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Indaial – 2020 Introdução aos estudos da surdocegueIra Prof.ª Ana Regina Campello Prof.ª Elis Gorett da Silveira Lemos 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.ª Ana Regina Campello Prof.ª Elis Gorett da Silveira Lemos Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C193i Campello, Ana Regina e Souza Introdução aos estudos da surdocegueira. / Ana Regina e Souza Campello; Elis Gorett da Silveira Lemos. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 207 p.; il. ISBN 978-65-5663-270-4 ISBN Digital 978-65-5663-264-3 1. Surdocegueira. - Brasil. I. Lemos, Elis Gorett da Silveira. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 370 apresentação Olá, acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina de Introdução aos estudos da Surdocegueira, que é uma disciplina de grande importância para o desenvolvimento de um trabalho voltado para a inclusão da pessoa surdocega, tanto em sociedade como na área escolar. Durante esta disciplina, aprenderemos sobre a pessoa com deficiência visual e nos aprofundaremos, de fato, nos estudos introdutórios da pessoa com surdocegueira, cuja realidade é pouco conhecida. Na Unidade 1, estudaremos a história que envolve a comunidade surdocega, relembrando órgãos importantes relacionados aos surdocegos no mundo e aqui no Brasil e os personagens importantes que marcaram o início da comunidade surdocega na área educacional. Além disso, trouxemos pesquisadores atuais que romperam barreiras e hoje são grandes militantes da causa surdocega, trazendo seus estudos para o conhecimento da sociedade em geral. Na continuação, consideramos os conceitos de deficiência visual, pessoa com baixa visão, aprofundando-nos em conceitos e classificações da surdocegueira. Veremos, também, aspectos legais de apoio à pessoa surdocega no tocante da acessibilidade, bem como seu perfil social. Na Unidade 2, consideraremos como a interdependência relacionada à cultura e identidade da pessoa surdocega pode limitar e/ou potencializar suas habilidades. As diferentes formas de comunicação dos surdocegos advindas das classificações da surdocegueira, além de estímulos e oportunidades que lhes foram dadas ao longo da vida. Nesse interim, passaremos pelo perfil do profissional em acessão, o guia-intérprete surdo e, principalmente, pela formação e atuação do guia-intérprete ouvinte. Finalizando, na Unidade 3, iniciaremos contextualizando a escola como um espaço de interações importante para o aluno surdocego. Relembraremos algumas políticas públicas que envolvem a educação inclusiva, bem como o papel da escola inclusiva para com o aluno surdocego. A importância de o saber comunicar e de que forma deve ser a postura do educador ao receber e lidar com as singularidades dos alunos surdocegos dentro de sala e suas devidas adequações. Sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para alunos surdocegos, veremos como algumas tecnologias voltadas para área da educação têm sido fomentadas para o ensino-aprendizagem. Além disso, pesquisaremos como o sujeito surdocego tem sido protagonista de sua própria história por meio das redes sociais. Temos certeza que, juntos, vamos conhecer melhor o mundo onde prevalecem as sensações em sua volta. Bons estudos! Prof.ª Ana Regina Campello Prof.ª Elis Gorett da Silveira Lemos Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfi m, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi- dades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra- mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida- de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun- to em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen- tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumárIo UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA ................................................................... 1 TÓPICO 1 — DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS ....................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 BREVE APONTAMENTOS HISTÓRICOS DA PESSOA SURDA E CEGA NO MUNDO E NO BRASIL ..................................................................................................................... 3 3 INSTITUTOS COMO REFERÊNCIA PARA COMUNIDADES SURDOCEGAS ................ 13 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 20 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 22 TÓPICO 2 — ASPECTOS CONCEITUAIS RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA ................................................................................. 25 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 25 2 SURDOCEGO NO CONTEXTO DAS INTERAÇÕES .............................................................. 25 2.1 COMPETÊNCIA SOCIAL E SURDOCEGUEIRA .................................................................... 27 3 O OLHO HUMANO .......................................................................................................................... 27 4 BREVE CONCEITO DE DEFICIÊNCIA VISUAL ...................................................................... 30 4.1 CAUSAS MAIS COMUNS E PREVENÇÃO À SURDOCEGUEIRA .................................... 32 5 ETIOLOGIA DE SURDOCEGUEIRA ..........................................................................................33 5.1 CAUSAS MAIS COMUNS E PREVENÇÃO À SURDOCEGUEIRA .................................... 38 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 42 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 44 TÓPICO 3 — CONTEXTO DA LEGISLAÇÃO E OS DIREITOS DO SUJEITO COM DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGO .................................................. 47 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 47 2 DIVERGENCIAS E SEMELHANÇAS ENTRE AS LEIS PARA ASSEGURAR O DIREITO DO SURDO CEGO ..................................................................................................... 47 3 ACESSIBILIDADE PARA PESSOA SURDOCEGA POR MEIO DE DECRETO E LEIS .............................................................................................................................. 50 4 A FAMÍLIA E O PERFIL DA PESSOA SURDOCEGA – BREVE ENREDO ............................ 57 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 61 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 63 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 64 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 66 UNIDADE 2 — COMUNICAÇÃO E SURDOCEGUEIRA: O PODER TRANSFORMADOR NA VIDA SOCIAL E ACADÊMICA ........................... 71 TÓPICO 1 — A PERCEPÇÃO E ENFRENTAMENTO DAS DIFICULDADES DIÁRIAS DO SURDOCEGOS E BAIXA VISÃO ................................................. 73 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 73 2 INTERDEPENDÊNCIA DA SURDOCEGUEIRA ....................................................................... 74 2.1 POTENCIALIDADES VERSUS LIMITAÇÕES ......................................................................... 75 2.1.1 O potencial por trás do sujeito surdocego: ...................................................................... 75 2.1.2 Limitações e o sujeito surdocego ....................................................................................... 76 3 SURDOCEGOS E AS DIFERENTES FORMAS DE SE COMUNICAR ................................. 77 3.1 LIBRAS TÁTIL............................................................................................................................... 78 3.2 LIBRAS EM CAMPO REDUZIDO ............................................................................................. 79 3.3 TADOMA ...................................................................................................................................... 80 3.4 ALFABETO DATILOLÓGICO TÁTIL ....................................................................................... 80 3.5 O ALFABETO DATILOLÓGICO EM LETRAS DE FORMA .................................................. 81 3.6 BRAILLE......................................................................................................................................... 81 3.7. BRAILLE TÁTIL ........................................................................................................................... 82 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 88 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 89 TÓPICO 2 — ACESSIBILIDADE E/ OU ADAPTAÇÃO: O PAPEL DO GUIA-INTÉRPRETE ................................................................................................... 91 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 91 2 OS PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM COM SURDOCEGO: MEDIADOR E GUIA-INTÉRPRETE: APROXIMAÇÃO E DISTANCIAMENTO .......................................92 2.1 PROFISSIONAL GUIA-INTÉRPRETE – IDENTIFICANDO A CULTURA DO SURDOCEGO ............................................................................................................................... 93 2.2 SURDOCEGUEIRA – MEDIAÇÃO ........................................................................................... 95 2.3 O GUIA-INTÉRPRETE E SUA ATUAÇÃO .............................................................................. 95 2.4 O GUIA-INTÉRPRETE SURDO .................................................................................................. 96 3 TÉCNICAS DE GUIA INTERPRETAÇÃO PELA NBR l5.599:2008 ....................................... 101 4 TIPOS DE INTERPRETAÇÃO ..................................................................................................... 106 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 110 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 118 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 119 TÓPICO 3 — AS REDES SOCIAIS E A TRANSFORMAÇÃO NA VIDA DA PESSOA COM SURDOCEGUEIRA ALIADA AO GUIA-INTÉRPRETE ........ 121 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 121 2 SURDOCEGO X REDES SOCIAIS .............................................................................................. 121 3 REDES SOCIAIS OS BENEFÍCIOS PESSOAIS PARA O SURDOCEGO E O GUIA- INTÉRPRETE .................................................................................................................................... 122 3.1 COMUNIDADE SURDOCEGA CONECTADA .................................................................... 124 3.2 INFLUENCIADORES SURDOCEGOS – SUA PRÓPRIA HISTÓRIA ................................ 124 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 128 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 129 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 131 UNIDADE 3 — A PESSOA COM SURDOCEGUEIRA – CENÁRIO EDUCACIONAL BRASILEIRO E TECNOLOGIAS PARA SUA EDUCAÇÃO FORMAL ....... 139 TÓPICO 1 — CONCEPÇÕES ORIENTADORAS NA EDUCAÇÃO FORMAL DA PESSOA SURDOCEGA E SEU AMPARO LEGAL ..................................... 141 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 141 2 A EDUCAÇÃO FORMAL DA PESSOA SURDOCEGA ......................................................... 142 2.1 DOCUMENTOS NORTEADORES E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA ................................... 143 3 ESCOLA COMUM E ESCOLA INCLUSIVA ............................................................................. 145 3.1 O PAPEL DA ESCOLA INCLUSIVA NA VIDA DO SURDOCEGO .................................. 146 3.2 COMUNICAÇÃO E A ESCOLA .............................................................................................. 147 3.3 POSTURA PROFISSIONAL DO PROFESSOR ....................................................................... 148 RESUMO DO TÓPICO 1...................................................................................................................150 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 151 TÓPICO 2 — ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) E O CONTEXTO DO ALUNO SURDOCEGO ............................................................ 153 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 153 2 CONTEXTUALIZANDO O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) ................................................................................................................ 154 2.1 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) E O ATENDIMENTO E O ALUNO COM SURDOCEGUEIRA .................................................................................. 156 3 OBJETOS DE REFERÊNCIA PARA REALIZAR ATIVIDADES COM O ALUNO SURDOCEGO................................................................................................................................... 160 3.1 CAIXAS DE ANTECIPAÇÃO COMO FACILITADOR COGNITIVO ................................ 162 3.2 CALENDÁRIOS .......................................................................................................................... 164 4 ADEQUAÇÕES PARA O ATENDIMENTO ESCOLAR DA CRIANÇA SURDOCEGA .................................................................................................................................. 171 4.1 ADEQUAÇÕES TÁTEIS ............................................................................................................ 171 4.2 ILUMINAÇÃO ........................................................................................................................... 171 4.3 POSIÇÃO E DISTÂNCIA ......................................................................................................... 172 4.4 DISPOSIÇÃO DA SALA E ORIENTAÇÕES PARA AS ATIVIDADES ............................... 173 4.5 MOVIMENTAÇÃO DO PROFESSOR EM SALA DE AULA COM ALUNO SURDOCEGO .............................................................................................................................. 173 4.6 ALTERAÇÕES NO TAMANHO DAS FONTES, ÂNGULO E NA DISTÂNCIA .............. 175 4.7 MATERIAIS ESCRITOS ............................................................................................................. 175 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 177 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 178 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 181 TÓPICO 3 — AS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS DIRECIONADAS PARA OS ALUNOS SURDOCEGO NA ESCOLA ................................................................ 181 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 181 2 LEGISLAÇÃO E TECNOLOGIA ASSISTIVA ........................................................................... 182 2.1 TECNOLOGIA ASSISTIVA – LEGISLAÇÃO NACIONAL ................................................ 183 2.2 TECNOLOGIAS ASSISTIVAS NO CONTEXTO DA ESCOLA INCLUSIVA ..................... 184 2.3 TECNOLOGIA ASSISTIVA E A INFORMÁTICA ................................................................. 186 2.4 TECLADO PROGRAMÁVEL INTELLIKEYS ........................................................................ 187 2.5 SISTEMAS DE CONTROLE DE AMBIENTE ......................................................................... 188 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 191 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 201 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 202 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 203 1 UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • analisar a importância da sociedade na inclusão da pessoa com deficiência visual e com surdocegueira; • passear pela história que permeia o universo social e educacional da pessoa surdocega no mundo e no Brasil; • relembrar personagens que contribuíram para realização de estudos e construção de conceitos; • conceituar deficiência visual, baixa visão ou visão subnormal (VSN) e surdocegueira; • conhecer e identificar os tipos de surdocegueira a fim de relacionar suas identidades; • compreender a importância da prevenção para deficiência visual para um bom prognóstico; • compreender a legislação acerca da classificação e direitos sociais da pessoa com deficiência visual atrelado a pessoas com surdocegueira; • identificar e entender o perfil social do indivíduo surdocego. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS TÓPICO 2 – ASPECTOS CONCEITUAIS RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA TÓPICO 3 – CONTEXTO DA LEGISLAÇÃO E OS DIREITOS DO SUJEITO COM DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGO 2 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS 1 INTRODUÇÃO A discussão sobre a inclusão na sociedade e escola de sujeitos com deficiência visual, visão subnormal/baixa visão e surdocegueira ainda é muito tímida, pois envolve questões como as diferentes concepções de deficiência, principalmente, conhecimento dos estilos de vida e aprendizagem, além das reais necessidades de acessibilidade e de comunicação dessa população. Nesse interim, muitos questionamentos a respeito de uma pequena comunidade dentro desse público têm sido feitos: como a pessoa surdocega se comunica? O que significa incluir, de fato, a pessoa surdocega na sociedade e na escola? Bem, no Brasil, são poucos os estudos a respeito da pessoa com surdocegueira, mesmo assim, as pesquisas e experiências na área com essa comunidade específica têm sido muito positivas, principalmente com aqueles que já possuem uma comunicação mais eficiente. Neste caso, as oportunidades de aprendizagem têm sido significativas. Assim, neste tópico, buscaremos romper paradigmas excludentes na sociedade e na escola, por meio da valorização, respeito e compreensão das diferenças, que compreende todas as pessoas como únicas e especiais, capazes de superar dificuldades, desde que respeitadas as suas possibilidades e necessidades. Então, vamos iniciar esta pesquisa? 2 BREVE APONTAMENTOS HISTÓRICOS DA PESSOA SURDA E CEGA NO MUNDO E NO BRASIL A história da pessoa com surdocegueira aqui no Brasil, de modo geral, seja em sociedade ou na escola, não é muito robusta como normalmente se fala da pessoa com deficiência intelectual, por exemplo. Ainda são poucos os registros a respeito da comunidade surdocega. No Brasil, como já destacado, essa história caminha devagar, mas com bons avanços, e, com certeza, daqui alguns anos teremos muito o que contar sobre a evolução na vida dos surdos cegos brasileiros em sociedade e escola. UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 4 Segundo Estimado e Sofiato (2019), o surgimento da educação desurdos e cegos está na França, no século XVIII, e, no Brasil, foi iniciado no século XIX. Diante desse repertório, não podemos deixar de falar da história das pessoas surdocegas, bem como a história de duas mulheres notavelmente famosas. O primeiro exemplo é Laura Bridgman, que entrou no Instituto Perkins (EUA) em 1837, historicamente foi a primeira surdocega a ser educada com sucesso, antecedendo Helen Keller. Embora não se tenha muitos estudos a seu respeito, acredita-se que ela morou nesse instituto até a data de sua morte. FIGURA 1 – SURDOCEGA LAURA BRIDGMAN FONTE: <https://www.libras.com.br/images/artigos/surdos-famosos/laura-bridgman.png>. Acesso em: 1º out. 2020. Laura Dewey Bridgman nasceu no dia 21 de dezembro de 1829 em Hanover, New Hampshire, EUA, filha de trabalhadores da Nova Inglaterra. É conhecida como a primeira criança americana surdocega a obter uma educação significativa no idioma inglês, 50 anos antes de Helen Keller. Laura era muito conhecida por sua capacidade de conversar com professores, familiares, colegas e o público curioso em geral. FONTE: <https://www.libras.com.br/surdos-famosos-laura-bridgman>. Acesso em: 1º out. 2020. INTERESSA NTE Já Helen Keller teve uma bela experiência de vida com o auxílio de sua professora Anne Sullivan. Assim como Laura Bridgman, Helen Keller também estudou na Perkins por muitos anos, foi aluna e depois professora. TÓPICO 1 — DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS 5 FIGURA 2 – SURDOCEGA HELEN KELLER FONTE: <https://bit.ly/3owq7hB>. Acesso em: 1º out. 2020. Como podemos notar, historicamente a educação de surdocegos tem suas origens na França e nos EUA, e, claro, consequentemente, hoje em dia, há mais pesquisas e profissionais na área de surdocegueira nestes países do que no restante do mundo. De acordo com Kenmore (1977), os programas para educação de surdocegos na Europa tiveram seu início na França (1884), seguindo-se na Alemanha (1887) e Finlândia (1889). A seguir, para aumentar seu conhecimento, trouxemos um recorte da história de Helen Keller, grande precursora da educação, socialização e comunicação da pessoa surdocega. Não deixe de assistir estes vídeos históricos, ainda sem tradução para língua portuguesa. Eles destacam alguns aparecimentos de Helen Keller, em público, inclusive um encontro com o presidente Kennedy, em todos eles, sua professora, Anne Sullivan, acompanhou-a fazendo a mediação na comunicação. https://www.youtube.com/watch?v=8ch_H8pt9M8 https://www.youtube.com/watch?v=KLqyKeMQfmY https://www.youtube.com/watch?v=nqHdEPaUP6w&list=RDCMUCGp4u0WHLsK8OAxnvw iTyhA&start_radio=1&t=1 DICAS UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 6 HELEN KELLER A vida de Helen Adams Keller (1880-1968) é a história de uma criança que, aos 18 meses de idade, ficou cega e surda e de sua luta árdua e vitoriosa para integrar-se na sociedade, tornando-se além de célebre escritora, filósofa e conferencista, uma personagem famosa pelo trabalho incessante que desenvolveu para o bem-estar das pessoas com deficiência. Nasceu em 27 de junho de 1880 em Tuscumbia, Alabama, descendendo de família tradicional do Sul dos Estados Unidos, passou os primeiros anos de sua vida sem orientação adequada. Alguns meses antes de Helen completar sete anos de idade, Anne Sullivan, uma professora de 21 anos, foi morar em sua casa para ensiná-la. A professora Anne Sullivan havia estudado na Escola Perkins para Cegos (Perkins School for the Blind), pois quando criança tinha sido cega. Até a chegada da professora, Helen Keller ainda não falava e não compreendia o significado das coisas. Anne Sullivan assumiu a tarefa de ensinar Helen Keller e para isso necessitou de muita coragem e persistência. No dia 5 de abril de 1887, Helen e sua professora estavam no quintal da casa, perto de um poço, bombeando água. A professora Sullivan colocou a mão de Helen na água fria e sobre a outra mão soletrou a palavra "água", primeiro vagarosamente, depois rapidamente. De repente, os sinais atingiram a consciência de Helen, agora com um significado. Ela aprendeu que "água" significava algo frio e fresco que escorria entre suas mãos. A seguir, tocou a terra e pediu o nome daquilo e ao anoitecer já haviam relacionado trinta palavras aos seus significados. Este foi o começo da educação de Helen Keller. Numa sucessão rápida, ela aprendeu os alfabetos braile e manual, facilitando, assim, sua aprendizagem da escrita e leitura. Em 1890, ela surpreendeu a "Professora" (como chamava Anne Sullivan) pedindo para aprender a falar. Sob a orientação de Anne Sullivan, matriculou- se no Instituto Horace Mann para Surdos, de Boston, e depois na Escola Wright-Eumason Oral de Nova Iorque, lá, durante dois anos, recebeu lições de linguagem falada e de leitura pelos lábios. Além de aprender a ler, escrever e falar, Helen Keller demonstrou também excepcional eficiência no estudo das disciplinas do currículo regular. Antes de formar-se, ela fez sua estreia na literatura escrevendo a sua autobiografia A História de Minha Vida, publicada em 1902, e em seguida no jornalismo, com uma série de artigos no Ladies Home Journal. A partir dessa data, não parou mais de escrever. TÓPICO 1 — DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS 7 Em seus trabalhos literários, Helen usava a máquina de datilografia braile preparando os manuscritos e depois os copiava numa máquina de datilografia comum. Seus livros foram transcritos em várias línguas. Em 1954, a História da minha vida, após 50 anos de sua publicação como livro, foi traduzido em 50 línguas. Poucos anos antes de sua morte, Mark Twain disse: "As duas personalidades mais interessantes do Século XIX são Napoleão e Helen Keller". William James escreveu sobre Helen Keller: "O que quer que você tenha sido ou é, você é uma bênção. Eu sou capaz de matar a quem disser que não". Helen Keller recebeu numerosos prêmios de grande distinção. Em junho de 1952, foi feita Cavaleiro da Legião de Honra da França. Em reconhecimento ao estímulo que seu exemplo e presença deram aos trabalhos para cegos nos países que visitou, os governos do Brasil, Japão, Filipinas e Líbano conferiram-lhe respectivamente as seguintes condecorações: Ordem do Cruzeiro do Sul, do Tesouro Sagrado, do Coração de Ouro e Medalha de Ouro de Mérito. Helen Keller recebeu também o prêmio Américas para a União Interamericana, o prêmio Medalha de Ouro do Instituto Nacional de Ciências Sociais e outros. Tornou-se membro honorário de sociedades científicas e organizações filantrópicas dos cinco continentes. Por mais diversos que fossem seus interesses, Helen Keller nunca esqueceu as necessidades das pessoas cegas e surdocegas. Desde sua juventude, sempre esteve disposta a trabalhar pelo seu bem- estar, comparecendo perante governos, dando conferências, escrevendo artigos e, sobretudo, pelo exemplo pessoal que uma pessoa severamente prejudicada pode alcançar. Quando a American Foundation for the Blind, a instituição nacional para informação sobre cegueira foi fundada em 1921, ela finalmente teve um efetivo instrumento nacional para dar vazão aos seus esforços. De 1924 até sua morte, ela foi membro do "staff" da Foundation, servindo como conselheira em relações internacionais e nacionais. Foi também em 1924 que Helen Keller começou sua campanha para levantar o "Fundo Helen Keller" para a Foundation. Até a sua aposentadoria da vida pública, ela foi incansável em seus esforços para que esse Fundo tivesse os recursos necessários para garantir programas de educação e reabilitação de cegos e surdocegos. De todas as suas contribuições para a Foundation, Helen Keller talvez sentisse mais orgulho de sua assistência na formação de um serviço especial para pessoas surdocegas, em 1946. Em 1946 a Imprensa Braille Americana transformou-se na American Foundation for Overseas Blind e Helen Keller foi eleita conselheira emrelações internacionais. UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 8 Foi então que ela começou suas viagens. Entre 1946 e 1957, visitou 35 países em cinco continentes. Após 1961, Helen Keller viveu tranquilamente em Arcan Ridge, onde recebia a família, amigos íntimos e membros da American Foundation for the Blind e da American Foundation for Overseas Blind (hoje Helen Keller International Corporation). Passava a maior parte de seu tempo lendo. Seus livros favoritos foram a Bíblia e volumes de poesia e filosofia. Helen Keller faleceu em 1º de junho de 1968, em Arcan Ridge, algumas semanas antes de completar 88 anos. Suas cinzas foram colocadas na Capela de São José na Catedral de Washington, ao lado das de Anne Sullivan Macy e Polly Thomson. Helen Keller foi, por si mesma, uma grande obra de educação, pois se dedicou ao trabalho para o bem-estar das pessoas cegas e surdocegas, influenciando na criação de legislação e serviços especializados. Por tudo isso ela foi chamada por seus amigos americanos "A primeira mulher de coragem do mundo". São dela estas palavras: “Se metade do dinheiro gasto hoje em curar cegueira fosse utilizado em preveni-la, a sociedade ganharia em termos de economia, sem mencionar considerações de felicidade para a humanidade”. FONTE: Adaptado de <http://www.ethelrosenfeld.com.br/personalidades4-hellenkeller.htm>. Acesso em: 1º out. 2020. Aqui no Brasil, a história da surdocegueira teve visibilidade com a visita de Helen Keller em 1953. Segundo Garcia (2006), essa visita sensibilizou uma grande personalidade, a educadora Nice Tonhozi Saraiva, que, anos mais tarde, seria nacionalmente conhecida por seus esforços na educação de cegos e surdocegos. Temos exemplos de muitos surdos brasileiros que, posteriormente, tornaram-se cegos, principalmente após a doença de Usher. Em 1962, Nice Tonhozi Saraiva fundou a Serviço de Atendimento ao Deficiente Audiovisual (SEADAV). “Em 1977, para garantir maior autonomia da escola, foi novamente alterada e passa a ser chamada de FUMAS – Fundação Municipal Anne Sullivan, que ficou sendo a mantenedora da Escola de Educação Especial Anne Sullivan, que funciona até os dias de hoje” (GARCIA, 2006, p. 26). INTERESSA NTE TÓPICO 1 — DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS 9 Em todos os casos, eles vêm fazendo um trabalho maravilhoso para comunidade surdocega brasileira, difundindo informações tanto para sociedade em geral como para a área educacional. Uma delas é Rosani Suzin, professora e poetisa surdocega. Rosani não é totalmente cega, mas, por causa da Síndrome de Usher, tem um campo de visão reduzida progressivo. Iniciou como militante da comunidade surda e hoje abraçou a causa dos surdocegos com muita adaptabilidade, pois já era usuária nativa de Libras, e hoje, além de conhecedora do braile, é usuária de Libras tátil. FIGURA 3 – ROSANI SUZIN SURDOCEGA BRASILEIRA DURANTE UMA ENTREVISTA FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/39R5B7y>. Acesso em: 1º out. 2020. Assista à entrevista de Rosani Suzin pela TV INES, na qual ela conta rapidamente como passou a se comunicar após a perda da visão. Disponível em: https://www.facebook. com/tvines.oficial/videos/entrevista-com-rosani-suzin-semana-internacional-de- difus%C3%A3o-da-cultura-surda/1267452890132571/ DICAS Abdel Azziz é outro militante da comunidade surdocega, foi a primeira pessoa com deficiência em surdocegueira a se formar no curso de licenciatura Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2010. Assim com a professora Rosani Suzin, é palestrante e ministrante de cursos para profissionais que atuam com pessoas surdocegas. UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 10 FIGURA 4 – PROFESSOR ABDEL AZZIZ FONTE: <https://bit.ly/2JK21RJ>. Acesso em: 1º out. 2020. Outra figura conhecida no meio da comunidade surdocega brasileira é o professor especialista Carlos Eduardo Vilela, atualmente coordenador do setor de surdocegueira da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS). FIGURA 5 – CARLOS EDUARDO VILELA FONTE: <https://i.pinimg.com/280x280_RS/74/d3/e6/74d3e6bc2862660372ea4258cd31ebf7. jpg>. Acesso em: 1º out. 2020. Outros ativistas pelos direitos dos surdocegos são: Claudia Sofia, coordenadora da Associação Brasileira de Apoio ao Surdo Cego do Grupo “Brasil” de Apoio aos Deficientes Múltiplos, e Carlos Jorge, diretor geral da Associação Brasileira de Apoio ao Surdo Cego (ABRASC). Eles vivem em São Paulo e formam o primeiro casal de surdocegos da América Latina. TÓPICO 1 — DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS 11 FIGURA 6 – CASAL SURDOCEGOS MORADORES DE SÃO PAULO FONTE: <https://cdn77.pressenza.com/wp-content/uploads/2017/09/claudiasofia.jpg>. Acesso em: 1º out. 2020. Para algumas tarefas, eles precisam da ajuda de um guia-intérprete, mas na maioria são exemplos de surdocegos que trabalham e vivem independentes, mesmo utilizando formas de se comunicar diferentes. Ela se comunica por meio do tadoma – uma forma de comunicação que se coloca a mão nos lábios de uma pessoa e consegue-se fazer uma leitura labial. Já Carlos, usa a língua brasileira de sinais (Libras). Outra personalidade, conhecida principalmente na região do Rio Grande do Sul, é Alex Garcia, que possui uma doença rara, osteogeneses imperfecta, popularmente conhecida como “ossos de cristal”, e desde a infância sofre perdas gradativa da audição e da visão. Ele é um grande precursor de pesquisas na área de surdocegueira aqui no Brasil, sendo o primeiro surdocego a se formar na universidade. Por estar há muitos anos lutando a favor das causas da comunidade surdocega, acredita-se que ele é o primeiro surdocego brasileiro a escrever uma obra literária com total autonomia, a qual conta sua história de vida e nos sensibiliza para um mundo singular e inclusivo. Sobre a sua própria condição, ele descreve em seu livro: Não escutar direito e não enxergar direito muitas vezes torna-se insuportável. Muitas pessoas pensam que apenas as perdas totais que trazem complicações, mas é muito pelo contrário. Perdas de qualquer intensidade podem ser muito mais penosas do que as totais e também devem ser consideradas altamente relativas, principalmente do ponto de vista psicossocial (GARCIA, 2006, p. 21). Fique atento, a Unidade 2 do seu livro didático abordará as várias formas de comunicação para os surdocegos. ESTUDOS FU TUROS UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 12 Atualmente, Alex Garcia é o presidente-fundador da Associação Gaúcha de Pais e Amigos dos Surdocegos e Multideficientes (AGAPASM), ele mantém uma atuação nacional e internacional utilizando-se dos recursos da informática. FIGURA 7 – PROFESSOR ALEX GARCIA FONTE: <https://bit.ly/33OkdQX>. Acesso em: 1º out. 2020. FIGURA – CAPA DO LIVRO SURDOCEGUEIRA EMPÍRICA E CIENTÍFICA FONTE: <http://www.faders.rs.gov.br/uploads/1412182846Surdocegueira_Empirica_e_ Cientifica.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2020. Baixe o PDF do livro do professor Alex Garcia. Disponível em: http://www.faders.rs.gov.br/ uploads/1412182846Surdocegueira_Empirica_e_Cientifica.pdf. DICAS Após conhecer várias personalidades surdocegas brasileiras, vamos passar pelos institutos e entidades que dão suporte para pessoas com surdocegueira. TÓPICO 1 — DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS 13 3 INSTITUTOS COMO REFERÊNCIA PARA COMUNIDADES SURDOCEGAS Para se estabelecer como comunidade conhecedora de uma cultura, as pessoas com surdocegueira, começaram a participar de institutos que, inicialmente, não tinham especialização em surdocegueira. Isso se deu, pois a maioria foi perdendo um dos sentidos (visão ou audição) ao longo da vida, e já estavam participando de algumas dessas entidades e instituições. Assim, a vida do sujeito surdocego se entrelaça fortemente como sujeito com deficiência visual e/ou com deficiência auditiva e surda. FIGURA 8 – PRIMEIRO INSTITUTO DE CEGOS NO BRASIL NA URCA RJ – HOJE IBC FONTE: <https://comandonoticia.com.br/wp-content/uploads/2019/07/institutodecegosbr- -750x450.jpg>. Acesso em: 1º out. 2020. A seguir, mostraremos algumas entidades e institutos que fizeram e ainda fazem toda diferença na vida social e acadêmica da comunidade com surdocegueira. O INSTITUTO NACIONAL DE SURDOS-MUDOS DE PARIS (1760 A 1890) O Instituto Nacional de Surdos Mudos de Paris tem seu embrião em 1760, a partir do trabalho iniciado pelo abade Charles-Michel de L’Epée, na sociedade parisiense da segunda metade do século XVIII. As informações sobre o abade são raras e, em sua maioria, controversas. Sabe-se que ele nasceu na cidade de Versalhes no ano de 1712. Seu pai, Charles François L’Epée era arquiteto do rei e sua mãe, Marguerite Varignon, era filha de um grande empreiteiro, ligado oficialmente à construção dos edifícios do rei Luís XIV. Nesse sentido, seu lugar social fica evidenciado: um dos filhos de uma família burguesa tradicional do século XVIII, estudou teologia e direito e decidiu seguir o caminho religioso (BÉZAGU-DELUY, 1990). [...] UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 14 Assim, em 1771, com seus próprios meios, fundou a Instituição Nacional de Surdos Mudos de Paris, na sua própria casa, localizada a rua des Moulins, recebendo as crianças pobres em regime de internato (BERNARD, 2014). A chave matriz para o sucesso e o reconhecimento internacional do trabalho desenvolvido por L’Épée com os surdos está nos chamados por ele exercícios públicos dos surdos e mudos. Tratava-se de demonstrações que ele organizava com seus melhores alunos, visando impressionar possíveis espectadores afortunados que pudessem se interessar em financiar a educação dessas crianças e promover a publicidade do abade e o reconhecimento de seu método de ensino. [...] Quando ele morreu, em 1789, vários de seus alunos já se distinguiam na sociedade parisiense. Com efeito, a Assembleia Constituinte reconheceu, em 1791, a importância de sua obra, elevando a escola à categoria de Instituto Nacional, o que a tornaria a primeira escola oficial para surdos no mundo todo. FONTE: Adaptado de ESTIMADO, B. R.; SOFIATO, G. C. A educação de surdos e cegos na França e no Brasil. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 32, p. 3-5, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/33087/html. Acesso em: 1º out. 2020. O INSTITUTO NACIONAL DE MENINOS CEGOS DE PARIS (1760 A 1890) O Instituto Nacional dos Meninos Cegos de Paris tem sua origem com os trabalhos de Valentin Haüy, em um processo bastante similar ao realizado por L’Épée. O mito fundador de que Haüy teria encontrado próximo à Igreja Saint-Germain-des-Près um jovem cego e, sensibilizado, começou a estudar possibilidades para instruí-lo, remonta diretamente à história de L’Épée com as gêmeas surdas. Há ainda outras versões, como o dia em que ele teria visto uma festa com cerca de dez cegos na feira de Saint-Ovide, em que os cegos emitiam sons incoerentes dos instrumentos que tocavam. Emocionado e indignado com o espetáculo, ele teria decidido ali que precisava ajudar os cegos a desenvolver o toque e afinar o ouvido, valorizando seus outros sentidos para sair da condição de ignorância em que eles se encontravam (GUILBEAU, 1907). Contudo, as cartas de Valentin Haüy estudadas por François Buton e Pierre Henri nos relevam o aspecto central para a compreensão de seu interesse pelos cegos: Haüy era um frequentador recorrente dos exercícios públicos dos surdos-mudos realizados por L’Épée e não escondia o seu interesse pelo trabalho do abade. Inferimos, com efeito, que o interesse de Haüy pela educação dos cegos teria advindo, sobretudo, da constatação da notabilidade adquirida por L’Épée com seu método. Vale ressaltar aqui que estas duas instituições se constituíram de iniciativas particulares, em que o instituidor nasceria como uma figura fundamental para a compreensão do seu processo de criação. Nesse sentido, TÓPICO 1 — DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS 15 entendemos que, tanto Charles Michel de L’Épée quanto Valentin Haüy tiveram suas motivações conectadas a essa lógica de notabilidade dos filantropos e, com efeito, no caso de Haüy, esse interesse fica evidente em seus relatos de admiração sobre o trabalho de abbé de L’Épée (HENRI, 1984). Ao contrário de L’Épée, Valentin Haüy vinha de uma família pobre. Nascido em 1745 em Saint-Just-en-Chaussé, na Picardia, ele vai a Paris realizar seus estudos clássicos, obtendo um desempenho de bastante destaque no estudo das línguas, dominando cerca de 12 línguas. Primeiramente, Valentin apresenta seu sistema de letras em relevo e seus primeiros alunos para a própria Academia de Ciências e, com o apoio de Réné, conquista uma pensão real para abrir uma escola com mais de 50 alunos. Ele teria, a partir disso, reconhecimento por seu trabalho quando, no ano seguinte, decide apresentar seus alunos ao rei no palácio de Versalhes, em uma tentativa similar a dos exercícios públicos de L’Épée (GUILBEAU, 1907). Se o seu interesse era de inicialmente ensinar aos cegos a leitura, por meio de seu método de letras em relevo, ele também se preocupava em ensinar ocupações a eles, almejando uma possível emancipação por meio de trabalhos como o tricô, cordoaria, produção de cintos e redes, entre outras atividades manuais (GUILBEAU, 1907). Haüy escreveu e publicou uma obra intitulada Essai sur l’Éducation des Aveugles, com intuito de apresentá-la à corte e ter seu instituto elevado à categoria de Nacional. [...]. O período em que surdos e cegos estiveram juntos no espaço do antigo Convento dos Celestinos é estimado entre dois a três anos. Todavia, foi um tempo de grandes conflitos e intensas disputas entre Haüy e Sicard visto que os dois dirigentes tinham posições políticas divergentes no seio das perturbações revolucionárias (BUTON, 1999, p. 99). Em 3 de abril de 1794, os surdos partem para se instalarem no edifício à Rua Saint-Jacques e, após alguns meses, os cegos também são transferidos, desta vez para o hospício “Catherinettes” (BUTON, 1999, p. 268-281). [...] Observamos aqui uma tendência diferente à assumida na escola de surdos. Enquanto a concepção de instituição escolar foi mantida durante toda a trajetória do Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, apesar de algumas descontinuidades, os cegos passaram um longo período destinado à prática do trabalho. Contudo, Pignier decide receber Haüy com o objetivo de recuperar o projeto educativo do instituto, o que ele tenta fazer ao longo de sua gestão. Assim, ele se esforça para que os métodos para educar os cegos, sobretudo aqueles ligados à leitura e escrita, retomassem seu espaço dentro da instituição (DIDIER-WEYGAND, 2003, p. 283). UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 16 [...] Assim, mesmo com todas as instabilidades e os períodos de declínio, o Instituto Nacional dos Meninos Cegos de Paris se tornaria uma referência mundial, bem como o Instituto de Surdos-Mudos de Paris. FONTE: Adaptado de ESTIMADO, B. R.; SOFIATO, G. C. A educação de surdos e cegos na França e no Brasil. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 32, p. 6-9, 2019. Disponível em: https://pe- riodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/33087/html. Acesso em: 1º out. 2020. O IMPERIAL INSTITUTO DOS MENINOS CEGOS (1854-1890) O Imperial Instituto de Meninos Cegos, fundado no Brasil em 1854, tem sua origem diretamente relacionada ao poder de influência de Dr. José Francisco Xavier Sigaud, um dos médicos do Imperador D. Pedro II. Sigaud era um reconhecido médico francês que veio ao Brasil em 1825, fugindo da perseguição política antibonapartista. Seu interesse pela cegueira não vinha somente do fato de ser médico, masprincipalmente por ter uma filha cega, Adèle Marie Louise Sigaud. Em busca de possibilidades de instrução para a sua filha, Sigaud recebe notícias sobre a primeira escola especializada para cegos criada em Paris e, em uma de suas viagens para a França, teria ido conhecer o instituto. Concomitante a isto, estudava no Instituto Nacional dos Meninos Cegos de Paris o jovem cego brasileiro José Álvares de Azevedo, que permaneceu na escola francesa durante seis anos ininterruptos (entre 1844 e 1850), onde se formou com destacadas notas e premiações. Não encontramos fontes que nos digam ao certo se Sigaud teria conhecido José Álvares de Azevedo quando este estava estudando no Instituto Nacional dos Meninos Cegos de Paris ou na própria cidade do Rio de Janeiro. Independente disto, Azevedo passa a alfabetizar Adèle por meio do sistema Braille e eles decidem, conjuntamente, encaminhar um projeto ao Imperador para a fundação de uma escola para cegos baseada no instituto parisiense. Com apoio de Couto Ferraz, que naquele momento ocupava o cargo de Ministro dos Negócios do Império, o Imperador decreta a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos do Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1854. Junto ao decreto, vem anexo um regulamento provisório para a instituição, que entraria em vigor naquele momento, sendo complementado ao final do mesmo ano, por um segundo regimento interno provisório [...]. Além disso, as estatísticas de que os cegos no Rio de Janeiro do início do Império totalizavam cerca de 148 foram um argumento bastante relevante na aprovação da proposta. O Instituto tinha, em seu primeiro regulamento, aberto 30 vagas para alunos de ambos os sexos com idade máxima de admissão aos 12 anos e com comprovação médica de cegueira total. Além disso, os que não trouxessem uma comprovação de pobreza deveriam pagar 400 mil réis de pensão anual. TÓPICO 1 — DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS 17 Assim, a necessidade de o ensino ser gratuito, devido a maior parte de cegos serem pobres se contrapõe diretamente com a ideia de que a instituição deveria onerar o mínimo possível os cofres do Império, impasse que se resolve, em partes, com a limitação de apenas dez vagas para alunos que comprovassem pobreza. [...] Sendo a idade máxima de admissão dos alunos 12 anos, era passível que estes ficassem no instituto até os 22, visto que o tempo máximo de permanência era de oito anos, prorrogáveis por mais dois, em caso de não conclusão dos estudos até o momento limite. Os professores teriam sido, primeiramente, trazidos de instituições já existentes na Europa. Os alunos que se destacassem nos estudos eram “preferidos para o cargo de repetidor que, no prazo de dois anos, passariam à condição de professor”. Além disso, os repetidores também poderiam se tornar inspetores, aumentando as possibilidades de permanência no instituto. Assim, o ensino no Instituto Imperial de Meninos Cegos baseava- se no tripé música, trabalho e ciência, de modo a incentivar que os alunos mantivessem sua vida dentro do Instituto, ao invés de estimulá-los a garantir uma vida de forma independente. [...] Após a morte de José Francisco Xavier Sigaud, em 1856, assume a administração o Dr. Cláudio Luiz da Costa, que permaneceria no cargo até o ano de 1869. [...] Em 1869, com a sua morte, assume a direção interina Benjamin Constant. Benjamin Constant teria entrado no Imperial Instituto dos Meninos Cegos como professor de matemática e ciências em 1862 (ZENI, 2005, p. 176). Cursou a escola militar, onde mais tarde teria sido professor. Ele se dedicava ao magistério, e já tinha lecionado também no Colégio Pedro II e na Escola Normal da Corte. (ZENI, 2005, p. 87). No ano seguinte a sua entrada no Imperial Instituto dos Meninos Cegos como professor, ele teria se casado com a filha de Cláudio Luiz da Costa, o que teria estreitado suas relações políticas com o antigo diretor e com o próprio Instituto. Benjamin Constant foi uma importante figura política brasileira nos finais do Segundo Reinado e no início do período republicano. [...]. Segundo Zeni (2005), Benjamin Constant já teria encontrado o instituto com bases firmadas, “mas carecendo muito de dedicação daquelas pessoas que por ele lutavam. Foi ele mais um destes abnegados, justificando com seu trabalho em prol dos cegos a consideração de que o Instituto representou sua ação mais importante no campo da assistência” (p. 119). Assim, ele se preocupou fundamentalmente em expandir a educação dos cegos pelo Brasil, ramificando o instituto pelas províncias do território nacional, com vistas a torná-lo autossuficiente. FONTE: Adaptado de , B. R.; SOFIATO, G. C. A educação de surdos e cegos na França e no Brasil. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 32, p. 10-13, 2019. Disponível em: https://pe- riodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/33087/html. Acesso em: 1º out. 2020. UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 18 ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL PARA SURDOCEGUEIRA E MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA - AHIMSA Foi criada por um grupo de 26 profissionais que atuavam há mais de dez anos com pessoas surdocegas e deficientes múltiplos em outro município. Com o intuito de expandir e implementar esse trabalho no município de São Paulo, a instituição, fundada em 4 de março de 1991, iniciou o seu atendimento apenas com trabalho domiciliar e, mais tarde, complementou-se com atendimento educacional na escola. A instituição possui como objetivo principal o desenvolvimento de pessoas com surdocegueira e deficiência múltipla sensorial, promovendo a inclusão social. Auxilia seus alunos (em torno de 180) a dominar a independência e a comunicação, além de lutar pelo direito à profissionalização. A instituição procura valorizar a ética (dá exemplos de integridade, moral, honestidade), a responsabilidade social (exercício da cidadania ao contribuir para educação e reabilitação), a valorização do trabalho em equipe e a promoção de espaços e ações recreativas visando à qualidade de vida e o respeito às necessidades e habilidades de cada um. Tem parceria com o Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao Múltiplo Deficiente Sensoria, Abrasc (Associação Brasileira do Surdocego) e Abrapascem (Associação Brasileira de Pais e Amigos do Surdocegos e Múltiplos Deficientes). A instituição promove, ainda, diversas atividades de recriação. Como pôde ser verificado em visita à AHIMSA, os alunos participam de atividades artesanais (confecção de agendas, telas, biscuit, mosaico etc.) e culinárias, além de se dedicarem à produção de pães dos mais diversos tipos para venda. FONTE: Adaptado de TATEISHI, B.; SANTOS, I.; JINHUI, Z. A inclusão de portadores de surdocegueira. Revista Pandora Brasil, [S. l.], n. 24, p. 1-9, nov. 2010. Disponível em: http://revista pandorabrasil.com/revista_pandora/inclusao/inclusao_portadores.pdf. Acesso em: 1º out. 2020. Saiba mais sobre a AHIMSA por meio do vídeo disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=IFN_jloxepY DICAS Como notamos, a história dos surdos e cegos andam de mãos dadas, devido a compartilharem a privação dos mesmos sentidos de forma concomitante. Aqui, no Brasil, o Instituto Benjamin Constant continua a atender crianças e adolescentes com deficiência visual, surdocegos e com deficiência múltipla, sendo referência nacional e internacional. TÓPICO 1 — DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA – ASPECTOS TEÓRICOS E HISTÓRICOS 19 No Quadro 1, listamos algumas associações de comunidades surdocegas, mais conhecidas no Brasil por pesquisar familiares e pessoas com síndrome de Usher e prestar todo o apoio para viver bem em sociedade e escolarização. QUADRO 1 – ASSOCIAÇÕES DE DEFICIENTES SURDOCEGOS SÃO PAULO ABRASC - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SURDOCEGOS Endereço: Rua Baltazar Lisboa, 180 - Vila Mariana, SÃO PAULO / SP. CEP: 04110-060 Telefone: (11) 95579-0032 / 5081-4633 E-mail: abrasc.sp@gmail.com GRUPO BRASIL DE APOIO AO SURDOCEGOE AO MÚLTIPLO DEFICIENTE SENSORIAL Endereço: Rua Baltazar Lisboa, 180 - Vila Mariana, SÃO PAULO / SP. CEP: 04110-060 E-mail: grupobrasil@grupobrasil.org.br. Telefone: (11) 5579-5438 / fax: (11) 5579-0032 ABRAPASCEM - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PAIS E AMIGOS DOS SURDOCEGOS E MÚLTIPLOS DEFICIENTES SENSORIAIS Endereço: Rua Baltazar Lisboa, 212- Vila Mariana, SÃO PAULO / SP. CEP: 04110-060 Telefone: (11) 5579-0032 E-mail: abrapacem@gmail.com RIO GRANDE DO SUL AGAPASM - ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE PAIS E AMIGOS DOS SURDOCEGOS E MULTIDEFICIENTES Endereço: Rua Marechal Floriano Peixoto, 2771, Centro, SÃO LUIZ GONZAGA / RS. CEP: 97800-000 Telefone: (55) 3352-1519 E-mail: alexsurdocego@icloud.com Site: http://www.agapasm.com.br/ FONTE: A autora Conheça o Projeto Memória Instituto Benjamin Constant: o IBC e a educação de Cegos no Brasil. Disponível em: http://www.ibc.gov.br/a-criacao-do- ibc#:~:text=Atualmente%2C%20o%20Instituto%20Benjamin%20Constant,e%20 assessorando%20institui%C3%A7%C3%B5es%20p%C3%BAblicas%20e. DICAS 20 Neste tópico, você aprendeu que: • A história da pessoa surdocega no Brasil, embora esteja intrínseca em institutos e entidades de pessoas com deficiência visual, ainda é carente de informações. • Laura Bridgman entrou no Instituto Perkins (EUA) em 1837, e é considerada a primeira surdocega a ser educada com sucesso. • Helen Keller, sem dúvida, foi um exemplo de vida para a comunidade surdocega mundial. • A educação de surdocegos tem suas origens na França e nos EUA. • Os militantes surdocegos brasileiros concordam que o Brasil está muito atrasado no que se refere a sua educação. • A história da surdocegueira no Brasil ganhou visibilidade com a visita de Helen Keller em 1953. • Alex Garcia, que possui uma doença rara chamada osteogeneses imperfecta, foi o primeiro surdocego brasileiro a se formar na universidade. • A professora Rosani Suzi é poetisa surdocega, que iniciou como militante da comunidade surda e hoje abraçou a causa dos surdocegos com muita adaptabilidade, pois já era usuária nativa de Libras. • Abdel Azziz foi a primeira pessoa com deficiência em surdocegueira a se formar no curso de licenciatura Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 2010. • O professor especialista surdocego Carlos Eduardo Vilela, palestrante e administrador de cursos, atualmente é coordenador do setor de surdocegueira da Federação Nacional de educação e Integração dos Surdos. • A maioria das pessoas surdocegas foram perdendo um dos sentidos (visão ou audição) ao longo da vida, por isso já estavam participando de algumas entidades ou instituições, especializadas em surdez ou cegueira, e continuaram a participar depois que perderam os dois sentidos. • O Instituto Nacional de Surdos Mudos de Paris teve início em 1760, a partir do trabalho iniciado pelo abade Charles-Michel de L’Epée, na sociedade parisiense. • O Instituto Nacional de Meninos Cegos de Paris (1760-1890) teve sua origem com os trabalhos de Valentin Haüy, em um processo bastante similar ao realizado por L’Épée. RESUMO DO TÓPICO 1 21 • O Imperial Instituto dos Meninos Cegos aqui no Brasil (1854-1890) teve sua origem diretamente relacionada ao poder de influência de Dr. José Francisco Xavier Sigaud, um dos médicos do Imperador D. Pedro II. Seu interesse pela cegueira foi por causa de sua filha cega, Adèle Marie Louise Sigaud. • Associação Educacional para Surdocegueira e Múltipla Deficiência (AHIMSA), muito conhecida na comunidade surdocega, foi criada por um grupo de 26 profissionais que atuavam há mais de dez anos com pessoas surdocegas e deficientes múltiplos. 22 1 Estimado e Sofiato (2019) ao tecerem reflexões sobre o surgimento das instituições brasileiras, as quais auxiliaram às pessoas surdas e cegas, reportam-se a exemplos de instituições da Europa. Considerando a base histórica da educação de surdos e cegos brasileiros, assinale a alternativa CORRETA. a) ( ) Na Itália no século XVIII, iniciando no Brasil do século XX. b) ( ) Na França no século XVII, iniciando no Brasil do século XIX. c) ( ) Na Alemanha no século XVII, iniciando no Brasil do século XVIII. d) ( ) Na França no século XVIII, iniciando no Brasil do século XIX. 2 Uma das mais conhecidas e estudadas personagens com surdocegueira da história é Helen Keller. Helen, após auxílio da professora Anne Sullivan, aprendeu a ler, escrever e falar. Além disso, Helen Keller demonstrou, também, excepcional eficiência no estudo das disciplinas do currículo regular, iniciando seus escritos que, mais tarde, seriam traduzidos para muitos países. Sobre como ela conseguia fazer esses escritos, analise as sentenças a seguir: I - Em seus trabalhos literários, Helen usava a máquina de datilografia em braile. II - Em seus trabalhos literários, Helen usava uma caneta especial para cegos. III - Ela também copiava seus escritos com um recurso da época de nome reglete. IV - Ela também copiava numa máquina de datilografia comum. Assinale a afirmativa CORRETA. a) ( ) As sentenças I e IV estão corretas. b) ( ) As sentenças II e III estão corretas. c) ( ) As sentenças I e II estão corretas. d) ( ) As sentenças III e IV estão corretas. 3 O Imperial Instituto de Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant (IBC), foi baseado no Instituto Nacional de Meninos Cegos de Paris. A ideia surgiu depois de uma das viagens de José Álvares de Azevedo, que permaneceu no Instituto da França durante seis anos ininterruptos. Sobre o Imperial Instituto de Meninos Cegos da época aqui no Brasil, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: AUTOATIVIDADE 23 ( ) O Instituto tinha, em seu primeiro regulamento, aberto 50 vagas para alunos de ambos os sexos com idade máxima de admissão aos dez anos. ( ) A idade máxima de admissão dos alunos era de 12 anos, era passível que estes ficassem no instituto até os 22. ( ) O Imperador decreta a criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos do Rio de Janeiro, em 12 de setembro de 1854. ( ) Os que não trouxessem uma comprovação de pobreza deveriam pagar quatrocentos mil réis de pensão anual. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA. a) ( ) V – V – F – F. b) ( ) V – V – V – F. c) ( ) F – V – V – V. d) ( ) F – F – V – V. 24 25 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 ASPECTOS CONCEITUAIS RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA 1 INTRODUÇÃO As questões da inclusão em sociedade não é algo novo, a sociedade sempre é lembrada da importância de sermos inclusivos, conscientes das necessidades dos outros, usar de empatia, afinal, todos nós precisamos nos relacionar com o mundo. O objetivo central dessa teoria, também conhecida como abordagem sociointeracionista, foi “caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formaram ao longo da história humana e como se desenvolveram durante a vida do indivíduo” (VYGOTSKY, 1984, p. 21 apud OLIVEIRA, 2010, p. 30). Assim, mesmo que biologicamente a pessoa tenha algum tipo de necessidade, pode desenvolver-se em sociedade ao conseguir inteirar-se no meio que vive, mas será que os elementos biológicos constituem um determinante para exclusão? Claro que não! Pode haver dificuldade sim, mas é justamente a consciência dessa dificuldade e a estimulação com a interação que motiva e possibilita que pessoas com qualquer deficiência ultrapasse barreiras dentro de seus limites. Por isso, neste tópico, vamos refletir que, “Nas pessoas que nascem ou venham a adquirir uma deficiência visual, a constituição do seu ser e sua identidade perpassa por sentimentos ambíguos e muitos conflitos compreensíveis” (AMIRALIAN, 2009, p. 35). Para isso, iniciamos nossos estudos falando da importância da interação entre os pares para o sujeito surdocego. 2 SURDOCEGO NO CONTEXTO DAS INTERAÇÕES As interações sociais acontecem quando duas ou mais pessoas se encontram com o objetivo de estabelecer umcontato, Silva e Arce (2010, p. 122 apud ALVES, 2017, p. 3) afirmam que a interação social é “um processo que se dá a partir e por meio de indivíduos com modos histórica e culturalmente determinados de agir, pensar e sentir, sendo inviável dissociar as dimensões cognitivas e afetivas dessas interações e os planos psíquico e fisiológico do desenvolvimento decorrente”. Vygotsky (1984) afirma que o aluno com deficiência deve participar ativamente da vida social e, principalmente, ter um ensino de qualidade, que lhe permita desenvolver suas funções psicológicas superiores. 26 UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA Concordamos que a interação social tem um papel extremamente importante, ela desenvolve uma consciência desde o nascimento, considerando que a criança é um ser que desenvolve sua personalidade e capacidade social desde seu despertar, assim, é fundamental proporcionar essa interação para favorecer sua constituição enquanto pessoa. Warneken e Tomasello (2007), citados por Arezes e Colaço (2014 apud ALVES, 2017, p. 4), expressam que a interação é um comportamento de um indivíduo perante a participação de outro, por meio de conversa, numa troca de gestos, num jogo ou num conflito. Logo, a interação social se estabelece na relação entre duas ou mais pessoas, ainda que esta não implique obrigatoriamente na comunicação oral (MESQUITA, 2015 apud ALVES, 2017, p. 4), tal afirmativa se cumpre quando compreendemos que as pessoas surdocegas possuem uma maneira específica de comunicação e interação social que acontece pelo tato. Considerando que as interações sociais se desenvolvem desde o nascimento, é importante que as crianças surdocegas construam relações não apenas no ambiente familiar, mas também no espaço educacional, visto que é um ambiente que propicia as interações com o meio pelo tato e percepções sensitivas. Neste sentido, a interação entre pares “tem muitas potencialidades educativas, nomeadamente de promoção cognitiva, progresso social e emocional” (IRIS, 2006, p. 12 apud ALVES, 2017, p. 5), as relações entre os pares proporcionam a formação do indivíduo favorecendo o ser humano no desenvolvimento a nível social. O elo que os surdocegos estabelecem com os outros sujeitos nos faz compreender que a pessoa surdocega, sendo um ser social, necessita criar um contexto de significado e de pertencimento, comunicando seus sentimentos e desejos por meio de um sistema específico de comunicação e interação. A atmosfera de confiança e segurança deve estar presente em todo o momento da interação, pois essa troca proporciona motivação e confiança para o surdocego enfrentar seus medos e inseguranças. Assista ao vídeo Cego enxerga tudo preto? Do canal Histórias de Cego. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=1RDzxQWdbJ0 DICAS TÓPICO 2 — ASPECTOS CONCEITUAIS RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA 27 2.1 COMPETÊNCIA SOCIAL E SURDOCEGUEIRA Entendemos como competência uma característica latente em determinado indivíduo e que está diretamente ligada à capacidade de realizar uma ação ou tarefa. Para McClelland (1973) citado por Fleury e Fleury (2001, p. 184 apud ALVES, 2017, p. 7) “é uma característica subjacente a uma pessoa que é casualmente relacionada com desempenho superior na realização de uma tarefa ou em determinada situação”. Corroboramos com a ideia do autor compreendendo a competência como uma mescla de conhecimentos diversos, operantes, tão exclusivamente, no homem por sua racionalidade. Ainda sob essa perspectiva Fleury e Fleury (2001 apud ALVES, 2017) afirmam que as competências são um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (capacidades humanas) que, depois de desenvolvidas, proporcionam um bom desempenho, sendo todos os recursos que o indivíduo contém. A aquisição e desenvolvimento de tais competências em pessoas com surdocegueira depende diretamente do meio em que está inserida, necessita de estímulos e estratégias para que um conjunto de conhecimentos venham a eclodir em sua trajetória de aquisição de saberes. Essa relação de convívio e interação societária contribui fortemente para o surgimento das competências sociais, considerando que a troca de conhecimento é um estimulante vital para a aprendizagem. Spencer (2003), citado por Baptista et al. (2011, p. 4 apud ALVES, 2017, p. 7), atribuem as competências sociais como “a capacidade para obter determinados resultados (positivos) a partir das relações interpessoais”. As relações interpessoais são extremamente importantes para a pessoa surdocega, pois é por meio dela que o indivíduo desenvolve a capacidade de integrar competências em áreas emocionais e cognitivas, favorecendo a adaptação e convívio nos diferentes contextos sociais. Após essa nossa conversa, identificamos como a interação se torna fundamental para modificar o sujeito surdocego, intensificando sua participação em sociedade como cidadão atuante. Pesquisas pelo olho humano, até conhecer como acontece a deficiência visual, bem como sua prevenção. 3 O OLHO HUMANO Estima-se que cerca de 80 a 90% da informação que recebemos é pelos sentidos da visão e da audição. Dessa forma, a privação destes dois sentidos, com certeza, pode provocar alterações drásticas no acesso da pessoa à informação e, consequentemente, em seu desenvolvimento. De acordo com Brasil (2006, p. 13), a “formação da imagem visual depende de uma rede integrada, de 28 UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA estrutura complexa, da qual os olhos são apenas uma parte, envolvendo aspectos fisiológicos, função sensório-motora, perceptiva e psicológica”. Como pudemos notar, a visão é um sentido muito importante para o nosso relacionamento com o mundo exterior, os olhos são responsáveis por captar imagens, transformá-las em impulsos e enviá-las ao cérebro. Neste contexto, quem de nós, em algum momento da vida, já não fez o exame com um profissional oftalmológico para saber se necessita ou não de um recurso óptico para correção da visão? Com certeza esse profissional deve ter utilizado a “Scala Optométria Snellen” para medir nossa acuidade visual, ao fazer o teste, que consiste em ler as letras em linhas que vão diminuindo sucessivamente. Para conversar sobre a deficiência visual ou surdocegueira, é importante compreender como funciona nosso sistema visual. O olho humano é responsável por muitas estruturas cerebrais, afinal, como dizem, o olho é comparado, metaforicamente, ao “espelho humano”, por meio deles podemos enxergar os A acuidade visual pode ser medida mostrando-se objetos de tamanhos diferentes ao paciente e que se encontram a uma mesma distância do olho. A forma mais correta para medir a acuidade é no consultório oftalmológico, utilizando-se, normalmente, a Tabela de Snellen. [...] A avaliação é realizada com a tabela posicionada a uma distância padrão da pessoa a ser testada. Cada linha da tabela corresponde a uma fração, que representa uma acuidade visual. E cada olho deve ser testado separadamente”. FIGURA – SCALA OPTOMÉTRIA SNELLEN FONTE: <http://www.stargardt.com.br/wp-content/uploads/2016/05/tabela-de-Snellen.png>. Acesso em: 1º out. 2020. FONTE: <http://www.stargardt.com.br/entendendo-o-que-e-acuidade-visual/>. Acesso em: 1º out. 2020. NOTA TÓPICO 2 — ASPECTOS CONCEITUAIS RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA 29 mais profundos sentimentos do ser humano. Bem, metáforas à parte, antes de continuarmos falando da pessoa com deficiência visual e surdocega, vamos entender melhor as principais estruturas do olho humano. Ele está dividido em: • Córnea. • Íris. • Cristalino. • Retina. • Humor aquoso e vítreo. FIGURA 10 – PRINCIPAIS PARTES DO OLHO HUMANO FONTE: <https://bit.ly/2VPSJq4>. Acesso em: 1º de out. 2020. Silveira (2009, p. 16) nos explica o significado dessas principais parte do nosso olho, veja: A córnea é uma partetransparente que, juntamente com a íris, foca a imagem na retina. A íris é a parte colorida dos olhos. Fica localizada entre a córnea e o cristalino e funciona como um diafragma, determinando a quantidade de luz que penetra no olho, abrindo e fechando a pupila. O cristalino é a lente natural dos olhos. É transparente e fica atrás da íris. A retina é responsável por transformar a imagem em impulsos e enviá- los ao cérebro. Funciona como um prolongamento do Sistema Nervoso Central e está posicionada na face interna do olho. O humor aquoso é um líquido que preenche o olho, juntamente com o humor vítreo. Fica entre a córnea e o cristalino e é renovado constantemente. O humor vítreo tem característica de gel e preenche a cavidade posterior do olho humano. Então, quando uma dessas estruturas principais é comprometida por alguma doença, acidente ou deficiência, muitas vezes podem ser corrigidas com o uso dos recursos ópticos (óculos, lentes de contato, cirurgia), mas quando isso não é possível pode resultar em baixa visão/visão subnormal e/ou deficiência visual conforme veremos a seguir. 30 UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 4 BREVE CONCEITO DE DEFICIÊNCIA VISUAL Afinal, como podemos classificar uma pessoa como tendo deficiência visual? Para iniciar, muito embora a pessoa com visão subnormal ou baixa visão tenha sua própria classificação pelos órgãos responsáveis, a baixa visão está dentro do campo da deficiência visual, assim como a cegueira. Assim, primeiro vamos entender o que é baixa visão ou (ambliopia), visão subnormal (VSN) ou visão residual: É a alteração da capacidade funcional da visão, decorrente de inúmeros fatores isolados ou associados, tais como: baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes, que interferem ou que limitam o desempenho visual do indivíduo. A perda da função visual pode se dar em nível severo, moderado ou leve, podendo ser influenciada também por fatores ambientais inadequados (BRASIL, 2006, p. 16). Segundo a Organização Mundial de Saúde (1982 apud BONFADINI, 2020, s. p.), a baixa visão pode ser classificada nos seguintes aspectos: • 20/30 a 20/60: é considerado leve perda de visão ou próximo da visão normal. • 20/70 a 20/160: é considerada baixa visão moderada, baixa visão moderada. • 20/200 a 20/400: é considerado grave deficiência visual, baixa visão grave. • 20/500 a 20/1000: é considerado visão profunda, baixa visão profunda. A baixa visão ou visão subnormal (VSN) é mais comum que a cegueira, e a maioria tem causa genética. Segundo Silva (2013), doenças como o glaucoma, que atinge o nervo óptico causando a perda do campo visual, na maioria das vezes, por aumento da pressão intraocular, além da diabetes. Além disso, mais recentemente, o vírus Zika, transmitido pela picada do inseto Aedes Aegypti, que é considerado um arbovírus, tem sido alvo de estudos para diagnósticos de baixa visão. Outra causa bem comum para baixa visão ou visão subnormal, conforme Santos e Lueders (2019, p. 9), é a: Fique atento, no Tópico 3 desta unidade nos aprofundaremos na legislação e perfil da pessoa surdocega. ESTUDOS FU TUROS TÓPICO 2 — ASPECTOS CONCEITUAIS RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA VISUAL E SURDOCEGUEIRA 31 [...] catarata, que pode ser definida como a opacificação do cristalino, que é uma lente transparente localizada dentro do olho. Essa opacificação causa diminuição da entrada de luz para dentro do olho e, como consequência, a visão torna-se menos nítida, borrada e escura. Essa mudança geralmente é gradativa e as causas mais comuns que contribuem para o surgimento desta doença são: a senilidade, a congênita, traumática e inflamatória. E a cegueira? “É a perda total da visão, até a ausência de projeção de luz” (BRASIL, 2006, p. 16). A cegueira é uma deficiência visual, ou seja, uma limitação de uma das formas de apreensão de informações do mundo externo. Ela se refere à ausência total da resposta visual, mesmo com o uso de qualquer recurso óptico. Segundo Couto e Oliveira (2016, p. 2): A OMS define, por meio do International Statistical Classification of Diseases, Injuries and Causes of Death, 10th revision (ICD-10), como cegueira legal acuidade visual menor que 20/400 ou campo visual menor que 10 graus e baixa visão a acuidade visual menor que 20/60 ou campo visual menor que 20 graus no melhor olho. Amiralian (1997) destaca que os cegos que perdem a visão a partir dos cinco anos de idade são considerados cegos adventícios ou adquiridos. Os casos de cegueira anterior a essa idade são chamados de cegueira congênita “quanto mais cedo ocorre a perda da visão, mais essa condição influencia o desenvolvimento do sujeito e, quanto mais tarde a cegueira se apresenta, mais as características de personalidade anteriores à perda têm peso maior na formação do indivíduo” (AMIRALIAN, 1997, p. 54). A cegueira pode ser classificada em congênita ou adquirida. • Causas Congênitas da cegueira: Retinopatia da Prematuridade, graus III, IV ou V – (por imaturidade da retina em virtude de parto prematuro, ou por excesso de oxigênio na incubadora). Corioretinite, por toxoplasmose na gestação. Catarata congênita (rubéola, infecções na gestação ou hereditária). Glaucoma congênito (hereditário ou por infecções). Atrofia óptica por problema de parto (hipoxia, anoxia ou infecções perinatais). Degenerações retinianas (Síndrome de Leber, doenças hereditárias ou diabetes). Deficiência visual cortical (encefalopatias, alterações de sistema nervoso central ou convulsões). • Causas Adquiridas: Por doenças como diabetes, descolamento de retina, glaucoma, catarata, degeneração senil e traumas oculares, acidentes traumas visuais (BRASIL, 2006, p. 17-18, grifo nosso). Assista ao vídeo Surdocegueira: o sentido do mundo pelo tato produzido pelo INES. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3413dCuo5Ic DICAS 32 UNIDADE 1 — APRESENTAÇÃO A RESPEITO DA DEFICIÊNCIA VISUAL, BAIXA VISÃO E SURDOCEGUEIRA 4.1 CAUSAS MAIS COMUNS E PREVENÇÃO À SURDOCEGUEIRA O conceito de prevenção para qualquer deficiência tem sido modificado devido às pesquisas na área e sua visibilidade por vários grupos de estudos, principalmente nas áreas médica e pedagógica, além de ajuda tecnológica. É certo que, qualquer doença ou deficiência que possa ser prevenida vai de encontro ao que o ser humano deseja, uma vida plena, na qual suas expectativas possam ser alcançadas. Nesse contexto, as causas de origem genéticas tanto para baixa visão/ visão subnormal e/ou cegueira, podem ser difíceis de prevenir, haja visto que, as conexões genéticas são difíceis de controlar. É o caso da Retinite Pigmentosa (RP), glaucoma e catarata congênita, podem ser prevenidas e até minimizadas, principalmente por meio de aconselhamento genético, visto que, entre as principais causas, estão gestação precoce, desnutrição da gestante, drogas em geral, infecções durante a gravidez (rubéola, sífilis, AIDS, toxoplasmose e citomegalovírus, entre outros). Para entender melhor o que acontece com um olho com RP, o campo de visão pode ser disforme ou em um “circulo”. Quanto maior a degeneração, menor será o círculo para o campo de visão, em geral se há progressão por alguma doença associada, a pessoa se torna surdocega, conforme Figura 11. FIGURA 11 – EXEMPLO DE VISÃO PESSOA SEM RP E COM RP FONTE: <https://oftalmologiamutton.com.br/wp-content/uploads/2019/09/retinose-pigmentar. jpg>. Acesso em: 30 nov. 2020. A incidência de deficiência visual relacionada à cegueira, na maioria das vezes, está associada a múltiplas deficiências, e, neste caso, a melhor forma de prevenir ainda é a vacinação, pois evitaria o nascimento de crianças com catarata congênita, surdez e deficiência mental. Por isso, a orientação dos profissionais da saúde é que toda mulher deve ser vacinada antes de engravidar ou no início da adolescência, devido
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