via oral (ingestão) são o álcool, os medicamentos, algumas drogas de abuso — como as anfetaminas e plantas — ou os produtos derivados de plantas (extratos, tinturas, drogas vegetais etc.) (KATZUNG; TREVOR, 2017). Manahan (2013) complementa que os toxicantes mais comuns de exposição respiratória, por sua vez, geralmente são poluentes ambientais ou ocupacionais, como aerossóis de solventes, metais pesados, fumaça e material particulado Foi atendido, em uma clínica particular, um cão mestiço com cinco meses de idade apresentando salivação abundante, diarreia e hipertermia. Antes do aparecimento das manifestações clínicas, a proprietária havia administrado, por todo o corpo do animal, uma substância indicada por uma casa agropecuária, já que o bichano tinha uma lesão de pele na região da cabeça. O produto era composto por diclorvós, um inseticida organofosforado, cipermetrina, um inseticida piretróide, sulfadiazina de prata e alumínio metálico. Os organofosforados têm como mecanismo principal de toxicidade a inibição da acetilcolinesterase, enzima responsável pela degradação de acetilcolina. Dessa forma, o animal apresentará sintomas de hiperestimulação colinérgica. De fato, isso se constatou! No exame físico, o animal apresentou tremores musculares, respiração ofegante, miose, prostração, apatia e defecação involuntária, todos sintomas condizentes com a síndrome colinérgica característica da intoxicação por pesticidas. Com base nos sinais clínicos e de posse da composição do produto utilizado, a médica veterinária instituiu o tratamento para intoxicação por inseticida organofosforado. Foi realizada a administração de atropina (um antagonista de receptores colinérgicos que impede a estimulação exacerbada, revertendo os sintomas principais), fluidoterapia intravenosa e banho. O animal ficou cinco dias internado e teve alta após exibir recuperação parcial dos sintomas mais importantes. A intoxicação acidental de animais domésticos por pesticidas é uma ocorrência corriqueira, e a informação e educação da comunidade a respeito dos perigos do contato direto do animal com essas substâncias deve ser priorizado. ESTUDO DE CASO oriundo da queima de carvão e combustíveis fósseis, resíduos do processamento na indústria metalúrgica, entre outros. Os processos envolvidos na chegada do toxicante aos tecidos são conjuntamente conhecidos como toxicocinética do composto, ou seja, efetivamente, seu movimento pelos diversos compartimentos biológicos. Após sua chegada a tecidos-alvo específicos, essa espécie química interage com moléculas biológicas (proteínas, membrana plasmática e DNA) e elicita respostas a nível celular. Essa etapa do processo é conhecida como toxicodinâmica, essencialmente o efeito deletério que o toxicante exerce sobre dado tecido. Tais conceitos serão explorados em detalhes na sequência. Continue a leitura! Assim como no estudo da farmacologia, entender a disposição de uma espécie química é fundamental para que possamos compreender as consequências da sua presença nos compartimentos biológicos, sejam elas majoritariamente positivas (fármacos, cuja finalidade é curativa), sejam elas negativas (toxicantes, cuja presença leva ao dano e à lesão). A figura a seguir ilustra os inúmeros “caminhos biológicos” que podem ser percorridos por uma substância química, passando pelos grandes processos de exposição, absorção, distribuição e eliminação. 1.2.2 Toxicocinética: “movimento”do toxicante pelo organismo Figura 5 - Rotas de absorção, distribuição e excreção de toxicantes no organismo Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em KLAASSEN; WATKINS III, 2012. #PraCegoVer Na figura, temos uma ilustração mostrando os diversos caminhos que uma substância pode percorrer no organismo, desde a sua entrada até a sua eliminação. No topo, estão descritas as diferentes vias de exposição (ingestão, inalação, intravenosa, intraperitonial, subcutânea, intramuscular e dérmica). Em cada via, uma seta indica sua chegada ao compartimento circulatório central (sangue e linfa). Deste, saem setas retratando a distribuição da substância em direção aos tecidos periféricos (fígado, rins, pulmões, tecidos moles, ossos e gordura). São mostradas, ainda, na porção inferior, as vias eliminatórias que se encarregam de retirar a substância do organismo (fezes, urina, ar expirado e secreções). Diferentes vias de exposição proporcionam a absorção do toxicante por distintos pontos de entrada, como já discutimos anteriormente: pelo intestino, se ingerido; pela microcirculação alveolar, se inalado; pelo contato direto com vasos sanguíneos, se injetado (picada de inseto ou mordida de cobra, por exemplo)...Assim sendo, nessa etapa, é importante relembrarmos que substâncias veiculadas por via endovenosa não sofrem absorção, pois são colocadas diretamente no interior do compartimento circulatório (KLAASSEN; WATKINS III, 2012). A cinética de absorção de um toxicante, ou seja, o quão rápida e completa será sua absorção, estará sempre relacionada às suas características moleculares, principalmente seu peso molecular e sua lipossolubilidade. Além disso, as características do sítio de exposição (vascularização, integridade das barreiras teciduais etc.) também podem modular o processo absortivo. Após a absorção, o toxicante circula pelos compartimentos sanguíneo e/ou linfático, os quais irão carregá-lo aos tecidos periféricos. A distribuição do toxicante aos tecidos proporcionará sua interação com alvos moleculares, podendo ocasionar a toxicidade inerente à substância em questão. Olson (2014) menciona que alguns dos tecidos importantes aos quais o toxicante pode ser distribuído são o fígado, os rins, os pulmões, o coração, os ossos, o cérebro, os olhos e o tecido adiposo. Contudo, praticamente qualquer tecido ou compartimento biológico é passível de toxicidade, contanto que haja toxicante suficiente nele. Durante a sua compartimentalização tecidual, a biodisponibilidade efetiva do toxicante estará sujeita a uma série de fatores, tanto inerentes à substância quanto inerentes ao indivíduo, conforme notamos com o recurso a seguir. Dose, via de exposição e cronicidade A dose do toxicante e sua via de exposição, bem como a cronicidade desta, controlarão a concentração efetivamente circulante do agente em dado momento. Propriedades físico-químicas do toxicante Também precisamos considerar o tamanho e peso molecular, a lipossolubilidade eo pKa (grau de ionização). Fatores de suscetibilidade individual Sexo, idade, peso, composição corpórea (percentual de gordura corporal), polimorfismos genéticos específicos (diferenças étnicas) e até o uso de certos medicamentos precisam ser analisados. Já alguns fatores pontuais podem influenciar na distribuição de diferentes toxicantes. Um dos principais — fator recorrente que vimos nas etapas anteriores — é a lipossolubilidade da substância. Moléculas altamente lipossolúveis tenderão a atravessar barreiras teciduais com facilidade, difundindo-se prontamente e se acumulando nos tecidos periféricos (KLAASSEN; WATKINS III, 2012). A taxa de ligação do toxicante a proteínas plasmáticas também é um fator relevante: substâncias de caráter ácido, por exemplo, tendem a se ligar fortemente a proteínas plasmáticas como a albumina, distribuindo-se, portanto, em menor quantidade aos tecidos (KATZUNG; TREVOR, 2017). Com isso em mente, podemos entender que alguns dos tecidos referidos anteriormente são responsáveis por processos eliminatórios (fígado e rins, por exemplo),ou seja, são órgãos especializados no processamento químico e na excreção de xenobióticos de forma geral. A biotransformação e eliminação dos toxicantes, realizadas por esses órgãos, são etapas fundamentais que determinam a duração e magnitude de uma intoxicação. Essencialmente, quanto mais rapidamente o organismo consegue "jogar fora" uma substância nociva, menor será o dano ocasionado pela sua permanência nos compartimentos biológicos. É importante termos em mente que a biotransformação hepática tem como principal objetivo converter o toxicante em derivados menos lipofílicos, com maior afinidade por água e mais passíveis de compartimentalização nos túbulos renais e na eliminação urinária. Diferentes compostos são submetidos à ação de uma multitude de enzimas hepáticas, sendo processados quimicamente de diversas formas. O termo xenobiótico é utilizado para designar qualquer substância de origem exógena a um sistema biológico que está em contato com ele. Tanto o princípio ativo de um medicamento (uma substância “boa”) quanto o veneno de uma planta (uma substância "ruim") podem ser denominados xenobióticos. VOCÊ SABIA? De maneira geral, as reações químicas às quais um xenobiótico pode ser submetido são divididas em reações de fase 1 e fase 2. Em função de características químicas do xenobiótico, contudo, esse processo de metabolização pode ser dificultado. Isso se deve ao fato de que ele depende da atividade de enzimas hepáticas específicas, as quais podem ter baixa afinidade por certas moléculas tóxicas em virtude da sua estrutura tridimensional. As reações de fase 1 são as mais simples e envolvem adição ou abstração de grupos funcionais da molécula, sempre com o intuito de torná-la mais hidrossolúvel. Alguns exemplos são a oxidação (adição de oxigênio a ligações, resultando na formação de hidroxilas ou carbonilas), hidrólise (quebra de ligações da molécula na presença de água, geralmente envolvendo a abertura de anéis ou degradação e amidas ou ésteres) e epoxidação (redução de ligações duplas mediadas pela adição de oxigênio e formação e um grupo epóxido altamente polar). As reações de fase 2 são metabolicamente mais complexas e geralmente envolvem a conjugação de metabólitos de fase 1 em moléculas endógenas. Uma das reações mais comuns é a glicuronidação, que consiste da conjugação de metabólitos ao ácido glicurônico, uma molécula volumosa e altamente hidrofílica. O glicuronídeo resultante é um derivado muito hidrossolúvel e, na maioria das vezes, inativo da molécula original, sendo facilmente eliminado por via renal. Fase 1 Fase 2 Outro fator que vale destacar é o alto grau de variabilidade genética ao qual os processos metabólicos estão sujeitos. As enzimas hepáticas responsáveis por esses processos, pertencentes à chamada superfamília do citocromo P450, são codificadas por genes muito passíveis de mutações pontuais. Katzung e Trevor (2017) nos trazem que essa plasticidade gênica faz com que cada uma das enzimas seja capaz de reconhecer substratos distintos, ou seja, uma única enzima dessa família pode reconhecer e interagir com diversas moléculas diferentes. No entanto, essa mesma plasticidade gênica pode levar a polimorfismos genéticos que afetam sua atividade negativamente: certas mutações podem incorrer, por exemplo, em perda parcial ou total da atividade de uma dessas enzimas, o que tornará o indivíduo portador da mutação muito mais suscetível ao desenvolvimento de toxicidade por moléculas que deveriam ser reconhecidas e processadas pela enzima "defeituosa". Uma situação como essa se observa em função de um polimorfismo enzimático prevalente em populações asiáticas que afeta a atividade da enzima de álcool desidrogenase. A alteração torna esses indivíduos mais suscetíveis aos efeitos tóxicos decorrentes da ingestão de álcool etílico, ao passo que o etanol será muito lentamente convertido a aldeído acético (WECKWERTH et al., 2021). Por fim, um xenobiótico deve ser efetivamente eliminado do organismo,o que pode ser feito por duas vias principais, dependendo do caráter químico da molécula: via hepatobiliar e via renal. Moléculas lipossolúveis e pouco biotransformadas tendem a ser eliminadas por viahepatobiliar, secretadas ao intestino e eliminadas pelas fezes. Tais substâncias têm afinidade pelos sais biliares produzidos pelo fígado — os sais biliares são sintetizados a partir do colesterol, logo, são inerentemente lipofílicos — e podem ser compartimentalizados e secretados juntamente à bile ao intestino delgado. O toxicante, na luz intestinal, poderá ser eliminado pelas fezes. O principal problema inerente a essa via é a alta taxa de reabsorção do composto, o qual pode facilmente interagir com a mucosa intestinal, retornar ao compartimento sanguíneo ou linfático, recircular e elicitar novamente sua toxicidade (KATZUNG; TREVOR, 2017). Em contrapartida, compostos que sofrem metabolização hepática, sendo convertidos em derivados mais hidrossolúveis — ou seja, menos lipofílicos —, serão majoritariamente eliminados por via renal. O pH e volume urinários, bem como a presença concomitante de outras substâncias, são possíveis interferentes no processo de depuração renal do toxicante e seus metabólitos, podendo aumentar ou diminuir sua eliminação. Alterações propositais e controladas do pH urinário podem, inclusive, ser empregadas como estratégia terapêutica para acelerar a reversão da intoxicação por certas substâncias. Uma visão geral dos processos delineados está demonstrada na figura a seguir, que resume o equilíbrio dos processos cinéticos, os quais, de alguma forma, favorecem e aumentam (à esquerda) ou dificultam e reduzem (à direita) a chegada do toxicante ao tecido-alvo. Observe! Figura 6 - Representação esquemática do trajeto do toxicante, desde a exposição até o tecido-alvo Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em KLAASSEN; WATKINS III, 2012. #PraCegoVer Na figura, temos uma ilustração demonstrando a chegada do toxicante a um tecido-alvo específico. No topo, estão delineados os possíveis sítios de exposição do toxicante (pele, sistema digestório, sistema respiratório, local de injeção/mordida e placenta). No centro, uma seta indica a liberação do toxicante do sítio de exposição em direção ao tecido-alvo. Ao longo da seta, estão ordenados os fatores que aumentam (à esquerda, incluindo absorção, distribuição em direção ao alvo, reabsorção e toxificação) ou diminuem (à direita, incluindo eliminação pré-sistêmica, distribuição para longe do alvo, excreção e detoxificação) a quantidade da substância que poderá chegar ao destino. Agora que já sabemos como um toxicante pode se difundir pelos diferentes compartimentos biológicos em um organismo e quais os fatores principais que regulam essa cinética, podemos partir para o próximo ponto fundamental da toxicologia: entender como um toxicante pode modificar células, tecidos e compartimentos com os quais ele interage quimicamente (toxicodinâmica). A forma como diferentes toxicidades se manifestam e seus desdobramentos clínicos estão intimamente relacionados aos alvos moleculares com os quais o agente tóxico interage. Esses alvos podem ser proteínas, lipídeos ou ácidos nucleicos. Ainda, determinados compostos podem ter maior afinidade por moléculas ou estruturas de organelas específicas, como mitocôndrias, núcleo, retículo endoplasmático ou lisossomos (KATZUNG; TREVOR, 2017). O álcool etílico, por exemplo, atravessa facilmente a barreira hematoencefálica e interage com receptores de GABA no sistema nervoso central, causando ativação sustentada e levando à depressão neuronal característica da intoxicação etílica. Certos toxicantes ambientais ou industriais, como pesticidas e ftalatos, podem ser disruptores endócrinos, ativando ou bloqueando a sinalização hormonal a nível da síntese, secreção ou receptores de hormônios, o que leva a desequilíbrios fisiológicos importantes. Ademais, substâncias como o cianeto e as espécies reativas de oxigênio ou nitrogênio (EROs e ERNs) podem agir bloqueando proteínas mitocondriais ou danificando membranas, componentes primordiais da homeostase celular (KLAASSEN; WATKINS III, 2012). As consequências da exposição a diferentes toxicantes podem se manifestar em um espectro variado de efeitos indesejáveis. Vamos conhecê-los? 1.2.3 Toxicodinâmica: efeitos do toxicante nos tecidos e sistemas Dado agente químico pode causar uma reação alérgica ou de hipersensibilidade, como glúten, frutos do mar, contato com certas mucilagens de plantas ou saliva veiculada pela picada de um inseto. Alergias São reações geneticamente anormais à dada substância química, mas que se manifestam de forma similar em diferentes indivíduos. A maioria das substâncias exibe sua toxicidade de forma imediata ou a curto prazo, como a necrose hepática decorrente da sobredosagem de paracetamol, que se instala dentro de duas horas após a ingestão. Outros compostos levam ao desenvolvimento de toxicidade a longo prazo, como a exposição continuada a agentes carcinogênicos, o que pode incorrer um período de latência de muitos anos antes do aparecimento de tumores. Alguns efeitos tóxicos são reversíveis, enquanto outros são irreversíveis. O fígado, por exemplo, tem alta capacidade regenerativa, portanto, a degeneração hepática decorrente de uma intoxicação pode ser revertida. A neurotoxicidade, contudo, é grandemente irreversível em função da baixa capacidade regenerativa e proliferativa da maioria dos neurônios. Idiossincrasias Efeito imediato ou tardio Reversibilidade Agora, antes de prosseguirmos com nossos estudos, vamos realizar uma atividade para fixar os conhecimentos adquiridos até o momento? Acompanhe a proposta de exercício na sequência e responda da melhor maneira possível! Podemos definir um veneno como um agente capaz de desencadear uma resposta prejudicial no sistema biológico. Praticamente todas as substâncias químicas conhecidas têm o potencial de produzir lesão ou morte, caso estejam presentes no organismo em quantidade suficiente. Além da dosagem e da via de exposição, o tempo também é definitivo na geração dos seus efeitos. Diante desse contexto, com base em nossos estudos a respeito dos efeitos tóxicos, analise as afirmativas a seguir. I. A idiossincrasia se refere a uma reação geneticamente anormal a determinada substância. II. Os efeitos tóxicos que ocorrem ou se desenvolvem rapidamente após a administração única de uma substância são chamados de efeitos tóxicos imediatos. (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) TESTE SEUS CONHECIMENTOS Retomando nosso conteúdo, a próxima figura demonstra de forma simplificada a interação de um toxicante com um alvo biológico, destacando as características importantes dessa molécula-alvo (1), os diferentes mecanismos por meio dos quais a resposta tóxica é gerada (2) e os resultados da interação (3). III. Se um toxicante produz lesão patológica em determinado tecido, o efeito tóxico será irreversível, independentemente da capacidade de regeneração do tecido. IV. A tolerância reflete uma resposta exacerbada ao efeito tóxico de uma substância química, resultante de uma exposição prévia a essa substância. Está correto o que se afirma em: a. I e III. b. I e II. c. II, III e IV. d. I, II e IV. e. III e IV. VERIFICAR Figura 7 - Esquema da interação entre toxicante e alvo molecular Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em KLAASSEN, 2001. #PraCegoVer Na figura, temos uma ilustração demonstrando a ligação do toxicante ao alvo molecular. O toxicante é encaixado no seu alvo. Apontando para essa construção central, estão três caixas- seta contendo informações sobre o processo. A superior traz o texto “características do alvo: reatividade, acessibilidade, função crítica”, acompanhado do numeral arábico 1. A inferior traz o texto “tipos de reação: ligação não covalente, ligação covalente, abstração de hidrogênio, transferência de elétrons, atividade enzimática”, acompanhado do numeral arábico 2. Já a caixa à direita traz o texto “resultados: disfunção, destruição, despreparo”, acompanhadodo numeral arábico 3. As características do alvo determinam como e com quais toxicantes ele poderá interagir com maior facilidade e afinidade. Alvos altamente reativos (lipídeos de membrana) e prontamente acessíveis (proteínas transmembranares) serão, de maneira geral, mais afetados por toxicantes. Alvos com papel crítico para a função celular correta (enzimas e proteínas de citoesqueleto) serão mais implicados no aparecimento de toxicidades deletérias (KLAASSEN; WATKINS III, 2012). O mecanismo da interação toxicante-alvo é um determinante da extensão do dano celular e de sua reversibilidade. A ligação não covalente entre o agente químico e seu alvo (tubocurarina e receptores de acetilcolina) implicará em uma toxicidade reversível, enquanto a formação de ligações covalentes (metais pesados e DNA) implicará em toxicidade irreversível a nível do alvo. A abstração (retirada) de hidrogênios da estrutura molecular do alvo, bem como reações de transferência de elétrons, são comumente observadas na ação de radicais livres de oxigênio e nitrogênio sobre lipídeos e proteínas. Essas interações implicam no dano às estruturas afetadas e na formação de biomoléculas reativas que poderão perpetuar e amplificar o dano celular. Em outras palavras, o dano oxidativo à biomolécula gera derivados radicalares reativos desta, os quais atacam e danificam outras biomoléculas (KLAASSEN; WATKINS III, 2012). As reações enzimáticas correspondem, principalmente, à ação de toxinas bacterianas ou venenos animais de origem peptídica (toxina diftérica, toxina botulínica e venenos de cobra). Essas moléculas atuam clivando ou alterando a estrutura de proteínas intracelulares, tornando-as inativas e bloqueando processos secundários dependentes das moléculas afetadas. Por exemplo, a toxina botulínica cliva uma proteína de membrana responsável pela liberação de acetilcolina nas junções neuromusculares. Em virtude disso, a liberação de acetilcolina cessa, e a fibra muscular afetada é paralisada. As diferentes interações toxicante-alvo podem resultar em diferentes danos celulares. Klaassen e Watkins III (2012) citam que o agente químico pode causar a disfunção celular por meio da ativação excessiva ou do bloqueio de receptores farmacológicos, da modificação da estrutura tridimensional de proteínas (levando à perda de função) ou da formação de adutos (complexos) com o DNA, com consequentes erros de pareamento durante a replicação. Qualquer uma dessas disfunções celulares, quando exacerbadas, podem levar à morte celular. O resultado destrutivo é ocasionado por fenômenos como a formação de ligações cruzadas (crosslinking) de proteínas e DNA por intermédio do toxicante (por exemplo, mostardas nitrogenadas e metais pesados como chumbo ou platina), levando a quebras na dupla-fita e subsequente fragmentação do DNA. A degradação peroxidativa de fosfolipídeos de membrana por radicais livres e a hidrólise de proteínas por toxinas enzimáticas também são resultados destrutivos. Eventos destrutivos a nível de alvos moleculares tendem a levar a célula afetada à morte, sendo responsáveis por danos teciduais extensos e, muitas vezes, irreversíveis (KLAASSEN; WATKINS III, 2012). Por fim, o desreparo é um aspecto interessante entre as consequências moleculares observáveis a partir da interação toxicante-alvo. Frente a qualquer tipo de dano, uma célula tende a seguir por um de dois caminhos: ocorrerá a ativação de mecanismos de reparo ou de mecanismos de morte celular. Em alguns casos, porém, o reparo é dificultado ou impossibilitado pelos efeitos do próprio toxicante, como a inativação de genes de reparo por agentes genotóxicos, a exemplo de cloretos de alquila, benzeno e certas toxinas naturais, É surpreendente que uma toxina peptídica tão complexa quanto a botulínica seja produzida pela bactéria Clostridium botulinum, um ser estruturalmente simples. Ainda mais surpreendente é o emprego da toxina botulínica em procedimentos estéticos e médicos, embora seja um toxicante excepcionalmente potente. O vídeo A Hipótese do Mecanismo de Ação de Botox mostra de forma simplificada e concisa a ação molecular da toxina botulínica e sua aplicação na enxaqueca. Para assistir o vídeo por completo, clique no botão abaixo! Acesse (https://www.youtube.com/watch?v=vNdU4hoiN_k) VOCÊ QUER VER? https://www.youtube.com/watch?v=vNdU4hoiN_k como a aflatoxina e a griseofulvina (OLSON, 2014). Na ausência do reparo, as células danificadas deverão seguir para a ativação de processos de interrupção da replicação e indução da morte celular. Contudo, esses processos também podem estar desregulados como consequência do agente tóxico. Quando nem processos de reparo, nem de morte, nem de interrupção do ciclo celular são devidamente ativados, a célula danificada (a níveis estrutural, proteico e genético) permanecerá viva e poderá continuar se replicando. Vamos responder mais um exercício que nos ajudará na compreensão do conteúdo estudado até aqui? Confira a proposta na sequência e responda corretamente! O tempo de meia vida representa aquele período necessário para que a concentração plasmática de uma substância seja reduzida pela metade. Essa redução representa processos globais de eliminação da substância (metabolização hepática e excreção renal). Nesse sentido, considerando o contexto e nossos estudos, suponha que um toxicante com tempo de meia vida de seis horas é administrado a cada seis horas. Com base no exposto, pensando no que estudamos até aqui, analise as afirmativas a seguir e a relação proposta entre elas. (ATIVIDADE NÃO PONTUADA) TESTE SEUS CONHECIMENTOS Os profundos desequilíbrios bioquímicos e gênicos instalados na célula serão exacerbados a cada ciclo replicativo, em função do acúmulo contínuo de erros no pareamento, da duplicação e transcrição do DNA. As células geradas a partir desse conjunto de fenômenos recebem o nome de neoplásicas, enquanto a expansão das populações neoplásicas, com acúmulo cada vez mais pronunciado de mutações genéticas e disfunções metabólicas, leva à formação de um tumor (KLAASSEN; WATKINS III, 2012; KATZUNG; TREVOR, 2017). A figura a seguir nos mostra, de forma resumida, o desenvolvimento da tumorigênese como consequência da exposição a certos agentes químicos. I. O nível tóxico não será alcançado, independentemente de quantas doses sejam administradas. PORQUE II. O produto químico é eliminado do corpo antes de a próxima dose ser administrada. Agora, assinale a alternativa correta. a. As afirmativas I e II são proposições falsas. b. A afirmativa I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira. c. As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. d. As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. e. A afirmativa I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. VERIFICAR Figura 8 - Mecanismo de tumorigênese mediado por agentes tóxicos Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em KLAASSEN, 2001. #PraCegoVer Na figura, temos uma ilustração da ação carcinogênica de toxicantes. No topo, encontramos o agente tóxico com o texto “dano ao DNA”. Setas sequenciais o ligam aos textos “replicação do DNA” e “mutação”. Duas setas partem da etapa de mutação indicando os textos “ativação de oncogenes” e “inativação de genes supressores de tumor”. Por fim, temos o texto “transformação celular neoplásica”. Este leva ao texto “tumor”. À esquerda, uma caixa de texto vertical apresenta o texto “sobrevivência”, comunica-se com os textos centrais por setas interceptadas pela palavra “reparo”. À direita, outra caixa de texto vertical apresenta o texto “morte celular”. Esta se comunica com o diagrama central da mesma forma. Outras setas tracejadas ligam a caixa inicial aos textos “replicação do DNA”, “morte celular” e “transformação celular neoplásica”. Determinados genes são fundamentais no controle de mecanismos replicativos e de morte celular frente aos efeitos de toxicantes. Um dos principais é o gene que codifica a proteína supressorade tumor p53, cuja ação é fundamental para mediar o reparo celular e, quando necessário, levar uma célula danificada à morte. Inclusive, mutações de p53 são encontradas em mais de 50% de todos os tumores humanos, fator predisponente à manifestação de carcinogenicidade mediada pela ação de agentes tóxicos. Dependendo do tecido principal afetado pela ação de um agente tóxico, assim como o tipo de dano desencadeado, as consequências clínicas da intoxicação — isto é, aquilo que podemos observar ou medir no indivíduo — podem variar. Contudo, algumas manifestações características são observáveis e, de forma geral, recorrentes em diversas intoxicações. 1.2.4 Desdobramentos clínicos da intoxicação Os veteranos da Guerra do Golfo, de 1991, até hoje sofrem de uma série de sintomas, como fadiga, dor muscular e problemas cognitivos acompanhados de perda de memória, cuja causa e origem permanecem desconhecidas. A coleção desses sintomas é chamada de síndrome da Guerra do Golfo, sendo que existem diversas hipóteses dos motivos que podem ter levado ao seu aparecimento nesses indivíduos, inclusive a exposição a certos toxicantes durante a batalha. A série Diagnóstico, disponível na Netflix, tratou dessa síndrome no episódio 3 da primeira temporada. Assista ao episódio proposto, pesquise na literatura científica e depois descreva as possíveis causas da síndrome da Guerra do Golfo, com especial atenção aos agentes químicos envolvidos. VAMOS PRATICAR? Um exemplo dessas manifestações recorrentes é a lesão hepática. Esta pode ser causada como consequência direta da ação de um agente tóxico (por exemplo, a necrose hepática causada pela sobredosagem de paracetamol) ou decorrente da sobrecarga hepática causada pelo caráter químico do toxicante (por exemplo, a hepatite e esteatose a longo prazo, causadas pela intoxicação crônica por pesticidas de difícil metabolização e eliminação). Outros órgãos afetados dessa mesma forma são os rins. Alguns toxicantes são diretamente nefrotóxicos, mas muitos exercem toxicidade renal indireta em função da sobrecarga sofrida pelo órgão de forma sustentada na tentativa de eliminar o agente. Algumas condições clínicas são inerentes a diferentes vias de exposição. Exemplos disso são o desenvolvimento de asma e outras doenças respiratórias decorrentes da exposição a poluentes do ar (fumaça, gases e vapores de solventes) ou a inflamação persistente do trato intestinal em função da ingestão crônica de baixas quantidades de agentes tóxicos (contaminantes de água, por exemplo, como metais pesados, solventes etc.). A neurotoxicidade é uma condição inerente à exposição a toxicantes lipossolúveis, os quais atravessam com facilidade a barreira hematoenfefálica (BHE) e afetam os tecidos cerebral e neuronal de forma geral. As manifestações clínicas da neurotoxicidade podem ser variadas, dependendo das vias de neurotransmissão que são preferencialmente afetadas por diferentes toxicantes. Algumas das mais comuns são citadas a seguir. Sínd rom e coli nér gica 1 Efeit os dop ami nér gico s e hist ami 2 A toxicidade reprodutiva é uma manifestação comumente associada a toxicantes mutagênicos ou que tendem a se acumular em tecidos altamente proliferativos. O dano genético aos gametócitos durante sua maturação e a disrupção desses mesmos mecanismos de maturação estão associados à geração de gametas geneticamente ou morfologicamente defeituosos. Alterações morfológicas dos gametas nos homens estão ligados à infertilidade. Alguns dos agentes químicos implicados em toxicidade reprodutiva (principalmente infertilidade masculina) são álcool, metais pesados como cádmio e chumbo (exposição ocupacional na metalurgia) e óxido de etileno (exposição a desinfetantes hospitalares e certas resinas). A toxicidade endócrina, assim como a reprodutiva, pode ser ocasionada por uma série de compostos agindo por mecanismos diversos. Ela está associada a distúrbios do equilíbrio de hormônios, em função da disrupção de receptores hormonais, lesão de tecidos secretores ou disrupção direta de processos de síntese, secreção, transporte ou degradação do hormônio. Os hormônios mais afetados por toxicantes comuns são os sexuais, tireoidianos e o cortisol. Alguns dos principais agentes químicos responsáveis pela disrupção endócrina são dioxinas (resíduo da produção de herbicidas), perclorato (resíduo industrial), ftalatos e bisfenol A (componentes do processamento de plásticos, presentes em algumas embalagens) (KLAASSEN; WATKINS III, 2012). A preocupação com a contaminação de alimentos por bisfenol A (BPA) nos últimos anos motivou mudanças legislativas, impondo restrições ao uso na produção de recipientes plásticos destinados ao transporte e armazenamento de alimentos, que devem, agora, ser livres da substância (BPA-free). O aquecimento de água ou alimentos em recipientes plásticos contendo BPA foi constatado como fator importante na veiculação do toxicante (VANDENBERG; HUNT; GORE, 2019). Até aqui, pudemos perceber que os diversos sistemas podem sofrer o impacto da intoxicação de formas diferentes, por meio de mecanismos distintos, os quais são modulados pelos aspectos relacionados à exposição e às características químicas do agente toxicante. Agora, antes de finalizarmos nosso material, vamos realizar uma última atividade prática! nér gico s As consequências da exposição a um toxicante podem ser vistas de maneira simples por bioensaios de toxicidade realizados com sementes. Podemos fazer isso em casa, utilizando uma variação do simples experimento de germinação do feijão em algodão. Para tanto, forre o fundo de dois copos plásticos com algodão hidrófilo e coloque um feijão em cada copo. Cubra as sementes parcialmente com o algodão. Marque um deles como "controle" e outro como "teste". Os dois copos devem ser mantidos em um local fresco, sem incidência direta de luz solar. O algodão do copo de controle deverá ser umedecido diariamente com água filtrada, enquanto o algodão do copo de teste deverá ser umedecido diariamente com uma solução de hipoclorito de sódio a 1,0%, preparada pela mistura de partes iguais de água sanitária comercial e água filtrada (por exemplo, 5 mL de água sanitária e 5 mL de água filtrada). Acompanhe o crescimento das plantas ao longo de 72 horas (três dias). Houve diferença no ritmo de crescimento e no tamanho final após esse período? A que podemos atribuir essa diferença na germinação em cada copo? VAMOS PRATICAR? Chegamos ao fim da primeira unidade da disciplina Análises Toxicológicas. Aqui, pudemos aprender quanto aos aspectos fundamentais da toxicologia, desde o seu histórico e desenvolvimento enquanto ciência até os principais aspectos bioquímicos das interações toxicante-alvo e a manifestação da intoxicação. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: CONCLUSÃO conhecer um breve histórico da toxicologia; compreender alguns dos eventos toxicológicos importantes ao longo da história; identificar as principais vias de exposição a toxicantes; analisar as principais maneiras pelas quais os toxicantes podem agir; conhecer as consequências principais dos danos celular e tecidual. Clique para baixar conteúdo deste tema. A HIPÓTESE do mecanismo de ação de botox. [S. l.], 17 jan. 2013. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Pixel Friends. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vNdU4hoiN_k (https://www.youtube.com/watch?v=vNdU4hoiN_k). Acesso em: 16 maio 2021. BRASIL. Lei n. 9782, de 26 de janeiro de 1999. Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e dá outras providências. Brasília: Congresso Nacional, 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9782.htm (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9782.htm). Acesso em: 16 maio 2021. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução n. 11, de 22 de março de 2011. Dispõe sobre o controle da substância talidomida e do medicamento que a contenha. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2011. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2011/res0011_21_03_2011.html (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2011/res0011_21_03 _2011.html). Acesso em: 14 maio 2021. CLARKE, J. F. et al. Dermal absorption of pesticide residues. Chemical Research in Toxicology, [s. l.], v. 31, n. 12, p. 1356-1363, dez. 2018. 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