Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Pó s- gr ad ua çã o em E du ca çã o POSSIBILIDADE DE PRÁTICAS A PARTIR DOS RECURSOS DA TECNOLOGIA Michele Simonian Cristiane de Fatima Budek Dias Diretores Diretoria Executiva Luiz Borges da Silveira Filho Diretoria Operacional Marcelo Antonio Aguilar Diretoria Acadêmica Francisco Carlos Sardo Editora Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Projeto Gráfico Evelyn Caroline Betim Araujo Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. Edição 2021 Michele Simonian Cristiane de Fatima Budek Dias RESUMO Esta disciplina busca estabelecer inter-relações teórico-práticas a respeito da tecnologia como recurso para o processo de ensino e aprendizagem. Para tanto, as discussões estão voltadas para as diferentes concepções de tecnologia e de seu uso no processo educativo. São evidenciados alguns conceitos de tecnologia e suas relações com a educação, a sociedade da informação, a cibercultura e a cultura escolar. Ainda, são tratadas e exemplifica- das algumas modalidades de uso construtivista de alguns recursos das Tecnologias da Informação e Comunica- ção (TIC); os conceitos e direcionamentos para a avaliação de softwares educativos; e o uso do computador no processo de ensino presencial e a distância. Por fim, são apresentadas algumas possibilidades de uso dos recursos tecnológicos no processo de ensino e aprendizagem, com a apresentação de exemplos de práticas que se utiliza- ram de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) e de softwares educativos. Palavras-chave: Tecnologias. Professores. Educação. Prática Pedagógica. Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 4 1. INTRODUÇÃO A discussão acerca das possibilidades de práticas a partir dos recursos da tecnologia requer um destaque para um discurso recorrente nos corredores escolares e nas salas dos professores: a dicotomia entre a teoria e a prática. Com certeza todo professor ou professora, seja da educação infantil, do ensino fundamental, do ensino médio ou profissionalizante, algum dia já pro- feriu ou ao menos ouviu a famosa frase quase que já diplomada de ditado popular pedagógico: “A teoria é uma coisa, a prática é outra”. Porém, o que isso tem de relação com a temática “possibilidades de práticas a partir dos recursos da tecnologia”? A resposta para esse questionamento será tecida em uma trama de idas, vindas e entrelaçamentos ao longo deste artigo que pretende, além de discutir a dicotomia entre a teoria e a prática no uso das tec- nologias, aprofundar os conceitos que a perpassam. Além disso, destacaremos aspectos relevantes da socie- dade atual: a sociedade da informação, tecnologizada e cibercultural para, então, evidenciar algumas práti- cas pedagógicas possíveis a partir das tecnologias na escola, de forma a não dicotomizá-las. No cotidiano da maioria das pessoas, sejam elas residentes em áreas urbanas ou não, nas últimas décadas, foram muitos os artefatos tecnológicos que até algumas décadas atrás não faziam parte de suas vidas diárias, tais como e-books, netbooks, smartpho- nes, iPads, tablets, entre tantos outros. Destaca-se que esses artefatos têm modificado hábitos. É interessante notar que, na atualidade, é comum, além do número de telefone residencial (quase que já sem função), o indivíduo ser requisitado a mencio- nar principalmente o número de celular e, também, o e-mail ou, então, os famosos aplicativos de mensagens, como o WhatsApp e o Telegram. Em situações sociais mais descontraídas, também é requisitado o profile1 do Facebook, do Instagram ou do Twitter. Com certeza, alguma vez nos últimos anos de existência do Facebook e do Instagram, todo professor ou professora, independentemente do nível de ensino para o qual leciona, foi questionado por pelo menos um ou mais estudantes se tem ou não uma conta nes- sas redes sociais. Mas, o que isso tem gerado no dia a dia dos professores e das professoras? Segundo Paulo Freire, em um vídeo disponível na internet, gravado no ano de 1995, “os professores são 1 Profile é uma palavra de origem inglesa que significa o perfil da pessoa que tem uma conta em redes sociais como o Facebook, o Instagran e o My Space. nascidos antes das tecnologias”2. Isso significa que a cultura, a cognição e as relações sociais e profissionais dos professores e professoras perpassadas por tecno- logias se diferenciam das vivenciadas pelas crianças e jovens nascidos no final da década passada. Sendo assim, para muitos professores, iniciar uma caminhada por estradas pouco antes percorridas cons- titui-se um grande desafio; todavia, ao se parar para refletir sobre os caminhos percorridos hoje na educação, percebe-se que o indivíduo não é bombardeado apenas por mudanças tecnológicas, mas principalmente por mudanças sociais e econômicas, sendo que a perspectiva temporal de mudança é cada vez mais acelerada. Apesar do saudosismo insistente e persistente na área da educação, a cada novo mês ou semana são anunciadas novas tecnologias que, de certa forma, aca- bam por estar na escola e nas relações que dentro dela ocorrem. Belloni (1998), já na década de 1990, des- tacava que não há como escapar do mundo cada vez mais “aberto” e povoado de máquinas que lidam com o saber e com o imaginário; a escola apega-se aos espa- ços e tempos “fechados” do prédio, da sala de aula, do livro didático, dos conteúdos curriculares extensivos, defendendo-se da inovação. Cada parte da sociedade, seja ela pensada local ou globalmente, age e concebe as novas tecnologias à sua função e objetivo. Cabe ressaltar que, hoje, tem- -se novos equipamentos médicos de diagnósticos e de intervenções, novas formas de conservação de alimen- tos, novas formas de armazenamento da informação, o ciberespaço, a cibercultura, entre tantas outras cons- truções e criações humanas. Ser professor, na atuali- dade, é atentar-se a esse movimento e ao discurso de cada um dos segmentos sociais acerca da tecnologia, permitindo identificar a quem, como e de que forma ela deseja servir. De acordo com Sancho (2006), a maioria das pes- soas que vivem no mundo tecnologicamente desen- volvido tem acesso sem precedentes à informação; no entanto, isso não significa dizer que disponham da habilidade e do saber necessários para transformá-la em conhecimento – da mesma forma que a produ- ção de bens e riquezas aumentou exponencialmente, sua distribuição entre a população mantém e agrava as desigualdades socioculturais. A esse propósito, não há como pensar sobre edu- cação, o dia a dia do chão da escola, dicotomicamente a essas forças que envolvem a tecnologia. Mesmo por- 2 Disponível em: http://www.paulofreire.ce.ufpb.br/paulofreire/. Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia 5Faculdade Educacional da Lapa - FAEL que, em um compasso amplamente acelerado, todos os setores sociais, sejam eles: primário, secundário, terciário e o quaternário3, se debruçaram nas últimas décadas em estudar e avaliar as tendências, os impac- tos e as possibilidades das tecnologias. Sendo assim, a seguir passa-se a discutir os diferentes conceitos de tec- nologia de forma a esmiuçá-los, criando lentes metafó- ricas para poder interpretar de forma mais ampliada as diferentes realidades que permeiam o uso das tecnolo- gias na educação, mais especificamente nos processos de ensino presencial e a distância. 2. O CONCEITO DE TECNOLOGIA O que é tecnologia? O que vem à sua mente com essa pergunta? Neste primeiro momento, convido você a fazer essa reflexão para depois seguir na leitura deste texto, no qual se apresentam diferentes conceitos de tecnologia. Talvez você tenha pensado nos inúmeros apare- lhos presentes no cotidiano das pessoas, como smar- tphones, notebooks, iPads, smartwatchs, projetores multimídia, telas interativas e tantos outros. Essaé uma tendência comum quando somos questionados sobre o assunto, antes de iniciarmos o estudo mais a fundo sobre a tecnologia. Essa “coisificação” da tec- nologia vem da “adoração” pela máquina e pelas cria- ções humanas, levando à sua popularização, como se fossem sinônimos de “engenhocas eletrônicas”. Para Bueno (1999, p. 86) “[...] percebe-se uma vinculação direta com o conhecimento popular e, muitas vezes com o senso comum, pois a coisificação da tecnologia implica em fazer um culto ao objeto e não ao processo e por certo, ao principal ator deste, o ser humano”. E é isso que nos distancia do verdadeiro sentido da tecnologia. Embora a tendência seja a de pensarmos nos diferentes dispositivos eletrônicos que usamos no cotidiano, a tecnologia é muito mais do que isso, e não está somente relacionada aos aparatos e aparelhos. Mas seria, então, a tecnologia sinônimo de téc- nica? Você também pode ter pensado algo nesse sen- tido. Mas, como nos esclarece Vieira Pinto (2005, p. 219), “embora a tecnologia não possa ser separada da técnica, ambas não devem ser entendidas como sinô- nimos”. Para o autor, podemos compreender a tecno- logia a partir de quatro acepções: 3 Os economistas conceituam o setor quaternário como sendo o respon- sável pelo desenvolvimento de serviços com ampla capacidade intelectual como, por exemplo, a pesquisa e o desenvolvimento de diferentes tecnolo- gias, educação, saúde, cultura, entre outras. i) a teoria, a ciência, o estudo, a discussão da técnica – entende-se a tecnologia como o domínio da técnica, sendo resultado de pes- quisa científica. Neste entendimento, “a tec- nologia apresenta-se como algo que nomeia a reflexão sobre a técnica, ou seja, como a dis- cussão sobre os modos de produzir alguma coisa” (SILVA, 2013, p. 844). Esta acepção da tecnologia é, para Vieira Pinto (2005), o sentido primordial do conceito, pois poderia articular diferentes reflexões sobre a técnica, superando a fragmentação que vemos nos diferentes campos. ii) o conjunto de técnicas que todas as socie- dades possuem – o que significa que os povos considerados primitivos também possuem tec- nologia, diferentemente da concepção relacio- nada apenas ao moderno e às sociedades desen- volvidas, revelando ainda que a tecnologia é resultado de processos históricos e coletivos. iii) instrumento de dominação – embora todas as sociedades possuam tecnologia, o conceito muitas vezes é utilizado como instrumento de poder por algumas sociedades, processo no qual quem detém tecnologia controla sua distribuição e produção. Todavia, os que dela se apropriam passam a ter o poder de desen- volver novas formas de tecnologia. iv) ideologização da técnica – a tecnologia é entendida como instrumento de adoração. Com ela se garante o avanço e a existência do que é moderno. Podemos perceber essa concepção na ansiedade da espera pelo lança- mento de novos smartphones, por exemplo. Há nesse entendimento a ideia de que sem o novo aparelho não podemos continuar. O objeto tecnológico de desejo é sempre criado por outrem, é algo exterior e precisamos bus- car formas de consegui-lo. Com isso, já podemos observar que existem diferentes maneiras de entender a tecnologia; algu- mas formas podem empoderar e outras podem servir de instrumento de dominação e alienação. Também podemos perceber que a tecnologia não pode ser con- fundida com a técnica e nem com os aparatos eletrô- nicos, pois esse é um entendimento ingênuo que não agrega todo o valor, não reconhece todo o seu processo de desenvolvimento e não a compreende como criação humana, que acompanha a história. Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 6 Você consegue perceber como conceituar a tec- nologia é complexo? Então não se preocupe se de iní- cio você pensou em tecnologia como técnica ou como aparatos eletrônicos. Vieira Pinto (2005), por exem- plo, dedica um livro de 548 páginas ao tema, reve- lando que as discussões teóricas e filosóficas sobre o assunto são extensas e apresentam diferentes caminhos de entendimento. Outros autores também trazem suas definições para tecnologia. Para Bueno (1999), a tecnologia é caracterizada por uma interação mútua entre a técnica e a ciência moderna, sempre associada às atividades huma- nas. De acordo com o autor, a ciência se desenvolveu associada ao desenvolvimento tecnológico, o que o leva a considerar que “a tecnologia é a aplicação do conhe- cimento científico para obter um resultado prático” (BUENO, 1999, p. 23). O autor complementa: Então, a tecnologia não é a “coisa”, o produto, pois este é o resultado de um processo mais amplo e com- plexo que exige do ser humano emergir em seu processo histórico; baseando-se no conhecimento científico, resultado da ciência, formular teorias a respeito das ati- vidades dos seres humanos que, por último, faz surgir um deter- minado produto, um instrumento que venha a atender às necessida- des não imediatas, porque a ciência por si só que é o caso da tecnologia, não pressupõe resultado imediatos (BUENO, 1999, p. 86). Pensando nessa perspectiva, pode-se entender a tecnologia como processo em construção. Nas palavras de Simonian (2009, p. 26), “uma construção, não um impacto como que provocado por um ‘advento que surge do nada’”, pois se caracteriza por um processo contínuo por meio do qual a humanidade transforma e organiza sua qualidade de vida (BUENO, 1999). Também é possível perceber que a tecnologia “[...] inclui não apenas produtos, tais como equipa- mentos computacionais, programas televisivos, sof- twares, mas, também, processos, tais como, no caso da área da educação, as formas de organização curricular no ensino modular ou no ensino à distância” (MAR- QUES, 2009, p 26). E esta concepção se aproxima do conceito proposto por Basniak (2016), para a qual a tecnologia pode ser entendida como o processo pelo qual a técnica aplicada às mais diversas ciências pos- sibilita ao ser humano rever, replanejar, reorganizar a forma como se relaciona com o meio e com os demais seres vivos, estabelecendo novas conexões entre o pas- sado e o presente. Para Sancho (2001), citada por Tarja (2001), as tecnologias podem ser divididas em três grandes gru- pos: tecnologias físicas, organizadoras e simbólicas. Tecnologias físicas: são as inova- ções de instrumentais físicos, tais como: caneta esferográfica, livro, telefone, aparelho celular, satélites, computadores. Estão relacionadas com a física, química, biologia etc. (equipamentos). Tecnologias organizadoras: são as formas de como nos relacionamos com o mundo; como os diversos sistemas produtivos estão organi- zados. As modernas técnicas de gestão pela Qualidade Total é um exemplo de tecnologia organiza- dora. (relações com o mundo) [sic]. Tecnologias simbólicas: estão relacionadas com a forma de comu- nicação entre as pessoas, desde a iniciação dos idiomas escritos e falados à forma como as pessoas se comunicam. São os símbolos de comunicação. (interfaces de comu- nicação) (BRITO, 2006, p. 6). Podemos perceber que esse conceito agrega e sub- divide os conceitos já discutidos pelos autores ante- riormente citados. Brito (2006)4 utilizou os conceitos mostrados por Sancho (2001) para concretizar sua pesquisa. Em seu estudo, a pesquisadora buscou veri- ficar o conceito de tecnologia expresso por professores em processo de formação continuada. Com os discur- sos dos professores, a autora avançou nos conceitos expostos anteriormente, complementando a teoria com os conceitos de tecnologia educacional e tecno- logia social. A tecnologia educacional se refere aos “recur- sos que usamos com nossos alunos para proporcionar conhecimento, que vão desde a nossa exposição oral/ dialogada ao uso do computador que está ligado ao mundo do conhecimento” (BRITO, 2006, p. 9). Aqui estão incluídas as tecnologias como o livro, o rádio, o computador, o vídeo etc., as quais “propiciam novas formas de aprender, ensinar e produzir conhecimento e são utilizadasde acordo com os propósitos educa- cionais, bem como, as estratégias mais adequadas à aprendizagem” (BRITO, 2006, p. 9). 4 Para ler a pesquisa na íntegra, acesse o site: http://aveb.univap.br/opencms/ opencms/sites/ve2007neo/pt-BR/imagens/27-06-07/Ticxs/trabalho_142_glau- cia_anais.pdf Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia 7Faculdade Educacional da Lapa - FAEL Já a tecnologia social seria o “conjunto de inven- ções, técnicas, etc. para transformar algo e que é desenvolvida juntamente com a população e será uti- lizada por ela, por exemplo, uma rádio comunitária” (BRITO, 2006, p. 11). Em pesquisas mais recentes, a definição agrega a criação de produtos, técnicas, meto- dologias desenvolvidas de forma a integrar a comuni- dade e possibilitar soluções de mudança, transforma- ção ou melhoria social (SIMONIAN, 2012). O estudo de Brito (2006) permite reiterar a impor- tância da discussão das tecnologias por meio de como os professores a definem, visto que nossas concepções são construídas nas relações sociais e são influenciadas pela cultura, inclusive pelas diferentes culturas escola- res. Aqui se observa a reiteração da tecnologia como processo coletivo de desenvolvimento humano, o que a relaciona com a cultura. Muitos pesquisadores têm estudado as concepções de professores sobre o conceito de tecnologia. Como vimos acima, Brito (2006), ao fazer isso, ampliou as concepções de Sancho (2001) e trouxe mais dois com- ponentes para o entendimento do termo. Do mesmo modo, Simonian (2009) buscou compreender como é o processo de mudança de pensamento e conceituação do que seria a tecnologia, a partir de memoriais de seus alunos de especialização. Após o trabalho com alguns conceitos de tecnologia, os alunos indicaram surpresa com suas concepções anteriores. A pesquisa reiterou a importância do trabalho com o conceito de tecnologia com os professores antes de indicações de possibilida- des de práticas utilizando recursos tecnológicos. Para ilustrar tal aspecto, a seguir são descritos trechos de alguns dos memoriais dos estudantes de especialização que participaram da pesquisa de Simonian (2009): Estudante 1: “[...] antes dessa aula, a ideia que eu tinha em relação ao conceito de tec- nologia, era algo diferente da visão com que saio agora no final. Penso que esse aspecto, principalmente porque não associava tecnologia a um processo e sim a ferramentas, mas também porque não via cer- tas tecnologias como tecnologias. Mudou minha forma de pensar em relação às mesmas e a sua utilização no âmbito do processo de ensino/ aprendizagem.” [...] Estudante 2: “[...] fomos surpreendidos pela definição de tecnologia, o que me fez refletir sobre o termo e ampliou meus conhecimentos descobrindo que é fundamental iniciar um tra- balho pedagógico sobre o tema, com a definição de tecnologia com os professores. Foi importantíssimo descobrir sobre estas definições, muito mais do que conhecer um software qualquer.” [...] Estudante 3: “A discussão sobre o que é tecno- logia, realmente me levou a pensar em tecnologia de uma outra forma. Por usar no meu dia a dia de traba- lho várias ferramentas disponíveis [...] imaginava tecnologia somente o que era associado a computado- res, mudei radicalmente minha forma de pensar em tecnologia. [...] Hoje saio pensando em mudar muitas práticas de sala de aula” (SIMONIAN, 2012, p. 3-4). Os relatos dos memoriais mostram que a concep- ção mais evidente dos professores era a de tecnologia física, com menção aos aparatos e artefatos. Isso mos- tra como é comum esse tipo de pensamento e como um estudo mais aprofundado sobre o conceito de tec- nologia pode ser benéfico para a superação dessa visão. Além disso, mostra que essa discussão é fundamental para o avanço no pensamento sobre a incorporação da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem de forma crítica e não passiva. Para finalizar este tópico, refaço a pergunta inicial de outra forma: neste momento, qual a sua concepção de tecnologia? Você pode seguir na leitura dos outros tópicos para pensar um pouco mais sobre o assunto. Procure fazer anotações e verificar no material com- plementar o texto que aprofunda as reflexões de Vieira Pinto e o texto de Veraszto et al. (2009), pois são duas referências interessantes para construir seu entendi- mento e tecer suas comparações. Para prosseguirmos nesse processo de compreen- são, o tópico a seguir discute sobre a sociedade e a cultura em que vivemos, respectivamente, a sociedade da informação e a cibercultura. 3. SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO E CIBERCULTURA A sociedade atual é caracterizada por um fluxo de informações contínuas e incessantes. Há algumas décadas as pessoas tinham acesso à informação por Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 8 meio de jornais, rádio, televisão e, em um tempo mais remoto, por meio da escola. E na atualidade? Como se tem acesso a informações? Hoje, o acesso à informação é amplamente diversificado e marcado principalmente pelos dispositivos digitais. Na atualidade, podemos marcar uma consulta, pedir uma refeição e comprar uma passagem aérea ou rodoviária por meio de aplicativos em nossos celulares e computadores. Podemos retirar essas passagens em totens eletrô- nicos nos terminais rodoviários e fazer check-in online. Podemos até mesmo realizar consultas, apresentar tra- balhos escolares e participar de eventos e reuniões via webconferência, sem a necessidade da presencialidade física. Toda essa conjuntura informacional que marca a sociedade não surge como um advento ao acaso. De acordo com Kenski (2003), desde o início da civilização, o predo- mínio de um determinado tipo de tec- nologia transforma o comportamento pessoal e social de todo o grupo. Não é por acaso que todas as eras foram, cada uma à sua maneira, “eras tecno- lógicas”. Assim tivemos a Idade da Pedra, do Bronze... até chegarmos ao momento tecnológico atual, da Socie- dade da Informação ou Sociedade Digital (KENSKI, 2003, p. 48). A citação da autora corrobora para que se atente quanto às novas características da sociedade em que se vive, visto que as novas formas de acesso à informação, interação e comunicação, viabilizadas pelos computa- dores (e todos os periféricos – as redes virtuais e todas as mídias), têm mobilizado perspectivas de novas for- mas de aprendizagem por nossos alunos. Sendo assim, para se estar incluso na sociedade da informação, são exigidos novos comportamentos, valores e atitudes. Nesses comportamentos, valores e atitudes da sociedade da informação, tem-se a emersão da ciber- cultura, a qual é definida por Lemos (2003) como: a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais, vive- mos já a Cibercultura. Ela não é o futuro que vai chegar, mas o nosso presente (homebanking, car- tões inteligentes, celulares, palms, pages, voto eletrônico, Imposto de Renda via rede, entre outros). Tra- ta-se assim de escapar, seja de um determinismo técnico, seja de um determinismo social. A Cibercul- tura representa a contemporanei- dade sendo consequência direta da evolução da cultura técnica moderna (LEMOS, 2003, p. 12). Sendo assim, o cenário proporcionado pela socie- dade da informação e pela cibercultura vem trazendo desafios à educação. Para Lévy (1999), esse cenário deverá fazer com que qualquer política de educação considere a cibercultura. Mesmo porque, novas manei- ras de se relacionar emergem não como uma mera substituição de relações sociais, mas como surgimento de “novas relações mediadas” (LEMOS, 2003, p. 17). São essas reflexões que demonstram a impossibi- lidade de veicular na escola uma única ideia, definição e entendimento do que vem a ser cultura. Se a cul- tura escolar antes tinha o subterfúgio de se respaldar única e exclusivamente na cultura erudita, atualmente, a escola, diante da emergente abertura para as diferen- tes culturas, encontra-se frente à necessária discussão sobre cibercultura. Ao se tratar da cibercultura,não se pode esquecer- -se de mencionar o espaço onde ocorrem as relações, os engendramentos, as tendências dessa “nova” cultura e, principalmente, sua característica de comunicação: o ciberespaço. De acordo com Lévy, o ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ele abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 1999, p. 17). Sendo assim, e com base em Lemos (2004), pode- -se afirmar que o ciberespaço é uma rede social com- plexa, e não somente tecnológica. Para esse autor, o ciberespaço caracteriza uma nova dimensão espaço- -temporal de comunicação e informação planetárias. “O ciberespaço é um espaço sem dimensões, um uni- verso de informações navegável de forma instantânea e reversível. Ele é, dessa forma, um espaço mágico, caracterizado pela ubiquidade, pelo tempo real e pelo espaço não físico” (LEMOS, 2004, p. 128). Com a afirmação de Lemos, pode-se reiterar o desafio que o professor tem diante dessa tão diversa realidade. A seguir, um quadro elaborado a partir da citação do autor, comparando a realidade do espaço da escola atual com o ciberespaço já muito frequen- tado pelos alunos, seja por meio de computadores ou celulares. Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia 9Faculdade Educacional da Lapa - FAEL Quadro 1 – Realidade do espaço escolar versus ciberespaço ESPAÇO DA ESCOLA CIBERESPAÇO Dimensões bem delimitadas, salas de aula, corredores, quadras. Sem dimensões, não físico. Universo de informações transmitidas conforme pla- nejamento do professor, geralmente mantendo uma linearidade e pouca reversibilidade. Universo de informações navegável de forma instantâ- nea e reversível. Espaço regrado, seguindo lógica cartesiana. Espaço mágico, no sentido de “tudo” ser possível. Característica não ubíqua. Característica ubíqua. Tempo linear, fechado, chronos, síncrono. Tempo não linear, aberto, kairós, síncrono e assíncrono. **Síncrono: O tempo síncrono pode ser definido como tempo instantâneo – como por exemplo uma conversa ao telefone, uma aula, um bate-papo em um chat, entre outros. O tempo assíncrono pode ser definido como não instantâneo, como por exemplo uma carta, um e-mail, uma mensagem deixada no profile de uma rede social. Fonte: Simonian (2012). É justamente essa característica não “engessada” do ciberespaço que possibilita uma multiplicidade de possibilidades de práticas pedagógicas nos diferentes níveis e modalidades de ensino, sejam eles presenciais, remotos ou na educação a distância. 4. A ESCOLA E OS DESAFIOS COM AS TECNOLOGIAS O papel da escola brasileira, em seu processo his- tórico, deteve diferentes conceitos em relação a sua função fundamental. Analisar e discutir algumas ques- tões históricas e atuais sobre a função social da escola brasileira, nas perspectivas da elite e da classe trabalha- dora, configura-se como um desvelador do que signi- fica o ato educativo na atual conjuntura, visto que “a escola é determinada socialmente e a sociedade em que vivemos, fundada no modo de produção capitalista, é dividida em classes com interesses opostos; portanto, a escola sofre a determinação do conflito de interesses que caracteriza a sociedade” (SAVIANI, 2002, p. 30). É justamente diante dessa conjuntura que se trava a luta pela democratização de toda a forma de saber. Como defende Litwin (2001 p. 123), “a função da escola não é transmitir, e sim reconstruir o conheci- mento experiencial, como a maneira de entender a tensão entre os processos de socialização em termos de transmissão da cultura hegemônica da comunidade social e o aparecimento de propostas críticas para a for- mação do indivíduo”. Na perspectiva de conceber a educação em seu caráter amplo, Saviani (2002) argumenta que a escola voltada aos interesses populares busca métodos de ensino eficazes, para além dos tradicionais ou novos, que estimulem a atividade de iniciativa dos alunos sem renunciar à iniciativa do professor; valoriza o diálogo entre professor e aluno e de ambos com a cultura his- toricamente acumulada; atende os interesses, ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, mas sem perder de foco a sistematização lógica dos conhecimentos; reconhece e concebe que o objetivo da escola não está centrado na preparação (pedagogia tradicional), muito menos na realização de atividades (pedagogia nova), mas sim na prática social. Desse modo, a prática social hoje está caracte- rizada por uma nova estrutura de interesses, por um novo caráter dos símbolos e uma nova natureza das comunidades, como pontuado por Sancho (2006, p. 33), e a escola vem sofrendo mudanças homeopáticas dessa nova vivência social, até mesmo porque, um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento do poten- cial e da reflexão acerca das tecnologias encontra-se na própria estrutura organizacional e cultural rígida da escola, o que acaba por tornar a introdução das mes- mas um reforço das estruturas preexistentes5 do conte- údo, do currículo e das estruturas de poder. Na atualidade, ao se falar da relação do profes- sor e do aluno com a cultura acumulada e da prática social, não se pode deixar de lado as tecnologias, pois fazem parte da realidade social, cultural e se inserem na escola mesmo que por pressão política ou pressão dos próprios alunos. 5 Recomenda-se assistir ao vídeo: Metodologia ou tecnologia: https://www.you- tube.com/watch?v=xLRt0mvvpBk. Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 10 A esse propósito, Sancho (2006, p. 18, 25) rei- tera que as tecnologias vieram para ficar e que deve- -se considerá-las no terreno da educação, até porque não são neutras, visto que são desenvolvidas e utiliza- das em um mundo repleto de valores e interesses que não favorecem toda a população. Gomes (2002), ao encontro desse pensamento, pontua que muitos têm na escola o único meio de acesso ao conhecimento formal e à formação da sensibilidade. Para a autora, a escola figura a oportunidade para o estudante “[...] apropriar-se do conhecimento elaborado e também ter acesso aos novos recursos tecnológicos e comunica- cionais que uma parcela de crianças já possui mesmo sem frequentá-la” (GOMES, 2002, p. 121). Viabilizar esse acesso dentro da educação escolarizada pode ser, então, uma das maneiras de contribuir para transfor- mação social e para a formação crítica do estudante. Neste sentido, as tecnologias emergem a discus- são acerca do que é ensinar no século XXI, qual a interação docente, o papel do professor e do aluno no processo de aprendizagem, a administração do tempo e do espaço, o que se entende por conhecimento esco- lar e o papel das diferentes linguagens. Portanto, mais que pensar sobre a tecnologia na escola, é emergente a necessidade de se pensar sobre a inovação metodoló- gica e a quebra do paradigma positivista técnico-linear. Isso requer, ainda, uma reflexão sobre as novas formas de aprender, pois não se pode ignorar as característi- cas dos estudantes de hoje, os quais são os chamados “nativos digitais”6 (PRENSKY, 2001). De acordo com Dias (2016), o fato é que as TIC desencadeiam novas relações dos atores educativos com o saber, novas formas de interação entre professo- res e alunos e uma nova maneira de integração docente na organização escolar e na profissão. Nesse sentido, as responsabilidades se alargam: à docência cabe agora uma função educativa primordial. Professores preci- sam assumir um novo papel, o de “co-aprendentes com os seus alunos, com os seus colegas, com outros actores educativos e com elementos da comunidade em geral” (PONTE, 2000, p. 77). Assim, há a necessidade de diálogo entre as duas culturas: nativos digitais (alunos) e imigrantes digitais (professores), que se “[...] defrontam e se confrontam com experiências diversas em relação às tecnologias 6 O conceito “nativosdigitais” foi originado pelo educador e pesquisador Marc Prensky (2001) para designar a geração de jovens nascidos nos tempos das tec- nologias digitais. O autor considera que os estudantes de hoje “falam” a linguagem digital e estão habituados a recorrerem a informações de forma rápida e a interagi- rem com com diversas mídias ao mesmo tempo. digitais” (FREITAS, 2010, p. 342). Nesse processo, o professor precisa estar receptivo ao novo, pois, assim, poderá investigá-lo, compreendendo o que ele pode trazer para o ensino e para a aprendizagem. Já em 1997, Lion (1997, p. 32) apontava a neces- sidade de incluir na escola a vida cotidiana, as experi- ências que os alunos trazem de suas casas, do bairro, com a televisão, com as revistas, de forma a desman- char preconceitos e reconstruir formas de pensar a partir de uma revisão do senso comum – uma função básica da escola. Complementa, ainda, que a escola se especializou na tecnologia cognitiva verbal, no saber simbólico ou na construção de significados, deixando toda a tecnologia dos novos meios e sistemas simbóli- cos e de sentido (a realidade, o saber vinculado à ação) para a cultura extraescolar. Da mesma forma, Litwin questiona essa caracte- rística da escola, considerando que: [...] o desenvolvimento da tecno- logia atinge de tal modo as formas de vida da sociedade que a escola não pode ficar à margem. Não se trata simplesmente da criação de tecnologia para a educação, da recepção crítica ou da incorpora- ção das informações dos meios na escola. Trata-se de entender que se criaram novas formas de comuni- cação, novos estilos de trabalho, novas maneiras de ter acesso e de produzir conhecimento (LITWIN, 2001, p. 131). A presença da ferramenta não significa que seu uso ocorra; portanto, pensar a prática educativa na escola a partir do uso das tecnologias requer reto- mar aspectos fundamentais do processo de ensino e de aprendizagem como, por exemplo, a importância do planejamento realizado pelo professor. Quando se remete apenas ao significado da palavra planejamento, o dicionário Aurélio (2004) define como: ato ou efeito de planejar, trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determi- nados – processo que leva ao estabelecimento de um conjunto coordenado de ações, visando à consecução de determinados objetivos. No entanto, a simples leitura desse significado não se faz suficiente para o professor realizar o ato de planejar, principalmente no que se refere à integra- ção das tecnologias nas aulas. O que se entende por planejamento? Crianças planejam brincadeiras, casais planejam suas vidas, empresários planejam ações para Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia 11Faculdade Educacional da Lapa - FAEL suas empresas – um simples ato de planejar e o plane- jar com enfoque educativo se diferenciam. O plane- jamento no âmbito educativo requer do planejador, nesse contexto o professor, muita reflexão acerca da intencionalidade: para que utilizar tecnologias em sala de aula? Por que utilizar tecnologias em sala de aula? Saviani (2002, p. 33) argumenta que refletir é o ato de retomar, reconsiderar os dados disponíveis, revisar, vasculhar, em uma busca constante de signi- ficado. Nem todo ato de pensar é reflexão; para ser assim considerado, deve seguir caminhos, caminhos esses no pensar sobre o processo educativo, pautados em: refletir, vasculhar, retomar, significar, focar, anali- sar e avaliar, sempre objetivando atender ao aluno em suas reais necessidades educativas, efetivando, assim, a práxis no fazer pedagógico: o agir, o refletir e o agir após essa reflexão. O referido autor afirma, ainda, que se o profes- sor não desenvolver uma capacidade de refletir em seu aspecto aprofundado – tome-se aqui o refletir como práxis, rigoroso e global –, suas possibilidades de êxito estarão diminuídas. Indo além, ressalta a importância do acompanhamento reflexivo e crítico da atividade educacional, de modo a explicitar os seus fundamen- tos, esclarecer a tarefa e a contribuição das diversas dis- ciplinas pedagógicas e avaliar o significado das solu- ções escolhidas. Com esse entendimento, o professor deve ser o planejador, o articulador do uso das tecno- logias no processo de ensino-aprendizagem, visto que ele é o responsável pela escolha, pela forma de aborda- gem e pela forma de mediação da aprendizagem. Suas escolhas refletem a compreensão e concepção que ele tem acerca da tecnologia educacional. Reiterando, é conforme esse professor concebe a tecnologia que ele realiza o planejamento. Com efeito, se pensarmos em ensino e aprendiza- gem, o enfoque está nele e não na tecnologia; o dife- rencial sempre estará em como o professor faz o uso dos meios. Sem a mediação do professor, os recursos não se configuram como pedagógicos, sequer como tecnologia educacional. 5. TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS COMO INSTRUMENTOS DE MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA Pensar acerca dos termos tecnologia e educação, educação e tecnologia e tecnologia na educação como tendo um mesmo objeto ou foco pode ser considerado um equívoco, descaracterizando toda a construção de significados e concepções, tendo-se que observar dessa maneira a importância e relevância no cuidado com o caráter epistemológico dos termos. Quando se aborda tecnologia e educação, a pri- meira palavra ganha um maior peso, sendo a educa- ção um pano de fundo. Na expressão “educação e tec- nologia” ocorre o inverso, porém ainda dicotômico, sem articulação educativa. Com isso, não se estabelece aqui uma análise terminológica para verificar qual dos termos retrata melhor o uso das novas tecnologias na educação, nem se objetiva aprofundar tais conceitos, mesmo porque se adotou neste artigo o conceito de tecnologia educacional, sendo esse característico do enfoque do processo de ensino e aprendizagem. Entre as tecnologias de forma geral e, também, as tecnologias educacionais, pode-se destacar, conforme Tajra (2001), as dependentes e as independentes. A primeira consiste em toda tecnologia dependente de eletricidade – sem ela, o processo não pode ocorrer, como rádio, televisão, computador etc.; a segunda, a todos os recursos didáticos que não necessitam da eletricidade, como livro didático, quadro de giz, car- tazes etc. O que irá diferenciar o uso, tanto de uma quanto da outra, é o modo como o professor faz uso desses recursos. Sem a mediação do professor, nenhum se configura como recurso pedagógico, muito menos como tecnologia educacional. Nesse sentido, pensando no livro didático, inves- timento governamental por meio do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), será que é possível afir- mar que o livro é uma tecnologia educacional, com base nos conceitos anteriormente tecidos? Sim, além do que esse livro se configura como uma tecnologia educacional de acesso universalizado. Entretanto, o livro por si só é capaz de alfabetizar ou construir um raciocínio lógico matemático sobre o sistema de numeração decimal, por exemplo? Ou, ainda, ele por si só é capaz de alfabetizar? Parece uma questão um tanto quanto hostil, sob a ótica de que a resposta possa parecer óbvia. Contudo, trocar a tecnologia educacio- nal livro didático pelo quadro de giz, um cartaz e/ou computador não garante a aprendizagem significativa e eficaz. O sentido de eficácia é aqui empregado, como afirma Masetto (2003), não pelo viés tecnicista ou da qualidade total, escola empresa, escola neoliberal, mas no sentido de buscar os melhores recursos para que a aprendizagem realmente aconteça, para que ocorra Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 12 o acompanhamento contínuo do aprendiz, motivan- do-o em direção aos objetivos educacionais, à possibi- lidade da interação à distância, à avaliação do processo e dos resultados da aprendizagem esperada, à reconsi- deração do relacionamento professor-aluno e aluno- -aluno. Considera, ainda, que a desvalorização da tec- nologia, bem como desses outros aspectosabordados, trouxe, muitas vezes, para o campo da educação, certo descompromisso com o processo de aprendizagem nos seus resultados e suas consequências na formação do homem e do cidadão do século XXI. Exemplificando o pensamento do autor, um qua- dro de giz configura-se como uma tecnologia, porém pode ou não ser um recurso de comunicação; estando sem preenchimento, configura-se como um simples material. Utilizado pelo professor, no contexto peda- gógico e educativo, transforma-se em recurso pedagó- gico – o foco está nos processos pedagógicos inovado- res, e não no artefato. Como utilizar o quadro de giz, a lousa eletrônica, de forma a inovar pedagogicamente? Reitera-se o papel do professor como articula- dor e mediador da aprendizagem, que é desafiado a cada aula, a cada demanda trazida por seus alunos e, portanto, ele necessita considerar os recursos tecno- lógicos sem deixar de lado o processo de ensino e de aprendizagem, não dicotomizando seu fazer pedagó- gico enquanto professor, estabelecendo relação entre educação e tecnologia. [...] a tecnologia apresenta-se como meio, como instrumento para colaborar no desenvolvimento do processo de aprendizagem. A tec- nologia reveste-se de um valor rela- tivo e dependente desse processo. Ela tem sua importância apenas como um instrumento significativo para favorecer a aprendizagem de alguém. Não é a tecnologia que vai resolver ou solucionar o problema educacional do Brasil. Poderá cola- borar, no entanto, se for usada adequadamente, para o desenvolvi- mento educacional de nossos alu- nos (MASETTO, 2003, p. 139). A mudança consiste na postura do professor, em seu fazer pedagógico, na forma como se compreende enquanto docente e compreende a educação. A sim- ples inserção das tecnologias acaba por reforçar ainda mais paradigmas ao invés de possibilitar a mudança, pois há necessidade de retomada teórico-epistemoló- gica acerca de todo esse movimento potencializado pelas tecnologias na escola. Como afirma Vasconcellos (1995), parece que se trata simplesmente de cap- tar o problema e colocar-se em ação para solucioná- -lo; é tudo “tão elementar”, para que ficar “perdendo tempo” com estudos, teorias, reuniões? “Vamos para a prática!”. “Se o problema é a metodologia passiva, basta fazer a metodologia ativa” e assim por diante. O resultado disso já é conhecido: uma grande empolgação inicial, a dificuldade de colocar em prá- tica (à medida em que não foram captadas as deter- minações fundamentais) e, finalmente, desânimo. O simples agir não dá conta de solucionar problemas na escola em relação às tecnologias educacionais, pois não é dotado de uma intencionalidade; para seguir em uma determinada direção, há que se articular o planejamento, fazendo o professor tomar consciência e superar o “achismo” do fazer pedagógico e trazê-lo para o conhecimento teórico-prático-reflexivo, e aqui o sentido do planejamento é resgatado como sendo o fundamento de todo o fazer pedagógico, sendo a escola, seus sujeitos e sua especificidade os pontos cen- trais de todo o processo, e não a tecnologia. Litwin (2001, p. 122) sustenta que a tecnologia educacional consiste no desenvolvimento de propos- tas de ação baseadas em disciplinas científicas que se referem às práticas de ensino que, incorporando todos os meios a seu alcance, dão conta dos fins da educação nos contextos sócio-históricos que lhes conferem significação. Assim, pode-se perceber a importância do papel do professor para qualquer mudança na escola, pois as mudanças e a qualidade do ensino passam pela percep- ção do professor de suas próprias concepções sobre a educação, o que acredita ser significativo para melho- rá-la, para depois analisar de que modo as tecnologias poderão auxiliar em suas práticas (GOMES, 2002). Mishra e Koehler (2006, 2008) alertam para a existência de uma tendência em se olhar somente para a tecnologia e não para como ela é usada no processo de ensino, e isso é um equívoco, pois é preciso pensar no objeto de conhecimento a ser ensinado, e em como esse ensino poderá ser facilitado ou não com o uso da tecnologia. Na teoria proposta pelos autores, um dos componentes de base de conhecimento para a docên- cia é justamente o conhecimento tecnológico peda- gógico do conteúdo. Este seria essencial ao professor, sendo uma forma de conhecimento que permite reco- nhecer possibilidades de ensino com a tecnologia e a estrutura primordial para uma boa prática. Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia 13Faculdade Educacional da Lapa - FAEL Nesse conhecimento estaria incluso o discerni- mento para reconhecer quais conteúdos seriam mais ou menos difíceis de ensinar com a utilização ou não de alguma tecnologia. Assim, há a reafirmação de que o professor ocupa papel primordial na seleção, ava- liação e análise para que a tecnologia seja aliada no processo de ensino, auxiliando no desenvolvimento do conteúdo e na aprendizagem do estudante. Com ou sem as tecnologias educacionais, o fazer pedagógico, a reflexão sobre sua prática, o planejamento e a articulação de todo esse pro- cesso cabem à instituição de ensino, ao professor, porém, não podem estar sozinhos: há necessidade de bases sustentadoras, bases essas garantidas por uma formação inicial plena e continuada, alicerçada em uma política de formação consistente. 6. MODALIDADES DE USO E ALGUNS RECURSOS DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS: O COMPUTADOR NO PROCESSO DE ENSINO PRESENCIAL E A DISTÂNCIA Vimos no texto anterior a importância de se pen- sar no uso pedagógico da tecnologia no processo de ensino e aprendizagem. No entanto, até a década de 1970 a tecnologia, neste caso, o computador, prin- cipalmente, era utilizado como máquina de ensinar em uma perspectiva instrucionista. Nesse modelo, se considera que a aprendizagem acontece quando há o reforço e a repetição. Assim, o programa de ensino e a prática do professor são praticamente os mesmos do modelo tradicional, com o computador, ou mesmo outros recursos, como vídeos, televisão e outros, ser- vindo apenas como meio de transmissão de informa- ções, com tutoriais e exercícios de teoria e prática. Seymour Papert (1998, 2008), defensor do uso de computadores na escola e pesquisador do Massa- chusetts Institute of Technology (MIT), criticou esse modelo de uso do computador pelas escolas e defen- deu o construcionismo, uma perspectiva derivada da teoria piagetiana. Na teoria construcionista de Papert, “o estudante constrói, por intermédio do computador, o seu próprio conhecimento. Desta forma, se olha a criança como um construtor, para isto é necessário oferecer matéria ao construtor” (TENÓRIO et al., 2017, p. 62). Esse é um processo cíclico, que pressupõe descrição-execução-reflexão-depuração (VALENTE, 1999; ALMEIDA, 2012) de ideias, buscando a reso- lução de problemas desafiadores para conteúdos que tenham significado para o estudante. Como vimos anteriormente, a escolha na moda- lidade de uso das tecnologias no processo de ensino e aprendizagem passa pela análise e reflexão do pro- fessor sobre suas concepções sobre a educação, a aprendizagem e sobre as formas de potencializá-las. E isso demanda o uso pedagógico da tecnologia e uma apreensão entre o modelo para a instrução ou para a construção. Aqui, é importante que você reflita sobre qual é a sua concepção sobre a aprendizagem dos estudantes. Recorde suas vivências na formação inicial e lembre-se das teorias da aprendizagem, da função da escola e da educação. Isso ajudará na aplicação dos conceitos até aqui estudados e no entendimento das formas de uso das tecnologias educacionais. Gomes (2002) apresenta algumas modalidades de uso das tecnologias em ambientes de aprendiza- gem construcionista que são interessantes para a dis- cussão aqui proposta. São elas: a programação ativa, a robótica pedagógica, os sistemas de autoria, os ambientes telemáticos, as modelagens e simulações e a solução de problemas. 2 Programaçãoativa: a programação per- mite ao estudante resolver situações-pro- blema e propor projetos de forma ativa. Pode-se, por exemplo, programar um jogo, um software ou um aplicativo de celular. No processo de programar o computador, o aluno dá os comandos para a máquina e ela o executa. Aqui, o estudante entende que ele é quem comanda e que a máquina ape- nas segue o que ele lhe ordena. Deste modo, é possível a compreensão da máquina como construção humana. Existem diversos softwares que permitem o trabalho com a programação com estudan- tes de diferentes idades e que podem agre- gar diversos conceitos. O primeiro deles foi criado por Papert – a linguagem LOGO7, a qual por meio de comandos simples per- mitia que os estudantes criassem projetos de diferentes disciplinas. Foi muito utilizada no campo da Matemática, mas suas possibili- dades de uso se estendem para os diferentes componentes curriculares. 7 https://projetologo.webs.com/slogo.html Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 14 Inspirada nessa linguagem e nos blocos de montar do Lego, em 2007 surgiu o Scratch8, por meio do projeto Lifelong Kindergarten, coordenado por Mitchel Resnick do Massa- chusetts Institute of Technology (MIT) Media Lab. Com o Scratch, professores e estudantes podem criar histórias interativas, animações, simulações, jogos e músicas. E esses projetos podem ser compartilhados na Internet. Outro software de programação que pode ser utilizado é o App Inventor9, o qual permite a programação de aplicativos para celular. O App Inventor foi desenvolvido pela Google, e é mantido pelo MIT. O desenvolvimento de projetos de aplicativos pode ser realizado em blocos, permitindo facilidade para quem não tem conhecimento prévio em programação, o que permite seu uso no processo de ensino. 2 Robótica pedagógica: nesta modalidade, os estudantes podem construir artefatos manipuláveis, controlados por programas de computador. Segue os mesmos princípios da robótica industrial e auxilia no desenvol- vimento do raciocínio e da lógica. Também pode ser utilizada nos diferentes componen- tes curriculares e com estudantes de diferen- tes faixas etárias. Para a criação dos projetos são necessários artefatos de eletrônica e softwares de pro- gramação. Para o uso no ensino, temos, por exemplo, o Lego-Logo, que se baseia em peças Lego, permitindo a montagem de dife- rentes objetos, como carros, máquinas e ani- mais e em comandos da linguagem LOGO para a programação dos objetos montados. Também, podemos citar a plataforma de hardware aberto Arduíno10, a qual permite a criação de objetos manipuláveis, que podem ser construídos com peças novas ou mesmo com sucatas. Podem ser construídos, por exemplo, carros, robôs, braços robóticos, esquemas de irrigação e uma infinidade de projetos e objetos. Sua programação pode ser feita pelo Scratch for Arduíno11 ou pela pró- pria Integrated Development Environment 8 https://scratch.mit.edu/ 9 https://appinventor.mit.edu/ 10 https://www.arduino.cc/ 11 http://s4a.cat/index_pt.html (IDE) do Arduíno, a qual também possibi- lita a programação por blocos de construção. 2 Sistemas de autoria: são softwares abertos que permitem a construção de materiais com recursos multimídia, como textos, hipertextos, animações, imagens, jogos e outros. Podem ser utilizados para a construção de homepages, jor- nais virtuais, materiais didáticos e outros. Como exemplos de sistemas de autoria temos o Wix12, no qual é possível a criação de sites; as plataformas de criação de Blogs, como o Blogger13, no qual professores e alunos podem escrever e publicar textos sobre dife- rentes temas; o Visual Class14, que é um pro- grama interativo multimídia, no qual o pro- fessor pode criar diferentes aplicações para uso no ensino; o Khoot15, uma plataforma que permite a criação de jogos de quizz, que podem ser criados tanto pelos professores como alunos, entre outros16. Todos esses softwares podem ser utilizados nos diferentes componentes curriculares e amplamente utilizados para o trabalho com a produção de textos em Língua Portuguesa, jogos de perguntas e respostas, animações e organização de materiais. 2 Ambientes telemáticos: permite a integra- ção de computadores em rede, possibilitando interações síncronas e assíncronas. Assim, é possível o acesso a bibliotecas digitais, chats, correio eletrônico, videoconferências, fóruns de discussão e muitos outros recursos. Esses recursos permitem que o espaço geográ- fico e a presencialidade física não sejam um limitador para a interação entre alunos e professores. São muito utilizados no ensino remoto e na Educação a Distância. Dentre esses ambientes, podemos citar os Ambien- tes Virtuais de Aprendizagem, como o Moo- dle, o qual será detalhado em um dos textos da sequência deste artigo, o Google Class- room17, entre outros. 12 https://pt.wix.com/ 13 https://www.blogger.com/about/?hl=pt-br 14 http://www.classinformatica.com.br/ 15 https://www.blogger.com/about/?hl=pt-br 16 No material complementar há uma lista de softwares e recursos que podem ser utilizados no ensino. Procure acessar os sites indicados e observar os recursos e as possibilidades que oferecem. 17 https://classroom.google.com/ Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia 15Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 2 Modelagem e simulações: nesses progra- mas computacionais é possível fazer experi- mentos, simulando situações ou fenômenos reais. Permitem que o estudante e o pro- fessor manipulem o fenômeno ou a situa- ção em simulação, de forma que recebem feedback imediato sobre sua intervenção e as consequências dela. Muitos exemplos podem ser citados, como os laboratórios virtuais e os jogos de administração de cida- des, por exemplo. 2 Resolução de problemas: esta modalidade de uso proposta por Gomes (2000), na ver- dade se enquadra na maioria das demais, pois se insere nos desafios que serão propos- tos aos estudantes dentro das outras formas e recursos que podem ser utilizados de forma construcionista. É importante lembrar que qualquer que seja a modalidade de uso, o conteúdo que o professor deseja trabalhar precisa estar aparente e a tecnologia deve facilitar o processo de aprendizagem. Como vimos, existem diferentes maneiras e recur- sos para uso da tecnologia em ambientes de aprendiza- gem construcionista, e essas diferentes formas podem ser analisadas pelos professores de qualquer que seja a área e a modalidade de ensino. Todas essas modali- dades podem ser utilizadas, tanto no ensino presen- cial quanto na educação a distância, pois é fato que em ambos é possível agregar atividades que envolvam recursos da tecnologia, como softwares, aplicativos e muitos outros dispositivos. 7. SOFTWARES EDUCATIVOS: CONCEITO E AVALIAÇÃO Você já ouviu falar em software educacional e software educativo? Eles não são sinônimos. Software educacional é qualquer software que possa ser utili- zado na educação, mesmo que não tenha sido desen- volvido para ser utilizado para fins de ensino. Pode- mos, por exemplo, utilizar editores de texto, planilhas eletrônicas, aplicativos, jogos, programas de autoria, entre outros em nossas aulas. Já o software educativo é um programa desenvol- vido especificamente para o trabalho educativo com conteúdos e didáticas que tendem a ser apropriadas para que alunos e professores tenham acesso a concei- tos e conhecimentos de determinadas áreas. O desenvolvimento de um software educativo se dá com o propósito de conduzir o aluno na construção de conhecimentos sobre determinado conteúdo didá- tico. De acordo com Lacerda (2007), algumas carac- terísticas são fundamentais em softwares educativos: a presença de uma fundamentação pedagógica atrelada a todo seu desenvolvimento; uma finalidade didá- tica, que tem a intenção de possibilitar a construção do conhecimento pelo aluno, de acordo com o currí- culo escolar; a permissão de interação entre o aluno e o software, que tende a ser mediadapelo professor; a facilidade de uso, pois é fundamental que se permita a qualquer usuário a capacidade de desenvolver ativida- des no software, sem a necessidade de conhecimentos computacionais avançados. O autor ainda destaca que o benefício de se utili- zar de softwares educativos, está relacionado à escolha que é permitida ao sujeito sobre qual assunto incor- porar, o ritmo a ser seguido e o momento propício para aprender, de acordo com suas possibilidades e seu ritmo de aprendizagem. Um software educativo pode ser muito útil para autodidatas e curiosos, ou, ainda, para o auxílio àqueles alunos que apresentam alguma dificuldade de aprendizagem, ampliando os limites da sala de aula. Mas como fazer a escolha de um software educa- tivo? Qual é o melhor software? Essas são perguntas que podem rondar sua mente neste momento. Por isso, é importante refletirmos sobre a avaliação de software. Valente (1999) apregoa que o computador pode constituir-se como importante contributo para acesso à informação e para favorecer a construção do conhe- cimento. No entanto, vale destacar que, a aprendi- zagem não está restrita “ao software, mas à interação do aluno-software” (VALENTE, 1999, p. 89). Nesse sentido, analisar os diferentes tipos de software contri- bui para a compreensão de suas dimensões didáticas e pedagógicas e de que maneira podem contribuir com a aprendizagem. Para a avaliação de um software, o professor pode se basear em alguns critérios, como: a base pedagó- gica e o conteúdo, o tipo do software e alguns aspectos técnicos. Para verificar a base pedagógica, o professor precisa verificar se ele possui uma base construtivista/ construcionista ou behaviorista/instrucionista. Tam- bém precisa estar atento ao conteúdo e como ele é abordado, tanto em aspectos de coerência dos concei- tos, quanto da adequação da abordagem para a faixa etária e o ano a que se destina. Aqui, é importante uma Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 16 atenção ao currículo e à forma de aprendizagem, de acordo com o público a que se destina. A classificação do tipo de software é outro aspecto importante na avaliação. Embora não seja recente, a classificação proposta por Valente (1999)18 pode aju- dar nesse processo. Para o autor, os softwares educa- tivos podem ser: tutoriais, aplicativos, programação, exercícios e prática, multimídia e Internet, simulação e jogos. Para o autor, cada diferente tipo de software pode favorecer com maior ou menor intensidade o processo de construção do conhecimento, e é isso que precisa ser avaliado na seleção de softwares para o pro- cesso de ensino-aprendizagem. Essas classificações podem ser aplicadas, tanto a softwares criados especificamente com fins educati- vos, quanto a outros tipos de software com possibi- lidade de uso no processo de ensino e aprendizagem, mesmo que não tenham sido desenvolvidos com essa finalidade. Tais classificações são úteis para uma aná- lise mais precisa dos componentes do software e suas possibilidades para a interação entre o aprendiz, a máquina e o conhecimento. Seguindo na avaliação do software, ainda é pre- ciso observar alguns aspectos técnicos, como a usa- bilidade, as telas e interfaces, as mídias empregadas, a adequação para a faixa etária etc. Para este compo- nente da avaliação, Amaral e Guedes (2005) apontam que podemos nos perguntar se o software: apresenta as instruções de forma clara; indica as possibilidades de uso; especifica os requisitos de hardware/software; é de fácil instalação e desinstalação; dispõe de ícone de ajuda ao usuário e se é de fácil navegação. Também podemos nos perguntar se: sua interface é adequada à faixa etária a que se destina; os ícones e menu são de fácil reconhecimento e entendimento; as funções são de fácil utilização e leitura; a quantidade de informa- ção, a linguagem são apropriadas para o público-alvo; a escrita é correta e sem erros ortográficos; as mensa- gens exibidas são explicativas e positivas; o tempo de resposta para as operações interativas é adequado; a animação, o som, as cores e outras mídias são agradá- veis; entre outras. São muitas perguntas, mas são necessárias para que possamos fazer a escolha adequada, colocando na balança os prós e contras de acordo com o conteúdo que pretendemos ensinar. Para exemplificar o uso de diferentes softwares e recursos da tecnologia, nos pró- ximos tópicos apresenta-se uma explicação mais deta- 18 Ver o texto completo do autor no Material Complementar. lhada de uso do AVA Moodle e, na sequência, uma aplicação prática do Scratch para um conteúdo de Língua Portuguesa. 8. OS AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E SUAS POSSIBILIDADES DE USO Os AVA se tornaram instrumentos importantes para os novos formatos educacionais na era digital, criando um aprendizado centrado no aluno, além de práticas educacionais que oferecem formatos mais fle- xíveis de aprendizado. Para Beluce e Oliveira (2012), esses recursos ofertam uma nova possibilidade educa- cional que viabiliza as condições de ensino e aprendiza- gem, tanto no ensino a distância quanto no presencial, além de implementar e ampliar as ações educativas. As ações do professor em um AVA podem estimular a construção pessoal e social do conhecimento por meio das intervenções e interações, permitindo avaliar tanto o plano dos conteúdos quanto a aprendizagem dos alunos (BISPO FILHO, 2009). Para Dillenbourg (2000), um AVA deve contar com um espaço de informações; permitir interações educacionais entre os participantes; ter um espaço de informação detalhado, contando com diferentes for- mas de apresentação dos conteúdos; possibilitar o pro- tagonismo dos alunos, permitindo que eles construam o ambiente; e não deve ser entendido como ferramenta para a educação a distância, pois pode enriquecer as atividades da sala de aula presencial em qualquer nível de ensino. Essas características sugerem que os AVA são espaços de cooperação mútua em que os alunos podem construir seu conhecimento em colaboração com outros colegas e com o professor. Entretanto, vale lembrar que as atividades propostas e realizadas em um AVA requerem “a estruturação e aplicação de um planejamento que vislumbre suas especificidades edu- cacionais” (BELUCE; OLIVEIRA, 2012, p. 4). Esse planejamento precisa estar de acordo com estratégias de ensino que primem pelo alcance dos objetivos edu- cacionais, pela construção de conhecimentos e pela construção da aprendizagem pelo estudante, como já discutimos nos tópicos anteriores. Nos últimos anos, as tecnologias para a estrutura- ção de ambientes virtuais de aprendizagem têm evolu- ído, e o mais importante está no fato de muitas das pla- taformas para estruturação de AVA serem open source, Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia 17Faculdade Educacional da Lapa - FAEL ou seja, softwares livres, não sendo necessário comprá- -los. Isso é fundamental quando se está falando, prin- cipalmente, de educação pública e mesmo particular, visto que os custos da maioria das tecnologias e licen- ças para seu uso ainda não são acessíveis. Pode-se citar como exemplo de softwares livres para estruturação de ambientes virtuais de aprendiza- gem: o Moodle19, o Dokeos20 e o Teleduc21. Esses sof- twares podem ser instalados no servidor da escola ou da rede de ensino; também podem ser utilizados pelo professor de forma online. Os AVA podem ser utilizados por professores e estudantes, desde a Educação Infantil até a formação superior e a pós-graduação. No entanto, deve-se sem- pre considerar sua estruturação para atender a reali- dade de cada nível de ensino. Quando se menciona a realidade, é pensar nas características e necessidades educativas de cada faixa etária, para então planejar a forma, as cores, as ferramentas de comunicação, as fer- ramentas para atividades que levarão à aprendizagem de forma individual, de forma colaborativa, como os alunos serão avaliados e como receberão a devolutiva dessa avaliação.Além de serem utilizados por diferentes níveis de ensino, os AVA também podem ser utilizados para a educação a distância e para a educação presencial. O pesquisador Tori (2002) tem defendido em suas pes- quisas a convergência das tecnologias inicialmente criadas para a educação a distância para a educação presencial, de forma a aprimorar as possibilidades de aprendizagem. Ou seja, não é preciso promover educa- ção a distância para alunos da educação infantil, fun- damental ou médio, mas pode-se pensar nas potencia- lidades desses ambientes para cada um desses níveis. Nesse sentido, encontra-se a importância da escolha de plataformas pelas instituições de ensino ou de formação, visto que a concepção, a estrutu- ração e a organização dos AVA devem garantir os requisitos descritos por Schlemmer (2005), requisi- tos esses para além de uma mera disponibilização de ferramentas de comunicação. Até porque, a arquitetura dos AVA deve possi- bilitar a interação e a interatividade entre os sujeitos, tendo como base a estruturação e disponibilização de ferramentas que, em potencial, viabilizam a comuni- cação síncrona e assíncrona. O papel dos formadores e 19 http://moodle.org/ 20 http://www.dokeos.com/ 21 http://teleduc.nied.unicamp.br/ o desempenho dos alunos trabalhando em ambientes virtuais são fatores essenciais na construção de uma aprendizagem baseada na colaboração. Importa destacar que a aprendizagem colaborativa con- siste na capacidade de promover uma aprendizagem mais dinâmica por meio do estímulo, do pensa- mento crítico, da capacidade de interação e da resolução de pro- blemas. Esse tipo de aprendizagem proporciona um estreitamento das interações sociais entre os mem- bros do grupo e permite uma maior autonomia da construção do conhecimento individual (ISHI- KAWA, 2018, p. 47). Esse tipo de aprendizagem pode ser fundamen- tado tanto em ambientes de ensino presenciais quanto a distância. Quando se faz o uso de uma tecnologia para o fomento a essa aprendizagem, há uma ramificação da teoria, a Aprendizagem Colaborativa Apoiada por Computadores (CSCL), a qual estuda como as pessoas podem aprender em grupo com o auxílio do computa- dor. Para Ishikawa (2018, p. 50), a CSCL utiliza as mesmas estraté- gias educativas e dispõe de recursos computacionais como ferramen- tas mediadoras do processo de ensino-aprendizagem do grupo. O suporte dado pelo computa- dor à aprendizagem colaborativa, por meio dessas ferramentas, visa melhorar a dinâmica entre os membros do grupo, possibilitando aos mesmos alcançarem objetivos mais ricos em conteúdo, na medida em que reúne propostas e soluções de vários alunos do grupo, o que incentiva o compartilhamento de informações e a responsabilidade sobre sua veracidade. É nessa perspectiva que as atividades em um AVA precisam ser propostas, de forma a contribuir para que os estudantes aprendam em colaboração com seus colegas. Nesse sentido, Mercado e Silva (2007) consi- deram que os AVA apresentam vantagens para se colo- car em prática a possibilidade de os sujeitos de apren- dizagem explorarem simultaneamente diversificadas mídias. Dentre as vantagens, estão, Independência geográfica do aluno, possibilidade que especialis- tas e professores de qualquer lugar participem de forma remota; Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 18 Flexibilidade temporal no processo de ensino e aprendizagem; Integração das possibilidades mul- timídia da internet e flexibilização na combinação dos meios; Aprendizagem ativa por parte do aluno; Autoavaliação on-line do aluno; Edição por parte de materiais aber- tos e facilmente atualizáveis; Grupos de discussões (MER- CADO; SILVA, 2007, p. 179). Além das vantagens da utilização dos AVA, é importante se conhecer as principais ferramentas dis- ponibilizadas, com vistas ao trabalho colaborativo e cooperativo. A maioria das plataformas desenvolvidas para a estruturação de AVA apresenta ferramentas de trabalho semelhantes. Aqui, trataremos mais especifi- camente das ferramentas e possibilidades do Moodle, por entender que é amplamente utilizado nos cursos de educação a distância e por ser de livre acesso. O Moodle foi desenvolvido por Martin Dougia- mas, em 2001. Segundo Pereira (2015), a proposta da plataforma segue a abordagem construtivista e foi pensada de forma que os cursos nela ofertados per- mitissem a apropriação de conhecimentos pelos estu- dantes. Assim, o Moodle oferece ferramentas que per- mitem a interação, tanto individual quanto coletiva, permitindo a troca de conhecimentos entre estudan- tes e professores. No Quadro a seguir, é possível observar algumas das ferramentas de interatividade22 do Moodle. Quadro 2 – Ferramentas de interação do Moodle Ferramenta de interação Funcionalidade Wiki Permite a criação de documentos coletivos (grupos de alunos). Diário Ferramenta de edição de texto na qual os estudantes podem fazer anotações individuais e o profes- sor pode fazer anotações que pos- teriormente são recebidas pelos cursistas (feedback). 22 Estas são apenas algumas das ferramentas e possibilidades de uso que o Moodle apresenta. Para saber mais sobre as ferramentas e seu uso pedagógico, é importante consultar no material complementar o arquivo “Moodle_GuiaParaPro- fessores”, ou, ainda, consultar o link: https://elearningsupport-moodle.myblog.arts. ac.uk/files/2016/06/Moodle-Tool-Guide-for-Teachers.pdf Ferramenta de interação Funcionalidade Chat Ferramenta síncrona que permite a comunicação em tempo real. Tarefa Ferramenta na qual o professor pode descrever uma atividade para ser desenvolvida pelo estudante. A atividade pode ser entregue digital- mente na plataforma. Fórum Ferramenta de comunicação assín- crona, na qual podem ser postadas informações e dúvidas e, também, podem ser realizadas discussões sobre assuntos referentes ao conte- údo ou tema de estudo. Fonte: elaboração própria com base em Pereira (2015). Com esses recursos, é possível criar cursos com- pletos ou organizar apenas uma disciplina, com posta- gem de materiais, tarefas e discussões sobre os temas. Na pesquisa de Pereira (2015), por exemplo, o pes- quisador utilizou a plataforma para a aplicação de um curso de formação continuada de professores na moda- lidade EaD. O curso ocorreu durante três meses e os participantes eram professores de Matemática. Foram utilizadas as ferramentas de tarefas para organizar pro- postas de trabalho individuais e coletivas. O pesquisa- dor também organizou fóruns de discussão, conversas em tempo real no chat e outras ferramentas que permi- tiram a interação entre os participantes e o pesquisador. O curso também contou com alguns momen- tos presenciais, porém a maior parte da carga horária foi realizada na plataforma. Os encontros presenciais ocuparam vinte e quatro horas, e o restante da carga horária total de cem horas ocorreu a distância, entre encontros síncronos, assíncronos e de tempo para estudos individuais. Em suas análises sobre o curso realizado, Pereira mostra as falas dos professores sobre diferentes aspec- tos do curso. Um deles é direcionado à questão da fle- xibilização do tempo na proposta realizada à distância. A seguir são apresentadas algumas dessas falas: Bem, inicialmente gostaria de des- tacar que só fiz este curso porque estou no PDE, caso contrário creio que não teria tempo hábil para frequentar as aulas e os chats nos sábados nem resolver as atividades EAD, caso este curso fosse total- Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia 19Faculdade Educacional da Lapa - FAEL mente EAD teria dificuldades em resolver os exercícios e até formular o que foi aplicado (P3M3). [...] temos maior disposição para fazer Ead porque trabalhamos [...] Por realizar as atividades em horá- rios alternativos, as vezes perco o sono e leio de madrugada (P2C3). [...] principalmente em ler e reali- zar as atividades em horários esta- belecidos por mim (P4C3). [...] as vantagens são muitase entre elas destaco: custos reduzidos, materiais didáticos igual ao presen- cial, autonomia nas atividades e na administração do tempo de estudo, Metodologia inovadora, acesso ao Ambiente Virtual de Aprendi- zagem de qualquer lugar, como é meu caso hoje, Interatividade entre nós quanto alunos e o professor tutor (P3C3). [...] facilita com relação aos horá- rios flexíveis (P5C3). [...] economia, flexibilidade de horários, etc... (P1C3) (PEREIRA, 2015, p. 119). Nota-se que a proposta foi facilitadora para a participação de muitos dos professores e essa é uma vantagem bastante positiva que é permitida nos AVA. O estudante decide qual o melhor horário para seu estudo e assim pode gerenciar seu tempo e espaço para isso. Além disso, nos relatos anteriores, percebem-se indícios da interatividade, mesmo em um ambiente sem presencialidade. As ferramentas interativas contri- buíram para a aprendizagem coletiva dos estudantes e isso pode ser afirmado na fala a seguir: Nos encontros presenciais, o con- tato físico com o professor e os colegas me ajudava a clarear as ideias e dúvidas. Nos encontros virtuais, através dos chat´s e dos fóruns tínhamos a oportunidade de manusear as tecnologias ofer- tadas. Enfim, foi através da junção destes dois mecanismos de apren- dizagem (presencial e virtual), que pude entender, aprender, aplicar e desenvolver meu conhecimento de forma concreta sobre o assunto “Modelagem Matemática” (P1M3) (PEREIRA, 2015, p. 120). Nesse sentido, a pesquisa de Pereira (2015) reitera que mesmo em ambientes virtuais é possível que haja interação e que a aprendizagem colaborativa se faça presente, facilitando a aquisição de conhecimentos e a troca de informações e experiências entre os estudantes. Outro ponto a ser destacado é que o pesquisa- dor atuou intensamente como professor formador no ambiente, organizando tarefas e fomentando as discus- sões. Na fala a seguir, é possível perceber como se deu esse processo interativo e mediador com os estudantes: Quanto as atividades, percebi o quanto é enriquecedor o traba- lho em equipe e o quanto o peso que a intervenção do professor instigando, argumentando, cons- truindo o conhecimento, assume uma importância fundamental na análise e compreensão dos conteú- dos, as dificuldades surgiram, eram comum a alguns ou não, porém o professor não as respondeu de imediato, levou-nos a pensar e concluir, bem como nas atividades individuais feitas nos encontros virtuais o professor nos leva sempre a refletir (P3M2). Nesse comentário, é possível perceber a mediação pedagógica e o incentivo à reflexão. Como vimos ante- riormente, o uso pedagógico de qualquer que seja a ferramenta de tecnologia utilizada é fundamental para que haja contributo para a aprendizagem do estudante. De acordo com Belloni (2003), para fazer frente a essas novas práticas pedagógicas, o professor terá necessidade muito acentuada de atualização constante, tanto em sua disciplina específica, quanto em relação às metodologias de ensino e novas tecnologias. A rede- finição do papel do professor é crucial para o sucesso dos processos educacionais presenciais ou a distância. Sua atuação tenderá a passar do monólogo sábio da sala de aula para o diálogo dinâmico dos laborató- rios, salas de meios, e-mail, telefone e outros meios de interação mediatizada; do monopólio do saber à construção coletiva do conhecimento, por meio da pesquisa; do isolamento individual ao trabalho em equipes interdisciplinares e complexas; da autoridade à parceria no processo de educação e para a cidadania. Para finalizar, é importante destacar que a prá- tica apresentada por Pereira (2015) ocorreu com pro- fessores em processo de formação continuada, mas salienta-se que em qualquer etapa de ensino é possível utilizar um AVA, sendo que podem ser realizadas pro- postas que os agreguem nos ambientes presenciais e no ensino remoto. Faculdade Educacional da Lapa - FAEL 20 9. O SOFTWARE DE PROGRAMAÇÃO SCRATCH E POSSIBILIDADES DE USO NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA O Scratch é um programa de computador (sof- tware) de programação que permite o ensino da pro- gramação, mas que também pode ser utilizado para o ensino dos mais diversos objetos de conhecimentos dentro das unidades temáticas dos diferentes com- ponentes curriculares. De acordo com Tenório et al. (2017), o nome representa seu símbolo (personagem) e sua linguagem gráfica de programação. O Scratch começou a ser desenvolvido em 2003, no projeto Lifelong Kindergarten coordenado por Mitchel Resnick do MIT Media Lab e foi publicado no ano de 2007. Como podemos perceber, é um sof- tware que já possui um tempo de existência de mais de uma década e nem sempre é conhecido por professores ou mencionado nos cursos de formação. Tenório et al. (2017, p. 63) apontam como poten- cialidades do Scratch: liberdade de criação, criatividade; comunicação e compartilha- mento; aprendizagem de concei- tos escolares, partindo de projetos livres e não escolarizados; mani- pulação de multimídia; compar- tilhamento e colaboração através da Internet, que permite abrir pro- jetos de outros, reutilizar, adaptar e divulgar as criações; integração de objetos do mundo físico. A programação nesse software é feita por meio de blocos de construção, em um processo de arras- tar e soltar. Conforme vão sendo posicionados, os blocos formam pilhas, com sequências ordenadas, ou seja, com a sequência lógica de seguimento do programa. A Figura 1 apresenta a tela inicial do pro- grama e os componentes para realização do código de programação. Figura 1 – Tela inicial do Scratch Fonte: Scratch (2021). Podemos observar as diferentes categorias para a programação. A categoria comandos (Figura 1 – 1) é separada por cores (nos círculos). Para cada categoria (movimento, som, aparência, eventos etc.), existem os blocos de comando (Figura 1 – 2). Os blocos de comando são arrastados para o painel (Figura 1 – 3); com isso, o resultado do código construído aparece no palco (Figura 1 – 4). Outros objetos e personagens e podem ser encontrados na seção dos sprites (Figura 1– 5). De acordo com Tenório et al. (2017), algumas categorias e blocos são mais utilizadas que outras. Para exemplificar, na Figura 2, podemos verificar uma cons- trução simples que tem como intuito movimentar o personagem na tela. Apresenta alguns comandos (blo- cos de construção) e um exemplo de utilização cuja finalidade é movimentar o personagem na tela. Possibilidade de Práticas a partir dos Recursos da Tecnologia 21Faculdade Educacional da Lapa - FAEL Figura 2 – Exemplos de blocos de construção: a) eventos; b) movimento; c) controle; d) exemplo de um programa construído com blocos de construção Fonte: Scratch (2021). Na Figura 2-b podemos observar que há uma sequência de passos que conta uma história sobre como o programa funciona. Com este exemplo, pode- mos observar alguns conceitos da programação sendo tratados, como estruturas de repetição (loops), estru- turas de condição, movimento, tempo, entre outros. Os princípios que norteiam o Scratch e sua inspi- ração na linguagem LOGO permitem a aplicação do construcionismo defendido por Papert, como vimos nos tópicos anteriores. Por isso, sua aplicação no ensino é de grande utilidade para os mais diferentes objetos de conhecimento. Na pesquisa de Brocado e Hornink (2020)23, é possível perceber as emoções positivas envol- vidas nos processos de criação no software. Os autores tentaram compreender como alunos, ao construírem narrativas digitais no Scratch, apropriavam-se do gênero e as relações afetivas envolvidas nesse processo. A pes- quisa foi realizada com alunos dos anos finais do Ensino Fundamental em aulas de Língua Portuguesa. Em seus resultados, os pesquisadores descobriram indícios da predominância de emoções positivas durante as aulas 23 Veja a pesquisa completa em: http://rbep.inep.gov.br/ojs3/index.php/rbep/ article/view/3813 e afirmam que a presença
Compartilhar