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Todas as marcas ou nomes de empresa referidos neste manual servem única e exclusivamente propósitos pedagógicos e nunca devem ser considerados infracção à propriedade intelectual de qualquer dos proprietários. GOVERNO DA REPÚBLICA PORTUGUESA Ficha Técnica Título: Auditoria Financeira e Controlo Interno Autor: Paulo Correia Editor: Companhia Própria – Formação e Consultoria, Lda. Edifício World Trade Center, Avenida do Brasil, n.º 1 - 2.º, 1749 – 008 LISBOA Tel: 217 923 811; Fax: 217 923 812/ 3701 www.companhiapropria.pt info@companhiapropria.pt rdidacticos@companhiapropria.pt Entidades Promotoras e Apoios: Companhia Própria – Formação e Consultoria Lda e Programa Operacional Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS), co-financiado pelo Estado Português e pela União Europeia, através do Fundo Social Europeu. Ministério da Segurança Social e do Trabalho. Coordenador: Ana Pinheiro e Luís Ferreira Equipa Técnica: SBI Consulting – Consultoria de Gestão, SA Avenida 5 de Outubro, n.º 10 – 8.º andar, 1050 – 056, LISBOA Tel: 213 505 128; Fax: 213 143 492 www.sbi-consulting.com geral@ sbi-consulting.com Revisão, Projecto Gráfico, Design e Paginação: e-Ventos CDACE Pólo Tecnológico de Lisboa, Lote 1 – Edifício CID Estradado Paço do Lumiar, 1600 – 546 LISBOA Tel: 217 101 141; Fax: 217 101 103 info@e-Ventos.pt © Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda, 2004, 1.ª edição Manual subsidiado pelo Fundo Social Europeu e pelo Estado Português Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 2 Índice ÍNDICE 2 ENQUADRAMENTO 6 ÁREA PROFISSIONAL 6 CURSO / SAÍDA PROFISSIONAL 7 NÍVEL DE FORMAÇÃO / QUALIFICAÇÃO 7 COMPONENTE DE FORMAÇÃO 7 UNIDADES DE FORMAÇÃO E DURAÇÃO 8 CONTEÚDOS TEMÁTICOS 8 OBJECTIVOS GLOBAIS 10 CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÍDA PROFISSIONAL 11 OBJECTIVOS E CONTEÚDOS 11 1 O CONCEITO DE AUDITORIA 15 AUDITORIA 15 2 PRINCÍPIOS E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DE AUDITORIA 17 OBJECTIVOS E CONTEÚDOS DO CAPÍTULO 17 PRINCÍPIOS CONTABILÍSTICOS GERALMENTE ACEITES 17 EFICIÊNCIA DO CONTROLO 20 3 OBJECTIVOS, CONCEITOS E TÉCNICAS 22 O QUE SE ESPERA DO TRABALHO DOS AUDITORES 22 PROCEDIMENTOS GERAIS DE AUDITORIA 23 Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 3 O RISCO EM AUDITORIA 28 4 CONTROLO INTERNO 30 O CONCEITO DE CONTROLO INTERNO 30 OS PROCEDIMENTOS DO CONTROLO INTERNO 32 4.1 ÁREA DE CAIXA E DEPÓSITOS BANCÁRIOS 33 4.2 ÁREA DE VENDAS E OUTRAS OPERAÇÕES COM CLIENTES 36 4.3 ÁREA DE COMPRAS E OUTRAS OPERAÇÕES COM FORNECEDORES 39 4.4 ÁREA DE CUSTOS E OPERAÇÕES COM O PESSOAL 43 4.5 ÁREA DE EXISTÊNCIAS 47 4.6 ÁREA DE IMOBILIZAÇÕES INCORPÓREAS E CUSTOS DIFERENCIADOS 53 4.7 ÁREA DE MOBILIZAÇÕES CORPÓREAS 55 4.8 ÁREA DE INVESTIMENTOS FINANCEIROS 57 4.9 ÁREA DE EMPRÉSTIMOS OBTIDOS 59 LIMITAÇÕES DO CONTROLO INTERNO 60 5 METODOLOGIAS DE AVALIAÇÃO DO CONTROLO INTERNO 62 AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO RISCO DE CONTROL 62 COMPREENSÃO DOS SISTEMAS CONTABILÍSTICO E DE CONTROLO INTERNO 63 TESTES DE CONTROLO 66 RELATÓRIO COM SUGESTÕES 67 6 PAPÉIS DE TRABALHO 69 PAPÉIS DE TRABALHO 69 Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 4 6.1 DOSSIER PERMANENTE 71 6.2 DOSSIER CORRENTE 72 7 AUDITORIA ÀS ÁREAS OPERACIONAIS 74 ÁREA DE IMOBILIZAÇÕES INCORPÓREAS 74 ÁREA DE IMOBILIZAÇÕES CORPÓREAS 76 ÁREA DE INVESTIMENTOS FINANCEIROS 78 ÁREA DE EXISTÊNCIAS 80 ÁREA DE VENDAS E CONTAS A RECEBER 82 ÁREA DE DISPONIBILIDADES 84 ÁREA DE CAPITAL PRÓPRIO 85 ÁREA PROVISÕES E DIFERIMENTOS 86 ÁREA EMPRÉSTIMOS OBTIDOS 89 ÁREA DE COMPRAS E CONTAS A PAGAR 90 ÁREA DE IMPOSTOS 93 8 PREVENÇÃO E DETECÇÃO DE FRAUDES E ERROS 95 FRAUDE E ERRO 95 PROTECÇÃO CONTRA A FRAUDE 97 9 CONCEITO DE “VALUE FOR MONEY” 101 VALUE FOR MONEY 101 DETERMINAÇÃO DO VALUE FOR MONEY 102 OBTER UM BOM VALUE FOR MONEY 102 VANTAGENS DO VALUE FOR MONEY 103 Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 5 10 DA AUDITORIA FINANCEIRA À AUDITORIA DE GESTÃO 105 A NECESSIDADE DE INFORMAÇÃO FINANCEIRA CREDÍVEL 105 OUTROS TIPOS DE AUDITORIA 106 10.1 AUDITORIA INTERNA 106 10.2 AUDITORIA OPERACIONAL 107 10.3 AUDITORIA DE GESTÃO 108 11 ENUNCIADOS DOS EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 109 12 RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS 126 13 RESOLUÇÃO DOS EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 135 14 BIBLIOGRAFIA 174 Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 6 Enquadramento O presente manual tem como propósito primeiro o acompanhamento do curso de formação profissional em Auditoria Financeira e Controlo Interno. Por outro lado, permite a qualquer interessado nos conceitos e técnicas relacionados com a implementação e desenvolvimento de sistemas de auditoria nas empresas, um guia fiável e de acesso célere a um conjunto de metodologias a considerar na definição deste tipo de sistemas. Assim, pretende fornecer uma visão abrangente dos objectivos, dificuldades e valências inerentes à aplicação de uma ferramenta administrativa e financeira de primordial importância na gestão empresarial moderna. Em síntese, o manual de Auditoria Financeira e Controlo Interno permite uma introdução simples aos conceitos e técnicas fundamentais para o exercício da profissão de auditor. ÁREA PROFISSIONAL Este manual enquadra-se na área profissional de Organização e Gestão de Empresas, e visa familiarizar os alunos com os conceitos e técnicas de auditoria financeira e controlo interno, sensibilizando-os para a importância e o papel da auditoria nas organizações. Este manual foi especialmente concebido para todos os executivos, quadros dirigentes, empresários, gestores funcionais e técnicos, que desenvolvem a sua actividade nas diversas áreas funcionais da empresa(finanças e contabilidade, gestão global, aprovisionamentos, produção e logística, comercial e marketing, recursos humanos, investigação e desenvolvimento, informática, etc.) e de qualquer sector de actividade. É particularmente atraente para todos os profissionais que têm um forte relacionamento com a gestão e que são utilizadores da informação produzida pela contabilidade. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 7 CURSO / SAÍDA PROFISSIONAL O objectivo deste curso consiste em proporcionar aos participantes conhecimentos e ferramentas de auditoria financeira que lhes permita garantir a fiabilidade e a no futuro a prática de funções de auditoria e análise contabilística das organizações. Este curso destina-se essencialmente a profissionais especialistas nas áreas de Contabilidade e Finanças, que desenvolvem ou venham a desenvolver a sua actividade em áreas financeiras das empresas. O curso está orientado em conteúdos e metodologia especialmente para Gestores e Quadros de Pequenas e Médias Empresas bem como para Profissionais Liberais. No que respeita à empregabilidade, o formando do curso poderá desempenhar funções de auditoria externa em auditoras ou desenvolver a actividade em qualquer organização numa vertente de auditoria interna. Apesar de o curso incidir no domínio financeiro, poderá constituir um interessante complemento para outros tipos de auditoria (qualidade, recursos humanos, etc.). Todos os participantes poderão reunir competências no âmbito desta área e obter saídas profissionais a desempenhar funções de Auditor Contabilístico, Auditor Financeiro, Técnico de Auditoria. NÍVEL DE FORMAÇÃO / QUALIFICAÇÃO Poderão frequentar as acções de formação apoiadas neste manual, indivíduos com qualificações de nível IV e V, independentemente da área vocacional, cumprindo no entanto um conjunto de pré-requisitos em termos de conhecimentos de gestão de empresas. COMPONENTE DE FORMAÇÃO Através deste manual poderão ser leccionados cursos como: Auditoria Financeira e Controlo Financeiro Controlo Interno na Actividade Empresarial Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 8 A Formação a decorrer, tendo este manual como auxiliar, pretende criar competências ao nível da percepção do conjunto de instrumentos básicos para a preparação e elaboração de auditorias externas e internas em empresas e outros organismos. UNIDADES DE FORMAÇÃO E DURAÇÃO Fundamentos de Auditoria (1 hora) Controlo Interno e Metodologias de Avaliação (15 horas) Papéis de Trabalho (1 hora) Auditoria às Áreas Funcionais (25 horas) Prevenção e Detecção de Erros e Fraudes (1 hora) Value for Money (1 hora) Da Auditoria Financeira à Auditoria de Gestão (1 hora) CONTEÚDOS TEMÁTICOS Princípios e Conceitos Fundamentais de Auditoria: Princípios e Conceitos Fundamentais de Auditoria Eficiência do Controlo Objectivos, Conceitos e Técnicas: O que se espera dos Auditores Procedimentos Gerais de Auditoria O Risco em Auditoria Controlo Interno: O Conceito de Controlo Interno Os Procedimentos de Controlo Interno Limitações do Controlo Interno Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 9 Metodologias de Controlo Interno: Avaliação Preliminar do Risco de Controlo Compreensão dos Sistemas Contabilístico e de Controlo Interno Relatório com Sugestões Papéis de Trabalho: Papéis de Trabalho Auditoria às Áreas Operacionais Área de Imobilizações Incorpóreas Área de Imobilizações Corpóreas Área de Investimentos Financeiros Área de Existências Área de Vendas e Contas a Receber Área de Disponibilidades Área de Capital Próprio Área de Acréscimos e Diferimentos Área de Empréstimos Obtidos Área de Compras e Contas a Pagar Área de Impostos Prevenção e Detecção de Fraudes e Erros: Value for Money: O Conceito de Value for Money Determinação do Value for Money Obter um bom Value for Money Vantagens do Value for Money Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 10 Da Auditoria Financeira à Auditoria de Gestão: A Necessidade de Informação Financeira Credível Outros Tipos de Auditoria OBJECTIVOS GLOBAIS No final da formação, o formando deve estar apto a: Compreender a importância dos fundamentos e princípios de auditoria; Perceber a utilidade da auditoria na gestão das organizações; Dominar os conceitos e técnicas de auditoria; Compreender o risco de auditoria; Reconhecer o controlo interno como uma ferramenta de extrema importância na fiabilidade da informação financeira; Dominar os procedimentos do controlo interno no que respeita a cada área operacional da empresa; Reconhecer as dificuldades inerentes à implementação de um sistema de controlo interno; Avaliar o sistema de controlo interno de uma empresa; Perceber os objectivos, riscos e procedimentos de uma auditoria às áreas funcionais, e conceber os documentos demonstrativos do trabalho efectuado; Conhecer e aplicar as medidas de prevenção e detecção de práticas erróneas e fraudulentas no domínio do registo contabilístico; Assimilar o conceito de Value for Money na prática da auditoria e controlo interno; Apurar a importância da auditoria de gestão enquanto extensão da auditoria financeira e da auditoria operacional. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 11 CONTEXTUALIZAÇÃO DA SAÍDA PROFISSIONAL A natureza do trabalho do auditor financeiro consiste na análise das contas das empresas, de modo a averiguar a conformidade destas com os princípios e normas que regem a preparação e apresentação da informação contabilística e financeira. Para tal, o auditor procede à avaliação dos documentos e mapas financeiros, estabelecendo também contactos com os diversos elementos das organizações auditadas. As principais entidades empregadoras dos auditores são as empresas multinacionais de auditoria, bem como sociedades de revisores oficiais de contas, e outras empresas que desenvolvam trabalhos de auditoria interna. Os auditores, para além de conhecimentos na área financeira das empresas (Contabilidade, Auditoria e Fiscalidade), deverão dominar pelo menos uma língua estrangeira (inglês, preferencialmente) e informática na óptica do utilizador. OBJECTIVOS E CONTEÚDOS Conteúdos Objectivos Gerais 1. O Conceito de Auditoria 1.1. Auditoria − Conhecer a origem da Auditoria − Definir Auditoria 2. Princípios e Conceitos Fundamentais de Auditoria 2.1. Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites 2.2. Eficiência do Controle − Perceber a importância da normalização contabilística − Reconhecer as implicações dos PCGA nos registos contabilísticos − Inteirar-se do âmbito de actuação dos auditores 3. Objectivos, Conceitos e Técnicas 3.1. O que se espera do − Conhecer algumas das funções do auditor Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 12 Trabalho dos Auditores 3.2. Procedimentos Gerais de Auditoria 3.3. O Risco em Auditoria − Classificar os procedimentos comuns de auditoria − Perceber e interpretar os diversos tipos e origens de risco no trabalho de auditoria 4. Controlo Interno 4.1. O Conceito de Controlo Interno 4.2. Os Procedimentos de Controlo Interno 4.3. Limitações do Controlo Interno − Definir controlo interno − Conhecer os elementos a observar para a implementação de um sistema de controlo interno − Distinguir controlo interno Administrativo de controlo interno contabilístico − Compreender a utilidade dos procedimentos de controlo interno para as empresas − Conhecer os procedimentos os diferentes aspectos de cada área do património da empresa. − Identificar as principais limitações à implementação de um sistema de controlo interno 5.Metodologias de Avaliação do Controlo Interno 5.1. Avaliação Preliminar do Risco de Controlo 5.2. Compreender os Sistemas Contabilístico e de Controlo Interno 5.3. Testes de Controlo 5.4. Relatórios com − Dominar o conceito de risco de controlo − Identificar e compreender as formas de verificação dos sistemas contabilístico e de controlo interno − Perceber a relevância dos testes de controlo − Compreender os aspectos a Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 13 Sugestões mencionar nos relatórios com sugestões 6. Papéis de Trabalho 6.1. Papéis de Trabalho − Compreender a importância da concepção e utilização de documentos de trabalho em auditoria − Distinguir dossier permanente de dossier corrente 7. Auditoria às Áreas Operacionais 7.1. Área de Imobilizações Incorpóreas 7.2. Área de Imobilizações Corpóreas 7.3. Área de Investimentos Financeiros 7.4. Área de Existências 7.5. Área de Vendas e Contas a Receber 7.6. Área de Disponibilidades 7.7. Área de Capital Próprio 7.8. Área de Provisões e Diferimentos 7.9. Área de Empréstimos Obtidos 7.10. Área de Compras e Contas a Pagar 7.11. Área de Impostos − Compreender os objectivos de auditoria para cada área operacional − Identificar os riscos e problemas potenciais inerentes a cada área − Conhecer os procedimentos a efectuar para cada área 8. Prevenção e Detecção de Fraudes e Erros 8.1. Fraude e Erro − Distinguir fraude de erro − Identificar os tipos de fraude comuns passíveis de ocorrência Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 14 8.2. Protecção contra a Fraude nas demonstrações financeiras − Conhecer os meios e mecanismos de prevenção da ocorrência da fraude 9. Conceito de “Value For Money” 9.1. “Value for Money” 9.2. Determinação do Value for Money 9.3. A Obtenção de um bom Value for Money 9.4. Vantagens do Value for Money − Definir o conceito value for money − O value for money e os 3 E − Conhecer os instrumentos para determinar o value for money − Compreender as políticas para um value for money elevado − Enumerar as vantagens do value for money 10. Da Auditoria Financeira à Auditoria de Gestão 10.1. A Necessidade de Informação Financeira Credível 10.2. Outros Tipos de Auditoria − Compreender a importância da credibilidade da informação financeira produzida − Perceber a relevância da independência do auditor − Distinguir auditoria interna, auditoria operacional e auditoria de gestão Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 15 1 O Conceito de Auditoria OBJECTIVOS E CONTEÚDOS DO CAPÍTULO O presente capítulo reveste um cariz introdutório pretendendo a compreensão pelo formando da génese e relevância do significado do conceito de auditoria e a sua implicação na gestão. AUDITORIA Etimologicamente a palavra “auditoria” tem a sua origem no verbo latino “audire”, que significa “ouvir”, e que conduziu à criação da palavra “auditor” (do latim “auditore”) como sendo aquele que ouve. Isto pelo facto de nos primórdios da auditoria os auditores tirarem as suas conclusões fundamentalmente com base nas informações verbais que lhes eram transmitidas. Actualmente atribui-se à auditoria um conjunto mais alargado de importantes funções, abrangendo todo o organismo da empresa e dos seus órgãos de gestão, com a finalidade de efectuar críticas e emitir opiniões sobre as situações patrimoniais e sobre os resultados de ambos. Mas afinal, o que é a auditoria? Veja-se a este respeito algumas definições clássicas do termo: “A auditoria é o exame de demonstrações e registos administrativos em que o auditor observa a exactidão, integridade e autenticidade de tais demonstrações, registos e documentos”. Holmes “A auditoria é o exame dos livros contabilísticos, comprovativos e demais registos de um organismo (...) com o objectivo de averiguar a correcção Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 16 ou incorrecção dos registos e expressar opinião sobre os documentos analisados, comummente em forma de certificação”. Arthur Hanson Em Portugal, Joaquim Raúl e Jorge Seoane definem auditoria como a “revisão sistemática dos registos contabilísticos de uma empresa ou organismo económico de qualquer tipo, envolvendo: A verificação da exactidão das operações; O exame dos comprovativos para estabelecer a sua autenticidade e devida autorização; A exactidão do diário e da classificação de contas; A manutenção de princípios sãos e científicos.” Concluindo, auditoria é um exame das contas, relatórios, projectos, obras, ou qualquer outra situação auditável, bem como de toda a documentação de suporte; realizado em conformidade com determinadas normas, métodos, procedimentos e princípios geralmente reconhecidos e aceites; por um profissional qualificado e independente, com qualificação técnica e profissional, independência física, hierárquica e mental; com o objectivo de expressar a sua opinião sobre a correcção, a clareza e a suficiência das situações e documentos objecto de análise. BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA ALMEIDA, MARCELO CAVALCANTI, Auditoria Contábil: teoria e prática, Atlas, Lisboa, 1996. ARENS, ALVIN A., LOEBBECKE, JAMES K., Auditing, 7ª Edição, Prentice Hall, New Jersey, 1997 COSTA, CARLOS BAPTISTA DA, Auditoria Financeira: teoria e prática, Rei dos Livros, Lisboa, 2000. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 17 2 Princípios e Conceitos Fundamentais de Auditoria Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites OBJECTIVOS E CONTEÚDOS DO CAPÍTULO Este capítulo procura a sensibilização do formando para a questão da normalização contabilística e da actuação do auditor, incidindo na abordagem dos princípios contabilísticos geralmente aceites. No âmbito da actuação do auditor, é introduzida a noção de eficiência do controlo no desenvolvimento da sua actividade. PRINCÍPIOS CONTABILÍSTICOS GERALMENTE ACEITES Sendo o objectivo primordial de uma auditoria a verificação da fiabilidade e relevância da informação patrimonial constante nas demonstrações financeiras, e que seja normalizada com as demais empresas, estão definidas regras basilares que permitem a obtenção de uma imagem verdadeira e apropriada da situação financeira da empresa - os Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites. Os Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites são um conjunto de normas que balizam a preparação das demonstrações financeiras por parte dos contabilistas. Constituem portanto, um elenco de elementos disciplinadores do registo e mensuração dos factos contabilísticos, bem como um conjunto de regras respeitantes à forma de apresentação das demonstrações financeiras. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 18 Um dos aspectos mais importantes na implementação dos Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites na actividade contabilística reside na harmonização da informação financeira produzida pelas empresas. Esta harmonização permite uma uniformização dos critérios a adoptar a elaboração das demonstrações financeiras, e por conseguinte, uma comparação estatística entre as diversas empresas do mesmo sector, região, dimensão, forma jurídica, etc. A harmonização contabilística é uma preocupação de todos os organismos tutelares de mecanismos e métodos de controlo e fiscalização da actividade económica. A nível internacional podem ser nomeados: Comissão Europeia (4ª e 7ª Directivas) IASC – International Accounting Standards Comitte OCDE – Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico União Europeia de Peritos Contabilísticos PRINCÍPIOS CONTABILÍSTICOS GERALMENTE ACEITES 1. Da continuidade A empresa é uma entidade que desenvolve a sua actividadede modo contínuo, tendo uma duração ilimitada. Não tem como objectivos a respectiva liquidação ou a redução significativa do volume das suas operações. 2. Da consistência As políticas contabilísticas de uma empresa perpetuam-se de um exercício para o outro. Se houver alguma alteração materialmente relevante, terá de ser referida de acordo com o anexo (nota 1). 3. Da especialização (ou do acréscimo) Reconhecimento dos proveitos e os custos quando obtidos ou incorridos, independentemente do seu recebimento ou pagamento. Devem ser incluídos nas demonstrações financeiras dos períodos a que respeitam. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 19 4. Do custo histórico Os registos contabilísticos devem basear-se em custos de aquisição ou de produção, em valores nominais ou constantes. 5. Da prudência Possibilidade de integração nas contas um grau de precaução mediante a realização de estimativas exigidas em condições de incerteza sem, no entanto, permitir a criação de reservas ocultas ou provisões excessivas ou a deliberada quantificação de activos e proveitos por defeito ou de passivos e custos por excesso. 6. Da substância sobre a forma Contabilização das operações de acordo com a substância e a realidade financeira, não as subjugando à sua forma legal. 7. Da materialidade As demonstrações financeiras devem evidenciar todos os elementos que sejam relevantes e que possam afectar avaliações ou decisões pelos utentes interessados. 8. Da não compensação Separação dos elementos das rubricas do activo e do passivo (balanço), dos custos e perdas e de proveitos e ganhos (demonstração de resultados), não havendo lugar a encontro de saldos. 9. Da correspondência de Balanços Sucessivos O balanço de abertura de exercício tem de apresentar os mesmos saldos que o balanço de encerramento do exercício anterior. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 20 10. Da Recuperação do Custo das Existências As existências finais não devem apresentar-se no Balanço por um valor que não possa ser recuperado com a sua alienação. (Deriva do Princípio da Prudência) EFICIÊNCIA DO CONTROLO O auditor, no desempenho da sua actividade, deve garantir o cumprimento dos Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites. Para tal, deverá estabelecer mecanismos de actuação em diversos aspectos: Organização Procedimentos Normativos Registos e Relatórios Auditoria Interna ... A eficiência do Controlo deriva da qualidade dos meios humanos, materiais e metodológicos empregues na actividade de auditoria, bem como da eficiente aplicação das normas técnicas da contabilidade. O trabalho de auditoria, enquanto actividade a desenvolver em colaboração e cooperação (pessoal e institucional), implica uma correcta aplicação de processos organizacionais e de relações humanas, por forma a garantir melhores resultados. EXERCÍCIO 2.1 “O auditor, no desempenho da sua actividade, deve garantir o cumprimento dos Princípios Contabilísticos Geralmente Aceites”. Comente a afirmação. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 21 EXERCÍCIO 2.2 Um imóvel arrendado encontra-se contabilizado na conta de investimentos financeiros. Identifique o princípio contabilístico subjacente a este registo. EXERCÍCIO 2.3 Um cliente encontra-se em processo de falência. A empresa constituiu uma provisão para clientes de cobrança duvidosa. Identifique o princípio contabilístico subjacente a este registo. BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA Plano Oficial de Contabilidade Borges, António et al; Elementos de Contabilidade Geral; Lisboa; 2002 Costa, Carlos Baptista da; Auditoria Financeira: teoria e prática; Lisboa; 2000 LINKS DE INTERESSE www.cnc.min-financas.pt www.ifac.org www.iasb.org.uk Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 22 3 Objectivos, Conceitos e Técnicas OBJECTIVOS E CONTEÚDOS DO CAPÍTULO Este capítulo tem o propósito de familiarizar os participantes com alguns conceitos, termos e técnicas comuns nos trabalhos de auditoria, que serão referidos amiúde ao longo dos capítulos seguintes. Para permitir uma rápida consulta e fácil memorização, optou-se por uma apresentação sob a forma de tópicos. O QUE SE ESPERA DO TRABALHO DOS AUDITORES Emissão de parecer sobre as contas, como garante da qualidade da informação financeira; Estudo e avaliação dos principais sistemas contabilísticos e de controlo em utilização na empresa auditada; Identificação dos pontos fracos e proposta de medidas de correcção adequadas; Assistência fiscal, de forma a garantir a prevenção de incumprimentos e o planeamento de medidas adequadas em termos de gestão da política fiscal da empresa; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 23 Assistência à gestão, permitindo um acompanhamento sistemático dos resultados periódicos e mecanismos de alerta atempados sobre a evolução dos negócios; Apoio a decisões de carácter estratégico a adoptar pela gestão (aquisições, fusões, vendas, etc); Apoio a medidas de reorganização interna que a gestão pretenda adoptar; Exercício de uma função dissuasora e pedagógica sobre os elementos da organização. PROCEDIMENTOS GERAIS DE AUDITORIA Consistem em métodos e técnicas utilizados pelo auditor para a realização do seu trabalho: Entrevistas Quem entrevistar? Qual a pessoa que detém a informação pretendida? O que se deseja saber? – esboço prévio dos aspectos essenciais a esclarecer; Qual o melhor local para realizar a entrevista? – sugerir o local em função da localização da informação, do ambiente envolvente e de outras condicionantes; Quando realizar a entrevista? – marcação com antecedência, indicação dos assuntos, previsão da duração; Captar a confiança do entrevistado – analisar a atitude do entrevistado (expectativa, receio, confiança, medo, hostilidade), “descongelar” atitudes negativas, fomentar atitudes de colaboração; Procurar que a entrevista não seja demasiado longa, dado que com o decurso do tempo, o auditor tende a dispersar a sua atenção e capacidade de percepção da infomação, ao passo que o entrevistado pode aborrecer-se e fechar-se, limitando a informação que pode dar; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 24 Carácter objectivo e predominantemente técnico: Após a fase inicial, os assuntos têm de assumir um carácter técnico; Entrevistador não pode emitir opiniões de carácter pessoal; Nem opiniões valorativas sobre outros elementos da organização auditada. Observação Consiste na capacidade do auditor estar atento a tudo o que o rodeia na empresa, com o objectivo de avaliar como são aplicadas na prática as funções atribuídas a cada pessoa e, em geral, como são cumpridos os normativos em vigor. Deve-se ter em atenção alguns aspectos: Seguir as diversas fases e circuitos de um documento ou de uma operação; Apreciar os procedimentos de controlo adoptados; Verificar as regras de segurança; Verificar a carga de trabalho dos empregados; Apreciar a forma de organização da documentação; Observar o nível de arrumação das instalações; Estar atento ao modo como se fazem as conferências. O sucesso deste procedimento depende essencialmente da experiência detida pelo auditor. Embora seja um procedimento que não permite tirar conclusões definitivas, constitui um bom instrumento para a formação da opinião do auditor, sendo portanto, de extrema importância para a eficiência do trabalho de auditoria. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 25 Inspecção Consiste na verificação de bens ou documentos, no âmbito do trabalho de auditoria. Os diversos tipos de inspecções agrupam-se sob dois conjuntos principais:Inspecção física: Identificar os bens; Verificar a sua propriedade; Verificar a conformidade dos bens com os registos contabilísticos e documentais de suporte; Verificar o seu estado de uso e de depreciação; Apreciar a valorização que lhes está atribuída; Avaliar a sua utilidade e potencial de utilização face à actividade da empresa. Inspecção documental: Verificar a autenticidade do documento; Confirmar a regularidade processual, incluindo os antecedentes e os factos subsequentes; Verificar a existência de todos os elementos essenciais exigidos ao documento; Confirmar a adequação do registo contabilístico; Avaliar a suficiência da documentação face às operações e movimentos que lhe estão associados; Analisar o significado da operação face à actividade da empresa; Apreciar a razoabilidade dos valores envolvidos. Confronto Consiste na comparação de toda e qualquer informação, dados ou registos, desejavelmente com origem em fontes diferenciadas, com o objectivo de analisar a sua razoabilidade. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 26 A comparação pode ser feita em valores relativos, valores absolutos, relativamente a informações ou a factos. Quando se comparam valores, este procedimento permite indiciar evoluções anómalas ou que carecem de justificação adicional, identificando-se, assim, procedimentos subsequentes a efectuar. Exemplos: Valores reais Vs valores orçamentados; Valores do ano N Vs valores do ano N-1; Valores da empresa Vs valores médios do sector; Valores agregados Vs valores analíticos. Quando se confrontam relatos diferentes do mesmo facto ou informações discordantes, pode estar em causa o conhecimento ou entendimento da situação, ou pode-se estar perante uma tentativa de iludir o auditor. Exemplos: Afirmação diferente do responsável comercial e do responsável financeiro quanto ao prazo de recebimentos praticado; Discordância entre o relato dos factos e o suporte documental que lhes está subjacente. Análise Consiste na decomposição de movimentos, saldos e outros registos contabilísticos, partindo dos elementos mais agregados para as informações mais detalhadas. É fundamental que o auditor tenha em atenção: A identificação prévia dos objectivos; Evitar análises detalhadas sem perspectivas de resultados relevantes face aos objectivos definidos; Espírito crítico face a caminhos errados; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 27 Uma análise sistemática do “value for money” (relação custo/benefício) do trabalho realizado; A possibilidade de surgirem outros elementos ou informações que possam ser relevantes para outras áreas da auditoria; A importância de não se confiar no assunto que se está a analisar. Confirmação É o processo de obtenção de elementos de prova na empresa ou directamente de terceiros, como forma de validar determinado saldo, facto ou informação. Confirmação interna: Documentação emitida pela empresa. Exemplo: nota de encomenda para um fornecedor; Documentação enviada por terceiros à empresa. Exemplo: factura de um fornecedor. Confirmação externa: Circularizações, obtidas através de cartas ou circulares. Exemplo: resposta de um fornecedor a um pedido de confirmação dos valores em dívida; Certidões obtidas através de requerimento. Exemplo: confirmação da propriedade de um imóvel obtido junto da conservatória do registo predial. A obtenção de evidência através de confirmação externa constitui, normalmente, um meio de prova merecedor de um grau de credibilidade superior ao da confirmação interna. Conferência Consiste em verificar a exactidão e correcção dos saldos e das operações. Deve-se ter em atenção que: Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 28 A existência de prova de conferência efectuada pela empresa não constitui prova da exactidão das operações ou dos saldos; A exactidão da soma não garante a veracidade do conteúdo das parcelas; A fita de máquina do cliente junto de um conjunto de documentos não constitui prova credível para o auditor quanto à sua veracidade e exactidão; A existência de procedimentos informatizados não garante a veracidade do processamento; A correcção de um processamento não constitui qualquer garante quanto à fiabilidade dos inputs; É necessário apreciar os elementos e documentação de suporte. O RISCO EM AUDITORIA Risco profissional A credibilidade e a competência são características fundamentais do auditor. Qualquer erro evidenciado no relatório de auditoria potencia uma imagem negativa em relação ao trabalho desenvolvido e ao próprio auditor. Risco de serviço ao cliente O cliente cria expectativas muito fortes quanto à qualidade e rigor do trabalho desenvolvido. Existe uma carga de compromisso muito forte por parte do auditor em relação ao cliente. Risco de auditoria Possibilidade de ocorrência de erros ou irregularidades significativas ao nível das demonstrações financeiras, ou de qualquer outra situação objecto de auditoria, que não sejam detectadas no decurso do trabalho desenvolvido. Engloba três níveis de risco: Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 29 Risco inerente – consiste na susceptibilidade de as demonstrações financeiras conterem erros ou irregularidades significativas, assumindo que não existe estrutura, políticas e procedimentos de controlo interno instituídos; Risco de controlo – consiste na possibilidade de os sistemas e procedimentos de controlo interno falharem na prevenção ou detecção, em tempo útil, de erros ou irregularidades significativos; Risco de detecção – consiste na eventualidade de os procedimentos de auditoria falharem na identificação de eventuais erros ou irregularidades relevantes patentes nas demonstrações financeiras EXERCÍCIO 3.1 Enuncie quatro dos resultados esperados do trabalho dos auditores. EXERCÍCIO 3.2 Estabeleça uma relação entre os diversos tipos de risco de auditoria. BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA Costa, Carlos Baptista da; Auditoria Financeira: teoria e prática; Lisboa; 2000 IFAC, Handbook of International Auditing, Assurance, and Ethics Pronouncements, 2003 LINKS DE INTERESSE www.ifac.org/Guidance/ www.oroc.pt Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 30 4 Controlo Interno OBJECTIVOS E CONTEÚDOS DO CAPÍTULO O presente capítulo apresenta o conceito de controlo interno, seus procedimentos e limitações, procurando conferir ao formando as competências necessárias para o desenvolvimento e implementação de um sistema de controlo interno eficiente e útil para as organizações. O CONCEITO DE CONTROLO INTERNO O sistema de controlo interno é essencial para o exercício da actividade operacional de qualquer empresa, por mais pequena que seja. Por este motivo, a implementação de um adequado sistema de controlo interno constitui uma responsabilidade dos órgãos de gestão das empresas. Ao estabelecer um sistema de controlo interno, há que ter em linha de conta a definição de autoridade e delegação de poder, a segregação, separação e/ou divisão de funções, o controlo das operações, a numeração dos documentos e a adopção de provas e conferências independentes. Dentro de uma empresa a definição de autoridade e delegação de poder visa definir claramente as funções e as relações hierárquicas de todo o pessoal. Nas grandes empresas e nalgumas médias empresas, tal definição é esquematizada num organograma e estabelecida num manual de descrição de funções, numa manual de políticas e procedimentos contabilísticos e num manual de medidas de controlo interno; nas pequenas empresas, pelo contrário, deve ser bastante variável e flexível. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda31 A separação de funções refere-se à conveniência de a função contabilística estar separada da função operacional, de modo a que não seja possível a uma mesma pessoa ter a seu cargo simultaneamente o controlo físico de um activo e os registos que lhe são adstritos. Aplica-se não só a pessoas de secções diferentes mas também a pessoas da mesma secção e refere-se também à conveniência de ninguém ser responsável por uma operação desde o seu início até ao seu termo. Uma forma de atingir este objectivo é promover uma rotação periódica dos empregados de cada secção entre si. Por controlo de operações entende-se essencialmente a sequência com que decorrem, isto é, o ciclo autorização – aprovação – execução – registo – custódia, de acordo com os critérios estabelecidos. A numeração dos documentos (facturas, recibos, ordens de compra, guias de entrada em armazém, listas ou talões de contagem, entre outros) deve ser sequencial, pois que tal constitui um factor de controlo bastante importante, dado que possibilita detectar quaisquer utilizações inapropriadas dos mesmos. Além disso deve existir um controlo numérico de todos os documentos recebidos da tipografia de modo a que a sua entrada ao serviço ocorra de forma sequencial. A adopção de provas e conferências independentes visa, por um lado actuar sobre o sistema implementado e, por outro, sobre o trabalho que cada pessoa executa, de modo a obter-se o menor número de erros possível. De uma forma sintética poder-se-á dizer que um sistema de controlo interno consiste, fundamentalmente, num plano de organização destinado a cumprir, entre outros, com os seguintes objectivos: Obter informação financeira atempada e fidedigna; Proporcionar uma garantia razoável de que as transacções são autorizadas e executadas de acordo com a delegação de competências e segregação de funções existente dentro da organização; Proporcionar o cumprimento de normas internamente estabelecidas e das diversas disposições legais; Permitir a realização dos objectivos previamente definidos, utilizando da forma mais eficiente os recursos disponíveis; Proporcionar a salvaguarda dos activos da empresa; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 32 Prevenir e detectar eventuais erros e fraudes; Permitir a responsabilização dos diversos intervenientes no processo de organização e gestão da empresa. O American Institute of Certified Public Accountants (AICPA), caracteriza o controlo interno em dois grandes tipos de controlo: Controlo Interno Administrativo, que contém o plano de organização e os procedimentos e registos que se relacionam com os processos de decisão. É sobretudo um controlo sobre a eficiência e eficácia das áreas operacionais, tendo apenas uma influência indirecta nas demonstrações financeiras. Pelo contrário, o Controlo Interno Contabilístico tem grande influência nas demonstrações financeiras, podendo afectar significativamente os registos contabilísticos (e consequentemente as demonstações financeiras finais), razão pela qual deve merecer uma atenção muito especial quer por parte do auditor interno, quer, sobretudo, por parte do auditor externo. Especificamente, compreende o plano da organização e os registos e procedimentos que se relacionam com a salvaguarda dos activos e com a confiança que inspiram os registos contabilísticos. Os sistemas de controlo interno divergem, naturalmente, de empresa para empresa e muito significativamente entre uma grande e uma pequena empresa. Empresas há em que a dimensão não permite uma adequada segregação de funções, nem a relação custo benefício justifica a implementação dos sistemas considerados adequados. OS PROCEDIMENTOS DO CONTROLO INTERNO Estes procedimentos são susceptíveis de serem aplicados em qualquer organização, e visam assegurar que: Todas as transacções que devam ser registadas, o são de facto; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 33 Eventuais transacções fictícias ou duplicadas não são incluídas nos registos; Os valores monetários atribuídos às transacções registadas são correctos; As transacções são reflectidas nos registos do período contabilístico adequado; As transacções são adeqadamente classificadas do ponto de vista contabilístico; Todos os débitos e créditos nos registos financeiros são adequadamente acumulados; Seguidamente serão apresentados os procedimentos de controlo interno genéricos relacionados com cada uma das áreas do património da empresa (estruturadas com base nas contas do Plano Oficial de Contabilidade – P.O.C.). 4.1 Área de caixa e depósitos bancários PPPaaagggaaammmeeennntttooosss eeemmm dddiiinnnhhheeeiiirrrooo Os pagamentos normais a terceiros devem ser realizados através dos bancos (por cheque, transferência bancária ou ordem permanente de pagamento); apenas pequenos pagamentos poderão ser efectuados em dinheiro, nomeadamente selos, transportes públicos, táxis, entre outros. Para tal deve constituir-se um fundo fixo de caixa, o qual deverá ser reposto periodicamente (por exemplo, no final de cada semana ou quando o numerário em caixa atinja um limite que se considere mínimo), e sempre no último dia de cada mês. Para cada pagamento, o responsável pelo fundo deve constatar a autenticidade do documento de suporte e verificar se o mesmo foi devidamente aprovado, procedendo ao seu registo na folha de caixa. No momento da reposição do fundo, deve emitir-se um cheque nominativo, à ordem do responsável do fundo, pelo valor correspondente aos documentos entretanto pagos. Será então nesse momento que esses documentos serão contabilizados nas respectivas contas de custos. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 34 PPPaaagggaaammmeeennntttooosss pppooorrr ccchhheeeqqquuueee A emissão de cheques deve estar a cargo de um responsável, o qual deve manter um arquivo (cópia) de cada cheque emitido. Todos os cheques deverão ser emitidos nominativamente e cruzados. Cada cheque deverá ser assinado normalmente por duas pessoas, apenas na presença dos respectivos documentos de suporte, previamente conferidos e aprovados. Esses documentos de suporte devem ser carimbados com a menção “PAGO”, a fim de evitar que possam ser apresentados para emissão de novo cheque. PPPaaagggaaammmeeennntttooosss pppooorrr tttrrraaannnsssfffeeerrrêêênnnccciiiaaa bbbaaannncccááárrriiiaaa Este sistema apresenta as seguintes vantagens principais: A ordem transferência pode ser feita de forma padronizada (carta pré-impressa); As pessoas que assinam a ordem de transferência só têm de o fazer uma vez; O lançamento a crédito da conta de depósitos à ordem é feito pelo total da transferência, facilitando o processo de reconciliações bancárias. RRReeeccceeebbbiiimmmeeennntttooosss Todas as importâncias recebidas pela empresa devem ser diária e integralmente depositadas nos bancos. Relativamente a valores recebidos pelo correio, a correspondência deverá ser aberta por empregado que não tenha quaisquer funções nas secções de contabilidade e tesouraria. Além do registo no livro da correspondência recebida, deve ser emitida diariamente uma listagem de valores recebidos, indicando: Nome do cliente, data e referência da carta; Número de cheque, banco sacado e respectivo valor; ou Número do vale de correio e respectivo valor. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 35 No caso de cheques, devem os mesmos ser imediatamente cruzados (ou a pôr-lhes um carimbo de “Válido só para depósito” ou “Para levar em conta”. A listagem de valores recebidos deverá ser emitida em três vias: Original, para a tesouraria; Duplicado, que acompanha o original e que se destina a ser devolvido à pessoa responsável pela abertura do correio, devidamente rubricada depois de terem sido conferidosos valores enviados; Triplicado, para o responsável financeiro, a fim de o mesmo poder verificar posteriormente se os valores foram integralmente depositados no mesmo dia. Após a conferência dos valores, deverá preencher-se os respectivos talões de depósito, cuja autenticidade deve ser posteriormente verificada. O registo nas contas de razão (depósito à ordem e clientes) poderá ser efectuado com base no duplicado do talão de depósito. EEElllaaabbbooorrraaaçççãããooo dddeee RRReeecccooonnnccciiillliiiaaaçççõõõeeesss BBBaaannncccááárrriiiaaasss Deverá proceder-se mensalmente, por responsável que não pertença à secção de tesouraria e que não tenha acesso às contas-correntes (em termos de registo contabilístico), à reconciliação de todas as contas de depósitos à ordem. Estas reconciliações devem ser visadas pelo responsável pela contabilidade e/ou responsável financeiro. Os itens de reconciliação que apareçam dois meses consecutivos na reconciliação deverão ser adequadamente investigados. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 36 4.2 Área de vendas e outras operações com clientes Para a generalidade das empresas, as vendas a crédito constituem a grande maioria dos proveitos gerados no decurso da sua actividade operacional. Como consequência desse facto, as dívidas a receber de clientes representam frequentemente uma parcela significativa do activo circulante e até mesmo do activo total de muitas empresas. AAA AAAppprrrooovvvaaaçççãããooo dddaaa VVVeeennndddaaa De um modo geral, uma venda tem origem num documento enviado pelo cliente (nota de encomenda ou ordem de compra). No caso de encomendas pelo telefone, é aconselhável que o comprador confirme posteriormente por escrito o pedido. A aprovação da venda pode implicar os seguintes aspectos: Constatação da existência em armazém do artigo e das quantidades encomendadas; Confirmação da possibilidade de produção do artigo com as características solicitadas pelo cliente; Concessão de crédito. Relativamente a esta última questão, tratando-se de cliente habitual, deverá existir uma indicação devidamente aprovada do limite máximo de crédito a conceder ao cliente. Nesse caso a secção de crédito consulta a ficha do cliente e verifica se as suas responsabilidades totais (conta corrente e letras, incluindo as já descontadas mas ainda não vencidas) se enquadram dentro dos limites de crédito. Será também apropriado consultar o balancete de antiguidade de saldos, para concluir se o cliente tem vindo a pagar dentro dos prazos normais que lhe são concedidos. No caso de clientes novos, a encomenda só deverá ser aprovada depois de se obterem informações comerciais do cliente em causa (obtidas junto de bancos ou de empresas especializadas). Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 37 A nota de encomenda / ordem de compra deve evidenciar as aprovações de venda referidas em epígrafe. DDDooocccuuummmeeennntttooosss rrreeelllaaaccciiiooonnnaaadddooosss cccooommm aaa vvveeennndddaaa Após a aprovação da venda, devem ser emitidos pela secção de facturação, de preferência simultaneamente, os seguintes documentos: Ordem de expedição – original para o armazém e duplicado para arquivo na facturação; Guia de remessa – original para o cliente, acompanhando as mercadorias (deverá ter um talão destacável, no qual conste uma declaração a ser assinada pelo cliente, comprovando a recepção das mercadorias); duplicado acompanhando também as mercadorias (para as entidades a quem compete a fiscalização do transporte de mercadorias); triplicado para arquivo da facturação e quadruplicado para a contabilidade; Factura – original para o cliente e enviado por correio; duplicado para a secção de contabilidade, a fim de serem efectuados os registos nas contas correntes; triplicado arquivado na secção de cobranças por data de vencimento e por ordem alfabética de clientes, para controlo da respectiva cobrança (no caso de ser emitido recibo em simultâneo, esta via torna-se dispensável) e quadruplicado para arquivo na facturação. O artigo 35º do Código do IVA determina que as facturas devem ser emitidas o mais tardar no 5º dia útil após o momento em que o imposto (IVA) é devido, e que as mesmas devem ser datadas, numeradas sequencialmente e conter os seguintes elementos: Os nomes, firmas ou denominações sociais e a sede ou domicílio do vendedor e do adquirente, bem como os correspondentes números de identificação fiscal A quantidade e denominação usual dos bens transmitidos ou dos serviços prestados, com especificação dos elementos necessários à determinação da taxa aplicável; O preço, líquido de imposto, e os outros elementos incluídos no valor tributável; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 38 As taxas aplicáveis e o montante de imposto devido; O motivo justificativo da não aplicação de imposto, se for caso disso. Recibo – existem dois procedimentos geralmente adoptados: Emitir o recibo juntamente com a factura, ficando o mesmo à guarda da secção de cobranças;e Emitir o recibo só depois de efectuado o pagamento pelo cliente. A segunda opção é preferível em muitas circunstâncias, principalmente quando o cliente efectua pagamentos por conta, paga de urna só vez diversas facturas, por vezes deduzidas de notas de crédito, ou solicita a titulação das dívidas. O recibo deve ser emitido pelo menos em triplicado, sendo: Original, para o cliente; Duplicado, para anexar ao talão de depósito bancário; Triplicado, para arquivo da tesouraria, por ordem numérica. Actualmente, assiste-se a uma tendência para abandonar a emissão de recibos, sendo normalmente invocada a não obrigatoriedade fiscal. As exigências fiscais não podem, obviamente, deixar de ser tomadas em consideração na definição de um sistema de controlo interno, mas a inexistência de tal obrigação não deve servir para justificar a não adopção dos procedimentos que se considerem necessários a tal controlo. OOO cccooonnntttrrrooolllooo dddaaasss cccooonnntttaaasss eee tttííítttuuulllooosss aaa rrreeeccceeebbbeeerrr O controlo das contas e títulos a receber é feito geralmente através de fichas individuais por cliente, de acordo com as respectivas contas (corrente, títulos a receber). No final de cada mês há que elaborar balancetes de todas as contas subsidiárias das contas de clientes e outros devedores. O somatório dos balancetes das contas subsidiárias deve coincidir com o saldo da conta principal, devendo as eventuais divergências ser investigadas e prontamente regularizadas. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 39 Periodicamente, devem ser enviados aos clientes pedidos de confirmação de saldos, incluindo a respectiva decomposição. Este trabalho deve ser feito por alguém que não exerça funções relacionadas com cobranças, tesouraria e contas correntes. Deve preparar-se mensalmente um balancete de clientes por antiguidade de saldos, de forma a detectar os clientes que se vão atrasando no pagamento (secção de cobranças), para planear o fluxo de recebimentos a curto prazo (tesouraria) e para análise e cálculo das provisões para cobranças duvidosas (contabilidade). A emissão de notas de crédito sujeita-se a ser sempre autorizada por empregado com responsabilidade para tal. Qualquer nota de crédito deve ser euportada com o documento que a justifique (p.e., guia de devolução ou reentrada em armazém, com indicação do estado das mercadorias) ou proposta fundamentada para a sua emissão. Todos aqueles documentos devem ser processados em impressos numerados, seguida e tipograficamente ou através de mecanismos de saída do computador, com uma ou mais séries, convenientemente referenciadas. 4.3 Área de compras e outras operações com fornecedoresCCCooonnnssstttaaatttaaaçççãããooo dddaaa nnneeeccceeessssssiiidddaaadddeee dddeee cccooommmppprrraaa Qualquer compra só deve ser iniciada após ter sido transmitida à respectivo secção uma necessidade de compra. Esta necessidade deve ser materializada num “pedido de compra” emitido, pelo menos, em duplicado, sendo o original enviado para a secção de compras e o duplicado voltar para o serviço que o solicitou. Os processos relativos às compras têm normalmente origem no sector da empresa que tem a seu cargo a gestão de stocks, embora qualquer outro sector possa dirigir à secção de compras um pedido referente a bens não armazenáveis ou a serviços. PPPeeesssqqquuuiiisssaaa eee ssseeellleeecccçççãããooo dddooo fffooorrrnnneeeccceeedddooorrr Na posse do “pedido de compra”, a secção de compras deverá dar início à pesquisa do fornecedor mais indicado para dar resposta às necessidades da empresa, através de: Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 40 Consulta dos ficheiros próprios; Consultas directas a fornecedores; Lançamento de concursos públicos. Qualquer secção de compras deve dispor de informação organizada, completa e actualizada sobre os produtos normalmente consumidos pela empresa e sobre as entidades que os fornecem, pelo que a existência de um ficheiro por produtos e outro por fornecedores é de toda a conveniência. A informação disponível deve permitir a escolha mais favorável. Em caso de compras significativas, ou de bens pedidos pela primeira vez, devem ser solicitadas condições aos principais fornecedores existentes (mínimo de três) podendo recorrer-se, em situações especiais, a abertura de concursos públicos. Nas consultas efectuadas a fornecedores devem ser claramente indicados a especificação e quantidade dos artigos pretendidos e o prazo para entrega das propostas, sendo que a forma como os pedidos de consulta são formalizados (por fax, carta, telefone ou outra) deve ser definida no manual de procedimentos. Em muitas circunstâncias pode revelar-se vantajoso a formalização de contratos de fornecimento anual, na medida em que: Quanto maiores forem as quantidades ou os períodos de tempo considerados na negociação maiores descontos podem ser obtidas dos fornecedores; É susceptível de reduzir o custo de passagem das encomendas; A existência de um planeamento das necessidades entregue atempadamente ao fornecedor é ainda susceptível de fazer reduzir a imobilização em stocks. FFFooorrrmmmaaallliiizzzaaaçççãããooo eee cccooonnntttrrrooolllooo dddaaa eeennncccooommmeeennndddaaa Após a secção de compras ter seleccionado o fornecedor deverá emitir um documento – a nota de encomenda – que deverá mencionar as quantidades e todas as especificações dos artigos a adquirir, preço unitário, descontos, prazos de entrega e pagamento, etc. A nota de Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 41 encomenda deverá ser aprovada não só pelo responsável pela secção de compras, mas também pelo responsável financeiro de modo a que este possa incluir o pagamento da factura no seu plano de tesouraria. Deve ser emitida em quatro exemplares, com os seguintes destinatários: Original – Fornecedor; Duplicado – Contabilidade Triplicado - Compras Quadruplicado – Armazém. Deve omitir as quantidades, para de que possa ser utilizada como guia de recepção e garanta a neutralidade no processo de conferência. A secção de compras deve manter um controlo apropriado sobre as encomendas em curso, considerando-as encerradas só depois de completamente satisfeitas. O controlo da actuação do fornecedor no que respeita a prazos de entrega, qualidade dos produtos entregues e ao cumprimento das condições acordadas é factor relevante a tomar em consideração em futuras negociações. Uma secção de compras devidamente organizada deve produzir estatísticas de compra relativas aos diversos fornecedores, proporcionando informações sobre: Volume anual de compras Compras por artigos - em valores e em quantidades Reclamações dos serviços requisitantes Reclamações apresentadas junto do fornecedor, agrupadas em função das causas subjacentes. RRReeeccceeepppçççãããooo dddooosss ppprrroooddduuutttooosss eeennncccooommmeeennndddaaadddooosss A recepção dos produtos encomendados deve ser alvo de dois tipos de procedimento: Quantitativo - conferência das quantidades remetidas pelo fornecedor; Qualitativo - para o qual nem sempre o armazém de recepção dispõe de adequada competência. A cópia da nota de Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 42 encomenda sem evidenciação das quantidades constituirá um bom elemento para utilizar na conferência. CCCooonnnfffeeerrrêêênnnccciiiaaa dddeee fffaaaccctttuuurrraaasss dddeee fffooorrrnnneeeccceeedddooorrreeesss Em condições normais, quando a factura do fornecedor chega à contabilidade, já lá se encontram os documentos necessários à sua conferência, nomeadamente: Cópia da nota de encomenda / ordem de compra / contrato; Original da guia de remessa do fornecedor; Original da guia de recepção / guia de entrada em armazém A conferência da factura inclui dois aspectos: a confirmação de que o fornecedor está a facturar o que foi encomendado (e recebido) nas condições acordadas e a verificação que os cálculos da factura estão aritmeticamente correctos. A factura (original) deverá apresentar prova (evidência) de que foi apropriadamente conferida e o seu pagamento autorizado. Os duplicados da factura deverão ter visível o carimbo com a indicação “Duplicado”. Após a conferência da factura deverá a mesma ser classificada contabilisticamente, com a indicação dos códigos da conta ou contas a debitar e do código da conta do fornecedor. CCCooonnntttrrrooolllooo dddaaasss dddííívvviiidddaaasss aaa pppaaagggaaarrr aaa fffooorrrnnneeeccceeedddooorrreeesss eee ooouuutttrrrooosss cccrrreeedddooorrreeesss O controlo faz-se geralmente através da escrituração de fichas individuais para cada uma das contas (corrente, facturas em recepção e conferência, títulos a pagar). No final de cada mês, haverá que elaborar balancetes de todas as contas subsidiárias de fornecedores e de outros credores. Para efeitos de planeamento de tesouraria será útil que esses balancetes sejam preparados de acordo com a antiguidade dos saldos. O somatório dos saldos dos balancetes deverá coincidir com o saldo da conta principal. Eventuais divergências deverão ser investigadas e prontamente regularizadas. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 43 CCCooonnntttaaabbbiiillliiizzzaaaçççãããooo eee cccooonnntttrrrooolllooo dddaaasss dddííívvviiidddaaasss aaa pppaaagggaaarrr aaa fffooorrrnnneeeccceeedddooorrreeesss O controlo dos débitos a terceiros é feito geralmente através da elaboração de fichas individuais para cada uma das respectivas contas (corrente, facturas em recepção e conferência, títulos a pagar, etc.). As compras efectuadas ao estrangeiro deverão ser objecto de codificação própria e nas fichas individuais deverão constar os valores em Euros e nas respectivas divisas. No final de cada mês haverá que elaborar balancetes de todas as contas subsidiárias das contas de fornecedores, os quais devem conter, além da informação tradicional (movimento do mês, valores acumulados e saldos), uma coluna para evidenciação das compras efectuadas a cada fornecedor Deve existir controlo apropriado sobre dívidas tituladas, com a possibilidade de obter relações de letras a cada momento, agrupadas por número de ordem, por fornecedor, por data de vencimento, por valor e por data de emissão. Devem ainda ser objecto de comunicação à Contabilidade, e de adequado registo, as devoluções efectuadas a fornecedores a aguardar a recepção da correspondente notade crédito. Por último, as contas de fornecedores devem ser objecto de conferência sistemática e conciliadas com os saldos constantes dos registos dos fornecedores, pelo menos, no final de cada ano. 4.4 Área de custos e operações com o pessoal Num primeiro momento, deve ser claramente definida a posição da secção de pessoal na estrutura organizativa da Empresa. Posteriormente deve ser elaborado um manual de procedimentos que regulamente, entre outros, os seguintes aspectos inerentes ao pessoal: Processos de admissão; Controlo de tempos; Comunicação e justificação de faltas; Horas extraordinárias (autorização, controlo, registo e pagamento); Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 44 Processamento e pagamento de remunerações; Ajudas de custo; Deslocações em viatura própria; Higiene e segurança; Adiantamentos. A secção de pessoal deve constituir, para cada um dos trabalhadores admitidos: Processo individual, onde deverão ser arquivados todos os documentos que levaram à admissão do empregado, desde a fotocópia do anúncio à decisão de admissão; Ficha individual, que deve ser um resumo do processo individual e estar permanentemente actualizada. Deverá incluir um conjunto de dados pessoais do candidato e informações relativas ao seu percurso na empresa, tais como categoria profissional, ordenado inicial e sua evolução, períodos de férias, faltas, entre outras (tendo o cuidado de restringir o acesso a estes ficheiros). Além das anteriormente referidas, sugerem-se as seguintes medidas de controlo interno: Deve existir na secção de pessoal um calendário das diversas obrigações legais e fiscais e um arquivo, permanentemente actualizado, incluindo toda a legislação de natureza laboral e fiscal aplicável; A secção de pessoal deve dispor de um sistema de arquivo apropriado, no qual constem todas as declarações e documentos emitidos por exigência das diferentes disposições legais e fiscais, bem como as cópias das guias de pagamento dos diferentes impostos e contribuições; A secção de pessoal deve diligenciar pelo cumprimento das obrigações previstas na lei, entre as quais se destacam: A elaboração e afixação dos quadros de pessoal; A elaboração do Balanço Social, quando aplicável; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 45 A afixação dos horários de trabalho; A afixação dos mapas de férias; A obtenção da aprovação das isenções de horário de trabalho; PPPrrroooccceeessssssaaammmeeennntttooo eee pppaaagggaaammmeeennntttooo dddeee rrreeemmmuuunnneeerrraaaçççõõõeeesss O processamento de remunerações deve ser efectuado na secção de pessoal com base no sistema de controlo de tempos adoptado pela Empresa. A folha de processamento deve ser objecto de conferência, numa base de amostragem, no sentido de confirmar a adequação das remunerações processadas e dos descontos efectuados ao trabalhador (segurança social, IRS, imposto do selo e outros). Deve ser aprovada pelo responsável pela secção de pessoal e pelo director financeiro. Sempre que possível os pagamentos não deverão ser feitos em dinheiro, mas sim através dos bancos (cheques ou transferência bancária). No caso de ser absolutamente imperioso pagar os ordenados em dinheiro, o cheque destinado ao seu levantamento deve ser emitido pelo valor total líquido a pagar e à ordem do tesoureiro da empresa. Os ordenados eventualmente não levantados deverão ficar retidos dentro de envelopes individuais à guarda do tesoureiro durante um curto espaço de tempo. Caso a situação se mantenha, os envelopes deverão ser depositados numa conta bancária em nome da empresa, creditando-se as contas correntes dos respectivos empregados. Deve haver uma conta bancária específica para este tipo de pagamentos, a qual deverá ser mensalmente provida pelo valor total líquido a pagar e regularmente reconciliada. No acto do pagamento da retribuição deve ser entregue ao trabalhador um documento (recibo de retribuição) de onde constem os seguintes elementos: Nome completo do trabalhador; Número de beneficiário da Segurança Social; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 46 Período a que respeita a retribuição; Número de identificação fiscal do trabalhador; Categoria profissional; Discriminação das remunerações; Discriminações dos descontos e deduções efectuados; Quantia líquida a receber. HHHooonnnooorrrááárrriiiooosss O controlo dos honorários pagos a trabalhadores independentes deve pertencer à secção de pessoal, a qual deve primar a sua actuação pelo cumprimento das disposições constantes do Código do IRS, nomeadamente as do artigo 114º. As informações prestadas pela secção de pessoal devem ser conciliadas com a contabilidade. BBBaaalllaaannnçççooo SSSoooccciiiaaalll De acordo com a Lei nº 141/85, de 14 de Novembro, alterada pelo Decreto-Lei nº 9/92, de 22 de Junho, as empresas que no termo de cada ano civil tenham um número de 100 trabalhadores ao seu Serviço, qualquer que seja o seu regime contratual, estão obrigadas à elaboração, até 31 de Março do ano seguinte, do Balanço Social, o qual deve ser apresentado em conjunto com as demonstrações financeiras anuais. De entre as diversas infomações que deverão ser incluídas no Balanço Social, é de destacar as seguintes: Repartição e outras informações sobre o emprego Remunerações e encargos sociais Condições de higiene e segurança Formação profissional Relações de trabalho Acção social. Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 47 4.5 Área de existências As existências são frequentemente consideradas como activos susceptíveis de constituir problemas contabilísticos, administrativos e financeiros, não surpreendendo, portanto, o objectivo das empresas de funcionar com o menor stock possível. No entanto, as existências representam frequentemente parcelas importantes do activo, o que, associado à influência que podem ter na determinação dos resultados, exige um adequado sistema de controlo interno, ao qual devem estar associados os seguintes procedimentos genéricos: Sempre que possível deve existir uma adequada segregação de funções, assegurando que as operações de autorização, contabilização, controlo e salvaguarda dos activos recaiam sobre diferentes pessoas; Todos os documentos inerentes à movimentação e controlo das existências devem ser pré-numerados tipograficamente ou através de sistema informático. Devem estar claramente definidas as regras de armazenagem, de higiene e de segurança. Deve existir um manual de procedimentos e de políticas contabilísticas que regulamente os diversos aspectos inerentes à área das existências, nomeadamente no que respeita a: Determinação do custo de aquisição e/ou de produção; Sistema de inventariação - permanente ou periódico - e método de custeio a adoptar; Critérios de provisionamento de bens obsoletos e/ou sem rotação; Controlo contabilístico dos bens existentes fora da empresa: consignações, armazenados em instalações de terceiros, sujeitos a operações industriais prévias, etc.; Recuperação de existências usadas; Inventariações físicas; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 48 Procedimentos a observar no “corte” de operações; Deve existir uma adequada gestão dos seguros relacionados com existências cobrindo os riscos por danos provocados nas mesmas e os eventuais prejuízos resultantes da cessação temporária da actividade (lucros cessantes); Deve existir uma adequada gestão de stocks que defina, sempre que possível, os diversos níveis de stocks, as quantidades económicas a encomendar e a periodicidade económica das encomendas; Devem ser definidos sistemas adequados no que se refere ao controlo físico das existências. RRReeeccceeepppçççãããoooeee eeennntttrrraaadddaaa eeemmm aaarrrmmmaaazzzééémmm Como foi referido na área de compras e outras operações com fornecedores, acontece muitas vezes que a recepção está directamente ligada ao próprio armazém. Por essa razão não se justifica a emissão de uma guia de entrada em armazém, sendo este documento substutuído pela guia de recepção. No entanto, no caso de ser aplicável, a guia de entrada em armazém deve ser emitida com os seguintes exemplares: Original, para a secção de controlo de stocks registar as quantidades entradas; Duplicado, para a contabilidade; Triplicado, para a secção de compras; Quadruplicado, para o arquivo do próprio armazém. As quantidades constantes da guia de recepção devem ser confrontadas com a guia de remessa do fornecedor originando recontagens sempre que se verifiquem discordâncias. AAArrrmmmaaazzzeeennnaaagggeeemmm,,, mmmooovvviiimmmeeennntttaaaçççãããooo eee sssaaaííídddaaa dddaaasss eeexxxiiissstttêêênnnccciiiaaasss Ainda que para efeitos contabilísticos o custo de aquisição englobe apenas o preço de compra e todas as despesas necessárias até colocar o bem em condições de poder ser utilizado ou vendido, existem outros custos que estão subjacentes às próprias existências, nomeadamente: Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 49 Custo de posse do stock (rendas ou amortizações das instalações, seguros, encargos com a movimentação, riscos de obsolescência, entre outros); Custo de efectivação das encomendas que incluirá, entre outros, os custos suportados com a existência de uma secção de compras. No sentido de minorar estes custos, é essencial que os processos de armazenagem e de movimentação das existências se encontrem perfeitamente definidos, pelo que é fundamental que: Exista uma disposição lógica dos armazéns face ao fim a que os bens se destinam e à necessidade de minimizar os percursos, quer de materiais, quer de pessoas; Os locais de armazenagem e os diferentes bens estejam adequadamente referenciados e sejam de fácil acesso, permitindo que quer a arrumação quer a retirada se efectuem da forma mais fácil possível; Os bens estejam adequadamente protegidos contra riscos de obsolescência; O acesso ao armazém deve seja vedado a pessoas que lhe são estranhas; A localização dos bens no armazém tenha em consideração a frequência com que normalmente os mesmos são requisitados; Os bens com a mesma referência estejam, preferencialmente, armazenados no mesmo local. A existência de um mesmo bem em diversas zonas do armazém propicia a ocorrência de erros em qualquer processo de inventariação; Se encontre claramente definida e identificada a unidade de medida das diversas existências. A deficiente informação relativamente à unidade de medida constitui outra causa para os erros cometidos nos inventários; Os bens obsoletos e sem rotação sejam armazenados em local próprio para o efeito, libertando a área de armazenagem para os bens de movimentação normal. Por outro lado, deve Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 50 ser equacionada a possibilidade de serem vendidos como refugo ou sucata. As saídas de existências dos armazéns deverão ser efectuadas com base em documentos internos, como por exemplo, requisições da produção ao armazém de matérias primas ou ordens de expedição emitidas pela secção de facturação ao armazém de mercadorias ou ao armazém de produtos acabados. Com base em tais documentos o armazém emitirá uma guia de saída de armazém com os seguintes exemplares: Original, para a secção de controlo de stocks registar as quantidades saídas; Duplicado, para a contabilidade; Triplicado, para a secção requisitante, e Quadruplicado, para o arquivo do próprio armazém Em empresas de pequena dimensão é aceitável que um exemplar da guia de remessa substitua a guia de saída, ao passo que nas empresas industriais, toda a movimentação de existências entre as diversas fases da produção deverá ser efectuada com base em guias de transferência, relatórios ou folhas de produção. CCCooonnntttrrrooolllooo fffííísssiiicccooo dddaaasss eeexxxiiissstttêêênnnccciiiaaasss O controlo físico das existências, além de pressupor uma adequada recepção e um correcto controlo das saídas, exige que as mesmas sejam objecto de inventariação ou contagem periódica, qualquer que seja o sistema contabilístico adoptado: No sistema de inventário intermitente a contagem física é fundamental à elaboração do Balanço e à determinação do resultado do exercício, pelo que a inventariação tem que ser global e efectuada no final de cada exercício; Em sistema de inventário permanente os elementos contabilísticos existentes devem permitir que, em qualquer momento, possam ser preparadas demonstrações financeiras sem necessidade de qualquer inventariação para o efeito. No entanto, as contagens físicas continuam a ser fundamentais Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 51 como forma de certificar a informação contabilística, podendo, neste sistema de inventário, a contagem física anual e global ser substituída por contagens parcelares efectuadas ao longo do ano, evitando as paragens, sempre onerosas, que um inventário global acarreta. As contagens físicas, pela importância que têm no controlo das existências e na elaboração das demonstrações financeiras, principalmente quando a empresa adopta o sistema de inventário periódico, devem ser objecto de adequada preparação, a qual deve englobar, entre outros, os seguintes aspectos: Planeamento atempado das contagens com aviso prévio a clientes e a fornecedores, se as mesmas exigirem uma paralisação que justifique tal procedimento; Elaboração de instruções escritas; Definição da forma de anotação das contagens. Se através de listas, incluindo as designações, mas não as quantidades dos produtos que teoricamente devem existir em certo local (sector, estante ou prateleira) ou se através de talões a colocar junto de cada uma das referências a inventariar; As instruções escritas são fundamentais à boa execução de um inventário e devem prever, pelo menos, os seguintes aspectos: Definição da data ou datas do inventário e respectivos horários; Identificação dos armazéns e definição do âmbito do inventário; Procedimentos a observar quanto à limpeza dos armazéns e arrumação das existências, de modo a evitar que uma mesma referência possa existir em vários locais do mesmo armazém; Definição do responsável pelo inventário e das pessoas envolvidas no processo de contagem, indicando a constituição das equipas e a sua afectação a locais de contagem; Actualização do ficheiro de stocks através da inserção de todas as entradas e saídas; Auditoria Financeira Companhia Própria – Formação & Consultoria, Lda 52 Obtenção de listas, após a referida actualização, contendo pelo menos os seguintes elementos: Identificação dos artigos (código e designação); Localização dos artigos; Quantidade em armazém, custo unitário e valor; Indicações quanto ao preenchimento das listas ou dos talões, nomeadamente no que se refere à inscrição de observações quanto ao estado ou à rotação dos bens; Assinatura das folhas de contagem; Definição de uma ou mais equipas responsáveis pela execução de recontagens; Procedimentos a observar quanto às diferenças existentes entre as recontagens e as contagens iniciais; Definição das pessoas destacadas para apoiar o trabalho de auditoria, quando exista; Caso a empresa funcione em sistema de inventário permanente, quais os procedimentos a observar quanto à comparação das contagens efectuadas com as constantes dos respectivos ficheiros; Procedimentos a verificar quanto ao “corte de operações”, evitando que produtos recepcionados ou expedidos num exercício e com interferência no resultado da
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