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Indaial – 2020 Mecânica dos solos avançados e introdução a obras da terra Prof. Luís Urbano Durlo Tambara Júnior 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Luís Urbano Durlo Tambara Júnior Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: J95m Júnior, Luís Urbano Durlo Tambara Mecânica dos solos avançados e introdução a obras da terra. / Luís Urbano Durlo Tambara Júnior. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 203 p.; il. ISBN 978-65-5663-019-9 1. Mecânica dos solos. - Brasil. 2. Fundações (Engenharia). – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 624.15136 III apresentação Na natureza, o solo é essencialmente constituído por duas fases: a sólida e a fluída, sendo a última formada por líquidos e gases. Os espaços ocupados pela fase fluída, água e ar são denominados vazios. Na Engenharia Civil, o solo é de grande importância, pois nele que são elevadas as construções e fundações, e depositados todos os esforços de uma obra. Em processos de Engenharia Civil, conhecer o conceito de mecânica de solos pode ser usado como recurso para construções mais seguras, uma vez que ao conhecer o solo em que se constrói saberemos suas propriedades resistivas. Os solos não são compostos homogêneos e necessitam de estudos no local para sua identificação. Sua formação ocorre através do intemperismo das rochas (processo de deterioração através da ação do tempo). No Brasil, devido ao clima quente e úmido, ocorre com maior frequência o intemperismo químico, processo que transforma em solo a rocha através de alteração dos processos químicos, solubilizando e depositando seus minerais (ORTIGÃO, 2007). Na Unidade 1, estudaremos os diferentes conceitos de pressões e tensões existentes nos diferentes tipos de solo. Compressibilidade, ou seja, a capacidade que o solo tem de diminuir seu volume sob ação de cargas e adensamento, a capacidade de recalque dos solos quando submetidos a determinada sobrecarga. Na Unidade 2, estudaremos as propriedades de resistências dos diferentes tipos de solos, os conceitos de resistências aplicados a solos, apresentando os métodos de cálculos de círculo de Mohr, resistência de atrito e coesão e os ensaios para determinação de resistências nos solos. Na Unidade 3, estudaremos o equilíbrio de maciços de terra, trazendo definições de empuxos ativos, passivo. Condições de estabilidades dos muros de arrimo. Emprego de estacas pranchas. E estudaremos os mecanismos de estabilização de taludes. Neste livro didático, são apresentados conteúdos abordados por autores importantes na área de Mecânica de Solos e Obras da Terra como Homero Pin Caputo, Milton Vargas entre outros de grande importância na evolução do tema. Faremos uso também do conhecimento de autores antigos como Terzaghi, denominado “pai da mecânica dos solos”, além de outros que conseguiram desenvolver um material mais acessível para o avanço desta ciência. Prof. Luís Urbano Durlo Tambara Júnior IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA .......................................................................................................................1 TÓPICO 1 – CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS ...............................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 PRESSÕES E TENSÕES NOS SOLOS ...............................................................................................3 2.1 CONCEITO DE TENSÕES NUM MEIO PARTICULADO ..........................................................4 2.2 TENSÕES DEVIDAS AO PESO PRÓPRIO DO SOLO .................................................................6 2.3 PRESSÃO NEUTRA E CONCEITO DE TENSÕES EFETIVAS ..................................................7 2.4 AÇÃO DA ÁGUA CAPILAR NO SOLO........................................................................................9 2.5 TENSÃO DEVIDO APLICAÇÃO DE CARGA ...........................................................................11 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................24 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................25 TÓPICO 2 – COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS.........................................................................27 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................27 2 O TURÍSTICO CASO DA TORRE DE PISA (GERSCOVICH, 2008) .........................................28 3 FATORES QUE DETERMINAM A COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS .............................32 3.1 ENSAIOS PARA PROPRIEDADES DE COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS ......................33 3.2 COMPRESSIBILIDADE DE SOLOS ARENOSOS .......................................................................39 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................41 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................42 TÓPICO 3 – ADENSAMENTO DOS SOLOS ....................................................................................43 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................43 2 PROCESSO DE ADENSAMENTO – SOLOS FINOS SATURADOS – ARGILAS MOLES .....43 3 TABELA DO FATORTEMPO EM FUNÇÃO DO GRAU DE ADENSAMENTO ....................48 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................56 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................66 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................67 UNIDADE 2 – MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA ......................................................................................................................69 TÓPICO 1 – RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DOS SOLOS ...............................................71 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................71 2 RESISTÊNCIA DOS SOLOS ..............................................................................................................71 2.1 TENSÕES EM UM PLANO GENÉRICO ......................................................................................75 2.2 CÍRCULO DE MOHR ......................................................................................................................75 2.3 RESISTÊNCIA DOS SOLOS: ATRITO E COESÃO ........................................................80 3 ATRITO ..................................................................................................................................................80 3.1 COESÃO ............................................................................................................................................81 3.2 CRITÉRIOS DE RUPTURA (MOHR-COULOMB) ...........................................................83 3.3 ENSAIOS PARA DETERMINAÇÃO DA RESISTÊNCIA DE SOLOS .....................................85 suMário VIII RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................86 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................87 TÓPICO 2 – RESISTÊNCIAS DAS AREIAS ......................................................................................89 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................89 2 COMPORTAMENTO TÍPICO DAS AREIAS .................................................................................90 2.1 AREIAS FOFAS ...............................................................................................................................90 2.2 AREIAS COMPACTAS....................................................................................................................90 3 ÂNGULO DE ATRITO DAS AREIAS ..............................................................................................92 4 ESTUDOS DA RESISTÊNCIA DAS AREIAS POR MEIO DE ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO E COMPRESSÃO TRIAXIAL ........................................................95 4.1 ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO ....................................................................................95 4.2 ENSAIO DE COMPRESSÃO TRIAXIAL......................................................................................99 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................104 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105 TÓPICO 3 – RESISTÊNCIAS DOS SOLOS ARGILOSOS ...........................................................107 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107 2 INFLUÊNCIA DA TENSÃO DE PRÉ-ADENSAMENTO NA RESISTÊNCIA DAS ARGILAS ..............................................................................................................................................108 3 RESISTÊNCIA DAS ARGILAS EM TERMOS DE TENSÕES EFETIVAS ..............................108 4 RESISTÊNCIA DAS ARGILAS EM ENSAIO DE ADENSAMENTO RÁPIDO ....................111 5 TRAJETÓRIA DE TENSÕES ............................................................................................................113 6 EXEMPLO DE TRAJETÓRIA DE TENSÕES (MARANGON, 2018) ........................................115 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................118 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................132 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................133 UNIDADE 3 – MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA ...................................................................................................................135 TÓPICO 1 – EQUILÍBRIO DE MACIÇOS DE TERRA ..................................................................137 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................137 2 DEFINIÇÃO DE EMPUXOS: EM REPOUSO, ATIVO E PASSIVO ........................................137 3 TEORIA DE RANKINE E COULOMB: SOLOS COESIVOS E NÃO COESIVOS ................142 3.1 TEORIA DE RANKINE ................................................................................................................142 3.1.1 Rankine em Estado de Empuxo Ativo: ..............................................................................143 3.1.2 Rankine em Estado de Empuxo Passivo: ..........................................................................144 3.1.3 Em estado de sobrecarga no terrapleno ............................................................................146 3.1.4 No caso de considerar solo coesivo ....................................................................................147 3.2 TEORIA DE COULOMB ...............................................................................................................151 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................156 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................157 TÓPICO 2 – MUROS DE ARRIMO E CORTINAS DE ESTACAS-PRANCHA ........................159 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................159 2 ESTRUTURAS DE ARRIMO ...........................................................................................................159 2.1 TIPOS DE MUROS .........................................................................................................................159 2.2 ESTABILIDADE DE MUROS DE ARRIMO ...............................................................................163 3 ESTACA-PRANCHA .........................................................................................................................172 3.1 ESTACAS DE MADEIRA E CONCRETO ARMADO ..............................................................173 3.2 ESTACAS METALICAS ................................................................................................................173 IX RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................178 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................179TÓPICO 3 – ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES ................................................................................181 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................181 2 TALUDES .............................................................................................................................................181 2.1 CORTE E ATERRO ........................................................................................................................182 2.2 PARTES DE UM TALUDE ............................................................................................................182 2.3 ESCORREGAMENTO DEVIDO À INCLINAÇÃO ..................................................................185 2.4 ESCORREGAMENTOS POR PERCOLAÇÃO DE ÁGUA .....................................................186 3 MÉTODOS DE ESTABILIDADE.....................................................................................................186 3.1 MÉTODO DO TALUDE INFINITO ............................................................................................187 3.2 MÉTODO DE CULMANN ...........................................................................................................190 3.3 MÉTODOS QUE ADMITEM SUPERFÍCIES DE RUPTURA CIRCULAR .............................192 3.4 MÉTODOS DAS CUNHAS ..........................................................................................................194 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................196 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................199 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................200 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................201 X 1 UNIDADE 1 MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar os conceitos de tensões aplicadas aos solos; • definir a importância da presença da água em diferentes tipos de solos; • apresentar as propriedades de compressibilidade e adensamento dos solos; • conhecer, identificar e calcular os esforços que ocorrem em um solo em suas diferentes camadas. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS TÓPICO 2 – COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS TÓPICO 3 – ADENSAMENTO DOS SOLOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 1 INTRODUÇÃO Neste primeiro tópico, estudaremos os conceitos avançados de mecânica dos solos, relacionando as tensões que ocorrem dentro do solo e trazendo um entendimento de como se comporta o solo em determinadas ações de carga. Estudaremos os efeitos da ação da água em solos, assim como as diferentes tensões que ocorrem devido carga em solos, verificando os métodos existentes de distribuição de tensão utilizados para calcular as resistências dos solos, como exemplo o Método de Boussinesq e o Método de Newmark. 2 PRESSÕES E TENSÕES NOS SOLOS Quando elaboramos um projeto de obra, devemos pensar inicialmente qual o tipo de solo que construiremos e qual sua capacidade de pressão. A partir daí se decide qual tipo de fundação utilizaremos para executar a obra, para que não seja excedida a capacidade de resistência do solo. Um projeto mal elaborado de capacidade do solo pode resultar em sua deformação, causando recalques de edifícios e, em casos extremos, resultando em seu tombamento. Tendo em vista essa informação, introdutoriamente devemos entender que existem diversos tipos de pressões que podem ocorrer em solos antes que exista um carregamento próprio de um edifício, devido ao peso próprio do solo e tensões neutras (por conta da presença de água). Quando há presença de carregamentos estruturais aplicados, essa tensão recebe o nome de pressão induzida. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 4 2.1 CONCEITO DE TENSÕES NUM MEIO PARTICULADO Inicialmente, devemos ter claro que tensões são esforços que ocorrem em uma área determinada e que aqui nesta disciplina o solo compõe a área. Esse solo é um material composto por duas fases: sólida e fluida, sendo a última constituída por água e ar. Vargas (1977), tendo em vista que nem todo solo é igual, apresenta a existência de solos com granulometria diferentes, a transmissão dos esforços está dependente da dimensão dos grãos ou tipo de solo, sendo: • Para partículas maiores (como as areias ou pedregulhos): ocorre através de contato entre as superfícies dos grãos. • Para partículas argilosas: devido a sua baixa granulometria, as forças de contato dos grãos são pequenas, podendo ocorrer transmissão de esforços através de água quimicamente adsorvida. A água pode estar presente no solo de diferentes formas (LEEPER; UREN, 1993): • Água adsorvida: é aquela que está presente na superfície da partícula de um solo sob a influência de forças de atração molecular, sendo necessárias altas temperaturas para sua remoção. • Água de constituição: é a que compõe a estrutura do material. • Água higroscópica: uma quantidade de água que se encontra envolta do grão e não pode ser removida na temperatura ambiente, sendo necessário fazer uso de uma estufa. • Água livre: é a água que se encontra solta, livre do grão, e não há ligação nenhuma. Essa conseguimos retirar na temperatura ambiente. • Água capilar: é a água capaz de aderir a uma superfície por tensão superficial. IMPORTANT E Vamos nos atentar à figura seguinte, em que Pinto (2006) representou através de uma imagem com dois planos a transmissão de tensões de um solo em aspecto microestrutural. Sabemos que essa representação ocorre de maneira simplificada, uma vez que os esforços em maneira real atuam em três dimensões (x, y e z). Observamos que cada grão realizaria um esforço (F) com ângulo variável ao entrar em contato com outra superfície. Esse esforço parte do centro de gravidade de cada partícula e pode ser decomposto em esforços normais (N) e cisalhantes ou tangenciais (T) ao plano. O esforço normal é a decomposição perpendicular ao plano da força atuante do grão. O esforço cisalhante (T), por sua vez, é o esforço tangencial ao plano em que está aplicada a força. TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 5 O plano Q apresenta a superfície real em que ocorrem os contatos das partículas, entretanto, é muito ineficiente modelar matematicamente cada contato entre grão de um solo. Para a mecânica dos solos, podemos fazer uso de uma simplificação através do conceito de tensões em meio contínuo. FIGURA 1 – ESQUEMA DE CONTATO ENTRE GRÃOS FONTE: Pinto (2006, p. 95) Portanto, se somarmos todas os esforços normais que ocorrem em determinado solo e dividirmos pela área total de contato (Eq. 1), obtemos a tensão normal definida como σ . Assim também podemos obter a tensão cisalhante τ , visto na (Eq. 2), através divisão da somatória de esforços cisalhantes (T) pela área de atuação. ( ) ( )N T Eq. 1 Eq. 2 área área σ τ∑ ∑= = Para casos práticos de mecânica dos solos são desprezadas as influências da tensão cisalhante, uma vez que estatisticamente elas se anulam. Agora que já temos por definido os conceitos dos estados de tensão, podemos abordar de maneira mais aprofundada os tipos de tensões que ocorrem no solo. De maneira a salientar outras aplicaçõesmatemáticas para execução em solos, Ortigão (2007) aborda que é possível fazer uso de conceitos vistos em Mecânica dos Meios Contínuos e Resistências de Materiais para conhecer as tensões em qualquer ponto de massa de um solo. Na figura a seguir está representado um plano cartesiano com três eixos e a decomposição de uma carga nesses eixos. Haverá tensões normais segundo esses três planos que passam pelo ponto mencionado: σx, σy e σz, sendo necessária a execução de arranjos matriciais. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 6 FIGURA 2 – TRÊS PLANOS ORTOGONAIS E A DECOMPOSIÇÃO DAS TENSÕES NORMAIS E CISALHANTES EM TRÊS PLANOS FONTE: Adaptado de Ortigão (2007) 2.2 TENSÕES DEVIDAS AO PESO PRÓPRIO DO SOLO Refletiremos um pouco sobre o efeito do peso próprio. No momento em que subimos em uma balança para conferir nossa massa, acabamos exercendo certa força sobre ela, que dependendo de seu dispositivo de funcionamento nos apresentará quanto “pesamos”. Sabemos então que a plataforma em que essa massa se encontra precisa resistir ao nosso peso, se não ela se romperia. Com os solos ocorre o mesmo. Vamos levar em consideração um exemplo, visto na figura seguinte, de um solo que se apresenta seco e que é constituído por dois tipos diferentes solos: uma areia fofa até 4 metros de profundidade seguido de pedregulho entre 4 e 6 metros de profundidade. As densidades de cada tipo de solo (γn) são apresentadas na figura. A tensão calculada do peso próprio na profundidade de 6 metros é calculada através da somatória de tensões multiplicada por cada espessura de solo, sendo para estes casos adotado a Eq. 3. FIGURA 3 – TENSÕES DEVIDO AO PESO PRÓPRIO DO SOLO FONTE: Adaptado de Pinto (2006) TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 7 Os valores calculados são apresentados no diagrama de tensões visto na direita da figura e se verifica uma tensão normal de 64 kPa na profundidade de 4 metros (final da faixa de areia do solo) e uma tensão de 106 kPa para uma profundidade de 6 metros. Esse exemplo representa a forma mais básica em que podemos encontrar um solo, uma vez que há facilidade do ingresso de água no solo. ( ) . 3 n n n V área altura altura Eq área área γ γ σ γ × × × = = = × 2.3 PRESSÃO NEUTRA E CONCEITO DE TENSÕES EFETIVAS Sabemos que em uma situação real nunca encontraremos um solo completamente seco, uma vez que o solo se encontra sob intempéries e/ou devido a presença de nível d’água em determinada profundidade respectivo aos lençóis freáticos. Quando lidamos com a presença de água em solos, devemos levar em conta novos conceitos de pressões. O engenheiro Terzaghi (1883-1963), conhecido como pai da mecânica dos solos, foi o primeiro a identificar que a tensão normal total de um plano deve ser considerada como a soma da Pressão Neutra e das Tensões Efetivas. • A pressão da água atuante nos solos é referida como u na Eq. 4: ( ) ( ) - 4 . F A Au z z Eqγ= ⋅ Em que: u é denominado como pressão neutra ou poropressão; Fz é a profundida até o plano final desejado; Az é a profundidade ao nível d’água; Aγ é a massa específica da água. • A tensão ou pressão efetiva é definida pela subtração da pressão total (σ ) pela pressão neutra (u) como visto na Eq. 5. ( ) - . 5u Eqσ σ= Porém, qual é o significado da pressão efetiva? Quando falamos do comportamento dos solos na engenharia não podemos associar ao comportamento típico de materiais da construção civil, visto que há uma linearidade entre a UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 8 deformação com as mudanças de dimensão. As deformações no solo ocorrem através da movimentação devido às forças transmitidas pelas partículas, sendo essas calculadas através da obtenção da tensão efetiva. Quando o solo está abaixo do nível de água não ocorre a movimentação das partículas, sendo preenchidos todos os espaços vazios entre as partículas, evitando que ocorra este tipo de tensão efetiva. Terzaghi realizou uma verificação desse comportamento de maneira muito simples. Ao colocar em um tanque transparente um solo saturado e aumentando o nível de água no tanque, ele observou que há aumento da pressão total sem observar diminuição do volume no solo, ou seja, não há alteração das tensões cisalhantes, uma vez que a água não resiste ao cisalhamento (ORTIGÃO, 2007). Para compreender melhor o efeito da água em solos observaremos um exemplo de perfil e diagrama de tensões de determinado solo e determinar as tensões totais (σ ), neutras (u) e tensões efetivas (σ ) nos pontos A, B, C e D para o perfil de solo. Para esse exemplo, abordaremos o valor de peso específico da água igual a 1 tf/m3. FIGURA 4 – NÍVEIS DE ÁGUA SUBTERRÂNEO E PRESSÕES DE SOLOS FONTE: Cavalcante (2006, p. 2) Vemos que no ponto A não existe a ocorrência de nenhuma carga de solo ou água, portanto, para esse ponto os valores de σ , u e σ serão iguais a 0. Para o ponto B: 2 2 2 1,7 1,5 2,55 / 0 / - 2,55 / tf m tf m µ tf m σ µ σ σ = × = = = = TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 9 Ponto C: 2 2 2 2,55 2,1 3 8,85 / 1,0 3 3,0 / 8,85 - 3,0 5,85 / tf m tf m tf m σ µ σ = + × = = × = = = Ponto D: 2 2 2 8,85 2 3,6 16,05 / 1,0 6,6 6,6 / 16,05 - 6,6 9,45 / tf m tf m tf m σ µ σ = + × = = × = = = 2.4 AÇÃO DA ÁGUA CAPILAR NO SOLO Pinto (2006) define que a capilaridade é uma propriedade física dos fluídos devido a adesão e coesão do líquido. Esse fenômeno é a capacidade de líquidos de subir em tubos capilares por conta da adesão e coesão que atuam na subida, e ocorre em praticamente todo tipo de corpos porosos, devido às tensões superficiais. Esse fenômeno também ocorre nos solos, uma vez que os espaços vazios nos solos são tão pequenos que resultam em uma alta tensão superficial. A altura da ascensão de água em tubos capilares é calculada através da lei de Jurin (Eq. 6). ( )4 cos . 6 a Th Eq d α γ = × Em que: h = altura da coluna de água (m); T = tensão superficial do líquido (0,072 N/m2 para água em 20 ºC); aγ = peso específico da água; d = diâmetro do capilar (m); α = ângulo de contato. Acadêmico, para compreender melhor sobre capilaridade no solo, assista: https://www.youtube.com/watch?v=QP9hlDHkbDs. DICAS UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 10 Cavalcante (2006) apresenta uma tabela com valores médios da ascensão capilar de acordo com determinados tipos de solos. Na figura seguinte, vemos o perfil de um poço e a ação da ascensão de água capilar. O nível de saturação corresponde à altura em que se encontra a água no poço decorrente de resultado de capilaridade, em que apresenta solo saturado em água (grau de saturação igual a 100%), a ascensão da capilaridade vai depender da grandeza dos vazios e dos tamanhos das partículas (PINTO, 2006). FIGURA 5 - PERFIL DE ASCENSÃO CAPILAR RELACIONADO AO NÍVEL DE ÁGUA EM UM POÇO FONTE: Adaptado de Marangon (2018) TABELA 1 - VALORES TÍPICOS DE ALTURA DE ASCENSÃO CAPILAR, DE ACORDO COM O TIPO DE SOLO Tipo de solo Altura de ascensão capilar (cm) Areia grossa < 5 Areia média 5 - 12 Areia fina 12-35 Silte 35 -70 Argila ≥70 FONTE: Cavalcante (2006, p. 15) Alguns aspectos importantes referentes aos fenômenos de capilaridade são destacados por Cavalcante (2006, p. 16): • Na construção de pavimentos rodoviários: se o terreno de fundação de um pavimento é constituído por um solo siltoso e o nível freático está pouco profundo, para evitar a ascensão capilar da água é necessário substituir o material siltoso por outro com menor potencial de capilaridade. • A contração dos solos: quando toda a superfície de um solo está submersa em água, não há força capilar, pois α = 90º. Porém, à medida que a água vai sendo evaporada, vão se formando meniscos, surgindo forças capilares que aproximam as partículas. TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 11 • Coesão aparente da areia úmida: se forseca ou saturada a areia, a coesão se desfaz. Os meniscos se desfazem quando o movimento entre os grãos aumenta e as deformações são muito grandes. • Sifonamento capilar: observado em barragens, o sifonamento capilar consiste na percolação da água sobre o núcleo impermeável da barragem. 2.5 TENSÃO DEVIDO APLICAÇÃO DE CARGA Anteriormente, vimos a influência de tensões causadas pelo peso próprio do solo e a influência da água nesse solo. Agora, verificaremos as diferentes influências causadas pela ação de cargas sobre os solos e seus diferentes métodos de cálculo de tensões nos solos. Veremos os métodos empíricos, semiempíricos e Ad Hoc (constituído por modelos matemáticos destinados a representar a estrutura e o funcionamento dos sistemas ambientais através de relações complexas). Sendo eles os métodos de Espraiamento das Tensões, Método de Bulbo de Tensões, Método de Boussinesq e Método de Newmark. A figura a seguir apresenta os diferentes tipos de distribuição de tensões que podemos encontrar em estudos de mecânica dos solos. Ao se aplicar uma carga na superfície de um terreno numa área bem definida, os acréscimos de tensão numa certa profundidade não se limitam à projeção da área carregada. Nas laterais da área carregada também ocorrem aumentos de tensão, que se somam às anteriores devido ao peso próprio. FIGURA 6 - DISTRIBUIÇÃO DE TENSÕES FONTE: Adaptado de Caputo (1987) Em que: σ0 = tensão devida ao peso próprio do solo; Δσ1 = alívio de tensão devido à escavação; Δσ2 = tensão induzida pela carga aplicada. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 12 As tensões devido ao peso próprio já vimos anteriormente, já o estudo devido a cargas aplicadas na superfície de um maciço abordaremos agora. Neste subtópico, abordaremos como critério baseado na teoria da elasticidade através da hipótese que as cargas são aplicadas em um (TERZAGHI, 1943): • maciço semi-infinito; • elástico (obedece a Lei de Hooke em que as tensões crescem linearmente com as deformações e o corpo recupera a forma e o volume iniciais ao cessar a ação das forças); • isótropo (mesmas propriedades em todas as direções); • homogêneo (mesmas propriedades em todos os pontos). • Método do espraiamento uniforme: sendo as cargas transmitidas pela estrutura pela qual se propagam no interior do solo e se distribuem ao longo de sua profundidade, como apresenta a figura seguinte, uma prática corrente para se estimar o valor das tensões em certa profundidade consiste em considerar que as tensões se espraiam segundo áreas crescentes tendo em base o ângulo de atrito do solo em questão, mas sempre se mantendo uniformemente distribuídas (a). Esse método deve ser entendido como uma estimativa grosseira, pois as tensões em uma determinada profundidade não são uniformemente distribuídas, mas se concentram na proximidade do eixo de simetria da área carregada, apresentando a forma de um sino (b) (PINTO, 2006). FIGURA 7 – TRANSMISSÃO DE CARGAS PARA O INTERIOR DO MACIÇO DE ACORDO COM PROFUNDIDADE DE ESPRAIAMENTO SIMPLES A) ESTIMATIVO UNIFORMEMENTE DISTRIBUÍDO B) FORMA DE SINO FONTE: Adaptado de Cavalcante (2006) TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 13 Em que: φ0 = ângulo de espraiamento; Solos muito moles φ0 < 40º; Areias puras φ0 ≅ 40º a 45º; Argilas rijas e duras φ0 ≅ 70º; Rochas φ0 > 70º. Para compreender melhor essa situação, realizaremos um exemplo ao calcular a tensão no plano situado a 5 metros de profundidade do nível do solo, levando em consideração que a área carregada tem comprimento infinito e que o solo é constituído de areia pura (φ0 = 40º). IMPORTANT E FIGURA – PERFIL DE SOLO SOB CARGA FONTE: Cavalcante (2006, p. 4) Solução: Inicialmente, calculamos o valor de b 1 : 0 1 5,0 5,0 40º 2 1,5 9,67 btg b tg b b m ϕ = = × = + = Em seguida, igualamos as equações referentes a carga inicial para isolar a carga de p 1 . 0 0 1 1 20 0 1 1 100 1,5 15,51 / 9,67 Q p b p b p b p tf m b = × = × × × = = = UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 14 • Método do Bulbo de tensões: método do bulbo de tensões é definido por Marangon (2018, p. 46): “denomina-se isóbaras as curvas ou superfícies obtidas ligando os pontos de mesma tensão vertical. Este conjunto de superfícies isóbaras forma o e se chama bulbo de ‘tensões’”. FIGURA 8 – BULBO DE TENSÕES (LINHAS DE IGUAL VALOR DE “TENSÃO”) FONTE: Adaptado de Caputo (1987) Esse método é aplicado ao fazer uso de sapatas como fundação. Considerando a aplicação de duas sapatas em um solo composto por 3 m de areia e 3 de argila mole (ver figura seguinte): uma sapata pequena (SP) que possui dimensões de 1,2 m x 1,2 m e uma sapata maior (SM) que possui dimensões de 2,0 m x 2,0 m. Vemos que ao considerar o bulbo de tensões da SP, vemos: Z B m= ⋅ = ⋅ = 2,0 1,2 2,4 α FIGURA 9 – EXEMPLO APLICAÇÃO DE BULBO DE TENSÕES FONTE:O autor TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 15 Para essa sapata se verifica que todo o bulbo de tensões está contido na camada de areia, sendo essa camada responsável por resistir por toda a tensão induzida pela sapata SP. Para a sapata SM, temos: Z B m= ⋅ = ⋅ = 2,0 2,0 4,0 α Portanto, para essa sapata maior, parte do bulbo de tensões ultrapassa a camada de areia e atinge a camada de argila mole. Portanto, uma parcela das tensões será resistida pela camada de argila, sendo necessário verificar a resistência à compressão desta camada de argila mole. • Método de Boussinesq: esse método faz uso da aplicação da teoria da elasticidade. Considera carga pontual no interior de uma massa elástica, homogênea e isotrópica. Com esse método observamos que as tensões variam inversamente com o quadrado da profundidade, sendo basicamente infinita no ponto de aplicação. Usamos a Equação de Boussinesq para calcular o acréscimo de tensão é vista na Eq. 7. ( ) ( ) 3 5 2 2 2 3 . 7 2 v z Q Eq r z σ π × = + FIGURA 10 – CARGA PONTUAL PARA MÉTODO DE BOUSSINESQ FONTE: Adaptado de Pinto (2006) Como exemplo para a aplicação de cargas concentradas: traçar o diagrama de acréscimos de pressões no plano situado a 2,0 m de profundidade até a distância horizontal igual a 5,0 m (fazer cada metro), quando se aplica na superfície do terreno uma carga concentrada de 1500 kN. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 16 FIGURA 11 – EXERCÍCIO PARA MÉTODO DE BOUSSINESQ FONTE: O autor • Método de Newmark: esse método é utilizado em áreas retangulares, caso tenha uma fundação estilo radier. A solução complexa da equação para esse cálculo é vista conforme Eq. 8. Portanto, temos em vista que as soluções que utilizam teoria da elasticidade são de difícil aplicação. Assim, para que haja um melhor aproveitamento facilitação do emprego do método de Newmark são utilizados ábacos e tabelas. Em que: I = coeficiente de influência dependente de m e n. ( )( ) ( ) ( ) 0,52 22 2 2 2 0 2 2 2 22 2 2 2 2 2 2 12 ( 1 ( 2 . 8 4 1 - 1 1v mn m nmn m n m n arctg Eq m n m nm n m n m n σ σ π + ++ + + + = + + ++ + + + + TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 17 FIGURA 12 – REPRESENTAÇÃO DE UM CARREGAMENTO EM ÁREA RETANGULAR (MÉTODO DE NEWMARK) FONTE: Pinto (2006, p. 167) GRÁFICO 1 – TENSÕES VERTICIAS INDUZIDAS POR CARGA UNIFOMEMENTE ISTRIBUÍDA EM ÁREA RETANGULAR (SOLUÇÃO DE NEWMARK) FONTE: Pinto (2006, p. 168) UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 18 TABELA 2 – VALORES DE I EM FUNÇÃO DE ME N PARA A EQUAÇÃO DE NEWMARK FONTE: Pinto (2006, p. 169) TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 19 Exercício resolvido: um galpão industrial apresenta uma planta baixa retangular com 12 metros de largura e 48 metros de comprimento e aplicará ao terreno uma pressão uniformemente distribuída de 50 kPa. Determinar o acréscimo de tensão, segundo a vertical pelos pontos A, B, C e D, a 6 m de profundidade, aplicando a soluçãode Newmark. Calcule também para o ponto E, fora da área carregada. FIGURA 13 – EXERCÍCIO NEWMARK FONTE: Pinto (2006, p. 174) Resolução: no ponto central A temos quatro vezes a área de influência de carga. Para o ponto B e C temos duas vezes a área de influência. Para o ponto D temos uma vez a área de influência. Ao fazer uso da tabela e ábaco de Newmark obtemos os coeficientes de I para calcular a tensão em cada ponto. TABELA 3 – RESULTADOS PARA A PROFUNDIDADE DE 6M Ponto Área Nº áreas m n I área I total Tensão, kPa A 6 * 24 4 1 3 0,204 0,82 41 B 12 * 24 2 2 3 0,239 0,48 24 C 6 * 48 2 1 8 0,204 0,41 20,5 D 12 * 48 1 2 8 0,240 0,24 12 FONTE: Pinto (2006, p. 175) Veja que nesta profundidade no B há redução de 42% em relação ao ponto central A. Nas arestas, há cerca de 30% do valor do ponto central. Para o ponto E, fora da área carregada, é considerado o efeito do carregamento na área EFGH, menos o carregamento nas áreas EFIJ e EKLH, somando o efeito da área EKDJ, que havia sido subtraído duas vezes na operação anterior. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 20 TABELA 4 – RESULTADOS DE ÁREA PARA A PROFUNDIDADE DE 6 M Retângulo Área m N I da área EFGH 18 * 54 3 9 0,247 EFIJ 6 * 54 2 9 0,205 EKLH 6 * 18 2 3 0,203 EKDJ 6 * 6 2 1 0,175 FONTE: Pinto (2006, p. 175) O efeito da área efetivamente carregada: Δσ = 50 x (0,247 – 0.205 – 0,203 + 0,175) = 0,7 kPa. Gráfico de Fadum e Osterberg: o Gráfico de Fadum permite determinar o acréscimo de tensão vertical (σz) sob um carregamento triangular de comprimento finito. GRÁFICO 2 – GRÁFICO DE FADUM FONTE: Caputo (1987, p. 267) Já o gráfico de Osterberg permite calcular o acréscimo de tensão devido a uma carga em forma de trapézio retangular, infinitamente longo. TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 21 GRÁFICO 3 – GRÁFICO DE OSTERBERG FONTE: Caputo (1987, p. 272) Para ambos os casos obtemos (Eq. 9): ( ) . 9z I Eqσ ∆σ= × Esses esforços são calculados através da utilização dos ábacos. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 22 GRÁFICO 4 - ÁBACO DE FADUM FONTE: Pinto (2006, p. 170) TÓPICO 1 | CONCEITOS DE MECÂNICA DOS SOLOS 23 GRÁFICO 5 – ÁBACO DE OSTERBERG FONTE: Pinto (2006, p. 172) 24 Neste tópico, você aprendeu que: • Os conceitos de tensão estão num meio particulado, mais especificamente de um solo. • As ações do peso próprio e do peso da água atuam como tensões num solo, conhecendo os conceitos de poropressão e tensão efetiva. • A água possui um comportamento de percolação que resulta numa ascensão capilar devido as forças de tensões superficiais do solo (quanto mais fino, maior a capacidade de a água ascender capilarmente). • Existem diferentes tensões devido aplicação de carga, nas quais verificamos diversos tipos de métodos de distribuição de tensão que utilizam da teoria da elasticidade, desde o método de espraiamento simples (que faz uso de carregamentos contínuos), até métodos mais complexos, como o método de Newmark, usado para calcular ação de fundações estilo radier. RESUMO DO TÓPICO 1 25 1 Um terreno constituído por uma camada de areia fina com γn = 16 kN/m3, com 7 metros de espessura, acima de uma camada de areia grossa, com γn = 19 kN/m3 e espessura de 2 metros. Esse solo, por sua vez, é apoiado a um solo de alteração de rocha. A representação do solo é apresentada na figura seguinte. O nível de água (N.A.) encontra-se a 1 metro de profundidade. Calcular: a) Tensões verticais o contato entre a areia grossa e o solo de alteração, a 9 metros de profundidade. b) Se ocorrer uma enchente que eleve o nível de água até a cota +2 metros acima do terreno, quais seriam as tensões no contato entre a areia grossa e o solo de alteração de rocha? Compare os resultados. c) Considerar que devido ao efeito de capilaridade foi constatado uma ascensão capilar de 50 centímetros, em hipoteticamente encontrava-se saturada. Recalcular as tensões verticais a 9 metros de profundidade. AUTOATIVIDADE FIGURA – PRESSÕES E TENSÕES NO SOLO FONTE: O autor 2 Foi projetada a construção de um aterro com 20 m de largura e 2 de altura. Admitindo que esse aterro transmita ao terreno uma pressão uniformemente distribuída de 35 kPa, ao longo de uma faixa de 20 m de largura e comprimento considerado infinito, determine os acréscimos de tensão a 5 m de profundidade, segundo uma seção transversal. 26 27 TÓPICO 2 COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Neste segundo tópico, abordaremos os efeitos de compressibilidade e adensamento dos solos. Mostraremos o que fazer para que seja possível realizar uma obra sobre diferentes tipos de solos. Uma das principais causas de recalques é a compressibilidade do solo, ou seja, a diminuição do seu volume sob a ação das cargas (ou tensões) aplicadas. Em particular, um caso de grande importância prática é aquele que se refere à compressibilidade de uma camada de solo, saturada e confinada lateralmente. Tal situação condiciona os chamados recalques por adensamento, que alguns autores preferem denominar de recalques por consolidação (CAPUTO, 1987). Compressibilidade é definida como a relação entre a magnitude das deformações e a variação no estado de tensões impostas. No caso de solos, essas deformações podem ser estabelecidas através de variações volumétricas ou em termos de variações no índice de vazios. É a característica dos materiais deformarem quando submetidos a carregamentos externos, nos solos é a diminuição do seu volume sob ação de cargas. ATENCAO É a propriedade que têm certos corpos de mudarem de forma ou volume quando lhes são aplicadas forças externas. No caso de solos, essas deformações podem ser estabelecidas através de variações volumétricas ou em termos de variações no índice de vazios. Construído por volta de 1932, o Palácio de Las Bellas Artes da Cidade do México é um dos principais exemplos de recalque de fundação. Sua construção aconteceu em cima de solos moles (solo argiloso com alta compressibilidade), observando-se um recalque diferencial de 2 metros do nível da rua, sendo necessário uma adaptação para acessar o edifício. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 28 No Brasil também ocorreram problemas quanto aos recalques; um dos casos mais populares é o da construção dos prédios na orla de Santos com até 18 pavimentos, decorrentes da grande expansão imobiliária iniciada a partir da década de 1940 na região. Os prédios eram apoiados em sapatas ou “radiers”, assentes numa camada de areia medianamente a muito compacta, sobrejacente a mais de 30 m de argila mole, média e rija. Foram observados para os prédios recalques médios entre 40 cm e 120 cm (TEIXEIRA, 1994). FIGURA 14 – (a) PALÁCIO DE LAS BELLAS ARTES, NA CIDADE DO MÉXICO. RECALQUE DIFERENCIAL DE 2,0 M ENTRE A ESTRUTURA E A RUA. (b) EDIFÍCIOS DA ORLA DE SANTOS-SP FONTE: Lambe e Whitman (1979, s.p.); Massad (2008, s.p.) 2 O TURÍSTICO CASO DA TORRE DE PISA (GERSCOVICH, 2008) A Torre de Pisa é um campanário da catedral da cidade italiana de Pisa, com cerca de 60 metros de altura e 20 metros de diâmetro. Sua construção levou muitas décadas até ser finalizada. O início de sua construção se deu por volta de 1175 e só foi finalizada entre 1370. Essa demora de quase 200 anos foi resultado de diversas interrupções na sua execução. É o principal atrativo turístico para cidade, sendo a inclinação da torre o grande responsável por isso. A torre começou a se inclinar após a progressão de construção para o terceiro andar, em 1178. Isso se deve a uma fundação de apenas três metros sobre um subsolo fraco e instável. A construção foi posteriormente paralisada por quase um século, porque os pisanos estavam continuamente envolvidos em batalhas com Génova, Lucca e Florença. Por mais que houvesse intervenção de engenheiros e arquitetos, a inclinação seguia com uma média de 1,2 milímetros por ano. No século XIX foram feitasescavações para tentar converter o aumento da inclinação da torre, entretanto, todas intervenções não resultaram em redução da inclinação. Como medida, até a injeção de quase cem toneladas de argamassa no solo foram realizadas. TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS 29 Em 1990, especialistas descobriram que poderiam corrigir o problema escavando a terra das fundações instáveis e colocando contrapesos na face oposta da torre para evitar desabamentos. Depois veio a fase de extração de solo: 41 brocas perfuraram o chão e retiraram 60 toneladas de terra. A remoção de terra criou um espaço vazio no solo, no lado oposto ao inclinado. Com isso, o próprio peso da torre fez com que ela se reacomodasse no buraco e retornasse em meio grau. Antes do trabalho de restauração, realizado entre 1990 e 2001, a torre estava inclinada com um ângulo de 5,5 graus, estando agora a torre inclinada em cerca de 3,99 graus. Isto significa que o topo da torre está a uma distância de 3,9 m de onde ele estaria se a torre estivesse perfeitamente na vertical. FIGURA 15 - INCLINAÇÃO DA TORRE DE PISA FONTE: <https://petcivilufjf.files.wordpress.com/2011/02/torre-pisa.jpg>. Acesso em: 2 set. 2019 UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 30 Recalque é definido como uma deformação vertical positiva de uma superfície delimitado no terreno, sendo resultado da aplicação de cargas (incluindo peso próprio do solo). Sendo que esses podem ser divididos em recalques normais e anormais. Abordaremos os recalques normais, sendo divididos em dois tipos: os decorrentes de deformação com índice de vazios constantes (caso típico de areias e/ou carregamentos rápidos de argila) denominados recalques imediatos e recalques por adensamento, com variação de índice de vazios (caso típico de carregamento permanente de argilas) denominados recalques diferidos (GERSCOVICH, 2008). NOTA Ao projetar estruturas sobre solos compressíveis devemos prever as deformações e todo o processo de sua evolução pelo tempo, com o intuito de decidir qual tipo de fundação adotar para o projeto, podendo inclusive encarecer de maneira elevada a construção de uma obra, ao fazer uso de fundações profundas. Um engenheiro só conhecerá a grandeza das deformações do solo se realizar dois estudos: • Conhecer a distribuição de pressões no solo. • Conhecer as propriedades do solo através de ensaios laboratoriais. Diversos fatores podem influenciar na variação de volume dos solos por efeito de compressão, sendo eles: • granulometria; • densidade; • grau de saturação; • permeabilidade; • tempo de ação da carga de compressão. A influência de cada um destes fatores e do seu conjunto sobre a compressibilidade pode ser simulada de forma didática pelo Modelo Analógico de Terzaghi. Quando se executa uma obra de engenharia, impõe-se no solo uma variação no estado de tensão que acarreta deformações (TAYLOR, 1948). A natureza das deformações pode ser subdividida em três categorias: • Deformações elásticas: associadas a variações volumétricas totalmente recuperadas após a remoção do carregamento → pequenas variações no índice de vazios. • Deformações plásticas: induzem a variações volumétricas permanentes. Após o descarregamento, o solo não recupera seu índice de vazios inicial. • Deformações viscosas ou fluência: associadas a variações volumétricas sob estado de tensões constante. TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS 31 GRÁFICO 6 – DIAGRAMA DE TENSÕES ELÁSTICAS, PLÁSTICAS E FLUÊNCIA DE UM SOLO FONTE: Gerscovich (2008, p. 10) Em construções de casas e prédios deve-se ter cuidado evitar cavar menos de 1,5 m para execução de fundações, uma vez que o solo que se encontra até essa profundidade pode apresentar material orgânico, evitando a formação de recalques. Entretanto, tratando-se de solo são, não há problema ao reduzir a altura da escavação. DICAS Recapitulamos que o solo é um sistema composto de grãos sólidos e espaços vazios entre eles, que podem estar preenchidos por água e/ou ar. Portanto, as deformações que ocorrem neste solo podem ser decorrentes de: • Deformação dos grãos individuais. • Compressão da água presente nos vazios (solo saturado). o Desprezadas devido ao nível de tensões aplicadas pelas obras civis. • Variação do volume de vazios, devido ao deslocamento relativo entre partículas. o As deformações no solo ocorrem basicamente pela variação de volume dos vazios. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 32 Somente para casos em que os níveis de tensão são muito altos, a deformação total do solo pode ser acrescida da variação de volume dos grãos. IMPORTANT E 3 FATORES QUE DETERMINAM A COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS Gerscovich (2008) elucida os principais tópicos que afetam a compressibilidade dos solos, sendo eles: • Tipo de solo: interação entre as partículas de solos argilosos acontece através do carregamento elétrico negativo que existe na superfície das argilas, resultando em uma atração com as moléculas de água (através do hidrogênio que possui carga positiva) o contato feito através da camada de água absorvida (camada dupla). Já os solos granulares transmitem os esforços diretamente entre partículas. • Estrutura: solos granulares podem ser arranjados em estruturas fofas, densas e favo de abelha (solos finos). Quanto maior o índice de vazios, maior será a compressibilidade do solo. Já os solos argilosos se apresentam estruturas dispersas ou floculadas. FIGURA 16 – ESTRUTURAS DE SOLOS GRANULARES FONTE: O autor • Grau de saturação: nos solos saturados, a variação de volume ocorre por uma variação de volume de água contida nos vazios (escape ou entrada). No caso de solos não saturados, a compressibilidade do ar é grande e pode interferir na magnitude total das deformações do solo. TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS 33 • Nível de tensões: apesar das obras de engenharia não chegarem aos limites de tensão que atingem patamar que cause deformação ou quebra nos grãos do solo, o nível de tensão que o solo é submetido afeta na compressibilidade. Verifiquemos o gráfico seguinte: quanto maior a reta vertical tangente à curva maior é a compressibilidade, sendo inicialmente visto um arranjo denso devido à remoção dos vazios. Posterior, quando há muito altas cargas sobre o solo ocorre um novo ganho tangencial, devido à quebra de grãos do solo, aumentando sua compressibilidade. GRÁFICO 7 – CURVA TENSÃO X DEFORMAÇÃO DE SOLO ARENOSO FONTE: Gerscovich (2008, p. 12) 3.1 ENSAIOS PARA PROPRIEDADES DE COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS As propriedades de compressibilidade dos solos podem ser definidas a partir de ensaios de compressão, que podem ser classificados de acordo com o grau de confinamento, em três tipos (CAVALCANTE, 2006): • não confinados; • parcialmente confinados; • integralmente confinados. • Ensaio não confinado: o ensaio não confinado é normatizado no Brasil através da norma NBR n° 12770 (Solo coesivo): determinação da resistência à compressão não confinada – Método de ensaio (ABNT, 1992). A carga é aplicada em uma única direção, dando liberdade ao corpo de prova para deformar nas outras direções sem qualquer restrição. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 34 FIGURA 17 – ENSAIO DE COMPRESSÃO SIMPLES FONTE: <https://geocoring.com.br/wp-content/uploads/2018/12/3.- Servi%C3%83%C2%A7os-3.-Laborat%C3%83%C2%B3rio-6.-compress%C3%83%C2%A3o- simples-1.jpeg>. Acesso em: 14 set. 2019. A norma estabelece que o corpo de prova deve ser colocado no equipamento de compressão, aplicando carregamento de forma contínua, até que a os valores da carga diminuam ou que se obtenha 15% da deformação axial específica. A equação para realização do cálculo de deformação axial específica, ɛ, para determinada carga aplicada é vista na Equação 10: ( ) 100 . 10 H Eq H ∆ε = × Em que: ε = deformação axial específica, em %; H∆ = variação de altura do corpo de prova, em mm; H =altura do corpo de prova, em mm. Ao registrar as tensões no plano horizontal pela deformação longitudinal, obtém-se a curva, conforme apresentado no gráfico a seguir. O solo não é um material elástico, mas admite-se frequentemente um comportamento elástico- linear para o solo, definindo-se um módulo de elasticidade E para um certo valor de tensão e um coeficiente de Poisson ν. TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS 35 GRÁFICO 8 – DEFINIÇÃO DOS PARÂMETROS ELÁSTICOS DOS SOLOS A PARTIR DE ENSAIO A COMPRESSÃO FONTE: Adaptado de Pinto (2006) • Ensaio parcialmente confinado: para executar esse ensaio utiliza-se o método de compressão triaxial. Nesse caso, a amostra é mantida confinada lateralmente, impedindo sua deformação durante aplicação de tensão axial. Para o ensaio é utilizado o corpo de prova cilíndrico com relação altura/diâmetro mínima igual a 2,5. O módulo de elasticidade do solo depende da pressão a que o solo está confinado. Tal fato mostra como é difícil estabelecer um módulo de elasticidade para o solo, pois na natureza ele está submetido a confinamentos crescentes com a profundidade. O ensaio consiste inicialmente na aplicação de uma pressão confinante hidrostática (σc), depois se mantendo constante a pressão confinante, aplica-se acréscimos ∆σ na direção axial. Durante o carregamento, mede-se, em diversos intervalos de tempo, o acréscimo de tensão axial que está atuando e a deformação vertical do corpo de prova. Apesar de haver dificuldades de obter os módulos de elasticidade para um solo, pelo fato de serem encontrados em confinamentos crescentes com o incremento da profundidade, é possível indicar valores com ordens de grandeza aproximado para determinados tipos de solos. TABELA 5 – MÓDULO DE ELASTICIDADE TÍPICO DE SOLOS ARGILOSOS SATURADOS EM SOLICITAÇÃO NÃO DRENADA Consistência Módulo de elasticidade (Mpa) Muito mole < 2,5 Mole 2,5 a 5 Consistência Média 5 a 10 Rija 10 a 20 Muito rija 30 a 40 Dura > 40 FONTE: Pinto (2006, p. 40) UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 36 A próxima tabela apresentará os valores de módulo de elasticidade em Mpa para solos arenosos em pressão confinante de 100 kPa, sendo possível aplicar a equação de módulo (Eq. 11) para obter em pressões diferentes desta. ( ) . 11 n a a a E E P Eq Pσ σ = × Em que: Ea = módulo correspondente à pressão atmosférica; Pa = adotada como igual a 100 kPa; Eσ = módulo correspondente à tensão considerada, σ; N = expoente geralmente adotado como 0,5. TABELA 6 – MÓDULOS DE ELASTICIDADE TÍPICOS DE AREIAS EM SOLICITAÇÃO DRENADA, PARA TENSÃO CONFINANTE DE 100 KPA Descrição da areia Módulo de elasticidade (Mpa) Compacidade Fofa Compacta Areias de grãos frágeis, angulares 15 35 Areia de grãos duros, arredondados 55 100 Areia basal de São Paulo, bem graduada, pouco argilosa 10 27 FONTE: Pinto (2006, p. 39) FIGURA 18 – PREPARAÇÃO DO ENSAIO TRIAXIAL FONTE: Pinto (2006, p. 266) membrana entrada de água e aplicação da pressão confinante drenagem ou medição de pressão neutra pedra porosa pedra porosa corpo de prova σc σc σc σc ∆σ1 TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS 37 Ensaio integralmente confinado: esse ensaio também é conhecido como ensaio de compressão edométrica, sendo o ensaio mais antigo e conhecido para determinar os parâmetros de compressibilidade do solo. Nesse caso, o corpo de prova é colocado dentro de um recipiente indeformável que impede todo tipo de deformação lateral, sendo aplicada externamente a tensão axial. O recipiente indeformável é chamado de anel edométrico e possibilita o confinamento total da amostra de solo. Para esse ensaio, as tensões laterais são desconhecidas. Essas tensões são geradas em decorrência da aplicação da tensão axial e pela consequente reação das paredes do anel edométrico (MARANGON, 2018; CAVALCANTE, 2006). As amostras, geralmente indeformadas, podem ser coletadas em blocos ou com auxílio de tubos amostradores de paredes finas denominados tubos “Shelby”. Muito cuidado deve ser tomado para que a amostra não sofra nenhum tipo de perturbação desde a coleta até à moldagem e laboratório. Se for perturbada a amostra, pouco ou quase nada se poderá extrair sobre o comportamento do solo no seu estado natural. ATENCAO FIGURA 19 – TUBOS SHELBY EM CÂMARA ÚMIDA E DO EQUIPAMENTO DE ADENSAMENTO FONTE: Marangon (2018, p. 64) UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 38 Esse ensaio simula o comportamento do solo quando ele é comprimido pela ação do peso de novas camadas que sobre ele se depositam (ex.: quando se constrói um aterro em grandes áreas). A norma utilizada para o ensaio é a Norma NBR n° 12007 MB 3336 (1999). O procedimento do ensaio de maneira resumida é: • Saturação da amostra (se for o caso). • Aplicação do carregamento. • Leituras, geralmente efetuadas em uma progressão geométrica do tempo (15s, 30s, 1min, 2min, 4min, 8min, ... 24h), dos deslocamentos verticais do topo da amostra através de um extensômetro. • Plotar gráficos com as leituras efetuadas da variação da altura ou recalque versus tensões aplicadas. • A partir da interpretação dos gráficos, decidir se um novo carregamento deve ser aplicado. Repetem-se os processos anteriores. • Última fase: descarregamento da amostra. As sequências usuais de cargas (em kPa): 10, 20, 40, 80, 160, 320, 640, entre outros. Geralmente realizado entre seis a dez estágios de carregamento, sendo que cada estágio dura ao menos 24 horas. O descarregamento é feito em quatro a seis estágios, seguindo os mesmos procedimentos de leitura empregados quando da aplicação dos estágios de carregamento. Portanto, o tempo de ensaio endométrico completo é longo, durando ao menos uma semana. Os índices de compressão (Cc) e recompressão (Ccr) são obtidos através do gráfico gerado pelo ensaio edométrico e pelas seguintes fórmulas: ( ) ( ) ( ) ( ) 1 2 22 1 1 1 2 2 1 - log ' - log ' log - log - log e e eCc e e cr σσ σ σ σ σ ∆ ′ = ′ = = TÓPICO 2 | COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS 39 GRÁFICO 9 – CURVA DE COMPRESSÃO DE ENSAIO OEDOMÉTRICO FONTE: Marangon (2018, p. 70) 3.2 COMPRESSIBILIDADE DE SOLOS ARENOSOS Um esquema representando a compressibilidade de areias é apresentado no gráfico a seguir. Os valores foram obtidos através de ensaio de compressão confinada (Oedométrica). No gráfico podemos observar que para areias não há expansão até 10MPa. Para tensões superiores a essa, um aumento significativo de deformação volumétrica (denominado tensão de escoamento, σ’esc), sendo desprezadas as deformações antes desta tensão. Gerscovich (2008, p. 21) apresenta outros aspectos importantes da compressibilidade dos solos arenosos: [...] conclusão importante é que para a faixa de pressões usualmente transmitidas ao terreno na grande maioria dos projetos de engenharia (inferiores a 10MPa) não há uma variação significativa da variação volumétrica nem a quebra dos grãos (σ’vo< σ’esc). Por esta razão, pode-se dizer que os recalques em areias são desprezíveis na grande maioria dos projetos de engenharia. UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA 40 GRÁFICO 10 – COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS ARENOSOS ATRAVÉS DE ENSAIO DE COMPRESSÃO OEDOMÉTRICA FONTE: Gerscovich (2008, p. 11) 41 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Os solos se deformam quando submetidos a carregamentos externos. Essa característica é conhecida como compressibilidade do solo. • Os fatores que afetam a compressibilidade do solo são: tipo, estrutura, nível de tensão e grau de saturação. • Existem ensaios nos quais se pode obter dados de compressibilidade dos solos, de acordo com o tipo de grau de seu confinamento. Sendo eles: não confinados, parcialmente confinados e integralmente confinados. 42 1 Uma camada de argila de espessura H atingirá 90% de consolidação em dez anos. Quanto tempo necessário caso a espessura da camadafosse 4H? 2 Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: ( ) O ensaio triaxial não é capaz de determinar os parâmetros de deformabilidade do solo, embora determine os parâmetros de resistência. ( ) Por meio do ensaio de adensamento, determinam-se as características de compressibilidade dos solos sob a condição de desconfinamento lateral. ( ) Os principais fatos que determinam a compressibilidade são o tipo e estrutura do solo, nível de tensão e grau de saturação. ( ) Solos argilosos apresentam maior compressibilidade quando comparados com solos arenosos. Agora, assinale a alternativa que contenha a sequência CORRETA: a) ( ) F - F- V- V. b) ( ) F- V- F- V. c) ( ) V- F- V- V. d) ( ) V- V- V- V. AUTOATIVIDADE 43 TÓPICO 3 ADENSAMENTO DOS SOLOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O objetivo deste tópico é transmitir conhecimento das propriedades do solo referentes aos conceitos de adensamento dos solos, ou seja, estudar como ocorre a expulsão de fluído no decorrer do tempo após carregamento de um solo, assim como saber como variam as tensões no solo durante o processo de adensamento. 2 PROCESSO DE ADENSAMENTO – SOLOS FINOS SATURADOS – ARGILAS MOLES A compressibilidade dos solos é provida devido à grande porcentagem de vazios (Eq. 13) em seu interior. Em obras de engenharia, não há significativa variação de volume decorrente das mudanças nas partículas sólidas do solo. Sem erro considerável, pode-se dizer que a variação de volume do solo é inteiramente resultante da variação de volume dos vazios. Já a água é considerada incompressível. Reduções de volume ocorrem com a alteração da estrutura à medida que essa suporta maiores cargas: quebram-se ligações interpartículas e há distorções. Disso resulta um menor índice de vazios e uma estrutura mais densa. Uma forma conveniente de estudar o fenômeno é através da analogia mecânica sugerida por Terzaghi (1943). ( ) . 13v s V e Eq V = Em que: E = índice de vazios, %; Vv = volume de vazios; Vs = volume de sólidos. 44 UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA • Modelo mecânico de Terzaghi: quando consideramos que a estrutura sólida de um solo é semelhante à estrutura de uma mola, cuja deformação é proporcional à carga aplicada, o solo com umidade seria identificado como uma mola dentro de um pistão cheio de água, que possui um orifício estreito representando a baixa permeabilidade do solo. Ao se aplicar uma carga sobre o pistão, no instante imediatamente posterior, a mola não se deforma, pois ainda não terá ocorrido qualquer saída de água, considerando a água um fluído incompressível. Nesse caso, toda a tensão aplicada será suportada pela água. Estando a água pressionada, ela tenderá a sair do pistão, já que o exterior está sob a pressão atmosférica. Num instante qualquer, sendo permitida a saída da água através de um orifício, ocorrerá uma deformação da mola, que corresponde ao esforço vertical aplicado por alguma carga. Nesse instante, a tensão aplicada será parcialmente suportada pela água e parcialmente pela mola. A água, ainda sob pressão, continuará a sair do pistão, mantendo-se o orifício aberto. Simultaneamente, a mola se comprimirá cada vez mais e, portanto, suportando cargas cada vez maiores. O processo continua até que toda a carga seja transferida para a mola. Não havendo mais sobrecarga na água (PINTO, 2006). FIGURA 20 – ANALOGIA MECÂNICA PARA PROCESSO DE ADENSAMENTO FONTE: Taylor (1948, p. 246) Nos solos, o fenômeno comporta-se de modo similar: • O recalque total depende da rigidez da estrutura do solo, da espessura da camada e do incremento de carga vertical. • O tempo de dissipação da pressão neutra depende da permeabilidade do solo e das condições de drenagem que há nos contornos da camada. TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS 45 É fundamental deixar claro que o adensamento ocorreu para aquele nível de tensão específico. Caso a tensão sobre a amostra seja elevada, o processo do adensamento continuará. ATENCAO • Teoria do adensamento de Terzaghi: o estudo teórico do adensamento permite obter uma avaliação da dissipação das sobrepressões hidrostáticas (excesso de pressão neutra gerada pelo carregamento) e, consequentemente, da variação de volume ao longo do tempo. Alguns pressupostos: a) solo homogêneo e saturado; b) partículas sólidas e a água contida nos vazios do solo são incompressíveis; c) compressão (deformação) e drenagem unidimensionais (vertical); d) propriedades do solo permanecem constante (k, mv, Cv); e) validade da lei de Darcy (v = k . i); f) há linearidade entre a variação do índice de vazios e as tensões aplicadas. Permitindo associar o aumento da tensão efetiva e a correspondente dissipação de pressão neutra, com o desenvolvimento dos recalques de maneira simples por um parâmetro fundamental no desenvolvimento da teoria, que é o grau de adensamento. O grau de adensamento (Eq. 14) é a relação entre a deformação (ɛ) que ocorre em determinado tempo pela deformação após todo processo de adensamento (ɛf). A deformação (Eq. 15) é a relação entre a variação de altura (ΔH) e a altura inicial. A deformação final (Eq. 16), por sua vez, está relacionada pela relação da variação de índice de vazios do solo. ( ) ( ) ( ) 1 2 1 . 14 . 15 - . 16 1 z f f U Eq H Eq H e e Eq e ε ε ε ε = ∆ = = + Dessa maneira, se substituímos as equações de deformação final e definimos uma deformação em determinado tempo t, obtemos a equação 17, em relação a variação entre índices de vazios. 46 UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA ( ) 1 1 1 1 2 1 2 1 - 1 - . 17 - - 1 z e e e e e U Eq e e e e e + = = + Observamos no gráfico a seguir que o grau de adensamento é a relação linear entre as tensões efetivas (σ ) e os índices de vazios (e). GRÁFICO 11 – VARIAÇÃO LINEAR DO ÍNDICE DE VAZIOS COM A PRESSÃO EFETIVA FONTE: Adaptado de Pinto (2006) O grau de adensamento é considerado equivalente ao grau de acréscimo de tensão efetiva, definido como a relação entre o acréscimo de tensão efetiva ocorrido até o instante t e o acréscimo total de tensão aplicada. Podemos expressar a porcentagem de adensamento em função das pressões neutras. No instante do carregamento, conforme Eq. 18: ( ) 2 1- . 18iu Eqσ σ = No instante t, visto na Eq. 19: ( ) 2 - - . 19iu u Eqσ σ = Ao convertemos a expressão de grau de adensamento em relação às tensões efetivas, temos a Eq. 20: TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS 47 ( ) iz i u u U Eq u = =1 2 1 - - .20 - σ σ σ σ De maneira resumida, podemos associar o grau de adensamento pelas equações vistas na Eq. 21: ( ) 1 1 1 2 2 1 -- - . 21 - - i z f i u ue e U Eq e e u σ σε ε σ σ = = = = Duas equações empíricas são ajustadas muito bem à equação teórica do adensamento de Terzaghi, facilitando a obtenção do resultado. Sendo elas: Eq. 22 – para umidades iguais e superiores a 60%, e a Eq 23 – para umidades inferiores a 60%: Quando U ≤ 60% ( ) 2 . 22 4 T U Eqπ= Quando U > 60 ( ) ( ) -0,932log 1- - 0,0851 . 23T U Eq= • Tempo de Consolidação: para o caso de adensamento, em quanto tempo o equilíbrio é atingido? Em outras palavras, qual o tempo de consolidação da fundação? Para responder a primeira questão é preciso avaliar as variáveis envolvidas no processo de transferência de carga. Quanto maior a velocidade de escape da água e menor o volume de água, mais rápido o adensamento ocorrerá (visto na Eq. 24): ( ) . 24 volume de águat Eq velocidade de escape α = Considerando que o volume de água que é expulso é proporcional à carga aplicada (Δσ = força/área), à espessura da camada (H) e à compressibilidade da mola/solo (m), e que a velocidade de escape depende da permeabilidade do solo (k) e do gradiente hidráulico (≅Δσ/H), pode-se reescrever a Equação 25: ( ) ( ) 2 . 25 H m H mt Eq kk H σ α σ ∆ × × = = ∆× 48 UNIDADE 1 | MECÂNICADOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA Exemplo 1: considerando que a compressibilidade de um solo arenoso é 1/5 da compressibilidade do solo argiloso e o contraste de permeabilidade entre os dois materiais é de 10000 vezes, qual a relação entre os tempos necessários para que o adensamento ocorra nesses materiais, admitindo que a espessura da camada é a mesma? Solução: ( ) 2 2 2 arg arg argarg arg / / // areia areia areia areia areia ila ila ilaila ila H m H mt kk H t m H k m k t m km H k σ α σ ∆ × × = = ∆× = = Se: arg 1 5areia ila m m= Então: arg arg arg 10000 1 5 10000 50000 areia ila areia ila ila areia k k t t t t = = × = 3 TABELA DO FATOR TEMPO EM FUNÇÃO DO GRAU DE ADENSAMENTO Os valores da porcentagem de adensamento (de pressão neutra dissipada) Uz podem ser obtidos atribuindo-se valores a z/Hde T, com os quais se constroem as curvas do gráfico a seguir. Para um determinado solo (cve Hd) e para um tempo “t”, tem-se um fator “T”. Então, a uma profundidade z, observadas as curvas de “T”, obtém- se a percentagem de dissipação da pressão neutra “Uz” e, consequentemente, obtém-se o valor de “ganho” de tensão efetiva no solo (no gráfico, da esquerda para a direita, de “0” a “1.0”-100%, indicado como ∆σ’(t)/∆u0). Observe que o complemento corresponde à porcentagem do excesso de pressão ainda a dissipar -∆u(t)/∆u0. TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS 49 GRÁFICO 12 – CURVA DE ADENSAMENTO (RECALQUE EM FUNÇÃO DO TEMPO) FONTE: Pinto (2006, p. 214) TABELA 6 – FATOR TEMPO EM FUNÇÃO DA PORCENTAGEM DE RECALQUE POR ADENSAMENTO PELA TEORIA DE TERZAGHI U(%) T U(%) T U(%) T U(%) T U(%) T 1 0.0001 21 0.0346 41 0.132 61 0.297 81 0.588 2 0.0003 22 0.038 42 0.138 62 0.307 82 0.61 3 0.0007 23 0.0415 43 0.145 63 0.318 83 0.633 4 0.0013 24 0.0452 44 0.152 64 0.329 84 0.658 5 0.002 25 0.0491 45 0.159 65 0.34 85 0.684 6 0.0028 26 0.0531 46 0.166 66 0.351 86 0.712 7 0.0038 27 0.0572 47 0.173 67 0.364 87 0.742 8 0.005 28 0.0616 48 0.181 68 0.377 88 0.774 9 0.0064 29 0.066 49 0.189 69 0.389 89 0.809 10 0.0078 30 0.0707 50 0.197 70 0.403 90 0.848 11 0.0095 31 0.755 51 0.204 71 0.416 91 0.891 12 0.0113 32 0.0804 52 0.212 72 0.431 92 0.938 13 0.0133 33 0.0855 53 0.221 73 0.445 93 0.992 14 0.0154 34 0.0908 54 0.23 74 0.461 94 1.54 15 0.0177 35 0.0962 55 0.239 75 0.477 95 1.128 16 0.0201 36 0.102 56 0.248 76 0.493 96 1.219 17 0.0227 37 0.108 57 0.257 77 0.51 97 1.335 18 0.0254 38 0.113 58 0.266 78 0.528 98 1.5 19 0.0283 39 0.119 59 0.276 79 0.547 99 1.781 20 0.0314 40 0.126 60 0.287 80 0.567 100 ∞ FONTE: Pinto (2006, p. 215) 50 UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA O solo diminui de volume com o aumento das tensões efetivas. ATENCAO GRÁFICO 13 – GRAU DE ADENSAMENTO UZ EM FUNÇÃO DA PROFUNDIDADE Z E DO FATOR TEMPO T FONTE: Pinto (2006, p. 213) • Ensaio de Adensamento (edométrico): o ensaio de adensamento tem por objetivo a determinação experimental das características do solo que interessam à determinação dos recalques provocados pelo adensamento. O aparelho utilizado é o edômetro. A amostra é confinada por um anel rígido e a drenagem é feita por duas pedras porosas (superior e inferior). Aplicam- se vários estágios de cargas verticais: (1/10; 2/10; 4/10; 8/10, entre outras) kgf/ cm2. Cada estágio de carregamento deve durar tempo suficiente à dissipação de “praticamente” todo o excesso de pressão neutra. As deformações são registradas no extensômetro em determinados tempos t = (0s; 15; 30; 1min; 2; 4; 8; 16; 32...). TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS 51 No final de cada estágio, as tensões são praticamente efetivas, ou seja, σ’≅σ. A cada estágio de carga corresponde uma redução de altura da amostra, a qual se expressa segundo a variação do índice de vazios. • Quando o material é retirado do campo, sofre um alívio de tensões. No laboratório, reconstitui-se as condições de campo iniciais. • Corresponde à primeira compressão do material em sua forma geológica. • Ocorre quando o excesso de pressão neutra é praticamente nulo μ≅0 e a tensão efetiva é praticamente igual a tensão total σ’≅σ. • Aspectos de tensão de solo normalmente adensado e pré-adensamento: um solo normalmente adensado se dá quando tensão efetiva de pré-adensamento (σ’vm) é igual que a tensão efetiva vertical de campo (σ’v0). Significando que nunca esse solo foi submetido a carregamento vertical maior que o aplicado. Para esse caso, dizemos que o solo é normalmente adensado. Portanto, temos que (σ’vm = σ’v0). Se temos que a tensão efetiva de pré-adensamento (σ’vm) é maior que a tensão efetiva vertical de campo (σ’v0), concluímos que em algum momento antes da aplicação de σ’v0 este solo já foi submetido a um estado de tensões superior ao atual. Para esse material dá-se o nome de solo pré- adensado. Vários fatores podem causar este pré-adensamento (LADD, 1971), conforme apresentados na tabela a seguir, os quais podem ser causados pela variação da tensão total, poropressão e estrutura do solo. TABELA 7 – MOTIVOS DE PRÉ-ADENSAMENTO Variação Ação Tensão total Remoção de sobrecarga superficial (processo erosão, ação do homem, recuo das águas do mar, por exemplo). Demolição de estruturas antigas. Glaciação. Poropressão Variação da cota do lençol freático. Pressões artesianas. Bombeamento profundo. Ressecamento e Evaporação. Ressecamento devido à vegetação. Estrutura do solo Compressão secundária. Mudanças ambientais: temperatura, concentração de sais, pH etc. Precipitação de agentes cimentantes, troca catiônica etc. FONTE: Gerscovich (2008, p. 20) 52 UNIDADE 1 | MECÂNICA DOS SOLOS AVANÇADOS E INTRODUÇÃO A OBRAS DA TERRA As tensões de pré-adensamento podem ser notadas no gráfico gerado pelo ensaio Oedométrico, representada pelos primeiros dados antes da reta virgem e pode ser encontrado por dois métodos: Método de Casagrande e o Método de Pacheco Silva. Os passos para a determinação da tensão de pré-adensamento a partir da curva pelo método de Pacheco Silva, dão-se da seguinte forma: • prolonga-se a reta virgem até o encontro com uma horizontal traçada do índice de vazio inicial; • do ponto de interseção, baixa-se uma vertical até a curva; • desse último ponto, traça-se uma horizontal até o prolongamento da reta virgem. Apesar do método de Casagrande ser mais difundido internacionalmente, ele exige uma curva com trechos de recompressão e compressão virgem mais bem definidos, além de sofrer maior influência do operador. GRÁFICO 14 - CURVA PELO MÉTODO DE PACHECO SILVA 3,3 2,8 2,3 1,8 10 100 1000 e₀ Tensão vertical, kPa In di ce d e va zi os σ'vm FONTE: Ortigão (2007, p. 138) • Solos Colapsíveis e Expansíveis: os solos colapsíveis são definidos assim por apresentarem uma rápida compressão quando submetidos a aumento de umidade sem variar a tensão normal a que estejam submetidos. Isso ocorre por serem solos não saturados, e esse fenômeno pode ser estudado por meio de ensaios de compressão edométrica. O gráfico a seguir mostra exemplo um solo colapsível em que: o a curva A indica o resultado de um ensaio em que o corpo de prova permanece com seu teor de umidade inicial; TÓPICO 3 | ADENSAMENTO DOS SOLOS 53 o a curva B representa o resultado de um ensaio em que o corpo de prova foi previamente saturado; o a curva C, o de um corpo de prova inicialmente com sua umidade natural e que, quando na tensão de 150 kPa, foi inundado, apresentando uma brusca redução do índice de vazios. Neste exemplo, o coplapso ocorre pela destruição dos meniscos capilares responsáveis pela tensão de sucção. Esses solos estão diretamente associados à perda de resistência de solos não saturados. GRÁFICO 15 – EXEMPLO DE ENSAIO DE COMPRESSÃO EDOMÉTRICA DE SOLO COLAPSÍVEL FONTE: Gerscovich (2008, p. 31) Já de maneira contrária aos solos colapsáveis, alguns outros solos não saturados apresentam expansão quando saturados. Esse fenômeno está mais ligado a minerais argilosos, como minerais do
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