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a psicologia e a estratégia saúde da família compondo saberes e fazeres

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26
Camargo-Borges, C.; Cardoso, C.L. “A Psicologia e a estratégia saúde da família: compndo saberes e fazeres”
A PSICOLOGIA E A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA:
COMPONDO SABERES E FAZERES
Celiane Camargo-Borges
Cármen Lúcia Cardoso
USP - Ribeirão Preto
RESUMO: Este ensaio traz para o debate possíveis articulações entre a psicologia e a Estratégia Saúde da
Família (ESF). O texto inicia com um recorte histórico das transformações ocorridas na área da saúde culminando
na implantação do SUS e na inserção de outros profissionais na Saúde Pública. Destaque especial se dá a
psicologia, principalmente no campo da Psicologia Social da Saúde, que propõe uma atuação mais social,
interativa, coletiva e local. A ESF, política pública instaurada para auxiliar na reorganização do sistema de
saúde e na consolidação do SUS, ressalta a inter-relação de profissionais da saúde/usuários enfatizando a
produção de vínculos, a criação de laços de compromisso e a co-responsabilidade. Por fim, o esforço é de
articular os saberes e fazeres de cada campo, apontando essa composição como fértil no sentido de contribuir
com a produção do cuidado em saúde e, ainda, com a reorientação do modelo assistencial.
Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família; psicologia social da saúde; Modelo assistencial em saúde.
PSYCHOLOGY AND THE FAMILY HEALTH CARE STRATEGY: COMBINING KNOWLEDGES AND PRACTICES
ABSTRACT:This essay brings to discussion the links between Psychology and the Family Health Care Strategy
(ESF). The text begins with a historical view of the transformations occurred in the health field leading to the
National Public Health (SUS) and the participation of other professionals in the Public Health field. Special
outstanding is given to Psychology, specially health social psychology which proposes an intervention more
social, interactive, collective and local contexts. The ESF, a public policy that was established to promote the
reorganization of the Health System and the consolidation of the SUS, emphasizes the relationship between
health professionals / patients and the production of links, the creation of compromise and co-responsibility
among them. Finally, the effort is to articulate the knowledges and practices of each field, pointing to the
usefullness of this combination to health care work, and also, to the reorganization of assistance model.
Key-words: Family Health Care Strategy; Health social psychology; Health assistance model
... E há que se cuidar do broto para que a vida nos dê flor.... (Milton Nascimento)
Para que a vida nos dê flor é preciso cuidado
diário, atento e apaixonado e, ainda, que se estabeleça
uma relação de responsabilidade e compromisso entre
as partes envolvidas nesse processo.
Desde a conquista legal de um Sistema Único
de Saúde (SUS) para o País que legitimou a saúde
como um processo dinâmico e complexo, especial
atenção se tem dado a produção do cuidado à saúde,
em dois aspectos principais: o processo de trabalho e
a integralidade. A produção do cuidado é
compreendida como parte integrante da
transformação do processo de trabalho em saúde,
auxilia a estruturação das ações que abrangem as
questões micro-políticas do trabalho, está atenta às
necessidades em saúde no que diz respeito a vertentes
locais, subjetivas e relacionais. Busca a integralidade
da atenção, ou seja, o envolvimento responsável e
compromissado de todas as partes implicadas nesse
processo do cuidar – profissionais, usuários,
organizadores e prestadores de serviços (Merhy, 2002;
Merhy, 1997; Merhy, 1998).
O Programa de Saúde da Família (PSF) tem
sido atualmente compreendido, pelo Governo Federal,
como uma política pública de atenção primária à
saúde (APS), sendo o primeiro contato da população
com o serviço de saúde e uma estratégia para
reorientação do sistema de saúde, auxiliando a
operacionalização dos princípios e diretrizes do SUS
e organizando o sistema numa rede articulada com
os outros níveis de atenção (Brasil, 1997). Assim, o
Programa tem sido denominado, mais recentemente,
de Estratégia, e constitui a ampliação da perspectiva
de um programa de ações em saúde, para que fique
explicita a proposta de uma forma de reorganizar o
modelo de atenção que visa a integralidade.
Na fomentação de uma nova política pública
27
Psicologia & Sociedade; 17 (2): 26-32; mai/ago.2005
de saúde, abrem-se espaços de trabalho para a
psicologia, que passa a problematizar a aplicação das
práticas tradicionais em novo cenário de atuação.
Outras ferramentas de intervenção - mais apropriadas
para a efetiva inserção na área - devem ser construídas
para o trabalho na Saúde Pública, para que possam
contribuir para as transformações propostas pelo SUS.
A Psicologia Social da Saúde, que compreende, em
seus pressupostos, uma intervenção mais local e
coletiva, tem sido um importante campo de
conhecimento e prática para construir formas
diferenciadas de intervenção na saúde.
O presente trabalho pretende contribuir para a
reflexão sobre esses acontecimentos na saúde e como
a psicologia se insere em tal sistema. É proposto aqui,
uma composição de saberes e fazeres, com a
articulação da Psicologia Social da Saúde e a ESF,
apostando na potência dessa composição para a
transformação da produção do cuidado em saúde. Este
estudo visa, ainda, contribuir para a perspectiva da
mudança que vem acontecendo na área, na busca de
uma assistência menos tecnicista, mais humanizada,
e parafraseando Milton, que juntos consigamos
promover essas transformações e produzir o cuidado
necessário “para que vida nos dê saúde”.
DA RECONFIGURAÇÃO DO SISTEMA DE SAÚDE À
ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF)
Nas décadas de 70/80, acontecimentos nos
âmbitos: social, político e econômico acarretaram
profundas transformações na sociedade brasileira. Um
processo crescente de endividamento externo, seguido
de um intenso questionamento do regime político
autoritário que governava o país, começou a
enfraquecer o governo e a incentivar movimentos
sociais de diversas ordens que buscavam melhores
condições de vida.
Nesse contexto, na área da saúde, o fracasso
do modelo prestador de serviços, a privatização da
assistência médica, a crise financeira da previdência
social, os altos índices de desemprego, um perfil
epidemiológico marcado por altas taxas de
mortalidade materna e infantil, o aumento das doenças
infecto-contagiosas e os altos índices de acidentes de
trabalho geraram uma grande mobilização social que
ficou conhecida como movimento sanitário
(Dimenstein, 1998).
Esse movimento trouxe propostas de novas con-
cepções do pensar e fazer saúde - mais humana e uni-
versal - que só poderia ser alcançada através de uma
ampla reforma sanitária. Seu caráter ideológico ini-
cial foi se convertendo em outro mais pragmático,
construiu alternativas concretas para reformulação do
sistema de saúde e contribuiu para o processo de de-
mocratização do País (Teixeira & Mendonça, 1989).
A VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986,
foi o espaço da problematização do conceito de saúde
visto como ausência de doenças e questionou o foco
nos aspectos biológicos, num esforço de redefinição
para uma concepção mais ampliada e dinâmica - a
saúde como produto social resultante da ação de
diversos determinantes: acesso a lazer, escola,
saneamento básico, trabalho, serviços de saúde, entre
outros. (Conferência Nacional de Saúde, 1986;
Mendes, 1996).
A partir das propostas da VIII Conferência, a
saúde foi incluída na Constituição do Brasil de 1988,
no capítulo da Seguridade Social, como um direito
de todos e dever do Estado, o que representou um
avanço em relação à Constituição anterior.
Em setembro de 1990, foi regulamentada a
reforma sanitária com a proposição do Sistema Único
de Saúde (SUS), através da homologação da Lei
Orgânica da Saúde que vigora no país atualmente
(Cordeiro, 1991).
Os princípios do SUS são: universalidade no
atendimento; eqüidade; integralidade nas ações em
saúde; regionalização e hierarquização das unidades
prestadoras de serviços; fortalecimento dos municípios;
descentralizaçãoda gestão administrativa;
resolutividade e participação popular.
Nesse contexto de mudanças oficializou-se, em
1994, o Programa de Saúde da Família (PSF). As ações
do PSF foram, inicialmente, implantadas em regiões
de escassa assistência à população, com os objetivos
de atender às minorias sem acesso a serviços de saúde
e de responder a uma tendência mundial de redução
de custos, de desmedicalização da medicina e
humanização dos serviços (Vasconcellos, 1998). Por
esse programa inicial ser considerado potente para a
universalização do atendimento a saúde e para
implementar os preceitos da reforma sanitária
brasileira, passou-se a haver um esforço e um incentivo
para que se transformasse em Estratégia (ESF) de um
projeto único do sistema da saúde e responsável pela
APS.
A ESF visa estruturar o modelo de atenção
voltado para a integralidade e a qualidade da
assistência prestada e contribuir para consolidação
dos princípios e diretrizes do SUS (Chagas e Seclen,
2003).
A ESF incorpora e reafirma os princípios do
SUS, com as especificidades de um trabalho de APS.
Com a proposta de ser a porta de entrada do usuário
no sistema, a ESF se localiza num território específi-
co, composto de 600 a 1000 famílias a serem acom-
panhadas por uma equipe mínima, integrada por pro-
fissionais médicos, enfermeiros, auxiliares de enfer-
magem e agentes comunitários de saúde. A equipe de
saúde bucal foi recentemente integrada à ESF e é com-
28
Camargo-Borges, C.; Cardoso, C.L. “A Psicologia e a estratégia saúde da família: compndo saberes e fazeres”
posta por um cirurgião dentista, um atendente de con-
sultório dentário e um técnico em higiene dental (Bra-
sil, 2002).
A idéia de porta de entrada visa ser não somente
o primeiro acesso da população ao serviço, mas
também um dispositivo de responsabilização
institucional e sanitária no processo do cuidado com
a saúde articulado a toda a rede de serviços (Brasil,
2003). Segundo Ciampone e Peduzzi (2000), um dos
pontos centrais do trabalho da ESF seria “o
estabelecimento de vínculos e a criação de laços de
compromisso e de co-responsabilidade entre os
profissionais da saúde e a população” (p.143), numa
tentativa de romper com a perspectiva tecnicista em
saúde e fortalecer o envolvimento dos atores sociais
no processo saúde-doença-cuidado.
Os fundamentos da ESF - inserção num
território específico, além do espaço geofísico, mas
também espaço da cultura, das relações, trabalho local
com a população, com estabelecimento de vínculos,
produção de acolhimento e responsabilização -
aproximam o profissional e suas ferramentas de ação
ao âmbito da micro-política dos processos de trabalho,
nos seus fazeres cotidianos, nas suas relações, seja
com outros profissionais seja com a comunidade.
Portanto, trabalhar em consonância com a proposta
da ESF requer uma inversão da lógica do cuidado -
menos técnico e mais relacional - tanto entre equipe-
usuário como entre equipe-equipe (Camargo-Borges,
2002).
De um enfoque biomédico e disciplinar
tradicional, a mudança na saúde trouxe alguns ruídos
sobre outras formas de atuação no sistema,
principalmente na ESF, que tem seu objeto de trabalho
diferenciado pela atuação direta com a comunidade,
em seu cotidiano. A conduta profissional, nessa forma
de trabalho, passa a ser mais coletiva. Enfoca a família
e suas relações e não mais somente o indivíduo com
seus problemas e resgata as múltiplas dimensões da
saúde, o que exige o reformular da postura de
intervenção do profissional, assim como a
incorporação de outros saberes para compor a
produção do cuidado com a saúde.
Nesse contexto, a psicologia dispõe de
ferramentas que poderão ser úteis para a construção
de um modelo mais integrado e holístico de atenção
à saúde.
A PSICOLOGIA NO CAMPO DA SAÚDE PÚBLICA
Até a década de 70, a participação da psico-
logia no âmbito da saúde pública ainda era incipiente.
A psicologia, enquanto profissão tem uma
história recente no Brasil. Apoiada na regulamentação
de 1962, através da Lei Federal 4.119, tradicionalmente
foram constituídas quatro áreas de atuação do
psicólogo: a clínica, a escolar, a industrial e o
magistério. A psicologia, desde a sua criação, é
reconhecida como profissão liberal - parecer 403/68
(Lei 4.119). A ênfase das atividades deste profissional
se centrou nas décadas seguintes, no trabalho
autônomo, clínico, individual, curativo e voltado para
uma clientela financeiramente privilegiada no acesso.
(Silva, 1992; Dimenstein, 1998).
Na reconfiguração do sistema de saúde, o
psicólogo passa a integrar equipes. Entretanto, não
dispunha de um arcabouço teórico e prático para atu-
ação nesse âmbito, o que, muitas vezes, contribuiu
para a manutenção do modelo médico hegemônico,
do trabalho com enfoque no tratamento de fenôme-
nos da esfera psíquica ou mental sem necessidade de
compreendê-los a partir de suas multideterminações,
ou seja, sem considerar o contexto social, econômico
e político no qual o indivíduo está imerso (Spink, 1992;
Silva, 1992; Dimenstein, 1998).
A psicologia, num processo de revisão dessas
práticas e busca por melhores formas de responder às
necessidades dos diferentes locais de atuação, foi
gerando novos campos de saber e ampliou sua inserção
na saúde.
A Psicologia Social da Saúde configura-se como
um campo de conhecimento e prática que trata das
questões psicológicas com enfoque mais social, coletivo
e comunitário voltado para a saúde. Segundo Marín
(1995), caracteriza-se pela interlocução da psicologia
Social - com seus conhecimentos e técnicas – com o
âmbito da saúde e destaca a interação como ponto
fundamental do processo saúde-doença. A interação
refere-se tanto ao homem e seu ambiente quanto aos
diversos atores sociais presentes no cuidado à saúde.
O autor ainda salienta que todas as atividades da
Psicologia Social da Saúde centram-se mais na busca
de uma saúde integral e não somente na saúde mental.
Spink (2003) trata da Psicologia Social da
Saúde como um campo ampliado de atuação do
psicólogo nas instituições de saúde. Essa ampliação
ocorreria principalmente, em relação ao referencial
de trabalho utilizado e exercido, e abrangeria duas
principais questões que a autora destaca como
fundamentais. Primeiramente, a questão contextual
da intervenção, isto é, a importância de se
compreender toda a história e o contexto da instituição
na qual será implementada uma ação, assim como as
pessoas que compõem essa instituição. Faz-se
necessário compreender que cada organização tem
sua realidade local, sua cultura de relações e as
histórias específicas das pessoas que recorrem a esses
serviços. A segunda enfatiza a questão do “outro”, da
alteridade. As intervenções nessa abordagem levam
em conta a interface da cultura e do social no processo
de construção da identidade e da inserção da pessoa
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Psicologia & Sociedade; 17 (2): 26-32; mai/ago.2005
na vida. É a percepção da construção dessa identidade,
tão multiforme, que possibilita reconhecer a alteridade
e lidar com o diverso. A alteridade é entendida como
o relacionar-se com o outro, diferente de mim, mas
reconhecido por mim como uma pessoa com direitos
iguais aos meus e valorizada enquanto sujeito.
A Psicologia Social da Saúde, segundo Spink
(2003), tem como características principais à atuação
centrada em uma perspectiva coletiva e o
comprometimento com os direitos sociais e com a
cidadania. Rompe, portanto, enfoques mais
tradicionais centrados no indivíduo. A atuação se dá
principalmente nos serviços de atenção primária à
saúde, focaliza a prevenção da doença e a promoção
da saúde e incentiva os atores sociais envolvidos para
a geração de propostas de transformação do ambiente
em que vivem. Trata-se, portanto de um processo de
transformação crítica e democrática que potencializa
e fortalece a qualidade de vida.
Como proposição geral, a Psicologia Social da
Saúde, ao contribuir para a superação do modelo
biomédico, objetiva trabalhar dentro de um modelo
mais integrado, reconhece a saúde como um fenômeno
multidimensional em que interagem aspectos
biológicos,psicológicos e sociais e caminha para uma
compreensão mais holística do processo saúde-doença-
cuidado.
Dessa maneira sua inserção na ESF pode ser
útil para contribuir para a transformação das práticas
em saúde rumo à integralidade.
A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA E A PSICOLOGIA
SOCIAL DA SAÚDE: CONSTRUINDO PONTES
Pensar a psicologia como parceira da ESF é
um convite a pôr em pauta os processos de trabalho
em saúde que acontecem no território da ESF e as
relações que nele transcorrem. Um convite à reflexão
e a problematização das possíveis formas de interven-
ção local, numa postura criativa para a composição
de novos trabalhos, mais consoantes com cada reali-
dade local.
Tal parceria pode contribuir para o esforço que
tem sido feito para romper com o modelo biomédico
que, até há muito pouco tempo, conduzia as ações
em saúde e se desdobravam em formas especialistas e
técnicas de trabalho, dificultando a integralidade des-
sas ações. Um exemplo dessas mudanças é a crescen-
te demanda por trabalhos em equipes multiprofis-
sionais.
Apesar de a Saúde Pública já pressupor um tra-
balho de equipe, resquícios dessa forma de interven-
ção ainda dificultam um trabalho mais integrado.
Segundo Peduzzi (2001), a equipe de saúde muitas
vezes se organiza sem um agir comunicativo, que
marca as relações hierárquicas de subordinação
estabelecidas, valor comum atribuído ao modelo
biomédico tradicional de saúde. A equipe
multidisciplinar que tem como proposta constituir-se
como um espaço para a dialogia e para a troca de
saberes, muitas vezes tem sido utilizada para o esta-
belecimento de divisão de trabalho, de papéis, forta-
lecendo a individualização dos profissionais em de-
trimento de relações mais horizontais e coletivas. Desse
modo, a possibilidade de uma intervenção diferencia-
da, de um trabalho integrado, intersetorial, voltado
para a coletividade, muitas vezes se torna difícil
operacionalizar. Prevalece, assim, a dicotomia entre
a competência técnica e a sensibilidade social.
Constata-se que a psicologia cada vez mais tem
adentrado o terreno da saúde, incrementando a com-
preensão do processo saúde-doença-cuidado, princi-
palmente na área da saúde mental, tendo crescido,
quantitativamente, em hospitais e postos de saúde.
Na ESF, a psicologia tem despontado através da pro-
posição de algumas intervenções, já consagradas, no
âmbito da saúde, como o trabalho com grupos (Sou-
za & Carvalho, 2003; Cardoso, 2002) e o das equipes
de saúde mental (Lancetti, 2003). A intervenção atra-
vés de grupos na ESF acontece, principalmente, com
os chamados grupos programáticos para o cuidado
de questões prevalentes na saúde, tais como os grupos
de hipertensão e diabetes e os de gestantes. Esses gru-
pos têm, geralmente, caráter informativo e número
determinado de encontros. Já o trabalho da saúde
mental, na ESF, tem sido constituído por profissionais
dessa área (psicólogos e psiquiatras) que assessoram
a equipe mínima através de estudo de casos,
interconsultas, supervisão continuada, orientação e
capacitação no cuidado e acolhimento dos casos de
saúde mental (Lancetti, 2003).
Porém, o que está se problematizando nessa
reflexão é a conformação de um novo saber que seja
sensível a múltiplos contextos; busca-se a produção
de diferentes conhecimentos para ampliação do foco
de trabalho, para constituir laços diferenciados de
interação entre as diversas áreas da saúde.
A Psicologia Social da Saúde traz conceitos
potentes e propostas de ação que muito se aproxi-
mam dos pressupostos de trabalho da ESF. Vemos que
os dois discursos se organizam em torno de eixos que
apostam na construção do fazer conjunto, coletivo e
valorizam a localidade e as interações dela decorren-
tes.
A forma como a ESF está organizada, locali-
zada num território, trabalhando em equipe, focali-
zando o sistema familiar, a cultura local e lidando
diretamente com o cotidiano das pessoas, a faz depa-
rar com questões que demandam acolhimento, víncu-
lo, interação e são da ordem da imprevisibilidade,
pois, a cada encontro, a cada situação, gera-se uma
30
Camargo-Borges, C.; Cardoso, C.L. “A Psicologia e a estratégia saúde da família: compndo saberes e fazeres”
forma diferente de intervenção. Segundo Sousa (2003)
o território na ESF é caracterizado como “sinônimo
de lugar, espaço de interação, solidariedade” (p. 34).
Algumas diretrizes são postas para tentar
operacionalizar esse tipo de organização, como a
longitudinalidade e o planejamento ascendente.
A longitudinalidade é definida como o segmento
do usuário e de sua família no tempo, com a forma-
ção de vínculo, independente da presença de patolo-
gia.
O planejamento ascendente é definido como o
delineamento de estratégias de intervenção nas famí-
lias, de acordo com as necessidades da comunidade
que reside no território.
Os pressupostos da Psicologia Social da Saúde
ecoam, nesse modo de organização do trabalho, à
medida que têm como ponto fundamental também a
contextualidade e a interação com ações construídas
coletivamente a partir das imprevisibilidades do coti-
diano. Assim, tanto a ESF como esse campo da psico-
logia privilegiam o processo de produção de conheci-
mento e a construção das intervenções a partir das
práticas sociais, dos processos interativos e da cultu-
ra. A proposta, portanto, é a de que qualquer entendi-
mento do processo saúde-doença-cuidado possa ser
analisado e referido a partir de seu contexto, ou seja,
a partir da compreensão de uma pessoa, pertencente
a determinada família, inserida numa comunidade
específica, e assim por diante.
A Organização Panamericana de Saúde enfatiza
que a ESF deva ser constituída a partir do seu contínuo
fazer e refazer. Este “fazer-fazendo” também é
compartilhado pela Psicologia Social da Saúde, já que
suas intervenções caracterizam-se por um construir e
reconstruir coletivos, com pessoas imersas nessa rede
de sentidos (re) negociando-os o tempo todo.
A produção do vínculo nas relações de trabalho
também é foco tanto da ESF quanto da Psicologia
Social da Saúde. Na ESF, o acolhimento é realçado
como peça fundamental. O acolhimento é uma forma
de intervenção que propõe apoio contínuo à pessoa
em todo o seu processo de atendimento na saúde e
não somente no que diz respeito ao acesso do usuário
ao serviço. Abrange o encontro do profissional com
esse usuário, num processo de negociação das
necessidades deste, promovendo acesso, buscando a
produção do vínculo (Matumoto, 1998). A Psicologia
Social da Saúde se interessa pela criação de práticas
conversacionais que possam construir caminhos
possíveis para que as pessoas sigam juntas mesmo na
diversidade, ou seja, com vínculos entre elas. Interessa-
se pela utilização de um discurso que possa ser
compartilhado, para que se criem mais possibilidades
de ação. Tais práticas estão dizendo que o acolhimento
e o vínculo são potenciais na criação de um espaço
coletivo de atuação. O estabelecimento do vínculo na
relação, segundo Campos (1997), promove melhor
eficácia das ações em saúde e facilita a participação
do usuário nestas ações.
Por fim, como já visto, as propostas do SUS de
democratização da saúde e de inversão da lógica
hierárquica e autoritária que tradicionalmente vinha
funcionando no sistema têm como ponto fundamental
a ESF, objetivando a criação de uma rede integrada
de cuidados progressivos. A interlocução com a
Psicologia Social da Saúde ocorre no suporte para a
construção de espaços mais democráticos de
convivência, no trato à alteridade, propiciando
conversas mais igualitárias, promovendo integração
entre profissionais – usuários e, com isso, contribuindo
para a eficácia do sistema de saúde idealizado pelo
SUS – universal, eqüitativo, integral.
Assim, a Psicologia Social da Saúde viria ao
encontro desse desafio da ESF em construir um modelo
de atenção à saúde pertinente à realidade local e
gerador de interlocuções entre equipe de saúde e
comunidade. Nesse sentido, a parceria pode ser útil
para pensar discursos, na saúde, que propiciem a
construção de espaços viabilizadores de acolhimentoe a construção do vínculo, contribuindo para a reflexão
e a problematização dessas práticas que se propõem
coletivas.
Tal parceria investiria no fortalecimento das
relações locais, propondo-se a reconhecer e legitimar
a diversidade nesses espaços de encontro e resgatan-
do a cidadania dos atores sociais envolvidos.
A articulação da Psicologia Social da Saúde
com a ESF apresenta-se como proposta que tem mui-
to a contribuir para ações junto às comunidades, com
o objetivo de compor e não substituir. Compor um
trabalho em que a equipe interaja e funcione como
potência para o território da intervenção, com a cria-
ção de sistemas conversacionais na equipe que se
multipliquem em diálogo para toda a comunidade,
como estratégia permanente de ação. Construir um
projeto institucional abraçado pela equipe como um
todo, numa abertura para a diversidade, com alter-
nativas que possam traduzir-se em co-responsabilida-
de, tão almejada no sistema de saúde.
A proposta do presente trabalho não é, de ma-
neira alguma, a de levantar a bandeira de uma luta
corporativa de modo a garantir inclusão de mais um
especialista na equipe da ESF. Não se tem aqui o pro-
pósito de dar continuidade à segmentação da saúde,
em que cada “pedaço” seria de responsabilidade de
um especialista específico, cada âmbito pertenceria à
competência de um profissional. Isso seria avesso à
fundamentação da ESF que prega o rompimento com
os paradigmas do modelo anterior e busca a
integralidade; o fato descaracterizaria toda a argu-
31
Psicologia & Sociedade; 17 (2): 26-32; mai/ago.2005
mentação que se procura construir neste ensaio.
O objetivo dessa reflexão é ampliar! Discutir
possibilidades de criação de propostas que possam
ser potentes para as práticas que a ESF pretende ins-
taurar em sua lógica de trabalho. A psicologia, como
disciplina que tem em seu objeto de estudo as rela-
ções humanas, as interações, os afetos, pode trazer
contribuições para tal tarefa de construção dessa Es-
tratégia do sistema de saúde que vem tentando se pau-
tar por práticas mais relacionais. Especificamente, a
Psicologia Social da Saúde que, como vimos, faz pon-
tes conceituais com a ESF, pode auxiliar o
embasamento e o suporte de ações construídas nesse
contínuo “fazer-fazendo” que, ideologicamente, cons-
titui o projeto de intervenção da ESF.
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Celiane Camargo-Borges é Mestre em Psicologia e
Doutoranda em Saúde Pública - Escola de Enferma-
gem de Ribeirão Preto -Universidade de São Paulo.
O endereço eletrônico da autora é:
celianeborges@uol.com.br
Cármen Lúcia Cardoso é Professora doutora do
Departamento de Psicologia e Educação da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão
Preto - Universidade de São Paulo.
Endereço para correspondência: FFCLRP -USP.
Depto. de Educação. Av. Bandeirantes, 3900
CEP 14040-901. Ribeirão Preto - SP
O endereço eletrônico da autora é:
carmen@ffclrp.usp.br
Celiane Camargo Borges
Carmén Lúcia Cardoso
A psicologia e a estratégia saúde da família:
compondo saberes e fazeres
Recebido:22/03/2005
1ª revisão: 27/06/2005
Aceite final: 25/08/2005
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